Acontece - turma 2D13 - 2017 02 - ed. 1

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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE - CENTRO DE COMUNICAÇÃO E LETRAS

Publicação feita pelos alunos do segundo semestre de Jornalismo - Ano XII - Ed. 186 - Outubro 2017

Os elefantes invadiram as ruas

85 esculturas puderam ser vistas em vias e espaços comerciais de São Paulo até o fim de setembro. Página 5 Acontece • 1


Vivendo fora do ninho Estudantes contam como foi sair de casa pela primeira vez, as experiências morando sozinhos e as dificuldades que vieram disso Gabriel Nunes Nina Gattis

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uitos jovens deixam a comodidade de seus lares para morarem perto de suas universidades e realizarem o curso dos sonhos. Agarrar essa oportunidade não é tão simples quanto parece, e cada pessoa passa por uma experiência diferente. A mudança ocorre das mais diversas maneiras. Artur Rheinboldt, 19 anos, estudante de Engenharia Química da Escola Politécnica da USP, saiu de São José dos Campos para morar na cidade grande após conseguir uma vaga no curso que queria, mas afirma não ter tido dificuldade de adaptação, afinal já se mudou mais vezes de cidade com sua família. “Já vim preparado para experiências novas, a partir do primeiro dia que cheguei em São Paulo eu me senti absolutamente em casa, foi normal”, conta Artur. Stella Salatine, 19 anos, estudante de Moda do IED (Instituto Europeu de Design), sempre soube que teria que sair de Catanduva e vir para São Paulo. Segundo ela, é o melhor lugar para ter contatos e sucesso na profissão. Ela divide o apartamento com três meninas e afirma: “Não gosto de ficar sozinha”. Já Artur teve a intenção de fazer parte de uma república, mas não gostou dos moldes paulistanos, porque acredita que por aqui

Artur mora em São Paulo desde o início deste ano

“tudo é muito impessoal, muito informal” e que “as repúblicas, na verdade, são uma hospedaria, um lugar onde ninguém interage”, então preferiu morar sozinho em seu apartamento. Pelo contrário, Leticia Silveira, 19 anos, que estuda Medicina na Santa Casa de São Paulo e também não divide o apartamento com ninguém, reclama: “Às vezes dá uma tristeza, você precisa conversar com alguém e não tem ninguém”, conta a estudante. Algumas possibilidades tomam proporções maiores. Luiza Martins, 19 anos, teve a chance de sair de Santos para estudar Letras, o curso que queria, na UFV (Universidade Federal de Viçosa), em Minas Gerais. Ela divide a casa com onze garotas e conta que dificilProfessor responsável: André Santoro

Universidade Presbiteriana Mackenzie

Centro de Comunicação e Letras

Diretor do CCL: Marcos N. Duarte Coordenador do curso: Rafael F. Santos Supervisor de Publicações: José A. Trigo

Equipe: Brenda Sarmanho, Camilla Jarouche, Caroline Piovani, Caroline Sargologos, Caroline Vaz, Enrico Bertagnoli, Fábio Ribeiro, Gabriel Nunes, Gabriel Pellegrine, Gabriel Sabatini, Gustavo Iglezias, Larissa Mora, Larissa Yaemi, Mariana Freitas, Nina Gattis, Renata Cerdeiras

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mente acontecem brigas na casa. Por ter ido estudar longe, Luiza passa meses sem voltar para casa. “Mas sempre faço chamada de vídeo com a minha mãe”, diz. Além disso, assim como Stella, Luiza considera a liberdade de morar longe dos pais uma responsabilidade a mais. “Não tem ninguém pra te falar o que fazer”, afirma. Outra estudante interestadual é Anna Carolina Leutz, 19 anos, que saiu do Guarujá (SP) para cursar Odontologia na UFPR (Universidade Federal do Paraná). Ela acredita que não cresceria profissionalmente em sua cidade natal, por isso, apesar da saudade da família e amigos, resolveu tentar a vida no estado vizinho. “Faça, depois você vê que isso é bom para amadurecer”, diz a estudante. Jornal-Laboratório dos alunos do segundo semestre do curso de Jornalismo. Centro de Comunicação e Letras - Universidade Presbiteriana Mackenzie. Foto de capa: Brenda Sarmanho e Mariana Freitas Impressão: Gráfica Mackenzie


Conciliando a maternidade e os estudos A difícil rotina das mães universitárias que dividem seu dia entre criar seus filhos e realizar as tarefas da faculdade Caroline Sargologos Caroline Vaz

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er mãe não é uma tarefa fácil. Causa transformação de valores e prioridades. Ser universitária também não é uma tarefa simples. Demanda dedicação e comprometimento. Ser uma mãe universitária pode parecer quase impossível, mas com muito esforço e força de vontade, muitas mulheres provam que a combinação “maternidade” e “estudos” (e muitas vezes até mesmo “trabalho”), é uma situação viável e que podem passar por cima de todas as barreiras e estereótipos existentes. Organizar a rotina se prova uma enorme dificuldade. Assim como B.N.S., 24 anos, estudante de Zootecnia, muitas mães declaram ter que estudar durante a madrugada, depois que seus filhos dormem, o que torna sua rotina ainda mais cansativa. Pensar em desistir é frequente, várias mamães confessam quase largar a faculdade por não acreditarem que são capazes de darem conta. “Eu penso muito em trancar a faculdade porque é uma rotina muito cansativa e pesada, e carrego muita culpa por ser mãe solteira. Mas ao mesmo tempo eu sei que eu preciso estudar por mim e pelo meu filho, porque a gente só tem um ao outro”, desabafa B.N.S. Quase 10% das estudantes entre 19 e 29 anos tem pelo menos um filho de 0 a 4 anos, segundo dados do IBGE de 2000. Muitas dessas mães (e até as próprias universidades) não possuem ciência sobre os direitos que as estudantes portam ao se tornarem mães. Segundo a lei 6.202, existente desde 1975, a partir do oitavo mês de gestação, as estudantes podem assistir aulas e realizar provas e outras atividades em casa. Porém, na maioria

das vezes, a universidade não garante os direitos que as gestantes possuem. Elas também enfrentam grande dificuldade quanto à licença maternidade, uma vez que muitas vezes algumas mães necessitam permanecer mais tempo em casa do que o determinado. Por esses e outros motivos, muitas estudantes pensam em trancar ou até mesmo abandonar o curso. O desejo de garantir um futuro melhor para seus filhos é algo que as motiva a continuar estudando. “Eu já pensei milhões de vezes em desistir e ainda penso, mas logo tiro essa ideia da cabeça. Eu sou bolsista, então se eu desistir não tem como voltar atrás, e eu sei que o retorno financeiro da minha profissão vai ser muito bom para o meu filho”, declara Camilla Fernandes, 21 anos, estudante de Direito da PUC-SP. Quando questionada sobre o apoio que obteve da universidade, Camilla declarou que a direção tinha conhecimento da lei e os direitos que as estudantes gestantes possuem. Desse modo, ela teve quatro meses de regime domiciliar, onde suas faltas não foram computadas e pôde fazer as provas substitutivas quando retornou às aulas. O apoio familiar é de extrema

importância na vida dessas jovens. Algumas mães contam que só conseguem ir para a aula porque suas próprias mães ficam com o bebê. B.N.S. diz que “se não fosse ela para ajudar, eu não teria como estudar”. Porém nem todas as jovens contam com a ajuda verdadeira de familiares, como o caso de Camilla, que recebe ajuda da sua sogra para cuidar da criança durante o dia, mas esta cobra pela ajuda. Algumas estudantes que estão na situação de ter que conciliar estudo com maternidade muitas vezes duvidam da sua própria capacidade de darem conta e serem boas o suficiente nas duas funções. “Essas angústias e inseguranças seriam diminuídas se vivêssemos numa sociedade que apoiasse a mulher um pouco mais em relação à maternidade, e não em uma ainda misógina e machista”, declara Erika Novaes, 37 anos, psicóloga perinatal e arteterapeuta. Sobre as alterações que deveriam ocorrer para mudar o atual cenário, Erika afirma que o fornecimento de subsídio e a criação de políticas públicas são de extrema importância para que as jovens mães possam seguir com seus projetos de vida, inclusive estudantis.

Camilla Fernandes, além de universitária, é mãe de Dudu

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Massa solidária

Comunidade no Bixiga recebe mais de 25.000 pessoas em festa que tem como principal objetivo sustentar os projetos sociais da Paróquia

Voluntárias no preparo dos pratos na cozinha da Paróquia

Enrico Bertagnoli Fábio Ribeiro

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o mês de agosto passado foi celebrada no bairro do Bixiga a 91ª edição da festa de Nossa Senhora Achiropita. Realizada nas ruas 13 de Maio, São Vicente e Dr. Luís Barreto, a tradicional festa italiana iniciou-se no século XX como uma maneira de seus imigrantes, que são lembrados com uma missa no primeiro domingo do mês das celebrações, honrarem a devoção a Nossa Senhora Achiropita, que chegou com eles ao Brasil, mantendo a unidade dos fieis e matando a saudade de sua terra natal. A festa, que tem bênçãos de hora em hora durante a celebração, é alicerçada por sua devoção, obras sociais e manutenção das tradições. Octavio Pugliesi, 92, filho de imigrantes da região da Calábria, é hoje responsável pelo preparo da massa da famosa fogazza, um tipo de “pastelão italiano”, uma das principais atrações da festa. Sr. Octavio conta que eram usados 5 kg de farinha para fazer as fogazzas, até que a festa cresceu, chegando à incrível marca de 1,5t de farinha ao dia, resultado

do esforço de aproximadamente 200 voluntários, que chegam a servir 14 mil fogazzas aos sábados. Ele ainda lembra que a festa ocorria de forma mais íntima, com os moradores da comunidade, e que seu crescimento veio no final da década de 70 com o Encontro de Casais. No inicio, a arrecadação da festa se fazia necessária para construção e reforma da paróquia, fundada por São Luis Orione em 1926. Dom Orione sempre voltou seu foco para realização de serviços que dessem testemunho do Evangelho. Graças a isso, a Paróquia e a comunidade se voltaram à prestação de serviços sociais, financiados apenas pelo fundos arrecadados pelo mês de festa e parcerias com a Prefeitura. Essa arrecadação realiza sete projetos sociais que ajudam toda a comunidade. Maria Emília Conte Moitinho, 69 anos, Relações Públicas da Paróquia, é frequentadora desde que nasceu. “É um trabalho extremamente difícil, mas a gente se sente muito feliz de saber que alguém saiu da rua por um esforço de uma comunidade”, e ressalta: “esse trabalho não tem preço”. Maria Emília conta que a Paróquia serve mais de 1000

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refeições ao dia, com a ajuda de uma média de 1100 voluntários. Dentre as voluntárias estão Odila Pinto de Oliveira, 76 anos, frequentadora da festa desde seus quatro anos, e Regina Maria Cruz, também com 76 anos, voluntária há 45. Regina conta que sua motivação é “ver o quanto a gente se esforçou, o progresso que tivemos e o amor envolvido e que ainda é conservado”. “Saímos muito felizes por saber que podemos ser úteis, e que ainda podemos fazer alguma coisa pelo bem das pessoas”, conta Maria Emília. Ela completa: “isso é uma coisa muito gratificante, e o que motiva todos os voluntários é ver o que essas obras realizam. Se todo bairro tivesse uma obra como essa, São Paulo seria muito melhor”. Em uma descontraída mesa de bar, os irmãos Edevaldo, 74 anos, Edson, 69, e Henrique Mamprim, 61, contam que ouvir as músicas tradicionais na festa os emociona, por relembrarem suas raízes. E ressaltam a importância de conhecer suas origens e manter as tradições de seus antepassados italianos. “Eu acho essa festa muito bacana, comida boa, pessoal alegre, mas não tem muito italiano aqui, não”, ironiza Henrique, que já morou na Itália e considera a comida italiana feita no Brasil mais gostosa, devido aos incrementos feitos pelos brasileiros. Beatriz Rocha, 52 anos, moradora do bairro há quase 30, conta que a Achiropita “era uma festa de rua, tradicional do bairro e dos moradores”. Laszlo Ferenc de Cesi, 71 anos, é frequentador há oito da Achiropita. Ele aproveita o mês de seu aniversário para ir à festa e celebrar com sua família. Um dos maiores atrativos é poder comprar comida italiana a um preço muito bom.


Os elefantes invadem a cidade

No mês de agosto, São Paulo fica mais colorida e recebe 85 esculturas para leilão beneficente

Brenda Sarmanho Mariana Freitas

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riada em 2006 por Marc e Mike Spits, a Elephant Parade chegou pela primeira vez em São Paulo. O movimento tem como objetivo angariar fundos para os elefantes africanos e asiáticos e ajudar projetos filantrópicos da própria cidade através da exposição e leilão das 85 esculturas dos elefantes. A exposição ocorreu durante o mês de agosto, com obras espalhadas por pontos turísticos da cidade, como a Avenida Paulista e o Parque Ibirapuera. Após um safari de férias na Tailândia, Marc e Mike, pai e filho, encontram uma bebê elefante chamada Mosha, que perdeu uma de suas patas ao pisar em uma mina terrestre. Comovidos com a situação dos elefantes, decidiram entrar na causa e criar um projeto para ajudar a salvá-los. Segundo uma pesquisa feita pela organização Elephant Family, os elefantes asiáticos

e africanos entrarão em extinção em cerca de 20 a 30 anos. “Existe um problema muito sério na Ásia com a preservação dos elefantes. Eles sofrem muito por conta da retirada de marfim de seus rostos e vários acabam morrendo”, diz Gabriel Campos, 26 anos, da equipe de marketing da Elephant Parade. A primeira edição foi realizada em Roterdã, na Holanda, em 2007, e a instituição ajudada foi a Amigos do Asian Elephant Hospital, a “casa” da Mosha em Lampang. Após isso, o projeto foi levado para diversas cidades do mundo, como Londres, Hong Kong, Amsterdã, entre outros. Até que em 2015 chegou ao Brasil em Santa Catarina, na cidade de Florianópolis, e, neste ano, São Paulo foi escolhida para sediar evento. Assim como nas edições anteriores, projetos de diferentes artistas locais foram selecionados para serem pintados nas esculturas, além de diversas ações que ocorreram envolvendo crianças e o público geral para conscientizar sobre a causa. Cerca de 200 projetos foram

Taina Pereira Inácio, 48 anos, e família na Avenida Paulista

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pré-aprovados e depois escolhidos pelos patrocinadores para estampar as esculturas. Os artistas vêm de diferentes cenários, desde artistas plásticos, cartunistas, grafiteiros, até maquiadores, com um elefante drag queen. Segundo Gabriel, usar a arte para impactar as pessoas foi uma boa maneira de chamar atenção tanto do público como da mídia, tendo em vista que as esculturas representam a arte brasileira de um jeito democrático e acessível a todos. O ponto mais frequentado da cidade e com mais esculturas é a Avenida Paulista, que recebe muitas visitas por conta das diversas atividades de lazer que acontecem aos domingos. “Eu vim para a Paulista hoje justamente para ver os elefantes. Não foi que a gente encontrou com eles, a gente viu onde estava e veio ver”, diz Tania Pereira Inácio, 48 anos, passeando com a família. A avenida mais famosa do estado ganhou mais cores para quebrar o cinza de sempre. “A ideia de você fazer esse tipo de coisa com o sentido de decorar a cidade eu acho legal, acho que deveria ter mais”, comenta Alberto Baumstein, 60 anos, produtor de vídeo. Porém, para ele esse tipo de ação pode acabar perdendo um pouco da relevância com a quantidade de eventos muito parecidos e sugere que seja necessária uma boa curadoria para organizar o evento e o leilão. Cada escultura possui um patrocinador e ao final do leilão estes escolherão quais instituições serão ajudadas. Os elefantes ainda ficarão expostos durante o mês de setembro no Shopping Ibirapuera, antes do leilão, que ocorrerá no Hotel Tivoli Mofarrej. Por isso, se você não conseguiu conferir essa invasão dos elefantes pela cidade, ainda tem chance de ver todas obras reunidas num lugar só e conhecer mais sobre o projeto!


Mudança no Passe Livre é aprovada Estudantes não concordam com a medida da prefeitura, que promete reduzir 70 milhões de reais em custos Gabriel Sabatini Gustavo Iglezias

A estudante Dora utilizando seu Passe para voltar à sua casa

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prefeito da cidade de São Paulo, João Doria, estabeleceu uma mudança no uso do Passe Livre Estudantil para o segundo semestre de 2017. Desde o dia 1° de agosto, os estudantes que usufruem da gratuidade do transporte público tiveram o número de viagens diárias reduzidas. Se antes eles podiam fazer até oito viagens durante o dia, agora esse número está restrito a dois blocos de tempo de duas horas. Em outras palavras, o estudante poderá fazer até quatro viagens durante duas horas pela manhã, por exemplo, e mais quatro durante duas horas no período noturno. De acordo com Ashraf Michel, 60, administrador tecnológico do transporte público e um dos criadores do Cartão Bom, a mudança no uso do Passe Livre é boa porque diminui as fraudes, isto é, o uso indevido dos cartões escolares por terceiros, sejam eles pais, amigos ou colaboradores das empresas, além de não alterar a rotina dos

estudantes. “A maioria não utiliza o passe para distâncias com várias integrações, já que procuram estudar perto de suas residências”, afirma Michel. O tema de maior discussão é a restrição da ida de estudantes a lugares além da faculdade, como museus e teatros, devido à redução do número de viagens diárias permitidas pelo Passe, que seriam um complemento à formação cultural desses jovens. Segundo Michel, a matriz de integração da cidade de São Paulo está desenhada de tal maneira que atende com facilidade os pontos de interesses culturais e por isso a mudança não alterará a ida dos estudantes a tais lugares. A visão dos estudantes é um pouco diferente. A estudante de Jornalismo na PUC Dora Scobar, 18 anos, financiada pelo FIES, acredita que a nova medida é algo maléfico, pois tira um benefício de uma parcela da população que já não possui muitos. Enquanto es-

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tudante de comunicação, é incontável o número de vezes que ela precisa estar na rua. Dora utiliza o Passe para frequentar museus, teatros, shows, e acredita que o lazer também faça parte de uma boa formação. “Se a Prefeitura preza pela qualidade de vida dos estudantes, deveria se preocupar com isso também”, afirma. Até quem não será afetado discorda da mudança, como é o caso de Giovanni Pachon, 18, estudante de Sistemas de Informação na FIAP e Bruna Tagnin, 27, estudante de medicina na UNICID, ambos financiados pelo FIES. Eles não terão suas rotinas alteradas, porém pensam que o projeto restringirá os estudantes a irem e voltarem de suas instituições de ensino, e dificultará os deslocamentos extras relacionados à educação, como por exemplo a realização de trabalhos. “Entendo o lado deles (prefeitura) em evitar possíveis fraudes, mas acho que foram rigorosos e podem prejudicar quem utiliza o benefício”, diz Giovanni. O pensamento de Bruna é parecido. “Acho que tudo o que nós reduzimos a favor de uma minoria, não é correto. Qualquer tipo de redução que não favoreça essa parte da população e que tire algum benefício deles é ruim”, completou. A justificativa dada pela prefeitura é um corte de custos de 70 milhões de reais no repasse às empresas do valor “gasto” pelo passageiro. De acordo com Michel, esse dinheiro poderá ser utilizado para a diminuição dos valores com as empresas, já que apenas em 2017, o déficit do transporte público está em 1,7 bilhão de reais. Contudo, Dora, assim como Giovanni, contesta tal justificativa. “Entendo que é necessário cortar gastos, mas uma medida mais plausível seria tirar dinheiro de quem tem mais, e não de quem tem menos.


Guilherme abre sua casa Localizado no Sumaré, o museu oferece exibições de cinema, além de cursos e oficinas gratuitas Gabriel Pellegrine Larissa Yaemi

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casa do poeta, tradutor, jornalista e crítico de cinema Guilherme de Almeida (1890-1969) funciona hoje como museu biográfico e literário. Eleito para Academia Brasileira de Letras em 1930, Guilherme ganhou o título de “Príncipe dos Poetas Brasileiros” em concurso realizado pelo jornal Correio da Manhã e decidido pelo voto popular, superando nomes como Manuel Bandeira, Carlos Drummond da Andrade e Vinicius de Moraes. É possível fazer uma viagem no tempo ao entrar no casarão que foi reformado, mas mantém os traços e charme da época. Há móveis originais da casa e também móveis que foram trazidos do escritório do poeta, que ficava na Rua Barão de Itapetininga. No acervo, fotografias históricas e pinturas de artistas como Anita Malfatti, Di Cavalcanti e Lasar Segall, grandes nomes do Modernismo Brasileiro, além de uma imensa coleção de livros raros e em diversos idiomas. Há também itens pessoais, como copo de uísque, máquinas de escrever, canetas e até uma arma com munição, lembrança da sua luta na cidade de Cunha, na Revolução Constitucionalista (1932), movimento pelo qual foi preso e exilado em Portugal, onde ficou por um ano. A visitação sempre ocorre com a presença de um educador, que explica um pouco sobre o acervo. O museu abre de terça-feira a domingo, das 10h às 18h. As atividades culturais e educativas ocorrem de terça a sexta-feira, das 19h às 21h, e aos finais de semana, das 10h às 19h. A entrada no museu, assim com a participação nas

atividades culturais, é gratuita. Também é possível fazer uma visita noturna, que ocorre uma vez ao mês. No site oficial, fica disponível a Visita Virtual, colaboração com o Google Art Project, em que você pode andar por dentro do museu com o sistema Google Maps, que permite o visitante selecionar cada obra para saber mais sobre sua história e visualizá-la em alta resolução. Silvio Barillari, 73 anos, aposentado, participou da visita noturna ao museu e recomenda a todos que gostam de arte e literatura. “Pela conservação da casa, o atendimento, a organização, a visita vale muito a pena”. O museu tem um anexo que abriga a Sala Cinematographos, onde há exibições de filmes, debates e cursos sobre cinema. “Cinematographos” era o nome da coluna de crítica cinematográfica que Guilherme escrevia para o jornal O Estado de S. Paulo, a primeira do gênero no país. Além disso, a casa oferece oficinas de restauração de livros e curso de estudos de tradução literária,

uma das ocupações de Guilherme, que traduzia obras em alemão, espanhol, francês, grego antigo e inglês. Segundo Donny Correia, 37 anos, coordenador cultural da Casa, a procura aumentou significativamente de dois anos para cá, especialmente depois da inauguração da Sala Cinematographos. “Cada novidade que proporcionamos em nossa programação é imediatamente alvo da curiosidade de nosso público cativo, bem como de novos frequentadores”, afirma. Quanto ao público, Correia diz se tratar de um grupo heterogêneo. “Atendemos desde estudantes em várias fases escolares, por conta de turmas que vêm ao Museu conhecer o acervo, até pessoas da terceira idade, que buscam ocupar seu tempo adquirindo novos conhecimentos.” E completa: “É, de fato, um ambiente que dialoga com todos.” A divulgação da programação ocorre por meio das redes sociais e livretos impressos. É possível ver a agenda completa no site: casaguilhermedealmeida.org.br

Silvio Barillari durante visita noturna ao museu

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Fact-Checking combate Fake News Agências especializadas verificam e esclarecem notícias enganosas espalhadas pelo mundo virtual Larissa Mora Renata Cerdeiras

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specto confiável, mas com conteúdo enganoso: assim são as Fake News ou notícias falsas, que estão cada vez mais dispersas, principalmente através das redes sociais. A rapidez com que esse tipo de informação se espalha e a sua repercussão levou ao surgimento de veículos especializados em checá-las e derrubá-las: as agências de Fact-Checking, responsáveis por verificar a veracidade dessas notícias. Esses projetos de checagem são responsáveis por verificar o que dizem figuras públicas a partir do que mostram os dados e a opinião de especialistas, analisando, em geral, frases de tais personalidades e as que circulam sem autoria, como correntes do Whatsapp. Cada site de checagem possui suas próprias classificações, cujos selos de comprovação transitam entre o “verdadeiro” e o “falso”. “O que as pessoas mais têm dificuldade em entender é o Distorcido”, conta Patrícia Figueiredo, 22, repórter do Truco, projeto de Fact-Checking da Agência Pública. “Ele quer dizer que o número pode estar certo, pode ter uma fonte confiável, mas ele foi interpretado errado”, continua. Criada pelo Instituto Poynter, a Rede Internacional de Fact-Checking (IFCN, em inglês) reúne um fórum de agências de checagem do mundo inteiro. Essa comunicação entre portais de todas as partes do globo possibilita a criação de diversos projetos envolvendo verificação de informação, como a criação de um robô de checagem, que surgiu da parceria entre o Chequeado, site de Fact-checking argentino, e a inglesa Full Fact. De acordo com Ana Paula Valacco,

Laura Zommer fala sobre o combate às notícias falsas

responsável de comunicação do Chequeado, o Brasil é o país com mais agências desse tipo em toda a América Latina, possuindo três das 12 existentes na região. Uma das preocupações de qualquer agência de Fact-checking é analisar pontos de vista e discursos diferentes, sem se posicionar em nenhum dos lados. Segundo Laura Zommer, 43 anos, diretora executiva do Chequeado, para manter e aparentar o viés apartidário, é vital que as frases analisadas sejam bem selecionadas, abordando tanto o lado de quem fala como o lado da oposição. Apesar de apartidárias, a principal dificuldade das agências de checagem é vencer a desconfiança das pessoas e, principalmente, tornar tal trabalho conhecido. “As pessoas estão se informando com as redes sociais, acreditando mais no que diz um amigo do que no que diz um jornalista que seus pais acompanharam a vida toda”, conta Laura. Para Patrícia, isso ocorre porque Fact-Checking ainda é um gênero recente no Brasil. Devido à grande repercussão das Fake News, redes sociais estão fazendo parcerias com portais de Fact-Checking para alertar os

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usuários quando algo que estão pesquisando ou estão prestes a compartilhar foi checado e é falho. O Facebook e o Google são algumas dessas redes, apesar da parceria ainda não ter chegado ao Brasil. Nesse contexto, se a notícia ou frase for enganosa, o usuário, ao pesquisá-la ou tentar compartilhá-la, receberá a notificação de que a mesma foi comprovada falsa pelas agências de Fact-Checking, ao lado de um selo de checagem. “Isso é muito legal, porque muita gente não pesquisa o assunto, só pesquisa a frase, pesquisa a tal da mentira, e também dá um destaque para a gente de certo modo”, diz Patrícia. Segundo Patrícia, é de interesse da sociedade que haja um aumento do alcance das notícias verdadeiras, não somente a identificação de notícias falsas. Para isso, a colaboração das pessoas é muito importante, porque o ocorrido em muitos casos é o compartilhamento de Fake News por não fazerem uma boa leitura da matéria que contém as tais. “Se queremos um debate mais baseado em evidências, não temos que olhar só para o presidente, ou para o ministro, mas para nós mesmos”, afirma Laura.


O melhor remédio tem quatro patas ONG realiza terapias com animais adestrados em hospitais, casas de repouso e abrigos de crianças Camilla Jarouche Caroline Piovani

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undada em 2012, a ONG Patas Therapeutas é composta de voluntários que realizam terapias em hospitais, casas de repouso e abrigos de crianças, comprovando as pesquisas que estudam os benefícios da interação de humanos e animais. É o caso de Beth Araújo, 48 anos, que trabalha na parte financeira de uma galeria de arte e é tutora do cãozinho Leni. “Eu comecei a fazer esse trabalho porque acho que o Leni nasceu para isso. Ele é muito ligado as pessoas, gosta mais delas do que de animais”, diz Beth, que é voluntária há dois anos. Eles trabalham com cães, gatos, um coelho e um furão, e contam que qualquer animal doméstico pode passar pelo processo para se voluntariar. É preciso ser castrado, adestrado e estar com as vacinas em dia. Os animais passam por duas triagens: uma médica, com exames, para conferir se o animal não tem nenhuma doença, e uma comportamental, para saber se o animal consegue obedecer a comandos básicos. Então, se aprovados, eles participam de três visitas a instituições diferentes. Primeiro os donos sozinhos, depois, com a companhia do animal, para validar se ambos se adaptam a novas pessoas e ambientes. Uma das instituições em que trabalham é a Sociedade Beneficente Alemã, uma casa de repouso em que os voluntários vão uma vez ao mês. Nessa residência, o Patas promove uma atividade assistida, que é a interação dos idosos com os animais buscando o entretenimento. Faz com que os idosos e suas famílias possam acariciar,

brincar e fotografar com os cães. Já em outros ambientes, como na Associação dos Familiares e Amigos dos Idosos, AFAI, o Patas exerce uma terapia assistida. As atividades são elaboradas por uma psicóloga e consiste em uma metodologia para exercitar a parte cognitiva dos idosos, e, conforme eles respondem positivamente aos comandos, os exercícios se tornam mais difíceis. O entusiasmo que os voluntários e seus animais levam é contagiante, o que mexe muito com o lado emocional dos idosos, que sempre querem saber se eles voltarão em breve. Se algum cão deixa de ir a um desses encontros eles já sentem falta. “Eu falo que a diferença entre o idoso e a criança é o tamanho, porque as brincadeiras são as mesmas”, diz Silvana Fedeli Prado, 61, responsável técnica e fundadora do Patas. Ela conta que esse trabalho com os animais mexe não somente com a parte física, dos neurotransmissores e hormônios dos pacientes, mas também com a parte emocional. Como eles se comunicam e socia-

lizam, criam um vínculo afetivo com os animais. A ONG, atualmente, atende em doze instituições públicas e privadas de São Paulo e tem também uma sede em Porto Feliz. “Não tem diferença de uma criança que está no Sírio-Libanês de uma que está no Darcy Vargas, são pessoas carentes. As patologias são as mesmas, os problemas são os mesmos”, comenta Silvana. O trabalho da ONG foi reconhecido pelo Hospital Sírio-Libanês, que os convidou para iniciarem suas visitas e tratamentos na instituição. Eles visitam também os pacientes que estão na UTI, se estiverem em condição de recebê-los. É preciso pensar no bem-estar não somente dos pacientes, como dos animais também. Portanto, os cachorros conseguem ficar no tratamento por uma hora, já os gatos, por menos tempo. O furão, como é um animal notívago, atende por meia hora. “Não adianta a gente querer fazer o bem com nosso animal, se nós acabamos lesando-os”, comenta a responsável e fundadora, Silvana.

Coco Chanel, Spitz Alemão Anão, alegra o dia da senhora

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