Acontece 191 - turma 2J12 - 2017 02 - ed. 2

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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE - CENTRO DE COMUNICAÇÃO E LETRAS

Publicação feita pelos alunos do segundo semestre de Jornalismo - Ano XII - Ed. 191 - Novembro 2017

Alternativa à crise

Na areia ou no asfalto, comerciantes aproveitam o fluxo de turistas e trabalham para garantir a sobrevivência. Página 9 Acontece • 1


Sem remédio, com saúde Terapias holísticas ajudam na busca pela qualidade de vida e do equilíbrio mental Paula Faria

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terapia holística é hoje a alternativa de tratamento do corpo e da mente que mais cresce no mundo. Estamos vivendo na era do bem-estar e, cada dia mais, pessoas estão se conscientizando sobre a importância de cuidar melhor da saúde como um todo. Segundo a terapeuta Sandra Costa Pires, 46 anos, as pessoas devem procurar os métodos alternativos como forma de potencializar os procedimentos, ou seja, ao fazer um tratamento alopático, não é necessário que substituamos para o holísitico, pois é interessante que ambos caminhem juntos para um resultado benéfico e duradouro. Para ela, as pessoas deveriam recorrer cada vez mais a ajuda alternativa, pelo fato de propiciar uma possibilidade de autoconhecimento muito grande e a cura de feridas emocionais. As doenças mais comuns tratadas pela terapia holística são: tensão nervosa, estresse, depressão, pânico, ansiedade, angústia, insônia, falta de concentração, obesidade, retenção de líquidos, gastrite, cansaço, desânimo, asma, bronquite e rinite, entre muitos outros problemas que afetam a vida da sociedade contemporânea. Os tratamentos são indicados para todas as idades, desde bebês, até idosos, por não possuírem efeitos colate-

rais nem contraindicações. Beatriz Costa Prada, 6 anos, sempre fez os tratamentos, que ajudaram-na a crescer saudavelmente e, de acordo com seu próprio depoimento, as terapias trazem uma sensação de bem-estar muito grande. Algumas das técnicas mais utilizadas são: Cromoterapia (a cura das doenças é conseguida pelas modificações que as cores causam no sistema nervoso), Florais de Bach (tratam as questões emocionais, fazendo com que o paciente possa se restabelecer de algum trauma ou de alguma circunstância difícil que tenha passado), Cones de Cera (ajuda indivíduos que possuem problemas respiratórios, auditivos, enxaquecas, labirintite e até mesmo surdez), Sushô (massagem coreana em que os cristais atuam como vitaminas energéticas para o corpo, relaxando e equilibrando o sistema corpo-mente), dentre outros. Outro método, esse já bastante conhecido, é a acupuntura, que é uma técnica da Medicina Tradicional Chinesa que, consiste na colocação de pequenas agulhas, em determinados pontos do corpo (a título de curiosidade, nosso corpo tem mais de dois mil pontos de acupuntura), com o intuito de equilibrar a energia que pode estar em excesso ou deficiente. Apresenta resultados rápidos e excelentes. De acordo com Sandra, os resultados são surpreendentes e comenta sobre os casos mais inte-

Professor responsável: André Santoro Universidade Presbiteriana Mackenzie

Centro de Comunicação e Letras

Diretor do CCL: Marcos N. Duarte Coordenador do curso: Rafael F. Santos Supervisor de Publicações: José A. Trigo

Equipe: Abner Oliveira, Beatriz Borges, Beatriz de Abrantes, Camila Oliveira, Gabriel Croquer, Gabriel Santana, Guilherme Amendola, Helena Gomes, Isabella Baliana, Júlia Feltrin, Juliana Caveiro, Lucas Galante, Luka Diniz, Paula Faria, Raphael Freitas, Renan Oguma, Rodrigo Galvão, Thaynná Pontes, Victória Gearini

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ressantes que ela pôde presenciar: “Uma de minhas pacientes possuía uma dificuldade imensa para engravidar, já havia perdido uma criança e, após três sessões de acupuntura, descobriu estar grávida de uma menina saudável. E outra paciente, que possuía uma doença hereditária, conseguiu extinguir os sintomas que a incomodavam, após apenas quatro sessões”. Wilson da Silva, 52 anos, designer de produtos, fez o uso de diferentes terapias ao longo dos últimos anos e salienta o benefício que tais métodos trouxeram para sua vida: “as terapias traziam um alívio bem imediato nas minhas dores musculares, fazendo com que sumissem rapidamente, o que fez com que eu pudesse continuar meu trabalho de forma eficiente”. Após 16 anos exercendo a profissão de terapeuta, Sandra salienta a importância das terapias alternativas na vida de seus pacientes, que possuem as queixas comuns apresentadas pela sociedade contemporânea. A terapeuta afirma que, para a cura de nossos problemas, o mais importante é o grau de envolvimento dos pacientes no procedimento que está sendo realizado, pois o terapeuta é apenas um facilitador do processo, são os pacientes que têm o poder de realmente fazer algo a respeito do que está deixando-os insatisfeitos e mudar suas saúdes e vidas permanentemente.

Jornal-Laboratório dos alunos do segundo semestre do curso de Jornalismo. Centro de Comunicação e Letras - Universidade Presbiteriana Mackenzie. Foto de capa: Camila Oliveira Impressão: Gráfica Mackenzie


Em busca do sonho Agências fornecem ajuda a jovens atletas para conciliar os campos com os estudos nos EUA Lucas Galante Luka Diniz

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gências de esportes são buscadas por muitos jovens brasileiros que desejam estudar e e treinar no exterior. Mas ainda são poucas empresas que proporcionam esse tipo de serviço no mercado. Thiago Henrique, 29 anos, preparador de goleiros da agência MVP (a sigla em inglês, “most valuable player” significa “jogador mais valioso”), disse que a procura está cada vez maior, não apenas por ser o sonho de muitos, mas pelas indicações de amigos e a visibilidade que muitos veem quando algum jogador consegue a bolsa, dando credibilidade ao projeto. Muitos jogadores já conseguiram sua vaga, como Evandro Henrique Resende, 19 anos, estudante e jogador de futebol pela Marshaltown Comunity College, que diz ser impossível conciliar a vida nos campos com o ambiente escolar no Brasil. “Com a agência, estou realizando dois sonhos: jogar futebol e conseguir um diploma”. O jovem conta um pouco mais sobre o processo e afirma: “a agência exige uma prova de inglês e vídeos de jogadas. Quanto melhores os vídeos, mais técnicos se interessam e melhor se torna a bolsa, que muitas vezes não cabe no orçamento da família”. Ele afirma também que o futebol norte-americano está crescendo muito, o que demanda muita oferta por jogadores estrangeiros, gerando mais chances para jovens de todos os países. Mas há um porém: “a presença de jogadores de outros países torna tudo mais competitivo”, diz Evandro. Já Guilherme Pirone, 18 anos, jogador e estudante da Kansas Christian College, conta que o sonho de se tornar jogador profissional sempre fez parte de sua

Atletas da MVP treinando

vida, e destaca o desempenho aos estudos. “Para conseguir uma boa bolsa, além de jogar bem, é preciso manter as boas notas”. Para ele a maior dificuldade é a parte financeira. “Mas para se tornar profissional no Brasil também vai muito dinheiro, tirando a dificuldade de jogar e estudar. Aqui o esporte é levado muito a sério na faculdade, o que eleva o nível de competição e ao mesmo tempo possibilita os estudos”, diz. Ele ainda fala sobre a diferença entre o futebol brasileiro e o americano: “aqui eles são mais fortes, ágeis e maiores em altura, dificultando um pouco a disputa da bola, mas o futebol brasileiro é muito mais técnico e habilidoso, o que é um diferencial”. Como é um projeto relativamente novo, muitos acabam conhecendo após entrar em uma faculdade, e às vezes trancam o curso aqui no Brasil para se dedicar ao projeto. Isso acontece porque a oportunidade é por tempo limitado, levando em consideração que a faixa etária para entrar na

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agência é de até 23 anos, que foi o caso de João Pedro Lobo, 18 anos, que entrou na faculdade de aviação civil, conheceu a agência por meio de amigos e trancou o curso para aproveitar a chance. “Sou novo ainda, prefiro ir para os EUA enquanto posso, consigo pegar experiência, diploma e fluência para quando voltar estar mais preparado e ter um diferencial enorme em meu currículo”, acrescentou o volante do MVP. Muitas vezes por conta do tempo, ou mesmo da distância, o atleta escolhe se dedicar mais ao esporte e acaba deixando de lado a escolaridade. Em matéria feita pelo site do Globo Esporte, os números mostram uma realidade desequilibrada. Apenas 15 jogadores do brasileirão chegaram ao nível superior, sendo que dos 15, somente seis terminaram o curso escolhido. O goleiro Igor Rodriguez, 19 anos, da agência MVP, disse que já tentou conciliar o futebol com a faculdade, mas diz ser impossível por falta de tempo e apoio.


Faculdade em dose dupla Universitários contam como conciliam as duas graduações que escolheram cursar ao mesmo tempo Isabella Baliana Juliana Caveiro

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onseguir manter a rotina de uma faculdade já é bem difícil, mas há pessoas que encaram o desafio e enfrentam a dificuldade de cursar duas ao mesmo tempo, tudo para ganhar tempo, ter um segundo plano de carreira, aumentar o currículo ou mesmo por dúvidas na hora de escolher a profissão. O maior obstáculo para quem vive essa jornada dupla é quando os cursos não se assemelham, como é o caso de Brandon Ramos, de 18 anos, que estuda Matemática de manhã no Instituto Federal de São Paulo (IFSP) e direito à noite na UNIP. Ele tem aula das 7h até 11h45 no curso de Matemática, volta para casa, estuda à tarde nos dias que não faz natação e antes das 19h já tem que sair de novo, para o curso de direito, tendo aula até às 22h. “Em Direito eu aprendo muita coisa nova. Na faculdade de Matemática, eu já sabia algumas coisas por causa dos 6 anos em que fiz Kumon, o que me dá certa vantagem”, diz Brandon sobre a diferença dos cursos. Já Bruna Donati, 18 anos, cursa Administração na USP e Arquitetura na FAU-Mackenzie. Ela conta que a ideia era cursar Engenharia Civil na POLI e Arquitetura no Mackenzie, mas seus pais insistiram para ela cursar USP e ela acabou ficando esse primeiro ano na Administração enquanto tenta a POLI de novo. Bruna já pensa lá na frente, tem certeza de que ter o diploma de Engenharia com que tanto sonha e o de Arquitetura vai agregar muito valor ao seu currículo. A estudante ainda ressalta a melhor parte dessa experiência: “a principal vantagem é que convivo

Bruna Donati com seus livros de Administração e Arquitetura

em dois ambientes muito diferentes, o público e o privado”. Brandon concorda que existem várias vantagens em fazer duas graduações ao mesmo tempo. “Além da maior absorção de conhecimento, que é gigantesca, suas oportunidades no mercado de trabalho ampliam, porque você pode escolher tanto uma área, quanto a outra, ou até mesmo as duas juntas, que no meu caso é direito tributário. Outra coisa é que você tem plano A e plano B, se algo não der certo ou você não gostar, você pode ir pra outra área que cursou”, relata o estudante. Dara Fernandes, de 19 anos, é outra jovem que encara o desafio de dois cursos superiores ao mesmo tempo. Ela faz Matemática de manhã no IFSP e Ciências Contábeis durante a noite na Universidade de Santo Amaro. Dara conta que devido à rotina de quem faz dois cursos ser bem agitada, o melhor é sempre estudar um pouco a todo dia, evitar acumular matérias e trabalhos e prezar pelo lazer e descanso no fim de semana. “Eu não posso deixar matéria acumulada pro sábado e domingo, porque são os dias que eu tiro pra

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mim, pra minha família, pros amigos”. Ela observa que é muito importante reservar alguns dias para o descanso: “Se não, você se desgasta muito e não tem qualidade de vida”. Para ajudar na conciliação de duas faculdades, Brandon dá algumas dicas, como por exemplo a realização de agendas e cronogramas de tarefas. “Se a pessoa não é organizada, não consegue. Se você quer fazer as duas faculdades, tem que saber gostar e se dedicar às duas do mesmo jeito. Além disso, tem que levar a sério, estudar e perseverar”. A estudante Bruna encoraja quem pensa na possibilidade. “Se é o que a pessoa sonha, ela tem que fazer. É muito menos horrível do que parece”, diz. Para Dara, não é bom forçar a barra se estiver sendo ruim a experiência. “Vá até o seu limite. Se você perceber que não está conseguindo, que está se esgotando, é melhor parar. Poderia, por exemplo, trancar um dos cursos e depois voltar a fazer”, afirma. Ela ainda observa: “pra quem precisa trabalhar, eu não indicaria fazer dois cursos porque aí você não vai ter tempo mesmo pra estudar”.


Fotografia das antigas Como ficou o mundo das câmeras analógicas após o desenvolvimento das tecnologias digitais Renan Oguma Raphael Freitas

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om o avanço da tecnologia o trabalho do fotógrafo tem mudado, e as câmeras digitais acabaram se tornando algo comum para a grande maioria. Qualquer um tem uma câmera no celular e se tornou normal que as usem diariamente para fotos de si mesmos, paisagens ou momentos, porém, ainda existem aqueles que se afastam das novas tecnologias e continuam fazendo suas fotos com equipamentos mais sofisticados. Relembrar os conceitos ou a sensação de sujar as próprias mãos revelando os filmes são alguns dos motivos que levam os fotógrafos a tirar fotos como antigamente. Um deles é Antônio Neto, 36 anos, também dono do canal “Câmera Velha” no Youtube, que conta com milhares de inscritos e mais de 130 mil visualizações. O fotógrafo destaca a importância de fazer uma foto. “Depois que entrega a foto para o laboratório, nós (fotógrafos) não participamos mais. Chega no Photoshop e acabou. Na analógica, a gente que escolhe, rebobina ou revela o filme”. Essas funções também foram fundamentais para Neto voltar a trabalhar nesse ramo. “Já fotografava com filme há muito tempo, parei por um tempo e decidi voltar a esse tipo de trabalho devido à saudade que eu tinha. Havia perdido muitos conceitos que tinha aprendido na fotografia, e que apenas as fotografias analógicas nos permitem aprender. Essa vontade de relembrar os principais fundamentos de como tirar uma boa foto foi a minha principal causa de ter voltado a esse tipo de trabalho”, completou Neto. Marcos Bueno, 62 anos, é fotógrafo há quase cinco décadas e fala sobre as vantagens das câmeras antigas. A venda de câmeras analó-

Camêra Analógica Yashica Mat-124, fabricada em 1970

gicas, segundo ele, “é um mercado que nunca vai morrer. Uma câmera digital em um ano vira sucata, nós trabalhamos com câmeras de 50, 60 anos atrás, passando de pai para filho para neto, e se quebrar a gente conserta. Nunca vai morrer”. Ainda completa com otimismo sobre a volta das câmeras de filme. “Tem uma classe de pessoas que já enjoou das câmeras digitais, a fila está voltando de novo”. No âmbito profissional, devido à alta velocidade que a comunicação exige, as câmeras digitais acabam dominando o mercado principalmente por sua praticidade, mas há quem prefira fazer trabalhos usando filmes, especialmente em eventos sociais como casamentos e batizados. José Alves, 66, fotógrafo há 23 anos e funcionário junto com Marcos na loja Pretti Cinefoto, comenta: “quem tem cacife vai querer no casamento uma câmera dessas (analógica), a textura dessa câmera é espetacular, a profundidade de campo dela é maravilhosa. Para fotos sociais ela vai voltar com tudo”. Os laboratórios que revelam essas obras de arte vêm sofrendo com a clientela, de acordo com a

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dona do laboratório Foto Ferrara, Valquíria Ferrara, 69 anos. “O número de clientes diminuiu porque é um ou outro tipo de trabalho, e muitos migraram para o digital. A maioria dos trabalhos profissionais são para casamentos, batizados, fotos sociais etc. De resto, apenas para os hobbystas”. Antônio Neto ainda comenta sobre aspectos em que as câmeras digitais não se comparam com as antigas. “É óbvio que em aspectos técnicos as câmeras digitais superam as analógicas, mas ainda não superaram do mesmo jeito em outro fundamento: a estética. Principalmente num termo chamado “granulação”. Existem vários plug-ins de photoshop que tentam simular essa granulação, mas até hoje é complicado se tentar superar o filme”. Ainda existe um futuro para as câmeras analógicas. Para aqueles com tempo e vontade para tirar uma boa fotografia, não existe maior prazer do que fazê-lo com uma câmera das antigas, com o filme em mãos e número de fotos limitadas. E é assim que se diferencia o bom fotógrafo do refém das tecnologias.


Novos palcos A abertura da Avenida Paulista aos domingos e feriados abriu espaço para a apresentação de várias bandas de rua Helena Gomes Júlia Feltrin

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esde quando o programa Ruas Abertas foi posto em prática no ano de 2015, a Avenida Paulista se tornou um novo palco para bandas de rua. Dando assim uma chance de todos divulgarem seu trabalho. Contudo, nem todas as pessoas têm o conhecimento de como é por de trás dos bastidores. A banda The Leprechaun, composta por integrantes entre 20 e 30 anos que transformam músicas históricas do rock em folk rock celta e também compõem seu próprio repertório, escolheu a rua por causa das dificuldades enfrentadas por ser autoral. “Essa foi a forma que encontramos para fazer a quantidade de shows que queríamos. É difícil encher uma agenda por sermos uma banda independente e a repercussão é tão positiva quanto tocar em um local fechado ou, às vezes, até melhor”. Desde que tomou essa atitude, o conjunto encontrou várias vantagens. “O volume de pessoas que passa pela Paulista, especialmente aos domingos, é muito grande. Mesmo sem querer, acabam conhecendo e curtindo a banda, e algumas, consequentemente, passam a acompanhar. Por conta disso, nosso público hoje é muito maior do que quando não tínhamos esse costume. Outra vantagem também é que não dependemos de convite”. Apesar da aparência, o grupo não tem uma rotina fixa dependendo do que está fazendo no momento. “Procuramos tentar ir todos os domingos para a Paulista, mas se for em uma época em que estamos compondo ou gravando um disco novo, muitas vezes não conseguimos ir”. Os ensaios e encontros da

Baterista da banda Get Naked tocando na Paulista

banda ocorrem somente durante o final de semana, pois durante os dias de semana os integrantes têm outras ocupações. Apesar de amarem se apresentar na rua, eles têm outros objetivos para o futuro, portanto, a frequência de apresentações ao ar livre pode diminuir com o passar do tempo. “Não é nosso objetivo final. O objetivo maior é conseguir divulgação e fundo monetário para entrar em uma outra dinâmica. A tendência é reduzir a frequência, na medida que você vai conseguindo uma agenda de shows mais cheia, mas para parar 100% ainda vai levar um tempo”. Diferente de outras, The Leprechaun já tem fama entre os amantes do folk rock. Além disso, na plataforma de música Spotify, eles já têm três álbuns. Por causa do foco na música celta, os instrumentos são compostos por um tipo de banjo irlandês que é tipicamente usado nas músicas daquele país e o violino, que também aparece com frequência. O vocalista Vittor Scalon (Tito), de 30 anos, da banda Get Naked, também divide um pouco as experiências e a relação entre o trabalho e a vida urbana. Revela que é

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dificil tocar na rua, especialmente como banda independente. A necessidade de um gerador próprio para ligarem os instrumentos e carregarem todos os equipamentos sozinhos são as principais dificuldades citadas. Entretanto, ele acrescenta que há inúmeras vantagens. “Acaba sendo mais divertido porque você não é um contratado, não é um trabalho sério e torna-se algo mais descontraído. Podemos levar nossas próprias coisas, mudar o repertório como e quando quisermos”, afirma o músico. A banda de covers decidiu se apresentar na rua, sobretudo na avenida Paulista, por ser um ambiente extremamente agradável e por ser uma espécie de vitrine. Diversas pessoas passam por lá e acabam parando para apreciarem as apresentações. Assim, é um modo mais prático de uma maior quantidade de pessoas tomarem conhecimento deles e poderem contratar seu serviço. Pois, além de se apresentarem nas ruas paulistanas, a Get Naked pode ser contratada para tocar em eventos. Vittor conta que a música é, na verdade, um segundo plano na vida dos integrantes.


Os esquecidos do centro A violência na Luz e na Praça Júlio Prestes é um grave problema social que prejudica espaços culturais da região Gabriel Ferreira Victória Gearini

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centro de São Paulo enfrenta graves problemas gerados por ondas de violência, especificamente na região da Luz e na Praça Júlio Prestes. Nelas ficam localizadas espaços culturais como a Pinacoteca do Estado, o Memorial da Resistência e a Sala São Paulo. Apesar da problemática vivenciada nessas regiões, o professor de geografia Luiz Carlos Ramalho, 48 anos, realiza há 22 anos um trabalho no centro da capital com alunos do Colégio Neolatino. O projeto consiste em visitações aos espaços culturais com o intuito de aproximar os estudantes das áreas centrais. Ele afirma nunca ter sofrido qualquer tipo de violência, mas conta que os alunos se sentem inseguros. “É tanta gente em situação trágica que você se acostuma com o horror dessas cenas”, diz. Em relação às ocorrências de violência que cercam os espaços culturais, a assessoria de imprensa da Fundação Osesp relata que conversou com a Polícia Militar. O resultado foi a implantação de uma base móvel da PM na entrada

Moradores de rua e usuários de drogas em frente à Sala São Paulo

da Sala São Paulo – medida tomada após reclamações de frequentadores da localidade por meio de redes sociais. Mesmo com o reforço policial, o público do local afirma ter a sensação de insegurança, como é o caso da servidora pública Débora Viana, 33 anos, que relata não frequentar a região por não se sentir segura com a grande quantidade de usuários de drogas. A violista da Emesp Tom Jobim, Victoria Liz, 19 anos, já se

Degradação e insegurança na região da Luz

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apresentou na Sala São Paulo e acredita que as medidas tomadas pela atual gestão da Prefeitura em conjunto com o governo do estado não são eficazes. “Acredito que a política de limpeza do atual prefeito não deu resultados”. O assistente administrativo Gilberto Oliveira Cortez, 47 anos, trabalha há 25 anos na Pinacoteca do Estado e conta que o local também sofre com a violência, mas não como no Memorial da Resistência. Ao contatar a assessoria de imprensa desses dois locais, a responsável não concedeu informações sobre o assunto. A Praça Júlio Prestes está localizada no bairro de Campos Elíseos, que faz divisa com a Luz. A Secretaria do Estado de Segurança Pública divulgou o alto índice de criminalidade nessa região no ano de 2017. Ele é classificado como o 8° bairro mais violento do estado. Para Luiz Carlos Ramalho isso é gerado por conta de um fator histórico e a revitalização não pode ser somente física, mas sim social.


Projeto ensina lutas a crianças carentes A Fundação Gibi, em processo de expansão, promete oferecer ainda mais serviços à população local Gabriel de Oliveira Croquer Guilherme Amendola

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a periferia da cidade de Taboão da Serra, Igor Andrade Salles, tapeceiro, 36 anos, vai à Fundação Gibi por meio das vielas de uma das regiões mais perigosas do estado de São Paulo. Enquanto dirige, o faixa-roxa de Jiu-Jitsu da academia Ryan Gracie nos explica como entrou em contato com o projeto social, que por meio de aulas de Boxe e Jiu-Jitsu procura ajudar os jovens da região. “Pela academia que eu treino, acabei conhecendo o Gibi, e ele me disse que estava precisando de um professor de Jiu-jitsu, então eu me disponibilizei”. O “Gibi” a quem Igor se refere é Antônio Cruz de Jesus, ex-pugilista profissional, hoje com 42 anos, treinador de Boxe. Em entrevista feita um dia depois da nossa visita ao projeto, o treinador contou sobre o começo da iniciativa. “Essa ideia eu tinha há mais de 15 anos, só que não tinha o mesmo conhecimento de hoje. Fui para o Rio de Janeiro para me preparar, fiquei 11 anos nesse processo dando aula no projeto Luta pela Paz, voltei e agora comecei esse trabalho”. “Gibi” nos contou como sua vivência na capital foi fundamental para sua evolução como professor. “Eu tinha muita experiência no lado competitivo do esporte, mas pouca para o lado social do esporte”. A experiência do ex-lutador em competições é realmente extensa: foi tetracampeão mundial e brasileiro e octacampeão paulista. Foi integrante da Seleção Brasileira de boxe por cinco anos e tem um cartel invejável de 161 vitórias e 19 derrotas. O projeto Luta pela Paz é uma das maiores iniciativas sociais com foco em lutas do Brasil e está em funcionamento há 17 anos em

Igor e seus alunos no encerramento do treino

áreas carentes da capital carioca. Antônio explicou que sua meta é de expandir o seu projeto. “A gente está construindo um espaço maior, vai ter ringue, um salão só para o Boxe e o Muay Thai e outro para o Jiu-Jitsu e Judô”. O lutador explicou que o projeto não se resume à luta, contando que o novo espaço em construção ainda oferecerá aulas de dança sertaneja e de Zumba e que a atual locação já oferece diversos serviços de saúde para a comunidade local. Pouco depois de passarmos pela futura academia da iniciativa, chegamos à atual. Igor desce do carro junto à esposa e seus quatro filhos para entrar no que à primeira vista parece ser apenas uma pequena garagem parcialmente fechada. Sem identificação do lado de fora, o tatame em que crianças correm e o grafite estampado na parede oposta à entrada, de um galo com luvas de boxe acompanhado do nome da iniciativa e do lema “Esporte e Educação”, dão a certeza ao visitante que ele está no lugar certo. Com o quimono vestido, Igor começa o treino. Claramente querido pelos alunos, o faixa-roxa justifica o

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atraso em tom de brincadeira, mas também demonstra austeridade com os jovens em certos momentos da aula. “Tem que ter regras, educação e comprometimento”, justificou o professor, explicando que desde que entrou no projeto, há seis meses, a evolução dos jovens no aspecto educacional é nítida. O treinador explica que esse é seu foco nas aulas, e que depois incentiva os participantes à competição. “Lógico que vai destacar um ou outro que a gente vai encaminhar, mas o meu foco é a educação”. É o que demonstra na prática: no encerramento da aula, depois de um sermão aos alunos sobre respeito, Igor muda de assunto e pergunta quantos irão ao próximo campeonato, explicando que depois de pagar sozinho pelos quimonos dos garotos dificilmente conseguirá bancar as taxas de inscrição. Na hora de irmos embora, ele tem de lidar com um vazamento de óleo em seu carro. Às 10 horas da noite, deitado sob o veículo, Igor justifica, com um sorriso no rosto, mais um sacrifício: “Não tem jeito, para fazer isso tem que gostar muito mesmo”.


Comércio de areia

Como alternativa ao desemprego, os vendedores ambulantes instalam-se nas praias paulistas mesmo com a falta de reconhecimento dos turistas Camila Oliveira

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ara os paulistanos, o aumento da temperatura é motivo para “descer” à praia e aproveitar o descanso merecido. Por isso, cidades como o Guarujá recebem cerca de 300 mil turistas na época de feriados prolongados e o dobro para período de férias, de acordo com a Secretaria Municipal de Turismo. Estimula-se, portanto, a economia da praia e o comércio ambulante na região. E, assim, para os ambulantes e comerciantes inicia-se a época de maior movimento de vendas, mesmo sendo um trabalho pesado sob o sol de 30°C ou mais. Muitos recorrem a essa atividade comercial em praias pela falta de opções e pela limitação de vagas no mercado de trabalho. Com a taxa de desemprego em 13,7% no primeiro semestre de 2017, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a população brasileira procura alternativas para manter uma renda, mesmo que baixa. É o caso de Antônio dos Santos, 65 anos, vendedor de açaí, que explica a sua escolha pelo comércio ambulante devido à falta de emprego no mercado. “Obra não tem, porque construção é onde eu trabalho. E não tenho outra opção. E se não tiver alguma coisa para fazer, você morre de fome”. Mas, para Antônio, o fato de ter se tornado ambulante não é visto como um fardo. Ele conta que é contente independente da profissão exercida no momento. “Serviço bom não existe, mas você se acostuma”. Mesmo estando satisfeito com o serviço, Antônio ainda acha que seu trabalho não tem reconhecimento. “Trabalhamos no dia a dia, gostamos do que fazemos, mas ninguém

O vendedor de açaí e sua barraca que faz sucesso no calor praiano

pensa em elogiar o nosso serviço”. Com o seu carrinho de açaí, Antônio percorre a Praia da Enseada, no Guarujá, que tem a extensão de 5.600 metros, sendo a maior da cidade, tendo que lidar com o calor e a incerteza das vendas. Mas a idade, as dificuldades e o aperto não são obstáculos para ele. “Eu acho meu trabalho gratificante e gosto muito do que faço. É importante você gostar do que faz, onde quer que seja”. Tal maneira de encarar a realidade não é vista da mesma forma para todos os ambulantes, mesmo que se encontrem em situações semelhantes. Para Sandra Jesus Santos, 38 anos, vendedora de algodão doce, as dificuldades atrapalham muito, afetando sua relação com o trabalho. “Não gosto muito do que faço e acho puxado, é mais pela necessidade mesmo e não por opção”. Sandra também percorre a Praia da Enseada duas vezes e trabalha oito horas por dia embaixo de sol quente, o que ela diz ser um problema para a sua saúde. “Tenho que usar muito protetor solar, chapéu e uma roupa que proteja meu corpo. Mas, mesmo assim, tenho muitas queimaduras e manchas na pele”.

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Nas praias pode ser encontrada uma variedade de comércios que chama a atenção do cliente. Dentre eles, destacam-se as barracas de comida, como as de Antônio e de Sandra, que variam entre salgados e doces. Mas há também um comércio voltado à locação de pranchas, canoas e passeios voltados ao lazer aquático. Nesse ramo, o trabalho é um pouco diferenciado por proporcionar um lazer exclusivo daquele ambiente, o que pode atrair ainda mais a atenção dos turistas. Rodrigo Santos, 35 anos, dono de uma barraca para aluguel de pranchas, conta que já chegou a atender 40 clientes por dia, mas prefere manter cerca de 20 locações, pois o trabalho exige muito. “No verão eu chego a trabalhar 12 horas por dia sem parar. Não tenho hora de almoço, só vou comer por volta das 20h15”. O cuidado e a atenção com os clientes mantêm Rodrigo focado no horário do expediente, o que resulta que ele trabalhe apenas três meses por ano, durante a temporada alta. “Já cheguei a ficar desidratado por tanto esforço. Não pretendo mais trabalhar com isso, mas preciso gerar renda. Talvez em uns cinco anos eu pare”.


O perigo da obesidade infantil Esse mal vem sendo considerado a doença do século, que pode desencadear outras enfermidades, como hipertensão e diabetes Rodrigo Galvão Thaynná Pontes

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egundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 41 milhões de crianças no mundo são consideradas obesas, e esse número tende a aumentar ainda mais, podendo se tornar uma epidemia mundial que atinge todas as idades. De acordo com o Ministério da Saúde, 6,5 milhões de crianças e adolescentes estão acima do peso no Brasil. Estima-se que até 2050 nosso país seja o 5° com o maior número de crianças com esse distúrbio no mundo. Esse mal pode ser explicado por diversos motivos. A psicóloga infantil Angélica de Carvalho Sari, especialista no assunto, explica: “a obesidade em si ocorre por diversos fatores, não existe um específico. Na infância, isso pode ser influenciado por causas biológicas, sociais e pela estrutura familiar. Porém, não existe um fator determinante” diz a especialista. “O primeiro contato que a criança tem com o alimento é muito importante. A introdução do alimento a ela se deve aos pais, principalmente no início, durante o período da amamentação. Porém, se eles não têm o costume de comer bem, dificilmente alimentos saudáveis serão oferecidos à criança, o que poderá determinar o seu mau hábito alimentar”, completa. Ou seja, a criança é o reflexo do meio onde vive. Quando os pais não dão o exemplo em casa de comer corretamente, muitas vezes serão introduzidos a elas alimentos pobres em nutrientes, industrializados, embutidos e até processados. Isso faz com que a comida saudável seja cada vez mais tirada da rotina dessa criança, que não tem autonomia

Fast food na praça de alimentação do shopping Villa Lobos

suficiente para determinar o que vai comer. Além disso, muitos pais forçam os filhos a comer mais que o necessário, o que impulsiona ainda mais o desenvolvimento da obesidade. A doença também está associada ao nosso modo de vida cada vez mais rápido e dinâmico. Antes do desenvolvimento da tecnologia, as crianças saíam mais para brincar na rua, e até mesmo dentro de casa. Porém, hoje, graças aos tablets, videogames e smartphones, elas vêm perdendo o interesse em fazer atividades que exijam grandes movimentos. A endocrinologista pediátrica Débora Alencar de Menezes afirma: “o principal fator que justifica o excesso de peso se deve ao sedentarismo e à alimentação errada, uma vez que apenas 3 a 5% dos casos têm alguma relação com doenças genéticas ou endócrino-metabólicas. Ou seja, a criança obesa ganha mais calorias comendo do que as perde através de atividades físicas. Ao contrário do que muitos pensam, não existe obeso saudável. A obesidade é uma doença que pode gerar outras ainda piores. Ela está associada à pressão alta, à elevação de glicemia (que leva à diabetes) e a várias outras”, diz.

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Sem contar os problemas psicológicos, pois a criança e o adolescente obesos tendem a apresentar uma autoestima muito baixa, acarretando na dificuldade do convívio e até mesmo levando à depressão. O tratamento envolve mudanças no estilo de vida, com a prática de atividades físicas e mudanças drásticas nos hábitos alimentares. Débora completa: “salgadinhos, doces, frituras e refrigerantes são alimentos com alto teor calórico, que são oferecidos para algumas crianças desde o primeiro ano de vida, porém devem ser evitados. Os pais também precisam estimular seus filhos a praticar atividades físicas”. Quando a obesidade desencadeia a hipertensão e a diabetes (que são as consequências mais frequentes), medicamentos serão utilizados de acordo com o tipo do diabético, na maioria das vezes envolvendo medicamentos via oral e insulina. No caso da pressão alta, os medicamentos anti-hipertensivos serão introduzidos. “É necessário o acompanhamento dessa criança por uma equipe multidisciplinar, capaz de fornecer as melhores orientações para o tratamento, com a família”, completa a endocrinologista.


Um amparo literário Os avanços e o impacto social do mercado dos livros de autoajuda Beatriz Borges da Silva Beatriz G. de Abrantes

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mercado de livros no Brasil tem se mostrado enfraquecido no registro de vendas, com uma redução de 2,8% em 2015, atrelado ao surgimento da crise econômica. Porém, de acordo com os dados da Nielsen Bookscan, os livros de autoajuda são exceção, com um aumento de 42% em relação ao ano de 2014. Consagrados pelo mercado literário, os livros de autoajuda fazem parte de mais da metade das obras vendidas em 2017, de acordo com a PublishNews. Assim, os fãs colaboram para manter autores já perpetuados pelos amantes desses livros, como Byrne Honda, autor de “O Segredo”, e Augusto Cury, com “O vendedor de Sonhos”. “Em 2015, após sair do colégio, comecei a ter muita ansiedade. Fui a uma psiquiatra e ela disse que eu estava com síndrome do pânico e crise de ansiedade. Foi aí que comecei a ler o livro “ Ansiedade – Como enfrentar o Mal do Século” para entender mais sobre o que eu estava sentindo no momento”, relatou Bárbara Rodrigues Pereira, 20 anos, estudante de jornalismo. Ela conta ainda que, por meio de um livro de meditação, inseriu novas práticas em seu dia a dia que a ajudaram contra a ansiedade. A estudante acredita que nem todas as questões podem ser tratadas com os livros de autoajuda, como em seu caso, no qual foram necessários medicamentos para aplacar as crises. Já em situações cotidianas, Bárbara confia que os livros podem funcionar como alívio em meio a uma adversidade. “Eu acredito na eficiência dos livros de autoajuda, porque lendo nós conseguimos absorver melhor as informações e aplicar na nossa vida”, revelou Bárbara. Por outro lado, não é o que a psicóloga clíni-

Daniele Orlando, psicóloga clínica, duvida dos livros de autoajuda

ca Daniele Orlando Melo, 31 anos, afirmou. “Os livros acabam sendo muito genéricos e sem eficácia. Para resolver o problema é necessário ver como que se está lidando diante das emoções, como que está a sua cabeça”. Daniele afirma que os livros de autoajuda são muito superficiais e que a terapia capta os pontos mais profundos de um problema, como um luto, ou suicídio, fato que mata uma pessoa a cada 45 minutos, segundo a Comissão de Assuntos Sociais (CAS). “A gente não pode generalizar, mas é o tato que a gente precisa ter com o outro. É isso o que falta: desenvolver mais o sentimento, o amor. Por isso que a terapia é muito mais completa do que só um livro”. O aumento da venda desses livros também está relacionado com a influência digital que evidencia os clássicos de autoajuda, com autores renomados, além do sucesso

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dos influenciadores digitais. “Os livros desses autores atraem muitos leitores e, por eles serem conhecidos, incentivam as pessoas a comprarem ainda mais”, confirma Bárbara, leitora dessas obras. A psicóloga vê o aumento da venda de livros de autoajuda como uma consequência da crise. “A terapia é um investimento que você faz para si mesmo e tem um custo alto. Porém, quanto custa um livro de autoajuda? A crise também afeta as pessoas por dentro e fazem-nas quererem buscar mais ajuda”. Entre os dez livros mais vendidos de autoajuda, é perceptível a forte presença de obras sobre finanças. “Às vezes a gente lê algo relacionado a um problema que estamos passando, pois é um conforto saber que tem mais pessoas lutando pelo mesmo que você. Muitas vezes você precisa de um incentivo e para isso procura um livro relacionado a esse assunto”.


Fazendo a diferença Poder público se une a empresas e voluntários para melhorar qualidade de vida de pessoas em situação de rua Abner Oliveira Em meio a tantas discussões acerca da qualidade de gestão, valorização humana e as condições necessárias que a prefeitura e a população debatem ser convenientes a todo cidadão, organizações não governamentais trabalham para melhorar a vida das pessoas em situação de rua. O contexto que motivou o desenvolvimento e voluntariado do trabalho da Rede Rua ocorreu em 1980, numa situação semelhante à atual, com um crescente número de trabalhadores atingidos pelo desemprego que iam morar nas ruas ou viadutos da capital mais populosa do país. A associação possui três principais programas referentes ao voluntariado humano capazes de transformar a vida de indivíduos: Pousada da esperança, que iniciou suas atividades no ano de 2001, atende 120 homens em situação de rua diariamente, sendo que em épocas de frio intenso esse número aumenta. O serviço atende pessoas que estão nas imediações de Santo Amaro, região sul de São Paulo. O Refeitório Penaforte Mendes atende adultos em situação de rua e crianças acompanhadas de seus pais ou responsáveis. Diariamente são atendidas 500 pessoas distribuídas entre café da manhã (100), almoço (300) e jantar (100). E, também, a Acolhida para voluntários – Casa Dom Helder Câmara. É o nome oficial da “Casa 12”, escolhido para homenagear o bispo católico, arcebispo emérito de Olinda e Recife que dedicou sua vida às causas sociais. A casa é utilizada para a acolhida de voluntários e missionários do Brasil ou de outros países, que trabalham com causas sociais e que durante o processo de intercâmbio a utilizam como moradia provisória.

Refeitório Penaforte Mendes serve três refeições diárias

A instituição conta, também, com um jornal chamado “O Trecheiro”, que produz fotos, vídeos e matérias com temas relacionados a população em situação de rua, o qual usa a crítica e fatos vividos pelas pessoas que são tratadas e observadas com privação para de alguma maneira reintroduzi-los na sociedade, dando voz e amplitude de divulgação. Luiz Carlos da Silva, 33 anos, é formado em Administração e vive em situação de rua. “Grande parte das pessoas que vivem em situação de rua possuem família, não são indigentes. A situação atual nos torna invisíveis, mas muitos aqui têm uma profissão”, diz. Perguntado sobre sua família, Luiz responde que “a família de sangue, muitas vezes, fecha a porta diante de um vício, um deslize que no passado cometemos. A associação (Rede Rua) não, eles quem são realmente minha família. As pessoas aqui dentro estão dispostas a te ouvir, ajudar, com palavras de consolo, um prato de comida, um lugar para dormir. São os direitos básicos que todo cidadão deveria ter, mas na prática não é assim que funciona”. Edivaldo Reis, 42

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anos, trabalhava como pedreiro, mas por conta do vício em drogas, acabou perdendo sua família e seu emprego. “Era um dos melhores na minha profissão. Todos os dias trabalhava e sustentava minha família. Nunca parei. Mas a droga foi meu ponto fraco, comecei usando pouco e acabei perdendo tudo por causa dela. A associação é a minha última esperança, é ela que me dá o mínimo e ao mesmo tempo o máximo, sabendo que a cada dia existem menos pessoas fazendo o bem.” Edivaldo, hoje, é auxiliado por uma psicóloga da instituição. A associação com voluntários que disponibilizam seu tempo à causa social. Ana Luiza Barros, formada em Psicologia, voluntária da associação, é um dos exemplos. “Me sinto no dever de ajudar quem necessita, seja com a minha atenção para ouvir ou ajudar nas realizações das tarefas. Eles nos colocam como integrantes da família deles, e isso é uma responsabilidade muito grande. Todos os dias acordo sabendo que muitas pessoas depositam a confiança e única esperança que elas têm em mim. Mas é muito gratificante saber que estou fazendo a diferença”.


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