JORNAL-LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE - ANO XIII - ED. 207 - DEZEMBRO / 2018
OS CICLISTAS DEFENDEM SEU ESPAÇO - p. 5 LEIA TAMBÉM NESTA EDIÇÃO:
ELES SÓ PENSAM NO VESTIBULAR - p. 2 VÍTIMAS DA DITADURA PEDEM REPARAÇÃO - p. 3
ANIMAIS À ESPERA DA ADOÇÃO Por Giulia Alecrim e Isabella França - p. 9
ONG APOIA CRIANÇAS CARENTES E ESPECIAIS - p. 7 DIMINUI A PROCURA POR VACINAS NO BRASIL - p. 13
Estudante na linha de produção Escolas montam seus planos de ensino com o objetivo de preparar o aluno para provas de vestibular tudante do terceiro ano do ensino médio desse mesmo colégio e avalia o sistema de ensino como bom e funm levantamento publi- cional, apesar de extremamente cancado na revista Veja em sativo. “Tem que estudar para caramnovembro de 2017 ma- ba, mas é um negócio que vale a pena peou o perfil e escolas no final. Se você pretende cursar uma dos alunos que costumam ficar no faculdade, alguma coisa desse tipo, no topo da lista do ENEM, um grupo ensino médio vale muito a pena”, diz. que representa somente 1% das no- Isabella Boschi, atual estudante do tas mais altas da prova. Baseando-se ensino médio no Colégio Objetivo e nos resultados da prova de 2015, ex-estudante do Vital Brasil, apresenta o procedimento foi realizado pelo ideias semelhantes às de Teresa. “AmIDados (Instituto de Análises e Esta- bas as escolas têm seus altos e baixos, tísticas que acompanha o sistema de mas acho que depende muito da meta ensino no Brasil). A pesquisa reve- da pessoa. Serão três anos em que o la que as vagas mais disputadas são aluno irá se dedicar somente ao colépreenchidas por estudantes de es- gio”, afirma a estudante. Já o Colégio Etapa III (São colas localizadas em menos de 10% Paulo), outro dos principais símbolos das cidades brasileiras. O Colégio Vital Brasil, escola de escolas com essa linha pedagógica, que prepara alunos para provas de ocupou, entre as escolas privadas do Vestibular e ENEM, publicou uma no- estado de São Paulo, o 2º lugar na lista tícia em seu site oficial comunicando de médias do ENEM 2015 e 5º entre a conquista da 4º posição no Ranking as escolas públicas e privadas do estaelaborado pela Folha de S. Paulo do do de São Paulo no mesmo exame no ENEM 2017 entre as escolas particu- ano seguinte, de acordo com levantalares da cidade de São Paulo e em 5º mentos também da Folha de S. Paulo. Entrevistamos um professor lugar entre as particulares do estado. Teresa Moraes, 18 anos, é es- dessa mesma escola e ele, que não quis se identificar, acredita que, sendo o vestibular e o ENEM grandes marcos na vida do estudante, o Colégio oferece diversas vantagens para seus alunos, uma vez que este, graças ao método do Etapa, terá mais chances de ingressar em universidades renomadas. “Chega a ser injusto se compararmos o que acontece aqui dentro com o que a grande maioria dos adolescentes têm lá fora, como na educação pública. Por exemplo, no ensino médio, os alunos são expostos a todos os conteúdos que serão exigidos no Vestibular e ENEM. Fora isso, eles contam com simulados regulares que os prepararam muito bem para as eventuais ‘pegadinhas’ das questões”. Andrea Polo, pedagoga formada pela Universidade de São Paulo, ao contrário do professor do Etapa, afirma que num país que Andrea Polo, pedagoga se organiza prioritariamente para Camila Zanetti Luisa Cury
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provas de vestibular, é natural que escolas queiram preparar os alunos para esse momento. Contudo, em sua visão, a vida é muito mais do que isso. A educadora ainda discute alguns dos impactos que esse sistema de ensino acarreta no aluno. “Uma educação voltada só para resultados favorece um sujeito que só quer responder a uma pergunta, que só quer estrutura dada. Quando isso foge de um contexto, essas pessoas têm mais dificuldade de entrar em contato com as diferenças e com as dificuldades que a própria vida nos coloca”, diz a especialista. Por fim, apesar de o professor apresentar diversas vantagens de planos pedagógicos como os do Colégio Etapa, há também desvantagens, como ele mesmo coloca. “Obviamente que nem tudo é perfeito. Infelizmente, o aluno, por muitas vezes, acaba não tendo um olhar mais próximo, mais humano. Eu acredito que cada aluno é singular. Todos temos pontos fortes e pontos a serem melhorados. Esse método acaba não deixando espaço para que se dê muita atenção a essas nuances que cada aluno pode ter”, conclui.
Jornal-Laboratório dos alunos do 2o semestre do curso de Jornalismo do Centro de Comunicação e Letras da Universidade Presbiteriana Mackenzie. As reportagens não representam a opinião do Instituto Presbiteriano Mackenzie, mas dos autores e entrevistados. Universidade Presbiteriana Mackenzie
Centro de Comunicação e Letras
Diretor do CCL: Marcos Nepomuceno Coordenador do Curso de Jornalismo: Rafael Fonseca Supervisor de Publicações: José Alves Trigo Editor: André Santoro
Impressão: Gráfica Mackenzie Tiragem: 100 exemplares.
Em busca da verdade Vítimas da ditadura e familiares procuram reconhecimento dos crimes sofridos no período de exceção Ana Paula Lino Júlia Carmona
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Ministério Público Federal (MPF), em 31 de outubro, denunciou Durval Ayrton Moura de Araujo, procurador da Justiça Militar, Nelson da Silva Machado Guimarães, juiz da Auditoria Militar, ambos aposentados, e o ex-delegado Josecir Cuoco pela morte de Olavo Hanssen, em 1970, e por omissão nas investigações. Olavo morreu na cela do Dops após sessões de tortura. O fato de o MPF ter denunciado membros do Judiciário e do Ministério Público acerca de ações ocorridas durante o período ditadorial é inédito. Mas não é a novidade os tribunais terem sessões sobre crimes ocorridos no Regime Militar. Como exemplo, há o caso de Merlino, cujo julgamento ocorreu em 17 de outubro. Os desembargadores da 13º Câmara Extraordinária Cível decidiram, unanimemente, que o processo movido pela família de Luiz Eduardo Merlino contra o Coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra seria extinto por ser relativo a um crime prescrito. Merlino ilustra a busca por reconhecimento dos crimes ocorridos na Ditadura Militar (1964–1984). O jornalista morreu em decorrência das torturas sofridas no DOI-CODI/ SP, órgão de repressão e tortura, comandado pelo Coronel Ustra. A família de Luiz entrou na Justiça em 2010 com uma ação declaratória, para que o coronel fosse declarado como torturador. Na época, os familiares saíram vitoriosos, tendo direito a uma indenização de R$ 100 mil, o que levou ao último julgamento. Ustra foi absolvido com base na Lei de Anistia de 1979, o que é questionável. Tortura é um crime de lesa-humanidade, portanto, imprescritível, como aponta Rose Nogueira, jornalista e ex-presa política. “Quando um homem é torturado, a huma-
Rose Nogueira relata suas vivências durante o período ditatorial
nidade inteira está sendo ofendida”, diz. Adriana Borghi, professora de direitos humanos da Universidade São Judas, diz que “todos os crimes ferem os direitos humanos, logo nenhum crime pode ocorrer sem que o culpado responda por isso”. O Supremo Tribunal Federal, por sua vez, encara que a Lei de Anistia se estende à tortura. A OAB já requereu a revisão da lei, mas o STF votou pela manutenção. Segundo Maurice Politi, diretor do Núcleo de Preservação de Memória Política e colega de cela de Hanssen no Dops, ela é o principal motivo de tais processos não avançarem. “Até hoje tem impunidade, principalmente, por causa da Lei da Anistia, a Justiça se apega a ela”. No entanto, ações como a Comissão de Anistia e a Comissão Nacional da Verdade reconhecem as ações de violência da época. Com medidas em sentidos diferentes baseadas no mesmo período, é preciso entender o processo de redemocratização, guiado pela Justiça de Transição, que, segundo o Conselho de Segurança da ONU, é um conjunto de estratégias para enfrentar o legado da violência em massa do passado, exigir o direito à memória e à verdade e garantir a não repetição dos fatos. Os pilares dela são explicados por Politi: “Deve-se saber a verdade, haver a reforma das instituições, a reparação e tem que haver justiça”.
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Além disso, ele diz ser importante ouvir as vítimas pois, durante períodos de grande violência, apenas quem está no poder tem voz. Diferente de outros países, que iniciaram sua redemocratização buscando a verdade e a justiça, o Brasil optou pela reparação financeira das vítimas, pagando indenizações para pessoas que tiveram seu plano de vida interrompido. “A reparação é uma das formas desse processo, mas não é a única que tem que ser feita e, infelizmente, no Brasil ela foi a única por muito tempo”, argumenta Politi. O Brasil também se atrasou em saber a verdade. A Comissão Nacional da Verdade (CNV) foi criada em 2011, quase 30 anos após o fim da ditadura. Ela trouxe motivação para os familiares das vítimas, com a chance de terem alguns de seus anseios atendidos, como a identificação de corpos e de agressores. Porém, o Relatório da CNV apenas elenca nomes e define as torturas ocorridas como crime contra a humanidade, sem levar à condenação, que só vem por meio de processos judiciais movidos por vítimas ou, em caso de falecimento, por seus familiares. Por isso, é inegável a importância de todos esses movimentos em busca da resolução de tais fatos. “O reconhecimento público de que o Estado errou e que foi perpetrador da violência é muito importante”, diz Politi.
Fim de linha para o assédio Lei sancionada em setembro cria penas maiores para esse tipo de crime e ajuda a conscientizar a sociedade Bruna Rios Laura Quadros
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metrô de São Paulo recebe em média 3,7 milhões de passageiros por dia, de acordo com o Relatório da Administração do Transporte em 2017. O relatório também mostra que o metrô recebeu 1,095 bilhão de passageiros naquele ano. Esse meio de transporte foi escolhido, por três anos seguidos (2015, 2016 e 2017), pelo Datafolha, como o melhor da capital paulista, deixando para trás o sistema de ônibus e as linhas de trem. Apesar do título, o metrô também é um local de insegurança para uma parcela da população, a maioria mulheres. O dado assusta: uma em cada quatro mulheres residentes da cidade relata já ter sofrido assédio dentro do transporte público, segundo a pesquisa feita pela Rede Nossa São Paulo no ano de 2017. A cultura do assédio aumenta ainda mais o medo entre as paulistanas, diferentemente dos homens, uma vez que, segundo uma pesquisa realizada pela Action AID em 2016, 68% das mulheres sentem medo de serem assediadas no transporte público e apenas 7% dos homens reconhecem ter receio desse tipo de violência. Segundo Roberta Astolfi, pesquisadora do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, essas são questões que precisam ser trabalhadas na sociedade. “Nem sempre essa passagem se dá de forma tranquila, mas nunca se falou tanto sobre esses temas como atualmente”, diz. Roberta completa: “É necessário criar uma reflexão sobre o assédio sexual contra as mulheres, pois tudo aquilo que é legitimado socialmente passa a ser descontruído”. O debate existe, vem aumentando e é saudável, porém mais um problema gira em torno do assédio contra as mulheres nos transportes públicos: a denúncia. Segundo a Rede Nossa São Paulo, no final de 2017
Segundo a Action AID, 68% das mulheres sentem medo de serem assediadas no transporte público
apenas 2% das entrevistadas da capital paulista já utilizaram o 180 (para denúncia desse tipo de crime), 4% utilizaram a Delegacia de Defesa da Mulher, 3% utilizaram a Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher e 3% utilizaram o 181 (Disque-Denúncia). Segundo Ângela, secretária da 1ª Delegacia da Mulher, na região central de São Paulo, que não quis revelar o sobrenome, as mulheres sentem, sim, medo de relatar o ocorrido. “Mas normalmente, quando chega aqui, é porque ela já esgotou a cota dela de medo”, diz. Ângela diz que as vítimas se sentem mais à vontade quando têm apoio e veem que as Delegacias acolhem. “Tem que continuar denunciando, pois às vezes a mulher vê o cara passando a mão e não denuncia”, afirma. Para Roberta, a comunicação pública é muito importante, pois pode ser o pivô para a quebra da violência, que é quando a mulher cria coragem e consegue, pela informação, saber que deve ser tratada com respeito. A legislação brasileira vem trazendo coisas novas, como a Lei da Importunação Sexual, popularmente conhecida como Lei do Assédio, sancionada em setembro deste ano. O crime de
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importunação sexual é caracterizado pela realização do ato libidinoso na presença de alguém e sem sua anuência. O caso mais comum é o assédio sofrido por mulheres nos transportes coletivos, como ônibus e metrô. O que antes era considerado uma contravenção penal, com pena de multa, agora pode resultar em um a cinco anos de prisão.Também poderá receber a mesma pena quem vender ou divulgar cenas de estupro por qualquer meio e a pena será ainda maior caso o agressor tenha relação afetiva com a vítima. Roberta diz: “A lei define que aquela conduta não é aceita socialmente, que não é boa. A mudança não é só na lei, também é na cultura, a partir dessa lei acredita-se que as pessoas não vão mais naturalizar esse tipo de conduta, vai haver uma reprovação social”. Na vida em sociedade, além dos controles formais da lei, há também o controle social: a avaliação e julgamento dos pais e da família. Agora a vítima sabe que foi agredida e injustiçada e principalmente que a culpa não foi dela. “A lei tem esses valores simbólicos, é uma coisa muito mais longa, os parentes e amigos podem compreender melhor, os efeitos são muito grandes”, diz.
Movimento em sincronia Grupos de ciclistas defendem seu espaço nas ruas da capital paulista Caroline Priami Julia Beraldi
Ciclistas reunidos na conhecida “praça dos ciclistas” para o encontro do VNT
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poluição da cidade de São Paulo foi tema de pesquisa coordenada pelo Instituto de Física da USP e publicada na revista Scientific Reports. Os cientistas calcularam que veículos a diesel, como caminhões e ônibus, são responsáveis por cerca da metade da concentração de compostos tóxicos na atmosfera, tais como benzeno, tolueno e material particulado. A expansão das linhas de metrô, por exemplo, seria um dos jeitos mais eficazes de minimizar a poluição na cidade, mas isso é uma medida de longo prazo. Para resolver o problema de maneira mais rápida, uma redução do uso de veículos, aliada ao maior uso de bicicletas, parece ser a solução ideal em alguns bairros. O chamado Desafio Intermodal, avaliação que ocorre em várias cidades pelo estado e busca encontrar qual meio de locomoção seria mais eficiente, classificou a bicicleta como um modal (meio de locomoção) dos melhores, sendo sustentável e econômico. Tendo em vista esse cenário, a prefeitura apresentou este ano uma sugestão para aumentar a rede cicloviária de 498 km para 1.420 km
até 2028, de modo seguro e integrado. O objetivo deste plano é garantir a melhoria da mobilidade e mais conexão entre os diferentes modais, reconhecendo a bicicleta como meio de transporte, transformando a cidade na “capital brasileira da bicicleta”, como disse o secretário de Mobilidade e Transportes João Octaviano em entrevista ao portal G1. O que muita gente não sabe é que há uma diferença entre ciclovia, ciclofaixa e ciclorrota. Ciclovia é um espaço separado para bicicletas com separação física; ciclofaixa, por sua vez, é quando há apenas uma faixa pintada no chão, sem separação física de qualquer tipo; e por último a ciclorrota, que consiste em um trajeto de fato, não uma faixa da via, um trecho segregado ou uma zona de segurança. O estilo de pedalar rápido e ágil, característica das denominadas “bikes fixas”, modalidade que nasce em Nova York, vêm sido muito explorado em outras capitais, inclusive em São Paulo. Essas bicicletas têm pedais que se movem em conjunto com as rodas, fazendo com que ela ande mais rápido. Bruno Barros, 33 anos, administrador do instagram do gru-
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po Fixed Gear São Paulo, conta que o modo de pedalar engloba o estilo de vida, reunindo pessoas que têm em comum a paixão pelas “bikes”. Ao comparar o Brasil com outros países, Bruno afirma que aqui não há investimento nacional, mas em compensação a união é muito forte. Eventos como “Vai Na Terça” (VNT), RDS (Rolê De Sábado) e o MNR (Monday Night Right) são encontros de fixas que têm a finalidade de confraternização e com trajetos diferentes. Esses eventos englobam todos que realmente queiram participar dessa integração com viés político, representando o espaço do ciclista na rua, que não é só dos carros. “A rua é de todo mundo, então vai do motorista se colocar no lugar do ciclista que está vulnerável. Para mim, isso é uma questão de empatia”, diz Bruno. Participar de eventos de bicicleta fixa pode significar muito para aqueles que busca dessa união das diferentes modalidades. Fabio Mendes, 23 anos, participante do VNT há dois anos, vê esse tipo de evento como uma forma de conhecer melhor a cidade, podendo se deslocar com facilidade de maneira saudável e gratuita, além de melhorar o condicionamento físico e tirar as pessoas do sedentarismo. Ele afirma que o respeito entre ciclistas, pedestres e motoristas deve ser mútuo. “Não adianta cobrar o motorista e não entender de regra, posicionamento e leis de trânsito” diz. Daniela Teixeira, 36 anos, também participante do VNT, reconhece que o descaso da prefeitura com essas questões está cada vez mais evidente. “A impressão que eu tenho é que eles criaram as ciclofaixas apenas para falarem que criaram”, diz. A ciclista conta que a relação entre eles e os motoristas é “bem espinhosa” e por isso recomenda que, para aqueles que querem tornar o uso da bike frequente, é preciso entrar nas ruas aos poucos e com muito cuidado, já na bicicleta a exposição é muito maior.
O leste europeu é aqui A Vila Zelina abriga descendentes de imigrantes de países como Ucrânia e da Lituânia cendente de ucraniana’. Depois disso já tive encontros ótimos. É um barato”, afirma Irene. A empresária conta que cresceu com sua “baba” (avó em ucraniano) e mãe fazendo comidas típicas da Ucrânia, como o pepino azedo e o chucrute. E para atrair os clientes, lançou um novo tipo de coxinha inspirada no bairro: a coxinha Zelina, à base de pepino azedo. Ainda de acordo com Irene, a maior parte do comércio é de estrangeiros. E foi ela mesma que nos levou à Delícias Mil, loja criada por Alana Dzigan, 73 anos. Alana é filha de lituanos e viveu toda sua vida no bairro. “Sou filha de lituanos e neta também. Minha família veio no tempo da imigração, quando no Brasil estava acabando a escravatura e eles vieram da Europa para trabalhar nas plantações de café. Eles trabalhavam um tempo para pagar a passagem e iam para a cidade grande”, conta. Perguntada sobre como a família chegou ao bairro, ela explica que todos vieram para o bairro justamente porque ali já vivia Alana, moradora da Vila Zelina, em seu comércio de comidas lituanas uma comunidade lituana: “Onde um rístico do local, no qual o comércio é fala a língua, o outro também vai”. Edward Pepe concentrado principalmente na praça Durante os 73 anos que viMarina Fusco em que se localiza a igreja. veu no bairro, Alana conta que o local as proximidades da Vila É com esse clima de cidade mudou, mas não perdeu suas raízes: Prudente, zona leste de pequena que Irene Fantato Miranda, “Tudo mudou muito durante esse São Paulo, é possível en- 57 anos, resolveu mudar seu restau- tempo, mas a tradição lituana se mancontrar um pedaço cal- rante, o Santa Coxinha, para a Vila Ze- tém. Antigamente só havia lituanos e mo da Europa em meio à agitação lina, há nove anos. “O bairro é muito o pessoal do leste europeu, agora não, paulistana. A Vila Zelina é um reduto tranquilo. Existe uma pracinha que já está totalmente misturado’’. de imigrantes europeus que sobrevive fica localizada no centro que é moviEm visita à Lituânia anos atrás, firme às tradições desde sua criação, mentada por adolescentes e crianças, Alana percebeu algumas semelhanças em 1927. Dentre os moradores, há que ficam brincando e escutando mú- entre o bairro e a capital do país, Vilprincipalmente os de origem eslava, sica. Todos se conhecem. Parece até nius. “É igual à Vila Zelina”, comenta. como lituanos, ucranianos e russos, cidade do interior”, diz. Irene conta Sobre a culinária lituana, Alana explica que têm antepassados que vieram que é neta de uma ucraniana fugida que as comidas são em grande maiopara trabalhar nas plantações de café da Segunda Guerra Mundial. “Minha ria feitas com batata, mas é comum ou fugidos das guerras na primeira avó Ana veio para o Brasil e foi mo- encontrar abóbora, pepino e carne de metade do século 20. rar numa cidade chamada Jaguariúna, porco. Em sua loja, ela vende doces e O símbolo do bairro é a Ma- onde trabalhava na roça. Depois que alguns pratos lituanos, como a kugelis, triz Paroquial São José da Vila Zeli- ela casou com meu avô, descenden- uma torta de batata, bacon e cebola. na, na Praça República Lituana, onde te de italiano, ambos vieram para São Além disso, é possível encontrar na todo domingo, às 11h, é celebrada Paulo”. loja o kupnikas, tradicional licor de uma missa com trechos em lituano, “Aqui eu estou em casa. Fui mel do país. “Toda casa lituana tem. em homenagem à comunidade que se muito bem aceita. Quando cheguei, os Como na Lituânia é muito frio, quanestabeleceu no bairro. Além disso, o moradores me perguntaram de quem do alguém entra na sua casa, você ofeclima de cidade do interior é caracte- eu era descendente. Eu falei: ‘Sou des- rece”, explica.
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A luta pelo poder de sonhar Crianças especiais e carentes recebem apoio de instituição não governamental de caridade Bárbara Souza Geovani Bucci
Randara, 5 anos, uma das crianças da Bermejo, arrumando a brinquedoteca
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ONG Sonhar Acordado ajuda crianças doentes e sem condições de moradia e tratamento ao redor do país. Ela está presente em oito estados brasileiros e tem unidades em 13 países. Desde 2001, a organização cria projetos como o Sonhando Juntos, que atende 12 casas de apoio, sendo uma delas o Centro de Apoio à Criança Carente com Câncer – Cândida Bermejo Camargo. Apesar do apoio fornecido pelo projeto e pelo Centro, os pacientes ainda passam por dificuldades. Além de patologias como o câncer, eles lidam com o preconceito. “Para mim, que sou mãe de uma criança especial, que não a vejo como especial, é muito difícil. Na hora tive vontade de chorar”, diz Re-
ginalda Soares de Oliveira. Ela conta que estava no ônibus com sua filha Giovana, no lugar do cadeirante, e a garota acabou encostando a mão em uma senhora. “Ela falou: ‘você segura a mão dessa criança’ e eu disse ‘desculpa, ela só estava te cumprimentando”. Crianças consideradas especiais podem ser tratadas dessa maneira, mas na Bermejo há um fio de esperança. A diretora, Antônia Canté, explica: “o trabalho desenvolvido tem o objetivo de oferecer apoio psicossocial as crianças, adolescentes e seus familiares, fornecendo subsídios necessários. Oferecemos hospedagem, alimentação, medicamentos, apoio psicológico e todo o suporte necessário”. Sueli dos Santos, 38, mãe de criança pequena, do Piauí, foi enviada pelo TFD (Trata-
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mento Fora de Domicílio) e afirma que não teve conhecimento acerca de qual seria o seu destino e o de sua família. “A Secretaria de Saúde de lá que manda, ela arranja a casa e a gente vem”, conta. “Se não fosse isso aqui, eu não teria como cuidar da minha filha”, conta Reginalda. “Aqui é tudo de bom, eu faço as minhas tarefas e depois vou cuidar da minha filha. Cada mãe tem a sua função, todo mundo ajuda e é até um trabalho psicológico para a gente não ficar parada”, diz a mãe. Segundo ela, cada um cuida da sua vida lá dentro e a Bermejo cuida de todos. “A direção não fala para a gente o que está precisando, porque eles falam que já temos muitos problemas”. As informações como finanças, remédios e estoque de produtos
ser levada para a Disney. É raro, mas pode acontecer”, afirma Paola. Jéssica Oliveira da Silva, de 20 anos, é irmã de Randara, uma das crianças mais jovens da Bermejo. Ela conta que chegou lá há apenas duas semanas. “Durante a semana eu ajudo na limpeza, só nos fins de semana que tem muitos voluntários, então eu posso descansar”. Inicialmente ela foi para lá com a irmã, pois seria doadora, porém, nos exames foi descoberto que ela possui a mesma doença, apesar de ainda não ter se manifestado, e agora ambas moram no local pela proximidade com o centro de tratamento. Depois de tantas experiências lidando com essas pessoas da Bermejo, Isabella Lombas, uma voluntária da Sonhar, conclui que às vezes pensa que vai lá ensinar, porém acaba aprendendo. “Aprendi que não devo jamais reclamar do que eu tenho e agradecer o que não tenho, sabe por que? Porque, graças a Deus, tenho saúde para correr atrás do que eu quero e conquistar, sobretudo, o amor que é essencial para nossas vidas”. Taynara, 8 anos, se divertindo com Paola Trevizan, coordenadora do “Sonhando Juntos”
alimentícios e de higiene são de total controle da direção, bem como o conhecimento acerca das patologias das crianças, que são confidenciais entre mães ou responsáveis e a diretoria. Elas nem sabem acerca dos grupos de voluntários que farão visitas ao Centro. No entanto, quando é a vez da ONG Sonhar, a visita é motivo de festa. Um dos projetos da ONG é o “Sonhando Juntos”, que surgiu em 1999, sem fins lucrativos, hoje em dia sob a direção de João Paulo Cazarotto e a coordenação de Paola Trevizan. Ele tem a missão de levar alegria às crianças doentes, com síndromes ou doenças crônico-degenerativas por exemplo. No projeto, a coordenadora explica que eles conversam e brincam com as crianças com o objetivo de descobrir seus sonhos e assim tentar realizá-los. “Alguns dos pequenos têm sonhos meio bobos para a maioria das pessoas, como ir ao cinema, por exemplo. Mas já aconteceu um caso raro de a criança Fachada do Centro de Apoio “Cândida Bermejo Camargo”
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Melhor amigo... de quem? Estudos da OMS mostram que o Brasil contabiliza 30 milhões de cachorros e gatos abandonados Giulia Alecrim Isabella França
Animais do CCZ são resgatados da rua e a prioridade é tratar os doentes
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ão é novidade que a adoção de animais é um ato necessário. Por que, então, o índice de adoção não cresce? ONGs, abrigos e instituições fazem o possível para dar assistência aos animais abandonados, mas a grande ajuda vem mesmo é de quem adota. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que em 44% das casas dos brasileiros vive pelo menos um cachorro. A população de cães domésticos no Brasil chega a 52,2 milhões. Entretanto, 30 milhões deles, sendo mais da metade cachorros, habitam as ruas das cidades, acometidos por doenças, maus tratos e se reproduzindo sem controle. “O pessoal vem mais para
conhecer. Mas como não temos cachorros pequenos e de raça, não rola muita procura. Quando sabem que temos cachorros pequenos, aqui enche”, diz Bruno Régis, 30, agente da saúde do CCZ (Centro de Controle de Zoonoses). A prioridade pelo “animal perfeito” é um fator crucial na adoção. Cachorros pequenos, de pelagem clara e filhotes sempre são os primeiros a serem adotados, enquanto adultos, grandes, de pelagem escura e deficientes demoram anos para encontrar um lar. Quando encontram. Ao comprar um animal – esses normalmente de raça – o indivíduo alimenta um mercado clandestino e cruel de cachorros e gatos que são expostos a situações deploráveis
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apenas para procriar. E os filhotes serão vendidos por um fortuna – em algumas raças, o valor chega a 10 mil reais por animal. Esse mercado, como muitos outros, se mantém pela procura. Enquanto isso, os abrigos sofrem com a superlotação. O CCZ se tornou um abrigo para adoção por necessidade, mas sua prioridade é tratar animais doentes. “Todos são resgatados da rua. Mas, diferente das ONGS, resgatamos apenas os agressores, que estão dando problemas ou algum cão largado em via pública, e então fazemos um trabalho de interação social”, diz Bruno. Normalmente, as instituições de adoção oferecem o animal vacinado e castrado. A castração é importante para evitar a superpopulação,
instituição tem hoje por volta de 600 animais em seu canil. Sobre o acolhimento daqueles que são deixados na ONG, Adriana Pruciano, 40, que trabalha na parte administrativa da UIPA, disse que a prioridade é para os que estão nas ruas, já que os canis estão cheios e “ao coloca-los juntos eles brigam e podem mudar de comportamento”. Um dos agravantes da baixa adoção está no fato de que as pessoas estão se mudando para apartamento e muitos prédios não autorizam animais de médio e grande porte, então elas passam a optar apenas pelas raças pequenas. Mas a realidade dos canis é outra. A maioria dos cães para adoção são vira-latas de médio e grande porte. Animais não são mercadorias, são seres capazes de amar e de serem amados. “Eles são como nós, se você não compra um ser humano, por que compraria um animal?”, diz Rafael Rodrigues, fundador da “Cães sem Dono”. Caso seja testemunha de maus-tratos, denuncie pelo telefone 156.
Cachorro vira-lata à espera de uma adoção no CCZ
principalmente nas ruas – algumas realizam mutirões de castração. Se você não puder adotar um animal, há outras formas de ajudar. Uma delas é o apadrinhamento, em que o interessado entra em contato com uma ONG e ajuda com uma quantia mensal para a alimentação e medicação. Também é possível levar um cão para passear e até passar um tempo com o animal. E a doação de jornal, brinquedos, roupas e medicamentos sempre é bem-vinda. Outra forma de ajudar é se voluntariando. Sempre necessários, voluntários são de grande ajuda em qualquer setor. Podem ajudar no banho, tosa, alimentação, manutenção do local, resgates, entre outros. Por fim, qualquer um pode doar quantias para as instituições de auxílio. Em todos os lugares a adoção está baixa. E na UIPA (União Internacional Protetora dos Animais) não é diferente. Fundada em 1895, a ONG é a primeira do Brasil a lutar contra o abandono e a crueldade. A Fachada do canil CCZ na zona norte de São Paulo
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As palavras são as armas Batalhas de MCs ocupam ruas e espaços públicos de São Paulo com rimas e improviso Gustavo Begue Urtzi Luppi
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erivado do cenário do rap, o movimento das batalhas de MCs vem crescendo muito nos últimos anos em todo o país, inclusive em São Paulo. Cada lugar tem a sua dinâmica de conduzir a batalha, porém a essência é a mesma em todas: a improvisação e a rima. Praças de skate, parques e saídas de estações de metrô são alguns locais onde ocorrem esses eventos. Uma das mais tradicionais batalhas, e a mais antiga em atividade no Brasil, é a do Santa Cruz, que surgiu em 2006 na saída do Shopping Metrô Santa Cruz, na zona sul. A localização já foi trocada algumas vezes, mas desde de 2010 o evento é realizado na saída da estação Santa Cruz (linha azul), todos os sábados às 21h. Conversamos com Guilherme Menezes, 19 anos, um dos organizadores, que nos contou um pouco sobre a batalha. “O objetivo sempre foi e sempre será manter o hip-hop vivo, mostrar para as pessoas nossa cultura de rua e também apresentar o movimento para quem não conhece”, diz. Se você tem vontade de participar, basta ir no dia e colocar seu nome no sorteio. A batalha acontece com dois rounds com trinta segundos cada, e caso empate, o terceiro round é “bate-e-volta” – quando um MC rima e logo em seguida o outro retruca – com uma volta com quatro rimas e três voltas com duas rimas. Uma das principais características do movimento cultural do rap é a crítica social, e isso fez com que os organizadores colocassem regras aos MCs: sem racismo, xenofobia, homofobia e envolver familiares ou namorada(o)s. De todas as batalhas, eles são um dos poucos totalmente independentes. Sem microfones ou caixas de som, tudo é feito na base do improviso. Ser o próximo artista de sucesso é a ambição de Salvador MC, um jovem de 17 anos que vive de rap. Campeão da Batalha do Santa Cruz,
Batalha do Ipiranga, realizada na cidade de Anápolis, em Goiás
ele diz ter crescido ouvindo Racionais e Facção Central ao lado do padrasto. Batalhando desde 2017, sua principal referência é Emicida, MC que assistia e que foi responsável por despertar o seu interesse. “O movimento é a minha vida. Eu vivo disso, eu realmente amo o que faço”, diz. Ele ainda conta sobre a sensação de ganhar uma batalha: “quando eu ganhei meu primeiro Santa Cruz, fiquei muito feliz, me senti em um estado de êxtase “. Como muitos trabalhadores, aos 17 anos Salvador faz sua vida nos vagões de São Paulo. Ele vive do chamado “freestyle” (estilo livre). “Me alimento disso, porém é apenas o começo, minha meta é ser o próximo nome da década, como o Emicida já foi”. Amigos reunindo-se após a aula em uma rua chamada Rua Taguá para fazer freestyle. Foi assim que nasceu a Sexta Free – Batalha Racional, uma das mais emblemáticas de São Paulo. Quem nos contou isso foi Tiago Oliveira, 27, mais conhecido como Nego Bena, um dos organizadores. Todas às sextas, por volta das 21h, o evento acontece na esquina da Avenida Paulista com a Rua Augusta, em frente ao Banco Safra. A Sexta-Free – Batalha Racional conta com mais de trezentas edições realizadas. Grande parte do público vem por entretenimento ou por pura diversão, “mas o maior intuito é disseminar o conheci-
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mento através do debate de ideias sobre determinado tema”, diz Tiago. Ele diz também que é possível qualquer pessoa batalhar. “Já rimaram professores, empresários, angolano, entre outros”, afirma. Para isso basta chegar às 20h30 e se inscrever, lembrando que o limite é de dezesseis MCs. Ao explicar como funciona a dinâmica da batalha, Tiago disse que assemelha-se a um chaveamento de copa do mundo. Com 16 MCs inscritos, temos oitavas, quartas, semi e final. Sempre um contra um, com exceção de batalha de duplas. São trinta segundos para cada MC, em caso de empate, terceiro round. Os temas são escolhidos pela plateia ou por um dos organizadores. Eles não proíbem nada, porém são adeptos do “quem fala o que quer, ouve o que não quer”, ou seja, vai do MC escolher se vai atacar de volta ou apenas mandar uma rima sobre o tema. A única coisa que eles pedem é para que não fumem e nem bebam na roda. Durante seis anos não houve colaborações, assim, os gastos sempre foram tirados do bolso dos próprios organizadores. Em 2018, porém, eles conseguiram, pelo segundo ano, ser aprovados em um projeto da prefeitura que os ajuda a comprar alguns equipamentos. “Mas seguimos firmes e fortes com nossas pernas, sem hastear bandeira para A nem B”, diz Nego Bena.
O basquete em evolução A NBB, que iniciou em 2008, aparece cada vez mais forte no cenário esportivo nacional Lucas Berretta
Corinthians x Franca no Ginásio poliesportivo Wlamir Marques
O
basquete foi trazido ao Brasil em 1896. Apesar de um norte-americano ser o responsável pela sua exportação ao nosso país, na época a modalidade era conhecida por seu nome espanhol baloncesto. A seleção nacional masculina foi campeã mundial duas vezes (1954 e 1970), e a feminina uma única vez, em 1994. Tivemos grandes nomes no esporte, como: Oscar Schmidt, Wlamir Marques, Hortência e Magic Paula. O campeonato brasileiro sempre foi considerado amador pelas organizações estrangeiras, principalmente a americana, que é maior e reúne mais talentos. Em 2008, a Confederação Brasileira de Basketball (CBB), juntamente com os clubes, resolveu criar uma liga nacional, de forma mais profissional e inspirada no modelo da NBA (National Basketball Association) dos Estados Unidos. No mês de agosto daquele ano, os clubes formaram a LNB ( Liga Nacional de Basquete), uma espécie de sindicato das equipes, e qua-
tro meses depois, a liga, junto com a Rede Globo e a CBB, criaram a NBB (Novo Basquete Brasil), que se tornaria a principal liga brasileira, e que está completando 10 anos em 2018. A competição conta atualmente com 10 estrangeiros na liga, além de grandes promessas nacionais. A evolução deste cenário tem muito a ver com a popularidade da NBA no país, que aumentou bastante nos últimos anos. O jornalista e dono do blog Bala na Cesta, Fábio Balassiano, comentou sobre o assunto. “A maior presença de basquete na TV com a NBA fez com que o interesse geral no basquete crescesse. Óbvio que as diferenças são gigantescas, mas no final do dia é o mesmo esporte. Com isso a NBB acabou surfando muito bem nessa onda”, diz. A NBB também aumentou seu tempo de exibição. Segundo um estudo do setor, o crescimento foi de 30% de horas transmitidas. Pela primeira vez na história, a Rede Globo rompeu com a Liga, e em decorrência desse ato a organização revolucionou
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a maneira de transmissão, assinando contrato com quatro canais (Band, ESPN, BandSports e Fox Sports), além de “lives” em mídias sociais como Twitter e Facebook, com revezamento diário durante as rodadas. Para Balassiano, esse novo conceito é ótimo. Atualmente a liga conta com 14 times, sendo 11 no Sudeste, um representante no Sul, um no Nordeste e um no Centro-Oeste. Além de grandes arenas, como a Arena Carioca, ginásio usado nas Olímpiadas do Rio em 2016. Conversei com um dos locutores técnicos do local, Carlos Costa, que comentou um pouco sobre a Arena Carioca. Ele contou que ela tem uma estrutura muito boa, mas que precisa ser melhor utilizada. E completou dizendo que atualmente só o Flamengo usa a estrutura de basquete. Conversei com uma das revelações da liga, o ala Douglas Santos, de apenas 20 anos, jogador do Sport Clube Corinthians Paulista. Ele foi eleito o melhor sexto-homem (jogador que vem do banco) da primeira semana da competição. Comentou que a liga é ótima e está crescendo cada vez mais, e que para ele é uma felicidade enorme participar da NBB. E disse que os novos acordos para as transmissões dos jogos melhoram a liga em vários aspectos. O jogador Nicolas Oliveira, de 20 anos, disputa atualmente a Liga de Desenvolvimento, espécie de campeonato de aspirantes, pelo clube Pinheiros. Ele comentou que “a evolução da liga vem crescendo devido às mídias sociais, pois atualmente é muito mais fácil acompanhar o esporte, e também devido à popularização do basquete. Este ano o evento do jogo das estrelas da liga juntou mais de 10 mil torcedores no ginásio Ibirapuera com a realização dos torneios individuais [nas modalidades “habilidades”, “3 pontos” e “enterradas”], e vejo que as pessoas conseguem cada vez mais se entreter com o esporte”.
A nova revolta da vacina Estado de São Paulo atinge meta de imunização, mas a adesão popular mostra-se baixa Patrícia Vilas Boas
Mãe e filha na Unidade Básica de Saúde de Vila Santana, zona leste de São Paulo
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ntre os dias 6 a 31 de agosto, foi promovida pelo Ministério da Saúde a Campanha Nacional de Vacinação Contra a Poliomielite e Sarampo, para crianças de um a cinco anos incompletos. No município de São Paulo, a procura pela vacina foi baixa nos primeiros dias de mobilização. Segundo dados do Programa Nacional de Imunização, a cobertura vacinal de pólio e sarampo no estado, até 30 de agosto, girava em torno de 76,1%, nada próximo do índice de 95% de imunização proposto no início da mobilização. Depois de uma grande campanha, a Prefeitura conseguiu atingir sua meta no fim de setembro. Atualmente, os índices de imunização no município estão em 96,77% para pólio e 96,25% para sa-
Claudejane e seu filho na fila da vacina
rampo, segundo o Ministério da Saúde. Ainda assim, a região sudeste foi a que teve os menores índices em todo o país. Essa resistência à vacina se mostrou presente nos últimos anos. Segundo o Ministério da Saúde, em 2017, o Brasil alcançou o menor patamar de imunização em 16 anos. A agente comunitária Flavia Longano, 42 anos, explica: “Os pais acham que, como [a doença] não está aparecendo mais, não precisa vacinar. Mas não é bem assim. Quando a gente passa nas casas alertando que [esses vírus] estão voltando e estão trazendo todas essas doenças, como o sarampo, a caxumba e rubéola, eles ficam assustados e correm pra vacinar”. De acordo com dados da Secretaria de Vigilância em Saúde, não há casos registrados de pólio no país desde 1990, porém, recentemente houve um surto de sarampo no Amazonas e em Roraima. “Nós temos que lembrar que o mundo é um globalizado, que as pessoas vão e vem pelos continentes em poucas horas. Então, se o indivíduo vai para o exterior, se contamina e volta, ele traz o vírus para circular no nosso meio”, alerta Jean Gorinchteyn, médico infectologista do Instituto Emílio Ribas. “À medida que [o vírus] encontra uma população que não tomou a vacina, isso aumenta a chance da circulação e consequentemente o número de casos”, completa.
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Na UBS Vila Santana, na região leste da capital, até o mês de outubro, foram aplicadas 2.294 doses da tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola) e a mesma quantidade para VOP, Vacina Oral Poliomielite, a famosa “gotinha”, totalizando 4.588 doses. Alguns pais alegam receio de possíveis reações à vacina. É o caso de Claudejane Cordeiro dos Santos, 36 anos, que afirma conhecer pessoas que já deixaram de vacinar seus filhos pelo medo de ocorrer alguma aversão à substância. “Mas tem que dar né, senão corre o risco de morrer, aí é pior”, diz. Quanto a isso, Jean diz que os efeitos colaterais são raros e, na maioria dos casos, acontecem porque o indivíduo toma a vacina mesmo havendo restrições em recebê-la. “Algumas pessoas, especialmente crianças que estejam em uso de alguma medicação ou têm um problema de imunidade, não podem tomar a vacina tríplice viral porque ela é formulada por vírus atenuado. Assim acontece com a vacina da febre amarela. Todos aqueles que tiveram um efeito colateral, de alguma forma, tinham alguma proibição em receber essa vacina”, explica. A vacina de sarampo também é contraindicada para pessoas que façam uso de corticoide, tratamento para câncer ou pacientes com AIDS. Além disso, o sujeito com idade superior a 50 anos não precisa tomá-la, uma vez que se acredita que, pelo sarampo ter contaminação muito intensa, a chance de já ter tido a doença em algum momento da vida é muito grande. Apesar de o público-alvo ser de um a cinco anos, a vacinação, tanto da tríplice viral quanto da poliomielite, permanece disponível para qualquer indivíduo que não tenha sido vacinado anteriormente. Jéssica Tavares, 23 anos, mãe de Davi, de 9 meses, reconhece a importância da vacinação e alega manter a carteirinha de seu filho sempre em dia. “Está faltando a [vacina] de 7 meses, mas é porque está em falta nos postos. É a única”, afirma.