UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE - CENTRO DE COMUNICAÇÃO E LETRAS
Publicação feita pelos alunos do segundo semestre de Jornalismo - Ano XII - Ed. 182 - Outubro 2017
Cicatrizes da história
Memorial da Resistência tem mostra permanente sobre os horrores da Ditadura. Página 4 Acontece • 1
Endometriose: uma condição enigmática Doença ginecológica afeta mais de 6 milhões de brasileiras, e uma a cada dez mulheres são propensas a tê-la Rodrigo Galvão
Rodrigo Galvão Thaynná Pontes
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ssa patologia pode trazer doresinsuportáveis e incapacitantes na maioria dos casos, principalmente durante o ato sexual e na menstruação. E é possível que a portadora tenha dificuldade de engravidar em 30% dos casos. De acordo com a Associação Brasileira de Endometriose, 10% a 15% das mulheres em idade reprodutiva (13 a 45 anos) podem desenvolvê-la. O ginecologista Igor Padovesi explica que para entender o que é a doença é necessário saber que o endométrio é a parte interna do útero, que fica mais espessa após cada menstruação. Porém, por motivos desconhecidos, esse endométrio pode surgir fora do útero, podendo se instalar em sua parte externa e até mesmo nos órgãosdapelve. É isso que torna-se, então, a endometriose. Esse tecido que se desenvolve fora do útero gerainflamações,causandodores agudas ou crônicas e aderências, principalmente durante o ciclo menstrual. Quando essas aderências se instalam em órgãos de reprodução, podem acometer os ovários,formando cistos de endometriomas e em 63,4% dos casos ocorre dificuldade para engravidar. Segundo a ginecologista Patrícia Varella, a gravidez pode ser benéfica para combater a doença:
Patrícia Varella, especialista em reprodução assistida
“A paciente não apresenta ovulação por pelo menos 9 meses e os hormônios da gravidez ajudam no tratamento, protegem e muitas vezes tratam a endometriose”. Estudos realizados na Austrália constataram que um quarto de suas adolescentes apresentavam desordens menstruais. Entre essas desordens, 21% queixavam-se de dores intensas, 26% faltavam à escola no período menstrual e somente 33% procuravam atendimento médico durante a menstruação, prejudicando muito a qualidade de vida e produtividade dessas moças. Porém, o diagnóstico da endometriose ainda é difícil. Exames de rotina, ultrassom transvaginal comum e ressonância não feita de forma especializada não podem diagnosticar a endometriose na maioria das vezes. Professor responsável: André Santoro
Universidade Presbiteriana Mackenzie
Centro de Comunicação e Letras
Diretor do CCL: Marcos N. Duarte Coordenador do curso: Rafael F. Santos Supervisor de Publicações: José A. Trigo
Equipe: Abner Oliveira, Beatriz Borges, Beatriz de Abrantes, Camila Oliveira, Gabriel Croquer, Gabriel Santana, Guilherme Amendola, Helena Gomes, Isabella Baliana, Júlia Feltrin, Juliana Caveiro, Lucas Galante, Luka Diniz, Paula Faria, Raphael Freitas, Renan Oguma, Rodrigo Galvão, Thaynná Pontes, Victória Gearini
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Luíza G uimarães, 1 9 a nos, tem e ndometriose e garante: “falta a s p essoas f alarem s obre o p roblema, p orque m uitas v ezes a mulher p ode t er u ma c ólica f ora d o n ormal j unto d e u m fluxo muito i ntenso e a cha q ue é u ma c oisa c omum, q ue é n atural”. A pílula pode ser usadacomo forma de tratamento para controlar a dor. Mas no caso de Gabriela Carolina de Souza , de 22 anos, esse contraceptivo acabou não ajudando tanto. Devido à recomendação de sua ginecologista, o uso de anticoncepcional aos 14 anos começou a lhe causar tontura, confusões mentais, ganho de peso, problemas de circulação e até pesadelos. Então decidiu por parar de usar. “Eu prefiro arcar com as consequências da dor a ficar arriscando minha saúde”. Jornal-Laboratório dos alunos do segundo semestre do curso de Jornalismo. Centro de Comunicação e Letras - Universidade Presbiteriana Mackenzie. Foto de capa: Beatriz Borges e Victória Gearini Impressão: Gráfica Mackenzie
Os sucessores da comunicação Números apontam que o índice de procura por bancas de jornais diminui progressivamente e a busca pelas mídias digitais cresce a cada ano
Abner Oliveira
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nevitavelmente, a cada ano que decorre, o consumo de revistas e jornais impressos decresce. Para se ter uma ideia, no Brasil, o volume de vendas no varejo do segmento “livros, jornais, revistas e papelaria” segue em queda contínua desde fevereiro de 2014, na comparação com os anos anteriores. Em maio de 2016, o índice atingiu a queda mais acentuada da série histórica, chegando a um percentual de 24,4%. Os dados são da Pesquisa Mensal de Comércio (PMC), feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). De maneira oposta, com o avanço exponencial da tecnologia nos últimos anos, as mídias digitais se tornaram a primeira opção do consumidor, que busca rapidez na informação. Diógenes Santos, 25 anos, trabalha em uma banca em São Paulo, e afirma que todos os conteúdos impressos reduziram drasticamente as vendas nos últimos anos. “Nos reinventamos. A banca deixou de ser apenas banca. Com o tempo, passamos a vender acessórios e utilitários diários, como tesouras, carregadores de celular, brinquedos, entre outras coisas. Há alguns anos, não precisávamos de tanta variedade, o impresso era mais que suficiente, hoje, se fôssemos depender de revistas e jornais, já teríamos fechado as portas.” As bancas da cidade de São Paulo, segundo a lei municipal nº 15.895/2013, têm permissão para vender outros produtos além de jornais e revistas, contanto que o espaço destinado à venda de artigos extras não ocupe mais que um quarto do local. Salgados, sucos, cigarros e artigos de papelaria são permitidos,
Banca de jornal localizada na rua Maria Antônia
assim como serviços de xerox e o funcionamento de minilanchonetes. Com uma média de 12 estabelecimentos indo à falência todo ano, segundo o Sindicato dos Jornaleiros do SP (SindjorSP), cada banca chegava a gerar de três a cinco empregos diretos. Atualmente, a atuação, na maioria das vezes, é individual e/ ou comércio familiar. Entretanto, inquestionavelmente, é certo que para uma minoria o jornal impresso é insubstituível. São pessoas que não se adaptaram a inovação do mercado e ainda investem tempo e dinheiro na tal notícia “palpável”. Antônio de Souza, 67 anos, aposentado, é um exemplo da pequena clientela assídua das bancas de jornais. Ele afirma que a melhor rotina da vida dele é acordar cedo e comprar seu jornal diário. “Faço o mesmo trajeto há mais de 25 anos e não pretendo mudar”. Antônio teme que um dia os jornais impressos sejam totalmente substituídos pelos jornais digitais. Elizete Sampaio, 58 anos, dona de uma banca em São Paulo, admite que a terceira idade é a clientela mais assídua do seu comércio. “Com a redução de venda chegando a 80% em praticamente todos os
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impressos, existe um público fiel. As bancas sempre foram estereotipadas como o melhor ponto da terceira idade. Palavras cruzadas, jornais diários e outros tipos de revistas sempre foram atrativos para a melhor idade. Hoje, com o avanço das mídias digitais, a minoria “conservadora” que ainda lê jornal impresso é porque não se adequou a tecnologia ou prefere manter a tradição. Algo de que não abre mão”. Diógenes acredita que o rumo inevitável do jornalismo impresso será, a cada ano, um número ínfimo. “Meu pai, seu pai, nossos avós ainda leem jornais e revistas impressos, mas nós queremos cada vez mais praticidade, agilidade nos nossos dias. A tendência é diminuir. Não existir é demais, sempre haverá alguém para ler e se interessar. Mas cada vez menos.” Verdade seja dita, grande parte das editoras reelaboraram estratégias para atrair a supremacia. Atualmente, aplicam a maioria do seu investimento em marketing e propagandas incentivando seus clientes a assinarem versões onlines, alternativa que há um tempo não existia e hoje é indispensável.
Memorial da Resistência: cicatrizes da história O local sofre com algumas restrições, mas não deixa de despertar o interesse do público Beatriz Borges Victória Gearini
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Memorial da Resistência, antigo DEOPS-SP, foi reinaugurado em 2008, porém a fundação original se deu no ano de 2002, sendo nomeado Memorial da Liberdade. Em um primeiro momento, questionou-se se o nome seria adequado por não representar a realidade vivida pelos ex-presos políticos. O maior obstáculo enfrentado atualmente poelo espaço é a limitada divulgação e o difícil acesso do público. O DEOPS-SP foi associado ao nome “esquadrão da morte” pelos crimes de tortura cometidos contra os presos. A ex-presa política Rose Nogueira, 71 anos, jornalista aposentada, confirmou através de sua experiência as barbáries que vivenciou enquanto estava detida. “Praticamente todos que passaram pelo DEOPS foram torturados, não existe “não tortura” quando você vê o cara do seu lado sendo morto”, afirmou ela. Na proposta inicial, o memorial formou-se com o intuito de expor acontecimentos que marcaram a história do Brasil. Rose Nogueira declarou que, junto de outros ex-presos, como Maurice Politi, Ivan Seixas e Alípio Freire, se mobilizou para transformá-lo no formato atual. O antigo Memorial da Liberdade foi criado pela Secretaria da Cultura e não transmitia reflexão. Para mudar essa realidade o grupo batalhou em termos institucionais e obteve sucesso com o novo olhar atribuído ao lugar. A essência do local é educar e contribuir para o pensamento critico de quem se depara com aquelas memórias. Para a entrevistada Rose Nogueira a maior vitória da ditadura foi transformar o ambiente de tortura em um memorial.
Reconstrução de cela presente no Memorial da Resistência
“Nós temos que levar informação para quem não sabe, pois temos o direito à memória, verdade e justiça, por isso o prédio do DEOPS se chama Memorial da Resistência”, desabafou. Atualmente, o Memorial da Resistência de São Paulo é o único espaço que trata com exclusividade as memórias do período da ditadura militar. Não sendo o mesmo caso do DEOPS-RJ, que encontra dificuldades para ser transformado em memorial. A maior movimentação no de São Paulo ocorre de agosto a setembro, pois é nesse período que as escolas começam a falar da ditadura militar no Brasil. Uma funcionária que não quis ser identificada relatou que a divulgação é restrita e intensificou-se após alguns cortes feitos pela Prefeitura de São Paulo. O projeto era realizado em parceria com as escolas públicas, que levavam seus alunos por meio de transporte custeado pelo governo. Outro fator relevante é o distanciamento do público por conta da proximidade do local com a Cracolândia,
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que traz insegurança aos potenciais visitantes. Identificando as restrições, o memorial possui uma agenda dinâmica a fim de engajar ainda mais o público. Exemplo disso é a receptividade que a frequente convidadada, Rose Nogueira, sente ao entrar em contato com os visitantes. “No auditório tem muitas famílias e estudantes. O público é receptivo, até mesmo a gente, que conhece muita coisa, se surpreende e acaba conhecendo lá”, disse. Ao entrar em contato com o local, os visitantes procuram se conectar com a história daquele espaço. “O que mais me marcou foi o contato com as celas, pois isso faz com que a gente possa sentir como era para aquelas pessoas estar nesse ambiente” ,mencionou a visitante Paloma Czapla, 20 anos, estudante de História. A entrada é gratuita e as visitas são abertas de quarta a segunda (fechado às terças), das 10h00 às 17h30. Para mais informações, visite o site: memorialdaresistenciasp.org.br
A pluralidade do trabalho voluntário As dimensões das atividades solidárias e os desafios dos envolvidos em manter os projetos Beatriz de Abrantes Gabriel Ferreira Santana
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e acordo com pesquisa do instituto Datafolha de 2014, apenas 11% da população brasileira realiza trabalho voluntário, índice abaixo da média mundial, que é 37%. Movimentando 140 milhões de pessoas por ano no mundo, o trabalho voluntário é constituído em média por pessoas de 16 a 29 anos, sendo em sua maioria mulheres. Os motivos que justificam os resultados negativos dessa pesquisa variam desde falta de tempo até a falta de informação, associando diretamente à caridade. Há três anos, a vestibulanda Bárbara Martins, 20 anos, começou a realizar um trabalho voluntário como professora de inglês na Fundação Casa, uma iniciativa que transformou sua vida. “Eu estava muito nervosa com esse projeto, porque ia me fazer sair da zona de conforto. Era um trabalho que eu sempre gostaria de ter feito, e conforme o tempo passou, ganhei segurança”. Estimulada pelos pais engajados em causas sociais e pela escola de inglês que sugeriu a iniciativa, localizou a unidade mais próxima de sua casa no site: www.voluntariado.org.br. Ela conta que suas aulas são dinâmicas e que passa por grandes dificuldades, já que a maioria dos alunos não tiveram acesso à educação e nem ao idioma. Às vezes órfãs, ou com pais em péssimas condições de vida, as crianças com quem a voluntária trabalha viveram em ambientes de extrema dificuldade e hoje vivem na Fundação Casa. “Tudo isso me mudou completamente, fiquei com o coração apertado, porque nunca tinha visto essa realidade de perto. Senti a necessidade de fazer
Bárbara Martins, professora de inglés na Fundação Casa
a diferença”. Porém não é somente um jovem que pode trazer mudanças, tanto que a Associação Paulista Feminina de Combate ao Câncer (APFCC), organização sem fins lucrativos e sem o apoio do governo, é iniciativa da terceira idade. Atuando em hospitais há 23 anos, como Hospital São Paulo e Santa Casa, o projeto arrecada roupas, produtos de higiene e cesta básica. Por conta da precária rede pública de saúde, a APFCC teve a iniciativa de proporcionar medicamentos para o tratamento do câncer, auxilio funerário e até apoio emocional. “O serviço é feito para a população de classe média baixa, mas, devido à crise, outras
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classes também usam o programa”, conta Margit Martinho, 68 anos, vice-presidente da APFCC. Ela conta que em 2016 foram atendidas 16.343 pacientes, mas, apesar disso, o problema está na falta de apoio aos pacientes com a alimentação, afinal as famílias geralmente são carentes. Outro fator é a falta de doação de sangue, que prejudica o tratamento dos pacientes nos hospitais. “O voluntário é igual ao trabalhador, Ele está doando o salário dele”, conta Margit, que conquistou 253 voluntários somente pelo bate-papo. No voluntariado na APFCC são realizadas aulas preparatórias. Quer mais informações? Ligue para (11)3257-3020.
Paredes do metrô revivem o passado Estaçã Santa Cecília dá mais vida à cultura e história do Brasil para aqueles que passam pelo local Helena Gomes Júlia Feltrin
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Instituto Poiesis, no ano de 2009, lançou o projeto Encontros no Metrô Santa Cecília, para que fosse transmitida a história do bairro e também do Brasil para quem passasse por ali. Passaram-se quase dez anos desde que a exposição foi feita e o mural que apresenta partes da literatura brasileira, na entrada da estação, não foi retirado até hoje. O projeto objetivava preparar as estações de metrô para que se adequassem a futuros saraus, atividade culturais e artísticas em locais convenientes. Foi a partir daí que escolheram estações como melhor meio de se propagar. Havia o planejamento de implantá-lo em mais 15 estações, o que foi executado, contudo não como havia sido planejado. Por não ter atingido o sucesso esperado, também foram poucas as atividades ocorridas e o projeto não teve continuidade. Em vez disso, foram instaladas exposições limitadas de obras de artes e poemas em outras estações, como por exemplo a exposição Pontos Luminosos da Poesia de Haroldo de Campos, que integra o projeto Encontros, localizado na estação Paraíso e Corinthians-Itaquera. Essa exposição contou também com um sarau como abertura. Já esse evento obteve um maior impacto. Além da poesia, a estação Paraíso e também a estação Artur Alvim voltaram seu foco para a exposição coletiva de fotografia “Metáforas”, onde seis fotógrafos mostraram movimentos de pessoas vistos de diferentes perspectivas. A última apresentou trabalhos do Coletivo Mona, Ernesto Garrel, Helena Wolfenson e Pedro Andrada, os quais mostram um lado artístico.
Corredor do metrô Santa Cecília e seus murais durante o dia
Ainda que o projeto tenha sido abortado, as paredes continuam coloridas no metrô Santa Cecília e ainda há quem pare para apreciar. Tal como a cozinheira Elisabeth Santana, de 63 anos, que já na primeira vez que passou pelo local se interessou. Ela afirma que é um grande incentivo, sobretudo para os jovens, para entender melhor a cultura brasileira. Por mais que as pessoas não contemplem a arte, ela acredita que algum dia o público vai parar e perceber todo o encanto que o projeto tem. “Esse projeto muda a nossa vida com certeza, pois, em um mundo tão globalizado, são essas coisas que nos fazem lembrar da nossa verdadeira identidade. Essas iniciativas mantêm na história nossa cultura e a sua importância”, diz o teólogo José Tomás Manosalva, de 48 anos. Ele também diz que devido às pessoas não terem o devido conhecimento sobre o assunto, acabam por não ver importância no projeto. Mas afirma que logo de primeira sua atenção foi fisgada. Margarida Dos Santos, dona de casa de 53 anos, também elogia
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muito o incentivo. A senhora conta que muitos dos poemas e canções ali presentes foram contados e cantados por sua mãe e avó. Além de trazer a nostalgia ao lembrar de que muito do que há nas paredes fez parte de sua infância. Ao ser perguntada sobre o que acha e se apoia a iniciativa, Margarida diz: “é um incentivo muito importante, pois mostra toda a nossa história. Esse é o nosso Brasil e ele deve ser mostrado para todos”. Ela ainda exclama que gostaria de ver mais disso em outros locais públicos pois acha lindo. “Sempre passo por aqui e fico lendo, acho a coisa mais linda. E digo mais, algum dia vou parar para ler tudo, as paredes inteiras!”. O Instituto, além de programar o conteúdo cultural da Casa das Rosas, da Casa Guilherme de Almeida e do Museu da Língua Portuguesa, também apresenta o projeto Fábrica de Cultura, que é um espaço de formação e difusão artística e cultural, aberto para a população, e foi criado para atender crianças, adolescentes e jovens de 8 a 21 anos e adultos.
Hortas urbanas: um novo estilo de vida Moradores da cidade de SP buscam alternativas para uma alimentação saudável com alimentos produzidos em locais públicos Isabella Baliana Juliana Caveiro
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m meio a tanto cinza na “Selva de Pedra”, o verde das hortas comunitárias na cidade de São Paulo ganha um destaque especial no cenário urbano. Nelas as pessoas encontram a oportunidade de consumir vegetais frescos e com uma maior qualidade, e ainda incentivam a consciência da regeneração do meio ambiente. O projeto proporciona à população alimentos sem agrotóxicos e até mesmo sem conservantes e ganhou notoriedade através de um grupo no Facebook, o Hortelões Urbanos, criado em 2011. A princípio, era apenas um meio de as pessoas que se interessam pela agricultura trocarem experiências. Com o passar do tempo, o grupo ganhou mais força e hoje são mais de 70 mil membros que, de forma independente, encontraram um espaço para começar uma horta comunitária em prol do local em que moram, contando com a ajuda de todos para a manutenção da mesma. Uma das fundadoras do Hortelões Urbanos, a jornalista e agricultora ambiental Claudia Visoni, 51 anos, contou que no início da Horta das Corujas, na Vila Madalena, em 2012, o solo era seco e degradado, mas com o conhecimento que adquiriu ao decorrer de sua carreira e o cuidado da comunidade, o solo se tornou fértil e hoje produz as hortaliças de forma natural. A jornalista conta que estuda questões ambientais há muito tempo, e desde a sua adolescência já se interessava pelo assunto. A maioria das hortas comunitárias carrega o lema de que não é necessário plantar para poder
Claudia Visoni fazendo a manutenção da Horta das Corujas
colher, ela está ali livre para qualquer um poder se abastecer e pegar à vontade o que deseja, já que a preocupação com o ambiente é o principal propósito. “Qualquer pessoa pode vir plantar e colher. Quem planta por aqui sabe que está plantando para a cidade. Tem muito mais gente que só vem colher, mas tudo bem, porque nosso objetivo principal é educação ambiental, não o abastecimento”, explicou Cláudia. São Paulo possui várias hortas espalhadas pela cidade. Na Avenida Paulista encontra-se a Horta do Ciclista, que possui um caráter mais simbólico, político. Por ser um lugar muito movimentado e poluído, Claudia diz que o foco não é a colheita, mas sim um jardim comestível para as pessoas conhecerem e se interessarem pelo projeto. “Queremos mostrar que se dá para plantar lá, dá para plantar em qualquer lugar. Ali já tivemos resultados incríveis. Tem um agricultor urbano aqui de São Paulo que hoje em dia é profissional e vive disso, ele descobriu a agricultura urbana andando na Paulista”, afirma. As hortas urbanas comunitá-
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rias, além de regenerar o solo e embelezar a cidade, trazem benefícios para a saúde ao não utilizarem agrotóxicos no seu cultivo, como observa a nutricionista Tais Varela de Souza, de 44 anos. Segundo ela, “os alimentos orgânicos não utilizam nenhum pesticida, fertilizante, além de proibir o uso de sementes modificadas e aditivos químicos, ao contrário da produção dos não orgânicos, onde as quantidades desses produtos muitas vezes são usadas de forma indiscriminada”. No seu blog, Claudia Visoni conta como a agricultura urbana traz inúmeros benefícios, tanto ambientais e urbanísticos quanto sociais e pessoais. Permeabilização do solo, recuperação da biodiversidade, conservação de espaços públicos, lazer, educação ambiental e nutricional são apenas alguns deles. Segundo ela, existe uma série de pesquisas que dizem que mexer na terra melhora a sua imunidade e a saúde ambiental. “Tem sim um lado psicológico, mas existe um lado fisiológico também. Eu, por exemplo, tinha muito mais rinite antes de trabalhar na horta do que agora”, contou ela.
Praça Roosevelt em uma nova era Após muitos conflitos entre policiais e skatistas, um acordo entre eles surgiu junto à reforma Lucas Galante
Lucas Galante Luka Diniz
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ocalizada na rua Consolação, a praça Roosevelt foi, por muito tempo, um campo de batalha entre skatistas e policiais. O local passou por uma grande reforma que durou dois anos após uma longa e turbulenta relação de skatistas e policias. A praça possui um posto policial e antes da reforma a prática do skate no local era vista com maus olhos, o que gerava constantes conflitos entre os skatistas e os policiais. Os próprios skatistas tinham essa consciência e pediram para que fosse construída uma parte somente para eles. Após algum tempo os pedidos foram atendidos e em 2012 houve uma reinauguração com o “skate plaza”, uma área destinada aos skatistas . Com a reforma, surgiram alguns combinados, sendo o principal respeitar a lei do silêncio. Um dos maiores problemas era o barulho feito pelo skate depois das 22 horas, que atrapalhava e incomodava os vizinhos ao redor da praça. O problema foi resolvido com o acordo de que só é permitido o uso do skate na praça até às 22 horas. Após um tempo da reforma, alguns skatistas foram questionados sobre como ficou o local e se o relacionamento entre eles e a polícia continua difícil. Lucas Gois de Matos, 18 anos, estudante, diz que anda de skate na praça há muito tempo, antes mesmo da reforma e que depois disso o local ficou mais pacífico, relatando uma melhora no relacionamento entre eles e a polícia, porém disse que o preconceito sofrido pelos skatistas é algo que ocorre frequentemente. “Hoje mesmo estava andando com o skate preso na mochila, passaram dois GCM (Guarda Civil Metropo-
Skatista Lucas Gois mandando um ‘ollie’ na praça Roosevelt
litana) dando indireta para mim, dizendo que eu era vagabundo, que não trabalhava” acrescentou. Outro skatista que foi ouvido foi Gabriel Nunes, 20 anos, que diz que vem andar na praça antes do trabalho, no RH de uma empresa. Ele gosta muita de andar pela condição da praça e pelos obstáculos que foram construídos. Gabriel acrescentou que ainda hoje há alguma discriminação, sendo elas em forma de, cara feia, xingamentos entre outros desconfortos gerados apenas por ter um skate embaixo do braço. Vitor Marsella, 19 anos, estudante, é caracterizado como skatista “street”, prefere andar em praças e ruas em vez de pistas e nos explicou: “As praças remetem muito às origens do skate, por isso, pra mim, elas têm um valor maior que as pistas, que nunca conseguirão substituir as praças, por toda a história e pelo o que as praças representam para nós”. Sobre a condição das pistas em geral ele diz que infelizmente são muito precárias ainda, por conta do skate não ser um esporte aceito e incentivado aqui no Brasil. Ele nos disse
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que anda bastante na Roosevelt e, sobre o aumento de frequentadores, ele conta: “Desde a sua primeira formatação, a Roosevelt já era frequentada por skatistas, mas eu acredito que após a reforma ela começou a chamar mais ainda a atenção dos skatistas, pois seu novo projeto a tornou muito mais propensa para o skate, possuindo muitos objetos e obstáculos que são muito usados por skatistas, sem contar também sua boa localização, o centro de São Paulo”. Durante todo o dia passam centenas de pessoas por lá e uma delas, não querendo se identificar, disse que ficou feliz com a reforma, que, além de deixar a praça mais bonita, trouxe mais skatistas e animação para o local, e que gosta muito ver as manobras. “Mesmo sem andar ou ter conhecimento sobre o esporte, eu vibro quando acertam alguma manobra”. Para Vitor a reforma atendeu aos pedidos dos frequentadores, deixando a praça apropriada para os skatistas sem tirar essência de ser uma praça, mas questionou se reparos serão realizados assim que preciso.
#NãoÉAmorQuando Relacionamentos abusivos têm sido cada vez mais frequentes, o que proporciona uma maior preocupação e debates sobre o assunto Camila Oliveira Paula Faria
Vítima de um falso amor
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período de 2015 a 2016 foi marcado por um aumento de 51% na quantidade de denúncias feitas por mulheres vítimas de relacionamentos abusivos, com base de dados no Ligue 180. Em média, foram atendidos três mil casos por dia. Dentre eles, 50% relacionam-se à violência física, 31% à violência psicológica e o restante como agressões sexuais e morais. De 3.205 adolescentes analisadas no estudo feito pelo departamento de psicologia clínica da Universidade de Brasília, 85% sofreram violência verbal e emocional, caracterizando um relacionamento abusivo. Campanhas como a #NãoÉAmorQuando, criada pela Secretaria de Políticas para as Mulheres em junho de 2017, auxiliaram mulheres na identificação de comportamentos e gestos abusivos do seu parceiro. Houve uma repercussão gigantesca que fez com que as mulheres se sentissem incentivadas a denunciarem os abusos, se livrarem das amarras desse tipo de relacionamento e a influenciar outras que passam pela mesma
situação. Com uma maior repercussão do tema nas redes sociais, evidencia-se que grande parte das vítimas não estavam cientes do que é um “gaslighting”, termo usado na peça Gas Light em 1938, que representava um marido na tentativa de deixar sua mulher louca até que ela perdesse a sua luz. Dentre as características desse tipo de abuso, destacam-se sinais como a vítima duvidar de si mesma, os pedidos de desculpa constantes e sem motivo ao parceiro, a falta de esperança e ânimo, a dificuldade de tomar decisões fáceis e o questionamento de ser boa o suficiente para o parceiro abusivo. "É um amor muito cego. E a pessoa acaba entrando nisso já sabendo no que ela está se envolvendo mas também não reconhece”, afirma Maria do Carmo Gonçalves, 60 anos, psicóloga, que recebe pacientes com tais características destacadas. Viver num relacionamento abusivo, além de ser um pesadelo, é mais comum do que imaginamos. Inúmeras jovens vêm procurando meios de se desvencilhar dessa violência. N.C., estudante, 18 anos, conta um pouco sobre sua experiência que durou cerca de três anos com um parceiro abusivo. Além de ter se sentido extremamente presa, teve que submeter-se às exigências do parceiro, que não a deixava usar as roupas que quisesse, sair com amigos, ir à academia ou qualquer outra coisa que tivesse vontade de fazer. As agressões não eram apenas psicológicas e verbais, chegaram a ser físicas. Muitas vezes era forçada a manter relações sexuais. Mentiras e traições estiveram presentes no relacionamento. Hoje se recupera de uma depressão, tenta viver sua vida da forma mais normal possível e aconselha vítimas desse tipo de
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violência: “É preciso que você se coloque em primeiro lugar e queira o que é melhor pra sua vida. Converse com as pessoas ao seu redor sobre o assunto, faça coisas que você gosta, conheça novas pessoas, se liberte”. Segundo a visão de Maria do Carmo, os abusos começam de forma sutil, com indícios pequenos como o ciúme e a ridicularização entre amigos. Chega um ponto em que as mulheres passam a não ter opinião sobre nada e suas autoestimas são minadas. É preciso que as mesmas se atentem a esse tipo de situação, porque os fragmentos desse tipo de relacionamento podem desenvolver patologias muito graves. Muitas mulheres não procuram ajuda por desvalorizarem a gravidade do problema ou por não tomarem consciência de que há abuso no seu relacionamento, sem ver o quanto isso as está afetando e bloqueando sua espontaneidade. É imprescindível que elas não tentem resolver seus problemas sozinhas e que consigam desconstruir seus preconceitos em relação à psicologia e ajudas externas, para que o problema não se agrave com o passar do tempo.
Maria do Carmo e a ajuda do bem
Ações beneficentes em Santa Cecília Paróquia organiza feira solidária para ajudar comerciantes e creche local em datas comemorativas Raphael Freitas Renan Oguma
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a região do largo da Santa Cecília, em datas festivas o cônego Alfredo Nascimento Lima, 60 anos, convida comerciantes ambulantes para se organizarem e montarem uma feira no espaço da Igreja. Os vendedores aparecem principalmente nas Festas Juninas e Julinas e na Festa da Padroeira, que acontece em novembro. Com a ajuda das barracas, que pagam uma taxa diária para permanecerem no local, a Igreja ajuda a sustentar a creche Centro Para Crianças e Adolescentes Casa São José. Para poder se alocar no espaço da Igreja, é necessário receber o convite do Padre Alfredo, mais adiante, precisa-se de uma autorização da Prefeitura de São Paulo. A feira conta com uma grande variedade de opções de comida, como por exemplo bolos, churros, tapiocas etc. Para Marcos Dupona de Oliveira, 48 anos, o importante não são os fins lucrativos e sim ajudar a Igreja, tanto nos seus próprios consertos quanto na ajuda para a creche. De acordo com o vendedor, “a gente arrecada dinheiro para ajudar a creche e com coisas da igreja, e vamos tentar fazer a feira em novembro para tentar consertar o relógio e o sino’. Marcos já é experiente no ramo, trabalha na região do largo da Santa Cecília há 28 anos e reconhece que as feiras não estão indo bem como nos outros anos “ A crise bateu em todos, se você olhar, é só um ou outro que tá vendendo bem, mas aí conversa com o padre, acho que um tem que ajudar o outro, o importante é ser honesto ”. Outro feirante que atua no espaço da Igreja, o funcionário da
Barraca de bolos Lores Cakes no Largo da Santa Cecília
barraca “Churros do Theo”, Ulisses Constâncio, 55 anos, explica como funciona a rotina anual: “aqui a barraca é itinerante, ele vai pra Niterói, São Roque, vai visitando cidades onde tem eventos. O trailer dele (dono da barraca) viaja e se precisar ele monta a barraca’’. Perguntado o motivo de ter se alocado naquele lugar específico, Ulisses disse: “O motivo ( de ir para a Santa Cecília é a venda, é o comércio, quem convidou foi o padre, todo mundo é vinculado com o padre. Paga uma receita diária para a Igreja. Não pode chegar e ir montando nada em lugar nenhum’’. Mesmo estando aberta há pouco tempo, a barraca é um dos pontos que mais fazem sucesso entre os clientes. Além de estar num ponto estratégico (ao lado da saída do metrô Santa Cecília), oferece uma grande variedade de sabores, sendo o de Nutella o especial da casa. Na mesma semana foi aberto o trailer ‘’Show de Frutas’’, que é perfeito para quem é apaixonado por morangos, tendo de bolos até espetinhos com chocolate. Com as vendas ainda aumentando progressivamente, a funcionária Letícia Magalhães, 22 anos, confirmou que pretende voltar ainda antes da
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festa da Padroeira, chegando em outubro e indo embora apenas em dezembro. Mudando um pouco o tipo de doce, a barraca Lores Cakes também faz grande sucesso para aqueles que costumam passar diariamente pelo lugar. Jéssica dos Santos, 26 anos, é funcionária e afirmou que o ponto em que ela está (ao lado do metrô) é um dos melhores que existem. “Todo ano quando chega perto da festa Junina a gente coloca a barraca aqui’’. Jéssica ressalta a conversa que teve com o Padre Alfredo para se alocar: “Tem que ter a permissão do padre para montar aqui”. A coordenadora e gerente da creche CCA Casa São José, Estela Santiago, 53 anos, mostra muita gratidão pela Igreja: “A Igreja mantém boa parte das finanças da creche, a prefeitura dá apenas uma ajuda. Se não fosse a Igreja, a Casa São José já teria fechado”. Com a creche aberta há quase 40 anos, Estela explica como é feito o processo de ajuda da Igreja: “Ela (Igreja) ajuda através das festas que ocorrem na região, pelas barracas que se instalam e por bazares. Tudo que é feito vem para a creche para ajudar as 250 crianças que ficam aqui”.
O que restou da Cracolândia O problema crônico da cidade de São Paulo continua a dominar as ruas do centro Gabriel de Oliveira Croquer Guilherme Amendola
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Cracolândia, região do centro de São Paulo tomada por dependentes químicos, existe desde 1990. São 27 anos de degradação humana e urbana nas ruas do Centro Histórico, entre elas a rua Helvétia, a Alameda Dino Bueno, a Praça Princesa Isabel e a Alameda Cleveland, sendo que até o fim de agosto os usuários se concentravam nas duas últimas citadas, após a megaoperação liderada pelo prefeito João Doria. No dia 21 de maio, mais de 900 agentes das polícias Civil e Militar chegaram na região com o objetivo de prender traficantes, identificar pontos de venda e apreender drogas. Após a ação, Doria decretou que a Cracolândia havia acabado. Marcelo Genério Lobato, psicólogo especialista em dependência química, 45 anos, discorda. “Era necessário tomar alguma medida, mas que as medidas tomadas resolveram o problema da Cracolândia, não é verdade. Enquanto não combatermos o tráfico o problema não será resolvido”. Entretanto, Marcelo concorda com a internação compulsória, tática empregada pela prefeitura. “É necessária uma internação involuntária, essas pessoas não estão com o pensamento ordenado para decidir se vão ser internadas ou não, porém, com agressividade não se resolve nada”. O especialista também julgou insuficientes os serviços do governo, criticando o número de vagas escasso em clínicas. A decisão da nova gestão de excluir o Braços Abertos, programa implantado por Fernando Haddad, sinaliza a chance de que as ações municipais e estaduais possam dialogar. Antes, as gestões Haddad e Alckmin não faziam nem o básico na área médica: compartilhar
Dependentes concentrados na Alameda Cleveland
informações de dependentes atendidos. Por exemplo, um viciado podia começar um tratamento no Programa Recomeço, de Alckmin, sem que se saiba o que já havia sido diagnosticado sobre ele na extinta ação petista. A iniciativa Redenção, que teve seu início em 2017 na gestão Doria, foi alinhada ao programa Recomeço. Diferentemente do Braços Abertos, que prezava pela política de redução de danos enquanto empregava e remunerava oferecendo moradia e refeições aos usuários, a iniciativa tucana atua por meio de internações e foca em operações que usam a força policial como principal artifício. Alguns episódios notórios levantaram muitas críticas da opinião pública: a megaoperação em maio, a solicitação do governo de internar compulsoriamente os adictos, mais tarde vetada pela Justiça, e a ação que retirou colchões e cobertores dos usuários na tenda de Assistência Social da Rua Helvétia. Entre os críticos do tratamento involuntário estão ex-ocupantes da região. “Você pode amarrar, você pode surrar, você pode trancar, se o
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cara não quiser, ele não vai parar”, diz o adicto em recuperação J.E, 44 anos, técnico em mecânica industrial. Porém, ele elogia o governo atual, argumentando que alguma ação precisava ser tomada, e que não acredita na redução de danos como caminho. “Para eu ter uma qualidade de vida que eu almejo, eu tenho que abrir mão de qualquer substância, inclusive do álcool”. O usuário que está há um mês em recuperação disse que as ações governamentais na região têm ótimas intenções, com algumas ressalvas. “A minha experiência diz que foi válido (sobre as iniciativas) a partir do momento que eu tenha uma oportunidade de sair daquela região. Enquanto os hotéis sociais estiverem do lado, é como colocar um diabético do lado da casa de chocolate do João e Maria, o cara vai morrer ali dentro”. Sobre a situação atual do local, J.E alerta que o perigo pode ter aumentado: “as pessoas estão agonizando pela diminuição da oferta, quem permaneceu está mais disposto a fazer qualquer coisa para que não acabe a droga, tem um lado que fez o homem mau ficar muito mais feroz”.