Universidade Presbiteriana Mackenzie - Centro de Comunicação e Letras
Publicação feita pelos alunos do segundo semestre de Jornalismo - Ano XII - Ed. 183 - Outubro 2017
Imigrantes e suas receitas
Refugiados de países como Congo e Síria trazem diversidade gastronômica a São Paulo. Página 4 Acontece • 1
Para servir e proteger Jovens do sexo masculino que completam 18 anos em 2017 fizeram o alistamento militar obrigatório Matheus Teles
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m 2017, os jovens do sexo masculino tiveram que fazer o alistamento militar obrigatório. Em caso de não alistamento, o cidadão não poderá, por exemplo, tirar passaporte, ingressar no serviço público ou ser matriculado em qualquer instituição de ensino – inclusive universidades. Além disso, está previsto pagamento de multa, que varia de acordo com a quantidade de dias em que o candidato deixou de se alistar. Depois de se alistar, o cidadão deve comparecer a uma Junta Militar mais próxima de sua residência. Depois de pagar uma pequena taxa, o jovem retorna à JSM, onde tira a Certidão de Reservista e faz o Juramento à bandeira, em caso de dispensa. Os convocados passam por outras três etapas antes de poderem servir. No alistamento, podem ser encontradas as pessoas que têm vontade de servir, aquelas que não querem de forma alguma e outros que nem se alistaram. Leonardo Balbino, 18 anos, estudante, diz que tem vontade de servir. Segundo ele, ver filmes de guerra quando mais novo o influenciou bastante. Ele afirma que ficará feliz caso seja chamado e espera estar apto a servir. Perguntado sobre uma brincadeira feita
Cartaz anunciando o alistamento militar; prazo foi até 30 de junho
pelas pessoas de que os serventes só ficam capinando, ele responde: “Confesso que era uma das pessoas que ficavam brincando sobre isso, principalmente nas redes sociais. Mas se eu entrar, não farei mais a brincadeira pela internet”. Ele afirma que, se gostar de servir, pensará em seguir carreira militar. Já Vinicius Essi, 18 anos, estudante de Educação Física, fala que não tem vontade alguma de servir o exército. O jovem conta que parece ser um trabalho muito difícil. “Pelo que eu já vi, não é nada fácil estar lá. Acredito que seja um trabalho muito puxado, não sei se eu aguentaria”. Vinicius afirma que conhece muitas pessoas que têm vontade de servir. “Eles até tenProfessor responsável: André Santoro
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Centro de Comunicação e Letras
Diretor do CCL: Marcos N. Duarte Coordenador do curso: Rafael F. Santos Supervisor de Publicações: José A. Trigo
Equipe: Arthur Codjaian Gutierres, Carlos Oliveira, Daniel Fabra, Fernanda Bastos, Isabela Bumerad, Julia Pacheco, Letícia Luchesi, Luiza Granero, Matheus Teles, Rodrigo Torres, Victória Gurjão
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tam me influenciar, fazer com que eu queira entrar, mas não tenho vontade. E mesmo que eu quisesse, não poderia pelo fato de já estar na faculdade”. Também foi encontrado aquele que nem se alistou. Welerson Simões, 19 anos, desempregado, diz que não fez o alistamento devido ao esquecimento. “Eu não me lembrava de que tinha que me alistar, não via como obrigação”. Ele conta que só foi perceber a gravidade muito tempo depois, quando descobriu que não poderia fazer uma série de coisas. “A ficha caiu quando eu vi que não poderia arrumar um emprego, por exemplo. Sem o certificado, a pessoa perde muitas oportunidades”. Jornal-Laboratório dos alunos do segundo semestre do curso de Jornalismo. Centro de Comunicação e Letras - Universidade Presbiteriana Mackenzie. Foto de capa: Fernanda Bastos e Victória Gurjão Impressão: Gráfica Mackenzie
Empoderamento no trabalho
Apesar do preconceito, a busca da mulher por seu espaço se mantém viva e necessária Carlos Oliveira Letícia Luchesi
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egundo o RH Portal, no Brasil, as mulheres são 41% da força de trabalho, mas ocupam somente 24% dos cargos de gerência. O balanço anual da Gazeta Mercantil revela que a parcela de mulheres nos cargos executivos das 300 maiores empresas brasileiras subiu de 8%, em 1990, para 13%, em 2000. Mas ainda é pouco. Guilherme Souza Scofield Muniz, 46 anos, advogado há mais de 20, comenta sobre como as mulheres têm se desenvolvido no mercado de trabalho, sobretudo na área de concurso público. Em relação à iniciativa privada, existe uma concepção (completamente equivocada) de que talvez o homem consiga produzir mais. Isso tem mudado com o passar do tempo, sobretudo em face do movimento feminista. Segundo o Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade), houve crescimento da taxa de atividade para as mulheres em todas as faixas etárias. A pesquisa revela ainda que no ano passado não ocorreu mudança no perfil etário da População Economicamente Ativa (PEA) feminina. Pode-se observar que a presença das mulheres no mercado de trabalho teve um grande crescimento nos últimos anos, e isso é um efeito decorrente das transformações que o mundo vem sofrendo no cenário de igualdade de gênero. Mas as mulheres ainda ganham menos que os homens e estão em menos cargos de direção. No Brasil, por exemplo, a média salarial feminina corresponde a 74,5% da masculina, de acordo com a Pesquisa Nacional por amostra a Domicílio (Pnad) de 2014, do IBGE. No cenário da sociedade brasileira, grandes empresas exigem muito de seus funcionários. Muitas estabelecem determi-
Solteira e independente, Daniela conta sobre sua trajetória
nados padrões para novas contratações. “Infelizmente, o mercado leva muito em consideração a aparência física. Isso é uma realidade que nós estamos vivenciando. Quando a mulher ou até mesmo o homem tem uma aparência física melhor que outros, eles acabam tendo uma vantagem na contratação. “Temos que trabalhar através de uma forma de mostrar a realidade para estas empresas, que não é a aparência física que vai demonstrar a competência de um empregado, mas sim, a sua própria competência”, diz Guilherme Scofield. Para ele, a nova lei trabalhista é um retrocesso na história social do nosso país, pois prejudica a mulher com a licença maternidade e visa apenas ao lucro. Ele diz que existem algumas teorias e, nesses aspectos, existem juristas trabalhando na hipótese de aferir se há tratados com organizações internacionais contra a medida chancelada pelo Congresso. Em contrapartida, Daniela Dayrell Franca, aos 38 anos, conta um pouco sobre suas experiências no mercado de trabalho. Farmacêutica, solteira, com o cabelo raspado e cheia de brincos, Daniela compartilha um pouco de suas histórias. Funcionária de análises biológicas num órgão do governo, a farmacêutica conta que em seu ambiente de trabalho há muitas mulheres em cargos de liderança, porém são gerentes de pequenas
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áreas. O foco de líderes masculinos se encontra mais na parte financeira e na de veículos. Ela tem opinião formada sobre a diferença de salário entre homens e mulheres. Diz que é um dado estatístico e indiscutível, que em seu meio de trabalho essa diferença é um pouco menor, pois o que realmente importa é o diploma. Como é concursada não sofre com isso e para conseguir o emprego é necessário passar numa prova, então não depende de gêneros. Relata também que o salário no seu local de trabalho é igual para todos e aumenta de acordo com respectivo cargo. Sobre a aparência feminina como centro da questão, a farmacêutica diz que é muito nítido o interesse maior pelas mulheres mais esbeltas. Independente das intenções, elas que possuem preferência, ultrapassando a meritocracia. Daniela diz que felizmente nunca sofreu ou presenciou algum tipo de discriminação com mulheres em seu trabalho, mas nos conta que com toda a certeza, a mulher é tratada de uma maneira diferente do homem.‘’As mulheres são naturalmente tratadas de forma diferente’’, completa. A farmacêutica até brincou que muitas vezes carrega galões de água por conta própria, sem ajuda de nenhum homem. Conta que sempre conseguiu se virar, procura até mesmo canais na internet e se vira como pode.
Imigrantes apostam na gastronomia Refugiados sírios e congoleses utilizam a culinária como ponto em comum entre as culturas Fernanda Bastos Victória Gurjão
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egundo pesquisa feita pela Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), o maior contingente de refuiados que vieram para o Brasil em 2016 foi composto por sírios, congoleses e paquistaneses. Estes, com culturas muito ricas, usam a culinária para construírem um novo começo, adicionando à gastronomia paulistana uma nova cara. Ainda de acordo com dados da Agência, 84% das pessoas que saem dos seus territórios nacionais têm como destino países de baixa, média renda ou em desenvolvimento, como o Brasil. Considerando que a Pitchou Luambo, chef do restaurante Congolinária imigração sempre traz característi- dos com base vegetal e sabores bem ponente afetuoso pode aumentar cas novas ao país de chegada, a gas- marcados pelo uso de temperos consideravelmente. “Querer alitronomia pode ser citada como um como pimenta, salsa e cebolinha. mentar alguém é se importar. Faimportante fator de mudança cultu- Um famoso exemplo do paladar zer isso entre culturas diferentes é ral, visto que no mundo globalizado congolês é o suco Tangawisi, que apoiar uma a outra. No final das contas somos bem parecidos”, diz de hoje, com a ruptura de fronteiras mistura abacaxi, limão e gengibre. A gastronomia não é apenas a empresária e chef de 24 anos. e aumento da velocidade dos acontecimentos, se tornou normal recei- questão de gosto, mas um costume Pensando nisso, Pitchou também tas culinárias transitarem de uma que, por sua vez, faz jus à história. afirma: “sem a gastronomia ninÉ nisso que o doceiro de 47 anos, guém vive. Antes mesmo de falar, região para outra. Alguns refugiados recorrem à Samer Neameh, acredita ser o di- se alimentar é a primeira coisa criatividade para se adequar ao ferencial dos pratos regionais. Ele que um povo faz. É esse alimento Brasil. Esse é o caso do cozinheiro ainda enfatiza o poder da culinária que vai te fazer se identificar com congolês Pitchou Luambo, 36 anos, síria pela herança do doce Bakla- a cultura porque a criança, já com que deixou para trás a carreira de wa, por exemplo, cuja origem ad- dois anos, começa a comer a comiadvogado a fim de se recolocar no vém do século 11 e tem grande par- da do seu povo”. A situação desses imigrantes mercado de trabalho em nosso país. ticipação no Ramadã. Outro prato do Oriente Médio torna evidente que a gastronoPorém, segundo ele, essa não é uma tarefa fácil. “Quando o refugiado que estabelece uma conversa en- mia tem sido utilizada como um chega aqui, enfrenta as mesmas di- tre gostos amargo, doce e salgado importante instrumento em misficuldades que um negro brasileiro e vale ser citado é o falafel envolto sões que vão além da cozinha. desempregado. Mas é pior para nós pelo pão típico sírio com coalha- Quando perguntados sobre a reque não sabemos o idioma e não te- da de queijo. Para Samer, o Brasil ceptividade do país, Samer afirfoi essencial na sua mudança pois mou que o Brasil é aberto, mas mos carteira de trabalho”. Seis anos depois de sua chegada, permitiu continuar com seu ne- que muitos ainda têm receio de Pitchou se destaca por manter seu gócio e, assim, manter a tradição cruzar com suas culturas. “Acho que eles têm medo de não gosrestaurante Congolinária, localiza- árabe em solo tropical. Conforme Bianca Santos Ramos, tar”, acrescentou Pitchou. Ele do na zona leste de São Paulo, fiel à cozinha da sua pátria. O restaurante o ato de fazer comida em si já é uma continua dizendo: “O brasileiro conta com uma variedade de pratos demonstração de afeto. E, no caso precisa ouvir, precisa aprender a de uma das 400 etnias do país, to- dos novos refugiados, esse com- valorizar o que o refugiado faz”.
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A reforma do ensino irá acontecer? Diretorias ainda não sabem como se preparar para a mudança prevista para o Ensino Médio Isabela Bumerad
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televisão e rádio recentemente começaram a fazer propagandas relacionadas à reforma no Ensino Médio. Nelas eles divulgam os resultados de uma pesquisa que o MEC (Ministério da Educação) encomendou ao IBOPE (Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística), à qual, de 1200 entrevistados, 72% disseram ser favoráveis a uma reforma no ensino. Desses 72%, todos tinham entre 55 anos ou mais, e apenas 35% dos jovens entre 16 e 24 anos se disseram favoráveis, além de a pesquisa envolver mais questões que apenas a reforma. Apesar de a Medida Provisória ter sido aprovada, ainda falta a definição da Base Nacional Comum Curricular para esse nível de ensino. Ela irá definir como as escolas deverão se organizar para colocar o projeto em vigor. Assim como explicou Cacilda Cândida de Campos, 50 anos, coordenadora pedagógica do Colégio Objetivo de Osasco: “A escola, tanto pública quanto a particular, a partir do momento que vigora uma lei tem um prazo para ela começar a vigorar dentro da escola e nos adequarmos a ela”. A ideia de uma flexibilização não é ruim. Há cerca de trinta anos as escolas possibilitam que os alunos escolham algumas matérias que gostariam de estudar, e a adaptação a esse novo modelo pode ser muito rápida. Porém os vestibulares ainda continuam sendo o maior dos problemas, pois todo universitário hoje passou por um ou mais vestibulares, além do ENEM. Neles são cobradas todas as matérias, assim como são ensinadas todas elas nos colégios. Atualmente, a MP não prevê reformas para o ENEM
Alunas do ensino médio estudando no pátio do Colégio Objetivo Alunos do primeiro ano da tarde durante o intervalo entre as aulas
e também não consta nada sobre alguma mudança para os vestibulares no site do MEC. O modelo do novo ensino médio foi inspirado nos países europeus, mas a diferença é que lá existe apenas um teste específico para o curso que o estudante quer prestar e ele é válido para todas as universidades. A diferença se encontra também no horário que é normalmente das 9 da manhã às 3 da tarde, um horário único. Ao falar de trabalho podemos falar também sobre o ensino técnico que também está previsto nas reformas, mas que ainda não foi explicado como será. Pelas informações divulgadas, haverá, nesses casos, um ano de colegial básico e dois anos de técnico, sendo português e matemática matérias obrigatórias durante todos os anos. “A família tem seus filhos e precisa que logo eles sigam para o mercado de trabalho. Então eu acho válido dentro da educação básica uma escolarização que priorize também o que é o sentido final da educação, fora a cidadania, que é a profissionalização”, disse a coordenadora. Outra proposta é aumentar o número de escolas em período integral para assim poder gerar mais
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vagas, que estão em falta hoje. Ao ser perguntada sobre o assunto, a estudante do primeiro colegial Melissa Martins Teixeira, 15 anos, foi bem clara: “Não gosto. As pessoas costumam achar que quanto mais tempo você passa na escola é sinônimo de mais aprendizado, mas não é necessariamente assim”. De acordo com o MEC esse currículo deve ser aprovado ainda este ano, em meados de novembro, pelo CNE (Conselho Nacional de Educação). Ainda há muito a ser discutido e divulgado em relação a essa reforma, são muitos detalhes que precisam ser planejados e levados em conta, além de muitas diretorias ainda não saberem muito bem do que se trata. “Essa reforma ainda não foi discutida na minha escola, muitos professores não acreditam que vá entrar em vigor”, disse a professora estadual Maria Vilani Neves Ferreira, 56 anos. De acordo com o MEC a reforma deverá entrar em vigor a partir de 2019, mas provavelmente no ano que vem as escolas já deverão fazer um calendário e mostrar para os alunos como as mudanças deverão ocorrer. O que resta agora é esperar para saber o que irá acontecer.
Condomínio investe em espaço para pets Com tantos animais de estimação morando em prédios, é importante deixá-los à vontade para se criar um ambiente agradável Arthur Codjaian Gutierres
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número de animais de estimação em prédios está aumentando. Isso acontece devido ao crescente aumento no índice de pessoas que estão deixando de viver em casas para viver em condomínios. Há, até, prédios com lugares especiais para os animais brincarem. É o caso do condomínio onde mora Luciana Martines, 39 anos, com seus três cachorros. O local tem obstáculos e túneis onde os animais podem andar livremente. Além de não ser perigoso como na rua, o Espaço Pet tem vantagem de ser perto da casa da fisioterapeuta. “Costumo vir uma vez por dia, mas quando dá eu venho duas”, diz Luciana, que considera os cachorros como filhos. Para ela, nunca houve problemas com vizinhos reclamando de seus animais. A dona de dois lhasa apsos e um yorkshire diz que eles são muito bonzinhos. Em relação à queda de pelos, ela explica: “Cachorro de pelo longo não solta pelo”. Esse espaço, além da comodidade, traz como vantagem a interação dos animais entre si. Isso é importante, pois eles ficam mais calmos. Assim, melhora a convivência com outros moradores, podendo evitar possíveis problemas com a vizinhança. Outro método eficaz para evitar reclamações dos vizinhos é deixar os pets em ‘day cares’, uma espécie de hotel onde o dono leva seu cão para passar o dia. Caroline Vaz, 23 anos, que trabalha no “Clubinho do Pet”, localizado no bairro Higienópolis, afirma: “isso é um dos grandes motivos de as pessoas procurarem o day care, porque o cachorro fica mui-
Cachorro da raça Lhasa Apso de Luciana Martines
to estressado, ansioso, começa a latir e ter problemas com os vizinhos. “Lá o animal terá atividades e aprenderá a se comportar na ausência do dono. Se para alguns a solução é melhorar o bem-estar dos animais, fazendo com que aprendam a conviver de forma harmoniosa em um condomínio, para outros proibir os pets em prédios é a saída. É o caso de Maria da Conceição Fonseca. Segundo o blog Bom Pra Cachorro da Folha, a moradora de um apartamento em Águas Claras (DF) precisou entrar na justiça para conseguir o direito de manter um cachorro da raça shih tzu no condomínio que morava. Outra medida que causou revolta nas redes sociais é uma decisão judicial do estado de Oregon dos EUA de cortar as cordas vocais de cachorros. Segundo o portal de notícias UOL, um casal foi obrigado a submeter seus cães a uma cirurgia devido aos latidos
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dos animais. Mesmo morando em casa, o vizinho se incomodou com o barulho. Para a veterinária Beatriz Vilaça Trindade, 29 anos, existem outras medidas. “Isso é mutilação. Creche para cachorro é muito popular hoje, poderia ser uma saída muito melhor. Isso não resolveu o problema do cachorro, ele continuou sozinho e ocioso”, afirma. Para muitos, essa proibição é controversa pois fere o direito de propriedade do indivíduo. Muitas pessoas não se importam em dividir o espaço de seus condomínios com animais domésticos, como cachorros, por exemplo, desde que esses não façam barulho ou soltem muito pelos. Na constituição brasileira, não existe artigo que proíba animais emcondomínios ou prédios, mas também não há nada que impeça o condomínio de fazê-lo. Para Luciana, é “inaceitável” um condômino proibir os moradores de possuírem animais de estimação.
Evolução da indústria da saúde Como as academias estão se ajustando para pode se adaptar às vidas corridas das pessoas do século XXI Julia Pacheco Rodrigo Torres
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Brasil é o segundo país com mais academias no mundo, atrás somente dos Estados Unidos da América. Apesar disso, os mesmos aparecem entre os cinco países com mais obesos do planeta, e o crescimento de academias pode ser um reflexo justamente desse problema. A demanda para se matricular em academias está cada vez mais alta. Uma pesquisa feita pela Sebrae mostra que nos últimos cinco anos houve um crescimento de 133% de academias no Brasil. Segundo Julio Ceciliato, 26 anos, instrutor da academia In shape, “isso se deve muito a mídia, ao padrão de beleza estipulado. Queira ou não a estética corporal está em alta”. A primeira academia a vir com a ideia inovadora de baixo custo no Brasil foi a Smart Fit, com a manutenção anual, o que é uma das coisas que faz a mensalidade ficar com um custo tão baixo. Mas essa academia não oferece quase nada além dos aparelhos aérobicos, de musculação e os instrutores. Novas academias com a mesma estratégia de baixo custo estão surgindo, e vindo com evoluções, como Renato Pereira, 34 anos, gerente da BlueFit, explica: “Somos uma academia nova. Acabamos de abrir. Oferecemos aulas de zumba, dança, lutas e outras por um preço justo, no qual nossos clientes possam se sentir beneficiados e ainda com dinheiro no bolso”. Em comparação de valores, a Bio Ritmo, a qual tem preços mais altos, é do mesmo dono da própria Smart Fit, e segundo funcionários, as duas academias utilizam os mesmos equipamentos. Com isso nota-se que a diferença entre as duas é o público-alvo, com a de custo menor focando em pessoas com vidas corridas, e pouco tempo a se dedicar à
Academia Blue Fit, localizada na Avenida 9 de Julho
academia, que procuram uma forma de fazer exercício e meio à grande correria da vida. Pessoas que trabalham e estudam ao mesmo tempo geralmente não fazem academia, pela falta de tempo e pelo alto custo que essas, na maioria das vezes, cobram. Foi a partir desse nicho que surgiram as academias de baixo custo. Giovan, 29 anos, recepcionista da Smart Fit, conta: “Nossos clientes, que vêm em sua maioria no período da noite, são jovens adultos que acabaram de sair do trabalho ou da faculdade”. Ele complementa: “Nossos horários mais lotados são das 18 às 20 horas”. Na cidade de São Paulo, mais especificamente no centro, o crescimento de academias de porte pequeno e/ou baixo custo tem como alvo os moradores que estão mudando de estilo de vida. Por ter diversas faculdades e muitos escritórios nas imediações, jovens adultos que moram no centro buscam academias com um custo x beneficio favorável, e as academias, observando essas mudanças, começaram a se instalar, como a SmartFit de Santa Cecília e
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também a BlueFit na Nove de Julho, que foi inaugurada no começo do segundo semestre de 2017. O aluno da Smart Fit Raphael Oliveira, 22 anos, diz: “Vim morar na cidade de São Paulo por causa da minha faculdade, não pensei que iria conseguir fazer academia aqui, pensei que os preços seriam impossíveis, porém descobri a Smart Fit do lado da minha casa e com preços muito bons, então todo dia depois da faculdade vou treinar”. Personal Trainers que trabalham em academias costumam dizer que suas profissões foram valorizadas pelo crescimento das empresas, e com isso eles precisam se capacitar mais e serem bem preparados para uma eventual disputa para uma vaga de emprego. É isso que diz Abner Santolino Leopoldo, 28 anos, instrutor de academia: “E ajuda muito na minha profissão esse grande crescimento que vem ocorrendo no mundo das academias no Brasil, já que preciso me aprofundar para poder ajudar os alunos em qualquer situação dentro da academia”. Com o aumento da procura, essa área se desenvolve cada vez mais.
A juventude que (ainda) fuma Uma pesquisa do Ministério da Saúde aponta que quase 20% dos adolescentes brasileiros já experimentaram cigarro Daniel Fabra Luiza Granero
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Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA publicou, em julho deste ano, um estudo revelando que os jovens são fortemente influenciados por atores ao decidirem fumar. As análises mostraram que o cinema é o maior estímulo para crianças, e que, mesmo controlando os fatores de risco, os adolescentes que são apresentados ao tabagismo em filmes têm de duas a três vezes mais chances de fumar do que aqueles que assistem a poucas cenas. “O cinema e a publicidade foram os principais percursores para a criação da imagem de elegância e poder que o cigarro proporcionava para seus consumidores”, diz Eduardo Chatagnier, de 31 anos, professor da Academia Internacional de Cinema. Ele afirma que o uso de personagens fumantes em filmes pode ser caracterizado sob um aspecto de autodestruição. “Geralmente, o cigarro representa uma batalha psicológica dentro das ações de um personagem”, complementa. Chatagnier ressalta que o processo criativo da psique de um personagem com conflitos internos é complexo, mas diz que o cigarro é um elemento visual que facilita a caracterização. “É difícil encontrar um personagem fumante que esteja feliz com sua vida”, diz. Uma pesquisa do Ministério da Saúde de 2016 apontou que 18,5% dos adolescentes brasileiros entre 11 e 17 anos já experimentaram o cigarro. De acordo com o MS, mais da metade dos fumantes iniciou o vício bem antes dos 18, muitas vezes influenciados pela mídia e amigos.
O tabagismo entre os jovens ainda preocupa
Estudos anteriores, como a Pesquisa Nacional de Saúde Escolar (PeNSE), de 2009, haviam concluído que 24% dos adolescentes de 13 a 15 anos nas capitais brasileiras tinham tido ao menos um contato com o cigarro. “Esse tipo de exemplo não se torna fator decisivo, pois não depende apenas desse tipo de incentivo para que se escolha fazer uso da nicotina”, diz Mariana Gonzales, 25 anos, psicóloga. Mariana acredita que, por ainda estarem formando seu caráter e absorvendo os exemplos que veem a sua volta, os jovens são mais suscetíveis a serem e se sentirem influenciados por seus ídolos. A psicóloga acredita que o que se vê na TV e em filmes pode influenciar em suas escolhas futuras, levando em conta que as crianças ainda estão moldando sua personalidade. “Acompanhar o que seu filho assiste é um importante passo para a prevenção, conversas francas a respeito do assunto também são de extrema necessidade”, afirma. Existem diversas razões para jus-
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tificar o tabagismo entre os jovens. Os adjetivos “legal”, “maduro” ou “sociável” são os mais comuns, além de acreditarem que a prática alivia o estresse ou ajuda no controle de peso. Um estudo feito na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) apontou que o hábito de fumar, na verdade, pode tornar as pessoas mais infelizes e levar à depressão. Os pesquisadores afirmam que a sensação de relaxamento do cigarro pode ser explicada pelo fato de os fumantes experimentarem irritabilidade, ansiedade e depressão quando estão em abstinência. Esses sentimentos são aliviados quando eles voltam à prática, que cria a impressão de que existem benefícios psicológicos, quando, na verdade, foi o próprio tabagismo que fez com que estes distúrbios aumentassem. O Brasil registra 156 mil mortes relacionadas ao tabaco por ano. De acordo com a pesquisadora Márcia Pinto, do Instituto Fernandes Figueira, o país registrou, somente em 2015, 478 mil infartos e internações devido a doenças cardíacas e 378 mil doenças pulmonares provocadas pelo cigarro.