Acontece - ed. 223 - turma 2D13 - novembro de 2019

Page 1

JORNAL-LABORATÓRIO DOS ALUNOS DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE - ANO XIX - ED. 223/ 2019

INICIATIVA DO METRÔ INCENTIVA LEITURA ENTRE USUÁRIOS LEIA TAMBÉM NESTA EDIÇÃO:

CIRURGIAS PLÁSTICAS AUMENTAM ENTRE JOVENS PIERCINGS MAL COLOCADOS SÃO PERIGO PARA SAÚDE

CLASSIFICAÇÃO FUNCIONAL É JUSTA? Confira a opinião de Daniel Dias na reportagem de Alice Rennar na p. 3

DEPRESSÃO INFANTIL CRESCE NO PAÍS “RUA CIDADÔ AUXILIA MORADORES DE RUA


Autoestima em risco Natalia Belo Candido Rodrigo Malicheski

O

Brasil lidera o ranking de cirurgias plásticas entre adolescentes. De acordo com a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), 141% de jovens entre 13 e 18 anos realizaram procedimentos. No Brasil apenas no ano passado ultrapassou o número de 90 mil realizados em adolescentes. Houve um aumento significativo de jovens que fizeram ou têm vontade de fazer alguma cirurgia plástica, na maior parte dos casos o pós-operatório dos clientes pode ser bem-sucedido, mas também pode ocasionar uma complicação. O pós-operatório de alguns podem não dar muito certo e no fim ser uma cirurgia mal-sucedida, como o caso conhecido do “Doutor Bumbum”, um médico que foi preso após a morte de uma paciente. Denis Cesar Barros Furtado, o doutor, fez uma cirurgia plástica nos glúteos de Lillian Calixto, porém houve complicações no procedimento. Ela foi atendida no apartamento do médico, na Barra da Tijuca, logo após foi levada ao hospital, onde veio a morrer. O caso ocorreu pelo uso excessivo de polimetilmetacrilato, uma substância parecida com plástico que é permitida usar apenas em pequenas quantidades. Esse caso mostra que cirurgias devem ser feitas em lugares apropriados e com autorização do Conselho Regional de Medicina. Muitos adolescentes acabam procurando por cirurgias plásticas quando sofrem influência de redes sociais, observando pessoas famosas por exemplo. A cirurgia estética mais procurada é a rinoplastia em primeiro lugar e em segundo o implante de silicone nos seios, quando observada a faixa etária de até

Dr. Carlos Henrique Froner: pacientes se incomodam com o próprio corpo.

18 anos. Isabella Inglez, de 18 anos, colocou silicone nos seios, na idade atual, afirmou que gostou do resultado. Realizou o procedimento pois se sentia como uma criança, por não ter seios grandes, após o procedimento aumentou sua auto estima. Márcia, que atua como psicóloga, afirma que quando um indivíduo opta por uma cirurgia plástica ele quer mudar algo em si. Após a cirurgia ele não fica satisfeito, pois a mudança que esperava viria de fora para dentro, e a mudança que é trabalhado em terapia é de dentro para fora. Desse modo, não é mudando a estética que tudo vai mudar e melhorar consecutivamente. A sensação de insegurança que tinha antes de fazer a cirurgia, depois de um tempo permanece, pois a questão da insegurança, volta. Por que na cirurgia só há uma mudança externa e não interna. Já Silvana, também psicóloga, diz que quando se trata de cirurgia estética em jovens, a atenção do profissional se volta para a autoestima, complexo de inferioridade e insegurança que o indivíduo obtém. Dr. Carlos Henrique Froner é cirurgião, tem 51 anos, e fala que quando se faz uma indicação cor-

Acontece • 2

reta da cirurgia e explica bem ao paciente os riscos, complicações e limites do resultado estético e funcional, dificilmente terá problemas no pós-operatório. Além disso, fala que com o tempo as pessoas estão recorrendo mais a procedimentos estéticos para aumentar a autoestima e evitar o envelhecimento.

Jornal-Laboratório dos alunos do segundo semestre do curso de Jornalismo do Centro de Comunicação e Letras da Universidade Presbiteriana Mackenzie. As reportagens publicadas nesta edição não representam a opinião da instituição Instituto Presbiteriano Mackenzie, mas dos autores e entrevistados das reportaUniversidade Presbiteriana Mackenzie

Centro de Comunicação e Letras

Diretor do CCL: Marcos Nepomuceno Coordenador do Curso de Jornalismo: Rafael Fonseca Supervisor de Publicações José Alves Trigo

Editor: Daniel De Thomaz Impressão: Gráfica Mackenzie Tiragem: 200 exemplares.


Oportunidade ou oportunismo? A forma de burlar um sistema de classificação que nasceu para equilibrar o esporte paraolímpico

Medalhista paraolímpico patrocinado pelo Mackenzie, Daniel Dias.

A

Alice Rennar

partir de um pressuposto de equilíbrio e justiça, a classificação funcional dos atletas paraolímpicos nasceu com intuito de equipará-los nas competições por meio de avaliações médicas que os categorizam em capacidades semelhantes. Porém, cada vez mais, o fenômeno do doping funcional aparece nas competições e aflige os ideais do esporte. Leandro Ribeiro da Silva, conhecido como “Kdeira”, de 36 anos, coordenador do Instituto Barueri Paraolímpico e atleta da Bocha Paraolímpica explica que determinados atletas, na hora da avaliação, fingem limites na coordenação motora ou incapacidade muscular em partes do corpo. O que resulta em uma classificação errônea, permitindo que alguns atletas possuam ganhos sobre outros. “Os critérios corretos não são seguidos e o esporte torna-se vantajoso somente para aquele atleta ‘irregular’, o que acaba criando certa injustiça com os demais”, diz Leandro, que há sete anos dedica-se ao esporte.

Para Luciana Di Tilio Matos Muller, 45 anos, técnica da equipe feminina de goalball da APADV (Associação de Pais e Amigos dos Deficientes Visuais) esse caso deve ser considerado doping por se tratar de alguém burlando regras e escondendo suas reais habilidades, as mostrando, somente, durante as provas. “É nítida essa discrepância de alguém realmente lesionado e com a sua função comprometida, com aquele que se fez de lesionado e limítrofe numa determinada habilidade que ele conseguiria desenvolver”, elucida Luciana, também professora de Educação Física em uma escola municipal em São Paulo. Daniel Dias, 31 anos, medalhista paralímpico da natação ressalta a importância da classificação funcional e de sua característica original de ser uma forma de equilibrar os atletas em suas dificuldades, de forma que um padrão ou variação do mesmo seja criado. “A classificação é funcional, baseada na funcionalidade dos membros. O famoso ‘migué’ é lamentável de se ver, desmotiva e não enobrece o esporte paralímpico”, descreve Daniel.

Acontece • 3

Baseada nas diferentes potências e competências de cada atleta, a classificação funcional, por meio de avaliações com diferentes profissionais da área da saúde, busca colocar em categorias similares aqueles com desempenhos e atribuições que se assemelham. Porém, segundo os entrevistados, Luciana e Leandro, há uma necessidade de mudança desse padrão e adaptação às novas tecnologias que permitam uma melhor e mais justa avaliação de quem entrará em jogo. “Fomentarmos a pesquisa e a aplicabilidade de novas formas de classificação, tendo em vista o avanço técnológico, é nossa responsabilidade”, comenta a professora. Para Luciana, não há dúvidas de que a classificação tenha partido de uma origem de justiça, porém, para ela, o ser humano, que procura a vitória a qualquer custo, busca transgredir as regras ao invés de aprimorá-las. “Cabe a nós, os técnicos, professores, educadores, sobretudo, não sermos coniventes nem apoiadores dessas falcatruas, e direcionarmos os nossos alunos e atletas a caminhos éticos”, relata a técnica e professora.


Leitura solidária

Prateleiras instaladas nas estações da Linha 4-Amarela promovem a troca de livros

Jussara Silva, colaboradora assídua do projeto de leitura.

Gabriela Caramigo Júlia de Lima

C

om o intuito de estimular o hábito da leitura, a ViaQuatro, concessionária responsável pela Linha 4-Amarela do metrô de São Paulo, promove um projeto de leitura que permite a troca e distribuição gratuita de livros nas estações. A campanha foi criada em 2016 e está em sua quarta edição. Para participar da ação cultural e viajar nas histórias dos livros basta que o usuário retire um exemplar de seu gosto e se possível, deixe outro título na estante. O objetivo é que os passageiros troquem livros para que as prateleiras estejam sempre abastecidas e, deste modo, alcancem um maior número de pessoas. A iniciativa é uma forma de disseminar o conhecimento e a cultura por meio de livros. “A leitura é transformadora e fundamental, pois amplia nossa bagagem cultural. Quem não lê, não decifra e não entende os códigos da escrita e tem di-

ficuldade em compreender o mundo”, afirma Denise Landi, 55 anos, professora com mestrado em Literatura Brasileira e doutoranda em Educação. Além de proporcionar tais benefícios, o compartilhamento de livros de forma gratuita exerce importante papel social na vida de pessoas que não têm recursos para comprar uma obra. “Muitas pessoas têm curiosidade em ler um livro, mas às vezes não têm condições e esse projeto abre espaço para isso. Eu sempre ganho livros da minha patroa e após ler, deixo aqui”, relata a diarista Jussara Silva, 41 anos. Apesar da ação ser útil e funcional para os passageiros, muitos usuários reconhecem a falta de zelo e divulgação da campanha por parte da ViaQuatro. O segurança Sérgio Benedito, 46 anos, ressalta o descuido e falta de monitoramento. “A iniciativa é pouco divulgada. Basta olhar para o modo como o espaço é tratado, pequeno e pouco chamativo. Passa despercebido aos olhos apressados dos passageiros”, relata o segurança. A reportagem do Jor-

Acontece • 4

nal Acontece foi em busca de informações referentes ao fato, mas não obteve resposta da concessionária. Entretanto, tal projeto torna-se necessário para semear o hábito da leitura. “A melhor arma é o conhecimento e a munição é a leitura”, finaliza Sérgio.

Sérgio Benedito, um grande contribuinte da campanha.


Adoção consciente Brasil tem mais de 3 milhões de cães e gatos sem lar Lucas Taveira Ton Brunno

E

xistem muitos animais em situação de vulnerabilidade no país. Segundo um estudo realizado pelo Pet Brasil, cerca de 3,9 milhões de pets em todo Brasil estão nessas condições, desses 69% são cães e 31% são gatos. Porém, mesmo com esse número muito alto, é preciso tomar certos cuidados ao adotar um animal que esteja em uma ONG ou na rua. Um pet muda toda a rotina da família, por isso é bom pensar e analisar bastante a situação a fim de não contribuir para o aumento do número de abandonos.Para um futuro bem-estar entre dono e animal, é obrigação das ONGs entrevistar o indivíduo que pretende adotar um pet, assim traçando um paralelo com os animais disponíveis. Dessa forma, ficará claro pontos como a disponibilidade da pessoa, tamanho do espaço para o pet e se é de conhecimento de todos a chegada de mais um membro para família. Infelizmente, ainda é muito comum casos em que o dono devolva o animal para a instituição, pois não houve essa entrevista antes. Além disso, é papel das ONGs realizar um acompanhamento posterior para concluir que a adoção não teve nenhum problema.Ainda na questão das adoções, os preferidos pelos adotantes são os filhotes. Halisson Cruz, dono de um cachorro vira-lata, adotado em uma ONG quando filhote, acredita que quanto menos tempo ele tiver, mais fácil será para ensinar o que é certo e errado. “Além disso um filhote precisa de muita atenção, pois ele fica mais apegado ao dono com o passar do tempo”, afirma Halisson. Em contrapartida, os animais que são mais velhos também merecem muito carinho. Vale ressaltar que quanto mais eles viveram nas ruas ou quanto mais sofreram, maior é a gratidão que eles têm pela pessoa.

Halisson e seu melhor amigo Fred: parceria que deu certo.

Além de ONGs, na região de Santana, também há o Centro de Controle de Zoonoses. Eduarda Cristina Amici, responsável pela instituição, explica que a missão do serviço é desenvolver ações de vigilância visando à prevenção, proteção e promoção à saúde pública, atuando no controle das zoonoses, ou seja, doenças que podem ser transmitidas aos animais e aos homens, podendo contar com agentes de diversas origens e, até mesmo, serem transmitidas por meio do contato direto entre homem e animal. As zoonoses mais conhecidas são a raiva, leishmaniose e leptospirose. Eduarda ainda conta que o recolhimento de cães e gatos, somente pode ser efetuado pelo DVZ/SP, Divisão de Vigilância de Zoonoses, em casos de agressão, invasão comprovada a instituições públicas ou locais em situação de risco, bem como nos casos de animais em estado de sofrimento e suspeitos de zoonoses de importância à saúde pública. Dessa forma, os pets disponíveis para adoção no DVZ/SP contam com a vantagem de já estarem protegidos contra as doenças mais frequentes entre as zoonoses e, além disso, podem ser

Acontece • 5

adotados com todas as vacinas em dia, vermifugados e com tratamento contra pulgas e carrapatos.Infelizmente, nem todas as ONGs trabalham com esse procedimento, então quem tiver interesse em adotar um pet deve verificar todo o histórico da instituição para não entrar em uma enrascada e, portanto, não passar por uma dor de cabeça futura. Além disso, para garantir que tudo ocorra bem no processo de adoção, sempre peça os documentos que comprove a vacinação, vermifugação e até mesmo a castração. Contudo, mesmo sabendo que ao adotar um animal de estimação você está salvando uma vida, há um crescimento no comércio de cães de raça, pois geralmente se tem um conhecimento do comportamento e o que esperar do novo cachorro. Com um vira-lata, isso não ocorre. Adotar um animal implica em mundo de imprevisibilidade. Nunca sabemos o que esperar do pet, desde doenças que podem ser específicas, até um comportamento estranho com o passar do tempo, acarretando em uma possível fuga do animal.


Curtidas: relevância ou futilidade? Instagram adota medida para ocultar os likes das publicações e gera polêmica Lucas Caldini Enrico Andrade

Luiz Felipe Oliveira, 19 anos, aluno de Publicidade e Propaganda.

Cervejaria Crazy Dog utiliza o Instagram como principal fonte de marketing.

A

partir do dia 17 de julho de 2019, o aplicativo Instagram deu início a medida que oculta as curtidas das publicações de seus usuários, alegando querer acabar com a competição dentro da plataforma com a expectativa de entender se essa mudança ajudará as pessoas em focar menos no número de curtidas e mais em contar suas histórias. A reportagem buscou opiniões de usuários do Instagram para saber o que decisão mudou em suas rotinas. Uma das principais formas de divulgação de marcas, empresas, produtos e até mesmo pessoas é o Instagram. Por isso, logo que a medida foi tomada muitos influenciadores e comerciantes sentiram um certo receio, visto que a plataforma proporciona muito lucro.

O empreendedor André Sergio, proprietário da microcervejaria Crazy Dog, utiliza o Instagram desde 2017 e vem colhendo frutos dessa divulgação. “Quando as curtidas não estavam mais aparecendo, fiquei assustado, pois me deu a impressão de que perdi todo o trabalho que havia feito”, conta André. Disse também que após entrar em contato com colegas do ramo que também utilizam o aplicativo como forma de negocio, ficou mais tranquilo, pois percebeu que poderia obter os mesmos resultados. Segundo a assessora de imprensa Rafaela Andrade, da empresa Index, especializada na divulgação de marcas, a medida não afetou diretamente as empresas que utilizam a rede social comercialmente. “Os detentores das contas possuem acesso aos números, e com isso, conseguem controlar o alcance total de suas publicações. Entretanto a impressão dos usuários em relação a relevância das postagens pode ficar deturbada, pois não há uma mínima noção dos números”, afirma Rafaela. Luiz Felipe Oliveira aluno do curso de Publicidade e Propaganda da Universidade Presbiteriana Mackenzie, diz ter sido pego de surpresa. Segundo ele, a informação de que as curtidas seriam ocultadas não foi

Acontece • 6

muito bem divulgada. Porém em sua opinião a decisão foi acertada, já que vários de seus colegas disseram se importar muito com o que as pessoas pensavam sobre seus números na rede social. Apesar de não se importar com isso, Luiz via as pessoas se tornando escravas da busca por popularidade virtual e criando uma certa ansiedade que pode se agravar com o tempo, possibilitando até uma futura depressão. O Brasil não é o primeiro lugar onde ocorre essa decisão, desde maio de 2019 o mesmo acontece no Canadá e trouxe resultados positivos, porém ainda é necessário ter uma visão geral a nível mundial. Apesar de ser apenas uma fase de testes, a curto prazo a medida passou a impressão de que a empresa se preocupa com o bem-estar dos internautas já que agora não é mais o número de curtidas que faz um usuário ser relevante e sim a qualidade de suas postagens. Ainda é muito cedo para um diagnóstico completo e preciso, porém fica a dúvida se a motivação da empresa realmente é o prazer pessoal de seus usuários ou se pretendem utilizar a medida para interesse próprio.


Acessórios arriscados Como um pequeno brinco pode trazer consequências desastrosas Beatriz Miho Kuabara Estela Akimi Yamaguti

P

iercings são, por definição, uma modificação corporal que realiza uma perfuração para inserir uma jóia. Esse tipo de procedimento estético vem se tornado cada vez mais famoso e é a grande tendência dos últimos tempos. No entanto, custam caro e nem todos estão dispostos ou até mesmo conseguem bancar um. E, como toda cirurgia, o progresso da cicatrização pode ser demorado e carrega muitos riscos para a saúde, como infecção no local e quelóides, até a sequelas mais severas, como infecção generalizada e morte. No início do ano, o caso da Layane Dias, amplamente divulgado na mídia, veio à tona por ser uma grave ocorrência de um piercing infeccionado, resultando na paraplegia da mesma. Com o incidente, muitos jovens ficaram preocupados com as possíveis consequências de uma implantação de uma jóia nos próprios corpos. Bodypiercer ou piercer é o termo utilizado para quem é especializado em inserir piercings. Anna Thieta Moraes, funcionária do Scorpions Tattoo, está nesse ramo há 20 anos e afirma que bodypiercer com menos experiência pode cometer alguns erros que auxiliam a má cicatrização, como a aplicação de jóias inadequadas ou de material inferior. Quando perguntada sobre o metal, ela responde que o mais indicado para a perfuração inicial é o Titânio, pois é um tipo cirúrgico mais biocompatível e como não contém níquel, não abrange risco de reação alérgica. Anna também disse que os clientes realizam alguns equívocos, como tocar na perfuração com as mãos sujas, girar a jóia com frequência, usar spray antisséptico ou

Complicação epidérmica de um furo de piercing mal tratado.

qualquer outro medicamento, “já que o spray pode influenciar negativamente na cura”, acrescenta. Falou que todos os equipamentos são esterilizados com autoclave (aparelho que esteriliza instrumentos médicos ou laboratoriais aquecendo soluções acima do ponto de ebulição), e relatou o pior caso de piercing que já vivenciou: um rapaz perdeu parte de sua orelha por conta de uma bactéria na região perfurada. Ana Julia Cordeiro dos Santos,18 anos, estudante de psicologia pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, descreve sua experiência desagradável em relação a um piercing inflamado no nariz. Ana conta que em setembro deste ano, ela e sua amiga decidiram aproveitar uma promoção de dois piercings por cinquenta reais em um estúdio de tatuagem localizado no centro de São Paulo. Dois dias depois do procedimento, ela notou vermelhidão e sangramento no nariz. “Contatei a moça do estúdio e ela me falou que o piercing tinha enroscado na perfuração e eu teria que tirá-lo, pois estava muito machucado, e seria

Acontece • 7

melhor esperar a ferida cicatrizar”, ela diz. Apesar de ter colocado uma jóia feita de aço cirúrgico, Ana diz ter estranhado que a piercer havia esterilizado todos os materiais, mas não seu nariz, o que pode ter sido potencialmente a causa da inflamação. Simone Paiva Laranjo Martins, médica pela Santa Casa de São Paulo, alerta sobre os cuidados que devem ser tomados tanto pelos bodypiercers, quanto aos clientes que aceitam fazer algum tipo de perfuração. Um efeito colateral muito comum é a formação de quelóide (excesso de cicatrização) na região, que pode ser tratada à laser ou com corticóide, mas em casos mais extremos é necessária uma remoção cirúrgica. “Um piercing é um corpo estranho, que pode levar a um excesso de reação inflamatória, capaz de acarretar em uma quelóide”, ela complementa. Simone ainda destaca a importância de buscar profissionais capacitados e com conhecimentos médicos básicos, que tenham a responsabilidade de trabalhar em um campo higienizado e com materiais esterilizados.


Banca de tudo Jornaleiros comercializam uma infinidade de produtos, até jornais

Otelo ao lado de sua propriedade polifuncional.

Diogo Auad Thiago Pastro

A

s bancas de jornal estão cada dia mais caracterizadas como lojas de conveniência de esquina. Atualmente, os proprietários disponibilizam coisas diversas para venda. Refrigerantes, balas e chicletes, brinquedos, fumo orgânico e entre variados produtos para conseguir algum lucro. Com a extrema queda do consumo de jornais impressos, esses postos de vendas estão em sério risco de extinção. Os jornaleiros, se é que ainda podem ser chamados assim, constatam que os produtos de maior procura são os artigos de fumo, como o tabaco. Vender um jornal é raridade hoje em dia. José Otello, 57, recém dono de uma banca, conta os dias em que está trabalhando no ramo. 188 para ser mais preciso. “Comecei com uma banquinha de rua, vendendo livros. Aí depois eu e minha esposa resolvemos comprar essa banca aqui, que tava abandonada, para transformar

Bancas não estampam mais jornais em locais visíveis.

numa banca sebo”. Quando perguntado sobre a venda de jornais, Otello diz que “Se meia dúzia de pessoas compraram jornal desde que eu entrei aqui, é muito. O que sai de jornal aqui são os pacotes para pet”. Ele também constata que quem compra jornal são só os mais idosos, desacostumados com os smartphonesFica visível o processo doloroso que as bancas de jornal estão passando. Um comércio que era inteiramente voltado a vender o que não se compra mais, tem de se adaptar. “Só pessoas de idade compram jornal. Gente de mais idade não gosta de usar o celular para ler essas coisas” conta Helena Jardim, 70, dona de uma banca há 4 anos. A mesma constatação de José Otello. Relata também o fato de se sustentar majoritariamente com os artigos de tabacaria. Após perguntada sobre a decadência das bancas de jornal, falou sobre tentativas de financiamento por empresas de marketing e propaganda para expor anúncios em sua loja, como tentativa de reviver estes estabelecimentos nos dias de hoje. O que além de ir contra a lei nº 14.223 Cidade Limpa, que regula

Acontece • 8

anúncios e propaganda em lugares públicos, é inefetivo para a empresa em questão. Segundo o diretor de mídia da empresa iFood Victor Auad, 28, anúncios fora da internet são considerados muito caros para se manter hoje em dia, se fossem considerados de alguma maneira. “Para ter atenção de 1.000 pessoas no YouTube custa por volta de R$3,00. Em outdoors e placas, o mesmo efeito custa em torno de R$500,00.” Em países de primeiro mundo, os jornais são distribuídos gratuitamente em metrôs e supermercados. Isso acontece como forma de combate a estagnação das bancas, mas atrai antipatia dos jornaleiros contra a receita publicitária. Passando a impressão de estarem os invalidando. Fica claro o momento de mudanças que os gazeteiros e suas bancas estão passando, juntamente com o próprio jornalismo. Este passa por uma de suas fases mais difíceis, por conta de toda evolução que o meio comunicacional vem passando.


Sonho distante Número de inscricoes CNH`s acentua queda entre jovens Gabriel Rodrigues Gabriel Fernandes

O

momento de tirar sua primeira carteira de habilitação foi por muitas gerações uma experiência muito aguardada e um desejo de vários jovens, no entanto nos últimos anos o número de pessoas que tiraram suas carteiras diminuiu consideravelmente, isso foi um fenômeno mundial que vem ocorrendo desde 2015. Essa geração é muito mais tecnológica e tem outras preocupações aos 18/20 anos. Muitas vezes preferem o usar o dinheiro com gastos na faculdade ou consigo mesmos. Outros acham um luxo desnecessário isso devido a aplicativos de transporte

Clinica médica autorizada pelo Detran, localiza no bairro do Limao: vazia.

ou até mesmo transportes público. Levando em consideração que em 2014, 2.995.294 pessoas receberam sua primeira CNH em todo Brasil, em 2018 foram apenas 2.086.820, ou

seja, uma queda de quase um terço, isso pode ser explicado por algumas razões que variam de caso pra caso. Entre elas, está o preço de tirar a CNH, por exemplo.

Dedicação sobre rodas Natalia Belo Candido

N

o mês de agosto de 2019, motoristas de aplicativos foram autorizados a aderir ao MEI (mic roempreendedor individual), recebendo assim alguns benefícios, como auxílio-doença, auxílio-reclusão e aposentadoria por invalidez. Entretanto a decisão é para apenas os profissionais que conseguem faturar até 81 mil reais por ano, isso é, 6,7 mil reais por mês. Lucas Antonio tem 33 anos, é estudante de Engenharia Mecânica na Feg Unesp e motorista de Uber nas horas vagas. Ao decorrer de sua vida fez Processos Metalúrgicos na Fatec Pindamonhangaba. Em um período da faculdade trabalhava dando aulas e treinamentos de ultrassom industrial, também já trabalhou com

Um dia de trabalho de Lucas.

ultrassom em algumas fábricas espalhadas pelo vale e litoral mas uma parte desempregado. Lucas terminou uma obra ao fim de 2018 e saiu à procura de emprego, como não encontrou resolveu trocar de carro e virar Uber. Diz que Uber não atrapalha tanto os estudos, por conta da fle-

Acontece • 9

xibilidade de horário e também pode carregar livros no carro para estudar entre as corridas, já que em cidades do interior o movimento nem sempre é grande. “Uma dica é que para trabalhar e estudar, saiba que o tempo livre é muito reduzido, então tem de haver muita disciplina.”


Compartilhando o bem Ton Brunno

H

á dois anos, o projeto Rua Cidadã promove

um grande evento na rua Barão de Itapetininga, 140, região central de São Paulo. A ação consiste em promover higiene, alimentação, moradia, documentação e meio ambiente especialmente para moradores de rua. O projeto é uma parceria da Prefeitura de São Paulo, Policia Militar, o Instituto Presbiteriana Mackenzie e as ONGs, O Bem Conecta, Rede Social do Centro, e uma grande quantidade de voluntários ligados a essas instituições. A reportagem do Acontece acompanhou a ação que ocorreu no dia 13 de agosto na rua Barão de Itapetininga das 9h às 15h. Em contato com diversos moradores de rua a reportagem identificou alguns depoimentos de abandono e descaso. Alguns casos chamaram atenção como o de Fernando Amorim, 25 anos que mora na rua

há 13 anos e tem como seu sonho ser feliz. “faz 4 anos que não tenho um sapato diferente e já já não dará mais para usar esse” contou Fernando à reportagem, entre lagrimas que escorrem pelo seu rosto, e qualquer pessoa que tivesse presenciado teria uma vontade de abraçar e tentaria conforta-lo com palavras de esperança para aliviar sua dor. Ao caminhar um pouco mais pela rua, abordamos Paulo Alberto dos Santos, 46 anos, tinha mais ou menos 1,65 de altura. Paulo, logo pediu dinheiro, e percebemos o cheiro do álcool que estava exalando por todo o ambiente, Paulo relatou que era dependente químico e alcoólatra “esse foi um dos motivos que estou morando na rua, há aproximadamente 20 anos, durmo em albergues e assim vou levando a vida.” Esse relato só mostra o grande índice de pessoas que moram nas ruas. Paulo retrucava a mesma resposta duas vezes e quando errava tentava concertar, muito embriagado citou a seguinte frase “O governo de São Paulo ajuda muita gente, não tenho o que reclamar, por-

Projeto Rua Cidadã reúne voluntários em ações na região central de São Paulo.

Acontece • 10

que ninguém é obrigado a cuidar de ninguém, tenho banho, cama, e ainda tenho café, se não fosse eles o que seria de mim? Dormir nas ruas todos os dias? Eu não quero, o chão é muito frio.” Depois dessa frase, Paulo cortou o cabelo e a barba para ficar mais apresentável. “não é porque sou morador de rua que tenho que andar sujo.” Os moradores de rua sofrem com a situação precária no dia a dia, mas de longe todos percebem a alegria no olhar de cada um e com coragem, eles seguem firmes e fortes para tentar vencer um dia na vida. Ao final do evento, avistamos Mauro Batista, 56 anos, morador de rua há 3 anos, estava dando uma forcinha para os colaboradores do evento, varrendo os cabelos do chão, logo em seguida era a sua vez. Mauro, olha com olhar fixo e diz “não tenho família, durmo em pátios de alguns colégios e as vezes durmo na praça da Sé.” Mauro, ainda finaliza a entrevista dizendo “quero me aposentar por invalidez este ano, para tentar uma vida melhor.”


Depressão não escolhe idade Com o crescimento de 705% em 16 anos, o Brasil atinge a faixa de 8 milhões de crianças depressivas

É necessário estar atento em toda atitude diferente da criança. Palestra da ESBAM esclarecendo questões importantes sobre a depresssão infantil.

Giovanna Domiciano

A

depressão é uma doença que tem ganhado grande proporção na população mundial nos últimos anos. Ela é considerada um transtorno mental que produz alteração de humor caracterizada por uma tristeza profun-

da, baixa autoestima, distúrbio do sono e apetite, sentimentos de dor e até falta de concentração. A Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta para o aumento progressivo de casos de depressão no mundo. Entre 2005 e 2015, o número de casos cresceu para 400 milhões de pessoas afetadas no mundo, gerando gastos de até 800 bilhões de dólares por ano. Este problema atinge principalmente a faixa etária infanto-juvenil. Segundo a OMS, 8% de meninos e meninas em todo o planeta enfrentam

a doença atualmente. No Brasil, 11,5 milhões de pessoas sofrem com a depressão, sendo 8 milhões de crianças.Neste caso, há algumas diferenças com a depressão na fase adulta. As crianças aceitam a depressão como um fato natural, embora estejam sofrendo, não sabem que aqueles sentimentos podem resultar em uma doença e que precisam de ajuda. A depressão infantil aparece a partir dos 3 anos, podendo dar continuidade na fase adulta caso não seja tratada. A cobrança exagerada por parte dos pais e da sociedade em relação ao desenvolvimento da criança, a falta de contato da criança com os pais em função de suas responsabilidades profissionais - o que impede que haja um vínculo - são fatores que contribuem para o desenvolvimento de transtornos, sendo a depressão infantil um deles, e que afeta diretamente o desenvolvimento psico-social e

Acontece • 11

acadêmico da criança. Ter algum distúrbio psiquiátrico, como déficit de atenção e hiperatividade e transtornos de ansiedade, é outro fator que abre precedente, a maioria dos casos em meninas devido a sua vulnerabilidade.Luis Henrique Fernandes Carou tem 29 anos e hoje é formado em Psicologia, mas, aos seus 6 anos teve depressão devido à falta de afeto dos seus pais e avós. “O meu avô é espanhol e ele tinha preconceito porque a minha mãe era a única morena da família; ele dava as coisas para as minhas primas e não para mim, só que eu não tinha essa percepção, o meu pai percebia e por causa disso ele descontava em mim e no meu avô, que a cada dia me tratava mais mal. Então eu fiquei em uma situação sem saída em que eu estava sendo maltratado por todos os lados” relata. “A minha depressão veio porque eu tinha cansado de reclamar, chorar,


Giovanna Domiciano

então eu fui guardando tudo para mim e desencadeou isso”. Este período da vida do psicólogo ainda tem alguns reflexos na pessoa que ele é hoje. “Eu vejo que ainda sou uma pessoa introspectiva. No meu casamento é muito complicado me mostrar vulnerável ou falar que estou com alguma dificuldade, eu não dou o braço a torcer. No trabalho eu sou muito perfeccionista porque não gosto de ser criticado”. Problemas familiares são os principais ganchos para uma criança desenvolver a depressão. A psicóloga Daniela de Oliveira Paiva trabalha há 4 anos atendendo crianças e adolescentes no Centro de Capacitação para a Vida (CCPV) e alerta que a criança é reflexo daquilo que vive em casa. “Tudo se inicia dentro do convívio familiar”, afirma. Alguns aspectos do comportamento infantil podem revelar que a depressão está instalada. As causas são multifatoriais. Por natureza, a criança está sempre em atividade, explorando o ambiente, querendo descobrir coisas novas. Quando se sente insegura, se retrai e o desejo de exploração do ambiente desaparece. Por isso, é preciso estar atento quando ela começa a ficar quieta, parada, com muito medo de separar-se das pessoas que lhe servem de referência. A psicóloga relata um ocorrido de uma criança que presenciou a separação dos pais e foi usada pela mãe para saber se o pai estava se relacionando com outra pessoa. “A criança trouxe isso em consultório para mim durante uma seção e disse ‘tia, a minha mãe fica mandando eu mexer no celular do meu pai para ver se ele tem uma outra amiga, com quem ele esta falando’”. Segundo a psicóloga, o único desejo da criança era viver como tal. Na criança, mais frequente que a tristeza é a irritabilidade, mau humor e anedonia, que é a falta de prazer com as atividades habituais, como

Psicóloga do CCPV, Daniela de Oliveira Paiva.

brincar, sair com os amigos, jogar vídeo game, assistir desenhos e desenhar com cores escuras, e nos dias atuais a tecnologia tem ocupado o lugar desses afazeres das crianças, podendo ser um grande canal da depressão. O tratamento para uma criança depressiva não é diferente de um adulto. “Acompanhamento de sessão terapia tanto com as crianças quanto para os pais pois eles tem que reforçar a autoestima da criança e mudar os hábitos; os pais tem papel fundamental para evitar a manifestação da doença. Até os 9 anos tratamos com a terapia, com o lúdico, o brincar e desenhar. Após isso encaminhamos para um psiquiatra que passa medicação, antidepressivo e estimulador de humor” diz Daniela.Com o objetivo de previnir e alertar, a Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP) criou a campanha “Maio Amarelo – Depressão entre crianças e adolescentes: pare, observe e acolha”, atuando em vários níveis e instancias que lidam com crianças e adolescentes para oferecer meios de detecção, acolhimento, prevenção e tratamento da depressão, contando com profissionais das áreas da saúde, educação e representan-

Acontece • 12

tes de escolas públicas e privadas. Outro projeto criado no estado do Amazonas é o “ESBAM vai às Escolas“, feito por professores e alunos finalistas do curso de Psicologia da Escola Superior Batista do Amazonas, que, de forma supervisionada, fazem palestras nas escolas públicas no sentido de prestar apoio psicológico às crianças e adolescentes que, muitas vezes, não sabem lidar com determinadas fases da vida. A coordenadora da Clínica de Psicologia da ESBAM, Ana Margareth Almeida Braga Maia diz que o projeto surgiu após uma demanda muito grande enviada por uma escola da rede estadual de Manaus. “Foi muito satisfatório ver que as escolas começaram a nos acolher assim como os pais deram continuidade ao tratamento” diz a coordenadora. A clínica tem o objetivo de promover a saúde mental das crianças para que elas possam ter o conhecimento de como ajudar um colega ou parente que precisam de ajuda. “Trabalhamos focados por turmas, não usamos grandes auditórios, atendemos individualmente e após as palestras encaminhamos os casos pontuais para a clínica para maiores cuidados” explica Ana Margareth.“


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.