JORNAL-LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE - ANO XX - ED. 232 - NOVEMBRO / 2020
REDES SOCIAIS GANHAM NOVAS VOZES - 3 LEIA TAMBÉM:
A REINVENÇÃO DA ARTE EM TEMPOS DE PANDEMIA - 4 ADOLESCENTES APOSTAM EM E-COMMERCE- 6 TRABALHADORES SÃO VÍTIMAS DO COVID - 8 SOLIDARIEDADE EM TEMPOS DIFÍCEIS - 9 FASHION E SUSTENTÁVEL - 11 VAI TER CARNAVAL? - 12 O SHOW DEVE CONTINUAR - 14
Setor de turismo tenta se reeguer Agentes de viagem explicam como o setor turístico foi abalado e falam sobre lidar com a crise em agências durante a crise do novo coronavírus Carolina Trancoso de Sena Ana Luiza Ferraz de Carvalho Santos
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turismo é um dos setores que mais foram afetados por conta da pandemia. Um estudo feito pela Fundação Getúlio Vargas estima que só no Brasil o turismo deve ter uma perda de mais de R$ 161 bilhões. Junto do turismo, companhias aéreas e redes de hotelaria também foram um dos setores mais afetados devido às medidas de isolamento social. O medo e a incerteza tomaram conta do desejo de viajar, mas isso não fez com que as viagens de fato acabassem. O que temos observado é a grande mudança das opções de destino. Os destinos nacionais têm sido os grandes “queridinhos” do momento. Hotéis e restaurantes têm se adequado aos protocolos de higiene. Devido à crise ocasionada pelo Coronavírus “as passagens aéreas estão com preços mais altos, e o hotéis estão com as acomodações reduzidas, mas, ainda assim, temos encontrado bons preços na parte terrestre”, é o que diz o agente de viagens Esdras Machado, 29. O agente conta que do mês de fevereiro em diante o mercado do turismo parou e as viagens que tinham sido programadas de março a agosto foram canceladas, embora muitos destinos tenham se preparado bem para a retomada. Em alguns casos, foram solicitados reembolsos e remarcação foi e ainda tem sido opção dos clientes. Com a flexibilização do distanciamento social e os protocolos de higiene, a procura por viagens tem aumentado, “não se trata só de lazer, viajar, hoje, significa saúde e há uma necessidade de viajar”, diz o agente. Os destinos que tendem a ser
mais procurados são os nacionais, “com uma alta demanda que tendem a ser mais procurados são os nacionais, “com um alta demanda devido ao fechamento das fronteiras, ao preço do dólar e de euro, o turismo brasileiro só tem a ganhar”, diz Esdras. Logo, os destinos internacionais são os menos procurados. “A Europa é um destino que os brasileiros amam e atualmente tem sido bem menos procurado. Temos reparado que grandes fornecedores estão fazendo grandes ofertas, muitos descontos para atrair novamente brasileiros”. O agente de viagens diz que tem visto uma alta procura por Resorts e Resorts All Inclusive, tanto no nordeste como no sul do país. “O Nordeste sempre foi muito vendido antes da pandemia, porém com a retomada da atividades, temos recebido muitas solicitações de orçamento e compras para viagens. Com o calor durante o ano inteiro e praias paradisíacas, há uma grande procura por destinos como Maceió (Al), porto de Galinhas (PE), Maragogi (RN), Fortaleza (CE), Praia do Forte (BA) e Porto Seguro (BA). “Ainda encontramos alguns valores em conta, mas são somente em alguns períodos”, é o que diz a, também agente de viagens, Luana Korolkovas Galuzzi, 21. Ela ressalta que mesmo que em junho os preços tenham ficado abaixo da média dos
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anos anteriores, os preços já estariam normalizando. A agente conta que durante o home office, no mês de maio, o momento estava difícil e a procura por viagem era baixíssima. Com o passar do tempo, a retomada foi aumentando e em setembro, a busca voltou forte, porém, sempre, para datas próximas. Sobre os destinos menos e mais procurados, Galuzzi explica “normalmente os destinos mais procurados são o Nordeste e hotéis fazenda no interior de São Paulo”. Enquanto os menos populares estão ligados ao frio, como por exemplo o Sul, cidades como Gramado e Florianópolis.
Jornal-Laboratório dos alunos do 2o semestre do curso de Jornalismo do Centro de Comunicação e Letras da Universidade Presbiteriana Mackenzie. As reportagens não representam a opinião do Instituto Presbiteriano Mackenzie, mas dos autores e entrevistados. Universidade Presbiteriana Mackenzie
Centro de Comunicação e Letras
Diretor do CCL: Marcos Nepomuceno Coordenador do Curso de Jornalismo: André Santoro Supervisor de Publicações: José Alves Trigo
Editor: José Alves Trigo Impressão: Gráfica Mackenzie Tiragem: 100 exemplares.
Redes sociais ganham novas vozes O sonho de muitos jovens é tornar-se digitar influencer Bianca Nascimento Costa Bruna Aída Festa Martinho
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egundo o site Social Media Today, houve um aumento de 20% no período em que os usuários estão ficando conectados nas redes sociais e plataformas de compartilhamento. Com isso, o isolamento social transformou as redes sociais em palcos de debates ácidos com diversos “palestrantes”. Temos as lives que ocorreram durante todo o período inicial da pandemia. Assim o Instagram se tornou um espaço muito importante para difusão da informação e debates políticos, ideológicos entre outros. Andressa Osako, 20 anos, estudante de Letras na USP e professora de inglês na Maple Bear, com 1.528 seguidores na conta @andressaosako, fala sobre o processo de autoaceitação, gordofobia. A mensagem passada aos seus seguidores é que está tudo bem estar fora do padrão de beleza e não se amar em determinados momentos. “O processo de se aceitar não é linear, assim como qualquer outro”, disse. A liberdade de ser quem você é sem se sentir preso a um padrão que não lhe define — que apenas prende e machuca —, existe. Osako confessou que desejava ter ouvido essas palavras quando era mais nova. De acordo com ela, falar sobre gordofobia, como qualquer outro preconceito, é sempre muito importante. Embora ainda não seja o suficiente, evoluímos bastante acerca do racismo, com o movimento Black Lives Matter (Vidas Negras Importam), e da homofobia, com o movimento LGBTQI+. Entretanto, Andressa não sente o mesmo a respeito da gordofobia. As pessoas estão se machucando e cobrando muito de si mesmas por não fazerem parte de um padrão que não as faz bem. Ela decidiu se tornar influenciadora digital durante esse período por ter tido mais tempo para se co-
Fabiana Lima é maquiadora
Integrantes do podcast Mesa Para Quatro.
nhecer e refletir sobre o seu processo de autoaceitação, contudo, não pretende continuar atuando com a mesma frequência quando voltarmos à normalidade. Na área, descobriu-se tanto como sendo empática, comunicativa, menos autocrítica consigo mesma e maior do que achava que fosse. “Está tudo bem você não ter uma barriga negativa, está tudo bem ter o nariz um pouco maior e está tudo bem pesar mais do que 80kg. Foi muito difícil para eu compreender isso e espero estar ajudando outras pessoas a perceberem o mesmo”, relatou. Por mais que tenha recebido vários comentários negativos, para ela, tem sido algo muito bom, além disso, criou uma rede de apoio incrível para si e o próximo. Fabiana Lima da Silva, 19 anos, estudante de Jornalismo na UNIP, com 13.6 mil seguidores na conta @iamfabiana, iniciou o projeto de postar vídeos e fotos sobre maquiagem não muito antes da pandemia, mas foi durante essa época que adquiriu um pouco mais de tempo para o Instagram. Como jornalista em formação, ela já pretendia trabalhar com interação e comunicação “nas aulas, ficava fascinada”. Apesar de ter se decidido apenas este ano, a web a conquistou e Lima pretende seguir com as suas postagens, assim conseguindo alavancar o seu sonho de viver por meio da internet fazendo maquiagem. Para ela, no momento, as pessoas estão muito frágeis, ansiosas e com problemas, por isso, Silva tenta melhorar a autoesti-
ma do seu público por meio de vídeos animados e descontraídos. “É muito gratificante aliviar a tensão dos meus seguidores nem que seja por alguns minutos”, constou. Rivelino Agra, 18 anos, estudante de Letras no Instituto Singularidades, educador social não formal em uma ONG de recreação pedagógica e interprete de Libras representa o podcast @mesaparaquatro_, apresentado por ele, Bruna Lucas, Daniel Alves e Guilherme Gaudencio. Diz que o seu trabalho, desenvolvido junto com os seus colegas, traz autoconhecimento e respeito ao próximo, transformando o saber em algo fácil e divertido. Ademais, ele deseja continuar levando informação, vivência e notícias verdadeiras à comunidade LGBTQI+ e às pessoas que se identifiquem com suas experiências. Inicialmente, o objetivo não era ter grande visibilidade, todavia, Agra acredita que isso tenha sido consequência do esforço dele e dos demais participantes que tornaram a obra tão acessível, incluindo até mesmo legendas para aqueles que não conseguem ouvir ou têm dificuldades. “Descobri-me muito mais como comunicador. Não vejo mais essa realização como uma distração, entretanto, como um trabalho; um compromisso”, enunciou. Porém, no podcast, as pessoas só escutam a sua voz, dessa forma, Rivelino precisa traduzir todos os seus gestos corporais e expressões faciais na sua fala, o que foi um desafio no começo, segundo ele.
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A reinveção da arte em tempos de pandemia A utilização de vaquinhas online busca auxiliar na complementação de renda de artistas que tiveram suas atividades paralisadas.
Geyza Melo e Regiane Lins
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surgimento do novo coronavírus não restringiu os seus impactos apenas à àrea da saúde. Atingiu também a economia mundial. As consequências da crise econômica global afetam a todos, mas os estragos causam maiores impactos naqueles que já enfrentavam dificuldades antes da pandemia; podendo ser citados os artistas independentes, que tinham a arte como única fonte de renda. Com o cancelamento das apresentações, aqueles que viviam exclusivamente
da arte deixaram de gerar renda. A solução encontrada, por alguns deles, foi a utilização de vaquinhas online para a complementação. O maior site de vaquinhas online teve um aumento de 93% em relação ao ano passado, sendo 380 mil novas contas. Essa iniciativa pode auxiliar e desafogar os artistas que sofriam com a falta de caixa devido à escassez de apresentações, destacando-se como uma entre muitas formas de reinvenção da arte em meio ao mundo pandêmico. “Na verdade, uma grande parte dos artistas de rua nem sequer tem um lugar pra morar ou um sim-
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ples celular pra poder se apresentar virtualmente e, além disso, como se sabe muito bem, “likes” não compram comida, não servem como pagamento de aluguel e muito menos esquentam nesse frio que está chegando em BH”, defendeu o grupo musical “O Trem” em sua página feita em um site de vaquinha online. Víctor Diz, 20 anos, Vítor Siqueira, 21 anos, e Yasmim Salim, 22 anos, integram a banda, que realizou a vaquinha com o objetivo de ajudar um colega que passava por dificuldades. A banda conseguiu arrecadar 1.281,00 reais. A iniciativa realizada pelo grupo “O Trem” ressalta a mobilização do meio artístico para enfrentar essa conjuntura causada pela disseminação do coronavírus. Essa situação também se repete com outros artistas como Bianca Lana, 23 anos, natural de Ribeirão Preto, mas que reside atualmente em Uberlândia - MG, estudante do 4º ano de Licenciatura e Bacharel em Artes Visuais pela UFU. Logo no início, Bianca sentiu a necessidade de se reinventar. “Não conseguia produzir nada no quesito artístico e começou a especular que minha profissão, assim como as demais áreas da cultura, deixariam de
existir, que nada mais faria sentido pós-pandemia”. Decidiu então começar a fazer encomendas de retratos digitais e a desenvolver produtos para vender em sua lojinha virtual tentando, assim, arrecadar algo. No começo a demanda de encomendas era baixíssima, mas aos poucos o plano começou a dar certo. Foi enriquecendo o portfólio e sendo indicada para outros clientes. “Ainda não estou consolidada no mercado de ilustração, mas consegui bancar meu aluguel e contas nos últimos três meses por conta própria, sem as bolsas da universidade. Talvez seja apenas uma maré de sorte, mas neste momento tenho conseguido me dedicar aos trabalhos com arte no tempo livre”. Além de contar com seus trabalhos, Bianca também criou uma vaquinha online para ajudar em questões pessoais, ela conseguiu arrecadar 2.981,00 reais. Mais um grupo de artistas que teve que se reinventar foram os artesãos de rua, Jamille Carolina Georgi, 19 anos, Rio Grande do Sul contou sobre como foi a continuidade deste trabalho, especificamente entre as mulheres, durante a pandemia. “Estou buscando bastante a internet, tanto que criei uma feira online com o intuito da gente poder comercializar, não só eu, como todas as artesãs”. Apesar dos esforços, os resultados não têm sido os mesmos, o número de vendas sofreu uma queda significativa. Para lidar com isso, foi necessário buscar novas alternativas. “Junto com a feira online, tivemos a ideia de criar uma vaquinha porque não é tão fácil vender pela internet, o valor arrecadado foi dividido igualmente para 50 mulheres, e foi de grande ajuda nesse momento difícil para trabalhar”. A feira conseguiu 1.090,00 reais na sua primeira vaquinha e 185,00 na segunda. O dinheiro arrecadado não ajudou somente a Jamille, mas também outras 50 mulheres. Assim como a Feira Online de Rua, o movimento “Crespow!” também realizou arrecadações para um grupo de dez artistas, conseguindo levantar
6.382,00 reais. Entre eles estão o ateliê Lady Brown, liderado por Cristina Fernandes, 26 anos, São Paulo, e a dupla musical Fuzzuês, composta por Uly Nogueira e Mariô Onofre. “Foi mais para ajudar os artistas, e para não deixar a arte morrer né. Isso foi um incentivo pra continuar na arte. é não dá pra ficar esperando que algum sistema venha contribuir então a gente precisa realmente se comunicar, fazer, se movimentar, para que a gente possa ter o mínimo de continuidade no que a gente acredita”, contou a dupla Fuzzuês. O duo tinha a ideia de fazer um som descolonizado, juntar batidas de tambor, e trazer letras da ancestralidade deles, então eles se juntaram e começaram a compor, dando início à parceria. Já Cristina Fernandes teve sua carga de trabalho diminuída durante a pandemia, isso possibilitou que ela tivesse tempo para criar uma plataforma com o intuito de mostrar para o mundo o seu trabalho, tendo como resultado a criação do Ateliê Lady Brown. O crescimento do número de contas de artistas, no site de vaquinhas online, vem de uma tentativa de conseguir apoio, uma vez que não houve nenhuma iniciativa que visasse auxiliar o meio artístico diante a paralisação das atividades. Entretanto, esse posicionamento em relação aos artistas independentes sempre se manteve assim, “esse descaso sem-
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pre existiu, a gente sempre teve que se reinventar, desde sempre, culturalmente, socialmente, sempre tivemos que estar a frente e se virar pra conseguir o mínimo.” Se por um lado, a arte não ocupava um lugar de destaque na vida do brasileiro durante os últimos anos, agora, em meio à pandemia, ela tem sido uma forma de fuga da realidade, que nunca foi tão necessária, dentro dos problemas globais que estamos enfrentando. “Eu acho que a arte tende a ser mais valorizada, porque durante a pandemia a gente ficou preso em variações artísticas, como filmes e músicas, que nos ajudaram a passar por esse momento. Agora, conseguimos olhar para nossa vida e pensar acerca da arte que nós consumimos”, destacou Cristina Fernandes. Sendo assim, a pandemia evidenciou a inconstância do tempo, os eventos se transformam sem que a gente possa ter controle sobre eles. Vivemos agora o “novo normal” e o nosso olhar em relação ao mundo e a arte se transformou. “Os trágicos acontecimentos nos machucam, doem, mas são justamente nesses momentos que precisamos fazer barulho. Cada vez mais eu vejo como a arte é uma ferramenta política e o quão importante é dar voz aos discursos que nos atravessam. Eu e os demais artistas seguimos, tentando pintar um bom futuro - se possível.”, ressaltou Bianca Lana.
Adolescentes criam lojas virtuais Menores 18 anos aproveitam o período de isolamento social para promover vendas Ana Carolina do Nascimento Yamazaki Heloísa Marques Barbosa
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quantidade de lojas virtuais vem aumentando simultaneamente com a ascensão das redes sociais, aproveitando seus benefícios. Por isso, um termo chamado “e-commerce” surgiu, que se trata da venda de produtos ou serviços por meio de um contato virtual e remoto entre consumidor e empreendedor que envia a compra para o endereço do cliente. Exatamente pelo fato dessa falta de contato físico, negócios desse modo foram popularizados durante o período de isolamento social. Uma pesquisa feita pela ABComm mostra que 80 mil lojas virtuais surgiram nesse período, evitando uma possível contaminação do covid-19. Dentre esses empreendedores, existe uma grande parte que engloba menores de 18 anos, que usam seus perfis e de seus amigos em diversas redes sociais para divulgar o trabalho, o que acaba facilitando o aumento das vendas. “Decidi criar a loja para ter um dinheiro extra, com o tempo fui pegando o gosto e me apaixonando, até que percebi que isso era o que eu realmente quero pra mim”, diz Sthefany Victoria Maia Zamprogna, 17, dona da loja online Maia Bijux, atualmente com mais de 4 mil seguidores no Instagram. Desde fevereiro, com a criação da conta, Sthefany já vendia algumas bijouterias, porém com o início da quarentena, aproveitou para investir mais no seu negócio e expandir o estoque, adicionando mais acessórios, eventualmente criando um site destinado a expandir a comercialização para todo o Brasil. A proprietária da Maia Bijux relata que cuida de seu negócio sozinha, desde a parte da divulgação até a entrega, além de contar com a ajuda de sua família assim que necessário, o que definitivamente acaba facilitando assim como seu gosto pelo o que faz. Ela acredita que o planejamento
Mariah Tura
Sthefany Maia
de seu tempo é essencial, apesar de ter outros afazeres, como trabalhar no restaurante de sua mãe. “Se eu conseguir acabar as oito [horas da noite], perfeito. Mas, se eu tiver que acabar uma hora da manhã, eu continuo” afirma a empreendedora sobre sua loja. Por outro lado, Mariah Tura de Souza, 17, possui uma equipe que conseguiu contratar com o crescimento da loja. O entregador e o assistente geral colaboram no gerenciamento de suas vendas de doces, que recebe o nome de Atêlie Tura, com mais de 2 mil seguidores no Instagram, atendendendo também via WhatsApp. Ela conta que ano passado já vendia geladinho gourmet em sua escola para gerar uma pequena renda, com o desenvolvimento de seu novo negócio, atualmente lucra aproximadamente de 2.500 a 3.400 reais mensais, e acaba conseguindo reinvestir esse dinheiro no ateliê, por estar ainda morando com sua mãe. Para que o sucesso no e-commerce seja obtido, é importante saber que as redes sociais podem ser consideradas umas das principais formas de divulgação, pois facilitam e agilizam as vendas. Uma foto ou vídeo podem demonstrar a qualidade do produto vendido. “Não vendemos produtos, vendemos experiências e é um critério bem rígido do nosso negócio” revela Mariah, que acredita que é evidente a necessidade da dedicação às redes sociais nesse ramo,
além praticidade e um bom preço do produto vendido. Além disso, é imprescindível um bom atendimento. “Sempre trato elas com naturalidade, como amigas, valorizando a relação de pessoa para pessoa”, Stefany diz a respeito entre cliente e vendedor, que acaba resultando em recomendações de suas clientes para conhecidos, consequentemente aumentando seu lucro. Inclusive, ela comenta que possui algumas estratégias de marketing e venda, como brindes, clientes vips (recebem prioridade nas próximas compras), boa qualidade, box mensal (que funciona como uma assinatura de produtos), descontos e outras. Em prova disso, foram entrevistadas uma consumidora de cada loja, para que dessem seu feedback em relação às compras feitas. Estar ligada nas novidades e no que criam de diferente no mercado durante o isolamento social é muito importante, já com a quarentena o nosso foco nas redes sociais acaba aumentando, na opinião de Letícia Jeanine Topasso, 17, cliente vip da Maia Bijux, que diz comprar no mínimo duas vezes por mês. Ela diz que considera especial cada detalhe, desde o “atendimento verdadeiro” até a entrega dos pedidos, que segundo Letícia são feitos com muito carinho e atenção. A outra entrevistada foi Júlia Sayuri Danno, 17, uma cliente fiel do Ateliê Tura, que por conhecer a dona há um tempo, comprava os geladi-
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nhos na escola, além de destacar que atualmente compra pelo menos uma vez ao mês os diversos doces da loja de Mariah. Alegando que continuará comprando futuramente as sobremesas, ela adiciona que a aparência condiz com a qualidade, assim como os preços serem justos. No que diz respeito a iniciativa de criação de um e-commerce, as entrevistadas concordam até certo ponto. Letícia, afirma que já pensava em criar algo como uma marca, e conhecer a Maia Bijux acabou a inspirando de certa forma a ter seu próprio negócio. Júlia, apesar de sempre ter gostado de fazer doces, por influência de sua mãe, diz que não se vê seguindo esse caminho, mas que se isso acontecesse, preferiria fazer salgados mesmo estando focada nos estudos atualmente. Levando em consideração o posicionamento das vendedoras entrevistadas de continuar ou não seus negócios, mesmo com o fim do isolamento social, é possível dizer que ambas pretendem seguir investindo em seus respectivos ramos. “Tenho muitas metas, sonhos, planos, e estou bem segura em relação à isso, me sinto muito esperançosa”, relata Sthefany, que vem cada dia conquistando mais seguidores diariamente, o que consequentemente acaba também aumentando o número de vendas, acarretando sua renda pessoal e profissional. Sob outra perspectiva, Mariah conta que jamais esperaria que uma venda de Geladinhos no colégio viraria sua vida de ponta cabeça em todos os sentidos positivos, sempre reflete e tenta aprimorar suas formas de expansão, de divulgação e de crescimento, já que isso acaba influenciando diretamente na repercussão de seu comércio. Quanto a possibilidade de abrir uma loja física, ambas demonstram interesse futuramente caso tenham a oportunidade, e concordam que isso deve ser feito com o tempo ideal. “Tudo é um processo, dependo de clientes, grande demanda, uma estrutura e muito aprendizado. Não é por medo, e sim respeito ao processo!”, declara a dona do Ateliê Tura, que com muita dedicação tam-
Produtos ateliê Tura
Produtos Maia Bijux.
bém está com sua crescendo cada dia mais. Enquanto isso, a dona da Maia Bijux acredita que a loja física, de fato, acaba abrindo portas para mais oportunidades, a fim de aumentar a visibilidade da loja, por conseguinte crescendo ainda mais o número da clientela, por não depender apenas da divulgação virtual. Atualmente, ela já está fazendo planos para que em um futuro não tão distante ela consi-
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ga abrir sua loja física. Por fim, pode se concluir que o e-commerce pode ser considerado uma grande oportunidade para aqueles que pretendem conquistar certa renda, sendo ela extra ou primária, pois as vendas podem ser feitas em qualquer ramo comercial, basta conhecer e estudar o produto vendido para que seja feito com maior qualidade e valorização do mesmo, atraindo assim o máximo de clientes possíveis.
Trabalhadores vítimas da Covid Como estão vivendo os trabalhadores que foram demitidos devido à crise nas empresas
Lucas Monteiro e Thomas Kronig
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o Brasil, dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), anteriores à pandemia, apontavam que havia cerca de 12 milhões de desempregados. Havia ainda, aproximadamente, 38 milhões de brasileiros em trabalhos informais. Para associações e especialistas ouvidos pela BBC News Brasil, a estimativa era de que os dados de desemprego teriam um crescimento expressivo durante e após a pandemia. Os números, segundo alguns especialistas, poderiam passar de 20 milhões de desempregados, de acordo com pesquisas realizados em março. Quando a pesquisa teve início, na primeira semana de maio, eram 9,8 milhões de pessoas desocupadas. Na comparação com a terceira semana de julho, houve aumento de 550 mil pessoas entre os desocupados. A população ocupada do país foi estimada em 81,2 milhões, estável em relação à semana anterior e com queda em relação à semana de 3 a 9 de maio, quando 83,9 milhões de pessoas entravam nessa categoria. Entre março e junho, em que o país passou pela pandemia de covid-19, cerca de 3 milhões de pessoas ficaram sem trabalho. Na quarta semana de julho, a taxa de desocupação chegou a 13,7%, o que corresponde a 12,9 milhões de pessoas. Os dados são da edição semanal da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) Covid-19, divulgada em 14 de agosto pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Essa alta acompanha o aumento na população desocupada na semana, representando cerca de 1,1 milhão a mais de pessoas à procura de trabalho no país, totalizando 13,7 milhões de desempregados. Os dados foram divulgados em setembro pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
João Batista Calaça era porteiro
Paula era gerente de loja
Paula Figueroa, de 52 anos, formada em Administração de Empresas e Comércio Exterior foi demitida da loja Roberta Magalhães Artigos Infantis no Shopping Iguatemi, em São Paulo, na qual trabalhava como gerente. No emprego, Paula recebia R$ 8.500 de salário fixo mais comissão. O contrato de locação da empresa com o shopping terminou, resultando no fechamento da loja que trabalhava. Paula trabalhou durante cinco anos na loja de artigos infantis e, em março, perdeu seu emprego junto com mais seis funcionários, os quais também foram demitidos. Paula está há seis meses desempregada, desde que demitida, em março. Ela é casada e mora com o marido, Márcio Figueroa, autônomo, proprietário de uma empresa de confecção de uniformes. A gerente deseja continuar na área de administração de empresas e gerenciar o negócio do marido. “Na realidade, hoje, eu trabalho com meu marido. Ele tem uma empresa de confecção de uniformes e, é assim que estamos nos virando”, respondeu Paula quando perguntada se está trabalhando e como está lidando com a falta do emprego.
A administradora não conhece nenhuma pessoa que sofreu reajuste salarial. Além disso, ela contou que sua sobrinha também foi demitida devido à pandemia. João Batista Calaça, de 45 anos, e 2° grau completo foi demitido da Secretaria Municipal de Educação de Botucatu, na qual trabalhava como porteiro. Houve uma quebra no acordo e o porteiro não teve o contrato renovado com a empresa. João foi demitido em março e está há seis meses desempregado. João é solteiro e mora com a mãe em Botucatu, no interior de São Paulo. Ele recebia um salário mínimo e meio como porteiro da Secretaria Municipal de Educação. “Eu recebo o auxílio emergencial do Governo e minha mãe recebe aposentadoria de meu pai (ex-marido de Ana Maria)”, disse João ao ser perguntado como está lidando com o desemprego. João conhece, no mínimo, oito pessoas que foram demitidas em meio à pandemia do novo coronavírus. “No momento, eu estou aberto a novas possibilidades e não tenho o desejo de seguir na mesma área”, respondeu João ao ser questionado se deseja continuar na mesma trabalhando como porteiro.
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Solidariedade em tempos de pandemia Grupos se uniram para ajudar os mais vulneráveis durante a crise do coronavírus Marina Luccas de Azevedo
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solidariedade é um sentimento que cresceu durante a pandemia. Vários projetos de cidadãos foram os responsáveis por ajudar aqueles que já antes mesmo desse período difícil, viviam em situação de vulnerabilidade. Foi no meio desse caos que o Projeto Unidas para o Bem nasceu, com o objetivo de ajudar esses que mais precisavam. O projeto foi idealizado pela enfermeira Cláudia Cravo, que se uniu com outras mulheres moradoras de um condomínio da zona norte de São Paulo com o propósito de ajudar as pessoas mais necessitadas como moradores em situação de rua e comunidades. Três vezes por semana algumas das voluntárias saem para entregar marmitas, kits de higiene e roupas para as comunidades, além de qualquer outra doação que receberem. Uns ajudam na doação de alimentos, outros na preparação e montagem e outros na entrega nas ruas. Em entrevista Claudia Cravo, idealizadora do Projeto Unidas para o Bem, mostra como surgiu a ideia de ajudar tanto moradores de rua quanto moradores de comunidades. Ela explica que o projeto nasceu sem querer e que como é enfermeira, sempre gostou de ajudar os mais necessitados. “Quando veio a pandemia, eu continuei trabalhando. Eu saia pra trabalhar e via que não tinha ninguém na rua, tudo fechado, e a única coisa que aparecia na minha frente eram os moradores de rua, então comecei a prestar mais atenção. Comecei a enxergar mais o que acontecia na rua”, disse. Assim, com a criação de um grupo no condomínio onde mora, ela começou a receber ajuda dos outros moradores. “Fiz comida para 30 marmitas mais ou menos e postei uma foto no grupo do condomínio e
depois disso, muitas pessoas apareceram querendo ajudar.” Ela acrescenta que não imaginava que a ação dela, de levar comida para um morador de rua, no caminho do trabalho, fosse virar um projeto. “Todos ficaram comprometidos em ajudar e participar. Acho que era um momento que todo mundo estava muito sensível também e todos em casa com tempo.” Mas, no começo da pandemia, o projeto passou por vários desafios. De acordo com a criadora do projeto, o medo de ir às ruas e entregar as marmitas era o mais presente naquele momento. “Era um momento que todo mundo estava com medo de pegar a doença, todos isolados. Quando você chega na rua pra entregar a comida para o morador de rua ele não tem máscara, então o medo foi o principal desafio”, acrescentou Cláudia. Por isso, decidiu, nas outras entregas, levar álcool em gel e máscaras para os desabrigados. “No começo eu ia sozinha e entendia que as pessoas tinham medo e não queriam
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ir. Depois minhas vizinhas foram comigo”, disse. Em relação ao auxílio que o Projeto Unidas para o Bem oferece para as comunidades, Cláudia explica como acontecem as doações e as entregas para os moradores. “Como temos um grupo com 55 pessoas, cada um avisa, nos outros grupos que participam, que precisamos de doações sempre e as pessoas já sabem do projeto e acabam deixando as doações na minha porta. Essas pessoas sabem que as roupas vão para lugares que realmente precisam. Resolvemos fazer uma página no Instagram e estamos divulgando lá. Muitas pessoas veem e nos procuram pra ajudar.”, ela diz. Essa ajuda começou a partir das doações. Segundo Cláudia, ela recebia várias roupas femininas e de crianças, mas na rua e não encontrava pessoas desses grupos nas ruas, já que a maioria era homens. Por isso, decidiu levar as doações para comunidades próximas. “Coloquei as rou-
pas no carro e no caminho do meu trabalho tem uma comunidade. Já comunidade da Marquês de São Vicente uma vizinha descobriu, estávamos com muitas roupas para doar e ela fez a mesma coisa que eu fiz. Pegou o telefone do líder e doou as coisas que tinha.” Além da ajuda a moradores de rua, atualmente o projeto atua no auxílio a 145 famílias de duas comunidades. Nelas, acontecem também várias comemorações de datas festivas, como no dia das crianças e no natal, onde as crianças e os jovens das comunidades irão receber presentes dos voluntários doadores. Sobre essas próximas ações do projeto, Cláudia diz que “iremos tentar no natal dar presentes para as crianças. Eu tinha planos de fazer uma festa para entregar os presentes, mas infelizmente ela vai ficar pro ano que vem por causa da pandemia. No dia das crianças também estávamos pensando em fazer essa festa que também foi cancelada. Conseguimos apadrinhar 80 crianças de duas comunidades. Nesse dia iremos em um grupo de quatro a cinco mulheres para entregar os presentes.” Na outra ponta dessa solidariedade, Alexandro da Silva é líder comunitário de uma das comunidades beneficiadas pelo Projeto Unidas para o Bem. Em entrevista, ao ser questionado sobre o aumento da aju-
da da população na pandemia ele diz que “os projetos sociais aumentaram sim, por causa da pandemia. Mas agora que a pandemia está acabando eles estão diminuindo”. Para ele, a ajuda de projetos como esse é de extrema importância para a comunidade, principalmente pela quantidade de crianças e idosos que residem ali. Com a diminuição dos projetos, Alexandro pede para que a população não tenha medo de ajudar. “Eles estão fazendo uma boa ação, um trabalho bonito, coisas que são bem vindas. Todo tipo de ajuda para essas famílias que são vulneráveis. Tem que ter precaução, já que nem todo lugar é interpretado como ajuda. Por isso, eu sempre aconselho a procurar linhas de frente e lideranças da área. Sempre tem um que responde por todos, até mesmo para a própria segurança”, acrescenta. Segundo ele, a liderança que ele pratica também é muito importante para os moradores pois “nós [líderes comunitários] que fazemos esses tipos de trabalho, na minha opinião, temos que dar mais atenção. São poucos que ajudam, por motivos que eu entendo, às vezes, medo de chegar até eles e não serem bem recebidos por mais que seja ajuda. É muito importante o contato com os que estão na linha de frente. Fica mais seguro.” Tanto para Cláudia quanto para Alexandro, é uma honra poder
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ajudar e fazer parte de ações para o bem dos mais vulneráveis. Alexandro diz que “fazemos esse trabalho, estamos em todos os lugares carentes de São Paulo, todas as comunidades. Sabemos os problemas de dentro e de fora. E pra nós é uma honra esse tipo de trabalho que estamos fazendo o bem”. Cláudia acredita que todos que tem uma situação estável precisam ajudar. “Não custa nada cada um ajudar um pouco, isso pode fazer uma grande diferença.”. Ela acredita no poder da sociedade para dar oportunidade a esses que são os mais vulneráveis, e diz que “isso teria que vir do governo desde a infância com bons colégios públicos, que todas as crianças pudessem estudar que daqui há uns 20 anos nosso país iria colher os frutos disso tudo”. Por enquanto, ela diz que a sociedade como um todo deve ajudar e por fim acrescenta: “Nós temos que fazer o nosso papel, mesmo que seja um pouco, igual nós fazemos, mas cada um desse pouco vai amenizar o sofrimento dessas pessoas que estão nas ruas, apenas com um sorriso ou uma conversa. Muitas vezes eles falam que preferem até um sorriso e ser bem tratados, porque eles dizem que se sentem invisíveis, que as pessoas passam e nem olham pra eles. Muitas vezes eles agradecem mais não pela comida que a gente leva, mas pela atenção que a gente dá.”
Fashion e sustentável A revolucionária moda sustentável surgiu como um pedido de desculpas para o planeta Mariana Alves e Nicole Gargalaca
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uvimos todos os dias nos noticiários, o problema que nosso planeta enfrenta devido o enorme descaso do ser humano com os recursos naturais. O nicho da moda sustentável surgiu como uma forma de mudar o rumo que a indústria da moda tomava. Ainda hoje, a fast fashion e a Ready-to-Wear dominam as passarelas e lojas no Brasil e ao redor do mundo. Segundo a revista Forbes, o setor vestuário fast fashion é responsável por 10% das emissões de carbono. Aproximadamente 70 milhões de barris de petróleo são usados a cada ano para produzir poliéster, que hoje é a fibra mais utilizada em roupas e sua decomposição leva em torno de 200 anos. Por outro lado, pessoas como Marine Serre, designer de sua própria marca de roupas, sempre demonstrou preocupação quando se trata do meio ambiente e do futuro do nosso Planeta. Seus designs levaram-na a ganhar o Young Fashion Designer de 2017, o prêmio mais importante na indústria da moda para novos designers. Ela mostrou que a moda sustentável não é resumida ao senso comum -- roupas feitas de garrafa pet -- mas é revolucionária e moderna. Erika Anagusko, empreendedora e ativista das causas sustentáveis, esclarece que sua marca Natural BE busca sustentabilidade em cada etapa do processo de fabricação, desde a matéria prima, até a valorização da mão de obra. Para Erika, o consumismo de hoje foi incentivado pela indústria da moda que, ao criar a fast fashion, barateou o custo das roupas para nutrir uma ilusão nos consumidores e fazê-los acreditar que têm um poder aquisitivo maior, assim, acarretando uma compra por impulsos. A empreendedora também comentou sobre escândalos de marcas famosas de luxo que confeccio-
nam suas peças com 100% de couro animal e, após a impopularidade de alguma coleção, queimam os artigos em prol da exclusividade. Ela afirma que essa necessidade de exclusividade gera muito lixo, pois esse material não pode ser reaproveitado. Queimar uma peça de couro, que fez um animal sofrer tanto e emitir tantos gases de efeito estufa, é o cúmulo do desperdício e da irresponsabilidade das pessoas com o meio ambiente. Victoria Freitas Fontoura, dona da Khala Brechó, uma e-commerce voltada para a moda sustentável, admite que a sua maior dificuldade é o preconceito das pessoas com brechós e, o preconceito torna-se ainda maior quando se trata de brechós com o enfoque na sustentabilidade. Porém, afirmou também que a nova geração parece se conscientizar sobre a situação atual de nosso Planeta e estão se interessando mais pelo o que brechós têm a oferecer: rou-
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pas de alta durabilidade e qualidade, mas a preços acessíveis. Usar algumas vezes e descartar não é algo real, o consumo sustentável ensina que produzimos muito mais que o necessário, portanto, devemos sim contribuir com a circulação de mercadoria para reduzir o consumo desenfreado e sem limites. O nicho da moda sustentável ainda é pequeno perto das grandes potências que comandam a moda, potências essas que perderam a essência da “moda por arte” e passaram a criar “moda por comercialização”. Ver a sustentabilidade como inovação para a história da moda pode mudar o rumo do nosso planeta, tudo o que temos que fazer é apoiar projetos que incentivam a sustentabilidade e a moda cíclica. Há riqueza na peça que já pertenceu a outra pessoa, com diferentes nomes e diferentes histórias, e que agora, pertence ao seu guarda-roupa.
Carnaval 2021 em risco Uma das festas mais tradicionais do Brasil será adiada devido à crise pandêmica Divulgação
Israel de Jesus Filho e Pedro Liberali Gambassi
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Porta Bandeira Paula Fernanda Penteado (Paulinha) da escola de Samba Vai-Vai Acervo Pessoal/Paulo Aliende
carnaval é a festa mais popular do Brasil, atraindo foliões de todos os estados e de muitas nacionalidades, sempre foi comemorada de uma forma muito calorosa, com bastante contato humano e por isso ocorrerá de uma forma totalmente diferente do habitual no próximo ano, devido aos protocolos de segurança sanitária impostos durante a Pandemia de COVID-19. Em julho, houve a confirmação do adiamento do Carnaval 2021 em São Paulo. O anúncio feito pelo prefeito Bruno Covas, em coletiva de imprensa, ratifica a decisão da prefeitura com relação aos desfiles das escolas de samba e ao carnaval de rua, devido a insegurança e incerteza de como estará o cenário da Pandemia em fevereiro. Segundo o prefeito Bruno Covas (PSDB), a decisão da nova data para o evento será definida em conjunto, tanto com as escolas quanto com os blocos de rua, e possivelmente ocorrerá a partir de maio. “Muito dificilmente ocorrerá em junho porque coincide com os festivais de São João no Nordeste. Estamos definindo ou final de maio, ou começo de junho para realização do carnaval na cidade de São Paulo”, afirmou Covas em coletiva de imprensa no dia 24 de julho. Para a Escola de Samba Vai-Vai, campeã do Grupo de Acesso em 2020 do carnaval paulista, com o samba-enredo em homenagem ao maestro João Carlos Martins e que então participará do Grupo Especial ano que vem, a decisão tomada pela prefeitura foi o melhor a ser feito. Ainda segundo a escola, não haveria condições de se planejar um desfile para fevereiro, com tudo que aconteceu e está acontecendo. “Não teríamos nem clima. Imagine para nós, que perdemos tantas pessoas nesta pandemia, anunciar-
Bloco do Fuá no Bexiga, Capital
mos um samba campeão e festejarmos o início da preparação enquanto nossos pares choram seus mortos? Não faria o menor sentido. Por isso, apoiamos o adiamento e seguimos alinhados com as demais escolas.”, afirmou Gabriel de Melo Souza, diretor de Carnaval da escola alvinegra. Normalmente as organizações para o carnaval do ano seguinte se iniciam em meados de maio. Porém, com a crise gerada pela pandemia, os organizadores do Vai-Vai iniciaram os seus trabalhos somente em agosto. “Fazendo uma conta básica, com o carnaval em maio, adiamos para três meses a data do desfile, en-
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tão, adiamos também em três meses o início do projeto e assim estamos com o processo em dia”, segundo Gabriel de Melo. Ele ainda nos adiantou que houve o lançamento do enredo da escola, com o tema “Sankofa”, símbolo da África Ocidental que é traduzido por “retornar ao passado para ressignificar o presente e construir o futuro”. Paulo Aliende, 59 anos, um dos organizadores do Bloco do Fuá, bloco de rua que circula nas ruas do Bixiga na capital paulista, também concorda com a deliberação feita por Bruno Covas. Aliende acredita que as pessoas não estariam seguras para
Acervo Pessoal/Paulo Aliende
Bloco do Fundão, em Mococa
participar de um evento tão grandioso e que, tradicionalmente, é tão caloroso e vívido. Para ele, somente após a vacina os foliões estariam resguardados desse “vírus que está a solta”. No Rio de Janeiro, a Liesa (Liga Independente das Escolas de Samba), decidiu, após reunião com os representantes das escolas em plenário, que o Carnaval de 2021 na capital fluminense será adiado. “Em função de toda essa insegurança, essa instabilidade em relação à área da ciência, de não saber se lá em fevereiro vamos ter ou não a vacina, chegamos à conclusão que esse processo tem que ser adiado”, declarou o presidente da liga, Jorge Castanheira. “Nossa prioridade é essa questão da segurança”. A amante do carnaval Melissa Faraco, 42 anos, acredita que, se até fevereiro, mês em que geralmente é comemorado o carnaval, sair a vacina, a festa será “melhor que os outros anos”. Melissa afirma, ainda, que o Bloco do Fundão, do qual é presidente e que percorre as ruas de Mococa, interior de São Paulo, “sempre fez um carnaval alternativo e sem ajuda do governo” e que farão um carnaval de maneira segura, contando, claro, com uma possível vacina. Para Paulo, que foi um dos fundadores do Fundão, o carnaval é “uma festa que reúne todos, sem distinção”. A diferença de classes sociais, raças, gêneros, credos desaparece. Aliende ainda ressalta
Bloco do Fuá no Bexiga
que o Bloco do Fuá, em que é um dos organizadores, é profundamente marcado por essa diversidade carnavalesca, e que os desfiles do bloco já chegaram a arrastar mais de 5 mil foliões pelas ruas do Bixiga. A crise pandêmica que assola o país e o mundo, e que causou o adiamento do carnaval do próximo ano, fez com que o Vai-Vai, a fim de amenizar os danos e efeitos principalmente em comunidades mais necessitadas, realizasse diversas ações sociais através de seu Departamento de Responsabilidade Social, com a doação de cestas básicas para moradores carentes da região da Bela Vista, onde fica o barracão da escola. A escola ainda promoveu eventos drive-in, tendo sido o último realizado no estádio do Pacaembu, com o intuito de trazer um lazer alternativo
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às pessoas em tempos de isolamento e manter suas atividades carnavalescas. O Bloco do Fuá tem realizado saraus musicais e até a gravação de um videoclipe da música “Vermelho” de forma totalmente virtual. Apesar de estarmos nos adaptando à essa nova realidade, assim como as escolas de samba e os blocos, essa crise que nos afeta passará com o tempo. O melhor a se fazer agora é se resguardar para poder festejarmos juntos depois. Os organizadores deixaram claro que não irão promover nenhum evento deste porte caso ainda não exista uma vacina. A alternativa fica pela criatividade, fazendo o uso da tecnologia para manter a essência do carnaval o máximo possível e ao bom senso dos foliões em entenderem que em 2021, esta festa não será em fevereiro.
O show tem que continuar Como os artistas vêm sobrevivendo em tempos de isolamento social Thomas Jones Caccavale
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om a quarentena instalada uma nova realidade se impôs a quase todas as profissões. Entretanto, aqueles que trabalham com arte são muito prejudicados e isso se deve ao fato de ser uma atividade que depende diretamente do público que forma aglomerações. Para conseguir sustentar-se em meio a todas as adversidades, foi necessário buscar novas maneiras de exercer o trabalho. No meio artístico, a principal válvula de escape foram as lives, que se espalharam pelas redes sociais e inovaram as maneiras de apresentação. Apesar de estar sendo muito utilizada, a adaptação desta nova maneira de trabalho pode não ser muito fácil para todos. Em entrevista realizada com a musicista de 38 anos, Emanuela Helena, como é conhecida, comentou que no início teve uma difícil adaptação sobretudo pelo fato de não ter o público aplaudindo, o olho no olho e que sentiu falta, principalmente, dessa “energia” vinda da plateia. Apesar disso, algumas coisas ainda se mantêm iguais às apresentações presenciais, “o frio na barriga te dá a sensação de que você está executando seu trabalho”, afirma a artista. Emanuela complementa dizendo acreditar que o formato das lives pode permanecer mesmo após a volta dos shows ao vivo ao término da pandemia. Apesar de diversos artistas terem acesso às lives, para muitos isso não foi suficiente. Para auxiliar estes trabalhadores, o governo federal criou a lei Aldir Blanc, onde cerca de R$ 3 bilhões estão sendo destinados para estados e municípios, e servirão para a manutenção de espaços culturais e para o pagamento de três parcelas de uma renda emergencial para os trabalhadores da arte que tiveram as rendas afetadas pela pandemia. Quando questionado so-
bre o assunto, o autor e diretor de teatro, de 48 anos, Candé Brandão, afirma que o governo até vem ajudando, mas que esta ajuda não é suficiente, ele complementa dizendo que “é muito difícil você cobrar de um país que não consegue dar saúde nem segurança uma ajuda aos artistas”. Emanuela Helena faz parte do grupo que está em dificuldades mesmo com o auxílio dado pelo governo, segundo a musicista sua atual situação financeira está “muito complicada”. Ela ainda sugere a implementação de uma Lei, já existente na França, onde caso um músico comprove que fez um certo número de shows mensais, o governo francês oferece um subsídio mensal. Para a ela, seria excelente que isso fosse implementado no Brasil, tanto pela ajuda financeira e principalmente para incentivar a tão desvalorizada classe dos músicos. Tendo em vista que a cidade de São Paulo está na transição da fase amarela para a fase verde, eventos, convenções e atividades culturais começarão a reabrir para a população. Para que isso ocorra, o governo paulista determinou que só será permitido o público sentado e com capacidade de apenas 40%. Quando perguntado sobre o assunto, Candé Brandão, disse em
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entrevista, que acredita que ainda não se tem condições para que as apresentações presenciais retornem, isso porque, segundo ele, é um trabalho que “lida com muita aglomeração”. Entretanto, ele afirma que será possível fazer apresentações via transmissão online, desde que se comprove que o isolamento social está sendo respeitado nos ensaios. Por outro lado, a atriz e diretora, de 26 anos, Lola Portela, acredita que já se têm condições dessas apresentações com público voltarem, segundo ela, “a gente precisa se perguntar por que bares, shoppings e vários outros estabelecimentos vêm sendo reabertos enquanto a cultura está sendo nocauteada”. A diretora sugere apresentações ao ar livre e com cadeiras distanciadas. Com a volta presencial, ou não, uma maneira de apoiar a classe dos artistas é por meio de divulgação de shows e pagando pelos serviços prestados, afirma Emanuela. Lola também segue essa linha de raciocínio e acrescenta que para quem tem condições de ajudar, uma outra maneira de suporte pode ser por meio de doações, principalmente via QR code. Segundo ela, as doações podem ser uma medida que façam com que a arte e os trabalhadores do meio sobrevivam.