Acontece - ed. 210 - turma 2U12 - abril de 2019

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JORNAL-LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE - ANO XIX - ED. 210 - ABRIL / 2019

A BATALHA DOS JOGADORES DE CLUBES SEM DIVISÃO - p. 9 LEIA TAMBÉM NESTA EDIÇÃO:

O MUNDO DOS ESPORTES ELETRÔNICOS - p. 2 METRÔ: LINHA LARANJA EM COMPASSO DE ESPERA - p. 4 JOVENS ADEREM AO VOLUNTARIADO - p. 5

ELAS CONDUZEM MILHÕES TODOS OS DIAS Por Rafael Hideki e Tito Campos - p. 3

A BATALHA PELO PRIMEIRO EMPREGO - p. 8 OS IDOSOS QUEREM EMPREENDER - p. 12


Não é apenas um jogo Mergulhamos no mundo dos esportes eletrônicos para conhecer um pouco de sua história e desafios

Jogadores do torneio realizado na Vitrine Gustavo Papa Coutinho Thomas P. Fernandez

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dolescentes e jovens adultos pelo país todo sonham em se tornar jogadores de videogame profissionais ou cyber-atletas, porem a realidade nacional é outra. Diferente do que acontece em alguns países estrangeiros, onde este nicho é tratado como uma atividade profissional, jogadores de organizações normalmente recebem apenas uma ajuda de custo para trabalhar. O que vemos então, são várias pessoas se envolvendo nos outros ambientes, para conseguirem ganhar dinheiro, e a vida, com o que amam. Acontecendo semanalmente, no bar Vitrine (Rua Augusta, 1221), um campeonato de Super Smash Brothers (jogo de luta), organizado pela Team Dash, reúne diversos tipos de jogadores, daqueles que buscam apenas diversão até aqueles que sonham com uma vida baseada nesse meio. Theo Levi, 24 anos, conhecido como Pastel, conta que apesar de sonhar com uma carreira de jogador, se mantém realista: “Acho difícil uma carreira como jogador no Brasil neste momento. Por isso estou iniciando como TO (Organizador de Torneios). Primeiro no meio universitário, depois quem sabe profissionalmente. Assim consigo tirar sustento de algo que amo e possivelmente ajudar no sonho dos possíveis jogadores profissionais em um futuro próximo”. A própria Team Dash eviden-

cia a carência do cenário profissional em sua história. Phoca, como Luis Fernando Torriello dos Santos é conhecido, 29 anos, diz que começaram a organizar torneios por conta própria, pois os únicos que o faziam, no jogo que amam, largaram seus projetos. E é assim, por conta própria, que tanto organizações quanto jogadores tentam achar seu lugar em meio a esse cenário em ascensão. Enquanto alguns jogos mais consagrados como Counter Strike: Global Offensive, o CS:GO, ou League of Legends, o LOL, já têm torneios internacionais milionários e nacionais com premiações nas dezenas dos milhares de reais, outros jogos com nichos mais específicos ainda sofrem para se manter firmes e proporcionar um ambiente minimamente competitivo para seus jogadores. “Começamos em 2014 com os mesmos 30 jogadores todo o mês. Estes trazendo amigos aos poucos foram nos ajudando a crescer. Hoje, graças à ajuda do Vitrine, temos campeonatos semanais com média de 60 jogadores e campeonatos mensais com 80. Tivemos em 2016 um campeonato com mais de 200 jogadores presentes, em diversas modalidades, uns vindo até de fora do país”, disse Luis. Muito da organização destes campeonatos vem do próprio bolso dos organizadores. Apenas com o sucesso, e principalmente a sorte, surgem outras possibilidades como patrocínios ou lugares fixos. Universidades cada vez mais estão investindo em equipes e competições eletrônicas, gerando também uma influência

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no cenário semiprofissional e até mesmo no profissional. O maior problema neste tipo de competição é a aparelhagem necessária. Em um campeonato de médio porte, por exemplo, são necessários ao menos dois partidas simultâneos, o que exige dois aparelhos diferentes para as partidas. Utilizando o jogo mais recente desta franquia como exemplo, para um evento deste tamanho, é necessário um investimento de 3.500 reais (3.000 nos dois aparelhos e 500 para duas cópias do jogo). Com os demais gastos, isso é algo que pesa para uma organização no início e acaba fazendo com que muitas desistam. Mas este cenário está evoluindo não somente com competições entre jogadores. Aconteceu agora no carnaval o BrAT (Brazilians Against Time), um evento de speedrun (modalidade que visa completar um jogo no menor tempo possível, utilizando qualquer método) que juntou cerca de 20.000 reais para a APAE através de doações dos espectadores, além de visibilidade para os jogadores, para que tenham uma oportunidade de carreira com geração de conteúdos de jogos.

Jornal-Laboratório dos alunos do 2o semestre do curso de Jornalismo do Centro de Comunicação e Letras da Universidade Presbiteriana Mackenzie. As reportagens não representam a opinião do Instituto Presbiteriano Mackenzie, mas dos autores e entrevistados. Universidade Presbiteriana Mackenzie

Centro de Comunicação e Letras Diretor do CCL: Marcos Nepomuceno Coordenador do Curso de Jornalismo: Rafael Fonseca Supervisor de Publicações: José Alves Trigo Editor: André Santoro

Impressão: Gráfica Mackenzie Tiragem: 100 exemplares.


Elas estão no comando Três mulheres compartilham suas dificuldades, alegrias e experiências como profissionais do transporte Rafael Hideki Tito Campos

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ada vez mais, mulheres têm ingressado nas empresas de transporte público para trabalharem como motoristas ou operadoras. Apesar de o ambiente ser dominado por homens e mesmo sendo visto por muitos como um área profissional masculina, elas vêm conseguido seu espaço, aos poucos. “Já aconteceu de não quererem entrar (no trem) por eu ser mulher”, conta Cecília Sobral da Gama Santos. Aos 33 anos, casada e grávida de 7 meses, a operadora da CPTM (Companhia Paulistana de Trens Metropolitanos) há 5 anos conta que ainda há preconceito nesse meio, desde as piadinhas dos colegas de profissão nos corredores internos até os comentários indevidos dos passageiros nas plataformas. Apesar disso, Cecília ressalta seu amor pela profissão. “Aprendi a amar o que eu faço, por ser um trabalho dinâmico que não cansa e não te prende à rotina. Todo dia são usuários diferentes, horários diferentes, o que não torna o trabalho chato. Agora que estou afastada, sinto até falta disso tudo.” A CPTM tem 8,3 mil empregados na instituição. Desses, 18% são mulheres ocupando diversos cargos – segurança, operação, manutenção e no setor administrativo. Maria Lourdes da Silva, 37 anos, divorciada e mãe da Maria Eduarda e do Gabriel (6 e 9 anos), tem que conciliar os horários de trabalho não convencionais com a criação dos dois filhos. A motorista de ônibus diz que quando trabalha no primeiro horário da linha, acorda às 3h da manhã para tomar banho e se arrumar e sai para trabalhar às 4h. A tia é quem fica com as crianças enquanto ela trabalha. “No trabalho, eu costumo ficar até 13:30. Vou para casa de novo,

Lucia Rodrigues, operadora de metrô há 31 anos, na estação Corinthians / Itaquera

almoço, tomo banho e durmo até as 17h. Busco eles na escola, faço o jantar e ajudo eles na lição de casa, terminando isso a gente brinca e por fim costumo dormir por volta das 23h. Tudo isso de segunda a sábado. No domingo, que é a minha folga, eu fico em casa, disso não abro mão. Essa é a rotina da minha vida, um pouco cansativa, mas prazerosa”. Maria revela que começou a trabalhar na área do transporte aos 15 anos como cobradora, primeiro com o pai, depois com o tio e por último com o ex-marido – todos motoristas. O ex-marido começou a lhe ensinar a dirigir e, ainda como cobradora, começou a tirar a habilitação D. Quando as lotações decidiram tirar os cobradores das linhas, Maria diz que não seria feliz fazendo outra coisa, senão trabalhando na área do transporte, e conseguiu o emprego como motorista. O sistema de transporte coletivo de São Paulo conta com 50 mil profissionais, em variados cargos. As mulheres representam 10% desse número de empregados. A SPTrans garante que não há restrições para a contratação de mulheres, pelo contrário, incentiva a presença delas, uma

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vez que são mais cuidadosas e gentis. Vera Lucia Rodrigues dos Santos, ou Lucia Rodrigues – como ela prefere ser chamada – tem 54 anos, está há 33 trabalhando no metrô – 2 como bilheteira e 31 como operadora –, é casada há 28 com Valmir Santos, também operador de metrô e é mãe de 3 filhos. “Nem imaginava que iria trabalhar com o metrô. Na minha época eles publicavam no jornal as vagas. Você ia lá, fazia os testes, participava de uma seleção e foi assim que eu entrei como bilheteira”, diz. Ela ressalta que nunca sofreu nenhum tipo de preconceito no trabalho.. “Nunca tive problema nenhum. Quando eu cheguei já havia duas turmas formadas de operadoras, então o pessoal já estava mais acostumado por conta delas. Dos passageiros a gente recebe elogio, no começo olhavam, iam lá na frente ver a cabine, dar tchau. Já aconteceu até de me darem flores e chocolate”. Ela afirma que o relacionamento entre as operadoras é muito saudável. “Nós somos muito unidas, sempre organizamos uma festa entre as operadoras de todas as linhas”.


Metrô em compasso de espera Obra da Linha-6 Laranja, que irá ligar algumas faculdades e universidades, segue sem previsão de retomada Leonardo Rinaldi

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m 2018, a cidade de São Paulo começou a receber as obras de expansão do mapa metroviário, mas alguns desses projetos ainda se encontram sem definição, como é o caso da Linha-6 Laranja. A obra foi anunciada no ano de 2008 pelo então governo de José Serra, mas apenas em 2013 teve sua licitação vencida pelo consórcio Move São Paulo, e em 2015 o início das obras. Quando concluída, será conectada às linhas 1-Azul e 4-Amarela do Metrôe às linhas 7-Rubi e 8-Diamante da CPTM, facilitando a movimentação de pelo menos 630 mil pessoas por dia, além de ligar Universidades como PUC, FAAP, UNIP e Mackenzie. Porém, já em setembro de 2016, o consórcio afirmou que não tinha recursos para prosseguir com a obra. O principal motivo é que as empresas responsáveis, Odebrecht, Queiroz Galvão e UTC, estavam sendo investigadas pela operação Lava Jato, da Polícia Federal. Sobre as parcerias privadas com o Governo do Estado, o cientista político Edgar Maturana, 39, da Universidade de São Paulo, diz que se tornou uma tendência o uso das parcerias público privadas, desde 2004, com a aprovação da lei das licitações, que permitiu esse tipo de negócio. A perspectiva na época era que este tipo de parceria traria agilidade para construções de obras, mas ele ressalta que não depende apenas da lei. “Como todas as leis, ela não é autorrealizável, ou seja, depende do homem para seu correto uso. A lei por si só não traz eficiência própria, apesar das diversas travas de legalidade que nela estão contidas”, disse ele. Além disso, Edgar diz que é precipitado dizer que haja uma conexão direta. “O que realmente pode estar acontecendo, nesse caso, é a dificuldade inerente à redução de

Canteiro de obras da Linha-6 Laranja abandonado na rua Sergipe, perto da FAAP

créditos às empresas que participam da construção da linha, por outros envolvimentos de corrupção”, afirma. É possível traçar uma relação das empresas envolvidas no atraso da linha das universidades com a demora de outras obras licitadas, como a 4-Amarela e 5-Lilás. Maturana diz que se for feita uma pesquisa, logo é possível achar uma ligação. “Ao fazer uma busca rápida na internet, encontrei uma notícia na qual o governo de São Paulo comemora o vencedor da licitação do consórcio, o Via Amarela, formado pelas empresas CBPO, OAS, Alstom e Queiroz Galvão e o consórcio Camargo Corrêa. A Andrade Gutierrez e Siemens também fazem parte do grupo. Nesse sentido, a relação entre a construção da linha e os atrasos de salário e de entrega pode ser uma verdade”, diz Edgar. Sobre o atraso das obras da linha-6, O Movimento Brasilândia é o principal grupo que busca reivindicar o direito popular da retomada das construções, e conta com apoio diferentes sindicatos, como dos metroviários, químicos, engenheiros e professores. Quem fala a respeito das ações do coletivo é Ênio José da Silva. Ele conta, por exemplo, que no dia 27/02 foi apresentado um processo no Ministério Público, e afirma que já existe um outro em paralelo no Tribunal

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de Contas. Ênio também revela que no início do mês de maio está sendo planejada uma manifestação popular sobre a paralisação. Para ele, a justificativa oficial do governo estadual não condiz muito com a realidade. De acordo com o poder público, não haveria crédito para financiamento, o que inviabiliza o prosseguimento da obra. Ele acredita que deva existir outra explicação para a paralisação. Seu grupo acredita que a Linha-6 Laranja tinha que estar sob custódia do Metrô, que assumiria assim o custo da obra. Na sua visão, a privatização não seria o melhor caminho, já que até recentemente os funcionários das linhas Amarela e Lilás não eram considerados metroviários, e assim havia uma diferença salarial entre eles e os demais funcionários. Questionado sobre um dos canteiros que estão parados, como por exemplo na Rua Sergipe, perto da FAAP, ele diz que o consórcio que estava até então responsável pelas obras, o Move São Paulo, irá assumir os custos de manutenção por enquanto. À Secretaria de Transportes Metropolitanos, ao ser procurada para comentar a respeito, afirmou que está fazendo o máximo para a retomada das obras no menor prazo possível.


Jovens e engajados O voluntariado como protagonismo cresce na faixa etária entre 18 e 34 anos

Andrezza Ferrigno Camille Santos

Voluntária Rafaella em gincana realizada pela ONG Sonhar Acordado

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os últimos anos, a procura pelo comprometimento em causas sociais por meio do voluntariado tem aumentado entre os jovens. Por iniciativa própria eles decidem se engajar em alguma causa e doam uma parte do tempo que têm para ajudar o outro sem esperar nada em troca. Segundo dados do IBGE, o Brasil tem hoje 34 milhões de jovens entre 10 a 20 anos e, se o ritmo de crescimento da população for mantido, os adolescentes continuarão sendo o grupo etário predominante, pelo menos até o ano 2020. E junto com esse crescimento aumenta também no jovem a vontade cada vez maior de mudar o mundo por meio de ações que causem impacto na sociedade e na vida de outras pessoas. De acordo com o Atados, plataforma que facilita o contato entre pessoas que querem fazer trabalho voluntário e ONG’s que precisam de ajuda, dentre os 11 mil voluntários cadastrados no banco de vagas a maioria são jovens entre 18 e 34 anos. “O único problema do jovem em relação ao trabalho voluntário é a falta de perseverança. Talvez seja esse o motivo de adolescentes serem vistos como colaboradores irresponsáveis e sem comprometimento com o trabalho proposto”, afirma João Victor Sales, 20 anos, voluntário no “Magis Brasil”,

projeto criado pelos jesuítas voltado para a área de voluntariado e inserção sociocultural. A busca pelo trabalho voluntário, segundo João, foi motivada pelo desejo de se sentir próximo do Sagrado, pois ele se manisfesta de forma maior na vida dos outros e consequentemente essa atividade transforma-o por dentro. “É uma forma que eu encontro de transformar a vida das pessoas, no sentido de colaborar com a dignidade humana”, afirma. Já para Rafaella Machado, 20 anos, a principal motivação para se inserir no voluntariado é mais altruísta. “Parece clichê, mas o motivo de eu ter escolhido me tornar voluntária foi por querer fazer algo bom para alguém”. Como “voluntário sonhador” uma vez por mês, ela doa seu tempo para o projeto “Amigos para Sempre”, realizado pela ONG “Sonhar Juntos”, que realiza atividades culturais e recreativas com crianças e adolescentes tendo como pilar central os valores e virtudes cristãs. “Nos reunimos um sábado por mês e recebemos a formação sobre algum valor que teremos que trabalhar com as crianças, e durante o dia apresentamos esse valor/virtude por meio de atividades e gincanas que irão contribuir para que elas reconheçam seus talentos e suas capacidades a fim de transformar o futuro e o am-

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biente a sua volta por meio dos valores humanos”, diz. Para João, o jovem deveria ser visto como um grande aliado quando se trata de qualquer trabalho. “Quando você pensa em entrega, o jovem é aquele que se entrega de corpo e alma, já que normalmente por ser jovem e apresentar uma grande força de vontade qualquer trabalho é realizado 100%”, explica. Rafaella conta que, embora o voluntariado seja aberto para pessoas até 35 anos, “a grande maioria dos voluntários sonhadores tem entre 19 e 25 anos”. Uma pesquisa realizada pelo Centro de Pesquisa Motivacional junto a 1481 jovens das cinco maiores capitais brasileiras indicou que embora apenas 7% dos entrevistados estestejam envolvidos em algum tipo de ação voluntária, mais de 50% desejaria se engajar neste tipo de atividade. Então, fica claro que o jovem deseja sim contribuir com alguma causa social, o que lhe falta é orientação e reconhecimento de que eles podem se tornar graparceiros e colaboradores quando se trata de trabalho voluntário. Segundo José Alfredo Nahas, superintendente da ONG “Parceiros Voluntários”, “ toda pessoa é solidária por natureza e um voluntário em potencial”. Para ele, o trabalho voluntário se inicia a partir do momento que você se sensibiliza com alguma causa ou pessoa, “quando você se sensibiliza e sente a vontade e necessidade de ajudar, você já dá início ali ao trabalho voluntário, mostrando empatia pelo outro”. Ele acredita que a sociedade pode mudar através de valores. “Um dos objetivos do voluntariado é a transformação da realidade social, e de forma alguma essa sociedade é mudada sem antes ocorrer uma transformação no próprio ser humano, de preferência para melhor”, diz. “E essa é a nossa maior missão: engajar e desenvolver pessoas e instituições por intermédio do voluntariado”.


Treino consciente A prática de Crossfit pode causar lesões se for realizada de maneira não recomendada Caique Diniz

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o decorrer desta última década, se popularizou muito no Brasil a prática do Crossfit, devido ao fato de ser uma atividade extremamente motivacional e desafiadora para todos que praticam. Além disso, os resultados tão desejados pelos praticantes acontecem de forma mais rápida, devido ao alto nível de esforço físico durante as aulas. Porém, com o desejo de ter um corpo mais definido, muitos alunos realizam um esforço exagerado, que pode trazer problemas de saúde e lesões sérias ao praticante. O fisioterapeuta e coordenador do setor de reabilitação do Instituto Joaquim Grava, Marcos Tiburtino, 39 anos, opina sobre o assunto: “O brasileiro por si só é um povo muito vaidoso, e por morarmos em um país tropical, todo verão ocorre a corrida pelo corpo ideal em nossa população, seja nas academias, nos treinos funcionais ou de crossfit. Com isso é bem comum termos pacientes aqui na clínica com lesões devido à prática excessiva dessas atividades”. Ele também comenta sobre as lesões mais comuns e sobre como é feita a recuperação nos pacientes: “O que mais vejo aqui na clínica são pacientes com lesões de ombro como tendinites ou bursites. Além dessas, é bem comum os pacientes terem lesões no quadril e joelhos, desde lesões de cartilagem até a ruptura de ligamentos”. Sobre o que pode ser feito após o problema, ele explica: “Para a recuperação, inicialmente utilizamos alguns recursos da fisioterapia para diminuir a dor e auxiliar o processo de reparo celular, depois trabalhamos o ganho de mobilidade da articulação lesionada e finalmente fazemos um fortalecimento, visando principalmente a musculatura da articulação envolvida. Em alguns casos, trabalhamos também os gestos esportivos antes de dar alta ao atleta”.

Alunos da academia CrossLife com o professor Lucindo de Carvalho

Para ter um melhor entendimento de como funcionam e como são aplicadas as aulas de Crossfit, foi feita uma entrevista com o professor Lucindo de Carvalho, 28 anos e formado em educação física, que trabalha na academia CrossLife, localizada no município de Embu das Artes. Ele comenta sobre as diferenças entre uma academia tradicional e uma academia de Crossfit: “O Crossfit chama mais a atenção da população devido ao fato de que o aluno é muito mais motivado a vir treinar e buscar os seus resultados do que em uma academia normal. Além dos preços serem menores, o Crossfit se baseia em treinos funcionais que auxiliam muito na perda de peso, então esse processo de emagrecimento naturalmente é bem mais rápido do que em uma academia normal”. Ele fala também sobre a forma em que as aulas são aplicadas em sua academia sem que o aluno se lesione, devido ao fato de disponibilizarem muito esforço físico para realizar as atividades: “Basicamente, as nossas aulas são divididas em três partes, a primeira de aquecimento, a segunda parte, em que são indicadas

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aos alunos as atividades que iremos realizar no dia, e que serve como um aquecimento para a terceira parte do treino, o que para a maioria é a principal parte. Nela realizamos a atividade em si e os exercícios propostos no dia. E é nesse momento que se exige o maior esforço físico do aluno, mas os professores sempre supervisionam para que nenhuma lesão aconteça, sabemos nosso limite e o limite dos alunos”. Lucindo também cita algumas recomendações que ele disponibiliza aos alunos que entram em sua academia desejando um resultado mais rápido que o normal: “Sempre dizemos que com esforço os resultados irão chegar, mas nunca ultrapassar seu limite, para que não aconteça o que chamamos de Over Training, que pode ser prejudicial para o atleta”. Qualquer pessoa ou atleta que se dispõe a fazer atividades físicas sem a inspeção de um profissional pode sofrer lesões, mas tudo depende da intensidade em que ele irá praticar essas atividades. Praticado de forma errada, qualquer esporte pode ser prejudicial.


123 anos de Horto Frequentadores do parque contam suas experiências e opiniões sobre o espaço Fernando Claure

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o dia 10 de fevereiro de 2019, o Parque Estadual Alberto Löfgren (Horto Florestal) completou 123 anos de existência. A princípio, na criação do parque, o objetivo era a produção de florestas de rápido crescimento para recuperação da cobertura florestal do estado, devido à escassez de florestas nativas já devastadas em razão da expansão da fronteira agrícola no Estado. Hoje, o Horto recebe diversas pessoas, seja para jogar futebol, se exercitar, tirar fotos e até visitar o Museu Octávio Vecchi, também chamado de Museu da Madeira Florestal. Em 2017, o parque ganhou notoriedade após a morte de um dos animais moradores do local, o macaco bugio, vítima de febre amarela, que levou à morte de todos os macacos desta espécie no parque. O caso espalhou uma campanha massiva de vacinação contra o vírus, especialmente na região que vai do Parque até a avenida Santa Inês e, após meses, reabriu no dia 10 de janeiro de 2018. Eduardo Caneschi, 23 anos, estudante, conta um pouco sobre suas experiências no parque. “Curto a área verde, quadras e campos pra esporte, parquinho pras crianças e até academia”. Porém, quanto à preservação do local: “Está lastimável. Mal cuidado, aparelhos destruídos, campos ‘ferrados’, mato alto, iluminação precária e principalmente, o estado podre dos lagos. Reformas são essenciais, assim como procurar agentes que lidam com os animais para melhor preservação e tratamento dos lagos, que é urgente, assim como das nascentes de água, pra voltar a ter água potável e confiável’’, diz Caneschi. “O lugar já foi melhor. Eu frequento esse parque há 17 anos e, quando eu comecei a vir, ainda tinha os trenzinhos e os pedalinhos, um zelador que ficava aqui onde é o museu. Desde então, há uns cinco ou seis anos, a conservação piorou bastante”, comenta Luana Machado, 36 anos, parte do grupo MixRun,

Entrada principal do parque Horto Florestal SP

que trabalha no parque. “Diminuiu muito a equipe de limpeza. No final de semana, quando fica muito cheio, tem muito mais lixo jogado e sem coleta seletiva. Na casa do prefeito, que agora virou museu, não há nenhuma atividade e nenhum sinal de preservação. Durante a semana, seria bom ter mais atividades e espaços adequados para o público idoso”, diz. Giuliana Fortini, 21 anos, estudante, demonstra satisfação com a preservação do local: “Eu acho a natureza viva do parque o atrativo principal, a possibilidade de fazer exercícios físicos variados também e a calma e paz que o lugar transmite. Acho que o parque poderia investir em aulas ao ar livre com o intuito de atrair mais o público”. Rubens Castro, 58 anos, cardiologista e frequentador ocasional, relata que o horto possui bastante arborização e que é uma área grande e bem preservada, onde é possível caminhar e se exercitar com segurança e tranquilidade. “O local, por ser uma instituição pública, está

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bem conservado. A única sugestão que eu daria seria manter a parte do lago central canalizada como está agora, que pode melhorar muito o estado e a preservação do lago”. “Como o parque é perto de onde eu moro, eu costumo ir com um amigo para correr por lá”, conta Lucas Telles, 23, estudante. “O horto não tem muitos atrativos. O museu da madeira está quase sempre fechado, quadras estão com problemas, animais sem cuidado de funcionários. O horto em si é um ótimo local para observar a natureza preservada e se exercitar, porém, o núcleo Pedra Grande é uma área muito melhor”, relata Telles. “Para melhorar, o parque poderia abrir mais atrações. Antes tinha o pedalinho, um trenzinho que mostrava os arredores do parque e comércio. O que sobrou está em estado precário. Minha sugestão seria para o parque voltar ao que era antes, basicamente”. O parque fica na Rua Caminho do Horto, 931 e recebe visitantes das 6h às 18h todos os dias.


A batalha pelo primeiro emprego A odisseia enfrentada para se formar na universidade pode ser só o começo dos problemas Eleonora de Almeida Marques Nicolly Alves

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ecidir o curso, estudar para ser aprovado no vestibular, sobreviver à faculdade, estagiar, entregar o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) e, depois disso tudo, por fim segurar o tão sonhado diploma. Conciliar a faculdade com estágio parece um grande desafio, mas para os recémformados aparece um obstáculo ainda maior: ingressar no mercado de trabalho. O recém-formado em Design Paulo Cirilo Costa, 21 anos, contou que em seu primeiro e segundo semestre na faculdade ele trabalhava em outra área, mas a partir do terceiro trabalhou com design, e só conseguiu estágio no final do terceiro para o quarto semestre. “Conseguir o estágio foi fácil. Me inscrevi em um site de emprego voltado para comunicação e o processo foi bem rápido, mas as exigências de outras vagas estavam acima do que a faculdade ensinava e muito além do tempo de experiência que qualquer um teria na minha idade”, disse. O cenário não é muito diferente para a formanda Laura Garavatti, 19 anos, que cursa o último semestre da graduação em Fotografia no Centro Universitário Belas Artes e também experimentou adversidades na busca por estágios. Ela relata que são poucas as ofertas pelo regime de CLT, a maioria das vagas são para trabalhos eventuais. “Acredito que a situação está complicada para toda a área de artes visuais e os profissionais, especialmente os iniciantes, como eu, percebem rapidamente que para conseguir seu espaço no ramo é necessário ter conexões pessoais e fazer networking”, diz. Quando perguntada sobre o futuro, Laura revela certo pessimismo, visto que, para ela, o mercado tende a continuar instável e reduzido: “Mesmo daqui a alguns anos, quando eu for mais experiente e a economia

Centro de Integração Empresa-Escola, em São Paulo

estiver mais aquecida, sei que muito provavelmente nunca vou ficar rica com a profissão que escolhi. Eu sabia disso quando prestei o vestibular, só não imaginava que seria tão difícil”. Apesar dos desafios enfrentados na maioria das áreas, algumas ainda têm uma perspectiva mais promissora. Para Matheus Abreu, 21 anos, estudante de Economia na PUC-SP e estagiário na Bayer, a procura foi tranquila. “A maioria das vagas de estágio aceitam estudantes de administração, economia e engenharia. Me candidatei para algumas e pouco tempo depois já estava empregado, mas pude observar que para alguns amigos de classe isso não foi tão fácil. Alguns demoraram meses para conseguir um estágio. Mesmo nas áreas com mais vagas, quem não fala inglês ou não tem algum diferencial, que no meu caso foi ter participado da empresa júnior da minha universidade, acaba ficando pra trás mesmo”, afirma. Mesmo em momentos difíceis para a economia e com perspectivas conturbadas, os profissionais mais qualificados e atualizados ainda con-

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seguem encontrar seu espaço para ingressar no mercado de trabalho. Porém, é seguro afirmar que o caminho para isso está muito mais tortuoso. Ana Maria Vieira, 41 anos, é coordenadora de RH do Hospital Regional de Cotia (HRC) e diz não crer em uma melhora no cenário. “Os índices de desemprego foram muito altos em 2018, e com um número tão grande de desempregados, as empresas optam por contratar pessoas com mais experiência por um salário menor. Acredito que essa seja a maior dificuldade para contratação dos jovens’’. De acordo com a coordenadora, as áreas mais promissoras são as áreas ligadas à tecnologia, como e-commerce e startups. Ela também deu dicas para o jovem se preparar para o mercado de trabalho. “Para vencer a concorrência com os mais experientes, a atualização é um diferencial importante, manter-se constantemente atualizado, ter uma visão macro do campo de atuação e mostrar a vontade e disposição para aprender”, afirma.


Fora de série

Sem divisão para jogar, clubes têm dificuldade para se manter durante o ano todo Guilherme Alves e Pedro Braga

Robson Junior orienta os companheiros durante o treino do time da Mooca

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genda cheia, milhares de seguidores nas redes sociais e uma vida cercada de luxo. Todos esses fatores costumam vir à mente quando se imagina a vida de um jogador de futebol. Mas engana-se quem pensa que não existe crise no esporte mais popular do planeta. Na verdade, a realidade enfrentada pela maioria dos atletas profissionais no Brasil não tem nada a ver com o sucesso que vemos na televisão. Atualmente, o país tem mais de 600 clubes profissionais e o maior obstáculo para o funcionamento sustentável das instituições é a ausência de jogos oficiais. Dos 267 clubes que disputaram a primeira divisão do campeonato estadual em 2018, 190 não tiveram um calendário de jogos que contemplasse o ano todo. A tendência para clubes de divisões menores

Fasutino explica a situação do Juventus

nos estados é de uma realidade ainda mais cruel. O diagnóstico extraído dos números é sentido na prática pelo diretor de futebol do Clube Atlético Juventus, Vitor Faustino, 48 anos. Há dois anos atuando no Moleque Travesso, como é chamado o time da Mooca, Faustino aponta a falta de equidade na quantidade de partidas como o grande problema do futebol nacional. “A maior dificuldade do nosso futebol é [a falta de] calendário. É difícil criar datas para um nacional mais amplo, porque cada estado tem suas datas para os campeonatos regionais. Uma alternativa seria espaçar os estaduais nas divisões menores, fazendo uma primeira fase de dois turnos, por exemplo”, avaliou. O maior impacto gerado pelo fim dos estaduais é o desemprego. Em 2016, após a eliminação do Gama na Copa do Brasil para o Santos, o goleiro Adilson Maringá, 28 anos, chamou a atenção para a situação que ele e os companheiros enfrentariam, sem jogos pelo resto do ano. Hoje na Europa, o goleiro acredita que esses problemas podem ser enfrentados. “Aqui em Portugal o calendário é diferente. Por menor que seja o time, joga o ano todo. Nós, que somos o país do futebol, tínhamos que nos espelhar nos campeonatos europeus para organizar uma situação melhor para os clubes e, assim, os jogadores poderiam viver somente do futebol”, analisou o atleta.

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Mesmo quando esteve empregado como atleta no Brasil, em algumas oportunidades Adilson se viu obrigado a realizar outro tipo de atividade para complementar a renda. “Eu sou da fronteira do Brasil com o Paraguai, meus pais vivem lá. Por isso, quando ia visitar minha família, comprava os perfumes originais no Paraguai, já que lá é bem mais barato por causa dos impostos, e vendia no clube. Como eu treinava em dois períodos, essa foi a forma que eu usei para ganhar um dinheiro extra”, relatou o goleiro. Essa árdua rotina por vezes já fez com que Robson Júnior, 25 anos, zagueiro do Juventus, pensasse em mudar de profissão, especialmente em 2015, quando passou pelo pior momento na carreira. “Quando joguei a Série A3 pelo São José, não conseguimos o acesso [para a A2] e o clube não jogava a Copa Paulista. Procurei outros times, mas fiquei sem emprego no segundo semestre. Nesse período enfrentei muitas dificuldades porque, por exemplo, mesmo sem clube é preciso cuidar do corpo e tudo isso tem um custo”, disse o zagueiro. As sucessivas desilusões fizeram com que a mãe de Robson recomendasse que ele procurasse uma carreira mais estável. “As pessoas mais próximas, que me viam trabalhando por uma oportunidade, às vezes sem conseguir, diziam para eu desistir, mas o sonho é algo que não há como abrir mão. O futebol realmente é incerto. As oportunidades não surgem durante um tempo, porém quando surgem as coisas mudam do dia para noite. Hoje sou feliz por não ter desistido”, completou. A realidade fora dos holofotes é bem diferente do que se imagina. Reestruturar o calendário brasileiro é mais do que necessário. Enquanto clubes da elite do futebol brasileiro reclamam do excesso de jogos às quartas e domingos, clubes menores querem apenas um calendário maior para trabalhar.


Do campo para a cidade Um lugar na grande SP que reúne ideias, opiniões e uma agricultura 100% orgânica

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Guilherme Porrino

m dos poucos lugares na cidade de São Paulo que comercializam produtos exclusivamente orgânicos é o Armazém do Campo, localizado na alameda Eduardo Prado, 499. O Armazém é fruto da reforma agrária feita pelo MST. Os produtos que lá são comercializados têm origem nos assentamentos, cooperativas do movimento, empresas parceiras e pequenos produtores familiares. Segundo eles, é por isso que o movimento existe, para incentivar os pequenos produtores no mercado. As empresas que têm seus produtos vendidos na loja têm o certificado de produção orgânica ou estão em um processo de transição para a agricultura orgânica. Os produtos são variados: frutas, legumes, verduras e grãos, todos orgânicos. Além das verduras, eles contam com bebidas, produtos para pele, cabelos e unhas, e todos vêm de empresas com o certificado de produções orgânicas. O sistema de agricultura orgânica é a base dos produtos vendidos no local. Ele tem como objetivo produzir alimentos que não sejam geneticamente alterados, sem qualquer tipo de utilização de agrotóxicos ou fertilizantes sintéticos. Alguns estudos feitos na Universidade Estadual de Washington, EUA, pelo professor John Reganold e o pesquisador Jonathan Wather, mostram que a produção orgânica é mais saudável para o homem e para o solo. Nele são apontados os valores nutricionais dos alimentos orgânicos em comparação aos não orgânicos, e os orgânicos são mais benéficos para a saúde. A busca pelos alimentos orgânicos apresenta-se em um constante aumento, principalmente após uma das leis sancionadas pelo governo Temer e uma autorização do governo Bolsonaro, que aprovam o aumento no uso dos agrotóxicos e a comercialização de determinados pesticidas.

Armazém do Campo: mercado , cantina e loja de artigos orgânicos do MST

Segundo Pedro Fernandes, 25 anos, subgerente do armazém, a busca por alimentos orgânicos tende a aumentar. “Em comparação com o início do ano passado, as vendas são bem maiores”, diz. Pedro conta que o mercado tem recebido um incentivo muito grande dos consumidores em geral, que por sua vez veem a oportunidade de ajudar cada vez mais a loja e toda a ideologia que ela sustenta. A principal entre elas é a ajuda ao movimento do MST. O entrevistado afirma que 80% dos clientes do Armazém compram os produtos para ajudar o movimento e a causa que ele defende. Ainda de acordo com Pedro, uma das metas do mercado é ser o estabelecimento que venda produtos orgânicos com os melhores preços da capital paulista. Ele conta que a intenção do grupo é abrir ao menos uma loja em cada capital do país. Hoje existem unidades em Porto Alegre, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e uma nova loja em Recife será inaugurada em abril deste ano. As questões políticas são muito presentes no local, já que é uma loja originária do movimento do MST. Eles têm uma relação mais direta com os partidos considerados de esquerda no Brasil. A cliente Larissa Vicente, 19

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anos, estudante de moda, diz que começou a comprar no Armazém após a indicação de uma amiga. Ela afirma que ambas fazem compras no mercado porque é o lugar que vende orgânicos com o melhor preço e porque é uma forma de ajudar o MST. Bianca Carvalho, 20 anos, estudante de veterinária, conta que apóia muito a causa que o mercado defende, porque segundo ela o MST é um movimento que preza pela agricultura familiar e usa terras inutilizadas. Quando questionada sobre os alimentos orgânicos e sua importância, Bianca responde:“Eu enxergo como comida de verdade e sustentabilidade”. Ela ainda afirma que o consumo de produtos orgânicos vem crescendo muito pois a população esta tomando ciência do quão nocivos os agrotóxicos são para o solo, os lençóis freáticos e principalmente para a vida. O Armazém não é apenas um mercado, é também uma loja onde artigos do MST são vendidos, assim como livros, camisetas e outros produtos.Há também uma lanchonete no estabelecimento, em que as pessoas podem desfrutar de sucos, salgados e doces orgânicos. Em algumas ocasiões esse espaço serve como palco para feiras de alimentos orgânicos e sarau musical.


O crime não compensa De serial killer a comentarista no YouTube, conheça Pedrinho Matador Gabriel Belic Isabella Scala

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edro Rodrigues Filho, mais conhecido como Pedrinho Matador, é considerado o maior serial killer da história brasileira. Pela estimativa da polícia, ele matou mais de 100 pessoas, incluindo o próprio pai. Sua primeira tentativa de assassinato foi aos 13 anos, quando jogou seu primo em um moedor de cana, mas os ferimentos não foram fatais. Pela definição psiquiátrica, Pedrinho é considerado um psicopata, uma pessoa que sofre de um distúrbio psíquico que afeta sua forma de interação social, causando a falta de empatia e afeto. A proporção de pessoas com transtorno de personalidade antissocial (nome clínico da psicopatia) na sociedade é a mesma de pessoas com vitiligo, ou seja, atinge 2% a 3% da população. Entrevistamos Pedrinho sobre seu histórico carcerário e sua visão sobre a ressocialização de ex-detentos. Ele contou que seu tempo na cadeia foi horrível devido às más condições. Ao falar sobre a ressocialização, Pedrinho conta que “nem todo mundo que está lá dentro é ruim, muitos eram, sim, mas no meu tempo a grande maioria era para se defender”. Na visão de Pedrinho, a ressocialização é mais fácil nos dias de hoje. Para auxiliar sua própria ressocialização, ele criou um canal no YouTube (Pedrinho Matador: O Crime Não Compensa), o qual tinha mais de 30 mil inscritos. Contudo, ao checarmos o canal para realizar a matéria, ele havia sido deletado e outro, denominado “O recomeço”, foi criado. O conteúdo é baseado nos comentários de Pedrinho sobre crimes. Hilda Morana, 64 anos, psiquiatra pós-graduada pelo Instituto Metodista de Ensino Superior, estudou o caso clínico de Pedrinho. Ao contar sua experiência com ele, falou sobre um evento marcante, no qual Pedrinho estava no parlatório – local

Hilda Morana, psiquiatra especializada em psicopatia, em seu consultório

onde detentos ficam para conversar com visitantes – e Hilda apoiou um dos braços na grade, e logo em seguida foi surpreendida com a fala de Pedrinho: “Se eu fosse você, eu tirava o braço daí”. Ao ser questionada sobre uma possível ressocialização de um psicopata, foi direta e disse: “Não, ponto final. Porque o psicopata nasce com um defeito cerebral e esse defeito só aparece depois dos 18 anos, que é quando se faz a poda sináptica (fase do desenvolvimento em que algumas conexões entre os neurônios são eliminadas pelo organismo). Você vai ver neles uma área do cérebro imensa que não funciona. Então, ele não tem cérebro para respeitar, entender e aceitar o outro”, diz ela. Por isso, na visão psiquiátrica, a ressocialização de Pedrinho seria tecnicamente impossível. Porém, Hilda explica que quando um psicopata atinge certa idade avançada, mesmo que ainda tenha impulsos agressivos, ele não tem mais a mesma disposição para praticar seus crimes. Por mais que a ressocialização de Pedrinho não seja psiquiatricamente possível, o fato de ele ter sessenta e quatro anos o impede de praticar crimes. Perguntamos ao Pedrinho se ele fazia algum tipo de terapia ou prosseguia com algum tratamento. “Nunca

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fiz tratamento nenhum, só na cadeia quando fiquei 19 anos na mão da psiquiatria. Aí sim fiquei no meio dos loucos de verdade, mas não sou louco, nunca fui”, diz. Por mais que não exista um tratamento específico para psicopatia, Hilda achou um medicamento eficaz para inibir a excitação constante e acalmar pensamentos violentos, sintomas causados pelo transtorno. Ela tem usado a gabapentina em seus pacientes há quase seis anos e tem obtido bons resultados. Ultimamente, temos observado uma crescente demanda de conteúdo sobre assassinatos em série na mídia em geral. Recentemente, foram produzidos um documentário e um filme sobre a vida e os crimes de Ted Bundy e Jeffrey Dahmer, serial killers famosos na história dos Estados Unidos. Hilda conta que essa curiosidade por casos macabros vem do nosso gosto pela morbidez. Um exemplo recente de um caso de assassinato em massa é o caso dos atiradores de Suzano, que foram influenciados pelo massacre escolar de Columbine, que deixou 15 mortos. Além do canal, Pedrinho Matador produziu um documentário sobre sua vida e uma autobiografia. Espectadores e leitores não vão faltar.


Nunca é tarde para recomeçar Idosos empreendedores conquistam espaço no mercado de trabalho com muita dedicação Júlia Siqueira Lucidalva Matos

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om tempo disponível, a terceira idade busca se atualizar e estudar, a fim de juntar suas experiências e necessidades para empreender. Investir tempo e dinheiro em um negócio exige de muitos senhores e senhoras empenho para trabalhar. Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em 2018, 46% da população com mais de 60 anos trabalhava por conta própria e 9,3% eram empreendedores. De acordo com o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas empresas), a criação de negócios por pessoas da terceira idade ocorre principalmente por necessidade, devido às condições do mercado de trabalho ou por estarem em um momento em que têm mais conhecimento e segurança para investir em sonhos e realização pessoal. A necessidade é de fato o que muitas das vezes motiva novos empreendedores. Foi assim que Ricardo Kirs, de 61 anos, junto de sua mulher, criou a marca Amiga do Sabor. “O que me motivou a começar foi a necessidade, pois estávamos enfrentando dificuldades financeiras. Iniciei vendendo na Santa Casa, e aqui na Rua Maria Antônia estou há 5 anos. O meu trabalho é sem dúvida uma alternativa para lidar com a crise, podemos começar do zero, testamos nossa resiliência diariamente a cada segundo”, conta o vendedor de brigadeiros “gourmet” que faz a alegria dos estudantes e funcionários da Universidade Presbiteriana Mackenzie. O cenário é o mesmo para o vendedor Roberto Fleming, de 73 anos, que trabalha como autônomo há cerca de 20 anos e, mesmo após aposentado, permanece no mercado. “Continuo vendendo balas de coco para completar a renda de um salário mínimo que recebo de apo-

Graça Reis, proprietária e gerente da agência de viagens Fujji Turismo

sentadoria”, diz. O que era no início uma alternativa para garantir renda, agora também é uma forma de se manter ativo. “Não consigo ficar parado, hoje faço o que gosto, me divirto estando com a população, cultivando clientes e amigos”, conta. Muitas das vezes a experiência que falta para alguém jovem na área de atuação salva empreendedores com mais tempo de vida. É o caso de Celina Borges, de 66 anos, dona da empresa Fidelferro. “A maior vantagem de comandar uma empresa na minha idade é o conhecimento adquirido durante o tempo. Trabalho desde os 12 anos, tive uma trajetória longa, já fui auxiliar de costureira, auxiliar de contabilidade, secretária executiva e tenho um conhecimento que dificilmente dá para transmitir. Para mim, ser ativa na terceira idade é muito importante. Eu amo o que faço e me sinto útil, existe uma satisfação pessoal de estar à frente de um negócio que vi nascer e crescer e é quase um filho para mim”, diz. Ganhar espaço e ser respeitado na sociedade atual é o que muitas dessas pessoas precisam. Valorizando essa faixa etária, a série Grace e Frankie,

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disponível na Netflix, coloca em destaque a terceira idade, e mostra duas personagens (interpretadas por Jane Fonda e Lily Tomlin) diante de diversas situações, em especial na atuação no mercado de trabalho como empreendedoras. A série quebra os estigmas sobre a visão dos idosos na mídia e sociedade, conquistando um público diverso, variando desde jovens, adultos e até mesmo outros idosos. “Para comandar uma empresa recém-criada há muitos riscos, e o mais difícil é atingir sua clientela, cultivar, priorizar seus clientes e mantê-los”. Foi assim que Graça Reis, de 60 anos, dona da agência Fujji Turismo, falou sobre os desafios de empreender. “Passei por muitas dificuldades e houve momentos em que pensei até em desistir, mas para ter sucesso é preciso ter perseverança e entusiasmo, tudo que trilhei até aqui valeu a pena. Eu consegui ter sucesso na área que amo, hoje conheço 30 países e o Brasil inteiro, me sinto realizada e deixo esse legado para o meu filho, que também segue no turismo”, conclui.


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