cinco meses
maĂra dietrich junho 2011
_____________________________ regina melim
_____________________________ raquel stolf
_____________________________ diego rayck
‘it’s okay...’ robert smithson para nancy holt em swamp, 1971
primeira parte (sem imagens)
construindo um final on kawara e o presente I on kawara e o presente II on kawara e o presente III nomadismo
dispersão aguçada
um dois três quatro cinco seis sete oito nove dez onze doze treze catorze quinze dezesseis segunda parte (com imagens)
bonjour monsieur courbet I bonjour monsieur courbet II
dezessete
final
referências
primeira parte
construindo um final ‘cinco meses’ é uma zona plana que abriga e arranja diferentes momentos do meu processo de trabalho. um espaço cuja única determinação é o seu tempo de existência e execução. perpassa trabalhos antigos, idéias prontas, idéias entendidas, idéias abortadas, dias bons, dias ruins e quase todo resto. não pode se dizer que esse trabalho não tem tema, pelo contrário, quase todo dia vivo um tema diferente, o grande cerne dissolveu. um pouco de todos e nenhum. é um tcc mais vivido do que feito, num intervalo de tempo em que muita coisa se misturou. o trabalho se construiu com folhas soltas, viagens, milhares de correções em busca das melhores palavras, mais pelo não do que pelo sim. viver o trabalho e falar sobre ele como um exercício de compilação quando ainda está num lugar sem nome. como uma construção de tijolos invisíveis, e um tem que ficar encima do outro. a conclusão parece querer falar sobre um ‘acordo final’, diferente do fim, que é o fim e pronto. explicações sobre a escolha dos trabalhos, os nomes dos capítulos, o por que de tudo isso estão em todos os outros lugares menos nesse impresso. o trabalho buscou justapor procedimentos inversos que se aniquilam, seja pela subtração de camadas da matéria (grama descolorida) quanto por chapar de preto (vidros entintados), pretensiosamente buscou uma raspagem de todas as camadas de significação que não interessavam, na obsessão de que zerar o terreno seria a única possibilidade de criar algo novo. acabei raspando camadas demais, o que sobrou foi muito pouco. o trabalho não sou só eu, e nem é só um outro, somos dois ventríloquos, nem totalmente eu, nem totalmente outro. a gente conversa e também se desentende. ficamos os dois tentando amarrar um corpo-base, criando frases com os trabalhos.
on kawara e o presente I lembro quando era pequena gostava muito de uma música que durava 9’58’’. toda vez que faltavam dez minutos para alguma coisa corria para o quarto e ouvia a música.
on kawara e o presente II durante uma viagem paramos numa loja de beira de estrada para comer, tudo no lugar era pintado de vermelho ou branco, com muitos corações, o nome era ‘ana’, ‘para sempre ana’ ou alguma coisa assim. na parte de fora, virada para a estrada uma placa imensa que dizia: ‘ana, voce foi a melhor coisa que já me aconteceu. ficarei aqui esperando o dia do teu regresso, pra sempre’.
on kawara e o presente III quando o alvo ĂŠ acertado o obturador ĂŠ acionado. ria van djik tirou uma foto sua por ano desde os 16 aos 88 anos.
nomadismo. nomadismo aplicado ao corpo, noção de lar e pensamento. impossível ter o mesmo caderno, o mesmo objetivo, o mesmo lugar. um ‘por que não?’ rege o caos. quinze cadernos, folhas arrancadas, pastas em decomposição. justapostos. córrego grande, santana, mauro ramos, consolação, camping do dema cabo polônio, zimbros, angelina, trindade.
mesa de trabalho
em s達o paulo
dispersão aguçada construir um tcc sem uma noção-cerne de tema leva a esse momento onde encaixo tudo que me interessa nessa síntese caótica. ao mesmo tempo que apalpo, a estrutura se dissipa e me esqueço como se encaixava. tudo se constrói e encaixa. a atenção dura pouco mas cai na minha cabeça como um pedregulho. vou de um ponto ao outro sem nenhum tipo de foco que possa defender retóricamente. hiperconsciência do entorno, onde tudo é associado e percebido com atenção, livro, vida, deslocamento, artista, desejo, corpo.
segunda parte
um dia estava subindo a rua onde morava e encontrei meus vizinhos, o bruno (loirinho, avaiano, nove anos) e a taís (sempre de rosa, também loira, onze anos) sentados no muro, na boca da rua. eles estavam rindo e rindo, com a boca aberta, olhando um pro outro, me vendo ir na direção deles, rindo sem parar. fui chegando perto e eles rindo cada vez mais, vi que estavam com a boca e o queixo babados, uma bela cena, e eu já ria com eles sem entender nada. ‘o que que vocês estão fazendo?’, não conseguiam responder de tanto que riam, até que o bruno conseguiu, ‘brincando de babar’, eu ria sem entender por que estava rindo, ‘mas pra que?’, ‘não sei, mas é legal’.
preto brilho
ninguĂŠm entendeu o trabalho
mas todo mundo admirou a postura
preto fosco
2 tentei desenhar e escrever no caderno por meses, mas o quadriculado repelia qualquer coisa nele. o único desenho que consegui fazer foi rebater o quadriculado dentro do quadriculado, inchando ou atrofiando os espaços entre as linhas ou deslocando tudo para os lados, como uma sub imagem mal encaixada. fico com medo de ter esquecido como se cria algo novo, sinto como se só soubesse rebater o que me é dado.
‘swamp’ de robert smithson e nancy holt, 1971. ela caminha guiada pelo visor da câmera e pela voz dele.
aimless
aim
devoid
purposelessness, devoid of direction or purpose without aim. mira, almejar, ansiar. to empty out, to remove, to destitute.
a rua amanheceu coberta por uma fumaça. todo mundo olhava envolta mas ninguÊm achava o fogo.
volta e meia as notas da flauta de bambu escorregam pela casa e me fazem parar seja lรก o que for.
método de trabalho. depois de um longo dia cheio de compromissos de ordem prática, ela toma seu banho, e se prepara para deitar, lê até cansar e dorme. Instintivamente ou por despertador levanta nas primeiras horas da madrugada, senta com os papéis, escreve e revê as folhas. a madrugada é sempre regida por uma única faixa musical que acompanha no repeat. pouco antes do sol nascer ela finaliza os escritos e se deita, dorme até a metade da manhã. acorda dissimuladamente surpresa ao ver os papéis remexidos.
arrombador (de portas ou paredes) para duas pessoas: bloco de cimento maciรงo com quatro alรงas e duas pontas.
bonjour monsieur courbet I (exerc铆cio de mem贸ria I)
bonjour monsieur courbet II (exerc铆cio de mem贸ria II)
final emplastro entintado deixado de molho na água sanitária durante cinco meses (exceto nas últimas duas semanas, ele parecia exausto). a cor voltou ao normal e ficou quebradiço.
referências.
no ar rarefeito, john krakauer......................................................................................................arranquei a capa. a odisséia, homero..................................................................................................................no metrô e no barco. g o olho do corvo, yi sán ..........................................................................não lembro o que estava procurando mas achei. o apanhador no campo de centeio, j.d. salinger......................................................a causa e a solução das insônias. nove estórias, j.d. salinger.........................................................................................................................idem. robert smithson, the colected writings, jack flam................na minha mochila dia sim, dia não desde que chegou do correio. swamp, 1971 de robert smithson e nancy holt................................................................................. porto alegre. porquoi o mal, jorgen michaelsen par(ent)esis.........................................................................não tenho palavras. red book, david shrigley........................................................o livro mais comprado e perdido na vida, no total foram quatro. a year from monday, john cage.....................................................................................................acampamento. como si fa una tesi di laurea, umberto eco...................................................................................................... words to be looked at, language in 1960s art, liz kotz..................................................................................... hand guns, erick van der weijde...............................................................................................nunca saiu da vista. marcel duchamp, engenheiro do tempo perdido, pierre cabanne.................................................................... ARTE E MUNDO APÓS A CRISE DAS UTOPIAS fábio morais e daniela castro par(ent)es ...................antes de terminar volto pro começo. francis alys e chris burden..............................................................................................................tornado e 747. Turista/Motorista caderno.sesc videobrasil........................................................................................boris groys. on kawara, phaidon...................................................................................................something, nothing, everything. conceptual art, tony godfrey............................................................................................................................ essays on the blurring of art and life, allan kaprow......................................................................................... mel bochner, catálogo centro de arte hélio oiticica, 1999............................................................................... in a given situation, francis alys...................................................................................................................... wall piece, gary hill...................................................................................existe um texto, mas cada palavra é presente. not dark yet, bob dylan.................................................................................................................................... scheherazade, rimsky-korsakov...................................................................................................................... the beast in me, johnny cash........................................................................................................................... spiegel im spiegel, arvo part............................................................................................................................ gymnopédie no.2, satie...................................................................................................................................
à regina, pela paciência e carinho com esse projeto minha mãe, pelas mudas e jardins meu pai, pelo pé no chão e paciência cauê, pela coragem e compania, desde pequenos raí, os melhores conselhos e idas ao cinema diego, desde a primeira aula até a banca (e aline, pelo lindo convite do cardernos) raquel, pelo incrível último semestre bee, sempre, sempre, sempre parceira rosana, que me salva e me sorri ana clara, a melhor das irmãs mais velhas marina, e a tua presença verdadeira jorge, (inteirinho sem mudar nenhuma parte) joão, e a ‘força de um touro’ camila villacis, querendo ou não deyson, que tinha que estar aqui, mas não sei a que agradecer nonna, que me ensinou a gostar de estórias vô zeca, pelo ‘dietrich’ que nunca entendi muito, mas vivo nonno, que sempre me pergunta quando vou tirar o piercing vó onadir, abraço quente da ponte pênsil nonno paulo, que não conheci, mas descobri que eramos parecidos rosane, que cuida de tudo com tanto carinho laika e miucha, que nem sabem que estão nos agradecimentos fernando segura, no mesmo percurso, sempre anninha, pela flautinha de bambu e as tagarelices na cozinha tia célia, mesmo que de longe me olha e sempre sorri pro que vê pedro mc, que ficou bem perto nessas últimas semanas. madrinha, comemoramos com espumante bil, pela música e pelo pão ruth, amor-amigo pitz, do darklands ao hustler a pedra do gravatá, pela primeira baleia e o monolito a praia da joaquina, nos aniversários o sítio, que me abraça e faz os detalhes na ponta dos dedos a casa de santana, e o eterno cheiro de casa nova.
- whose is this? it’s mine - please remove it from the passage i cannot - why not? because it is a living thing with its own will and refuses to be moved david shrigley, red book, 2009.