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Moderno como as ondas, antigo como o mar1 [Chico Cavalcante Porto]2
Maíra Ortins tem na arte uma trajetória multifacetada, rica e profunda em cada campo ou pesquisa em que decidiu atuar, trabalhando como gestora cultural e artista. Expôs em vários países e em importantes instituições. Realizou pesquisas diversas, com destaque para suas produções em xilogravura, desenho, intervenções em fotografia e a fotoperformance para narrativas e ficções sobre o mar, lugares míticos e sonhos, essas com fortes influências da literatura de Manuel Bandeira; e seus trabalhos políticos em pintura e vídeo. Duas obras (sem título, 2011) da série “Porque é no olhos que carregamos o mar” pertencem ao Acervo do Mac Dragão, nelas a artista trabalha com intervenções sobre cópias de fotografias antigas, fecundando sobre as superfícies novas possibilidades e mundos. Com cera de abelha e pigmentos azuis, em alusão a água, cria pequenos relevos e manchas na fotografia. Abaixo das pálpebras inferiores, por onde produzimos água salgada ao chorar, os olhos das figuras ganham profundidade com ondulações de cor azul. A artista também escreve e faz marcações com pena e nanquim, além de adicionar objetos, como pequenas conchas e um pingente em uma das obras. Durante o processo de criação destas figuras abissais, míticas e misteriosas, Maíra descongela o tempo estático da fotografia adicionando camadas de uma nova memória, essa composta por ficções e sonhos inspirados pela literatura e por sua forte ligação com o mar. 1 Eduardo Chillida, escultor espanhol. Texto publicado na página do Acervo do MAC - CE. 2 Arquiteto, urbanista e pesquisador.