Um lugar imaginado para aqueles que não possuem lugar. Maíra Ortins

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Do abissal à Khôra: a mulher com peixe interpela Judith [Carolina Ruoso] O abissal diante do mar, diante das grandes porções de terra, do mar às travessias, às experiências de quem parte em retirada, dos que migram. São imigrantes e experimentam o abissal. Da paisagem ao retrato, da pintura à fotografia, Maíra desdobra narrativas do abissal entremeando passados e presentes. Abissal pode referir-se ao assombro, ao aterrorizante, ao misterioso, ao indecifrável, ao obscuro e, quem precisa emigrar, partir ao exílio, encontra-se com o abissal da vida. Arrisca-se diante do desconhecido, vive na obscuridade, invisível, sem direito à exposição, de acordo com George Didi-Huberman (2012). Pode ser também o abissal do silêncio, do banzo, da saudade da terrinha. Pode ser o abissal do mar, das profundidades dos oceanos, das cercas e arames, dos campos de refugiados, campos de concentração, dos muros nas fronteiras. O abissal da solidão, da perda, da fragmentação, do medo de ficar sem memórias. Maíra olha o mar de Fortaleza, mergulha e torna-se a mulher com o peixe no colo. Uma mulher mítica, uma mulher


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