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O que pode a arte quando reina a obscuridade? Duas ou três coisas sobre Khôra, de Maíra Ortins [Osmar Gonçalves] Segundo o relatório Tendências Globais, do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), até o final de 2018 existiam cerca de 70 milhões de pessoas deslocadas por guerras e conflitos em todo o mundo (uma população equivalente à de países como Alemanha e Turquia). É o maior nível de deslocamento forçado registrado pela Agência da ONU em seus quase 70 anos de atuação. E esta ainda pode ser uma estimativa conservadora, já que reflete apenas parcialmente as crises na Venezuela e no norte da América Central. Não restam dúvidas, vivemos tempos sombrios, tempos de chumbo. Anualmente, a guerra, a fome e a violência levam dezenas de milhões de pessoas a deixarem suas casas rumo a um futuro incerto. Enfraquecidas, cercadas pelo mal e pelo perigo, boa parte morre na travessia1 ou vê sua esperança esvair-se peran1 De 2014 a 2018, a Organização Internacional para as Migrações (OIM) registrou mais de 30.000 mortes em travessias irregulares em todo o mundo. Quase a metade desse número, ocorreu por afogamento no mar Mediterrâneo – o trajeto de migração considerado o mais fatal do mundo.