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Marcelo Conti (CAPA) 39 e

sua carroceria estava uma peça gigante, algo que nunca tinha visto na vida, mas de uma beleza singular. Os contornos de aço brilhavam no reflexo dos últimos raios solares do dia, e expunha aquele enorme objeto como se fosse uma estátua iluminada diante dos olhos do garoto. Atrás, outro veículo. Mais uma peça desta vez pouco menor, porém não menos intensa na beleza e no efeito que fazia aos seus olhos. Atraído, levantou-se lentamente, e pôs-se em pé. Nunca havia feito isso. A alça esquerda da camiseta caiu novamente até o antebraço, mas a concentração da mente estava naquela espécie de desfile que os veículos proporcionavam ao sair, aos poucos, de dentro da fundição. “Meu Deus, qual dessas peças poderá ir para o carro? Talvez esta, ou aquela, ou nenhuma delas? Peças tão grandes como essas não devem ser para carros. Papai mentiu para me agradar...” pensava boquiaberto enquanto acompanhava com os olhos a sequência do que via. Finalmente, um último veículo passou à sua frente já quando a tarde se transformava em penumbra. Voltou-se o menino para o lugar onde por dias e dias costumava ficar. Antes, porém, que o portão fechasse completamente o soar forte de uma sirene tomou conta do lugar. Estranhou aquilo. Primeiro foram os olhos vivos que se levantaram, depois a cabeça, e finalmente o corpo. Rendeu-se à alça da camiseta desta vez, estava absorvido. O som da sirene despertava uma curiosidade impar, porque jamais a tinha ouvido. Caminhou vagarosamente e, ao se aproximar do portão da fundição foi convidado a entrar. Ficou petrificado ao ver uma carruagem iluminada e colorida de vermelho, puxada por quatro cavalos devidamente “vestidos com roupa de gala”, e tendo como cocheiro ninguém mais nem menos que Papai Noel. Atrás, todos os funcionários cantavam músicas natalinas, fazendo uma coreografia simples, mas quentes ao coração. Passavam pelo menino, e paravam. Absolutamente tomado pela surpresa, somente se deu conta de que o homem sem nome estava à sua frente quando por ele lhe foi dirigida a palavra. “Como vai, meu garoto? Lembra-se de mim? Sou o dono disso tudo que está vendo. Tenho alguns amigos, e consegui localizar Papai Noel; pedi a ele que entregasse algo que fizemos especialmente a você. Espero que goste, porque parte de seu presente foi feita por todas as pessoas que você está vendo agora, com amor e carinho, como tudo o que é feito aqui na fundição.” Papai Noel desceu daquela engenhoca especialmente “construída” para a ocasião, e entregou um grande pacote ao menino. Incrédulo, e já cercado por todos, desfez o embrulho com a “habilidade” que toda criança tem quando ganha um presente. No primeiro rasgo o interior do pacote brilhou contra a luz, agora artificial, e na sequência a revelação da surpresa: um carrinho lindo, novo, reluzente. O menino nem piscava, para não perder tempo em olhar seu presente. “Obrigado!” balbuciou. “Não agradeça a mim”, disse o homem sem nome. “Quem trouxe seu carrinho foi Papai Noel. Aliás, resolvemos contratá-lo para também ficar conosco.” O menino correu ao encontro do bom velhinho. Emocionado, Papai Noel abraçou o garoto, e ao beijá-lo deixou o bigode escorregar revelando parte de sua boca. “Conheço você?”, indagou com voz terna, e olhando o contorno de uma boca que lhe parecia familiar. As lágrimas correram o rosto do Papai Noel, descolando sobrancelha e barba falsas, derretendo a maquiagem, fazendo uma mistura descolorida que deixava a marca sobre o ombro esquerdo do garoto, sem a alça da camiseta, claro. Aos poucos a imagem do pai se ofereceu à sua frente. E, na mescla do clima e da emoção generalizada e incontida, o menino só teve tempo de sussurrar: “Papai, eu sabia que você não tinha mentido pra mim...”

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Aprendizagem na 3ª idade Por um envelhecimento saudável

Malu Navarro Gomes Pedagoga Psicopedagoga Educadora no projeto Feliz Idade

O ser humano necessitou, desde sempre, para garantir sua sobrevivência, agregar-se a seus iguais. Sozinho, pela fragilidade física, para falar apenas de uma das condições que apresenta, não sobreviveria. Em sociedade, no entanto, não apenas tornou-se mais ativo e forte para enfrentar diferentes desafios como adquiriu noções que transformaram e elevaram sua capacidade cognitiva bem como seu estado de resistência. A vida em sociedade provoca nas pessoas a noção de pertencimento, empatia, solidariedade, para citar apenas alguns exemplos. Ao mesmo tempo desperta sentimentos ambíguos como o de amor e ódio, de liberdade e busca pelo poder, orgulho e vaidade, insatisfação e realização e tantos outros que muitas vezes levamos uma vida inteira para reconhecê-los e modelá-los em nosso comportamento diário. Outras conformações ocorreram resultantes do convívio social. A linguagem é um exemplo disso. Para garantir uma convivência minimamente pacífica com seus pares, códigos gestuais e de voz começaram a ser compartilhados e acabaram sendo formalizados como a linguagem de um determinado grupo. Com o refinamento da cognição, o pensamento, a imaginação e a criatividade garantiam que os grupos se movimentassem na construção de realidades diferenciadas tanto no plano individual quanto social, tanto de forma objetiva como subjetivamente. O que foi descrito em apenas quatro parágrafos foi um processo longo para a humanidade e cada passo dado representou largo espaço de tempo para que tudo se consolidasse da forma como hoje nos apresentamos e à sociedade atual. Chegarmos onde estamos custou muito esforço intelectual e físico, muita disciplina e determinação. Tudo indica, porém, que ainda evoluiremos em direção a outras e novas possibilidades; algumas que o futuro já nos aponta. O viver de forma a se tornar um idoso é uma dessas possibilidades. Nunca, como nos tempos atuais, pudemos observar uma quantidade tão grande de pessoas que atingem idades avançadas, muitas delas lúcidas e saudáveis ultrapassando os cem

Foto: borgesogato.com anos. A velhice foi considerada como etapa do desenvolvimento humano há pouco tempo. Antes era tida como sendo da competência da Psicologia do Excepcional já que sua discussão associava a velhice quase que exclusivamente a questões como limitações e dependência de diferentes ordens e graus. Na atualidade, quase figurou na Classificação Internacional de Doenças – CID.11 – designada como doença. A Organização das Nações Unidas – ONU – considera idosa, a pessoa com sessenta anos ou mais que vive no Brasil, um país em desenvolvimento. Nos países desenvolvidos, idoso é quem apresenta idade a partir dos sessenta e cinco anos. Se nos referimos ao idoso brasileiro, é preciso questionarmo-nos se estamos, como cidadãos, preparados para viver a velhice e, como sociedade, preparados para garantir e defender uma velhice que perdure por muitos anos? Com os avanços nas áreas da medicina, das ciências humanas, da tecnologia, para só citar algumas, é possível dizer, que a criança nascida hoje terá muito mais chance de viver e chegar à velhice em vantagem frente à nossa geração, a de nossos pais e avós. Mas se a pergunta se limitar ao tempo presente: você está preparado/preparada para viver uma velhice que perdure por muitos anos? A resposta provavelmente será: “Não!” Muitos, se não a maioria de nós, simplesmente vive a velhice da mesma forma que viveu a infância, a adolescência e até mesmo a fase adulta, ou seja, cuidando do tempo presente e de seu futuro próximo. Como poderíamos agir de forma diferente, se não tínhamos sequer a noção do significado que o envelhecer começa a representar? E se eu chegar aos 90 anos, como pretendo estar e viver? Como poderei me preparar para viver tanto e viver bem? Falaremos muito durante as próximas edições da Magazine 60+ sobre esse assunto, propondo práticas para o idoso e sua família. Falaremos também sobre os fundamentos que norteiam as ações do projeto Feliz Idade, projeto idealizado para auxiliar o idoso em seu envelhecimento saudável. Um dos propósitos do projeto Feliz Idade é garantir às pessoas idosas assim como às suas famílias, ferramentas para que possam viver – ou conviver, da melhor forma possível com – os diversos momentos que caracterizam o envelhecimento saudável, sobretudo vivê-los felizes, porque é a felicidade que todos desejamos alcançar. É sabido que o envelhecimento saudável e ativo resulta de muitas variáveis, a começar pela genética. Hábitos adquiridos e um estilo de vida cultivados nas etapas que precedem a velhice interferem para o bom envelhecimento ou para uma velhice mais comprometida em termos da saúde. Alimentar-se bem, não pular refeições, comer sem pressa, tranquilamente, saboreando a comida, variar o que come considerando alimentos naturais, frutas, legumes e verduras, hidratar-se ingerindo água ao longo do dia, tomar um bom café da manhã e cuidar para que o lanche da noite seja leve, tudo isso e muito mais irá resultar em mais saúde e bem estar. Essas orien-

tações e outras informações que as complementam devem ser obtidas junto aos profissionais da área da saúde, geriatras, clínicos gerais, nutrólogos, por exemplo, que irão avaliar cada caso e indicar o que for mais recomendado ao idoso. Acostumar-se a fazer uma avaliação médica anualmente pode se tornar um bom hábito. As opções existentes para a realização do atendimento médico anual podem ser encontradas no SUS – Sistema Único de Saúde –, nos convênios médicos particulares pelas pessoas a eles associadas, ou junto a médicos particulares autônomos. O importante, neste caso, é que o idoso faça as consultas periodicamente, para constatar como anda sua saúde. Para isso existem diferentes modalidades de médicos, desde o clínico geral e o geriatra – que focalizam a pessoa como um todo, detectam as áreas de estudo a se ativar e fazem o encaminhamento para os médicos especialistas. Nesta época em que ainda perdura a pandemia, faz-se importante não aceitar informações e indicações vindas de fontes desconhecidas, principalmente no caso de conselhos médicos, pois muitas vezes trata-se de “fake news” que, em lugar de auxiliar as pessoas, ajudam a complicar mais ainda seu estado de saúde. Profissionais competentes, que acompanhem o idoso por um período de tempo significativo, são verdadeiros aliados na busca de respostas que auxiliem a garantir o bem estar e a autonomia do idoso. Ao efetivar a consulta agendada, não esqueça de separar os exames que digam respeito àquela avaliação médica e, se possível, formule perguntas em uma folha de papel para servir de roteiro para aquilo que você pretende saber sobre sua saúde e possíveis alternativas que o médico possa indicar para assegurar sua saúde.

Sr. Athos – São Paulo – SP (por áudio)

PERGUNTAS DO LEITOR

O que eu gostaria de comentar, sempre baseado na Filosofia Diretriz, que eu sigo: ela é dividida em quatro áreas, sendo uma delas a Educação, a Filosofia na Educação. E essa pergunta do leitor que está aí (referência à pergunta publicada na edição de dezembro/2020 da Magazine 60+) vem bem a calhar, pelo que eu queria dizer. Segundo Epicuro, nunca é tarde demais nem cedo demais para ser feliz. Então eu perguntaria a você qual é a virtude... porque a gente é composto de espírito, a parte psicológica e a parte física, biológica. São as três dimensões para se formar uma integral: a parte espiritual, a psicológica e a biológica. A gente evolui, sempre, nos três sentidos. Aliás, essa é a Lei do Equilíbrio que Jesus Cristo trouxe: Ama a Deus em primeiro lugar e ao próximo como a ti mesmo. Essa lei é de uma profundidade incrível. E, para nós, na Filosofia Diretriz chama Lei do Equilíbrio. Sem ela não há como formar o homem integral e, o homem integral só se forma desenvolvendo as virtudes - ele só é plenamente ele mesmo, quando desenvolve as virtudes. Então eu pergunto a você: além da felicidade – com que o leitor não se identificou – qual a virtude que você acha importante desenvolver nessa idade? Sei que todas são importantes, mas deve ter alguma em especial. A gente sabe, pela Filosofia Diretriz, que o Bem é a soma das virtudes. Então, minha pergunta é nesse sentido. Sr. Athos, obrigada por seus comentários e por sua pergunta. O que posso dizer é que na velhice, após os sessenta anos, uma questão que se faz presente com maior ou menor clareza e frequência, diz respeito à morte e à finitude pessoal. A pessoa sabe que seu fim se aproxima e que não importa quanto tempo ainda lhe reste, um dia essa vida há de terminar. Independente de sua vontade haverá um momento em que a pessoa não mais estará, não mais se fará presente...

magazine 60+ #31 - Janeiro/2022 - pág.45

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