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Sérgio Frug 29 e
Foto: Foto de Top5 Way no Pexels. / João Bidu www.terra.com.br - divulgação manha exuberância com a força por fim reconhecida pela nossa consciência. Neste momento vivemos sob o domínio do ódio e do espírito da guerra infindável, insuflados pelo medo e pela vaidade de nos julgarmos capazes de corrigir o mundo sem corrigir a nós mesmos.
Assim se aproveitam os poderosos da nossa ingenuidade. O clamor público nunca gritou tão alto em acusações terríveis aos adversários das ideologias em que se entrincheiram as facções que se julgam de parte a parte donas da verdade. E o mais provável será mesmo que tenham fundamento todas essas incriminações com que cada um se esmera em definir o outro, sem nunca reconhecer o seu próprio e às vezes calamitoso estado. Será o fim do mundo? Ouso dizer que não, que muito pelo contrário estamos vivendo o caos do recomeço, refinando a intensidade com que os mitológicos Titãs deram origem à organização do nosso planeta em meio à dispersão de forças terríveis, que apesar de tudo trouxeram a luz ao mundo em que vivemos. Até a própria banda homônima, sutil e sincronicamente tem a ver com isso. A nós resta dar-nos conta, um a um, acendendo cada um a vela do outro para espalhar a luz do Amor, que segundo se diz, foi retirado do dístico da nossa bandeira, antes unido à Ordem e ao Progresso, que sem amor nunca resultará no destino supremo de celeiro planetário a que se destina o nosso país. Assim às terríveis trovoadas do apocalipse titânico que ora se apresenta, dentro do princípio universal de expansão e contração que caracteriza o nosso planeta, podemos sonhar com uma nova realidade. Unindo a todos e todas, superadas as antigas adversidades, na construção do imenso tapete verde, agroflorestal, em que se tornará o nosso Brasil brasileiro.
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Arquiteto e Urbanista
Ricardo Tempel Mesquta CAU A78906-2 (41)3277-5299 / 98536-6059 (WhatsApp) arqmesquita@gmail.com
Manhã de um sábado de Fevereiro de 1982 em Curitiba, setor de emergência do Pronto Socorro do Hospital Cajurú, dores lancinantes, hemorragia, suor, lágrimas... Sou mais uma vítima de uma estatística cruel e desumana, mais um jovem de vinte e poucos anos prestes a perder uma perna... se não, a vida. Fraturas múltiplas e expostas na perna esquerda, perda de massa óssea no acidente, costelas quebradas, um torpor invade meu corpo, um pavor me invade..., não pode ser muito jovem para morrer, muito jovem para me tornar uma pessoa com deficiência…porquê? De onde veio aquele carro, como aconteceu? Onde está a moto que estava embaixo de mim? Centro cirúrgico lotado, todo final de semana é a mesma cena, milhares de jovens tendo suas vidas ceifadas ou mudando radicalmente. Ontem estava jogando vôlei, correndo, brincando, namorando, estudando, hoje vendo o teto do hospital, dezenas de pessoas vestidas de verde, rostos mascarados.... Ao lado, dezenas de pessoas sobre macas, algumas agonizando, outras inertes, sem nada poder fazer. Horas de espera, desconforto enorme, quero sair dali, não posso, cada movimento é seguido por dores indescritíveis, é como se estivessem arrancando pedaços de mim, será que terei forças para suportar tudo isso? Socorro meu Deus! Finalmente vão me anestesiar, finalmente vou poder desligar deste pesadelo, uma tontura incrível toma conta de mim...apago. Acordo no meio da cirurgia, ruídos insólitos, seria uma furadeira? Seguem-se marteladas, meu corpo todo sacode, muitas conversas, risos, percebo que estou com mãos e cabeça amarrados, não vou suportar, peço socorro, não sou atendido, uma enfermeira se aproxima e apenas diz friamente que terei de agüentar o resto da cirurgia acordado pois o anestesista não está mais ali…Penso em Deus, em Jesus, será que sua agonia foi parecida com a que eu estava passando naquele momento, com os braços abertos em cruz, agulhas e tubos transfixando meu corpo? Após horas de agonia, finalmente no quarto, mas porque não sinto minhas pernas? Passam horas e o desespero começa a tomar conta de mim, chamo o médico, ele não sabe explicar ao certo, mas desconfia que possa ter havido algum problema na anestesia raquidiana,
magazine 60+ #38 - Setembro/2022 - pág.31
Foto: idec.org.br pede que eu tenha calma. Calma? Como desejei que ele estivesse em meu lugar, com apenas metade de um corpo! Como fazer minhas necessidades fisiológicas sem sentir meus órgãos, meu sexo, será que voltarei a ser um homem viril novamente? Se não, quero que esta vida se acabe aqui e agora! Graças a Deus, após muitos dias de desespero, volto a sentir minhas pernas e o restante de mim, recebo alta e vou para casa completar meses de espera, sem saber em que condições voltaria à minha vida que eu não sabia que era tão preciosa. Como era humilhante depender de todos para tudo, as coisas mais íntimas e triviais passaram a requerer planejamento, equipamentos especiais, conheci o papagaio e a comadre, que nomes engraçados, metodologias complicadas, esforços nunca antes imaginados, como era importante a lei da gravidade! Que saudades daquele velho chuveiro, nunca pensei que sentiria saudades de algo tão corriqueiro quanto tomar um simples banho. Dia sim, dia não, minha irmã vinha com uma bacia de água morna para me dar o “banho de gato”, um pano úmido com o qual eu “lambia” meu corpo nas partes íntimas até onde alcançava, o restante dependia de ajuda. Começo das aulas, e agora, como farei para dar continuidade ao curso de Arquitetura? Não me lembro se existia elevador na PUC, nunca havia precisado reparar nisto, afinal levava uma vida “normal”. Vem a resposta, não teria como cursar aquele ano, pois após inúmeras operações de enxerto o médico já havia sentenciado, pelo menos seis meses de espera para que o calo ósseo permitisse sair da cama para uma cadeira de rodas. Cada dia é uma eternidade, como o tempo demora a passar em uma cama, quantos finais de tarde imaginando como seria mais uma noite naquela mesma posição... Quem será que vem me visitar amanhã? Nunca poderia imaginar como seria a vida de uma pessoa presa em um leito, afinal havia nascido perfeito! Como somos frágeis, de uma hora para outra mudamos de lado, aqui estava eu totalmente dependente, uma Pessoa com Deficiência! Muitos meses depois recebi permissão de começar a andar de cadeira de rodas. Quando eu imaginei que poderia chegar um dia que eu desejasse andar de cadeira de rodas? Como era maravilhoso poder sair do quarto e voltar a ver o jardim de casa, o calor do sol aquecendo meu rosto, caramba, nunca imaginei que algo tão simples pudesse trazer tanto prazer, estava voltando à vida, infelizmente ainda não conseguia entrar no banheiro, aquela maldita porta de sessenta centímetros, como nunca havia reparado que ela era menor que as outras? Quem foi o infeliz que com tanto espaço colocou uma porta tão estreita? Até que enfim chega o dia de começar a andar de muletas, meu Deus, nunca pensei que isso poderia me dar tanta alegria. Finalmente poderia voltar a sentar em um vaso sanitário, que saudades da Lei da Gravidade, que saudades daquela banheira e daquele chuveiro, queria passar horas debaixo daquela água morna aquecendo meu corpo. Passei muito tempo curtindo este prazer tão simples, mas tão importante após meses sem senti-lo, como aprendemos a valorizar as mínimas coisas após perdê-las. Chega o dia de voltar à Arquitetura, minha paixão, quanto era importante e eu não sabia. Compro um Gálaxie hidramático, uma verdadeira lancha sobre rodas, mas no momento o único veículo que conseguia dirigir sem a perna da embreagem. Chego à PUC, agora onde achar