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Marcelo Conti 69 e
tou Lelo. “Madame não vai jantar?” “É para ela a sopa...” “E, para o senhor????” “Nada, obrigado. Já jantei; é só para encerrar a noite...” (sorriso amarelo) “Bebidas?” “Não, obrigado. Apenas a sopa...” Veio a sopa. Quentinha, cheirosa, apetitosa. Maravilhosa! Ruth, coitada, ofereceu ao namorado e ele não quis (por educação, lógico!). Ainda que acompanhava o prato uma pequena porção de fatias de pão. Lelo tratou de comer aquele pãozinho e, vez por outra, mergulhava um pedaço dentro da sopa de Ruth, sem que o garçom percebesse. Satisfeitos, pediram a conta. Veio a despesa: total R$ 33,00. Lelo havia se esquecido da cobrança do serviço, ou seja, os 10% que costumeiramente são incluídos. Ali estava, sobre a mesa, a sentença de morte daquele casal que resolveu fazer um programinha barato. Mas, Lelo não se apertou. Para surpresa de Ruth, chamou o garçom novamente e pediu o cardápio. Faltava a sobremesa. “Escolhe aí, Rutinha, fica à vontade”. A sopa veio de volta pelo esôfago, a namorada atônita imaginou que o pão tivesse feito algum estrago na cabeça do companheiro. “Escolhe!”, insistiu. E foi mais longe: “Olha, tem pudim, morango com creme, sorvete, frutas... deixe-me ver... Morangos com creme! Boa pedida, você quer morangos com creme... Garçom!”. “Lelo!”, sussurrou Ruth, “...você está louco? O que significa isso?”. “Significa que você vai ficar comendo que eu vou atrás do dinheiro. Entendeu, agora?” E, enquanto a namorada saboreava aquela deliciosa fruta, o namorado correu em casa e obteve um “empréstimo” do velho pai que, já pensando em se recolher aos aposentos, foi surpreendido com a história maluca que o filho acabara de lhe contar. Voltou Lelo ao restaurante, todo faceiro, porque agora ainda sobraria um belo troco para o próximo encontro. Ruth estava apreensiva e respirou aliviada quando viu o semblante feliz do amado, e uma discreta piscadela com o olho direito. “Por favor, agora sim, a conta!”, exigiu Lelo. Veio a conta. Algumas notas de Reais cobriram o pequeno pires que o garçom havia trazido. Foi o pires com o dinheiro a mais, e Lelo aguardou o troco. Sorriram um para o outro. Como o super-herói que salva a mocinha, Lelo e Ruth teriam um final de domingo feliz. Veio o garçom com o troco. Mal colocou o pires sobre a mesa e Lelo, ansioso e confiante, falou: “Muito obrigado, estava ótimo!”. E o garçom, pensando que era uma “caixinha”, puxou para si novamente o pires, e com um sorriso largo emendou ao mesmo tempo em que virava as costas: “Somos nós quem agradecemos... Volte sempre!” E embolsou o troco do pobre Lelo...
Marcelo Conti Escritor e Sócio da SOLUÇÃO Gestão de Negócios e Cultura Ltda. www.solucao-gnc.com.br
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Memórias de uma casal de velhos Estar junto
Liça Bonfin Psicóloga
Um dia desses me sugeriram ver um documentário da Netflix. “Cem dias com Tata”. Era à respeito do relacionamento de um homem, um artista de trinta e poucos anos, chamado Miguel Angel Muñoz, com uma mulher de noventa e quatro, a Tata. Ela era sua tia bisavó e ele resolveu, durante a pandemia, apesar de ter muitas atividades, largar tudo e permanecer cem dias cuidando dela. E como eles se amavam e como se divertiam juntos! Falavam sobre tudo, inclusive sobre a morte. Em certa altura do filme ele disse uma coisa que me pegou: ”O medo dela morrer, me impede de viver a alegria de estar com ela”. Fiz imediatamente um paralelo comigo. Lembrei que nunca havia tido medo de morrer, até casar pela segunda vez, aos 71 anos de idade. Estávamos tão felizes, curtindo uma vida de amor, confiança, cumplicidade, harmonia, que comecei a ter medo que um dos dois morresse e o outro perdesse toda aquela alegria que estávamos vivendo. Os dois casos são iguais, apesar do primeiro se referir a uma amizade profunda entre um jovem e uma velha e o segundo a uma relação de casamento. Mas, em ambos os casos, eles se amam, se divertem e são felizes. Agora, no período da pandemia, quando nos damos permissão de curtir o egoísmo inerente a todo ser humano e esquecemos todas as tristezas trazidas pelo sofrimento, dores e mortes e muitas vezes pensamos só em nós, podemos dizer que a pandemia não nos trouxe problema. Não saímos de casa, mas conversamos, brincamos, amamos e arranjamos e criamos muitas atividades novas e diferentes. Exatamente igual à Tata e o sobrinho bisneto. Ele fez um filme com ela, colocou-a no Instagrn e ela fez sucesso, ficou famosa e gostou das coisas novas que testou. Quando eu era pequena, a noção que eu