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Atenção e afeto durante a primeira etapa da vida – dos 0 aos 3 anos – são essenciais para o pleno desenvolvimento das crianças e também do país
ão
cuidados
e C s
Número 22 • Junho de 2013
Primeiríssimos
nesta edição Número 22 | Junho de 2013
3 Editorial 4 Entrevista Deborah Wetzel, do Banco Mundial, reflete sobre como tornar empreendimentos de infraestrutura em catalisadores do desenvolvimento local
8 Panorama Social Arrecadar dinheiro pela internet é a mais nova forma de financiar projetos e ações na área social
10 Infância Qualidade da atenção dedicada às crianças de 0 a 3 anos têm impacto sobre o futuro delas e da sociedade
16 Educação Descobertas das neurociências podem ser importantes aliados para qualificar os processos de ensino-aprendizagem
20 Voluntariado Profissionais do Grupo Camargo Corrêa dedicam-se a ações voltadas para o atendimento de dependentes químicos
22 ESPECIAL – Construtora Camargo Corrêa 24 26 28 30 32 34 36
Editorial Parceria para agregar valor UHE Foz do Chapecó Transformações no campo UHE Jirau Reflexos para o futuro Vila do Mar Lado a lado com a comunidade Mineroduto Minas-Rio Desenvolvimento por extenso Refinaria Abreu e Lima Relacionamento estreito ETA Huachipa Desenvolvimento além das fronteiras
38 Interação 39 Ações&Parcerias Instituto e Rede Marista de Solidariedade oferecem pós-graduação à distância para professores da educação infantil
40 Inovações Sustentáveis Plano Água da Construtora Camargo Corrêa propõe soluções para o consumo sustentável dos recursos hídricos
42 Artigo Vital Didonet responde por que é fundamental cuidarmos das crianças de 0 a 3 anos de idade
editorial
Cuidados com o futuro Garantir um futuro melhor exige cuidados no presente. Este é o tema que permeia as pá-
ginas desta edição da revista Ideal Comunitário, desde nossa reportagem de capa – sobre a primeiríssima infância – à série de textos do especial sobre a parceria entre o Instituto e
Cuidar das crianças dos 0 aos 3 anos de idade é o melhor investimento que a socie-
dade pode fazer em si mesma. Não apenas do ponto de vista econômico, tese que rendeu
um Nobel ao economista James Heckman, mas também porque o cuidado adequado nesta fase da vida resguarda o potencial da criança que a tornará, no futuro, um agente de transformação social.
A reportagem de capa e o artigo do professo Vital Didonet, ao final da revista, dei-
xam claro a importância de se ter os cuidados necessários com a primeiríssima infância. E a seção Ações&Parcerias registra uma parte do trabalho do Instituto para contribuir com estes cuidados: nosso projeto com a Rede Marista de Solidariedade para formação de profissionais da educação infantil.
O zelo com os impactos dos grandes empreendimentos de infraestrutura no futuro
das comunidades é uma preocupação constante da Construtora Camargo Corrêa e o
cerne da parceria da empresa com o Instituto, como fica explícito no especial desta
foto: wendell marques
a Construtora Camargo Corrêa.
“Cuidar das crianças dos 0 aos 3 anos de idade é o melhor investimento que a sociedade pode fazer em si mesma”
edição. Os projetos ali destacados são exemplos de como é possível atuar no presente
para fazer com que grandes obras sejam também indutoras do desenvolvimento local. Tarefa desafiadora, mas necessária, como aponta a diretora do Banco Mundial, Deborah Wetzel, em entrevista concedida a Ideal Comunitário.
Cuidado também é conceito presente nas demais reportagens. Destacamos como as
neurociências podem ajudar a desenhar processos de ensino-aprendizagem mais cui-
dadosos e estimulantes para as crianças. Ao falarmos de voluntariado, mostramos o cuidado de profissionais do Grupo Camargo Corrêa com dependentes químicos. E na
área da sustentabilidade, registramos o lançamento do Plano Água, ação da Construtora para zelar pelo bom uso dos recursos hídricos.
Francisco de Assis Azevedo, diretor executivo do Instituto Camargo Corrêa
ideal comunitário 3
entrevista foto: Mariana Ceratti/Banco Mundial
Deborah Wetzel
4 ideal comunitรกrio
Impacto
positivo
Deborah Wetzel, diretora do Banco Mundial para o Brasil, América Latina e Caribe, avalia o papel dos setores público e privado na transformação de empreendimentos de infraestrutura em indutores do desenvolvimento
O Plano Plurianual (PPA) do governo federal, o principal documento de planejamento de políticas públicas do país, prevê que serão investidos R$ 1,5 trilhões em obras de infraestrutura até 2015. Tais investimentos ajudariam a sustentar o crescimento econômico do Brasil. Porém, esta opção levanta outra questão igualmente importante: como fazer estes investimentos tornarem-se indutores do desenvolvimento em sentido amplo, ou seja, que funcionem a favor do pleno acesso aos direitos sociais e garantam a sustentabilidade sócioambiental? A revista Ideal Comunitário convidou a diretora do Banco Mundial para o Brasil, América Latina e Caribe, Deborah Wetzel, para refletir sobre os impactos e as responsabilidades sociais envolvidas em grandes projetos de infraestrutura. Wetzel é Ph.D. em Economia pela Universidade de Oxford e mestre em Relações Internacionais pela Universidade Johns Hopkins. É autora de diversas publicações sobre descentralização fiscal, finanças públicas, governança e assuntos subnacionais e há mais de 25 anos trabalha no Banco Mundial, adquirindo experiência com o tema do desenvolvimento em várias partes do mundo. Nesta entrevista, ela ressalta os diferentes papéis dos setores público e privado no desafio de fazer com que grandes empreendimentos transformem positivamente a realidade das comunidades envolvidas e do país.
O Brasil vive um momento que demanda reflexão sobre os impactos e as responsabilidades sociais envolvidas em grandes projetos de infraestrutura. A senhora acredita ser possível que tais projetos sejam indutores do desenvolvimento local?
Os serviços e sistemas de infraestrutura representam uma condição necessária – embora não suficiente – para o crescimento econômico e o desenvolvimento social sustentáveis em todos os níveis da economia. A infraestrutura bem projetada e eficiente pode ser um agente de transformação na hora de se enfrentar alguns dos desafios do desenvolvimento mais persistentes: o rápido processo de urbanização, o acesso adequado e confiável a energia, a mobilidade adequada de bens e serviços, a adaptação às variações climáticas, a prevenção e a mitigação de desastres naturais. Projetos de infraestrutura de grande porte, como estradas, pontes, estações de geração de energia e vias fluviais, podem contribuir muito com o desenvolvimento sustentável de economias e mercados locais. Mas para atingir essa meta, além de contar com um conceito e projeto que atendam às necessidades técnicas e de engenharia, o projeto deve estar ancorado em políticas públicas adequadas, integrando mecanismos e procedimentos que enfrentam possíveis impactos sociais e/ou ambientais negativos. Considerando a complexidade do conceito de desenvolvimento e também as diferentes realidades onde são realizadas as grandes obras ou intervenções estruturais, como medir o impacto destes investimentos? Como tem sido a experiência do Banco Mundial neste sentido, de avaliar os resultados de investimentos em grandes obras?
Qualquer investimento privado ou público em projetos de infraestrutura de grande porte deve ser cuidadosamente avaliado durante a fase de planejamento e deve contar com “sistemas de monitoramento e avaliação de impacto” robustos para avaliar corretamente e medir o progresso, produtos e resultados do projeto. O Banco Mundial possui uma abordagem abrangente para avaliar e monitorar os impactos dos seus projetos de investimento. O design do projeto é analisado cuidadosamente desde o início, especificamente com a elaboração de uma “linha de base” de dados e informações, a partir da qual o Banco, seus mutuários e analistas independentes ideal comunitário 5
fotos: Mariana Ceratti/Banco Mundial
podem avaliar a implementação, processos, produtos e resultados do projeto inteiro. É importante observar as diferenças entre essas expressões. Os processos dizem respeito à implementação do projeto. Os produtos representam as metas quantitativas de um projeto de investimento, medidas em quilômetros de estradas construídas, megawatts de potência instalada, etc. Os resultados representam o impacto dos investimentos em relação ao desenvolvimento econômico, social e/ou ambiental, ou seja, o desenvolvimento decorrente da construção de determinado número de quilômetros de estradas (ou seja, o volume adicional de bens e serviços transportados, os empregos gerados pelo maior fluxo de transporte, etc.) ou megawatt de potência instalada (maior acesso a serviços energéticos por pessoas de menor renda, maior atividade econômica devido à maior disponibilidade energética, etc.). Sem um sistema robusto de avaliação e monitoramento desses impactos, é difícil avaliar os benefícios de um projeto de investimento da maneira apropriada. Esse fator é especialmente importante em grandes projetos de infraestrutura pública.
Projetos de investimento – especialmente projetos de infraestrutura de grande porte – podem ter impactos muito negativos na área econômica, social ou ambiental em nível nacional, regional e local. Com certeza, um projeto mal concebido ou mal implementado terá vários impactos negativos. Em alguns casos, as minorias sociais (ou seja, populações indígenas, comunidades quilombolas, etc.) e ecossistemas frágeis (florestas primárias, mangues, pântanos, entre outros) podem sofrer muitos danos, alguns deles irreversíveis. Para prevenir esse tipo de impacto negativo, o Banco Mundial requer que o tomador dos empréstimos observe todas suas regras sociais e ambientais e marcos legais. É possível consultar os princípios e políticas do Banco Mundial em nosso site (www.worldbank.org) e na Estratégia de Infraestrutura 20112015, que tem como título Transformação através de Infraestrutura.
O que precisa ser feito para que estas grandes intervenções
Qual o papel do Estado e dos governos – os grandes responsá-
funcionem a favor do desenvolvimento local? O que não vem
veis, afinal, por investimentos de infraestrutura – na transfor-
sendo feito?
mação de grandes obras em grandes indutores de desenvolvi-
Que tipo de preocupação tem um financiador do porte do Banco Mundial para apoiar um projeto? Que exigências são feitas no sentido de garantir que um empreendimento financiado pela instituição torne-se indutor do desenvolvimento local?
Desde o início, o desenvolvimento do projeto deve incorporar as mento econômico-social? populações, economias e mercados locais. É muito importante in- Para garantir o desenvolvimento sustentável econômico e social tegrar as oportunidades – mão de obra, conhecimento, recursos na- a partir de grandes projetos de infraestrutura, os principais paturais... – e as necessidades – ou seja, capacitação e desenvolvimento péis dos governos federal e estadual são: criar e manter políticas de instituições locais, mais serviços, acesso a treinamento e apoio públicas, marcos legais e programas adequados e que deem suporte às ações; garantir que projetos financiados para desenvolvimento de cadeias de fornecimencom dinheiro público sejam economicamente to locais, mitigação dos impactos de construção {{Desde o início, viáveis, socialmente justos e ambientalmente e/ou operação, planejamento para a recuperação os projetos sustentáveis; fortalecer a “boa governança” nos de ecossistemas locais a longo prazo, entre outras. Um dos pontos frequentemente esquecidos devem incorporar setores público e privado, especialmente em grandes projetos de investimento; ajudar a criar é garantir que as populações e economias locais as populações, um “ambiente viabilizador” no setor privado de possam ampliar sua participação durante a fase de economias e forma a desenvolver outras fontes de investiimplementação do projeto e que possam aproveimercados locais|| mento, conhecimento e experiência e garantir tar-se plenamente quando o empreendimento em que os setores público e privado respeitem todas questão estiver operando plenamente. Barreiras frequentes para que isso ocorra são a falta de capacitação adequada, as leis e políticas de salvaguarda sociais e ambientais. a falta de educação funcional e treinamento, de apoio para fortalecer instituições locais e suporte insuficiente para o desenvolvimento O Brasil vem apostando em investir bastante em grandes obras como indutores do desenvolvimento – vide os exemplos da e/ou participação de empresas locais do setor privado. 6 ideal comunitário
PELO PAÍS Deborah Wetzel em visita aos projetos apoiados pelo Banco Mundial no Brasil
Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos, bem como empreendimentos de geração de energia. Como a senhora avalia esta política?
Acreditamos que a maioria desses investimentos devem produzir benefícios a longo prazo. A nossa esperança é que recebam a devida manutenção ao longo do tempo e sejam acompanhados de políticas e marcos institucionais apropriados. Em geral, os grandes eventos esportivos e culturais que serão realizados no Brasil até 2016 representam uma grande oportunidade para o país, com a oportunidade de atualizar a infraestrutura das principais cidades, aprimorar os serviços de logística em vários setores e garantir que os benefícios desses investimentos sejam transferidos para a população no futuro. É possível prever o que irá acontecer com o país e com as regiões que estão recebendo mais investimentos, como a Amazônia e o Nordeste?
Previsões econômicas são complicadas, especialmente hoje, com tantos fatores externos influenciando a perspectiva econômica – a recessão global, a volatilidade dos mercados financeiros, os preços de commodities e taxas de câmbio, entre outros. Em nossa opinião, os recursos investidos nessas regiões e estados devem produzir benefícios econômicos e sociais significantes. O Banco Mundial também está contribuindo com esse trabalho. Como parte da nossa atual Estratégia de Assistência Nacional (2012-2015), o Nordeste é uma prioridade para investimentos no país e já foram aprovados novos projetos avaliados em mais de US$ 3 bilhões. Também mantemos projetos na Amazônia. Em ambas as regiões, nossos financiamentos estão apoiando projetos de governos estaduais e municipais para: reduzir a pobreza e promover a igualdade de maneira sustentável; consolidar a administração fiscal e promover a boa governança nos setores público e privado; aumentar a inclusão produtiva de grupos de menor renda e populações de risco; ampliar acesso a serviços públicos aprimorados; incentivar a inovação nos setores público e privado; promover também a capacidade de adaptação a mudanças climáticas e garantir a proteção do meio ambiente. Além das compensações obrigatórias, como as empresas podem contribuir com o desenvolvimento das comunidades próximas às obras?
O setor privado pode fazer uma grande diferença para o desenvolvimento de comunidades locais. O trabalho do setor público de reduzir o déficit de infraestrutura é fundamental, mas sofre das limitações de recursos públicos. Por outro lado, o setor privado pode contribuir com eficiência de investimento, financeira e operacional significativas, conhecimento e habilidades administrativas. Quando regulados de forma apropriada, a abordagem e as práticas empresariais podem desenvolver projetos rentáveis e de alto impacto que aumentam a acessibilidade, qualidade e confiabilidade de serviços de infraestrutura, seguindo, ao mesmo tempo, requisitos sociais e ambientais e interagindo e fortalecendo economias e mercados locais. ideal comunitário 7
panorama social
Projetos sociais recebem apoio financeiro pela internet Grupos de diversas áreas contam com as “vaquinhas” virtuais para viabilizar ações e ganhar visibilidade
8 ideal comunitário
Crowdfunding. A palavra é difícil, mas o conceito não: é a velha ideia de passar o chapéu – só que, agora, de maneira virtual. Com o surgimento de sites especializados em “vaquinhas” virtuais, projetos relevantes, que antes talvez estivessem fadados a não sair do papel, têm conseguido apoio. Se no início os crowdfundings estavam vinculados a ações culturais, hoje muitos projetos sociais se beneficiam deles para ajudar quem precisa. “Sem dúvida é uma ferramenta que cria um novo público de doadores. Antes da internet, talvez este doador online não tivesse essa consciência da importância de ajudar”, conta Marcelo Estraviz, consultor em captação de recursos. Ele ressalta, porém, que os crowdfundings são mais efetivos para ações pontuais, já que o dinheiro é arrecadado por projetos. Mas apesar de a internet estar se tornando um dos meios mais efetivos para o financiamento de ações, há também a preocupação das organizações de que a solidariedade com as causas possa tornar-se apenas virtual. A regional sueca do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef ) lançou até uma campanha: “Curtir não Salva Vidas; Dinheiro Salva”, para conscientizar sobre a importância de contribuir. Para facilitar, o órgão lançou uma ferramenta direcionada para internet e redes sociais. É só clicar no link “Basta Apenas uma Mão” e ir para o site www.doacaounicef.org.br Nele, você doa a quantia que puder e colabora com uma boa causa. Em alguns sites especializados, como o Think and Love (www. thinkandlove.com.br), é possível escolher sua causa e doar. Se estiver na dúvida sobre qual projeto apoiar, um teste ajuda a identificar o seu perfil e sugere entidades que têm a ver com você. Outros sites são mais abrangentes, como o Catarse (catarse.me/pt), criado originalmente para ações culturais, mas que hoje recebe também propostas de entidades voltadas para a ação social. Nele, uma parceria com o Instituto Asas ajuda projetos sociais de jovens – se eles conseguirem arrecadar 80% do necessário, o canal Asas completa os 20% que faltam. O Juntos.com.você (www.juntos.com. vc) também arrecada verbas para o terceiro setor. Alguns sites são mais específicos: no Bicharia (www.bicharia.com.br), os engajados na proteção dos animais podem escolher a melhor maneira de contribuir. Muita gente, no entanto, ainda desconfia das doações virtuais. Para estas pessoas, Estraviz dá a dica: pesquise, compare e veja se a ONG ou o projeto realmente existem, se são idôneos.
Direto ao ponto
Letra Miúda: Piso nacional dos professores O Piso Salarial Profissional Nacional aos Profissionais do Magistério Público da Educação Básica foi instituído pela Lei 11.738 em julho de 2008. O objetivo é determinar um valor mínimo país, reduzindo distorções regionais. No entanto, muitos estados e municípios alegam não ter dinheiro em caixa para pagar o piso. Rio Grande do Sul, Paraná, Goiás, Rondônia, Alagoas, Bahia, Pernambuco, Piauí, Sergipe e Maranhão ainda não cumprem a lei e pagam menos que o piso, que em 2013 ficou em R$ 1.567 por 40 horas semanais. Os parâmetros para o reajuste do piso também estão em voga. Atualmente, o cálculo tem como base a variação do valor anu-
foto: Divulgação
para que professores tenham a mesma remuneração em todo o
Há pouco mais de um ano, a educadora Renata Meirelles e o documentarista David Reeks começaram o projeto Território do Brincar (www.territoriodobrincar.com.br) e saíram pelo Brasil para registrar as brincadeiras e os costumes das crianças. Até dezembro, eles vão percorrer o país para retratar a universalidade da infância e refletir sobre os costumes brasileiros em um documentário. Em uma das paradas da viagem, Renata conversou com Ideal Comunitário sobre o projeto:
al por aluno do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb). Alguns governadores e prefeitos sugerem que ele seja feito pela variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC). Sindicatos, no entanto, afirmam que, com o INPC, os valores irão apenas repor a inflação e não haverá ganho real para a categoria.
Sobre o trabalho infantil no Brasil Estudo aponta os gargalos para a erradicação das várias formas de exploração de crianças e adolescentes O relatório Brasil Livre de Trabalho Infantil: o debate sobre as estratégias para eliminar a exploração de crianças e adolescentes, realizado pela ONG Repórter Brasil, lança um olhar atual sobre o trabalho infantil no país. O objetivo do estudo é fortalecer o debate sobre como aprimorar o combate e erradicar tal prática. A pesquisa explora a realidade de algumas das piores formas de trabalho infantil e está centrada em quatro eixos: trabalho doméstico, trabalho informal ou ilícito nos centros urbanos, trabalho rural e exploração sexual. A íntegra da publicação está no site www.reporterbrasil. org.br/trabalhoinfantil/
Por que elaborar um mapeamento das brincadeiras infantis? Eu e meu marido já tínhamos projetos anteriores relacionados ao tema. Fizemos o Projeto Bira – Brincadeiras Infantis da Região Amazônica e o livro Giramundo e Outros Brinquedos e Brincadeiras dos Meninos do Brasil. Depois que os filhos nasceram, demos um tempo até que eles pudessem nos acompanhar. Agora, voltamos para a estrada. Continuamos na busca pelo que encanta na infância. O modo de brincar muda de acordo com o ambiente ou, no geral, as crianças se divertem com as mesmas atividades? Ao mesmo tempo em que a raiz da maioria das atividades é a mesma, como amarelinha, pular corda, elástico, brincar de roda, existem coisas específicas, que variam de lugar para lugar. Cada região tem regras diferentes, dá outros nomes, canta versos distintos. Mas a essência é a mesma. Os meninos, por exemplo, têm essa coisa de “caçador”: pode ser passarinho, insetos, animais do mangue, do mar. O ambiente muda, mas o instinto permanece. Muita gente acredita que crianças que vivem nas grandes cidades brincam menos que as de outros lugares. Você concorda? Elas têm jeitos diferentes de brincar, mas não deixam de fazer isso. O que temos visto é que, geralmente, elas ficam nos quartos, têm brinquedos menores, quase nada artesanal. Outra característica é que elas narram as brincadeiras, verbalizam muito mais que crianças de outros locais. Uma das maneiras de analisar este cenário é que as formas de se expressar de uma criança, até uns 10 anos, são muito corporais. Como elas não têm muito espaço, expressam-se verbalmente. As diferentes realidades também são incorporadas: as crianças das grandes cidades falam sobre trânsito, cartões de crédito, páginas na internet... ideal comunitário 9
10 ideal comunitĂĄrio
foto: Wendell Marques
I n f â ncia
Primeiros e
duradouros
cuidados Atenção dada às crianças de 0 a 3 anos impacta a sociedade por décadas a fio e representa uma economia em investimentos futuros em educação e segurança
Investimento no futuro James Heckman, Nobel de Economia, mostrou que US$ 1 investido na primeiríssima infância significa um retorno de US$ 9 para a sociedade
O que crianças de 0 a 3 anos têm a ver com a economia de um país? James Heckman, um economista norte-americano, recebeu o Prêmio Nobel no ano 2000 ao provar que o tratamento dado a essas crianças impacta toda a sociedade no futuro – inclusive economicamente. Em seu trabalho, Heckman criou uma série de métodos para avaliar o sucesso de programas sociais e de educação para a primeiríssima infância. Com isso, demonstrou que, para cada dólar investido em políticas públicas voltadas a crianças com idade entre 0 e 3 anos, há um retorno de US$ 9 para a sociedade. Para a banca que concede o Nobel, o cálculo do economista comprovou o efeito cascata da atenção na primeiríssima infância: no futuro, isso significa menos crimes e adultos mais preparados para lidar com as dificuldades da vida. Mas embora seja uma bandeira de fácil adesão (afinal, ninguém se opõe à ideia de que bebês e crianças precisam de cuidados), o investimento nos pequenos sofre resistências. Para os especialistas, o dinheiro aplicado em creches, saúde e educação dos pequenos é o melhor investimento que um governo pode fazer. É nesse período de vida que são desenvolvidas as competências que as crianças vão usar no futuro, entre elas a capacidade de aprendizado e o controle de impulsos (quando elas aprendem a conter a violência). Isso significa que as crianças bem cuidadas nessa fase da vida reduzem os gastos com outros programas sociais voltados a adolescentes e adultos. No entanto, em uma cultura política marcada pelo imediatismo, administradores públicos costumam ver cada R$ 1 investido na primeiríssima infância, cujo retorno é de longo prazo, como R$ 1 que deixa de ser aplicado em problemas atuais, como saúde e infraestrutura, áreas que afetam a vida do contribuinte hoje. Este cenário tornou Heckman uma referência entre defensores de programas sociais que visam à primeiríssima infância. Em seu trabalho, ele cita outros indicadores negativos resultantes da ausência dos incentivos corretos no início da vida, como evasão escolar, gravidez na adolescência e criminalidade. ideal comunitário 11
I n f â ncia
Para resolver este último problema, sairia muito mais barato investir em educação: custaria um décimo do que seria gasto em segurança. Portanto, seria mais eficiente se os governos investissem em prevenção cuidando das crianças no início da vida. Antes disso, segundo Vital Didonet, especialista em educação infantil e um militante da defesa e promoção dos direitos da criança e do adolescente, a sociedade ainda precisa entender a importância do período que vai dos 0 aos 3 anos e que as experiências das crianças nessa etapa formam sua personalidade. “Predomina, entre um grande número de famílias, em certos meios sociais e inclusive entre alguns gestores dos sistemas de ensino, o entendimento de que ‘um bom cuidado’ basta”, diz ele. Porém, olhares zelosos de adultos que protegem as crianças do perigo não são suficientes. “Assim como só o amor não basta, apenas o cuidado físico também não corresponde às necessidades e desejos da criança”, diz ele, explicando que a criança precisa receber carinho, atenção e respeito à sua individualidade, tanto na família quanto na escola. Fase crítica A explicação para tanta preocupação com os cuidados nos primeiros anos de vida está no desenvolvimento do cérebro, como afirma a pediatra Sandra Regina de Souza, coordenadora da Saúde da Criança da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo. Na primeira fase da vida, neurônios se conectam e se fortalecem em alta velocidade. “O que vai fazer com que a gente tenha mais ou menos habilidades, com que a gente consiga interagir mais ou menos com as pessoas e que nos tornemos mais ou menos inteligentes são as conexões entre os neurônios”, diz Sandra. O cérebro evolui por etapas: a visão se organiza nos primeiros 6 meses de vida, a audição, nos primeiros 2 anos e a capacidade de entender o outro, nos primeiros 18 meses de vida. Dos 0 aos 3 anos, é o período de maior plasticidade cerebral, que é a capacidade do cérebro realizar sinapses, ou seja, conexões entre as células nervosas. É nesta primeira etapa da vida que o cérebro, portanto, organiza as percepções do mundo, que ficam marcadas para a posteridade. Com tantas transformações importantes acontecendo na primeiríssima infância, é preciso que as famílias e os profissionais responsáveis pelos cuidados, como os educadores nas escolas infantis, tenham consciência de que tipos de cuidados são necessários. 12 ideal comunitário
Alguns desses cuidados não são tão difíceis assim. “Estamos falando de muita atenção e de carinho”, resume a pediatra. Além disso, a criança precisa estar bem alimentada, com o sono em dia e ter acesso a brinquedos simples e adequados à idade dela. Sandra indica atividades que desenvolvam o pensamento e a criação. Bonecas que falam e andam, por exemplo, não são indicadas, segundo ela, porque não correspondem à realidade e porque são brinquedos que não exigem muita interação da criança, eles “brincam sozinhos”. “É importante ressaltar que o bebê precisa ser atendido nas suas necessidades. Ele não pode ser deixado chorando indiscriminadamente e, nos primeiros 6 meses, a criança precisa receber leite materno,” diz Sandra. No entanto, a recomendação internacional de que o aleitamento materno seja exclusivo até os 6 meses e se prolongue até os 2 anos não é seguida no Brasil. Segundo dados do Ministério da Saúde, menos de 10% das crianças alimentam-se somente com o leite materno até os 6 meses. Para a neurocientista Suzana Herculano-Houzel, o carinho, principalmente vindo da mãe, é fundamental. Ele funciona como um estímulo de prazer, ajuda no desenvolvimento e contribui para que a criança se torne um adulto que sabe como resolver conflitos. “Um ambiente afirmativo leva a um adulto que reage melhor diante de uma situação de estresse, que investiga e enfrenta ao invés de se acuar. A maneira como a gente lida com os problemas é extremamente dependente da maneira como fomos criados”, disse Suzana durante a palestra A neurociência do desenvolvimento infantil, no 5º Seminário Rede de Cidades pela Defesa dos Direitos da Infância ocorrido em abril, em Minas Gerais (veja box à pág. 15). A criança, portanto, precisa ser criada em um ambiente afetivo, como reforça Vital Didonet. O especialista em educação infantil acredita que o afeto é o principal cuidado que meninos e meninas dessa faixa etária devem receber, não só na família, mas também na creche. Outra grande preocupação, segundo ele, são os estímulos. É importante dar às crianças possibilidades que estimulem seus sentidos, atividades e descobertas, além de propiciar atividades de interação com adultos e outras crianças. Como boa parte dos pais precisam trabalhar, parte dos estímulos e do carinho ficam a cargo de profissionais da área da educação. Há cerca de 11 milhões de crianças na faixa etária dos 0 aos 3 anos no Brasil e a oferta de educação infantil é pouca e de baixa
qualidade. Os educadores infantis, conforme Didonet, precisam de melhor formação. “Quanto mais nova a criança, mais bem formado deveria ser o professor, e não o contrário, como ocorre hoje”, comenta ele. “Às vezes, você acaba encontrando grandes depósitos de crianças e não creches, porque as crianças pequenas não reclamam. Mas precisamos que essas instituições tenham qualidade para cuidar delas”, explica a pediatra Sandra de Souza. Antes de se discutir qualidade, no entanto, pais e mães encontram um problema ainda mais básico: não há há vagas suficientes nas creches. A falta de acesso desencadeia um problema muito comum, que repete-se em um ciclo: as mães precisam retornar ao trabalho para sustentar a família e não há quem cuide dessa criança em casa. O bebê necessita de uma creche, mas não há vagas. Com isso, a mãe volta ao trabalho e deixa o bebê aos cuidados de outra mulher, o que consome boa parte do seu salário. Essa cuidadora, por sua vez, também é mãe e está gastando grande parte do que recebe pagando uma outra pessoa para cuidar do bebê dela – o que muitas vezes ocorre em situações precárias. “É uma cascata. As mulheres precisam retornar ao trabalho e ter segurança que as crianças estão bem”, diz a médica. Um artigo publicado em 2011 pela Universidade de Birkbeck, no Reino Unido, analisou o impacto da experiência de cuidados não parentais nas crianças pequenas. Os pesquisadores partiram de um estudo de 1990, considerado o maior e mais extenso estudo sobre os efeitos dos cuidados não maternos, feito pelo governo norte-americano. Na pesquisa, famílias de mais de 1,3 mil crianças com menos de 1 mês de idade foram analisadas. Os resultados revelaram que as crianças tendem a desenvolver apego inseguro com suas mães aos 15 meses de idade quando vivenciaram mais de dez horas semanais de cuidados não maternos no primeiro ano de vida. Além disso, as crianças na faixa dos 2 aos 4 anos que passaram mais tempo sob os cuidados de parentes, por exemplo, apresentam mais problemas de extroversão e aquelas que passam mais tempo em creches sofrem mais de dificuldades comportamentais. Em benefício da primeiríssima infância No Brasil, iniciativas para garantir as necessidades das crianças na primeiríssima infância estão em andamento. Políticas nacionais como a criação da Rede Cegonha – estratégia do Ministério da Saúde para ampliar e melhorar o atendimento de
Antes do nascimento Instituto investe em projetos voltados para cuidados com gestantes, como o Rede Ciranda de Apiaí (SP)
fotos: RM Medeiros
ideal comunitário 13
I n f â ncia
Educação infantil Educadores de Jacareí (SP) receberam formação voltada para a valorização do direito ao brincar
fotos: Wendell Marques
14 ideal comunitário
gestantes, puérperas e recém-nascidos – e do programa Brasil Carinhoso – que, entre outras ações, estende benefícios do Bolsa Família para famílias com crianças menores de 6 anos – são alguns exemplos. A pauta também está há muito tempo nas mãos de organizações empresariais e não-governamentais. O programa Infância Ideal, um dos quatro mantidos pelo Instituto Camargo Corrêa, tem como uma de suas linhas de atuação a humanização e qualidade do atendimento à gestante, além de melhoria de infraestrutura de creches e formação dos seus profissionais, como explica a coordenadora Juliana Di Thomazo. Também está sendo elaborada a implantação da Semana do Bebê em 10 municípios onde o programa está presente. Nesta ação, são desenvolvidas programações específicas para cada cidade, com envolvimento das empresas do Grupo Camargo Corrêa e parceiros locais. Juliana cita uma preocupação durante a elaboração dos projetos – a mesma citada e explicada por outros profissionais: o afeto. “O cuidado e envolvimento afetivo devem fazer parte das estratégias dos projetos. Por muito tempo, a atenção à criança de 0 a 3 anos se reduzia aos cuidados básicos de higiene e alimentação. No entanto, cada vez mais, há elementos que nos apontam a importância dos vínculos afetivos, estímulo e atenção ao bebê desde a gestação”, diz a coordenadora. Um dos projetos realizados pelo Instituto e a InterCement, em parceria com a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, é o Rede Ciranda, que desde 2009 aposta na qualificação do atendimento da mãe e da criança da gravidez ao pós-parto, com o objetivo de reduzir a mortalidade e aumentar a qualidade de vida das gestantes e bebês nos municípios de Apiaí e Itaoca (SP). Em 2012, o projeto foi ampliado para Barra do Chapéu, Itapirapuã Paulista e Ribeira, também na região do Vale do Ribeira. Entre as ações do projeto está a qualificação dos profissionais que atendem grávidas e crianças pequenas, além da inauguração (em junho do ano passado) de um centro de referência, o Ambulatório Materno-Infantil Dr. Eduardo Brozowski. Em diversos municípios, o Instituto também tem investido na formação dos profissionais da educação infantil, com um foco especial no direito ao brincar. Em Jacareí (SP), também em parceria com a InterCement, o projeto Portal do Saber formou professores de cinco escolas de educação infantil e creches que atendem crianças de até 6 anos e abriu espaço para o desenvolvimento dos projetos pedagógicos de cada uma das escolas e creches participantes. Agora, outra leva de educadores está participando de um curso de especialização promovido com a Rede Marista de Solidariedade (saiba mais à pág. 38). Projetos como esses, que parecem estar ganhando espaço no Brasil, remetem ao pensamento de Heckman. O investimento em cuidados na gestação e na primeiríssima infância agora podem garantir um futuro diferente para o país.
foto: Nello Aun
Seminário Infância Ideal
Encontro Evento reuniu representantes dos 19 municípios participantes do programa
O 5º Seminário Rede de Cidades pela Defesa dos Direitos
Com a expansão do programa, a maior parte dos presentes
da Infância reuniu nos dias 24, 25 e 26 de abril aproxima-
participava pela primeira vez do Seminário, como a assisten-
damente 200 pessoas das 19 cidades, em 9 estados, onde o
te social do judiciário de Abre Campo (MG), Cristiane Paiva.
programa Infância Ideal, do Instituto Camargo Corrêa, atua
Questionada sobre a experiência, ela abriu um sorriso e foi
em parceria com a InterCement e a Construtora Camargo
direta: “Espero poder participar sempre!” Cristiane destaca
Corrêa. O encontro, realizado em Jaboticatubas, na região
que pôde entender a estratégia de atuação do Instituto e do
metropolitana de Belo Horizonte (MG), gera novo impulso
Grupo, especialmente no que diz respeito às formas com que
aos que atuam em defesa dos direitos da infância por meio
suas empresas se relacionam com as comunidades.
de uma densa troca de experiência em palestras, debates,
Municípios presentes: Abre Campo (MG), Alcântara (MA),
oficinas temáticas e atividades culturais.
Altamira (PA), Apiaí (SP), Cabo de Santo Agostinho (PE), Cris-
A programação teve como foco o atendimento à primeira in-
talina (GO), Cubatão (SP), Fortaleza (CE), Ibirité (MG), Ijaci
fância, com atenção especial para o período dos 0 aos 3 anos.
(PE), Ipojuca (PE), Itaoca (SP), Jacareí (SP), Juruti (PA), Pedro
Os especialistas convidados contribuíram com reflexões so-
Leopoldo (MG), Porto Velho (MG), Santa Helena de Goiás
bre as políticas públicas para esta faixa etária e também os
(GO), Santana do Paraíso (MG) e São Luís (MA).
aspectos físicos e psíquicos desta idade tão especial. Outros
Parceiros operadores: Instituto Fonte, Instituto Aliança, Mudan-
espaços foram dedicados à troca de experiência entre os par-
ça de Cena, Associação Brasileira Terra dos Homens, Associação
ticipantes dos projetos e a interação com as organizações rea-
Brasileira de Magistrados e Promotores (ABMP), Instituto Avisa
lizadoras das ações e as empresas do Grupo Camargo Corrêa.
Lá, Rede Marista de Solidariedade, Integrar, Oficina de Imagens.
ideal comunitário 15
e d u ca ç ã o B ásica
A ciência do
As neurociências podem ser um importante auxílio na construção de métodos inovadores de ensino-aprendizagem
aprender
16 ideal comunitário
ilustração: BnoA
As neurociências estão prestes a provocar uma revolução no universo da educação. Os estudos multidisciplinares sobre o funcionamento do cérebro e do sistema nervoso têm avançado rumo a uma compreensão científica dos processos de aprendizagem. Especialistas têm demonstrado que as estratégias pedagógicas podem ser mais eficazes quando traçadas de forma mais compatível com o funcionamento do cérebro humano, afinal, o órgão responsável pela aprendizagem. Entre outras coisas, os estudos já provaram que as emoções têm um lugar muito mais importante do que se imaginava na memória e na dinâmica da aprendizagem – o que tem grandes implicações para o trabalho em sala de aula. Não se pode dizer que as neurociências sejam uma novidade. Há mais de 40 anos, os pesquisadores exploram esse campo que se beneficia dos conhecimentos da medicina, da biologia, da física, da psicologia, da fisiologia, da química e até da engenharia para estudar o sistema nervoso. Na última década, o desenvolvimento de métodos de neuroimagem – como a ressonância magnética funcional e a tomografia computadorizada – permitiram que os cientistas estudassem os cérebros de pessoas vivas. Assim, tornou-se possível observar em tempo real que áreas específicas do cérebro são ativadas quando o indivíduo realiza uma determinada tarefa, quando lhe ocorrem diversos tipos de pensamentos ou quando sente certas emoções. Essas possibilidades abriram novos caminhos para a compreensão de diferentes processos cognitivos e, rapidamente, os cientistas começaram a desvendar as propriedades neurais que dão suporte à linguagem, ao pensamento aritmético, à realização de cálculos e, claro, aos processos de aprendizagem. De acordo com a professora Neide Barbosa Saisi, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), a aprendizagem está estreitamente ligada à memória e às emoções e envolve aspectos biológicos, sociais e psicológicos. A neurologista coordena na PUC-SP, desde o início de 2013, o curso de extensão Contribuições das Neurociências para o Fazer Docente. “Da perspectiva da neurociência, aprender é estabelecer sinapses e provocar modificações de longa duração no cérebro”, diz Neide. Em outras palavras, a aprendizagem ocorre quando o indivíduo recebe estímulos que provocam transformações fisiológicas e estruturais em circuitos neurais, fixando-se com a experiência. O indivíduo ao nascer, diz a especialista, já traz consigo toda a ‘circuitaria’ cerebral necessária para as sinapses – a comuni-
cação entre as células nervosas, os neurônios. “Isso faz parte da herança genética, mas ela só é colocada em ação pela experiência”, afirma Neide. “Para a neurociência, aprender é trazer para a realidade essas sinapses que existem potencialmente”, declara. Quando a experiência envolve repetição e emoção positiva, o registro dela é mantido no cérebro por longo prazo, consolidando a aprendizagem na memória. Isso tem enormes consequências para o professor, observa Neide: o caminho para que o aluno aprenda e não se esqueça mais passa não apenas pela repetição, mas também pelo envolvimento emocional com a experiência do aprendizado. “Sem isso, não há aprendizado de fato. Por isso é tão importante que o educador compreenda, com base na neurociência, o que ocorre no cérebro quando se ensina e se aprende. Essas descobertas têm grandes implicações pedagógicas”, afirma. Pontes em construção Os educadores parecem já ter percebido esta conexão na prática. O neurofisiologista Amauri Bartoszeck, professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), publicou recentemente na revista European Journal of Education Research um estudo sobre a percepção de 160 professores brasileiros de Ensino Fundamental sobre a ligação entre neurociência e educação. Cerca de 88% deles acreditam que a neurociência pode ajudá-los na tarefa de ensinar. Mais de 85% acreditam que mais estudos sobre a emoção, o sono e a memória poderiam melhorar o ensino nas escolas. Por outro lado, Bartoszeck detectou também uma tendência a conceber o funcionamento do cérebro de forma nada científica. Quase 30% dos entrevistados acreditam, por exemplo, que “as pessoas só usam 10% da capacidade do cérebro” – um clássico mito relacionado à neurociência. O estudo também mostrou que a maioria dos professores acredita na “base imaterial da alma”. “Dificilmente se pode trabalhar com neurociência e educação se as pessoas têm uma postura filosófica mística e não acreditam em dados experimentais”, diz o pesquisador. Apesar de todo o interesse despertado, Bartoszeck diz que ainda é preciso ter cautela em relação às promessas de aplicação da neurociência no aprimoramento da educação. “As pontes entre a neurociência e a prática educacional ainda estão por ser construídas”, comenta. Para o professor, uma das principais contribuições da neurociência cognitiva para a construção ideal comunitário 17
dessas pontes consiste em indicar que é preciso aprofundar o estudo de ambientes educativos não tradicionais, que levem os alunos a construir significados a partir de aplicações no mundo real. “Ainda não há aplicações diretas. Há possibilidades promissoras apenas”, afirma o professor. Até agora, segundo ele, a principal contribuição real da neurociência à educação foi mostrar claramente a necessidade de criar ambientes estimulantes. Para quem conhece o funcionamento do cérebro, atividades como desenhar e colorir podem ser aliadas importantes do aprendizado em sala de aula. “Colorir desenhos que descrevam visualmente o funcionamento dos órgãos e células do organismo humano é uma forma eficiente de aproveitar, no aprendizado, nossa enorme capacidade de memória visual”, diz o pesquisador. Apesar de todas as dificuldades, algumas das pontes entre neurociência e a educação já foram construídas em projetos específicos, como o Escrita Para Todos, que aplica, no aprimoramento da prática pedagógica da alfabetização, os conhecimentos recentes sobre como o cérebro aprende a ler e a escrever. Concebido e coordenado por Elvira Souza Lima, pesquisadora em desenvolvimento humano, o projeto é desenvolvido em Pedro Leopoldo (MG), em parceria com o Instituto Camargo Corrêa, a Secretaria Municipal de Educação e a InterCement. A proposta, concebida nos Estados Unidos durante o pós-doutorado de Elvira na Universidade de Stanford, vem sendo aplicada desde meados da década de 1980 em escolas da rede pública em Porto Alegre (RS), Curitiba (PR), Blumenau (SC), Rio de Janeiro (RJ) e Juiz de Fora (MG). “Aos poucos o projeto foi ganhando mais possibilidades, graças ao próprio avanço da neurociência”, diz a professora. A pesquisadora, que tem formação em neurociências, psicologia, antropologia e música, realiza atividades com professores do 4º ao 6º ano das escolas locais. A partir do material produzido pelos alunos, ela discute, orienta e dá suporte teórico aos docentes. Leitura, escrita e matemática Segundo Elvira, a neurociência mostrou que, desde a vida intrauterina até os 2 anos de idade, diferentes partes do cérebro vão entrando em funcionamento de forma sucessiva. A partir daí, já com as estruturas cerebrais completas – conforme determinado geneticamente –, a criança começa um processo de desenvolvimento interno da função simbólica. Esse período vai até os 6 ou 7 anos de idade e promove um importante processo de modificação da atenção. Antes disso, segundo a professora, não é possível alfabetizar de forma eficaz. “O ser humano não tem recursos genéticos para ler e escrever. Escrever é se apropriar de um sistema cultural que foi inventado há apenas 5 mil anos. Trata-se de uma atividade cultural que só é viável depois desse período de desenvolvimento da função simbólica. Assim, sabemos que o cérebro só está pronto para a alfabetização aos 7 anos”, afirma Elvira. Para a atividade de leitura, segundo a professora, o cérebro “recruta” 17 áreas diferentes. Mas para escrever é preciso mobilizar mais quatro áreas suplementares. “Descobriu-se que a escrita é muito mais complexa que a leitura. Quem lê, reconstrói o significado concebido pelo autor, mas para escrever é preciso ter na memória estruturas linguísticas que permitam compor o texto – é um esforço muito maior”, diz. Segundo ela, a memória de trabalho é muito reduzida na espécie humana e, por isso, quando se pede que alguém repita o que disse, em geral a pessoa não é capaz de reproduzir a frase de forma idêntica. Isso demonstra como compor frases é mais difícil que 18 ideal comunitário
ilustração: BnoA
apenas acompanhar sua leitura. “Um cérebro que escreve sabe ler, mas no contrário nem sempre acontece”, diz. Elvira também destaca a ligação entre a aprendizagem de línguas e da matemática. Segundo ela, a memória trabalha por padrões e, por isso, a escrita enquanto sistema tem um considerável componente matemático: ela é produzida da combinatória de letras e sílabas em conjunto. A conexão entre as duas áreas vai além: se o aluno não domina a estrutura da sintaxe, diz Elvira, ele apresentará também problemas em matemática. Segundo ela, muitas crianças brasileiras, por não conhecer essa estrutura, têm problemas sérios com a regência verbal e escrevem sem conectivos e preposições, o que causa impactos na forma de raciocinar logicamente. “O aprendizado em matemática é prejudicado, porque não é possível aprender os conceitos cien-
tíficos sem compreender o que é subordinação”, explica. Nessa situação, na opinião de Elvira, não é difícil imaginar por que os estudantes brasileiros vão tão mal nas avaliações educacionais internacionais, especialmente em matemática. Além do ensino da estrutura da língua aos alunos durante a formação de sua função simbólica, a neurociência também aponta a importância de se recorrer a outras práticas para o aprimoramento do ensino da escrita. Uma das principais recomendações é incluir música, dança e dramatização diariamente no currículo das crianças. “A música produz uma modificação intensa no cérebro, alimentando sua área de criatividade.”, diz Elvira. Desenhar, por outro lado, ajuda a trazer os dados da memória para a prática. Mas a principal recomendação para que a criança aprenda a escrever é praticar a escrita diariamente.
O cérebro e a sala de aula No artigo Neurociência na educação*, o neurofisiologista Amauri Bartoszeck, professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), faz uma interpretação da análise realizada pelo pesquisador norte-americano Stephen Rushton, da South California University, e enumera sete princípios da neurociência com potencial de aplicação no ambiente de sala de aula: • Memória e emoções ficam interligadas quando ativadas
que “exijam” muita atividade cerebral, sejam mais eficientes.
pelo processo de aprendizagem. Como a aprendizagem
O importante é o estudante sentir-se “dono” das atividades
é uma atividade social, alunos precisam de oportunidades
e temas que são relevantes para suas vidas. A possibilidade
para discutir tópicos. Um ambiente tranquilo em sala de aula
de escolher tarefas aumenta a responsabilidade do aluno no
encoraja o estudante a expor seus sentimentos e ideias.
seu aprendizado.
• O cérebro se modifica aos poucos fisiológica e estrutural-
• Inúmeras áreas do córtex cerebral são simultaneamente
mente como resultado da experiência. Aulas práticas, com
ativadas no transcurso de uma nova experiência de apren-
envolvimento ativo dos participantes, permitem associações
dizagem. Levar para dentro da escola situações que reflitam
entre experiências prévias com as informações que estão
o contexto da vida real possibilita que a informação nova
sendo apresentadas.
possa se “ancorar” na vivência anterior.
• O cérebro mostra períodos sensíveis para certos tipos de
• O cérebro foi evolutivamente concebido para perceber e ge-
aprendizagem, que não se esgotam mesmo na idade adul-
rar padrões quando testa hipóteses. A resolução de casos e
ta. É preciso ajustar expectativas e padrões de desempenho
as simulações são boas estratégias de aprendizagem. É possí-
às características etárias específicas dos alunos, com o uso de
vel trabalhar com tentativas e aproximações, além da busca de
unidades temáticas integradoras.
evidências que comprovem ou refutem as hipóteses.
• O cérebro mostra plasticidade neuronal, mas maior densi-
• O cérebro responde, devido à herança primitiva, às gravu-
dade sináptica não prevê maior capacidade generalizada
ras, imagens e símbolos. Daí a importãncia de propiciar oca-
de aprender. Em outras palavras, o cérebro está sempre se
siões para os alunos expressarem conhecimento através das
modificando e não há evidências de que tarefas complexas,
artes visuais, música e dramatizações.
* A íntegra do artigo do professor Amauri Bartoszeck está disponível em www.geocities.ws/flaviookb/neuroedu.pdf
ideal comunitário 19
V o l u ntariad o foto: Voluntários/Tavex Corporation
Recreação Voluntários do Gaiv Tucumán, da Tavex na Argentina, criaram um cronograma de atividades com os dependentes em tratamento da Fazenda Esperança
Tema atrai pessoas dispostas a enfrentar tabus e oferecer conforto e apoio a dependentes
Voluntários
contra as drogas O consumo de drogas em todo o mundo é alarmante, especialmente entre os mais jovens. Estudos feitos pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes (UNODC, na sigla em inglês) apontam que 5% da população mundial, algo em torno de 230 milhões de pessoas, fez uso de drogas ilícitas no último ano. Deste total, 12% teve problemas com o uso de entorpecentes, ou seja, são usuários problemáticos de drogas. Isso significa que uma em cada 200 pessoas no mundo são dependentes químicos. A ONU ainda estima que cerca de 200 mil pessoas morrem por ano vítimas de complicações ou doenças associadas ao consumo de drogas. No Brasil, de acordo com o 2º Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (Lenad), divulgado recentemente e realizado pelo Instituto Nacional de Políticas Públicas do Álcool e Outras Drogas (Inpad) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), 2,844 milhões de brasileiros assumiram o consumo, no último ano, de cocaína, crack e oxi. Deste total, 244 mil são adolescentes. Entre os adultos, quase a metade – 45% – experimentou as drogas antes de completar 18 anos. 20 ideal comunitário
Essa realidade triste sensibiliza muitos e, felizmente, também mobiliza várias pessoas que estão “de fora” a buscarem formas de ajudar a resolver a questão. Gente como os voluntários de algumas empresas do Grupo Camargo Corrêa que têm atuado diretamente no suporte a pessoas que enfrentam o drama da drogadição. Dois bons exemplos são os Grupos de Ação Ideal Voluntário (Gaivs) Carona Solidária, formado por profissionais do Centro de Soluções Compartilhadas de Americana (SP), e Tucumán, da unidade da Tavex Corporation na Argentina. No país vizinho, o Observatório Argentino de Drogas indica que cerca de 10% da população entre 12 e 65 anos já provou alguma droga ilícita ao longo da vida e 3,5% são considerados usuários recentes (utilizaram pelo menos uma vez nos últimos 12 meses). Atividades e atenção No Carona Solidária, os voluntários auxiliam a Instituição Padre Haroldo, que reúne pessoas de 14 a 20 anos, todos dependentes químicos em fase de reinserção social. “Nossa proposta é entreter e ajudar esses jovens, fazendo com que se sintam confortáveis e
prontos para voltar à realidade fora do tratamento”, conta Maria Eduarda Aloisi de Oliveira, líder do Gaiv. Ela diz que a escolha de realizar ações de voluntariado voltadas para pessoas que buscam se livrar da drogadição veio justamente como forma de enfrentar o preconceito relacionado a essa área e às vítimas desse problema. “Estamos acostumados com trabalhos em casa de repouso para idosos, creches, orfanatos, mas raramente vemos projetos com dependentes químicos. Daí nosso interesse em abordar e defender esse tema”, afirma Maria Eduarda, que trabalha no Departamento de Finanças do CSC. “Ainda há um certo receio em relação ao assunto. As pessoas que estão de fora precisam compreender que a dependência é uma doença que, como qualquer doença, requer tratamento e que os que estão tentando se recuperar são muito carentes de afeto e atenção”, afirma. O Gaiv Tucumán trabalha com dois projetos, Fazenda Esperança e Fundação Fuente, sendo o primeiro dedicado à recuperação de jovens que buscam se livrar da drogadição (o outro trata de pessoas com deficiência). Fabián Ceraldi, integrante do Gaiv e gerente de Recursos Humanos, explica que, no Fazenda Esperança, os internos buscam tratamento por vontade própria, com apoio dos familiares. Para lá, o grupo fechou um cronograma de trabalho completo para este ano. Estão previstas a realização de oficinas de capacitação em soldagem e fundição (com doação de material e equipamentos), atividades esportivas e de recreação (através de modalidades como rugby, voleibol, futebol e atletismo) e reuniões de grupo para troca de relatos e experiências, inclusive com pessoas que já se recuperaram. “Pretendemos incentivar os jovens a ocuparem seu tempo e trabalho para cultivar o conhecimento com algo que possam usar depois que saírem de lá, na sua reinserção social”, conta Fabián. “A questão da toxicodependência é um
problema que consome as vidas de muitos jovens e famílias, na Argentina e em todo mundo”, afirma. Bianca Kapsevicius, consultora de Comunicação e Sustentabilidade Corporativa da Tavex, destaca a relevância do tema. “Muitos têm algum familiar ou amigo que sofre com as drogas. Atuando com o voluntariado por esta causa, além de beneficiar as pessoas em tratamento, desenvolvemos mais conhecimento sobre a questão”, avalia. contra o preconceito O advogado Pedro Abramovay, que esteve à frente da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas no ano passado e foi secretário Nacional de Justiça, destaca a participação da sociedade civil no enfrentamento do problema da drogadição – e daí a importância do trabalho voluntário nessa área. “A sociedade civil tem um papel fundamental que é, em primeiro lugar, o de romper o preconceito”, diz Abramovay. Segundo ele, ao liderar experiências que tem como foco ajudar as pessoas, as organizações e grupos “podem mostrar quais realmente funcionam e trabalhar com alternativas que integrem e não que estigmatizem e isolem ainda mais o usuário problemático de drogas”. No momento em que a polêmica da internação compulsória toma conta das discussões sobre o tratamento de drogaditos, especialmente dos usuários de crack, as atividades realizadas de forma voluntária ganham um novo significado. “Ações de voluntariado são essenciais para mostrar que tratamentos focados na internação e isolamento não têm demonstrado resultado”, comenta Abramovay. “A capacitação e o empoderamento de usuários são práticas fundamentais, assim como um debate com a sociedade para romper os preconceitos. Preconceitos sobre as drogas, sobre os usuários e sobre os tratamentos”, conclui.
NA INTERNET v O estudo II Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (Lenad), do INPAD, foi financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). A íntegra do material está disponível em www.inpad.org.br
5% da população mundial fez uso de drogas ilícitas no último ano de acordo com o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes
ideal comunitário 21
22 ideal comunitรกrio foto: Gabriel Andrade
ideal comunitário – especial construtora camargo corrêa 23
Parceria entre Construtora Camargo Corrêa e Instituto Camargo Corrêa reforça compromisso da empresa com o desenvolvimento comunitário
Obras que transformam
realidades
ideal comunitário 23
A Construtora Com 74 anos de história, a Construtora Camargo Corrêa é referência na execução de projetos de engenharia com alta complexidade logística. Alguns dos principais marcos da infraestrutura brasileira e internacional do segmento de energia contam com a participação da Camargo Corrêa, que ocupa ainda importante espaço nas áreas de óleo e gás, infraestrutura e indústria.
Diferenciais • Padrão Camargo Corrêa: compromisso com resul tados, rentabilidade, sustentabilidade e inovação. • Sistema Integrado de Gestão de Obras: identi fica a necessidade de aprimoramento das práticas de gestão das obras e inclui modernos elementos de gestão empresarial. Inclui também os sistemas Ambiental e de Gestão Social, que permitem o monitoramento integral do desempenho socio ambiental em cada um de seus empreendimentos.
74 anos no Brasil
de trabalho
mais de
500
7
presente em
obras realizadas
países da América Latina e África
Parceria para
agregar
Um dos maiores desafios de realizar projetos de infraestrutura é fazer com que as regiões que recebem investimentos desta natureza consigam aproveitar os benefícios gerados. É fundamental que os empreendimentos contribuam para que essas localidades se desenvolvam, cresçam de forma estruturada e que a sociedade possa reconhecer a infraestrutura como indutora de desenvolvimento. Nós, na Construtora Camargo Corrêa, sabemos que um grande empreendimento provoca impactos e mudanças. Faz parte do nosso DNA assumir a responsabilidade e o desafio de tratar cada um de nossos projetos como oportunidades para mudar positivamente o dia a dia das pessoas e das comunidades. Assim, atuamos de maneira plena, agregamos ao nosso negócio um importante diferencial competitivo que valoriza ainda mais a marca da Construtora Camargo Corrêa e nos posiciona no mercado como uma empresa socioambientalmente responsável. A parceria com o Instituto Camargo Corrêa é uma importante ferramenta que nos auxilia no nosso compromisso de fazer dos projetos verdadeiros instrumentos de transformação, gerando e agregando valor compartilhado para a sociedade, clientes e funcionários. Com uma atuação sensível à realidade das comunidades e baseado no diálogo permanente com as instituições e organizações locais, o Instituto nos ajuda a fazer com que nossa atividade ocorra de forma sustentável nas diversas geografias onde estamos presentes. Ações realizadas com foco na geração de trabalho e renda, na primeira infância e na educação deixam um legado que vai além dos benefícios de uma obra. Nas próximas páginas convidamos você a conhecer alguns casos de uma parceria que dá certo! São fatos que demonstram de que forma
ideal comunitário – especial construtora camargo corrêa 25
O Instituto O Instituto Camargo Corrêa congrega as iniciativas de investimento social privado do Grupo Camargo Corrêa. Sua estratégia de atuação contempla a diversidade e abrangência dos negócios e das comunidades envolvidas para desenhar projetos e ações que contribuam com o desenvolvimento comunitário.
Programas do Instituto Desenvolvimento Comunitário
valor nossos projetos contribuem ou contribuíram para mudar a paisagem social de determinadas regiões. Um exemplo é o projeto Vila do Mar, capa deste material. Nele, urbanizamos e revitalizamos a orla do bairro do Grande Pirambu, região de Fortaleza com grande densidade demográfica. Esta intervenção modificou a infraestrutura do local considerando as demandas de inclusão social e de promoção de oportunidades de desenvolvimento aos moradores, alinhadas às políticas de nosso cliente. E, hoje, essas pessoas já colhem resultados efetivos dessas oportunidades. Da mesma forma, outros exemplos positivos da parceria Construtora-Instituto nas obras da Usina Hidrelétrica Jirau (Rondônia), Mineroduto Minas-Rio (Minas Gerais e Rio de Janeiro), Refinaria Abreu e Lima (Pernambuco), Usina Hidrelétrica Foz de Chapecó (Santa Catarina e Rio Grande do Sul) e Huachipa (Lima, Peru), escolhidos para compor este material, nos deixam muito satisfeitos do enorme legado que nossa empresa está deixando para diversas gerações. Boa leitura, Dalton Santos Avancini, presidente da Construtora Camargo Corrêa
Infância Ideal
Futuro Ideal
Escola Ideal
Proteção dos direitos da infância
Empreendedorismo e geração de Trabalho e Renda
Educação pública de qualidade
Ideal Voluntário
Estímulo à Ação Cidadã
Estratégia de atuação
CDC
O Comitê de Desenvolvimento Comunitário reúne representantes das empresas, do poder público e organizações locais para desenhar e apoiar a realização dos projetos.
Gaiv
O Grupo de Ação Ideal Voluntário é formado por profissionais do Grupo para realizar ações de voluntariado.
Civico
O Comitê de Incentivo ao Voluntariado e Interação com a Comunidade, formado por profissionais de cada unidade do Grupo, orienta o planejamento e acompanha os projetos em andamento.
Operador
Organização parceira responsável pela execução total ou parcial das ações de um projeto.
UHE FOZ DO CHAPECÓ A Usina Hidrelétrica Foz do Chapecó, com capacidade instalada de
foto: Divulgação/Construtora
855 megawatts, foi construída no Rio Uruguai, na região noroeste do Rio Grande do Sul, na divisa com o estado de Santa Catarina. É, hoje, uma das UHE com menor coeficiente área alagada/potência instalada do país. Cliente: Foz do Chapecó Energia (Furnas, CPFL e CEEE – Companhia Estadual de Energia Elétrica do Rio Grande do Sul)
Transformações
no campo
Como obra de engenharia, a Usina Hidrelétrica Foz do Chapecó foi projetada pela Construtora Camargo Corrêa para provocar os menores impactos ambientais possíveis. As ações desenvolvidas dentro das melhores práticas produtivas e inovações na área da sustentabilidade – a implantação de um reciclador de concreto, programas de educação ambiental abertos à comunidade e a criação de um viveiro de mudas de plantas nativas, entre outras – fizeram da usina uma referência mundial. Também o lago resultante da barragem, formado em mais de 50% pela calha natural do Rio Uruguai, modificou o mínimo possível a paisagem. Já os projetos desenvolvidos pela Construtora em parceria com o Instituto Camargo Corrêa ajudaram a transformar a paisagem social da região, localizada na divisa dos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Esta transformação ocorreu sobretudo no campo e pode ser medida pelo relato de Otávio Ozekoski, agricultor de origem polonesa de Alpestre (RS). Nascido e criado na zona rural, Ozekoski viu o filho Giussiê deixar o trabalho em sua pequena propriedade, que produzia laranjas, uvas e mandioca, para tentar ganhar a vida “na cidade”. O rapaz, hoje com 22 anos, viajava diariamente cerca de 100 quilômetros para trabalhar em uma fábrica em Chapecó (SC). “Sabe como são os jovens, vivem pensando que tudo tem de ser imediato e a gente só ganhava por semestre, por ano, de acordo com a safra”, conta o agricultor. “Aí ele foi ex-
Projetos Tempo de Empreender incentivaram a diversificação da produção e o fortalecimento de cooperativas nos municípios de Alpestre (RS), Águas de Chapecó e São Carlos (SC) perimentar como era ter salário e a gente ficava aqui, com medo dele na estrada toda madrugada.” Neste mesmo período, a Cooperativa Extremo Norte, à qual Ozekoski era associado, foi incluída como um dos empreendimentos solidários apoiados pela série de projetos Tempo de Empreender, implantados nos municípios de Alpestre (RS), São Carlos e Águas de Chapecó (SC) pelo Instituto, a Construtora e o Serviço de Apoio à Micro e Pequena Empresa (Sebrae-RS) e, depois, reforçado com a parceria do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Iniciado em 2009, em Alpestre o projeto teve como foco o fortalecimento da cooperativa, através de formações em gestão e da instalação de uma agroindústria, além de apoio técnico e financeiro aos agricultores visando o aumento da produção e a diversificação dos cultivos. Ozekoski foi um dos primeiros a aproveitar a oportunidade. O resultado: as uvas e laranjas hoje viram suco na cooperativa; a mandioca é descascada, embalada e vendida inclusive para redes de supermercado e os Ozekoski agora também plantam hortaliças. A diversificação da produção, o aumento do valor agregado dos produtos industrializados e a facilidade da comercialização, especialmente com a entrada da cooperativa entre os fornecedores da merenda escolar do município, garantem à família uma renda maior e mensal. E, há um ano e meio, Giussiê deixou a fábrica e as madrugadas nas estradas para voltar a trabalhar com os pais no campo.
ideal comunitário – especial construtora camargo corrêa 27
Leite e mel “Além de ajudar a transformar a realidade social da região, a parceria Construtora-Instituto facilitou a aproximação da empresa com a comunidade do entorno comercial, possibilitando demonstrar o respeito do Grupo Camargo Corrêa com as questões locais e deixando clara a importância do empreendimento”, afirma Flavio Blangis, gerente comercial à época da construção da usina. Além do Tempo de Empreender Alpestre, a parceria realizou também o Tempo de Empreender Produção Leiteira e Ovinos e o Tempo de Empreender Apicultura, nos municípios catarinenses de São Carlos e Águas de Chapecó. As três atividades – bovinocultura de leite, ovinocultura e produção de mel – são fontes de renda complementares para muitos produtores da região, explica Nilson Kilpp, consultor dos projetos. Por esta razão, o fortalecimento de cada uma delas significa multiplicar as possibilidades de renda das famílias. O primeiro projeto nos municípios catarinenses focou a capacitação dos agricultores para o manejo de pastagens e também a concessão de crédito para a melhoria genética do gado e dos ovinos. O segundo apoiou a compra de modernas caixas de abelhas, ofereceu treinamento para os apicultores e vai entregar dois centros de extração de mel. A Casa do Mel de Águas de Chapecó está por ser construída e a de São Carlos já funciona. “Em breve, a casa, que hoje é apenas de extração, vai poder envasar o mel para venda final”, comemora Kilpp. Com isso, será possível levar o mel para grandes centros e multiplicar o preço de venda em até cinco vezes. “Muita gente está querendo fazer do mel sua segunda atividade, porque viram que dá certo”, diz Adriana Hoss, secretária da Associação Apícola 25 de julho. “Já aumentamos a produção, o que significa aumentar um pouco a renda das famílias, mas quando começarmos a vender para o litoral
ou para São Paulo, colocar na merenda escolar, aí vai aumentar mais a renda.” Adriana vê tudo isso acontecer no seu quintal. A Casa do Mel de São Carlos foi construída em uma área cedida à associação pela família por um período de 20 anos. Merenda e políticas públicas Enquanto os apicultores de São Carlos e Águas de Chapecó preparam-se para incluir o mel na alimentação escolar, os associados da Cooperativa Extremo Norte já colhem os resultados das compras feitas por prefeituras da região. A política nacional da alimentação escolar prevê que 30% do que é consumido nas escolas venha da agricultura familiar. Ao fortalecer a cooperativa e estimular a diversificação da produção, o projeto Tempo de Empreender facilitou a entrada dos associados neste nicho. “Hoje, a cooperativa fornece mandioca, hortaliças, sucos, pães e outros produtos para Alpestre e pequenos municípios da região”, diz Kilpp. “Para a Prefeitura, canalizar as compras para a cooperativa facilitou muito o processo”, comenta o secretário de Agricultura de Alpestre, Genuir José Juraski. Para ele, no entanto, o principal resultado do projeto – do qual a Prefeitura foi uma das parceiras – foi a aproximação com os agricultores e a aprendizagem de todos, inclusive dos gestores públicos, sobre o cooperativismo. “Estamos tentando estender a compra em conjunto para mais agricultores e a experiência da Extremo Norte ajuda a incentivar a associação entre outros produtores”, comenta. Nilson Kilpp também acredita que o conhecimento é o grande legado desta experiência. “Os agricultores nos dizem ‘agora que a gente sabe o que fazer, estamos dispostos a trabalhar mais, ir além’”, conta. Desta forma, mesmo com a obra finalizada e entregue, transformações seguirão acontecendo nos arredores da Usina Foz do Chapecó.
DIVERSIFICAÇÃO Em Alpestre (RS), projeto fortaleceu cultivo de mandioca e outros produtos; em São Carlos (SC), mel virou alternativa rentável
foto: Angélica Luersen
foto: Divulgação/ICC
uhe jirau foto: Divulgação/Construtora
A Usina Hidrelétrica Jirau está sendo construída no Rio Madeira, na região de Porto Velho (RO). Quando concluída, sua capacidade de geração de energia será de 3.750 megawatts, o suficiente para abastecer mais de 10 milhões de casas. Cliente: ESBR – Energia Sustentável do Brasil
Reflexos para Projetos nas regiões de Porto Velho e GuajaráMirim mostram ser possível gerar reflexos positivos muito além do canteiro de obras A energia produzida em uma usina hidrelétrica pode acender uma lâmpada a milhares de quilômetros de distância. Mas, desde a sua construção, um empreendimento de infraestrutura deste porte também pode gerar reflexos positivos muito além do canteiro de obras. É o que mostra a experiência da parceria entre a Construtora e o Instituto Camargo Corrêa na região da Usina Hidrelétrica (UHE) Jirau, onde os municípios de Porto Velho e Guajará-Mirim (RO) recebem projetos dos quatro programas estruturantes do Instituto. O projeto Tempo de Empreender Rondônia é um dos melhores exemplos destes reflexos ampliados e de como a obra pode ser um vetor para o desenvolvimento das comunidades. Realizado em parceria com o Serviço de Apoio à Micro e Pequena Empresa de Rondônia (Sebrae-RO) e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o projeto apoia agricultores familiares na produção de abacaxis e bananas. A iniciativa orientou agricultores dos distritos de Abunã e União Bandeirantes em Porto Velho, na região próxima à obra, a cultivarem suas lavouras de forma sustentável, estendeu a capacitação a jovens das famílias, está dando suporte à comercialização e também investindo na melhoria das técnicas de produção e na mecanização da lavoura. Tudo isso aumentou em 260% a renda anual das famílias participantes. Além de mais dinheiro no bolso dos agricultores, o projeto também impacta o mercado local. As prateleiras dos supermercados de Porto Velho, antes preenchidas por produtos de outras regiões e até de outros estados, agora são abastecidas pelos abacaxis da Coopertap e as bananas da Unicoop, cooperativas
o futuro incentivadas pelo Tempo de Empreender. “A qualidade do que vendemos hoje, não tem comparação”, explica Anderson Souza Luiz, que faz as compras do Supermercado Araújo, na capital. “O preço subiu um pouco, mas é mais fácil o consumidor que compra um produto com esta qualidade voltar.” Valorização “Os incentivos financeiros são claros. Mas olhando para dentro de mim, vejo que melhorou a autoestima, a valorização pessoal. Hoje, a gente consegue ter uma visão melhor de como administrar um empreendimento e se preparar para o futuro”, diz Josimar Martinho do Nascimento, atual presidente da Unicoop, também conhecido como “Cantor”. A mais famosa de suas composições traz à lembrança a forma como os moradores do distrito de União Bandeirantes, a 260 quilômetros do centro de Porto Velho, reconheciam-se antes: “O chão que não é meu, que tristeza me dá / Sem plantar sem colher / À margem de uma cidade / Sendo marginalizado pelas autoridades”. A melhoria na vida dos agricultores tem incentivado produtores a participar das cooperativas. O fundador da Coopertap, Davino Mendes Freitas, mais conhecido como “Cabeça Branca”, conta que mais de dez agricultores estão querendo entrar na cooperativa, hoje com 35. “Cabeça Branca”, aliás, é o nome com que foi registrada a espécie de abacaxi desenvolvida dentro do projeto, exclusivamente para a região, por pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Com 3 kg de fruta, sua polpa é docinha, docinha.
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diálogo direto entre os agentes da rede de proteção, formando um círculo virtuoso na defesa desses direitos. Jovens de Jaci-Paraná também estão sendo formados para se tornarem agentes no enfrentamento da violência sexual por meio do projeto Aqui, Jaci Fala. Danúbia Gardênia da Silva, da ONG Oficina de Imagens, parceira operadora do projeto, explica que são trabalhados três temas principais: identidade e memória, direitos e prevenção por meio de oficinas diversas, em especial de rádio. São duas turmas, uma de crianças de 9 a 14 anos e outra com jovens de 14 a 18 anos. O entusiasmado Wilson Guilherme Dias Pereira, de 14 anos, diz que hoje em dia sabe um bocado de direitos seus estabelecidos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) que ele nem sabia que existiam. “Parece que meu sonho de ser juiz ficou mais próximo”, diz o menino. Seus pais, Suely Dias e Geraldo Pereira, dizem que a experiência também tem contribuído com o desenvolvimento escolar de Wilson. O Aqui, Jaci fala, iniciado em setembro de 2012, tem previsão de conclusão para meados deste ano. Mas seus reflexos continuarão visíveis: o adolescente pretende montar um palco na praça para os jovens utilizarem. Planos como os de Wilson mostram que as comunidades participantes do projeto estão preparadas para trabalhar a favor do desenvolvimento social. “É gratificante ver o resultado alcançado em todos os projetos que realizamos e a certeza de perspectivas futuras. Fica a convicção de que contribuímos para o crescimento e o desenvolvimento da região”, afirma José Antonio Zanotti, gerente da obra de Jirau.
TEMPO DE EMPREENDER-RO Davino emprestou o apelido para batizar variedade de abacaxi criada para o projeto
foto: Divulgação/Construtora
foto: J.Gomes
Direitos e educação Na área da educação, as ações da parceria Instituto e Construtora também reverberam. O programa Escola Ideal levou o Sistema de Gestão Integrado (SGI) da Fundação Pitágoras a 10 escolas de Porto Velho e 22 escolas de Guajará-Mirim com o objetivo de transformar a rede pública de ensino em um sistema de alto desempenho. O sucesso da iniciativa levou a Secretaria de Educação de Guajará-Mirim, que faz fronteira com a Bolívia e tem uma população indígena significativa, a traduzir as diretrizes do SGI para o espanhol, uma língua indígena e também para o braile. “Com o SGI, houve maior participação dos alunos nas aulas, das famílias na educação e mudou o envolvimento dos alunos na própria aprendizagem. É um aprendizado de qualidade, pensado de forma organizada”, diz o secretário de Educação, Sérgio Duran. Escolas de Guajará-Mirim também foram reformadas através do projeto Juntos pela Escola Ideal, que mobiliza voluntários da Construtora e da comunidade para realizar mutirões nas instituições de ensino. Outros dois projetos em andamento criam as bases para que comunidades de Porto Velho estejam preparadas para garantir os direitos de crianças e adolescente agora e no futuro. O Roda de Direitos, parte do programa Grandes Obras pela Infância, diagnosticou a necessidade de gerar uma massa crítica voltada aos direitos da infância. Em parceria com a Associação Brasileira de Magistrado e Promotores (ABMP), foram elaborados cursos voltados para os profissionais da rede de garantia de direitos, aos membros do Judiciário e aos conselheiros tutelares de Porto Velho e do distrito de Jaci-Paraná. As formações promovem um
GRANDES OBRAS Adolescentes de Jaci-Paraná viram agentes do enfrentamento à violência sexual infantojuvenil
vila do mar Urbanização e revitalização da orla e dos bairros Pirambu, Cristo Redentor e Barra do Ceará. Foram realizadas a implantação de avenida
foto: Gabriel Andrade
em paralelepípedo, ciclovia, drenagens pluviais, calçadão em pedra Cariri, recuperação ambiental de áreas degradadas, banheiros públicos, barracas de praia, quadras poliesportivas, mirante e outros equipamentos de lazer para benefício da comunidade local. Cliente: Prefeitura Municipal de Fortaleza
Lado a lado com Em Fortaleza (CE), as transformações estruturais realizadas nos bairros do Grande Pirambu dialogam diretamente com as demandas sociais dos moradores
a comunidade
Uma obra de revitalização urbanística na área com a maior densidade demográfica do Brasil, com cerca de 169 mil famílias distribuídas em apenas 5 Km² – das quais 1.100 já tiveram suas casas desapropriadas – e vivendo em um contexto de alta vulnerabilidade social. Em Fortaleza (CE), essa complexa obra – o projeto Vila do Mar – está sendo realizada pela Construtora Camargo Corrêa com o aval efetivo da comunidade do Grande Pirambu. A região abrange três bairros populares na orla da capital cearense: Barra do Ceará, Cristo Redentor e Pirambu. Desde o início, Vila do Mar teve como um de seus diferenciais o diálogo com os moradores. Em sua elaboração, a Prefeitura de Fortaleza e a Construtora foram às comunidades da região ouvir os moradores em uma metodologia que apontou o “Grande Pirambu que Temos” e o “Grande Pirambu que Queremos”. Em um terceiro momento, foi validado o “Grande Pirambu que Podemos”, atendendo às legislações municipais, estaduais e federais. Com grande parte das obras realizadas, o projeto está reformulando a infraestrutura da região considerando as demandas de inclusão social e de promoção de oportunidades de desenvolvimento aos moradores. Este “DNA social” da obra foi incorporado pela Construtora, que atuou em consórcio com a Marquise na execução das intervenções. Para lidar com um dos processos mais delicados, o de desapropriação e remoção de famílias, foram mobilizadas 70 pessoas da Associação dos Moradores da Invasão da Terra Prometida, que também são familiares e amigos dos que seriam desalojados. Outras demandas típicas de um bairro à beira-mar foram abraçadas em ações como o Projeto de Recuperação e Estabilização da Praia e Encostas do Programa de Proteção Ambiental e a criação do Clubinho do Meio Ambiente. No Clubinho, 60 crianças foram formadas para serem agentes ambientais. No entorno de suas residências, práticas como a coleta seletiva de resíduos sólidos e da reciclagem estão se tornando comuns.
A atuação do Instituto Camargo Corrêa na região foi também um catalisador deste processo de aproximação entre Construtora e comunidade. Dentre os projetos desenvolvidos, destacam-se duas frentes: pelo programa Infância Ideal, o Grandes Obras pela Infância, que atua no enfrentamento à violência sexual de crianças e adolescentes, e pelo Futuro Ideal, o Onda Empreendedora apostou na vocação local e apoiou a criação de uma cooperativa de shapers (fabricantes de pranchas de surfe). “O conjunto das ações implantadas permitiram a proximidade da obra com os moradores da região”, diz Sergio Marques Leite, gerente da obra. “Isso garantiu que o empreendimento fosse visto pela comunidade local como um parceiro e agente de mudanças.” SURFE E INCLUSÃO O Onda Empreendedora é resultado do acordo do Instituto com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para promover o empreendedorismo e a geração de trabalho digno por meio do desenvolvimento de habilidades e competências de grupos produtivos de todo o Brasil. Como todos os projetos do
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programa Futuro Ideal, nasceu de um diagnóstico que considera as vocações locais. No Grande Pirambu, o surfe é uma atividade corriqueira e vários praticantes mostravam o desejo de se tornarem shapers. Alguns fabricavam pranchas em cômodos improvisados. Com apoio do Sebrae e do Sistema Organização das Cooperativas Brasileiras, foi criada a Coopsurf, que conta com 23 cooperados. “Somos uma fábrica-escola”, resume Cicero Serrer Teles, membro do Conselho Administrativo e diretor da Coopsurf. “Queremos que crianças e jovens dos bairros aprendam a surfar.” Os planos dos cooperados não são pequenos. Os parceiros do projeto investiram também na construção de uma unidade de produção, em um terreno doado pela Prefeitura. A unidade tem espaços para a fabricação, o ponto de venda, a administração e uma sala para cursos. A Coopsurf será a primeira fábrica do Nordeste a utilizar um sistema automatizado para “usinar” as pranchas. “O shaper só vai dar o retoque final e a arte”, diz Cícero. Já a escola nascerá inserida na rede Crescer com Surf, que reúne organizações cearenses que têm o esporte como ferramenta de inclusão social. Juventude mobilizada Os jovens também são o foco do Grandes Obras pela Infância. Através do Promotores Legais Juvenis, 50 jovens entre 12 e 21 anos irão se tornar agentes do enfrentamento à exploração sexual. Além de fornecer informação sobre o tema da violência sexual, o projeto visa incentivar o protagonismo. Em parceria com a ONG Mudança de Cena, os jovens montarão uma peça no modelo Teatro do Oprimido. A encenação vai apresentar um problema real foto: Gabriel Andrade
e instigar a reação da plateia. Os problemas serão discutidos e encenados de acordo com as sugestões que forem surgindo. “O protagonismo é isso: eles têm que aprender a tomar decisões, que serão discutidas em grupo e depois vão se refletir nas ações deles”, conta Yara Toscano, da Mudança de Cena. O projeto também tem o Ministério Público (MP) e a Escola Superior do MP do Ceará como parceiros e conta com o apoio da Prefeitura e do Centro Urbano de Cultura, Arte, Ciência e Esporte (Cuca) Che Guevara, onde as aulas são realizadas. “Estou apaixonada por este projeto porque ele foi construído a partir da necessidade do grupo que mora na área, que conhece a sua realidade”, diz Antonia Lima, promotora e coordenadora do Centro de Apoio Operacional da Infância e Juventude. O Grandes Obras também apoiou as discussões do Plano de Operação Local, conjunto de ações com foco no enfrentamento assumidas pelas organizações comunitárias e os órgãos públicos presentes nos bairros. Foram formados 60 profissionais da rede de garantia de direitos, dentre eles professores, coordenadores, dentistas e médicos. “Temos recebido muito o retorno das escolas. Os meninos e meninas que vivem essa realidade já têm outra visão de mundo”, conta Aurélio Araújo, conselheiro tutelar. Complementando essas ações, a Escola Superior da Magistratura de Fortaleza (ESMEC) abrirá 20 vagas de pós-graduação em Sistema de Garantia de Direitos. O curso é desenvolvido em parceria com a Associação Brasileira de Magistrados (ABMP) de forma similar ao que está sendo realizado em Porto Velho (RO), na região da obra da Usina Hidrelétrica Jirau. foto: Divulgação/Mudança de Cena
Envolvimento Em um ambiente de vulnerabilidade social, projetos usam surfe, educação ambiental e teatro para mobilizar crianças e jovens
mineroduto minas-rio foto: Divulgação/Construtora
Construção e montagem da tubulação do mineroduto de 529 quilômetros que irá transportar minério de ferro de uma mina localizada em Conceição do Mato Dentro (MG) até Porto Açu, no município de São João da Barra (RJ). Cliente: AngloAmerican
Desenvolvimento
por extenso Ao longo dos 529 quilômetros do futuro Mineroduto Minas-Rio, dezenas de canteiros de obra espalham-se entre os municípios de Conceição do Mato Dentro (MG) e São João da Barra (RJ). Além das questões logísticas de se manter tantas frentes de trabalho funcionando ao mesmo tempo, uma obra com esta extensão e que atravessa 33 cidades diferentes é também um desafio desde o ponto de vista da promoção do relacionamento com as comunidades. “Além do compromisso da Construtora com o desenvolvimento sustentável das comunidades ao longo da obra, os projetos auxiliaram na consolidação da Camargo Corrêa como solução para os desafios do cliente num projeto de grande impacto social”, resume Mário Eduardo Vara Júnior, gerente da obra. A estratégia da Construtora para se inserir de forma sustentável na região incluiu dar atenção especial às vocações e tradições locais. “Eu fazia doces com a minha mãe quando morava na roça. Casei, mudei pra cidade e montei um fogãozinho no quintal pra fazer doce”, conta Maria das Graças Souza, conhecida como dona Branca, moradora de Santo Antônio do Grama (MG). “Quando a Construtora e a AngloAmerican apareceram na região, mandei uma prova dos doces para o escritório, em Jatiboca. Tempos depois, o pessoal da Camargo veio conversar e eu contei que meu sonho era ajudar muita gente.” Com o apoio do projeto Sabores do Grama, realizado dentro do programa Futuro Ideal, em parceria com o Instituto Meio e o Banco Nacional de Desenvolvimento
Valorização de tradições e integração com organizações locais através do voluntariado foram estratégias-chave para atuação no território de mais de 500 km de extensão do Mineroduto Minas-Rio
Econômico e Social (BNDES), nasceu a Associação de Produtores de Alimentos Artesanais de Santo Antônio do Grama. O fogãozinho de dona Branca deu lugar a uma pequena unidade de produção, que gera trabalho e renda para cerca de 20 pessoas e produz doce de leite e goiabada. A produção é vendida para municípios da região e sob encomenda. “Eu fazia doce com 25 kg de goiaba, ficava vendendo 15 dias aquele doce. Hoje, cada vez que faz doce de goiaba vão 180 kg! Olha a diferença!”, comemora dona Branca. Ainda em Minas, o café, outro produto tão típico, é o foco dos projetos Semeando Futuros – no município de Tombos – e Café das Montanhas – em Pedra Bonita –, que apóiam produtores de café na melhoria das técnicas de produção e comercialização do grão. Já no Rio de Janeiro, foi a tradição do bordado a base do projeto Bordados N’Atividade. Este resgate da atividade tem significado dinheiro no bolso e sorrisos orgulhosos para as participantes da Cooperativa de Bordadeiras de Natividade. “Minha mãe é que bordava bem, fazia crochê, tricô. Eu via aquilo e dizia ‘nunca vou saber fazer isso’”, comenta a cooperada Laura Moreira da Silva Santos, 23 anos. “Hoje, eu bordo na cooperativa e o dinheiro ajuda bem.” As peças criadas e produzidas pelas bordadeiras já foram comercializadas inclusive com redes de lojas na França e nos Estados Unidos. “É um orgulho muito grande lançar moda no Brasil e no mundo”, diz Vânia Cristina Gonçalves de Medeiros Men-
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donça, presidente da cooperativa. Ela destaca a formação em gestão e cooperativismo recebida ao longo do projeto. Conhecimento que ela agora compartilha com toda a comunidade. Por conta da experiência na cooperativa, assumiu a função de coordenadora de Desenvolvimento Cooperativista da Prefeitura de Natividade. Voluntários em vários lugares Outro ponto do trabalho da Construtora e do Instituto por uma inserção mais responsável nas comunidades foi o engajamento dos profissionais em cada canteiro. Esta poderia ser uma tarefa complicada em uma construção com alta rotatividade de profissionais, já que em cada trecho a maioria dos trabalhadores é contratada na região próxima. “O trabalho tem que ser constante e descentralizado”, afirma Berenice Braga Margarida, do Comitê de Incentivo ao Voluntariado e Interação com a Comunidade (Civico). Essas características reforçaram a importância do voluntariado como um valor da empresa e também contribuíram para a aproximação com as comunidades. “Sempre envolvemos as pessoas beneficiadas pelas instituições nas nossas ações, gostamos de interagir com o público externo, sejam crianças, idosos ou adultos”, diz Brício Vasconcelos, gerente de Responsabilidade Social da obra. “Isso cria uma identificação dos nossos profissionais com a comunidade e os representantes das instituições também reconhecem que esta convivência é necessária e saudável.” O alcance das ações multiplicou-se com a parceria da AngloAmerican. No Dia do Bem-Fazer de 2012, por exemplo, essa aliança possibilitou a realização de atividades simultâneas em sete cidades. “Foi uma grande mobilização e, ao todo, mais de 2 mil pessoas – entre voluntários e pessoas da comunidade – participaram das atividades”, lembra Caroline Almeida, coordenadora de Responsabilidade Social. Proteção em rede Outro trabalho contínuo que vem sendo desenvolvido desde 2011 é o enfrentamento à exploração sexual de crianças e adolescentes pelo projeto Fios de Proteção, realizado com a Associação Brasileira Terra dos Homens no município de Abre Campo (MG). A ação capacitou a rede de garantia de direitos para sistematizar o Plano Municipal de Enfrentamento à Violência Sexual Infantojuvenil. O primeiro passo foi reerguer o Conselho Municipal de Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA). Para a gestão atual, foram feitas capacitações com os 14 candidatos a conselheiros. “Antes, as pessoas não conversavam”, conta Cristina Paiva, assistente judicial do Tribunal de Justiça local. “Hoje, o CMDCA consegue ajudar o Conselho Tutelar”, acrescenta. Após um longo trabalho de capacitação e diagnósticos, o plano foi concluído em abril e lançado em maio. Uma comissão de monitoramento será criada para ficar de olho nas metas do plano. “Achei que não íamos conseguir, mas as capacitações foram fundamentais”, diz a atual presidente do CMDCA, Geralda Lúcia Quintão. Para dar suporte ao início dessa nova fase, o CMDCA e o Conselho Tutelar ainda participarão de nova etapa de capacitação.
Tradição e integração Projeto Sabores do Grama apoiou associação de doceiras; voluntários realizaram ações em 7 municípios no Dia do Bem-Fazer 2012 (abaixo)
foto: Divulgação/Instituto Meio
foto: Eduardo Rocha
refinaria abreu e lima foto: Divulgação/Construtora
Construção das Unidades de Coqueamento Retardado e Tratamento Cáustico Regenerativo da Refinaria Abreu e Lima, plantas que serão utilizadas no refino de óleo pesado (petróleo de baixa qualidade), etapa importante na produção de diesel. Cliente: Petrobras
Relacionamento
estreito
Valorização da cultura local e voluntariado são as marcas das ações da Construtora Camargo Corrêa na única obra do complexo da Refinaria Abreu e Lima com certificação em responsabilidade social
No complexo de obras da Refinaria Abreu e Lima, uma delas destaca-se na questão da responsabilidade social. A construção das Unidades de Coqueamento Retardado e Tratamento Cáustico Regenerativo pelo Consórcio CNCC - Camargo Corrêa CNEC – formado pela Construtora Camargo Corrêa e CNEC Worley Parsons Engenharia S.A. – é a única obra com certificação na área. Além da implantação de um Sistema de Gestão de Responsabilidade Social que mantém diálogo constante com as suas partes interessadas, a parceria entre a Construtora e o Instituto Camargo Corrêa no desenvolvimento de projetos nas áreas da infância, geração de trabalho e renda e de voluntariado também tem a sua participação neste diferencial. O trabalho realizado em conjunto não só beneficia as comunidades da qual a obra faz parte como também agrega valor ao negócio da empresa. “Os projetos desenvolvidos em parceria com o Instituto nos trouxeram maior proximidade e transparência junto à comunidade e ao poder público, contribuindo para promoção de uma imagem positiva do empreendimento na região, que nos referencia na área de Responsabilidade Social”, declara José Olavo de Mesquita Rocha Filho, gerente da Camargo Corrêa na obra. Por meio do programa Infância Ideal, são realizados diversos trabalhos para o fortalecimento da Rede de Proteção dos Direitos da Criança e do Adolescente do município de Ipojuca, onde a obra está localizada. Internamente, as ações são potencializadas com a formação de multiplicadores, dentre os 6 mil funcionários, para o enfrentamento da exploração sexual infantil no projeto Grandes Obras pela Infância. Os cuidados com a primeira infância também foram contemplados. O projeto Minha Cidade Tem Creche capacitou educadores de três instituições de diferentes regiões e adequou os espaços para melhor receber as crianças.
Nesse tipo de relação próxima, em que obra e seus funcionários estão profundamente ligados à comunidade, é natural que a valorização da cultura local tenha se tornado um dos focos da atuação da parceria entre o Instituto e a Construtora. Através do projeto Consórcio das Artes, do programa Futuro Ideal, dois grupos de artesãs – as associações Bioartes e Baobá – estão recebendo apoio técnico e financeiro para se destacarem no mercado. Após conquistar espaço em algumas lojas de artesanato, a meta dos grupos é ampliar as vendas com a participação na maior feira de artesanato do Brasil, a Fenearte, que será realizada em julho em Pernambuco. As referências locais estão presentes nas coleções criadas pelas artesãs e até no nome dos empreendimentos. De origem africana, uma árvore baobá gigante, com um tronco que exige 20 pessoas para abraçá-lo e tem estimados 400 anos de existência, localizada no distrito de Nossa Senhora do Ó, em Ipojuca, é um dos vários pontos turísticos visitados pelos turistas que se hospedam no balneário de Porto de Galinhas, a menos de 10 quilô-
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metros dali. Josenise Luisa da Silva, presidente da associação, conta que os turistas que visitavam a feirinha de artesanato no distrito já procuravam por lembrancinhas da árvore. Por isso, quando questionadas pelo Instituto Meio – parceiro executor do projeto – o que poderia diferenciar o seu trabalho do dos demais artesãos da região, as 16 mulheres que se reuniram na associação não tiveram dúvidas: o baobá seria a fonte de inspiração das peças em tecido e também o nome do empreendimento. O outro grupo assistido, Bioartes, fica em Porto de Galinhas e trabalha com moda praia e biojoias artesanais, feitas a partir de fibras e sementes naturais. As bijuterias já foram inclusive apresentadas em eventos “eco fashion”, ramo da moda dedicado a peças feitas com produtos de origem ecologicamente correta. “Turistas dão muito valor ao artesanato local, principalmente se for o natural”, diz a artesã e presidente da associação, Eliane Anastácio. De olho neste nicho, elas têm apostado cada vez mais no uso de insumos naturais, por exemplo, reduzindo o uso de fechinhos de metal em colares e pulseiras. Além de tornar o produto mais sustentável, traz ganhos financeiros, pois sai mais barato para produzir e pode ser vendido pelo mesmo preço por causa do valor agregado. Desde o início das capacitações, em novembro de 2012, os grupos Bioartes e Baobá já faturaram um total de R$ 11 mil com as vendas dos seus produtos. A visibilidade que o projeto deu aos grupos despertou interesse da Secretaria Municipal da Mulher em trabalhar com as 26 artesãs em projetos voltados para a valorização da mulher. A parceria ainda está em desenvolvimento. Presença feminina A presença feminina também é característica das ações do programa Ideal Voluntário desenvolvidas pelos profissionais da obra. O Grupo de Ação Ideal Voluntário (Gaiv) Dom do Amor, conduzido por dez mulheres, há quase dois anos cuida – com afeto e bens materiais – de uma Casa de Abrigo que atende nove crianças. As mulheres também se dedicam a mobilizações das campanhas de Natal. A preferência é o atendimento a crianças de 0 a 12 anos. No Natal de 2012, por exemplo, cerca de 400 funcionários colaboraram. A líder do Gaiv, Patrícia Barros, conta que o grupo também mobiliza os funcionários para outros fins, de acordo com as necessidades que o Comitê de Incentivo ao Voluntariado e Interação com a Comunidade (Civico) identifica e indica. Este comitê é responsável por articular as atividades voluntárias e pelo diálogo e relacionamento com a comunidade. Francine Vilela, representante da área de responsabilidade social no Civico, conta que além das ações que a empresa monitora, os profissionais estão sempre fazendo pequenas mobilizações para atender necessidades que vão identificando na comunidade, como roupas para uma família carente.
CONSÓRCIO DAS ARTES Ao apoiar as artesãs dos grupos Bioartes e Baobá (embaixo), projeto valorizou o artesanato e a cultura local
fotos: Laílson Santos
ETA huachipa A Estação de Tratamento de Água (ETA) de Huachipa é um dos maiores projetos de saneamento da América Latina. A obra incluiu uma foto: Divulgação/Construtora
grande planta de tratamento de água e dutos para distribuição para diversas comunidades na região de Huachipa, no Peru. O empreendimento contribuiu para que 2,4 milhões de pessoas tivessem acesso ao abastecimento de água potável. Cliente: Servicio de Agua Potable y Alcantarillado de Lima / Governo do Peru
Desenvolvimento além
das fronteiras
Ao levar para além das fronteiras do Brasil a estratégia de posicionar suas obras como indutoras de desenvolvimento sustentável regional e de desenvolver a parceria com o Instituto Camargo Corrêa, a Construtora Camargo Corrêa reforça o compromisso de fazer de seus projetos instrumentos de transformação da realidade das comunidades. A empresa está presente em sete países da América Latina e da África, muitas vezes atuando em regiões marcadas por deficiências socioeconômicas. Nestas localidades, o modelo de investimento social privado desenvolvido pelo Grupo Camargo Corrêa, sensível à realidade das populações impactadas por seus empreendimentos e baseado no diálogo permanente com as instituições e organizações locais, mostra-se especialmente válido. Na região de Huachipa, no Peru, onde a Construtora realizou uma das maiores obras de saneamento da América Latina, a avaliação da cadeia de valor da construção civil sinalizou a oportunidade de apoio a iniciativas de formação profissional de jovens da região. Huachipa reúne quatro povoados próximos à capital Lima – Nievería, Jicamarca, Cajamarquilla e Santa María de Huachipa – e uma população de cerca de 44 mil pessoas, a maior parte migrantes vindos de regiões dos Andes. As famílias numerosas (com uma média de 4 filhos) vivem com cerca de R$ 240 por mês. Diante deste cenário, Construtora e Instituto associaram-se a um parceiro local, a ONG Cesal Peru, e desenharam o projeto Futuro Ideal para os Jovens de Huachipa. Se a estação de tratamento de água era um avanço importante, ampliando o acesso a água potável e saneamento básico, o projeto trouxe ainda mais ganhos para o desenvolvimento local. A meta inicial, traçada em 2010, era proporcionar formação profissional para 500 jovens e inserir 200 no mercado de trabalho. Até maio deste ano, quando o projeto foi encerrado, as dez oficinas profissionalizantes oferecidas contaram com 564 participantes. Foram formados operadores de
Presença internacional da Construtora amplia o alcance do modelo de investimento social do Grupo Camargo Corrêa máquinas industriais, cabeleireiros, técnicos em computação e auxiliares técnicos em educação. Além disso, o desenvolvimento de atividades econômicas relacionadas à obra inspirou a oferta de cursos de alvenaria e de instalações sanitárias. Múltiplos benefícios As formações foram acompanhadas de atividades práticas realizadas dentro das comunidades. “Com isso, foi possível construir casas para famílias em situação de alto risco social, realizar a reforma de uma escola pública e fazer o sistema de água e esgoto em outra”, conta Paola Cárdenas, diretora de Relações Externas e Comunicação da Cesal Peru. Os participantes do curso de desenho e construção de móveis doaram as peças produzidas para organizações sociais. “Estes atos solidários refletem o compromisso com a comunidade despertado pelo acompanhamento humano e social durante o processo”, comenta Paola. Ao longo do projeto, os jovens também participaram de oficinas culturais (danças folclóricas, teatro e outras), que foram abertas à comunidade, e de atividades voltadas para o desenvolvimento pessoal, como orientação vo-
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cacional e educação afetivo-sexual. Outro aspecto importante do projeto foi prever o momento de saída dos participantes dos cursos. Em conjunto com a Fundação AVSI Lima Leste, foi expandida a oferta da bolsa-trabalho – ação já realizada pela Cesal e que oferece assessoria profissional para o primeiro emprego. O resultado: 270 jovens inseridos no mercado de trabalho. Henry Fabián, de 20 anos, já havia aprendido algo de marcenaria com o pai. Após participar do curso de movelaria, diz que aperfeiçoou as técnicas e aprendeu muito mais. O suficiente para conseguir seu primeiro emprego. Seu colega, Jonathan Rosales, de 24 anos, também já está trabalhando, mas quer ir além. “Penso em abrir uma oficina de marcenaria porque vi que é um negócio bastante rentável”, disse. Ter seu próprio negócio também está nos planos de Elizabeth Cuadros, 22 anos. “Somos todas mulheres com desejos de superação”, afirma, comentando sobre sua turma do curso de cabeleireiro. Yesica Mantari, assessora externa para o tema de Responsabilidade e Gestão Social da Camargo Corrêa no Peru, destaca que uma das características do projeto em Huachipa foi responder ao desafio de qualquer empresa que chega a outro país: identificar-se com a realidade das comunidades, criar oportunidades para pessoas em desvantagem social e ser reconhecida como socialmente responsável. “Este é o legado que a Construtora e o Instituto deixam com este projeto: o desejo de superação e de ser cada dia melhor”, resume Yesica. Primeira experiência A parceria com a Construtora permitiu ao Instituto realizar seu primeiro projeto com caráter internacional em 2008. Em Angola, onde a Camargo Corrêa atua em obras de infraestrutura rodoviária e de transmissão de energia elétrica, o foco foi também a inserção de jovens no mercado de trabalho, tendo em vista as demandas do mercado de construção de infraestrutura viária no país. O projeto Kidimacaji – palavra que quer dizer “trabalhador” em banto – ofereceu capacitação profissional para jovens moradores da região de Cazenga, em Luanda. A iniciativa contou com o apoio do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e da Organização dos Salesianos de Dom Bosco, da paróquia São José de Nazaré. O objetivo foi contribuir para suprir o déficit de formação técnica de Angola, onde quase metade dos habitantes tem menos de 15 anos e 69% da população economicamente ativa não têm qualificação profissional. Para introduzir ações voltadas também à construção de capital social e que pudessem complementar o projeto de formação profissional, foram implementadas outras iniciativas, que contaram com a participação ativa dos profissionais da Camargo Corrêa. Um exemplo disso foi a campanha Viagem do Conhecimento, que arrecadou mais de 10 mil livros, revistas e gibis que serviram para compor o acervo de duas salas de leitura criadas em escolas públicas de Luanda. Além disso, desde que está presente no continente africano, a Construtora reúne voluntários no Dia do Bem-Fazer. Em 2012, a mobilização resultou na reforma de escolas nas comunidades de Katchipatinho, em Angola, e Chirodzi-Sanangwe, em Moçambique.
OPORTUNIDADES Projeto no Peru ofereceu cursos, como o de instalações hidráulicas, e apoiou a inserção de jovens no mercado de trabalho
fotos: Divulgação/Cesal Peru
interação
MENSAGENS
Este espaço está aberto a opiniões, sugestões e debates a respeito de reportagens publicadas na revista Ideal Comunitário, do Instituto Camargo Corrêa. O e-mail de contato é instituto@ institutocamargocorrea.org.br Para receber a revista Ideal Comunitário, envie seu endereço para o e-mail instituto@ institutocamargocorrea.org.br. As edições da revista também estão disponívels no site www. institutocamargocorrea.org.br
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Li a matéria O despertar da proteção à infância na Ideal Comunitário [ed. 21] e gostei muito. A reportagem ficou linda! À medida em que fui lendo, revi todo o processo de trabalho do CDC [Comitê de Desenvolvimento Comunitário] de Juruti e me emocionei. Eva Costa Silva, Comitê de Desenvolvimento Comunitário Juruti - PA Há algum tempo recebemos, através de antigos colaboradores da organização, a revista Ideal Comunitário, muito útil para o desenvolvimento do nosso trabalho, iniciativa de ideias e informação. Fernanda Garcia, jornalista do Gira Solidário Campo Grande - MS
É com satisfação que recebo a edição de março, da revista Ideal Comunitário. As matérias sobre os programas estão ótimas e os resultados alcançados são surpreendentes. Fico feliz em saber que os programas com os voluntários e parcerias com os gestores públicos estão cada vez mais consolidados. Laura Boaventura de Andrade, Gerência de Desenvolvimento Social do Serviço Social da Indústria de Minas Gerais Belo Horizonte - MG Parabéns pela revista Ideal Comunitário. As matérias são consistentes e de fácil leitura. Mauricio Ferreira, Holcim (Brasil) S.A. Barroso - MG
ações&parcerias
QUALIFICAÇÃO Educadores de Apiaí (SP) e mais 6 municípios recebem formação à distância
Instituto e Rede Marista mantêm curso de pósgraduação voltado ao aperfeiçoamento de profissionais que atuam na área
Juntos pela
educação infantil A educação infantil está na pauta nacional. Em abril, com a publicação da Lei 12.796, o ensino básico obrigatório foi fixado a partir dos 4 anos de idade, com estados e municípios sendo instados a garantir vagas a todas as crianças nessa faixa etária a partir de 2016. A mesma legislação deixou claro que creche não é mero “depósito” de crianças. A educação infantil, que passa a ser oficialmente a primeira etapa da Educação Básica, “tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança de até 5 anos, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade”. Afinado há muito com essa questão, o Instituto Camargo Corrêa, através do programa Infância Ideal, mantém desde outubro do ano passado uma parceria com a Rede Marista de Solidariedade voltada à capacitação de profissionais para a área da educação infantil. O projeto tem hoje 100 alunos realizando o curso de pós-graduação, oriundos de sete cidades em três estados: Ipojuca e Cabo de Santo Agostinho, em Pernambuco, Apiaí, Itaoca e Jacareí, em São Paulo, e Ijaci e Santana do Paraíso, em Minas Gerais. As aulas são realizadas pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná, que integra a Rede Marista, na modalidade semipresencial – os participantes acessam uma plataforma on-line e terão encontros presenciais para avaliação de desempenho. As duas primeiras turmas do curso iniciaram suas atividades em outubro de 2012. A formação completa se dará em 18 meses. “Em todos os municípios em que atuamos, a formação de educadores de creche e pré-escola é apontada como prioridade”,
foto: RM Medeiros
explica Ariane Duarte, analista de projetos do Instituto. “A Rede Marista é um parceiro com expertise nessa área, o que representa um ganho para todos nós”, avalia. Ariane conta ainda que, por iniciativa própria, os alunos driblaram a questão da “solidão” da educação à distância, tornando o curso diferente e mais dinâmico: “Os educadores têm se reunido para acessar a plataforma. Assim, desenvolvem as atividades em conjunto. É muito bacana.” A coordenadora de Projetos, Articulações e Parcerias da Rede Marista de Solidariedade, Vanderlúcia da Silva, destaca como frutos da parceria a possibilidade de formação de dezenas de educadores com enfoque na educação infantil como direito fundamental das crianças. “Isso contribui para a garantia do direito à Educação Básica de qualidade para todos”, diz Vanderlúcia. “Também é importante a possibilidade de melhoria da qualidade da educação infantil nas instituições e escolas localizadas em áreas de vulnerabilidade social”, avalia. Vanderlúcia destaca também que o número de professores da Educação Básica (que reúne os ensinos infantil, fundamental e médio) com Ensino Superior no país cresceu 7,6% no último ano (dados do Censo Escolar de 2011), mas que, embora essa alta seja significativa considerando o curto espaço de tempo, a quantidade de docentes ainda é pequena, principalmente na educação infantil. “Precisamos avançar muito em qualificação. Em creches e pré-escolas, 43% dos docentes não têm diploma universitário”, comenta. “Daí a importância de ações como esta em parceria com o Instituto.” ideal comunitário 39
inovações sustentáveis
Um plano para ajudar o planeta A elaboração do Plano Água da Camargo Corrêa vai ao encontro da necessidade de se pensar soluções para o consumo sustentável dos recursos hídricos
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Economizar água deixou há tempos de ser apenas uma postura politicamente correta individual para virar uma questão de sobrevivência planetária. Dados do International Water Management Institute preveem que este recurso natural básico para a existência da vida se tornará escasso na maior parte do Brasil e de toda a América Latina até 2025. Isso significa que, apesar da abundância, o recurso custará cada vez mais caro. Foi pensando nesta realidade que a Construtora Camargo Corrêa elaborou o Plano Água – Estratégia para Gestão do Recurso Água. A partir de junho, a empresa põe o plano em ação. O objetivo é conhecer a disponibilidade de água nas regiões onde a empresa atua e minimizar os potenciais impactos que os diferentes cenários geram sobre seus negócios. Neste ano, as obras de Alto Piura (Peru), Ponte Laguna (Santa Catarina) e uma terceira obra, ainda em estudo, começam a adotar o projeto. “Para garantir o uso sustentável da água e a menor dependência deste recurso em nossos processos construtivos, o Plano Água firma o compromisso com ações de redução do consumo considerando a busca por novas práticas e tecnologias e a conscientização de colaboradores e comunidades”, explica Kalil Farran, gerente executivo de Sustentabilidade da empresa. Por isso, este projeto leva em conta não apenas o consumo de água em cada canteiro, mas sim a “pegada de água” das obras. O conceito – em inglês chamado de water footprint – é uma forma mais abrangente de mensurar a utilização do recurso. No total, a pegada de água é cerca de 20% maior que o consumo, porque adiciona ao cálculo, por exemplo, o volume de recursos hídricos que um rio utiliza para conseguir absorver os efluentes depositados ali mesmo depois de tratados. Um inventário com esta metodologia foi realizado em 2009 na construção da Usina Hidrelétrica de Batalha, em Goiás. Foi a primeira vez no mundo que uma empresa do ramo de construção realizou um inventário tão minucioso, reunindo parâmetros estabelecidos por órgãos como o Water Footprint Network.
foto: Divulgação/Construtora
PEGADA DE ÁGUA Na Usina Hidrelétrica de Batalha, Construtora realizou levantamento minucioso do consumo
Conhecimento acumulado Até 2020, a meta da Construtora é reduzir o índice de todas as obras da empresa em pelo menos 20%. Para isto, haverá reduções gradativas estabelecidas ano a ano. Na formulação do plano, a empresa sistematizou ações já em andamento nos canteiros, totalizando 120 práticas para redução do consumo de água, como reutilização da água da chuva, que também foram integradas ao projeto. A Construtora já possui iniciativas semelhantes em outras áreas, como a redução na emissão de carbono e a reciclagem e tratamento de resíduos (saiba mais no box ao lado). “Clientes, investidores, financiadores e a própria comunidade exigem medidas cada vez mais rigorosas em relação ao uso da água e à proteção do meio ambiente”, comenta Ricardo Sampaio Fernandes, coordenador de Meio Ambiente da Construtora. O Plano Água prevê a atuação em três possíveis cenários: escassez, abundância e conflito. Nas áreas afetadas pela escassez, como o nome diz, falta água o tempo todo ou em determinados períodos. Nas áreas de abundância, é preciso evitar o desperdício e fazer o melhor uso em um local onde o recurso é parte fundamental na vida dos moradores. As áreas de conflito são locais onde há disputa pelo recurso, por exemplo, entre a agricultura familiar e a chegada de grandes empreendimentos. Para cada um dos cenários haverá procedimentos específicos, levando em conta o melhor aproveitamento e o menor impacto no entorno. Para a execução do projeto, a água é dividida em três categorias: azul, verde e cinza. A “água azul” é a utilizada na produção, como a que compõe o concreto ou abastece os refeitórios. A “verde” retorna à natureza em forma de evapotranspiração e irrigação das plantas. A “cinza” é a que não será reutilizada e tem de ser descartada. Cada um destes tipos requer ações diferenciadas em busca da eficiência no uso dos recursos. Na prática, cada obra terá que desenvolver uma Gestão Colaborativa de Águas, que reunirá especialistas, funcionários e membros da comunidade. Mapeadas as necessidades, serão estabelecidas as ferramentas necessárias para reduzir a pegada de água, além de identificar novas oportunidades de negócios e conscientizar os moradores sobre a importância da preservação ambiental. Algumas ações previstas são o investimento em novas tecnologias para a diminuição do uso da água na fabricação de concreto, o planejamento de edificações para maior captação de água da chuva, a instalação de banheiros químicos e investimentos no reuso da água.
NA INTERNET v Para aumentar a conscientização sobre o uso da água, a ONU, por meio da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), declarou 2013 como o Ano Internacional da Cooperação pela Água. Saiba mais em www.unesco.org/new/pt/ brasilia/2013-international-year-of-water-cooperation/
Emissão de carbono e geração de resíduos já foram reduzidas O Plano Água é o terceiro projeto criado pela Construtora Camargo Corrêa voltado para ações sistêmicas na área da sustentabilidade. Em 2009, foi lançado o Plano de Gestão de Carbono, cuja meta é diminuir a emissão de gases do efeito estufa nas obras em 37% até 2020. Preservação da vegetação, substituição do concreto tradicional por uma versão sustentável e diminuição do consumo de combustível e energia elétrica são alguns resultados do projeto. Até o momento, a redução da emissão de CO2 foi de 100 mil toneladas. Outra iniciativa é o tratamento e reciclagem de resíduos nas obras e a criação da Bolsa de Resíduos, um sistema eletrônico por meio do qual equipes de obras podem receber ofertas para comercialização, doação ou tratamento de sobras, como baterias, papel, concreto, plástico e madeira. A ação já resultou em um índice de 55% de resíduos destinados à reciclagem. Essas iniciativas foram reconhecidas pela Organização das Nações Unidas como exemplo de boas práticas em relação à Agenda Climática e Sustentabilidade. Depois da água, o próximo passo é criar um plano para melhor aproveitamento dos recursos naturais.
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artigo Vital Didonet
foto: Rede Nacional Primeira Infância
Por que cuidar das crianças de 0 a 3 anos
Vital Didonet é professor, especialista em educação infantil e atuante na área dos direitos da criança.
Uma sociedade sem crianças envelhece, não terá juventude, perde a criatividade e a inovação 42 ideal comunitário
Por que os cuidados com crianças de 0 a 3 anos são tão importantes? Muita gente está fazendo essa pergunta e também muita gente está dando uma resposta vigorosa. Que resposta é essa? A mais fácil e rápida é: porque as crianças são muito importantes. Não apenas para os pais ou para seus familiares. Elas são importantes para a sociedade. Uma sociedade sem crianças envelhece, não terá juventude, perde a criatividade e a inovação, cai na rotina e se esvazia. Legisladores aprovam leis para determinar ações governamentais para essa faixa etária. Governos fazem políticas voltadas ao atendimento dos direitos da criança. Inúmeras associações, fundações, institutos e centros sociais se formam para proteger e promover a qualidade de vida das crianças. Profissionais de diferentes áreas se especializam em assuntos da primeira infância. Pesquisadores investigam os resultados de programas em educação infantil, em saúde, alimentação e proteção social sobre o desenvolvimento das crianças e seu impacto no desenvolvimento social e econômico. Presidentes atendem ao convite da Organização das Nações Unidas para se comprometerem a criar “um mundo para as crianças”... Mas a pergunta é complexa e exige uma resposta mais ampla. O que há de especial nos primeiros anos de vida para se concluir que eles merecem uma atenção especial, o melhor cuidado possível, a ponto de a ONU afirmar que a humanidade deve o melhor de seus esforços para as crianças? A formação da civilização humana nos ensina que o cuidado dos pais e dos adultos em geral com as crianças foi uma condição necessária para que a humanidade sobrevivesse e se desenvolvesse. A fragilidade e a dependência do ser humano ao nascer nos ensina uma coisa maravilhosa: não nascemos prontos do útero
de nossa mãe. Precisamos do útero social, do cuidado do grupo familiar, do olhar atento e cuidadoso das pessoas com quem vivemos. As relações com os outros tecem o ser social, mas também entram na formação do eu de cada pessoa. Por isso, o filósofo Ortega y Gasset dizia: eu sou eu e minhas circunstâncias. Isso significa: eu sou o que sou por causa das pessoas que me amaram, me cuidaram, me deram carinho, me ensinaram, me escutaram e me fizeram participar de suas vidas, me incentivaram a abrir o meu próprio caminho e ser responsável pelo meu projeto de vida. Isso tudo é cuidado no sentido amplo do termo! Hoje, não se pensa no cuidado como uma coisa apenas física – da saúde, da alimentação, do vestuário, da proteção contra riscos de machucar-se. Cuidado é o olhar zeloso, que quer bem, que respeita o corpo e a alma da criança, que se extasia diante do mistério que ela representa para nós, mas também que se sente comprometido com seu bem estar, seu desenvolvimento, sua felicidade. O cuidado se estende ao ser da criança como sujeito de direito, pessoa única e insubstituível, construtora de uma individualidade e uma subjetividade própria e diferente das demais crianças. É preciso preservar a infância, o direito de ser criança. Quando se força a criança a ser adulta precocemente, se está negando a infância e suprimindo as experiências mais profundas de formação psíquica e mental. Cuidar da infância implica respeitar o tempo da criança que é diferente do dos adultos. Implica dar muita oportunidade para ela brincar, pois o brincar é o seu jeito próprio de ser/estar nos diferentes espaços, de descobrir e entender o mundo que a cerca, dar conteúdo à sua curiosidade, responder às interrogações que os mistérios do desconhecido lhe fazem a toda hora.
expediente
CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DA CAMARGO CORRÊA S.A. Presidente: Vitor Hallack Vice-presidentes: A.C. Reuter, Carlos Pires Oliveira Dias e Luiz Roberto Ortiz Nascimento CONSELHO DELIBERATIVO DO INSTITUTO CAMARGO CORRÊA Presidente: Rosana Camargo de Arruda Botelho Vice-presidente: Renata de Camargo Nascimento Conselheiros: Carla Duprat, Dalton dos Santos Avancini, Daniela Arantes Alves Lima, Daniela Camargo Botelho de Abreu Pereira, Elisa Camargo de Arruda Botelho, Francisco Tancredi, Henrique Ernesto de Oliveira Bianco, José Édison Barros Franco, Luiz Eduardo de Camargo Nascimento, Marcio Garcia de Souza, Márcio Utsch, Maria Regina Camargo Pires Ribeiro do Valle, Maria Tereza Pires Oliveira Dias Graziano, Naima Bennani Nascimento, Olga Colpo, Raphael Antonio Nogueira de Freitas, Ricardo Fonseca de Mendonça Lima e Vitor Hallack Instituto Camargo Corrêa Presidente do Grupo Camargo Corrêa e do Instituto: Vitor Hallack Diretor executivo: Francisco de Assis Azevedo Superintendente: Jair Resende Coordenadora de comunicação: Clarissa Kowalski Coordenadores de programas: Flávio Seixas, Felipe Soares, Juliana Di Thomazo e Toni Niccolini Analistas de projetos: Ariane Duarte, Gisele Pennella, Lívia Guimarães, Mariana Ramos de Baère e Renata Monteiro Costa Analista administrativo-financeiro: Bárbara Gomes Auxiliar administrativo: Maria de Lourdes Furtado dos Santos Estagiário de comunicação: Bruno Teixeira Fioravante REVISTA IDEAL COMUNITÁRIO Comitê editorial Carla Duprat, Clarissa Kowalski, Fernanda Guerra, Francisco de Assis Azevedo, Jair Resende, Kalil Farran, Marcello D’Angelo, Mauricio Esposito, Olga Colpo, Ricardo Mastroti, Veet Vivarta
Arte Carolina König – Studio1101 CAPA Wendell Marques – foto impressão Leograf COMUNICAÇÃO DO GRUPO CAMARGO CORRÊA CAMARGO CORRÊA S.A. Marcello D’Angelo, Mauricio Esposito, Cintia Mesquita de Vasconcelos Alpargatas Cássia Navarro INTERCEMENT Fernanda Guerra CONSTRUTORA CAMARGO CORRÊA Denise Pragana e Verena Ferreira TAVEX CORPORATION Andrea Shimada e Bianca Kapsevicius Gonçalves
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Brincadeira e afeto Educadores da creche Campo Grande, em Jacareí (SP), receberam formação especial para o trabalho com a primeiríssima infância