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Bananicultores de Porto Velho (RO), participantes do projeto Tempo de Empreender, tornam-se fornecedores da obra da Usina Hidrelétrica Jirau
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bons resultados ES
Número 24 • Dezembro de 2013
Colhendo
NESTA EDIÇÃO Número 24 | Dezembro de 2013
3 Editorial 4 Entrevista O papel das empresas como indutoras do desenvolvimento local segundo o pesquisador canadense Robert Boutilier
8 Panorama Social Agenda de Convergência propõe ações para garantir proteção aos direitos da infância durante grandes eventos
10 Infância Semana do Bebê mobiliza comunidades em 9 municípios em torno dos cuidados com a primeiríssima infância
14 Educação Em Jacareí (SP), comunidade escolar participa da aplicação dos Indicadores de Gestão para a Escola Ideal
18 Empreendedorismo Cooperativa participante do Tempo de Empreender Bananicultor vira fornecedora da Construtora Camargo Corrêa em Rondônia
22 ESPECIAL – INTERCEMENT 24 26 29 30 32 34 36 38
Editorial Participação e transformação social Investimento social Trabalho em conjunto Ideal Voluntário A união faz a força Infância Ideal Brincadeira é coisa séria Escola Ideal Qualidade por todos os lados Futuro Ideal Prontos para o futuro Loma Negra Vencendo o desafio de “enseñar a pescar” Internacional Compromisso ampliado
40 Interação 41 Inovações Sustentáveis Agenda Água orienta uso de recursos hídricos pelas empresas do Grupo Camargo Corrêa
42 Artigo Maria do Carmo Brant de Carvalho fala sobre avaliação, participação da comunidade e qualidade da educação
2 IDEAL COMUNITÁRIO
EDITORIAL
As matérias publicadas nesta edição da revista Ideal Comunitário e as ações que elas retratam formam um mosaico ilustrativo do modelo de investimento social privado de-
senvolvido pelo Instituto Camargo Corrêa. Já em nossa capa, destacamos a base deste
modelo: a integração entre os projetos desenvolvidos a partir dos programas do Instituto
FOTO: CHRISTIAN KNEPPER
Integrar para transformar e as atividades das empresas do Grupo Camargo Corrêa.
Um dos produtos desta integração pode ser encontrado no refeitório do canteiro de obras
da Usina Hidrelétrica Jirau. Desde novembro, a Unicoop, cooperativa de agricultores do distrito
de União Bandeirantes, em Porto Velho (RO), fornece bananas para a Construtora Camargo Corrêa, empresa que, ao lado do Instituto e em parceria com o Sebrae-NA, Sebrae-RO e o
BNDES, desenvolveu o projeto Tempo de Empreender Bananicultor. A ação é responsável pelo fortalecimento da cooperativa e o aumento da produção e da qualidade das bananas produzidas pela Unicoop, que, assim, pôde ser incluída na cadeia de valor da Construtora, em um ciclo virtuoso a favor do desenvolvimento comunitário.
Já o especial sobre a atuação da InterCement, encartado nesta edição, faz um retrato
ainda mais detalhado da integração entre as empresas do Grupo e o Instituto. Os textos descrevem os caminhos percorridos pela InterCement para integrar estratégias de negó-
cio e de investimento social e mostram os resultados alcançados em várias localidades. Demonstram, ainda, a importância de a empresa integrar-se à comunidade para realizar
“Que em 2014 estejamos lado a lado, integrando esforços para contribuir com a prosperidade das comunidades”
ações de fato relevantes.
A relação com as comunidades e com o poder público local, outro elemento importan-
te da estratégia de atuação do Instituto, estão ilustradas nas reportagens sobre a realização
da Semana do Bebê em nove cidades participantes do programa Infância Ideal e sobre a
aplicação dos Indicadores de Gestão para a Escola Ideal no município de Jacareí (SP). Todos estes temas encontram-se entrelaçados na entrevista com o pesquisador canadense Robert Boutilier, que explica os desafios das empresas para alcançar a chamada Licença Social para Operar.
Por fim, que em 2014 estejamos lado a lado, construindo parcerias e integrando esfor-
ços para contribuir com a prosperidade das comunidades onde estamos presentes!
Francisco de Assis Azevedo, diretor executivo do Instituto Camargo Corrêa
IDEAL COMUNITÁRIO 3
ENTREVISTA Robert Boutilier
4 IDEAL COMUNITÁRIO
FOTO: PABLO DE SOUSA
Pontes para
o desenvolvimento Robert Boutilier fala sobre a relação entre as empresas e as comunidades onde atuam como fator-chave para se alcançar prosperidade em nível local Operar negócios em regiões de baixo desenvolvimento social exige das empresas respostas complexas. É o que têm demonstrado os estudos de campo levados a cabo pelo pesquisador e consultor Robert Boutilier em diversas regiões da América Latina. Para as empresas encontrarem estas respostas, diz ele, é necessário que busquem reconhecer e contribuir para desenvolver o potencial que cada comunidade carrega em si de ser agente de sua própria transformação. Isso demanda identificar os diversos stakeholders envolvidos e trabalhar de forma conjunta com a comunidade no desenvolvimento dos projetos. Especialista em relações com stakeholders, o consultor canadense desenvolveu o conceito de Licença Social para Operar (LSO) e um método para avaliar os riscos sociopolíticos enfrentados por empresas ao operarem projetos em diferentes comunidades. A noção de licença social está relacionada à ideia de legitimidade em termos sociais e políticos e de confiança. Quanto maior a legitimidade e o nível de confiança dos diferentes stakeholders, menos riscos corre uma empresa. Alcançar níveis mais altos desta licença social exige, portanto, capacidade de interação verdadeira com os diversos públicos com os quais a empresa lida em sua operação e a sua integração com a comunidade e com as demandas que ela apresenta. Nesta entrevista, Robert Boutilier fala sobre os desafios enfrentados pelas empresas para lidar com estas questões.
Quando falamos em “licença”, pensamos na ideia de autorização prévia para fazer alguma coisa, como é o caso em “licença para dirigir”. É sobre isso que estamos falando quando nos referimos a Licença Social para Operar (LSO): uma autorização da comunidade para que a empresa faça seu trabalho?
O termo “licença social” começou como uma metáfora. A intenção era fazer um paralelo entre as licenças legais para operar uma mina – como, por exemplo, licenças ambientais, licenças para a utilização de recursos hídricos – e a aprovação dos demais poderes envolvidos, como as comunidades, os grupos ambientalistas, e assim por diante. Assim como a licença legal é sempre necessária, a licença social também é, conforme a metáfora. Nos países de língua inglesa, a licença para dirigir pode ser cancelada imediatamente ou suspensa temporariamente pela polícia ali mesmo no meio da rua. Da mesma forma, uma licença social pode ser imediatamente cancelada ou temporariamente suspensa por stakeholders insatisfeitos. O que acontece com uma empresa que não consegue a LSO?
Isso depende do poder que o stakeholder tem. Na maioria das vezes, uma empresa sem licença social vai ser fechada por bloqueios ou pressão política para retirar ou suspender licenças legais. Em resumo, os stakeholders podem fazer com que seja muito mais caro para a empresa continuar operando. Conheço um caso em que uma mina continuou operando sem licença social. O país tinha um ditador que estava pronto para matar os cidadãos que tentassem reduzir seu fluxo de renda resultante das atividades da mina. É por isso que eu digo que depende do poder dos stakeholders. Existe alguma situação em que essa licença social se torna desnecessária? Talvez em um cenário em que a empresa atinja ou supere o estágio final do processo da LSO, que é a total aceitação psicológica, ou seja, quando a comunidade não apenas aceita que a empresa está operando na região, mas começa a se orgulhar de sua presença. Nesses casos, será que a LSO é necessária?
É quase uma pergunta retórica. É como perguntar se existe algum momento em que não é mais necessário cuidar da saúde física. Quando você não tem nenhuIDEAL COMUNITÁRIO 5
ENTREVISTA Robert Boutilier
ma doença e está em forma, você pode começar a beber, fumar, Ampliar o capital social na relação está relacionado à reciprocidade fazer sexo sem proteção e se exceder sem nenhum risco? No e à cooperação mútua. Já o ponto central do contrato social são as entanto, eu diria que no estágio mais avançado, a licença social percepções sobre justiça. Existirá sempre alguma injustiça percetambém carrega alguns riscos, mais especificamente riscos de bida por aqueles que levam cada um de seus princípios de justiça dependência por parte da comunidade em relação ao empre- ao extremo, mas a credibilidade é possível quando todas as partes endimento. A menos que a relação inclua uma preparação séria reconhecem que os diversos princípios de justiça sempre exigem de sobrevivência após o fechamento, por exemplo, nos casos atenção em qualquer projeto do mundo real. que estudei, da mina, é possível que se crie Você sugere que em todas as comunidades uma bomba-relógio de frustração e raiva dos {{As empresas são existem muitas redes colaborativas que postakeholders quando o inevitável momento os melhores veículos dem se unir. Quem pode construir essas “pondo fechamento chegar. De acordo com suas pesquisas, o nível mais comum de LSO alcançado pelas empresas é o de “aceitação”. Como uma empresa pode alcan-
que a humanidade já inventou para reduzir a pobreza||
çar ou se aproximar dos próximos níveis, ou seja, da aprovação e da aceitação psicológica? Em outras palavras, quais são as características que deve ter uma empresa para superar esse primeiro estágio?
A linha divisória entre aceitação e aprovação é a percepção dos stakeholders em relação à credibilidade dos gestores de projeto ou de seus proponentes. A credibilidade é precursora da confiança e pode ser construída investindo em projetos conjuntos. O conteúdo do projeto deve ser algo que beneficie tanto a empresa quanto os stakeholders mais influentes ou estrategicamente posicionados na rede de stakeholders. O processo de se trabalhar em conjunto mudará a estrutura da rede e gerará confiança. Nessa questão da licença social, o processo realmente ajuda mais do que o seu próprio resultado. Não importa se o projeto compartilhado é um sucesso absoluto ou não, desde que o processo seja colaborativo e faça com que as duas partes caminhem em direção ao respeito mútuo e a uma relação de trabalho justa e correta. Isso porque os dois componentes da credibilidade são o capital social e o contrato social.
tes”? Uma empresa pode ser uma “ponte” ou incentivar essa união?
Acho que essa questão está relacionada a unir clusters [grupos formados por afinidade] fechados na rede dos stakeholders. Sim, a empresa pode funcionar como “ponte” inicialmente, mas é melhor para todo mundo se os stakeholders construírem suas próprias “pontes”. Isso dá a eles condições para aceitar e administrar a diversidade. Por diversidade, quero dizer diferentes ideias, formas diferentes de pensar e até mesmo coisas muito básicas, como diferentes atividades econômicas e costumes. Comunidades muito fechadas, sem nenhuma ligação com o exterior, perdem a capacidade de lidar com mudanças, mesmo mudanças que poderiam beneficiá-las. São dominadas por um lamentável medo de mudar e medo do desconhecido. Quando as empresas entram em contato com essas comunidades, elas devem tentar propor projetos ou iniciativas que permitam às comunidades ser expostas a novos e diferentes pontos de vista e possibilidades em um contexto seguro e que não ofereça ameaças. É necessário paciência, mas, mais cedo ou mais tarde, a comunidade vai superar seu medo de mudança e começará a considerar as vantagens de novas formas de ganhar dinheiro, por exemplo.
O que é um stakeholder? O termo stakeholder é utilizado na administração e gestão de negócios para denominar os diferentes atores que podem ser afetados pela atividade de uma empresa ou que podem afetar estas atividades. Pode tanto se referir a indivíduos – por exemplo, lideranças comunitárias – como a organizações de todo o tipo – de partidos políticos a instituições religiosas, agências reguladoras, órgãos estatais, empresas concorrentes, associações de bairro e outras.
6 IDEAL COMUNITÁRIO
Em uma região com baixo capital social, em que a comunidade não tenha condições de se unir, seja interna ou externamente, qual deve ser o papel de uma empresa para contribuir no desenvolvimento da comunidade?
Essas comunidades são inevitavelmente pobres. Isolamento é empobrecimento, tanto em nível comunitário quanto pessoal. A romantização do isolamento de uma comunidade é um luxo para aqueles que vivem na riqueza que o comércio e a tolerância à diversidade geraram. Humanos precisam de humanos. Por fim, é do interesse de ambas as partes – da empresa e da comunidade – que a comunidade desenvolva a capacidade de lidar com mudanças e colaborar com stakeholders externos, que sigam a mesma linha de pensamento, ao caminhar em direção aos objetivos que poderiam reduzir sua pobreza. É difícil – se não impossível – para as empresas conquistar a aceitação de comunidades assustadas e isoladas. É muito mais fácil obter a aceitação de comunidades que têm a capacidade de lidar com mudanças e a vontade de sonhar com um futuro diferente do passado. Na prática, isso significa estudar a estruturação da rede de stakeholders e iniciar projetos que os envolvam (em praticamente qualquer tópico potencialmente benéfico para todos) e que criem mais ligações que permitam que uma estrutura de consenso – como, por exemplo, uma estrutura de liderança entre comunidades – se desenvolva na rede de stakeholders. Os administradores têm de se acostumar a pensar nesses projetos de engajamento como formas de mudar as redes, ao invés de maneiras de conquistar objetivos mais concretos, como construir uma estrada ou uma escola, por exemplo.
NA INTERNET v A íntegra do estudo está disponível em www.institutocamargocorrea.org.br/Documents/ Caderno_FDC_web.pdf
Um estudo de caso no Brasil O conceito de Licença Social para Operar (LSO) foi utilizado pela equipe da Fundação Dom Cabral formada pelas pesquisadoras Nísia Werneck, Juliana Travassos e Flávia Alvim no estudo de caso sobre a atuação da InterCement e do Instituto Camargo Corrêa no município de Pedro Leopoldo (MG). A cidade é sede de uma das unidades da empresa de cimentos do
Uma rede depende da identidade e/ou da afinidade entre os atores no que se
Grupo Camargo Corrêa e conta com pro-
refere aos seus interesses. Muitas vezes, no entanto, os objetivos da empresa
jetos ligados a três programas estruturan-
são muito diferentes dos objetivos das comunidades. Como resolver isso?
tes do Instituto: Infância Ideal, Escola Ideal
As empresas e os stakeholders geralmente têm muitos interesses e objetivos compartilhados. Isso porque as empresas são os melhores veículos que a humanidade já inventou para reduzir a pobreza e promover a prosperidade. No entanto, há tanto situações em que as empresas não desejam compartilhar os benefícios como casos em que os stakeholders têm um medo ideológico ou ódio do capitalismo ou de estrangeiros ou de outra suposta personificação do diabo. Nesses casos não haverá licença social SEM mudança nas perspectivas dos atores. Mudanças nas estruturas da rede de stakeholders podem colocá-los (tanto na empresa como fora dela) em contato com aqueles atores que têm percepções menos rígidas. Por parte da empresa, por exemplo, a inclusão de stakeholders nos círculos de beneficiários da atividade da empresa pode passar a ser tratada como retenção de custos, vistos os elevados valores envolvidos nos conflitos com stakeholders. Por parte do stakeholder, mudanças na estrutura central da rede podem garantir maior legitimidade àqueles que enxergam os interesses comuns em oposição àqueles que focam em interesses conflitantes.
e Ideal Voluntário. O estudo apontou que o modelo de investimento social privado implementado provocou transformações evidentes na relação constituída entre empresa e comunidade no município mineiro. A pesquisa apontou alguns fatores-chave para estas mudanças, entre eles o processo participativo de liderança adotado pela empresa, um modelo de governança que prima pela clareza de papéis, a perspectiva integrada do modo de atuação proposto pelo Instituto e o intercâmbio com experiências exitosas.
IDEAL COMUNITÁRIO 7
PANORAMA SOCIAL
Festa com
Agenda de Convergência articula ações para a proteção das crianças e adolescentes em grandes eventos
direitos garantidos
Com foco nos grandes eventos que serão realizados no Brasil a partir do ano que vem, como a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016, a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República instituiu a Agenda de Convergência, um conjunto amplo de ações de combate à violação dos direitos da criança e do adolescente. O trabalho é realizado em parceria com outras entidades ligadas ao governo federal e à sociedade civil organizada. A ideia é garantir estratégias de proteção para as crianças e adolescentes antes, durante e após a realização desses eventos. O objetivo é fortalecer as redes para proteção integral, com uma visão sistemática e uma atuação integrada frente ao cenário de possíveis violações – como violência sexual, trabalho infantil, violência letal, desaparecimento de crianças ou ado-
lescentes, negligências e outros. Entre as ações programadas, estão a instalação do Plantão Integrado de Proteção à Criança e ao Adolescente em cada cidade-sede da Copa. Devem ser criados, no entorno dos estádios, aglomerações e transmissões públicas dos jogos, espaços temporários de convivência para crianças e adolescentes em situação de violação dos direitos. Está prevista também uma campanha nacional de proteção integral de crianças e adolescentes e a capacitação de agentes de segurança pública e privada, em parceria com a Secretaria Especial de Grandes Eventos e os Conselhos Tutelares das cidades-sede da Copa do Mundo. Esses municípios também estão recebendo consultoria, a cargo das instituições parceiras, para organizar um grupo gestor da Agenda, realizar o monitoramento e avaliação das ações.
Pastoral da Criança faz 30 anos A organização, criada pela médica Zilda Arns (na foto) e pelo então arcebispo de Londrina, hoje cardeal emérito, Dom Geraldo Majella Agnelo, tornou-se referência mundial no combate à mortalidade infantil. Conheça o trabalho da Pastoral:
Países onde atua:
Municípios brasileiros com Pastoral da Criança:
4.000
1.256.079
Crianças acompanhadas:
Gestantes acompanhadas:
Voluntários:
21
Famílias acompanhadas:
FOTO: DIVULGAÇÃO
1.598.804
84.617
238.275
Fonte: Pastoral da Criança – www.pastoraldacrianca.org.br
8 IDEAL COMUNITÁRIO
Sugestão de leitura
A Lei das Cooperativas (Lei 12.690 /2012) foi instituída em julho de 2012 com a proposta de garantir direitos trabalhistas e coibir situações de fraude, especialmente no caso das cooperativas de serviço. As novas regras, porém, criam entraves para algumas cooperativas de produção. O advogado Constantino Savatore Morello Júnior, presidente da Comissão de Cooperativismo da Ordem dos Advogados do Brasil – Seção São Paulo comenta:
ISP no Brasil
FOTO: DIVULGAÇÃO
Direto ao ponto
De forma sintética, o que mudou com a nova lei? Destaco seis pontos principais: a previsão de direitos sociais mínimos aos cooperados (como garantia de retirada não inferior ao piso da categoria ou, na ausência, do salário mínimo, limite de jornada de trabalho e repouso anual remunerado, entre outros); aplicação das normas de saúde e segurança do trabalho; limitação da fiscalização ao Ministério do Trabalho; a instituição do Programa Nacional de Fomento às Cooperativas de Trabalho (Pronacoop); a flexibilização na convocação de cooperados para as assembleias e a possibilidade de punição dos que deixarem de comparecer injustificadamente; a criação de uma nova modalidade de Assembleia Geral Anual, denominada Assembleia Especial. Por ocasião da sua posse na comissão da OAB/SP, em março deste ano, o senhor declarou que a nova lei é positiva, mas teria alguns dispositivos que se contrapõem à ideia de cooperativismo. Quais seriam? O principal questionamento é a extensão de direitos inerentes ao empregado celetista ao cooperado, como, por exemplo, garantia de retirada mínima e limitação de jornada, que não se coadunam com a ideia de cooperação e distribuição do resultado do “trabalho comum” entre todos. A regulamentação da lei, que está para ser publicada, pode resolver alguns desses conflitos, mas não acredito que o faça. Como as cooperativas podem contornar situações conflituosas criadas pela nova lei? Caberia às Assembleias discutirem e, mesmo correndo riscos de interpretação desfavorável, justificar e aprovar a impossibilidade de cumprimento de alguns desses direitos de imediato, demonstrando através de documentos contábeis, que a cooperativa não pode cumprir tais garantias sob pena de ser inviabilizada a atividade.
Publicação apresenta a discussão sobre investimento social privado O livro Investimento Social Privado no Brasil: tendências, desafios e potencialidades contribui com as discussões sobre o investimento social privado (ISP) no país hoje, com ações de sustentabilidade e responsabilidade social. Organizado pelo Instituto Sabin e pelo Laboratório Sabin, o livro contou com a coautoria de 16 organizações, incluindo o Instituto Camargo Corrêa, e pode ser baixado gratuitamente no site www.institutosabin.org.br. A versão impressa pode ser solicitada através do e-mail instituto@institutosabin.org.br
Letra Miúda Entre os dias 10 e 13 de dezembro, Brasília foi sede do Fórum Mundial de Direitos Humanos, recebendo ativistas e especialistas de dezenas de países. Conheça os três documentos que formam a base do sistema internacional de direitos humanos: Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) – É um marco na história e a base de todo o direito internacional dos direitos humanos. Elenca os direitos e liberdades que devem ser garantidos pelos Estados-parte a toda sua população e de forma integral. Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, da ONU (1966) – É a tradução “jurídica” da Declaração Universal, estabelecendo normas para a proteção dos direitos em situações diversas – por exemplo, em casos de conflitos ou dos direitos de pessoas presas – e responsabilidades nos casos de violações. Também cria o Comitê Internacional de Direitos Humanos, instância responsável por receber e encaminhar denúncias de violação. Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, da ONU (1966) – Complementa o pacto anterior, determinando parâmetros para a garantia de direitos como direito ao trabalho, à saúde, à educação e a um padrão de vida adequado.
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I N FÂ N C I A FOTO: JOSÉ LUIZ DUARTE
CUBATÃO (SP) “Carrinhata” a favor dos cuidados com a primeiríssima infância marcou o último dia da programação
Semana do Bebê mobiliza, pela primeira vez, comunidades de nove municípios participantes do programa Infância Ideal
Uma semana
para cuidar Quando uma criança vai chegar, a casa se enche de preparativos. É hora de todos pensarem juntos e definirem os papeis de cada um para garantir que aquele novo bebê que está a caminho tenha os cuidados necessários. A cada dia centenas de crianças nascem no Brasil e precisam de atenção – da família, da comunidade e do Estado. Este ano uma nova iniciativa ganhou vida em municípios que participam do programa Infância Ideal, do Instituto Camargo Corrêa, justamente para chamar a atenção das comunidades para a importância dos cuidados com crianças de 0 a 3 anos: a Semana do Bebê. Apiaí, Itaoca, Jacareí e Cubatão – em São Paulo – Ijaci, Pedro Leopoldo e Santana do Paraíso – em Minas Gerais –, além de Cabo de Santo Agostinho, em Pernambuco, e de Fortaleza, no Ceará, participaram do evento que ocorreu entre os dias 4 e 10 de novembro. Foram sete dias de mobilização pela primeiríssima infância, com atividades como oficinas, capacitações, apresentações culturais e campanhas públicas. “É o primeiro ano que apoiamos esta iniciativa com o objetivo de tornar o direito à sobrevivência e ao desenvolvimento de crianças de até 3 anos de idade uma prio10 IDEAL COMUNITÁRIO
ridade na agenda dos municípios”, explica a analista de projetos do Instituto, Ariane Duarte. Para dar vida à Semana nestes municípios, o Instituto, a InterCement e a Construtora Camargo Corrêa contaram com a parceria do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef ), da Associação BemVindo – executora do projeto – , da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal e com o apoio das Prefeituras Municipais. Em cada cidade, os Comitês de Desenvolvimento Comunitário (CDC) – formados por membros das empresas do Grupo Camargo Corrêa, do poder público e da sociedade civil – foram responsáveis por impulsionar a Semana do Bebê. Para isso, os diversos atores envolvidos no atendimento de gestantes e crianças de 0 a 3 anos precisaram se articular e planejar as ações em rede. “O trabalho conjunto racionaliza esforços e ajuda a perceber aspectos da infância dos quais ninguém cuida”, explica a gerente de programas da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, Ely Harasawa. A Fundação também incentiva a realização de Semanas do Bebê em diversos municípios através do seu programa Primeiríssima Infância.
Os preparativos começaram em agosto de 2013, com a sensibilização dos municípios para a importância da Semana. representantes dos CDCs participaram do encontro de apresentação do evento em Guarulhos (SP). A Associação BemVindo orientou os atores a montarem um plano de ação coletivo. “Depois, trabalhamos em grupos para que cada município fizesse o planejamento dentro de sua realidade”, explica a gestora da Associação, Lilian Albano. Os representantes levaram a proposta para a comunidade e apresentaram aos gestores do município. A ideia era estimular o trabalho conjunto, já que a primeira infância exige esforços de todos os atores. Alguns municípios, como lembra Lilian, já estão bastante intersetorializados e trabalham de forma integrada por meio do CDC. “Cuidar da primeira infância é trazer a reflexão para a cidade inteira”, afirma Lilian. Para ela, o envolvimento do poder público também é fundamental. “Todas as cidades conseguiram sensibilizar os gestores para a importância da Semana”, comemora. A ideia é que os setes dias de eventos sejam apenas um primeiro passo. De acordo com Ariane Duarte, o ideal é garantir que direitos – como atendimento humanizado, amamentação, boa qualidade de creches e pré-escolas – sejam garantidos de forma duradoura. “Essas ações não se concretizarão em uma semana, nem no primeiro ano, mas é preciso levantar as pautas e fazer com que a sociedade e o poder público se mobilizem em torno dessas agendas”, esclarece. FORTALEZA: OLHAR PARA A BASE A comunidade de Pirambu, em Fortaleza, conhece de perto as dificuldades de garantir os direitos de meninas e meninos. Os desafios estão ligados principalmente ao perfil da região, marcada por situações de alta vulnerabilidade social, e a um longo histórico de exploração sexual. Durante a Semana do Bebê dois postos de saúde foram palco de rodas de conversa com mães e gestantes. “Cuidar da primeira infância é o primeiro passo para evitar que as crianças sejam exploradas e negligenciadas no futuro e para que os adolescentes compreendam que são sujeitos de direitos”, defende o conselheiro tutelar do município Aurélio Araújo. No encerramento da semana, a programação misturou cuidado e lazer. Foram montadas tendas de saúde e informação, com orientação sobre direitos da gestante e bebês e um espaço de bem-estar e beleza para gestantes. Ao mesmo tempo, apresentações de hip hop, capoeira, teatro, contação de histórias e outras atividades infantis marcaram o dia de mobilização na comunidade.
Segundo a assistente administrativa da Construtora Camargo Corrêa em Fortaleza, Ana Cristina Góes, a Semana desperta a população e os gestores para o tema. Segundo ela, a preparação da Semana na comunidade mostrou que é preciso investir mais no pré-natal. “A gestante vai ao posto, mas não tem condições de comprar os remédios, por exemplo”, explica. “Também precisamos de mais creches de qualidade para mães que vão trabalhar e não têm onde deixar os filhos.” CUBATÃO: VIVER MAIS Em Cubatão, os números preocupam. O município do litoral de São Paulo tem altas taxas de mortalidade infantil: cerca de 20 óbitos a cada mil nascidos. O índice é 40% mais alto em relação à média nacional. Para enfrentar a situação, a Semana do Bebê no município priorizou as regiões onde a mortalidade é maior. Postos de saúde e unidades de educação de três bairros receberam palestras e oficinas sobre amamentação, pré-natal e shantala – técnica indiana de massagem para bebês. “Queremos sensibilizar os profissionais da saúde e fortalecer o vínculo entre eles e a comunidade”, explica a presidente do Comitê de Mortalidade Materna e Infantil do município, Denise Rodrigues. A programação extensa também incluiu momentos festivos. No domingo, as mães saíram para uma “carrinhata” – passeio de carrinho com os bebês. Gincanas ajudaram a sensibilizar os pais para a importância de brincar com as crianças. Com o público adolescente, a mobilização estendeu-se por vários meses. Alunos do 9º ano de escolas públicas criaram vídeos sobre gravidez na adolescência, produzidos por eles mesmos antes da Semana. Os melhores vídeos foram premiados em uma cerimônia que encerrou o evento em Cubatão. Para a analista de recursos humanos da InterCement, Cátia Barros, o planejamento da Semana do Bebê em Cubatão irá ajudar na criação do CDC do município. O Comitê atua de forma permanente como elo entre a empresa do Grupo Camargo Corrêa – no caso de Cubatão, a InterCement – e as organizações locais para desenhar e monitorar a realização de projetos do Infância Ideal e dos demais programas do Instituto Camargo Corrêa. A mobilização da comunidade como um todo também foi um dos pontos altos do evento em Cubatão. Cerca de 60 pessoas trabalharam na preparação e execução do evento. E, mesmo antes da semana, as casas já se enfeitavam para a passagem da “carrinhata”. “Nosso objetivo é despertar a comunidade para IDEAL COMUNITÁRIO 11
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a importância dos cuidados com a infância, tanto em relação à saúde, como na questão educacional e social. Com isso, esperamos reduzir não só a mortalidade, mas também a criminalidade e outros problemas”, explica Denise. EXPERIÊNCIA GAÚCHA A Semana do Bebê surgiu no ano de 2000, no município de Canela, interior do Rio Grande do Sul. A vice-prefeita e coordenadora da Semana na cidade, Carmen Seibt, explica que a ideia partiu de dois professores e um radialista que se conheceram em um encontro de psiquiatria infantil. A iniciativa deu tão certo que a Semana já completa 14 anos e serviu de exemplo para outros municípios. “Ano que vem faremos uma festa de 15. Já amadurecemos”, comemora Carmen. Em Canela, o evento é aberto sempre no Dia das Mães e tem palestras, oficinas, debates e orientações. Nas escolas, também são realizadas atividades com os adolescentes. “São oferecidas oficinas para gestantes nos centros maternos, com orientações e cuidados com o bebê. As mães aprendem a fazer massagem nas crianças e são orientadas sobre alimentação e amamentação”, explica. De acordo com Carmen, a Semana tem trazido resultados positivos para a primeira infância no município. A mortalidade infantil caiu, passando de 22 óbitos em 2004 para apenas seis no ano passado. “Procuramos acompanhar de perto as mães para que as mortes diminuam”, esclarece. Para isso, foi criada em 2004 a Clínica de Bebês. “A mãe já sai do hospital com horário marcado para a semana seguinte. Mensalmente ela tem que fazer o acompanhamento da criança. Se não vier, é buscada em casa”, explica. Ao conhecer a mobilização de Canela, o Unicef se tornou parceiro da iniciativa com o propósito de expandir a Semana do Bebê para todo país e tornar o evento um projeto nacional. Em 2010, a experiência foi sistematizada em uma publicação. Desde então, mais de 200 municípios brasileiros já realizaram a Semana em todo o Brasil. Só este ano estavam programados mais de cem eventos. “É uma ferramenta de mobilização que une a comunidade, gestores, família, adolescentes para tratar de temas importantes para o bebê”, explica Cristina Albuquerque, coordenadora do Programa de Sobrevivência e Desenvolvimento Infantil do Unicef no Brasil. Com municípios participantes espalhados pelas cinco regiões, nenhuma Semana do Bebê é 12 IDEAL COMUNITÁRIO
FORTALEZA (CE) Saúde das gestantes recebeu atenção especial
FOTO: GABRIEL ANDRADE
igual à outra e as diferenças regionais dão coloridos especiais para os eventos. “Quando uma cidade adere à iniciativa, a transforma de acordo com sua cultura”, conta Cristina. Em muitos municípios é comum que a primeira criança que nasce durante a Semana receba o título simbólico de bebê-prefeito e as “chaves” da cidade. Já em uma aldeia indígena, onde o evento também é realizado, é nomeado o bebê-cacique, que recebe um cocar do chefe da comunidade. Ao mesmo tempo em que grandes metrópoles como o Rio de Janeiro se preparam para o evento, uma comunidade quilombola no Maranhão também se mobiliza. Para ela, o sucesso da Semana começa no planejamento em cada cidade. “É um mote para reunir todas as áreas no intuito de discutir a programação. Em alguns casos, é a primeira vez em que vão se juntar para discutir o tema”, explica Cristina. O evento também tem o potencial de mudar as políticas públicas para a área. Em Sobral, no Ceará, por exemplo, após as mobilizações para a Semana do Bebê, o prefeito ampliou de 6 para 8 meses a licença maternidade de todas as servidoras municipais. A fim de que a mobilização não pare, o Unicef recomenda que a Semana seja lei nos municípios, garantindo a realização subsequente. “Nosso objetivo é que dure os 365 dias do ano”, diz Cristina. Trinta e quatro municípios cadastrados pelo Unicef estão à frente e já marcaram o evento no calendário municipal. No Ceará, Maranhão e Amazonas, a Semana também se tornou parte da legislação estadual. Na abertura da Semana em Itaoca, foi feita a apresentação da lei municipal que institui a Semana do Bebê no município como evento anual.
Nove semanas Confira algumas ações da Semana do Bebê nos municípios participantes do programa Infância Ideal Município
Programação • Teatro sobre aleitamento materno.
Apiaí (SP)
• Oficina de shantala. • Palestras com profissionais da saúde e nutrição.
Cabo de Santo Agostinho (PE)
• Oficinas de higiene bucal, planejamento familiar, amamentação e alimentação do bebê. • Seminário Desenvolvimento Infantil e suas Fases. • Roda de bate-papo sobre sexualidade nas escolas.
Cubatão (SP)
• Nas creches, oficinas sobre prevenção de acidentes na infância. • Oficina sobre o desenvolvimento da fala e da linguagem.
Fortaleza (CE)
• Oficinas na sala de espera das Unidades Básicas de Saúde com gestantes. • Apresentações culturais. • Palestra sobre a importância dos cuidados na primeira infância.
Ijaci (MG)
• Concurso de desenho e redação. • Atividades nos postos durante consultas de pré-natal. • Atividades físicas para gestantes.
Itaoca (SP)
• Oficinas com pais sobre a promoção da paternidade ativa. • Palestras para profissionais de saúde, assistência social e educação sobre desenvolvimento infantil.
Jacareí (SP)
• Palestra e workshop para profissionais da saúde sobre saúde mental na primeira infância. • Oficina corporal self-healing e de shantala. • Seminário Todos Juntos pela Primeira Infância.
Pedro Leopoldo (MG)
• Correio para os bebês. • Contação de histórias nas creches. • Palestra de segurança doméstica. • Palestra sobre prevenção de acidentes na primeira infância.
Santana do Paraíso (MG)
• Concurso de redação. • Oficinas sobre sexualidade com alunos do ensino fundamental.
IDEAL COMUNITÁRIO 13
EDUCAÇÃO BÁSICA
Todos juntos pela qualidade
Em Jacareí (SP), rede municipal de ensino reúne toda a comunidade para a aplicação dos Indicadores Escola Ideal
14 IDEAL COMUNITÁRIO
Uma movimentação diferente da habitual alterava, naquela manhã de sexta-feira, a rotina das 27 escolas municipais de ensino fundamental de Jacareí (SP). Em cada uma delas, professores, estudantes, pais e gestores estavam reunidos para uma missão especial: colaborar com um processo de avaliação institucional participativo, com a finalidade de aprimorar a qualidade da educação na rede municipal. No dia 27 de agosto, as escolas da rede municipal abriram suas portas para que a comunidade participasse da aplicação dos Indicadores de Gestão para a Escola Ideal, uma metodologia desenvolvida pelo Instituto Camargo Corrêa para diagnóstico da qualidade da educação nas redes públicas de ensino. O diagnóstico proporcionado pelos Indicadores é o primeiro passo para a implantação dos projetos ligados ao Escola Ideal, programa cujo objetivo é contribuir com o aumento da qualidade da Educação Básica pública, de forma a garantir que as instituições de ensino sejam eficazes e atraentes para as crianças e adolescentes. Mas a metodologia – agora totalmente informatizada e disponível para escolas e redes interessadas [saiba mais no box à pág. 17] – pode ser adotada também como uma ferramenta de avaliação permanente das redes de ensino.
FOTOS: WENDELL MARQUES
AVALIAÇÃO PARTICIPATIVA A aplicação dos Indicadores Escola Ideal nas escolas de Jacareí reuniu gestores, educadores, pais e estudantes: as alunas Júlia Lessa e Júlia Gabriela gostaram de poder “dar opinião”; Felipe acompanhou com orgulho o pai, Ailton; a diretora Simone (acima) e a professora Ronilma festejaram a oportunidade de trazer a comunidade para dentro da escola.
Foi o que fez a Secretaria Municipal de Educação (SME) de Jacareí. Na cidade de mais de 200 mil habitantes, situada a 80 quilômetros de São Paulo, o diagnóstico será usado até mesmo nas escolas de Educação Infantil, que originalmente não estão no foco do Escola Ideal. O programa é implementado no município pela InterCement, empresa de cimentos do Grupo Camargo Corrêa, e o Instituto, em parceria com a Prefeitura Municipal. A escolha de um sistema participativo de avaliação ainda é algo pouco usual entre os gestores brasileiros. De acordo com a diretora técnico-pedagógica da Secretaria de Educação de Jacareí, Daianny Madalena Costa, no início de 2013, o município estabeleceu metas que incluíam a adoção de um processo de avaliação que levasse em conta o olhar dos pais, alunos e funcionários sobre a escola, e a parceria com a InterCement e o Instituto Camargo Corrêa veio ao encontro dessa demanda. Segundo ela, espera-se que os Indicadores complementem as avaliações externas em larga escala – como a
Prova Brasil e o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb), realizados pelo Ministério da Educação – e as avaliações dos conhecimentos dos alunos, feitas permanentemente em sala de aula. “Nossa expectativa é utilizar este conjunto de informações para determinar que políticas devemos reformular e quais devemos fortalecer”, explica Daianny. “É importante, no entanto, que esse diagnóstico seja feito com a participação de toda a comunidade escolar.” DIA DE PARTICIPAR A missão dos gestores da secretaria foi exatamente essa: coordenar a aplicação simultânea da metodologia de diagnóstico em todas as escolas da rede, com a presença de toda a comunidade, convidada a opinar. No dia 27 de setembro, na região central de Jacareí, as meninas Júlia Lessa e Júlia Gabriela – ambas com 10 anos de idade – engajaram-se no processo participativo. Fora de seu horário de aula, as duas alunas do 5º ano da Escola Municipal de Ensino IDEAL COMUNITÁRIO 15
EDUCAÇÃO BÁSICA
Fundamental Sílvio Silveira observavam, compenetradas, a explicação da diretora sobre um item do questionário que compõe os Indicadores. De acordo com a metodologia, a resposta para cada questão é determinada pela vontade da maioria dos membros da comunidade presentes. As meninas escolhiam, a cada pergunta, as opções que achavam mais adequadas. A opinião delas pesou tanto quando as das professoras e mães presentes na sala. “Nos avisaram que a gente podia participar de uma avaliação para a escola ficar melhor. Ela já melhorou bastante desde que eu entrei, no primeiro ano. Mas achei legal participar, porque a gente pode dar opinião”, disse Júlia Lessa. A cultura de participação parece natural para Júlia Gabriela. A menina explica que, desde que sua mãe começou a participar do Conselho da Escola, já tinha vontade de participar do esforço pela qualidade da instituição de ensino. “Eu queria ajudar também. Achei importante ajudar a melhorar a escola. Gostei muito de vir e achei fácil de entender como funciona a avaliação”, afirmou Júlia Gabriela. Mãe da estudante, Rosilene Almeida acha que a escola Sílvio Silveira tem boa qualidade de ensino, mas espera que o processo traga avanços. “Achei a iniciativa muito boa, porque os pais têm liberdade para questionar a escola”, disse Rosilene. A professora Ronilma Vieira, com seus 15 anos de magistério, valoriza e incentiva a participação das crianças e pais. Segundo ela, muita gente reclama da escola pública, mas poucos agem para promover melhorias. “É importantíssima a participação da comunidade. Quanto mais olhares diferenciados, mais elementos teremos para promover uma melhoria integral da qualidade”, afirmou. Os resultados obtidos na escola Sílvio Silveira – assim como em cada uma das unidades da rede municipal de Jacareí – serão posteriormente analisados e tabulados. O questionário procura identificar oportunidades de melhoria para as unidades escolares, estabelecendo três indicadores, a partir do mapeamento de seis itens: desempenho escolar, gestão escolar, políticas e práticas pedagógicas, profissionais da educação, condições de ensino e ambiente educativo. A supervisora de ensino Chrisnilsen Nader também acompanhou a aplicação dos indicadores na escola Sílvio Silveira, 16 IDEAL COMUNITÁRIO
como observadora. “O processo foi concebido de forma muito leve e envolvente, de forma a produzir uma participação democrática”, concluiu. PAIS NA ESCOLA Na Escola Tito Máximo, também na região central da cidade, o aposentado Ailton Rodrigues da Silva marcava presença na reunião de aplicação dos Indicadores, na companhia de seu filho Vinícius, do 2º ano. Membro do conselho da Associação de Pais e Mestres da escola, Silva é o que se pode chamar de um pai presente na vida escolar. “Ajudo a pintar, a fazer reparos e a organizar a escola. Jamais ficaria fora do processo de avaliação”, disse. Segundo ele, muitos pais cobram a diretoria, mas não participam da vida escolar. “Vou passar para eles a experiência que tive aqui. Espero que comecem a comparecer mais”, declarou. Vinícius se orgulha da participação do pai. “Ele dá muita opinião na escola”, disse o menino. Professora da escola Tito Máximo há dois anos, Josileide Ottoni acredita que é questão de tempo até que todos os pais passem a participar da avaliação. “Acho que a iniciativa pode ajudar não apenas a melhorar a escola, mas também a favorecer a participação da comunidade. Quando todos se derem conta dessa oportunidade de opinar, o processo servirá para aproximar os pais”, afirmou Josileide. Simone Pereira Silva Capucci, diretora da escola, acredita que o momento de aplicação dos Indicadores é uma oportunidade para discutir as práticas e ações da equipe. “Já há algum tempo, a Secretaria busca incentivar gestores e a rede à prática da gestão participativa. Chamar a comunidade para participar não é algo absolutamente novo para nós”, disse Simone. De acordo com ela, qualquer um que participe e ajude a conduzir um processo de avaliação de uma instituição, tende a valorizar mais esses resultados. “Trata-se de uma excelente oportunidade para trazer comunidade para a escola”, declarou. Na Escola Maria Luiza Vasques, localizada na comunidade de Rio Comprido, bastante distante do centro da cidade, a diretora Maria Dinorah Souza Carneiro garante que a comunidade é muito participativa. Segundo ela, o bairro está em processo de regularização e, por isso, já foi implantado um trabalho de gestão democrática participativa. No entan-
to, no início do processo, ela temia que os pais e alunos tivessem dificuldades para compreender o processo de avaliação institucional. “Mas logo que começamos de fato a responder o questionário, percebi que o resultado seria excelente, porque a metodologia é muito bem feita”, afirmou. “O diagnóstico mostra claramente em quais aspectos obtivemos sucesso e o que não deu certo e precisa ser repensado”, destaca Luciane Szatkoski, especialista responsável pela avaliação educacional na Secretaria Municipal de Educação de Jacareí. Ela lembra que a avaliação não traz, em si, todas as soluções. “Porém, o próprio momento da discussão – de olhar o que o outro pensa, de reconhecer o outro – já é um ganho imenso para a escola.”
Planejamento e participação João Roberto Costa de Souza, secretário Municipal de Educação de Jacareí, explica porque a cidade paulista adotou os Indicadores de Gestão para a Escola Ideal Que resultado a Secretaria Municipal de Educação de Jacareí espera da aplicação dos Indicadores Escola Ideal? Nossa expectativa é que o diagnóstico seja muito útil para as escolas estabelecerem, com clareza, suas prioridades de ação a curto, médio e longo prazo. A metodologia utilizada para construir os Indicadores é muito inovadora e bem elaborada
Indicadores à disposição Os Indicadores de Gestão para a Escola Ideal foram desenvolvidos pelo Instituto Camargo Corrêa como um instrumento de conscientização, aprendizado e monitoramento da gestão escolar. O conjunto de questões e a metodologia proposta permitem que as escolas façam um autodiagnóstico participativo do método utilizado, do conteúdo e da gestão. Os Indicadores foram criados em 2007, como parte do programa Escola Ideal. Sua aplicação é parte do diagnóstico que precede o desenvolvimento dos projetos nos municípios onde o programa está presente. Desde outubro, os questionários estão disponíveis para escolas ou redes de ensino que queiram aplicá-los. Para utilizar a ferramenta, os interessados devem entrar
Indicadores de Gestão para
e o processo de aplicação, por sua vez, foi muito bem estabelecido e executado. Por isso, acreditamos que o diagnóstico será um instrumento fundamental de planejamento. Muitos gestores ainda resistem a empregar avaliações participativas. Por que Jacareí fez essa escolha? A Secretaria já implantou, há bastante tempo, um processo de planejamento que se sustenta em uma gestão mais participativa. Trata-se de uma questão de cultura institucional. Entendemos que a construção de um diagnóstico é um pilar do processo de planejamento estratégico: é preciso diagnosticar os problemas e conhecer as escolas para que seja possível melhorar a qualidade da rede. E esse diagnóstico, para ser realista e eficaz, precisa ser construído da forma mais democrática possível. A cultura de participação da comunidade escolar do mu-
Escola Ideal
nicípio facilitou a aplicação do diagnóstico?
Identificação de Oportunidades de Melhorias para Unidades Escolares
Sem dúvida. O diagnóstico foi construído a partir de um gru-
em contato com o Institu-
po de pais, alunos, professores e funcionários que já partici-
to e receber a autorização
pam dos Conselhos Escolares. Os conselheiros são eleitos e,
para acessar a plataforma
a cada eleição, fazemos uma ampla divulgação para que a
online dos Indicadores -
comunidade participe. Em vez de uma cultura da reivindi-
disponível no site do Insti-
cação, estimulamos que a comunidade seja protagonista da
tuto: www.institutocamargocorrea.org.br
mudança na rede escolar.
2a Edição
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9/17/09 11:45:01 AM
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EMPREENDEDORISMO
Sucesso
dá em
Três mil quilômetros. Essa é a distância percorrida pela banana produzida na região Norte de Minas Gerais e comercializada na cidade de Porto Velho (RO). Apesar da extensão do percurso e dos custos envolvidos no frete, a fruta vendida pelos mineiros aparecia como opção mais viável para as redes de supermercado e grandes empresas que atuam na capital de Rondônia. Seja pela garantia da entrega, seja pelo preço ofertado, a banana mineira conquistou os compradores do estado, fazendo com que os produtores locais ficassem à mercê dos chamados “atravessadores”, que compravam as frutas por um preço baixo e revendiam em feiras da cidade. A prática era extremamente comum no distrito de União Bandeirantes, a 160 quilômetros de Porto Velho. Os milhares de profissionais mobilizados pela construção da Usina Hidrelétrica (UHE) Jirau, a 120 km de Porto Velho, também consumiam no refeitório do canteiro de obras essas bananas produzidas a milhares de quilômetros. Desde novembro, no entanto, as frutas que complementam o cardápio de café da manhã, almoço e jantar de quase 8 mil pessoas fazem uma viagem muito mais curta, de menos de 200 km. As distâncias foram encurtadas graças ao fomento da bananicultura na região e o fortalecimento da Cooperativa Agrossustentável de União Bandeirantes (Unicoop), resultados do projeto Tempo de Empreender Bananicultor. A ação é uma iniciativa da Construtora Camargo Corrêa, Instituto Camargo Corrêa – através do programa Futuro Ideal – e Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) Nacional e Rondônia. Em 1º de novembro, a Unicoop assinou um contrato de seis meses com a Construtora Camargo Corrêa para fornecimento de bananas ao refeitório do canteiro de obras da usina. Durante o período, estima-se que 100 mil quilos de banana prata sejam entregues pelos agricultores da cooperativa e a quantidade deverá variar de acordo com a necessidade do refeitório. Se o projeto em si já aproximava a obra da cooperativa, o contrato prova que a diminuição dessa distância entre uma grande empresa e um empreendimento solidário é positiva para todos os envolvidos. Ao incentivar o desenvolvimento da região apoiando a vocação local para a fruticultura, a empresa pôde firmar contrato com uma cooperativa que atendeu a todos os critérios pré-estabelecidos. Foi a primeira vez que um fornecedor de alimentos da obra foi aprovado por unanimidade em todas as exigências sanitárias e de qualidade. Do outro lado, entre o início do projeto e a conquista do contrato com a UHE Jirau, a Unicoop ganhou forma, fortaleceu-se e hoje busca acordos com grandes redes de supermercado de Porto Velho. Mais do que isso, a cooperativa provou às outras comunidades da região que atender grandes empreendimentos é possível, mais lucrativo e seguro. 18 IDEAL COMUNITÁRIO
COLHEITA E EMBARQUE Projeto ofereceu apoio técnico, capacitação e recursos para os produtores aumentarem a produção e melhorarem a distribuição
Em Rondônia, projeto Tempo de Empreender Bananicultor qualifica agricultores e transforma uma comunidade a partir do cooperativismo
cachos
QUALIDADE SUPERIOR De acordo com Cláudia Minasi, nutricionista da obra, o rigoroso processo de certificação é necessário para garantir a qualidade dos produtos e serviços prestados pelos fornecedores hortifrutigranjeiros. “Utiliza-se um check list de recebimento contemplando questões acerca das condições higiênico-sanitárias dos veículos destinados ao transporte de alimentos, higiene e asseio pessoal dos entregadores, características dos vegetais, integridade e condições de higiene das embalagens”, explica. Em todos estes itens, as bananas da Unicoop receberam nota máxima. Para conhecer os procedimentos adotados pela UHE Jirau, a Unicoop acompanhou uma entrega de alimentos ao refeitório do canteiro de obras em setembro. Uma semana depois, foi a vez dos agricultores de União Bandeirantes levarem suas frutas para serem avaliadas. “A superioridade da banana prata da Unicoop deve-se principalmente às boas práticas agrícolas adotadas durante toda a cadeia produtiva dos frutos e às técnicas adequadas de armazenamento e transporte até o consumidor”, avalia a nutricionista. O caminhão utilizado para o transporte da carga até a usina também é fruto do Tempo de Empreender. O veículo atende todas as exigências necessárias ao transporte de alimentos, assegurando boa qualidade durante todo o trajeto. Esse e outro caminhão, de menor porte, foram entregues à Unicoop na segunda fase do projeto, cujo foco está sendo a logística. “Como já produzem bem e com alguma escala e qualidade, já que têm câmeras frias e caminhões, os agricultores têm como sair da rota dos atravessadores para terem autonomia na entrega da própria produção”, afirma Hiram Rodrigues, diretor técnico do Sebrae-RO.
FOTOS: CHRISTIAN KNEPPER
Segundo Jair Resende, superintendente do Instituto Camargo Corrêa, o projeto e, agora, a assinatura do contrato de fornecimento mostraram às famílias os benefícios reais que podem ser gerados por obras do porte da UHE Jirau. Além disso, os agricultores tornaram-se fornecedores de uma grande empresa, algo nunca imaginado antes. “Entrarem no canteiro de obras na posição de fornecedores e serem elogiados por todos os procedimentos adotados é realmente um motivo de orgulho para eles”, completa.
EMPREENDEDORISMO
Para chegar a este nível de qualidade e quantidade na produção e comercialização, os cooperados precisaram passar por um processo de amadurecimento, contando com o apoio do Tempo de Empreender. Um dos primeiros passos foi formalizar a criação da cooperativa. Até então, os cerca de 80 agricultores que hoje formam a Unicoop comercializavam as bananas sem critério para os atravessadores, que revendiam as frutas em feiras e pequenos comércios de Porto Velho. Para obter lucro, no entanto, os atravessadores pagavam pouco aos produtores, que não tinham outra opção. APOIO PASSO A PASSO A proposta inicial do projeto, lembra Geraldo Pereira, presidente da Unicoop, era apenas comercializar a banana que os agricultores de União Bandeirantes já produziam em suas terras. “Mas depois vimos que apenas a comercialização não funcionaria”, explica o agricultor de 58 anos. “Dependia que fosse feito também um cultivo, para que a produção fosse maior.” A primeira fase do Tempo de Empreender teve como foco orientar os agricultores quanto às melhores práticas para a produção da banana, do plantio ao transporte. O projeto também apoiou melhorias nas propriedades, como a adequação do solo para receber o plantio das bananeiras. “A maioria do pessoal já tinha um pedaço de terra, mas muitos não tinham um espaço adequado para o plantio”, conta o presidente da cooperativa. Segundo Hiram Rodrigues, um dos resultados indiretos do projeto aconteceu nesse momento e está ligado à regularização fundiária. “Houve um forte apelo das políticas públicas em resolver problemas fundiários da comunidade”, conta. Após a regularização e o preparo das terras, os agricultores da Unicoop recorreram justamente a Minas Gerais para a etapa seguinte do projeto. Foram compradas, através do projeto, 50 mil mudas de bananas do estado, as mesmas que fazem sucesso em Porto Velho a ponto de justificarem uma viagem tão longa entre as regiões. “Formamos então um viveiro para cultivá-las, pois elas vieram bem novinhas, bem pequenininhas, e tratamos dessas mudas até que elas tivessem um tamanho adequado para levar ao campo”, afirma Pereira. Cada cooperado recebeu uma quantia de mudas para cultivar em sua propriedade e a própria Unicoop plantou algumas unidades em seu viveiro. Ainda por meio do Tempo de Empreender Bananicultor, a Unicoop recebeu uma câmera fria, utilizada para a maturação da banana, e mil caixas plásticas para o transporte das frutas. Até então, os produtores usavam caixas de madeira, o que acabava danificando parte da produção e comprometendo a qualidade das entregas. 20 IDEAL COMUNITÁRIO
“À medida que o grupo foi evoluindo com trabalhos de logística, reuniões e oficinas, o projeto foi fazendo os investimentos para os agricultores”, completa o presidente da Unicoop. MUDANÇAS VISÍVEIS As mudas mineiras devem gerar a primeira safra completa em janeiro de 2014. Os agricultores, no entanto, já sentiram uma mudança total em relação ao antigo modelo de produção e venda. Anteriormente, relata Geraldo Pereira, a produção era muito irregular, pois muitos agricultores decidiam mudar de cultura durante o ano. Também graças às mudanças na produção e no transporte das frutas, os agricultores puderam elevar o preço das bananas, deixando para trás o prejuízo que enfrentavam ao comercializar com atravessadores. “O projeto praticamente triplicou o valor final do produto deles, gerando renda para essas famílias”, afirma Hiram Rodrigues. O feito mais comemorado pela Unicoop, no entanto, é o contrato firmado com a UHE Jirau para a entrega das bananas. Um dos próximos objetivos da cooperativa é tornar-se fornecedora de grandes redes de supermercado de Rondônia, as mesmas que até o momento estavam importando bananas de outros Estados. “A comercialização com a empresa serve como alavanca para o empreendimento”, comenta Jair Resende, superintendente do Instituto Camargo Corrêa. “A obra é passageira, tem um período e depois acaba, por isso estamos trabalhamos as estratégias para que essa cooperativa desenvolva outros mercados para venda.” A concorrência na capital de Rondônia deverá ser mais um desafio a ser enfrentado pelos cooperados. Rodrigues aponta que produtores de Santa Catarina e Minas Gerais mantêm relações de longo prazo com grandes atacadistas. “O que estamos tentando fazer é que eles mantenham 90% de onde já compram e adquiram ao menos 10% da produção local”, explicou. Se o caminho não será dos mais fáceis, o cenário atual é realmente melhor do que o que se apresentava antes. Além da consolidação da cooperativa, as melhorias na produção e a ampliação dos canais de distribuição e comercialização, o Tempo de Empreender Bananicultor resultou em melhorias para o próprio distrito de União Bandeirantes. Graças a uma parceria com a companhia elétrica do Estado, tanto a unidade de armazenamento da fruta, quanto a comunidade passaram a receber luz elétrica. Além disso, todas as pontes da pequena estrada que liga União Bandeirantes à BR-364, que liga Porto Velho a Rio Branco (AC), foram refeitas. Rodrigues aponta que a cooperativa também passou a ser um exemplo para a própria comunidade, “que começa a ver que é capaz
TRANSPORTE E ENTREGA Caminhão frigorífico permite manter a qualidade das frutas, aprovadas em todos os rigorosos critérios do refeitório da obra
de produzir e competir no mercado”. Cristiane Ditadi Tessaro, supervisora da área de Responsabilidade Social da Construtora Camargo Corrêa na obra da UHE Jirau, tem opinião semelhante e exalta ainda que as transformações sociais proporcionadas por iniciativas desse tipo são perenes. “É o que chamamos de ‘plantar a semente’: mostrar às pessoas que elas são capazes de melhorar o local onde vivem”, comenta. A semente plantada pelo Tempo de Empreender Bananicultor deixa como legado uma cooperativa forte que passa a ser ela própria indutora do desenvolvimento local.
Bananas e abacaxis O Tempo de Empreender Bananicultor é o desdobramento do projeto Tempo de Empreender Rondônia, iniciado em 2010 com duas associações, uma em União Bandeirante, que comercializava bananas, e outra em Abunã, que vendia abacaxis. A primeira fase do projeto resultou na formalização da Cooperativa dos Produtores Rurais de Taquara, Abunã, Pau D`arco e Penha (Coopertap), formada por agricultores que cultivam abacaxis em Vila da Penha, no distrito de Abunã, e da Cooperativa Agrossustentável de União Bandeirantes (Unicoop), que reuniu bananicultores do distrito. Além disso, os empreendimentos receberam apoio técnico e formação em gestão, visando o fortalecimento da produção e a construção de canais de venda que garantissem renda de forma perene às famílias. O Tempo de Empreender Rondônia contou, inclusive, com a construção de uma biofábrica, criada nas proximidades do canteiro de obras e que foi utilizada para o desenvolvimento de mudas de abacaxis desenvolvidas especialmente para serem plantadas na região. Os bons resultados alcançados na primeira etapa fizeram com que o Instituto, a Construtora, o BNDES e o Sebrae-NA e Sebrae-RO, ao lado das cooperativas, desdobrassem o projeto em duas ações específicas para cada cadeira produtiva. Além do projeto voltado à bananicultura, o Tempo de Empreender Abacaxicultor segue apoiando a Coopertap. Os abacaxis produzidos pelos agricultores de Vila da Penha já abastecem supermercados de Porto Velho e a cooperativa está sendo preparada para vender para outros estados da região Norte. O Tempo de Empreender Rondônia também tem como parceiros: Emater RO, Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico e Social (Sedes), Secretaria Municipal da Agricultura e Abastecimento (Semagric), Eletrobras Distribuição Rondônia, Sescoop/OCB/RO, Embrapa, Anvisa, Angevisa, Incra, Terra Legal, Ministério Público de Rondônia, Senar, Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema) e Agência de Defesa Sanitária Agrosilvopastoril do Estado
Os projetos do programa Futuro Ideal são realizados através de Acordo de Cooperação BNDES/ICC 10.2.2024.1
FOTOS: CHRISTIAN KNEPPER
de Rondônia (Idaron).
TRADIÇÃO E DESENVOLVIMENTO Projeto realizado pela InterCement e Instituto Camargo Corrêa revitalizou a cerâmica tradicional do Alto Vale do Ribeira, gerando trabalho e renda para artesãos de Apiaí, Itaoca e Barra do Chapéu (SP)
FOTO: PABLO DE SOUSA
IDEAL COMUNITÁRIO – ESPECIAL INTERCEMENT 23
Construindo
Ações de investimento social contribuem com o desenvolvimento de comunidades onde a InterCement está presente
parcerias sustentáveis
Participação transform Nós da InterCement, com apoio do Instituto Camargo Corrêa, estamos desenvolvendo, nos últimos anos, um trabalho junto às comunidades onde estamos presentes baseado na participação dos moradores, do poder público local e dos nossos profissionais. Nosso intuito é contribuir para que essas localidades desenvolvam-se e cresçam de forma estruturada e sustentável. Com o compromisso de realizar projetos que sejam verdadeiros instrumentos de transformação social, nosso foco está na geração de trabalho e renda, na primeira infância e na educação. O início dessa forma de atuação foi em 2007, na cidade de Pedro Leopoldo (MG), e foi nossa inspiração para os demais municípios que desenvolvem trabalho semelhante, adequado às diferentes realidades, garantindo nossa integração com as comunidades e nossa contribuição para o futuro. Com o desenvolvimento dos trabalhos, esse nosso compromisso com a transformação social tem se traduzido também na adoção de práticas de gestão. A empresa foi a primeira do Grupo Camargo Corrêa a institucionalizar o funcionamento dos Comitês de Incentivo ao Voluntariado e de Interação com a Comunidade (Civico), grupo formado por profissionais das unidades para coordenar a participação de cada uma delas no desenvolvimento dos programas e projetos. Todas as nossas unidades contam com Civicos atuantes. Com resultados que ultrapassaram as expectativas, a estratégia de investimento social iniciada em Pedro Leopoldo foi foco de
A Empresa
InterCement no mundo
A InterCement, empresa que faz par-
Egito
Portugal
te do Grupo Camargo Corrêa, atua nas áreas de extração mineral e produção de cimento, concreto, agrega-
Cabo Verde
dos e argamassas. Controla um dos maiores complexos cimenteiros do mundo e é líder nos mercados de cimento de Portugal, Argen-
Angola
tina, Moçambique e Cabo Verde, vice-líder no
Brasil
Brasil e no Paraguai, além de ter atuação relevante no Egito e na África do Sul.
Paraguai Argentina
África do Sul Moçambique
IDEAL COMUNITÁRIO – ESPECIAL INTERCEMENT 25
e mação social um estudo de caso realizado pela Fundação Dom Cabral (FDC). O estudo aborda temas ligados à geração de capital social, licença social e gestão do valor compartilhado na comunidade. Um dos destaques do estudo foi o envolvimento dos nossos profissionais em ações voluntárias. A pesquisa demonstrou a importância de programas de voluntariado para a criação de vínculos entre empresa e comunidade. Outra conquista dessa nossa jornada foi levar o conceito de voluntariado da InterCement, que já está consolidado nas operações da Argentina e Brasil, para toda a empresa, e o primeiro passo foi concretizado com a realização do Dia do Bem-Fazer em toda as nossas geografias. Em outubro, as unidades da Europa e África realizaram pela primeira vez, o Dia do Bem-Fazer com a participação de 2,9 mil profissionais voluntários. Nas próximas páginas, convidamos você a conhecer um pouco dessa nossa estratégia de investimento social e de que forma nossos projetos estão contribuindo para a transformação de algumas localidades. O nosso propósito é crescer levando para nossas novas unidades no Brasil e em outros países o mesmo modelo de atuação, aperfeiçoando-o sempre, com base no aprendizado proporcionado pelas experiências realizadas. Boa leitura,
José Édison Barros Franco, presidente do Conselho de Administração da InterCement
Presença no Brasil
40 unidades em 9 países Conde
8.500 profissionais 46
milhões Capacidade para produzir de toneladas de cimento/ano
17 plantas no Brasil
João Pessoa Suape São Miguel dos Campos
Campo Formoso
Brumado
Cezarina Bodoquena
Santana do Paraíso Pedro Leopoldo Ijaci Jacareí Cubatão Cajati Apiaí Nova Santa Rita Candiota
INVESTIMENTO SOCIAL
Trabalho em
conjunto Integração com a comunidade. Este é o diferencial e o ponto forte da estratégia de investimento social privado adotada desde 2007 pela InterCement. Um estudo realizado pela Fundação Dom Cabral mostrou que a realização das ações em conjunto com o poder público e as organizações locais faz da atuação da empresa um exemplo. A pesquisa documentou e avaliou as ações realizadas ao longo de cinco anos na cidade mineira de Pedro Leopoldo, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, pela InterCement Brasil. O município foi o primeiro a implementar projetos desenvolvidos segundo a estratégia de investimento social privado criada pelo Instituto Camargo Corrêa, que vem sendo aplicada, desde então, em todas as cidades onde as empresas do Grupo Camargo Corrêa atuam. Nesta estratégia, o Instituto funciona como um indutor das ações, dentro de quatro programas estruturantes: Infância Ideal (voltado à garantia dos direitos da primeira infância), Escola Ideal (educação pú-
Integração entre empresa e comunidade garante o sucesso das ações de investimento social da InterCement
blica de qualidade), Futuro Ideal (geração de trabalho e renda) e Ideal Voluntário (incentivo ao voluntariado). E as empresas do Grupo, como a InterCement, executam as ações, em parceria com organizações locais e a própria comunidade. (Saiba mais no quadro ao lado). Dessa forma, a empresa compartilha com o Instituto a responsabilidade pelo desenvolvimento local e estimula que as unidades de negócio sejam protagonistas das ações de investimento social do Grupo. Isso vale também para as comunidades. Considerando que os moradores dos municípios são os mais preparados para sugerir soluções para o lugar onde vivem, esta estratégia catalisa processos de empoderamento local. A experiência da InterCement demonstra o sucesso deste modelo. “Nosso diferencial é o envolvimento e integração das ações com a operação em si, além do caráter de perenidade do impacto causado pelos projetos”, ressalta o diretor de Inovação e Sustentabilidade da InterCement, Adriano Nunes.
FOTO: NELLO AUN
PEDRO LEOPOLDO (MG) Atuação da InterCement no município mineiro tornou-se benchmark em investimento social privado
FOTO: NELLO AUN
IDEAL COMUNITÁRIO – ESPECIAL INTERCEMENT 27
INTEGRAÇÃO COM OS NEGÓCIOS A integração entre negócio e ação social é tal que a InterCement incluiu o desempenho nesta área em suas ferramentas de avaliação. A empresa criou o “Sustentômetro”, conjunto de indicadores em sustentabilidade que inclui metas sociais alinhadas aos programas do Instituto. Além disso, a empresa foi a primeira do Grupo a institucionalizar a criação e a participação de seus profissionais nos Comitês de Incentivo ao Voluntariado e Interação com a Comunidade (Civicos). Os Civicos são compostos pelo gerente da unidade e profissionais das áreas de Recursos Humanos, Comunicação, Segurança do Trabalho e Meio Ambiente, além de outros profissionais que tenham interesse em atuar nos projetos e conheçam a comunidade. Os comitês coordenam a atuação social da empresa em nível local. “Essas estruturas abrem espaço para o exercício da cidadania em seu sentido mais amplo”, avalia o vice-presidente de Desenvolvimento Organizacional da InterCement, Nelson Tambelini. Segundo ele, os Civicos têm atuação decisiva para fortalecer os vínculos com as comunidades. “O trabalho desses comitês garante que as ações desenvolvidas estejam em sintonia com os programas estruturantes”, afirma. Nos municípios paulistas de Apiaí e Itaoca, a InterCement Brasil e o Instituto realizam projetos dos quatro programas do Instituto. Para acompanhá-los e garantir a integração entre as ações, a empresa e a comunidade, o Civico precisa estar atento ao desenvolvimento das ações e permanentemente em contato com os parceiros e beneficiários. “Cada membro do comitê acompanha um programa específico e dois articulam os quatro programas”, explica o analista de recursos humanos da unidade de Apiaí, Celso Carvalho de Lima, integrante do comitê. Já o programa Ideal Voluntário é acompanhado e articulado por todos os membros do Civico. São realizadas reuniões ao menos uma vez ao mês com o objetivo de traçar estratégias e acompanhar as atividades dos projetos e as ações dos diversos Grupos de Ação Ideal Voluntário (Gaivs) existentes na unidade. Os Gaivs são os núcleos de voluntários que servem como base para a realização das ações de voluntariado nas diversas cidades onde o Grupo Camargo Corrêa está presente.
O Instituto O Instituto Camargo Corrêa congrega as iniciativas de investimento social privado do Grupo Camargo Corrêa. Sua estratégia de atuação contempla a diversidade e abrangência dos negócios e das comunidades envolvidas para desenhar projetos e ações que contribuam com o desenvolvimento comunitário.
Programas do Instituto Desenvolvimento Comunitário Infância Ideal
Futuro Ideal
Escola Ideal
Proteção dos direitos da infância
Educação pública de qualidade
Empreendedorismo e geração de Trabalho e Renda
Ideal Voluntário
Estímulo à Ação Cidadã
Estratégia de atuação
CDC O Comitê de Desenvolvimento Comunitário reúne representantes das empresas, do poder público e organizações locais para desenhar e apoiar a realização dos projetos.
GAIV O Grupo de Ação Ideal Voluntário é formado por profissionais do Grupo para realizar ações de voluntariado.
INSTITUTO CAMARGO CORRÊA CIVICO O Comitê de Incentivo ao Voluntariado e Interação com a Comunidade, formado por profissionais de cada unidade do Grupo, orienta o planejamento e acompanha os projetos em andamento.
OPERADOR Organização parceira responsável pela execução total ou parcial das ações de um projeto.
A criação dos Civicos em novas unidades também se mostra uma maneira de rapidamente integrá-las à estratégia de ação social da empresa. Durante o primeiro semestre de 2013, foram realizados encontros com apresentação e implantação do modelo de investimento social privado desenhado pelo Instituto Camargo Corrêa. Isso foi fundamental para a constituição de Civicos e Gaivs em unidades recém adquiridas pela InterCement. Dos 37 Comitês ativos hoje na empresa, 19 foram implementados em 2013: 8 no Brasil, 1 na África do Sul, 1 no Egito, 6 em Moçambique e 3 em Portugal. Em São Miguel dos Campos (AL), onde a InterCement Brasil começou a atuar no segundo semestre de 2012, o comitê foi criado no início de 2013. “O investimento social tem que criar raízes dentro da organização e essa semente foi plantada com a formação dessa equipe”, avalia a gerente da unidade de São Miguel dos Campos, Ana Cristina Ramos, integrante do Comitê. Após a fase de implementação, o Civico agora passa por uma segunda etapa, dinamizadora do desenvolvimento dos programas. Semanalmente, a equipe se reúne para analisar as ações que estão sendo desenvolvidas. Os membros do Civico ainda representam a empresa nos Comitês de Desenvolvimento Comunitário (CDCs), formados também por representantes de organizações sociais e instituições locais. A função dos CDCs é diagnosticar e planejar, de forma participativa e integrada, as demandas e oportunidades de ações em prol do desenvolvimento comunitário. “Em Pedro Leopoldo, a relação entre os comitês é pautada na confiança e na responsabilidade mútua para a obtenção dos resultados esperados com cada projeto”, ressalta o coordenador de Controle de Qualidade Uelton Marques da Silva, que participa do Civico da unidade desde a sua criação, em 2007. CONTINUIDADE O principal eixo de funcionamento dos projetos desenvolvidos pela InterCement e o Instituto Camargo Corrêa é justamente a integração com a comunidade, o que inclui as organizações sociais e o poder público local. O desenho dos projetos parte do princípio de que é fundamental incentivar e fortalecer as políticas públicas nas cidades onde as empresas do Grupo atuam. Por isso, a ação inicial do CDC é realizar a leitura do cenário do município em termos de políticas e serviços já disponíveis e da análise de indicadores sociais. A partir daí, são definidas as áreas de atuação. As prefeituras também são parceiros importantes. Em alguns casos, projetos foram incorporados por prefeituras de vários municípios onde a InterCement está presente. Para o prefeito de Itaoca,
Rafael Rodrigues de Camargo, a parceria entre a empresa e a prefeitura é importante para o município organizar demandas e planejar intervenções. “A empresa nos motiva, dando aquele pontapé inicial. As ações acabam sendo um incentivo para a prefeitura começar projetos que poderiam levar anos para sair do papel”, ressalta. Para reafirmar as parcerias com o poder público, foram realizadas reuniões entre representantes do Instituto, da InterCement e dos CDCs em todos os municípios onde os programas do Instituto estão presentes. O processo de repactuação ocorreu em fevereiro de 2013 e teve como objetivo alinhar as ações com as políticas dos novos gestores e dar continuidade à aliança entre a empresa, o Instituto e as prefeituras. RESULTADOS Ana Cristina Ramos, de São Miguel dos Campos, diz que as mudanças na forma como empresa e comunidade se relacionam são perceptíveis também dentro das unidades. “A visão tradicional da empresa que tem como único objetivo gerar lucros é quebrada de uma forma natural, sem que haja percepção direta dos profissionais”, ressalta. Segundo Nelson Tambelini, a empresa criou um “ambiente para se atuar voluntariamente”. Os profissionais têm a oportunidade de usar ferramentas gerenciais e de trabalho em outro contexto, desenvolvendo uma compreensão mais abrangente e profunda dessas ferramentas. A oportunidade de desenvolvimento profissional e pessoal se estabelece e é reconhecida rapidamente, com grande aprovação das equipes. Os profissionais das unidades, eles próprios moradores das comunidades, reforçam os elos da InterCement no dia a dia das cidades. “Pela oportunidade de desenvolvimento profissional e pessoal e pelo modelo de investimento social implantando, existe um incentivo à construção de laços duradouros com as comunidades em favor do desenvolvimento local e da empresa”, observa Tambelini. O estudo realizado pela Fundação Dom Cabral em Pedro Leopoldo mostrou, de fato, uma mudança significativa na relação entre empresa e comunidade. “A cidade conta com a InterCement Brasil como parceira e parte integrante do município”, comenta Uelton Marques da Silva, da unidade mineira. Adriano Nunes destaca que os efeitos do investimento social privado vão bem além de criar um ambiente positivo para a atuação da empresa. “Facilita a operação, claro, pois precisamos da licença social para operar, mas também tem outros efeitos positivos: a cidade passa a perceber a empresa como um agente que cria valor para a comunidade”, avalia.
IDEAL VOLUNTÁRIO
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O programa está presente nas unidades da InterCement no Brasil, Argentina, Paraguai, Portugal, África do Sul, Cabo Verde, Egito e Moçambique.
A união faz a força O voluntariado é o eixo para integrar novas unidades da InterCement à política de investimento social O programa Ideal Voluntário, do Instituto Camargo Corrêa, tem funcionado como o primeiro passo para a integração das novas unidades da InterCement à estratégia de investimento social privado. De acordo com o diretor de inovação e sustentabilidade da InterCement, Adriano Nunes, começar pelo voluntariado é muito positivo. “De cara, envolve os funcionários, que começam a exercitar seu papel cidadão”, acredita. O programa foi implantado em todas as nove unidades adquiridas recentemente no Brasil. A técnica ambiental da unidade de João Pessoa (PB), Sidcléa Sousa Freitas, afirma que, desde que o Ideal Voluntário começou a ser desenvolvido, em março de 2013, muita coisa mudou em seu ambiente de trabalho. “O programa veio para movimentar a fábrica inteira”, ressalta. “As pessoas demonstram interesse em participar das ações, perguntam quando irá acontecer a próxima e sempre se engajam e contribuem com o que precisamos.” O engajamento dos profissionais da InterCement nas ações é permanente, mas uma das demonstrações da força da cultura do voluntariado na empresa é o Dia do Bem-Fazer. Criado em 2009 para comemorar os 70 anos do Grupo Camargo Corrêa, tornou-se um evento anual de solidariedade. As atividades mobilizam milhares de voluntários. Na regional Nordeste – formada pela unidade de Suape, em Cabo de Santo Agostinho (PE), e as novas unidades de Brumado (BA), Campo Formoso (BA), Conde (PB), João Pessoa (PB) e São Miguel dos Campos (AL) –, 4.200 voluntários realizaram 133 ações e beneficiaram mais de 15 mil pessoas. Em Brumado, a meta esperada para o primeiro Dia do Bem-Fazer da unidade era de 300 pessoas, mas todos os profissionais participaram. Em João Pessoa, uma das ações desenvolvidas foi a realização de reformas e melhorias em uma creche situada no mesmo bairro onde fica a unidade da InterCement Brasil. Pais de crianças que utilizam a instituição e voluntários da empresa pintaram paredes, instalaram um escorregador e construíram uma caixa de areia para as crianças, entre outras benfeitorias. A meta era reunir 250 voluntários, porém, mais de 400 pessoas participaram do evento. Segundo o gerente regional Nordeste da InterCement Brasil, Maurício Anacleto de Queiróz, para além da satisfação pessoal e
dos inegáveis benefícios ao ambiente de trabalho relacionados ao voluntariado, os bons exemplos e resultados já atingidos em outras unidades da empresa ajudam a incentivar o engajamento dos profissionais nas ações. “É uma orientação estratégica da empresa e é muito bem aceita”, destaca. Além do Ideal Voluntário, o Futuro Ideal também já chegou às novas plantas da InterCement Brasil. E a expectativa para 2014 é também implementar nas unidades recém-adquiridas os demais programas do Instituto Camargo Corrêa. “Nossa visão é avançar de tal forma que todas as unidades tenham todos os programas em andamento o quanto antes”, diz Queiróz. JOÃO PESSOA (PB) No primeiro Dia do Bem-Fazer da nova unidade, 400 voluntários participaram das ações
FOTO: MARCELO LYRA
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INFÂNCIA IDEAL A InterCement desenvolve este programa nos municípios de Apiaí, Itaoca, Cubatão e Jacareí (SP); Cabo de Santo Agostinho (PE); Ijaci, Santana do Paraíso e Pedro Leopoldo (MG).
Brincadeira
é coisa séria Cuidar da infância, garantindo as condições para que crianças possam se desenvolver plenamente, não é apenas um investimento no futuro: é um compromisso que as comunidades devem assumir no presente. Meninas e meninos são cidadãos que devem ter seus direitos integralmente respeitados. Como parte das comunidades onde atua, a InterCement Brasil, através do programa Infância Ideal do Instituto Camargo Corrêa, partilha deste compromisso. As ações realizadas através desse programa, em oito municípios de São Paulo, Minas Gerais e Pernambuco buscam mobilizar o poder público e as organizações comunitárias. Desenhados e realizados em parceria com instituições locais, articuladas nos Comitês de Desenvolvimento Comunitário (CDCs), os projetos têm como objetivo fortalecer o Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente visando atender demandas da população de 0 a 18 anos. Isso significa, muitas vezes, dar atenção para questões que parecem “esquecidas”, como o direito ao brincar. A ideia de que a brincadeira é essencial para o desenvolvimento infantil é consenso entre especialistas e também encontra espaço na Declaração Universal dos Direitos da Criança (1959) e no Estatuto da Criança e do Adolescente (1990). Quando brinca, a criança aprende, expressa sua percepção das relações sociais, testa habilidades físicas, elabora sua autonomia e organiza suas emoções. Em Jacareí (SP) e Ijaci (MG), o brincar está sendo revalorizado por iniciativa da InterCement Brasil e do Instituto. Nos dois municípios, projetos de longo prazo priorizam a formação, a sensibilização e a conscientização dos educadores, dos pais e da comunidade sobre os benefícios dessa atividade para as crianças.
Parcerias com prefeituras e entidades educacionais buscam promover o desenvolvimento infantil saudável
EDUCAR BRINCANDO Na cidade paulista, em parceria com a Secretaria Municipal de Educação, gestores, funcionários e educadores das creches da cidade receberam formação pedagógica, realizada por especialistas do Instituto Avisa Lá, com duração de um ano e foco na importância do brincar para o desenvolvimento das crianças de 0 a 6 anos. “A maioria dos profissionais envolvidos tem apenas o ensino fundamental e precisava de uma formação para entender melhor a importância de seu papel no desenvolvimento dos bebês e das crianças”, conta Cláudia Campagnoli Olivares, coordenadora pedagógica da Mantenedora Vicente Decária, que administra 12 das 20 creches de Jacareí. Cláudia lembra que as creches foram, por muito tempo, associadas a uma política assistencialista. “Recebiam as crianças pequenas enquanto os pais trabalhavam e os educadores só vigiavam o sono e asseguravam a alimentação”, afirma Cláudia. A necessidade de mudar o foco de atuação da rede e de seus profissionais tornou a formação, que envolveu cerca de 250 pessoas, ainda mais importante. “Entender a necessidade de mudança é um processo. As ideias têm de ser semeadas, refletidas, discutidas e, depois, reforçadas”, ressalta Adriana Bertucci Martucelli, supervisora de Educação Infantil da Secretaria Municipal. “A reflexão sobre a prática é muito necessária.” Os educadores engajaram-se de tal forma à ideia do educar brincando que se dedicaram inclusive a produzir o material adequado para colocar o aprendizado em prática. “Para brincar, é preciso ter brinquedos, mas não tínhamos recursos previstos para isso”, conta Cláudia, da Mantenedora Vicente Decária. Os profissionais da creche foram, então, incentivados a construir brinquedos com material reciclado, como papelão, caixas de leite e garrafas PET. O problema é que, brincando, as crianças destruíam as “obras de arte” ou se sentavam sobre elas. “Começamos a pesquisar materiais alter-
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nativos, buscamos vídeos na internet de outras escolas que também tinham feito brinquedos para suas crianças, e mostramos para os educadores, para incentivá-los”, diz a coordenadora. O êxito do projeto também foi comprovado pelos pais. “Logo eles perceberam que as crianças estavam mais calmas e independentes”, relata Cláudia, que comemora a renovação da parceria entre a InterCement Brasil e a Prefeitura por mais 18 meses. Nesta nova fase, o trabalho será direcionado aos diretores e profissionais de apoio pedagógico das creches. Além disso, com o apoio da InterCement Brasil e do Instituto, 20 educadores participam, desde outubro de 2012, de um curso de pós-graduação em Educação Infantil oferecido pela Rede Marista de Solidariedade em parceria com a PUC-PR. LUGAR DE BRINCAR Em Ijaci, o foco do Infância Ideal é a garantia da diversão dos pequenos também fora das salas de aula. Um dos projetos de maior sucesso é a Rua do Lazer, realizado uma vez por mês em diferentes bairros. O projeto, resultado da parceria entre a InterCement Brasil, o Instituto e a Prefeitura, começou em junho de 2012 e terminou em maio de 2013. Agora consolidado e com o apoio da comunidade, o evento seguirá ocorrendo sem a participação direta da empresa. “Percebemos que a participação das pessoas tem aumentado, inclusive a dos voluntários”, diz Neuzimar Pinheiro, presidente do Conselho Comunitário de Segurança Pública da cidade. “Queremos mostrar às crianças o lado divertido da vida.” Outro espaço dedicado ao brincar no município é a Brinquedoteca Dona Celina. Sua criação foi uma demanda levantada pelo CDC de Ijaci e a construção e montagem foi um dos primeiros projetos da InterCement Brasil e do Instituto a sair do papel. Inaugurada em novembro de 2009, hoje ela atende, por mês, um total de 80 crianças entre 2 e 7 anos de creches, escolas de educação infantil e do 1° ano do ensino fundamental, da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) e da comunidade. “Quando as crianças começam a frequentar a brinquedoteca, todos percebem uma mudança de comportamento. Aos poucos, elas começam a se socializar e aprendem a dividir suas coisas. Até na escola ficam mais calmas, interagem mais e choram menos”, observa Guaracilda de Fátima Mendonça Silva, coordenadora da brinquedoteca. “Este espaço e a Rua do Lazer são iniciativas cujos resultados vão repercurtir positivamente e durante muito tempo em Ijaci”, conclui.
IJACI (MG) Brinquedoteca foi construída a partir de demanda identificada pelo Comitê de Desenvolvimento Comunitário
FOTO: GUSTAVO FERRI
JACAREÍ (SP) Projetos apoiados pela InterCement ofereceram formação para profissionais da educação infantil
FOTO: WENDELL MARQUES
ESCOLA IDEAL A InterCement desenvolve este programa nos municípios de Ijaci, Santana do Paraíso e Pedro Leopoldo (MG); Apiaí, Itaoca e Jacareí (SP); Cabo de Santo Agostinho (PE).
Qualidade por
todos os lados
Projetos realizados pela InterCement Brasil contribuem para mudar realidade da educação em 7 cidades
Não são poucos os desafios a serem enfrentados para se ampliar a qualidade da Educação Básica pública. Por esta razão, a InterCement Brasil e o Instituto Camargo Corrêa realizam, em sete municípios dos estados de São Paulo, Minas Gerais e Pernambuco, um leque amplo de ações com este objetivo. Os projetos do programa Escola Ideal lidam com questões que vão da gestão escolar ao incentivo à leitura, passando pela formação e qualificação dos educadores, a melhoria das instalações escolares e a promoção de processos de avaliação com a participação da comunidade. Contando com a parceria de organizações especialistas nos diferentes temas e buscando a integração com as políticas públicas locais, as várias atividades desenvolvidas estão contribuindo para modificar a realidade da educação nas cidades participantes. Na pequena Itaoca (SP), que tem pouco mais de 3 mil habitantes, a infraestrutura da rede escolar municipal passa por uma transformação com o projeto Juntos pela Escola Ideal. Não se trata apenas de financiar reformas, mas de literalmente mobilizar a comunidade para colocar a mão na massa. Por meio do projeto, desde 2010, já foram realizados cinco mutirões para revitalizar unidades de ensino da cidade e da vizinha Apiaí. O trabalho dos grupos de voluntários – formados por profissionais da unidade da InterCement Brasil na região e moradores – nas reformas inspirou uma iniciativa ainda mais ambiciosa: a construção, desde a estaca zero, da Escola Professor Benedito Pontes Filho. Um mutirão para os acabamentos, realizado em dezembro, marcou a entrega do prédio para a comunidade. O município não contava com uma escola na região central. As aulas aconteciam em diversas salas alugadas e em um salão emprestado por uma igreja. “São espaços improvisados, pouco adequados para o ensino”, conta Celso Ricardo Carvalho de Lima, analista de Recursos Humanos da InterCement Brasil de Apiaí. “Para 2014, com o novo prédio, já temos 176 alunos matriculados, entre 2 e 6 anos de idade”, comemora Vera Lúcia Gonçalves de Lima, supervisora de Ensino da Secretaria Municipal de Educação de Itaoca. O prefeito de Itaoca, Rafael Rodrigues de Camargo, ressalta o caráter comunitário da iniciativa. “Além dos benefícios práticos, os mutirões resgataram o espírito de cooperação da comunidade, que estava perdido”, avalia. “A recuperação do espírito social foi de extrema importância para a cidade.”
PRAZER DA LEITURA Já o projeto Ler: Prazer e Saber incentiva outro tipo de mudança: a forma como professores e alunos relacionam-se com a leitura. O projeto é realizado pela InterCement Brasil em municípios de São Paulo e Minas Gerais. Na mineira Santana do Paraíso, três oficinas de sensibilização abriram os trabalhos, no final de 2011, logo após a doação das bibliotecas móveis para as escolas da cidade, feita pelo Instituto. As bibliotecas têm um acervo de 150 a 200 livros, organizados em um expositor móvel desenvolvido especialmente para o projeto. Uma nova formação, com foco nos gêneros do discurso literário, principalmente na tradição oral, é realizada desde agosto de 2013 e envolve 37 profissionais. Ao todo, serão oito oficinas presenciais, com oito horas de duração cada uma, até maio de 2014. “Nos encontros, apresentamos textos teóricos sobre o perfil desejado do professor, incentivamos a reflexão sobre a prática de ensino e a realização de rodas de leitura”, diz Maria Cecília Felix de Godoy, do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec), organização executora do projeto. A gerente pedagógica da Secretaria Municipal de Educação de Santana do Paraíso, Ilma Ribeiro Almeida Leitosa, diz que o projeto Ler: Prazer e Saber veio atender a uma demanda dos professores da cidade. “Percebemos a relevância desse processo em nossa rede
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ANTES E DEPOIS Antiga escola no bairro Fazenda, em Itaoca (SP), foi demolida e reconstruída por voluntários ao longo de 5 meses
dada a lacuna existente neste campo da leitura, a falta do prazer de ler”, comenta. Outro detalhe importante para o sucesso da iniciativa é ela ir além das salas de aula e portões das escolas. “Na formação, há participação de pessoas de diversos segmentos: o gerente da Cultura da Secretaria Municipal de Educação, pedagogos e o pessoal de creches e de escolas municipais, além dos profissionais da fábrica da InterCement Brasil”, diz Ilma. Clésia dos Santos, professora da Escola Municipal Josefino Anício de Oliveira, participa do projeto e diz que as formações contribuem para o aprimoramento de suas práticas educativas. “A reciclagem e reflexão são de suma importância para nossa atuação enquanto professores e mediadores do conhecimento para os alunos”, diz. “Já implantei três projetos na escola onde trabalho, com sucesso.” Maria Cecília destaca o envolvimento dos professores, mas também dos pais e dos alunos nas atividades. “Sempre ouvimos depoimentos emocionantes sobre como a leitura tem o poder de transformar a vida das pessoas”, comenta. QUALIDADE VIA INTEGRAÇÃO Já o projeto Sistema de Gestão Integrado (SGI) prevê uma intervenção holística visando qualificar o processo educacional nas redes públicas dos municípios participantes. Trata-se de um modelo de gestão elaborado pela Fundação Pitágoras em que todos os envolvidos no sistema de ensino unem esforços e trabalham juntos, visando o alto desempenho dos alunos. Em Pedro Leopoldo (MG), o SGI começou a ser implantado em agosto de 2011 e, durante quase dois anos, foram realizadas atividades de formação para mais de 60 pessoas, com foco nas
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SANTANA DO PARAÍSO (MG) Projeto Ler: Prazer e Saber distribuiu livros e bibliotecas móveis
práticas e critérios de excelência na administração escolar. “Trabalhamos muito o papel do líder, as formas de se relacionar com professores e funcionários. No final do curso, cada participante elaborou um relatório de gestão, abordando planejamento, liderança, foco nas pessoas e resultados”, diz Tânia Maria Nogueira, gerente operacional da Fundação Pitágoras. A formação e o Trabalho de Conclusão de Curso garantiram aos gestores participantes um título de pós-graduação em Gestão Escolar. Para 2014, o plano é implantar o Programa de Gestão de Excelência (PGE), processo que vai levar três anos. “É um upgrade na gestão das unidades, voltado ao papel do diretor e do pedagogo”, explica. “Nosso objetivo é atingirmos a qualidade na aprendizagem dos alunos em todas as nossas ações”, diz a secretária municipal de Educação, Flávia Cadete Silva.
FUTURO IDEAL A InterCement desenvolve este programa nos municípios de Apiaí e Itaoca (SP) e Campo Formoso (BA). Em 2014, será desenvolvido nos municípios de Bodoquena (MS), Brumado (BA), São Miguel dos Campos (AL), Cezarina (GO), João Pessoa e Conde (PB).
Prontos para
o futuro
Projetos em São Paulo e na Bahia capacitam trabalhadores e transformam vocações locais em oportunidade de geração de renda
Já se vão mais de 40 anos desde que Ursula Adair Depetris, ou dona Ursula, como é conhecida em Apiaí (SP), começou uma peregrinação pelos sítios da região do Alto Vale do Ribeira, atrás de artesãos. À serviço da Prefeitura Municipal, ela pretendia encontrar talentos locais para expor obras na cidade. Achou mulheres ceramistas produzindo peças utilitárias únicas, cheias de beleza, produzidas com técnicas de origem indígena e africana. Dona Ursula fez sua exposição, os trabalhos chamaram a atenção e assim, ano a ano, a fama das mulheres artesãs da região foi se espalhando. “Só que eram todas agricultoras: faziam a cerâmica, mas não abandonavam a colheita do tomate”, relembra. Nessas mesmas lavouras de tomate em Apiaí vive, desde criança, Juraci Rosa do Prado. A agricultura sempre foi sua principal fonte de renda, mas nos períodos de entressafra, ela lembra, a cidade toda sentia no bolso. “Quando não era época do tomate, todo mundo se apertava e tinha que guardar dinheiro, senão não tinha do que viver.” Longe do frio do interior de São Paulo, na seca do interior da Bahia, em Campo Formoso, o que garante o sustento da comunidade é a produção de sisal. “O sisal dá quase o ano inteiro, mesmo nessa calamidade do Nordeste”, conta Rogério Santos Gomes, produtor e presidente da Associação Comunitária Agropastoril do Povoado de Baixão. Mas os recursos limitados, até hoje, obrigavam os trabalhadores a vender toda a produção para atravessadores, limitando muito o lucro e o desenvolvimento local. As vidas das ceramistas de dona Ursula, da produtora rural Juraci, de seu Rogério e de muitos outros trabalhadores do Alto Vale do Ribeira e de Campo Formoso ganharam novos rumos com o investimento da InterCement Brasil em projetos de geração de trabalho e renda do programa Futuro Ideal, do Instituto Camargo Corrêa – uma forma de apoiar o desenvolvimento das comunidades no entorno das unidades. Na Bahia, o projeto Tempo de Empreender, iniciado em 2013, vai capacitar e fornecer infraestrutura aos produtores de sisal. Em Apiaí, a empresa implantou o projeto Futuro em Nossas Mãos, com o objetivo de revitalizar o trabalho dos ceramistas tradicionais. Já o Semeando Futuros apoiou a introdução do cultivo de morangos orgânicos na agricultura local como alternativa ao tomate, cultura conhecida pelo uso intensivo de agrotóxicos. Estes três projetos são realizados com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e as ações de cada um, executadas pelo Instituto Meio.
RESULTADOS E AUTOESTIMA Na região do Alto Vale do Ribeira, os projetos do Futuro Ideal estão em fase de conclusão. Tanto os grupos ceramistas quanto os agricultores receberam por meio do programa apoio para melhorar a infraestrutura e capacitação para as suas atividades de produção e comercialização. Na prática, além dos resultados financeiros positivos, os projetos foram uma injeção de ânimo nas comunidades. “O mais importante é a elevação da autoestima que esse projeto proporcionou a todos os artesãos envolvidos, pois eles foram ouvidos e suas opiniões, acatadas”, enumera Lia Camargo, da Secretaria de Turismo, Cultura e Meio Ambiente de Apiaí e administradora da Casa do Artesão. O espaço, que abriga um museu e uma loja onde é comercializada a produção local, também foi reformado com a ajuda do projeto. Grupos ceramistas de Barra do Chapéu e Itaoca, municípios próximos a Apiaí, também participam das ações, formando assim a Rota da Cerâmica. “Antes, eles nem queriam sair da roça. Hoje, vão a congressos e feiras mostrar seus trabalhos”, diz Ursula, que é presidente da Associação dos Artesãos do Alto Vale do Ribeira. Os agricultores, habituados a trabalhar com o plantio de tomates, fizeram a primeira experiência com o cultivo do morango em 2012, ainda com alguma dificuldade. Já em 2013, a safra foi tão boa que só a venda da fruta não está sendo suficiente para escoar a produção. Os produtores
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estão congelando uma parte das frutas e também produzindo geleia. O Semeando Futuros forneceu, além de capacitação, suporte para compra de equipamentos e acompanhamento especializado. Parte do grupo de 16 produtores de morango agroecológico e orgânico, Jura é também vice-presidente da Associação dos Pequenos Produtores do Bairro Garcias. Conhece bem a lavoura e os números. “Eu diria que, com o plantio do morango, a renda de alguns produtores aumentou mais de 80%”, comenta a agricultora. “Os outros produtores veem isso e se animam. Agora, a expectativa é ótima.” Ela chama a atenção para o fato de que, com a chegada do projeto, tudo é feito com apoio técnico. “Mudou muito o nosso jeito de trabalhar e, consequentemente, o jeito de ser. É um trabalho de formiguinha, mas as pessoas tomaram consciência, participam muito mais.” O projeto já alcançou 39 propriedades rurais, que receberam apoio para adequar e modernizar suas instalações e iniciar o plantio dos morangos. Destas, 11 propriedades já conseguiram certificar sua produção como orgânica. Os resultados animam. “Uma coisa de cada vez. Já pensamos até em um Festival do Morango por aqui”, celebra Jura.
FOTO: RM MEDEIROS
EXPECTATIVA DE TRANSFORMAÇÃO Em Campo Formoso, o momento é de expectativa, já que o projeto encontra-se nas primeiras etapas de implantação. “A gente está vendo uma porta se abrir”, diz Rogério. Está prevista a compra de equipamentos e a construção de um galpão e de uma minibatedeira – uma planta industrial para o beneficiamento do sisal. “Antes, a gente repassava nosso produto a um preço baixo para terceiros porque não tinha parte do equipamento. Eles terminavam e revendiam. Agora, nós participaremos de todo o processo”, comemora o sisaleiro. Os planos vão além. Para diversificar as fontes de renda das famílias, a ideia é transformar o plantio de hortaliças em uma segunda atividade. Trinta famílias da Associação Comunitária Agropastoril do Povoado de Baixão, produtoras de sisal, vão ganhar um hectare de terra pra começar a plantar. Antes, porém, farão um curso de capacitação. “Isso vai trazer recursos e melhorias para essas comunidades que estavam desassistidas. E, o mais importante: tudo se reflete no entorno. Esperamos receber novos produtores na associação”, finaliza Rogério.
FOTO: PABLO DE SOUSA
APIAÍ (SP) Projetos incentivam inovação, com o cultivo de morangos orgânicos, e renovam a tradição, apoiando grupos de ceramistas do Alto Vale do Ribeira
FOTO: DIVULGAÇÃO/INSTITUTO MEIO
CAMPO FORMOSO (BA) Sisaleiros recebem apoio para melhorar e diversificar produção
LOMA NEGRA
Vencendo o desafio de
“enseñar a pescar” Em seu oitavo ano atuando na Argentina, InterCement realiza quase 80 ações através da Fundación Loma Negra
FOCO NA JUVENTUDE Projetos da Fundación visam criar oportunidades de inclusão de jovens das comunidades onde a InterCement está presente na Argentina
FOTOS: DIVULGAÇÃO/FUNDACIÓN LOMA NEGRA
Construir relações de longo prazo com a comunidade é o principal objetivo social da Unidade de Negócios da InterCement na Argentina, desde quando o Grupo Camargo Corrêa adquiriu, em 2005, a empresa de cimento Loma Negra, líder do mercado no país. A constituição da Fundación Loma Negra para el Desarrollo Sustentable, no ano seguinte à aquisição, é prova do empenho da empresa em alcançar este objetivo. A Fundación foi criada com a missão de promover o desenvolvimento social sustentável nas regiões nas quais a empresa atua. Anteriormente, as ações sociais da Loma Negra eram executadas pela Fundación Fortabat, representada por sua proprietária, Amalia Lacroze de Fortabat, empresária e filantropa argentina. “As ações se baseavam em patrocínios a instituições e doações pontuais”, diz Agustín Escofet, líder de Programas da Fundación Loma Negra. Ele conta que, entre 2006 e 2011, as atividades da fundação foram redirecionadas. “Era realmente o caso de não darmos mais o peixe, mas de ensinarmos a pescar”, comenta Escofet. A mudança de foco e as adequações para aproximar a estratégia de atuação da Fundación àquela assumida pelas empresas do Grupo Camargo Corrêa, através do Instituto Camargo Corrêa, ocorreu aos poucos. “Primeiro, estruturamos os Comitês Locais, formados pelos funcionários operacionais das unidades, e começaram a funcionar os Conselhos Consultivos”, explica. As primeiras atividades foram projetos locais. Com o tempo, foram criados outros programas e projetos sociais. Após a fase de adaptação, foram realizadas mudanças mais estruturais. Foi criada a figura do Técnico Local, que acompanha os Comitês de Incentivo ao Voluntariado e Interação com a Comunidade (Civicos) na criação de estratégias de responsabilidade social, com foco no desenvolvimento local. Os Civicos são formados por profissionais de cada unidade do Grupo Camargo Corrêa com o objetivo de acompanhar os projetos em todas as suas etapas. “Também incorporamos programas temáticos, inspirados no que já vinha sendo feito no Brasil”, conta Escofet. Esta etapa se caracterizou pela implantação de projetos alinhados com as necessidades locais, em sinergia com as políticas públicas e com uma forte participação de parceiros regionais. “Por meio da Fundación Loma Negra, buscamos construir relacionamentos de longo prazo com as comunidades onde estamos presentes”, afirma Carlos Pica, superintendente de Desenvolvimento Institucional da InterCement Argentina.
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PAPEL SOCIAL Mudar a cultura dominante na Argentina e na própria Loma Negra sobre o significado do papel social da empresa foi o maior desafio, segundo Escofet. “Os conceitos de sustentabilidade e da responsabilidade em relação ao desenvolvimento local já existiam no Brasil, mas aqui ainda eram novidade”, revela. “Adotamos as crenças e valores do Instituto Camargo Corrêa, como a linha mestra de todos os projetos e iniciativas da Argentina”, resume Carlos Pica. Em 2013, a InterCement implementou 78 iniciativas – 42 projetos “estruturantes” e 36 ações de voluntariado, atendendo a 19 comunidades argentinas. “Podemos dizer que o coração dos projetos é o mesmo dos implantados no Brasil. Baseamo-nos no diagnóstico dos problemas para determinar as causas e traçar os planos de ação”, explica Escofet. Além disso, a unidade de negócio na Argentina desenvolve os programas Voluntarios en Acción, Jóvenes en Acción e Educ-Acción, equivalentes ao Ideal Voluntário, Futuro Ideal e Escola Ideal, respectivamente. O único programa não compartilhado com o instituto brasileiro é o Infância Ideal. Escofet explica que isso se deve às realidades distintas dos dois países. “Por estarmos na América Latina, enfrentamos alguns problemas semelhantes, mas o desemprego entre os jovens é um problema mais sério aqui na Argentina do que no Brasil”, explica. Daí a Fundación ter criado dois projetos próprios para este público:o Recre-Acción e Concientiz-Acción. O primeiro fomenta atividades esportivas e culturais, criando oportunidades de aprendizagem não formal para crianças e jovens. O segundo consiste na conscientização sobre os principais problemas que afetam os jovens, impulsionando a reflexão e a discussão na comunidade, sua abordagem e solução.
Estas ações seguem três direções: educação, com a oferta de aperfeiçoamento aos professores e por meio da realização de testes vocacionais; emprego, com a capacitação para o trabalho, primeiro emprego e empreendedorismo; e cultura e esportes, tratados como meios de inclusão e de desenvolvimento de habilidades e competências para a vida. O programa Jóvenes en Acción é o de maior destaque da fundação. Teve início em 2011 e, em 2013, ultrapassou o número de 3 mil beneficiários diretos. O trabalho é realizado em parceria com escolas técnicas, centros de formação profissional, universidades e municípios. Um dos projetos é o Generando Oportunidades, que já tem dois anos e é articulado com o governo municipal de Olavarría e com escolas profissionalizantes. “Mais de 60% dos participantes já foram efetivados nas empresas em que realizaram estágios, o que nos deixou muito orgulhosos. Somos trabalhadores e sabemos que o trabalho digno é a mellhor forma de inclusão”, diz.
JUVENTUDE EM FOCO A escolha da unidade argentina por focar o público jovem reflete também na história da Fundación Loma Negra, que, desde sua criação, trabalha com a faixa etária entre 15 e 29 anos de idade, a de maior vulnerabilidade social no país. “A inclusão dos jovens é a chave para o desenvolvimento equitativo no futuro”, diz Escofet.
Roca S.A, ferrovia com 3.181 km que opera na região
InterCement na Argentina A Unidade de Negócio engloba as operações da Argentina e do Paraguai, com as empresas Loma Negra
(cimento),
Lomax
(concreto),
Recycomb
(combustíveis alternativos), La Preferida (pedreira) e a paraguaia Yguazú (cimento). Ao todo, a InterCement gera, na Argentina, 3 mil postos de trabalho e marca presença em dez cidades. É líder no mercado local nas áreas de cimento, concreto e cal, com 46% de cobertura nacional. Além disso, a empresa conta com um diferencial competitivo: detém 80% de participação na Ferrosur central da Argentina, interliga sete das nove unidades da Loma Negra e conecta a cimenteira argentina aos grandes centros consumidores. Ela também transporta
produtos
químicos,
matéria-prima para outros clientes.
combustíveis
e
INTERNACIONAL
EGITO Voluntários trabalham em ação do Dia do Bem-Fazer 2013
FOTO: DIVULGAÇÃO/INTERCEMENT
Compromisso ampliado Conhecer as demandas e reconhecer o potencial de cada comunidade também é base da atuação da InterCement em países da África e da Europa
Por ser uma empresa internacional, com unidades na América Latina, Europa e África, a InterCement tem também liderado o processo de “exportação” das tecnologias sociais implementadas pelo Instituto Camargo Corrêa. As ações realizadas pela empresa nos outros países seguem os mesmos princípios da atuação no Brasil, buscando fortalecer os vínculos entre empresa e comunidade de forma a contribuir para a transformação social. Enquanto na Argentina a estratégia está consolidada com a atuação da Fundación Loma Negra, as unidades em Portugal, Egito, Cabo Verde, Moçambique e África do Sul – adquiridas da Cimpor e integradas às operações da InterCement em 2012 – começam a desenhar ações. Uma das preocupações é ajustar a estratégia desenvolvida no Brasil à realidade de cada país. As unidades portuguesas, por exemplo, optaram por, em um primeiro momento, alinhar suas atividades com a Empresários pela Inserção Social (Epis), uma organização que acompanha jovens em situação de risco social. Outra preocupação é sensibilizar os profissionais para a importância de se engajarem nas ações. Por esta razão, o programa Ideal Voluntário foi escolhido para iniciar as atividades ligadas ao Instituto Camargo Corrêa nas plantas internacionais. “Para transformar boas ideias em projetos, precisamos de metodologia e conhecimento que nossos profissionais têm”, afirma o CEO da Cimpor, Ricardo Lima. “Se não tivermos voluntários, os projetos não terão sucesso.” No continente africano, a InterCement está realizando um diagnóstico por país para definir como deve ser a atuação. De acordo com Ricardo Lima, a implantação dos primeiros projetos ligados aos demais programas estruturantes do Instituto deve ocorrer em Moçambique. “A experiência que temos no Brasil e na Argentina nos dá tranquilidade para implementar os programas nesse país”, ressalta o CEO da Cimpor.
IDEAL COMUNITÁRIO – ESPECIAL INTERCEMENT 39
DIA PARA FAZER O BEM A experiência da InterCement no Brasil, Argentina e no Paraguai com o Dia do Bem-Fazer também incentivou a realização do evento de voluntariado na Europa e na África. O Instituto realiza a iniciativa desde 2009, mobilizando milhares de voluntários nas dezenas de cidades onde o Grupo Camargo Corrêa está presente sempre no último domingo de agosto. Já em Portugal, Moçambique, Cabo Verde, África do Sul, o Dia do Bem-Fazer ocorreu pela primeira vez no dia 20 de outubro de 2013. No Egito, as ações foram realizadas um dia antes, em 19 de outubro. Todas as unidades já haviam sido apresentadas à dinâmica do evento no final do primeiro semestre de 2013, em reuniões realizadas pela empresa e o Instituto em cada país. Na ocasião, os funcionários conheceram a história da ação e como ela se insere na política de voluntariado do Grupo. Alguns profissionais egípcios, moçambicanos e sul-africanos também participaram de um intercâmbio e atuaram como voluntários no Dia do Bem-Fazer 2013 em Apiaí (SP). Após essas etapas, cada unidade formou uma equipe de coordenação. O grupo teve a função de planejar as atividades, divulgar o evento, mobilizar os profissionais, definir as entidades beneficiadas e formatar o plano de ação. Em seguida, assim como no Brasil, foram formados os Grupos de Ação Ideal Voluntário (Gaivs), responsáveis pela execução das ações. Na África do Sul, foi criado inclusive um informativo regular para que os profissionais pudessem acompanhar todo o processo. Os beneficiários ficaram surpresos com o nível de comprometimento dos voluntários para cumprir as atividades planejadas em três escolas. Ao todo, 97 voluntários trabalharam nas atividades, que beneficiaram 2.100 pessoas. Em Durban, a Phambili High School teve seus pisos reformados, janelas e portas substituídas e salas de aula pintadas. Já na Murchison Primary School, em Port Shepstone, foi criada uma biblioteca e construída uma parede para jardinagem. As salas de aula da escola ainda passaram por reparos e tiveram as paredes pintadas. Em Phoenix, os voluntários remodelaram a sala de biologia, reformaram a área de lazer e dedicaram-se à jardinagem na Spes Nova Special Needs School.
PORTUGAL Em 5 localidades, mil voluntários participaram do Dia do Bem-Fazer
FOTO: DIVULGAÇÃO/INTERCEMENT
MOBILIZAÇÃO DOS PROFISSIONAIS Segundo a gerente de transformação da InterCement na África do Sul, Hlengiwe Radebe, a empresa sempre teve um programa de voluntariado, mas o ICC trouxe mais estrutura e significado às atividades. Para Hlengiwe, que fez parte da equipe de organização do Dia do Bem-Fazer, essa iniciativa promoveu o trabalho em equipe e o senso de pertencimento dos funcionários. “Já estão todos muito animados e ansiosos para o próximo evento, em 2014”, conta. Em Portugal, o Dia do Bem-Fazer reuniu mil voluntários. Foram realizadas ações em Lisboa, Alhandra, Souselas, Loulé e nos Açores, como reformas em ginásios poliesportivos, parques e escolas. Todas essas ações foram acompanhadas de um conjunto de atividades lúdicas para crianças, que se divertiram bastante. “O Dia do Bem-Fazer foi um evento especialmente bem sucedido em Portugal e claramente um marco na política de investimento social da nossa empresa,” avalia a diretora de Comunicação Externa e Relações com Investidores da Cimpor, Filipa Mendes. Segundo ela, que participou da organização do evento, a metodologia do Dia do Bem-Fazer promoveu o envolvimento pessoal dos profissionais com as ações, dando um novo ângulo e fôlego à sua participação nas atividades de voluntariado e outros projetos de caráter social.
Dia do Bem-Fazer 2013 África e Europa
Países participantes: Portugal, Egito, Cabo Verde, Moçambique e África do Sul Ações realizadas em 16 localidades
INTERAÇÃO
f eliz Ano Novo! m u e l a t a N m o b Um De mãos dadas com as empresas do Grupo Camargo Corrêa, as comunidades e as organizações parceiras, fizemos de 2013 um ano de grandes realizações a favor do desenvolvimento comunitário. Que este espírito de união e solidariedade permaneça presente e forte para seguirmos transformando realidades em 2014.
INOVAÇÕES SUSTENTÁVEIS
Grupo Camargo Corrêa apresenta Documento orienta o uso dos recursos hídricos pelas empresas
a Agenda Água
As empresas do Grupo Camargo Corrêa utilizam, por ano, aproximadamente 21 bilhões de litros de água. Se a média de consumo na empresa seguir crescendo como nos últimos anos, em 2020 este número pode dobrar. Diante desta demanda e de forma a atender suas diretrizes de sustentabilidade, o Grupo Camargo Corrêa adota a Agenda Água, documento que irá orientar o uso dos recursos hídricos por todas as empresas e unidades nos próximos anos. “A gestão da água já era discutida em nossas unidades há vários anos, mas sentimos a necessidade de criar uma agenda específica para aprofundar a questão”, explica a diretora de Sustentabilidade do Grupo, Carla Duprat. As comissões executivas das empresas foram orientadas a incluir a variável água dentro do planejamento estratégico e as principais unidades de negócio já deram início à análise dos contextos onde as empresas estão ou poderão estar, com base em três cenários: abundância, escassez e conflito em torno dos recursos hídricos. A InterCement já deu início ao Programa Atitude Azul, que visa estabelecer um plano de gestão do uso da água que garanta eficiência, redução de consumo e já realizou avaliações de risco. Já a Construtora Camargo Corrêa elaborou o Plano Água, estratégia para gestão eficiente da água. O Relatório de Conjuntura dos Recursos Hídricos no Brasil - 2012, documento elaborado pela Agência Nacional de Águas (ANA), diz que o Brasil apresenta uma situação confortável quanto à disponibilidade de recursos hídricos em termos globais, mas há várias regiões do país classificadas como “vulneráveis” em virtude de questões como secas e estiagem e qualidade ruim da água – por conta de problemas de saneamento, por exemplo, e desmatamento da vegetação nativa. “É um grande desafio falarmos em uso racional de recursos hídricos quando temos o falso conceito de que, no Brasil, a água é abundante”, afirma Carla. Ela destaca que a participação de todos os profissionais no projeto é fundamental. “Queremos que cada indivíduo reconheça o quanto é dependente do recurso, o quanto consome e como pode consumir de forma mais eficiente.”
Oito compromissos • Inserir a água como elemento estratégico nas decisões de negócio e de investimentos, reconhecendo o seu valor real para a manutenção dos ecossistemas, para o atendimento das necessidades das comunidades locais e para as nossas operações. • Capacitar nossos profissionais para identificar oportunidades de intervenção e atuar de forma colaborativa na gestão da água. • Identificar e tratar riscos e oportunidades de negócio provenientes da nossa atuação, considerando a relação de dependência e impacto junto ao meio ambiente e às comunidades, tendo a Bacia Hidrográfica como unidade de gestão. • Estabelecer estratégias e metas e monitorar os resultados obtidos, comunicando-os de forma transparente e consistente aos públicos interno e externo. • Considerar o cuidado com a água desde a concepção dos nossos produtos e serviços, estendendo-o às etapas de produção, comercialização, uso e destinação para mitigar nossos impactos associados a esse recurso. • Investir em pesquisa e desenvolvimento com o objetivo de identificar e gerar soluções e tecnologias para o uso racional da água, capazes de gerar ganhos ambientais, sociais e de competitividade. • Atuar em iniciativas junto às comunidades onde estamos inseridos, setores públicos e privados que visem à construção conjunta de soluções para a gestão sustentável da água, por meio de fomento às políticas públicas, educação e compartilhamento de melhores práticas. • Influenciar nossas cadeias de valor para o uso racional da água, suportando e reconhecendo os fornecedores e clientes que se destaquem por sua boa gestão e compartilhando informações relevantes sobre nossos produtos e serviços.
IDEAL COMUNITÁRIO 41
ARTIGO Maria do Carmo
FOTO: DIVULGAÇÃO/ABRAMUNDO
Avaliação na educação
MARIA DO CARMO BRANT DE CARVALHO é consultora em diversos programas governamentais de educação, assistência social e habitação. É consultora do Instituto Abramundo - Ciência e Cultura. Pós-doutora em Ciência Política, publicou diversos artigos sobre avaliação de programas públicos. Foi superintendente do Centro de Estudos sobre Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec) entre os anos 2000 e 2010.
NA INTERNET v Uma versão ampliada deste artigo está disponível no site do Instituto: http://www.institutocamargocorrea. org.br/Documents/Avaliacao_ educacao.pdf 42 IDEAL COMUNITÁRIO
No Brasil, as informações sobre a educação são fornecidas, sobretudo, pelos censos escolares e em avaliações de resultados/ rendimentos escolares dos alunos. Estas informações ganharam, na ultima década, continuidade, visibilidade e reconhecimento público. Estes dados são bastante importantes para obtermos uma fotografia da nossa realidade educacional. Permitem, igualmente, compararmos longitudinalmente, na linha do tempo, a evolução do desempenho da educação no país. Como revelação da realidade, a avaliação indica acertos e equívocos, ilumina inovações e sugere correções de rumo. Mas, para tanto, as informações avaliativas precisam chegar à ponta do sistema de ensino – a escola – como ferramenta estratégica de mudança e aprimoramento da ação educacional. E esta é a questão: nem sempre os dados avaliativos chegam a cada escola de forma que seus agentes – diretores, professores, funcionários, pais, alunos e comunidade – conheçam sua condição de funcionamento, qualidade da aprendizagem ofertada e rendimento escolar dos alunos de forma que a própria comunidade escolar comprometa-se com mudanças. Não podemos esquecer que a principal função da avaliação é colaborar com a efetividade da ação pública. Por isso, são muito importantes os diagnósticos e avaliações produzidas pela comunidade escolar. A avaliação tem o poder de produzir mudanças,
daí a recomendação que ela não seja totalmente externa, mas possua braços avaliativos nos quais os sujeitos implicados na ação protagonizem o processo e o poder avaliativo, apropriem-se da reflexão e possam ditar os aprimoramentos. Os dados que vão emergindo do diagnóstico e avaliação são refletidos e explicados pelo conjunto dos envolvidos, permitindo a correção de rotas de forma coletiva e consensual. Falamos hoje em modelos e procedimentos avaliativos reflexivo-participativos. Estes têm como eixo metodológico fundante o envolvimento e a participação dos sujeitos implicados no projeto/ serviço avaliado. A objetividade pretendida no ato avaliativo é resultado de um processo de debate e triangulação ente os gestores, a comunidade mais próxima do serviço e os especialistas. O valor atribuído é construção de um coletivo. A avaliação assim conduzida desencadeia um processo de aprendizagem social, gera confiança social pública, motiva e instiga a inovação quando necessário. Mas é preciso evoluir de uma concepção de prática participativa como consulta, com agentes da escola coletando informações e dando “devolutivas” às famílias, para um modelo efetivamente partilhado na coleta de informações e em sua análise. É nesta medida que alunos, famílias e comunidades podem igualmente intervir e cooperar no próprio desenho e desenvolvimento do projeto político pedagógico da escola.
A avaliação tem o poder de produzir mudanças, daí a recomendação que ela não seja totalmente externa
EXPEDIENTE
CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DA CAMARGO CORRÊA S.A. Presidente: Vitor Hallack Vice-presidentes: A.C. Reuter, Carlos Pires Oliveira Dias e Luiz Roberto Ortiz Nascimento CONSELHO DELIBERATIVO DO INSTITUTO CAMARGO CORRÊA Presidente: Rosana Camargo de Arruda Botelho Vice-presidente: Renata de Camargo Nascimento Conselheiros: Carla Duprat, Dalton dos Santos Avancini, Daniela Arantes Alves Lima, Daniela Camargo Botelho de Abreu Pereira, Elisa Camargo de Arruda Botelho, Francisco Tancredi, Henrique Ernesto de Oliveira Bianco, José Édison Barros Franco, Luiz Eduardo de Camargo Nascimento, Marcio Garcia de Souza, Márcio Utsch, Maria Regina Camargo Pires Ribeiro do Valle, Maria Tereza Pires Oliveira Dias Graziano, Naima Bennani Nascimento, Olga Colpo, Raphael Antonio Nogueira de Freitas, Ricardo Fonseca de Mendonça Lima e Vitor Hallack INSTITUTO CAMARGO CORRÊA Presidente do Grupo Camargo Corrêa e do Instituto: Vitor Hallack Diretor executivo: Francisco de Assis Azevedo Superintendente: Jair Resende Coordenadora de comunicação: Clarissa Kowalski Coordenadores de programas: Flávio Seixas, Felipe Soares e Juliana Di Thomazo Analistas de projetos: Kleber Eduardo da Silva, Jordânia Furbino e Renata Monteiro Costa Analista administrativo-financeiro: Bárbara Gomes Auxiliar administrativo: Bruno Teixeira Fioravante REVISTA IDEAL COMUNITÁRIO COMITÊ EDITORIAL Carla Duprat, Clarissa Kowalski, Fernanda Guerra, Francisco de Assis Azevedo, Jair Resende, Kalil Farran, Marcello D’Angelo, Mauricio Esposito, Olga Colpo, e Veet Vivarta
ARTE Nelson Rico e Renata Marins – Studio1101 CAPA Christian Knepper – foto IMPRESSÃO Leograf COMUNICAÇÃO DO GRUPO CAMARGO CORRÊA CAMARGO CORRÊA S.A. Marcello D’Angelo, Mauricio Esposito, Cintia Mesquita de Vasconcelos ALPARGATAS Cássia Navarro INTERCEMENT Fernanda Guerra CONSTRUTORA CAMARGO CORRÊA Denise Pragana e Verena Ferreira TAVEX CORPORATION Andrea Shimada
ENTRE EM CONTATO Opiniões, dúvidas e sugestões sobre a revista Ideal Comunitário: Avenida Brigadeiro Faria Lima, 3600/11º andar São Paulo, CEP 04538-132 www.institutocamargocorrea.org.br Tel.: (11) 2383-9333 e-mail: instituto@institutocamargocorrea.org.br
PRODUÇÃO EDITORIAL Máquina Public Relations EDITORA Cristina Charão TEXTO Cleide Floresta, Cristina Charão, Fábio de Castro, Fernanda Santos, Jéssika Torrezan, Júlia Marques, Márcio Homsi, Patrícia Ribas e Thassio Borges
Realização
Parceiro
IMPULSO PARA O DESENVOLVIMENTO Produtores associados à Unicoop comemoram o contrato com a Construtora Camargo Corrêa e agora buscam novos clientes na região