Revista Ideal Comunitário - dezembro de 2012

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Transformação

desde a raiz

Número 20 • Dezembro de 2012

Ações desenvolvidas em Pedro Leopoldo (MG) viram referência em investimento social privado


nesta edição Número 20 | Dezembro de 2012

3 Editorial 4 Entrevista Para Eduardo Giannetti, falar do futuro é falar de economia e também de bem-estar, felicidade e valores culturais

8 Panorama Social Em 2050, o mundo terá mais de 1 bilhão de idosos, mas preconceito com a velhice ainda é problema, alerta a ONU

10 Infância Investimento social do Grupo Camargo Corrêa em Pedro Leolpoldo (MG), primeira cidade a receber o programa Infância Ideal, vira referência

18 Educação Mais de 140 escolas públicas, em 13 municípios, já foram reformadas pelos mutirões do Juntos pela Escola Ideal

24 Empreendedorismo Agricultores de Apiaí (SP) experimentam trocar a cultura convencional do tomate pelo cultivo de morangos orgânicos

28 Voluntariado Nove Grupos de Ação Ideal Voluntário (Gaivs) são reconhecidos na primeira edição do Prêmio Idealista

31 Perfil Em Ingá (PB), a profissional da Alpargatas Rosângela Pereira da Silva é líder em solidariedade

32 Inovações Sustentáveis Pela terceira vez, Grupo Camargo Corrêa premia iniciativas sustentáveis de suas empresas

36 Ações&Parcerias Projeto do Instituto e do BNDES oferece capacitação voltada para a modernização da administração municipal

37 Interação 38 Artigo A pesquisadora Flávia Marques destaca o diálogo entre o rural e o urbano a favor do desenvolvimento sustentável

10 ideal comunitário


Resultados de um investimento social inovador Crianças brincando sorridentes à sombra de uma frondosa árvore simbolizam os

sentimentos comuns desta época de fim de ano: alegria, esperança, confiança no futuro. Para nós, do Instituto Camargo Corrêa, as crianças na foto de capa desta edição de

Ideal Comunitário – alunos de um dos Centros Municipais de Atenção à Infância de Pedro Leopoldo (MG) beneficiados pelos projetos do programa Infância Ideal – simbolizam também os resultados de um ciclo de cinco anos que agora se encerra.

Em 2007, iniciamos a implantação da nova estratégia de investimento social do

Grupo Camargo Corrêa. Pedro Leopoldo foi uma das primeiras cidades a receber as

ações desenhadas dentro de uma lógica inovadora de se fazer projetos sociais no setor privado. Em 2012, a experiência do Instituto e da InterCement na cidade mineira virou um estudo de caso, feito pela Fundação Dom Cabral. Tornamo-nos referência, mas são os sorrisos e os depoimentos dos vários beneficiários dos projetos ouvidos na reporta-

Foto: Eduardo Rocha/RR

editorial

“Ao final de 2013, esperamos colher resultados ainda melhores e novamente dividir os sentimentos de alegria, esperança e confiança no futuro.”

gem de capa da edição o motivo real dos nossos esforços.

Os resultados do trabalho do Instituto Camargo Corrêa também estão bem ilustra-

dos na matéria sobre o projeto Juntos pela Escola Ideal. Os mutirões organizados pelo Instituto e pelas empresas do Grupo já reformaram 145 escolas em 13 municípios brasileiros. Outro dado importante neste balanço de 2012 são as 5.979 horas de trabalho voluntário acumuladas pelos profissionais do Grupo Camargo Corrêa reconhecidos na

primeira edição do Prêmio Idealista. E, para não ficarmos apenas em números, regis-

tramos também o sabor da inovação com a experiência vivida por agricultores de Apiaí

(SP) ao trocar a cultura do tomate com uso de agrotóxicos pelos morangos orgânicos, com o apoio do programa Futuro Ideal.

No próximo ano, temos como desafio dar continuidade ao alinhamento do trabalho

do Instituto com politicas públicas locais, tendo em vista as mudanças nas adminis-

trações municipais. Outra tarefa será implantar o modelo de investimento social nas unidades da InterCement recentemente adquiridas da Cimpor, bem como apoiar ações

sociais nos países onde a empresa está presente, especialmente Portugal e Moçambique. Ao final de 2013, esperamos colher resultados ainda melhores e novamente dividir

com todos e todas os sentimentos de alegria, esperança e confiança no futuro.

Francisco de Assis Azevedo, diretor executivo do Instituto Camargo Corrêa

ideal comunitário 3


entrevista

foto: Bel Pedrosa

Eduardo Giannetti

Desenvolvimento

é ser feliz Eduardo Giannetti faz a economia dialogar com o que de mais humano há em nós: a busca do bemestar e da felicidade.

4 ideal comunitário

As múltiplas perguntas que se impõem no atual contexto pós-crise econômica mundial e de plena crise planetária ambiental estão contempladas em grande parte da reflexão e produção científica do economista e professor Eduardo Giannetti. Em seus diversos livros e artigos, ele consegue refletir ao mesmo tempo sobre conceitos econômicos, felicidade e o futuro – o do planeta e o de cada um de nós. Giannetti faz com que esta mistura aparentemente insólita faça todo o sentido. Por duas vezes, ganhou o prêmio Jabuti, maior prêmio literário do país: em 1994, com o livro Vícios privados, benefícios públicos?, e em 1995, com As partes & O todo. Atualmente, leciona no Insper Instituto de Ensino e Pesquisa. Nesta entrevista exclusiva concedida a Ideal Comunitário, ele fala de assuntos tão complexos quanto integrados, como o binômio crescimento econômico/ bem-estar humano, o papel e desafios das cidades e da educação e a emergência de um modelo original de organização social brasileira calcado em nossos valores e identidades. Sempre com a profundidade e a clareza dos grandes mestres.


Como convivem crescimento econômico e bem-estar?

A crise não abre uma brecha para movimentos cidadãos, ini-

Durante muito tempo, os economistas e cientistas sociais acreditaram que havia uma correlação direta e linear entre crescimento econômico e melhoria do bem-estar humano. A grande descoberta recente e surpreendente foi que essa relação não é tão simples como parecia ser. O que as pesquisas mostram, para muitos países, é que existe uma relação forte entre crescimento da renda média por habitante, de um lado, e bem-estar subjetivo, de outro, nos estágios iniciais, quando o país vem de um nível muito baixo de renda. Mas, a partir de certo nível, essa correlação direta não se mantém. Em países com renda per capita de US$ 20 mil por ano, a renda continua crescendo, mas os indicadores de bem-estar subjetivo não acompanham mais. Isso vale para Europa, Estados Unidos, Japão, países que alcançaram nível de renda muito alto, principalmente após a 2ª Guerra Mundial, e que já não apresentam mais a relação entre o crescimento da renda média per capita e melhoria do bem-estar subjetivo.

ciativas civis que acabam forçando os países a repensarem

Quais as possibilidades de mudança pós-crise econômica global, pensando na hipótese de que o binômio crise/oportunidade seja válido? Ou seja, a escassez e crise planetária (ambiental, econômica) abrem também oportunidades de se produzir e consumir dentro de uma lógica menos linear e mais sistêmica, baseada na ética, na colaboração e compartilhamento?

Isso tudo no mundo ideal. Na prática, o que a crise econômica representa é um retrocesso. Os países ficam extremamente voltados para recuperar os níveis anteriores de crescimento, reduzir desemprego, e todas as considerações que não são estritamente de ordem econômica ficam para um plano secundário. Há também uma tentação protecionista e uma ênfase muito grande em estimular, às vezes a um custo elevado, a volta do crescimento econômico nos países. Considerações ligadas a meio ambiente, por exemplo, ficam em segundo plano. Seria de se esperar, se houvesse mais discernimento no mundo, que uma crise dessa proporção levasse a uma revisão e questionamento dos valores. E levantar a pergunta que precisa ser feita: o que esperar do crescimento econômico para a melhoria de vida e bem-estar humano? Na prática, o que acontece é o contrário. Os países estão muito viciados em crescimento e expansão das possibilidades de consumo. Quando você retira essa “droga”, há uma crise de abstinência, ficam esperando voltar ao mundo anterior à crise.

essas estruturas e lógica do crescimento?

Alguns desses movimentos não têm ligação direta com a crise econômica. São desdobramentos da mudança tecnológica. O fato é que, quando se está com o nível de desemprego tão alto, como se vê hoje na Europa, todas as outras considerações ficam em segundo plano. O nível médio de desemprego hoje na Comunidade Europeia é de 11% e em alguns países, como a Espanha, chega a 25%. Em relação ao bem-estar humano, a variável econômica de maior impacto é o emprego. As pessoas desempregadas involuntariamente, ou seja, as que desejariam estar trabalhando, mas não estão, são as que apresentam maiores proporções de infelizes, suicidas e para-suicidas [que simulam atos suicidas]. O emprego como conhecemos não está em extinção?

Ele parece que está em extinção até que lhe falte [risos]. O Keynes [ John Keynes], economista britânico, tem uma frase que eu gosto. “Para aqueles que lutam pelo pão diário, o ócio é um prêmio ardentemente desejado até que eles o conquistam.” É muito mais complicado para o ser humano viver fora da divisão do mundo do trabalho, mesmo com um bom seguro desemprego. O nível de bem-estar fica muito rebaixado. Qual a posição do Brasil e países do Sul neste cenário. Sentimos o impacto da crise, mas nem tanto... O que nos diferencia em relação ao outro bloco?

O Brasil teve uma boa reação desta vez. O país era um quadro de hipersensibilidade: toda vez que o mundo piorava um pouquinho, o Brasil entrava nessa situação de desequilíbrio macroeconômico. Bastava um resfriado lá fora e virava uma pneumonia seguida de UTI aqui dentro. Dessa vez, foi completamente diferente. O mundo está passando pela pior crise desde a depressão dos anos 30 e o Brasil conseguiu assimilar o impacto da crise a um custo relativamente baixo. O que nos permitiu essa maior resiliência foram três coisas: o equilíbrio das contas externas, o dinamismo do mercado doméstico, especialmente a nova classe média, e a continuidade das políticas econômicas. Apesar da alternância de poder, houve uma continuidade na condução da política econômica. O Brasil conseguiu mostrar uma capacidade de resistência. Houve recessão, mas foi mais fraca que no resto ideal comunitário 5


entrevista Eduardo Giannetti

do mundo e a economia voltou com força em 2010. Há muito tempo não se vê na vida brasileira um nível de confiança em relação ao futuro como o que se abriu da crise mundial para cá. É uma onda ascendente que começa com o Plano Real, em 1994/95, mas só se consolida nos últimos dez anos, com este fenômeno extraordinário da mobilidade social no país. Nos últimos dez anos, o crescimento da renda dos 10% mais ricos da população foi parecido com o crescimento da renda da Alemanha, 1,5% a 2% ao ano. Se considerada a renda dos 10% mais pobres, foi parecido com o crescimento da China, 8% a 9% ao ano.

Sugestões de leitura •

O Mercado das Crenças (Editora Companhia das Letras, 2003)

Nada é tudo: ética, economia e brasilidade (Editora Campus, 2000)

Mas daí o eixo da sociedade se desloca...

Desloca-se do econômico para as relações pessoais. O mundo todo está buscando alternativas e acho que hoje, quem sabe, o Brasil, por sua característica de integração de muitas matrizes modernas e pré-modernas, esteja bem posicionado para oferecer alguma originalidade nesta busca. E as cidades, que papel teriam na promoção de um desenvolvimento mais sustentável? Que horizonte de mudanças podemos vislumbrar para as questões caóticas (trânsito, insegurança, superpopulação, precariedade da saúde e educa-

Com este otimismo e resistência à crise, o Brasil pode servir de

ção)? Quais os principais desafios que os novos prefeitos vão

modelo para mudanças econômicas e sociais globais?

enfrentar quando tomarem posse este ano?

Mudança global, acho que seria pretensão. Mas é momento de o país se perguntar se deseja seguir a trilha percorrida pelos países altamente desenvolvidos ou se pretende buscar algum tipo de originalidade que leve em conta nossa identidade e valores. Se tudo der certo no Brasil, se resolvermos nossas mazelas, como saneamento, segurança, ensino fundamental, que tipo de país seremos? Um país do sul dos EUA? Ou será que nossos valores são outros e deveremos buscar oferecer outro padrão, diferente do padrão ocidental herdado do Iluminismo europeu?

A cidade é onde as coisas acontecem na vida prática do cidadão. O Brasil ainda tem tremendas dificuldades em resolver questões que os países desenvolvidos já resolveram no século XIX, como, por exemplo, o saneamento básico. Estamos no século XXI com cerca de 40% ou mais de domicílios sem acesso a coleta de esgoto, o que é completamente injustificável. Os problemas de ordem municipal num país onde existem 5.565 municípios são de extraordinária diversidade. As grandes metrópoles brasileiras estão vivendo um problema de mobilidade urbana pelo crescimento muito rápido da frota automotiva e pelo descaso com o transporte público. No momento em que deveríamos investir em metrô e transporte público de qualidade, o que vemos é o governo dar estímulo ao carro particular. Em São Paulo, os carros são responsáveis pelo transporte de 28% dos passageiros e ocupam 78% do espaço viário. A média de ocupação dos carros em São Paulo é de quatro passageiros. Isso está acontecendo também em Belo Horizonte, Recife, Porto Alegre. São Paulo também vive um problema gravíssimo de segurança pública e déficit na saúde, que foi o mote da campanha eleitoral.

Há indícios de que caminhamos para algo neste sentido?

Um momento como este nos permite sonhar. Acho que é o momento de buscar o que pode ser esse caminho de originalidade na vida brasileira. Tenho uma intuição compartilhada com outros: essa originalidade está muito ligada à permanência, na cultura brasileira, de elementos pré-modernos de origem afro-indígena. O que temos de diferente é nossa disposição mais generosa em relação à afetividade, nossa espontaneidade. O que o filósofo Rousseau chamava de “o doce sentimento da existência”. Se conseguirmos integrar a conquista de um certo padrão civilizatório tecnológico com a valorização desses elementos da afetividade, espontaneidade – o que eu chamo de “a vitalidade iorubá filtrada pela ternura portuguesa” – num projeto de identidade brasileira, teríamos algo a dizer ao mundo. O modelo de corrida ao consumo não é a única forma de se organizar uma sociedade. Existe um outro caminho. 6 ideal comunitário

E o potencial criativo das cidades?

Cada caso é um caso. Cidades menores são mais aptas a mudanças rápidas. Um exemplo bom é o Rio de Janeiro, que viveu por décadas uma situação de desesperança e, de alguns anos para cá, está numa maré ascendente, fazendo conquistas e olhando para seu futuro de maneira muito mais generosa. Existem grandes projetos de recupe-


Auto-engano (Editora Companhia das Letras, 1997)

As partes & o todo (Editora Siciliano, 1995)

Vícios privados, benefícios públicos? Editora Companhia das Letras, 1993)

ração urbana como o da zona portuária e que vão mudar a paisagem urbana e a qualidade de vida do Rio. Sempre que vou ao Rio volto com a impressão de que a cidade está vivendo um momento de virada, e para melhor. Coisa que eu não sinto quando vou a Salvador, uma cidade em momento de decadência e falta de perspectivas. Qual o valor e a potência da educação neste contexto em que o empoderamento do cidadão ainda é uma ideia que encontra resistências e o acesso é limitado por diversos fatores? Como ultrapassar barreiras e quais as possibilidades do sistema educacional brasileiro?

O Brasil universalizou o acesso ao Ensino Fundamental no final dos anos 80; os EUA completaram este movimento na década de 90 do século XIX. Demoramos um século para garantir o acesso da totalidade das crianças de 7 a 14 anos a esta fase da educação formal. No entanto, tem muita gente completando o Ensino Fundamental sem ter adquirido as competências, o conhecimento associado a este grau educacional. Um dado espantoso apareceu em pesquisa do Ibope e não me saiu mais da cabeça, acionando alarmes sobre o que se passa na educação brasileira. O instituto fez uma pesquisa para aferir a extensão do analfabetismo funcional no Brasil, um critério bastante exigente que inclui conseguir interpretar um texto, relacionar ideias, separar fato de opinião, fazer operações aritméticas. Foi constatado que 38% dos egressos do Ensino Superior no Brasil são analfabetos funcionais. Ou seja, mais de um terço dos que completam a faculdade não são plenamente alfabetizados. Não adianta imaginar que temos 98% das crianças com acesso ao Ensino Fundamental se não existe uma contrapartida de realidade educacional que justifique a obtenção deste grau. No seu livro Felicidade, a troca de ideias e a conversa filosófica entre amigos é fonte de bem-estar. Este aspecto de transcendência da vida humana, muitas vezes visto com preconceito pela ciência, seria importante de ser retomado?

A pergunta que está por trás disso é: o que torna uma vida humana digna de ser vivida? Percebo que o caminho que hoje se apresenta não é bom nem do ponto de vista da sustentabilidade, nem do ponto de vista da realização que ele proporciona. Não é

Felicidade (Editora Companhia das Letras, 2002)

O Valor do Amanhã (Editora Companhia das Letras, 2005)

sustentável porque não é generalizável. Se atingirmos um padrão de consumo parecido com o que há hoje nos EUA, o planeta não comporta. O que os norte-americanos consomem de eletricidade para ar condicionado é mais do que o uso de energia elétrica de todo o continente africano para todas as finalidades. China e Índia estão seguindo os passos desse caminho que não levará a um bom termo. Pelo bem, pelo mal, teremos de encontrar alternativas. A outra dimensão é que esse caminho da corrida pelo consumo também não entrega a felicidade que promete. Essas duas realidades colocam a necessidade de se repensar as maneiras de se organizar a vida em sociedade. Quais são os valores que deveriam presidir uma vida humana que não esteja totalmente calcada no sucesso econômico? Tendo a crer que uma alternativa relevante é um modo de vida em que as relações pessoais e a busca da expressão no campo da arte, da ciência ou da religião possam ter um peso muito maior do que têm hoje. A proposta de Felicidade gira em torno destes assuntos e é bastante inspiradora.

A proposta é indagar sobre o que permanece vivo e o que caducou na promessa de felicidade oriunda do projeto iluminista do século XVIII: alcançar padrões crescentes de realização humana através do crescimento da riqueza e dos padrões de consumo. Estamos em condição de fazer uma avaliação crítica desse sonho iluminista e do que ele não contemplou. Um limite muito central é a ideia de que esse processo civilizatório calcado na racionalidade entristece o animal humano. Uma ideia que abordo no livro é que todo sofrimento humano resulta da incongruência entre os desejos e o curso dos acontecimentos. Há duas maneiras de corrigir essa inconsistência: ou você altera o mundo de forma que ele possa atender seus desejos, ou você altera os seus desejos. O projeto iluminista é o primeiro caminho, no sentido de transformar radicalmente o mundo de modo que ele atenda às aspirações humanas. O caminho oriental tradicional é o outro – eu mudo minhas preferências e desejos de modo que nada possa afetar minha paz e tranquilidade. No fundo, todo ser humano combina um pouco das duas estratégias. O que se está buscando no mundo é um reequilíbrio das duas possibilidades de redução do que nos causa sofrimento e sensação de frustração na vida. ideal comunitário 7


panorama social

Nos próximos dez anos, o número de pessoas com mais de 60 anos no planeta vai aumentar em quase 200 milhões, superando a marca de 1 bilhão de pessoas. Em 2050, serão 2 bilhões, o equivalente a 20% da população mundial e superando o número de jovens de até 15 anos. Os números constam no relatório divulgado pelo Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA, na sigla em inglês). Segundo o UNFPA, o envelhecimento da população será mais perceptível nos países emergentes. Para o Brasil, a previsão é que o número de idosos triplique até 2050, passando de 21 milhões para 64 milhões de pessoas – ou seja, passarão a representar 30% da população brasileira. Os números quantificam um desafio mundial: o da inclusão dos idosos. O relatório do órgão das Nações Unidas ressalta que um dos maiores problemas enfrentados pelas pessoas mais velhas é o preconceito. Jordelina Schier, coordenadora do Núcleo de Estudos da Terceira Idade (Neti) da Universidade Federal de Santa Catarina, ressalta que este preconceito está ligado à persistência de mitos sobre o envelhecimento. “Nossa

Acesso à educação

foto: Shutterstock

Mundo terá 1 bilhão de idosos em 2050

noção de velhice é de que o velho é inativo, deixou de produzir, não precisa fazer ou aprender mais nada”, comenta. O próprio estudo do UNFPA mostra que, ao contrário do que diz o senso comum, os idosos são, muitas vezes, quem sustenta financeiramente as famílias. Inverter esta lógica, diz Jordelina, é tarefa da educação. “É preciso ensinar que a velhice faz parte da vida e que, mesmo velhos, temos habilidades que podem e devem ser aproveitadas”, afirma a coordenadora do Neti. Ela ressalta que oportunidades educativas também devem ser oferecidas aos idosos, inclusive para que aprendam a conviver com as limitações que naturalmente surgem com o passar dos anos. A coordenadora do Neti lembra que o Brasil já avançou na construção de políticas públicas para a população idosa. O Estatuto do Idoso ganhou, inclusive, destaque no relatório do UNFPA. Jordelina cita, também, a Política Nacional de Saúde do Idoso. Porém, ela lembra: “São dispositivos legais. Depende da sociedade civil formar grupos de pressão para exigir as ações que concretizem estas políticas.”

Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio 2011 (Pnad) mostram a relação entre a renda da família e a frequência escolar:

Nas famílias com renda per capita de até ¼ do salário mínimo, estão na escola...

Nas famílias com renda per capita maior que 1 salário mínimo, estão na escola...

69,1%

88,9% das crianças de 4 a 5 anos

97,4%

99,2% das crianças de 6 a14 anos

85,2%

83,7% dos jovens de 15 a 17 anos

8 ideal comunitário


Para ouvir melhor as crianças A Childhood Brasil e o Conselho Nacional de Justiça firmaram, em outubro, um termo de cooperação para incentivar o Depoimento Especial de crianças e adolescentes vítimas ou testemunhas de violência sexual. O objetivo é assegurar o direito das crianças e dos adolescentes à justiça de forma protegida.

No Depoimento Especial, a criança é entrevistada por um profissional capacitado, fora da sala de audiência, em um local acolhedor e amigável. A parceria prevê capacitações à distância e cursos presenciais, qualificando profissionais do Judiciário que realizam as entrevistas. Há cerca de 40 salas de Depoimento Especial instaladas no Brasil. Até o fim do ano, outras 38 devem ser implantadas.

Direto ao ponto

Letra Miúda: Conselhos Nacionais

Patricia Santin, gerente da área de Infância e Adolescência da Fundação Telefônica Vivo, fala sobre a campanha colaborativa É da nossa conta! Trabalho Infantil e Adolescente. A campanha propõe que os cidadãos tornem-se agentes multiplicadores contra o trabalho infantil nas redes sociais.

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea)

O objetivo da campanha é dar visibilidade ao tema do trabalho infantil e adolescente. Por que ainda é preciso investir nesta estratégia? Nas duas últimas décadas, o Brasil reduziu muito o número de crianças em situação de trabalho infantil, e isso se deve às políticas públicas de enfrentamento ao trabalho infantil como o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti) e mais recentemente o Bolsa Família. Mas, segundo o último senso do IBGE, ainda temos 3,7 milhões de crianças e adolescentes em situação de trabalho infantil no país, mais da metade delas concentrada nas regiões Norte e Nordeste. Na última década a velocidade de redução caiu muito, o que indica que as atuais estratégias de enfrentamento ao trabalho infantil precisam ser revistas. O país é signatário das principais convenções internacionais e se comprometeu a erradicar as piores formas de trabalho infantil até 2016 e todas as formas até 2020. Nessa velocidade de queda, o país não cumprirá a meta. Então, ainda é sim necessário investir no combate ao trabalho infantil e principalmente na conscientização da população, porque temos uma cultura de aceitação do trabalho infantil que atrapalha o seu enfrentamento.

Conanda – Conselho Nacional dos Direitos da

divulgou relatórios do projeto “Conselhos nacionais: perfil e atuação dos conselheiros”. Na página http:// www.ipea.gov.br/participacao/relatorios/114-novos-relatorios-sobre-perfil-dos-conselheiros-nacionais-disponiveis podem ser consultados os perfis de todos os órgãos participativos ligados às políticas sociais. Conheça alguns dos Conselhos envolvidos nas áreas de atuação do Instituto Camargo Corrêa:

Criança e do Adolescente é responsável pela definição das diretrizes para a Política Nacional de Promoção, Proteção e Defesa dos Direitos de Crianças e Adolescentes e pela gestão do Fundo Nacional da Criança e do Adolescente. Cnas – Conselho Nacional de Assistência Social é responsável por aprovar e coordenar a Política Nacional de Assistência Social, além de gerir o Fundo Nacional de Assistência Social. Cnes - Conselho Nacional de Economia Solidária tem função consultiva e propositiva e é espaço de interlocução permanente entre governo e sociedade civil.

Por que trabalhar com as redes sociais? Nos últimos anos, as redes sociais têm nos dados excelentes exemplos de mobilização da sociedade civil. Queremos aproveitar todo esse potencial para mobilizar o cidadão comum para a causa do combate ao trabalho infantil, orientando e mostrando o que cada um pode fazer.

CNE – Conselho Nacional de Educação é responsável por definir as normas da educação nacional e assessorar o Ministério da Educação.

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I nf â n c i a

foto: Nello Aun

Trabalho que dá

resultado

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Modelo de referência e inovador, método de investimento social privado desenvolvido pelo Instituto Camargo Corrêa tem gerado transformações importantes em Pedro Leopoldo (MG)

Direito a brincar e aprender Crianças brincam em um dos Centros Municipais de Atenção à Infância: todos os profissionais da educação infantil do município foram capacitados em projeto do Infância Ideal ideal comunitário 11


foto: Nello Aun

foto: Nello Aun

I n fâ n c i a

Atenção às gestantes Maria de Lourdes coordena o Escola da Gestante, que virou política pública assumida pelo município

Muita coisa mudou na cidade de Pedro Leopoldo, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (MG), desde 2007, quando a InterCement, empresa do Grupo Camargo Corrêa, começou a implantar na cidade ações sociais que seguiam o novo modelo de atuação criado naquele ano pelo Instituto Camargo Corrêa (ICC). Passados cinco anos, os projetos tornaram-se objeto de um estudo de caso realizado pela Fundação Dom Cabral (FDC). O objetivo da análise foi documentar e avaliar a experiência após esse período de atuação na cidade. Para Nísia Werneck, que coordenou o estudo, o modelo de Investimento Social Privado (ISP) desenhado pelo Instituto para o Grupo é inovador. “Tem gerado transformações importantes em Pedro Leopoldo e nos outros municípios onde está presente”, afirmou a pesquisadora [veja entrevista à pág. 17]. A primeira ação desenvolvida de acordo com esse novo modelo foi o programa Infância Ideal e a primeira cidade a recebê-lo foi Pedro Leopoldo. Construído a partir de um novo plano de ação, realizado em 2007, que também definiu qual seria o público das ações desenvolvidas, o programa 12 ideal comunitário

visa defender os direitos da infância por meio de uma atuação integrada entre o Instituto, organizações sociais locais, empresa e grupos parceiros. Para isso, é criado um Comitê de Desenvolvimento Comunitário (CDC) que participa de todas as etapas, desde a definição de prioridades, até o desenho e acompanhamento dos projetos. De acordo com a coordenadora do Infância Ideal, Juliana Di Thomazo, a primeira tarefa do CDC é definir as áreas prioritárias de atuação. “Para tanto, em oficinas realizadas com o grupo, fazemos o que chamamos de ‘desenho de cenário da infância’, no qual usamos informações sobre as políticas públicas e ações realizadas por organizações sociais, além de dados oficiais sobre a situação das crianças e dos adolescentes no município”, explica. Em Pedro Leopoldo, o CDC definiu quatro prioridades: capacitar profissionais da educação infantil; aprimorar o atendimento de gestantes e recém-nascidos; fomentar o lazer e a cultura e reduzir o índice de gravidez na adolescência. Foram, então, formados subgrupos para desenvolver projetos relacionados a cada tema. Mais tarde, outra meta foi adicionada: integrar e fortalecer os vários serviços de saúde, educação e assistência social do Sistema de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente no município. Para além da metodologia, a experiência do Instituto, da InterCement e da comunidade de Pedro Leopoldo torna-se referência em investimento social especialmente pelos resultados alcançados. “Esta experiência tem nos trazido resultados empresariais significativos, além do senso de realização por construirmos um legado para além das conquistas econômicas”, diz o presidente da InterCement, José Édison Barros


Franco. “Pedro Leopoldo foi nosso primeiro passo e nossa inspiração para os seguintes. Hoje, todas as nossas fábricas desenvolvem trabalho semelhante.” eSCOla para MãeS Os relatos dos realizadores e dos beneficiários dos diversos projetos desenvolvidos no município dão uma medida mais exata do sucesso das ações. Por exemplo: quando conheceu o projeto Escola da Gestante, a agente de saúde Camila Moreira, 20 anos, era uma adolescente tímida que cursava o último ano do Ensino Médio e havia engravidado “por acidente”, como ela diz. Hoje, Camila frequenta a Clínica de Saúde da Mulher e da Criança acompanhada da filha, a simpática Maria Júlia – ou Juju, como ela faz questão de ser chamada –, que já completou 3 anos. O projeto foi fundamental para Camila inclusive na hora de dar a notícia da gravidez à família e lidar com a reação da mãe, que, a princípio, não aceitou muito bem a situação. Lá ela também esclareceu muitas dúvidas a respeito da gravidez e aprendeu como agir no momento que mais temia: a hora do banho do neném. Além da participação dos pais nos cuidados com os recém-nascidos, planejamento familiar e direitos da mulher, o projeto inclui discussões sobre higiene, saúde bucal, alimentação, a modificação do organismo durante a gravidez, o desenvolvimento do feto e a importância da amamentação. O trabalho ajuda as mães de primeira viagem, mas também as mulheres

Foto: NEllo auN

DESDE A bArrigA camila (na capa do número 9 de Ideal Comunitário) foi uma das primeiras mulheres atendidas pelo Escola da Gestante, onde aprendeu a dar banho no bebê. agora, a filha Juju, de 3 anos, é acompanhada no centro de atenção à saúde da Mulher e da criança

que já têm mais de um filho e, muitas vezes, não receberam todas as informações que precisavam. Há ainda as que passaram pelo programa e voltam quando engravidam novamente. O trabalho da Escola da Gestante vai além do acompanhamento médico. O objetivo é aprimorar a atenção às mulheres durante a gravidez e, assim, diminuir os índices de mortalidade materno-infantil. Para isso, é preciso oferecer um pré-natal adequado, o que requer um trabalho em vários níveis. “O pré-natal adequado é a construção de toda a saúde do cidadão”, ressalta a médica Maria de Lourdes Costa, coordenadora do projeto. Maria de Lourdes destaca, ainda, a importância da humanização do atendimento aos pacientes. O projeto foi assumido pela prefeitura de Pedro Leopoldo e estendido para toda a rede do Serviço Único de Saúde da cidade, atendendo cerca de 800 mulheres por ano. “Temos como premissa que nossos projetos fortaleçam as políticas públicas e não sejam ações paralelas, desconectadas. Um projeto transformar-se em uma política pública é o maior sinal de que estamos cumprindo essa meta”, avalia Juliana Di Thomazo. iNteGraçãO É a palaVra Atuando em conjunto com a Escola da Gestante está o Programa de Educação Afetivo Sexual (Peas), cujo foco é a diideal comunitário 13


I nf â n c i a

Formação de educadores Desde que a prefeitura municipalizou a educação infantil, o atendimento a crianças de 0 a 6 anos em Pedro Leopoldo é realizado em 12 escolas municipais, três anexos em escolas estaduais e 13 Centros Municipais de Atenção à Infância (Cemais). Este ano, todos os profissionais dessas instituições receberam certificação pela Fundação Pedro Leopoldo (FPL) após concluir um curso de formação continuada iniciado em 2008. O grupo de coordenação – que inclui diretoras, vice-diretoras, pedagogas das escolas de educação infantil e coordenadoras dos Cemais – recebeu certificado de especialização em Educação Infantil. O curso fez parte de um projeto do programa Infância Ideal. Segundo a chefe da Divisão de Ensino da Secretaria Municipal de Educação da cidade, Denise Botelho, esse trabalho em conjunto foi fundamental. “A qualidade do atendimento, o envolvimento dos profissionais da empresa e a certeza que eles – ICC e InterCement – têm do caminho que estão trilhando dão uma tranquilidade imensa para a gente que está na secretaria e para os pais também”, comenta. A assistente administrativa Arlete dos Santos, 41 anos, buscava uma creche para a filha Scarleth, na época recém-nascida, quando decidiu visitar o Cemai perto de sua casa. “Fui a algumas escolinhas particulares em Sete Lagoas, onde trabalho, mas

foto: Nello Aun

minuição dos índices de gravidez não planejada, de doenças sexualmente transmissíveis, do uso de drogas, da violência e dos problemas de relacionamento na adolescência. O projeto surgiu em 2009, com a formação de duas turmas de facilitadores, que desenvolvem atividades com adolescentes entre 13 e 15 anos e seus familiares. Logo em seguida, foi formada uma nova turma e atualmente está sendo desenvolvido um trabalho para a criação de uma equipe técnica local de caráter permanente. A atuação integrada é um dos objetivos do último projeto iniciado no município, o Recriar em Rede. O objetivo é promover o fortalecimento do Sistema de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente através da mobilização e capacitação continuada dos profissionais da infância e da juventude; da articulação dos diversos serviços e setores; da sistematização de práticas, conhecimentos e planos produzidos pela rede e do reordenamento e a qualificação do serviço de acolhimento institucional prezando pelo direito de toda criança à convivência familiar e comunitária. Outro projeto que integra o Infância Ideal é o Lazer, Esporte e Cultura (LEC), que atende crianças de 0 a 6 anos. O LEC se divide em duas ações: Brincar e Aprender, que criou um espaço de brincar na Quinta do Sumidouro, povoado de Pedro Leopoldo, e Nadar e Crescer, que oferece aulas de natação para crianças com problemas respiratórios e palestras informativas sobre saúde.

Integração e resultados Denise, da Secretaria de Educação, e Cynthia, das Faculdades Integradas de Pedro Leopoldo, destacam compromisso do ICC e da InterCement e os resultados alcançados na educação infantil 14 ideal comunitário


NA INTERNET v Leia a íntegra da pesquisa Novas Fronteiras do Investimento Social: Aprendizagens de uma experiência em http://www.institutocamargocorrea.org.br/Documents/Caderno_FDC_web.pdf

Confiança Arlete, com a filha Scarleth e o marido Ronaldo: “O Cemai é como uma extensão da casa da gente.”

foto: Nello Aun

Grande desafio, grandes mudanças Um diferencial dessa formação é que ela não foi voltada somente para a equipe pedagógica. “Queríamos construir a ideia de que todo profissional que trabalha em uma instituição de educação infantil é um educador”, afirma a professora Cynthia Terra, das Faculdades Integradas de Pedro Leopoldo, coordenadora pedagógica do projeto. Assim, além de professores, supervisores e diretores, toda a equipe de apoio – auxiliares de serviços gerais, porteiros, cozinheiras – também recebeu formação. Uma das profissionais formadas pelo projeto foi Dilcéia Mendes, que trabalha em um Cemai há seis anos. Junto com a coordenadora da instituição, Ana Gabriela Viana, ela vivenciou todo o processo de mudança após a municipalização e o curso de formação. “Minha carreira deu uma guinada. Tínhamos o rótulo de ‘crecheiras’ e hoje somos vistas e respeitadas como educadoras”, afirma orgulhosa. Apesar de gratificante, não foi nada fácil. “Era tanta informação que cheguei a pensar que não daria conta, mas tive muito apoio da minha coordenadora, muita vontade de aprender e de ajudar a melhorar o perfil da creche.” De acordo com Ana Gabriela, uma das principais mudanças que o projeto proporcionou foi o modo como as profissionais passaram a enxergar e a tratar os meninos e meninas. “Quando assumi a creche, elas viam as crianças como robozinhos: ‘eu mando, você obedece’. A partir do curso de formação, as crianças passaram a ser vistas como sujeitos de direito”, diz Ana. Segundo a coordenadora, as educadoras tinham potencial, mas precisavam muito do suporte e do estímulo que a formação ofereceu. “Hoje, elas perguntam para as crianças qual brincadeira preferem e não se importam se veem alguma delas mexendo na terra, por exemplo. Antes isso era impensável.”

foto: Nello Aun

quando conheci o Cemai, me encantei”, lembra. Com pouco mais de 3 meses de vida, Scarleth já frequentava o Centro. “A adaptação foi mais difícil para mim porque, no início, ficava com o coração apertado por me separar dela. Mas sempre me senti muito tranquila sabendo que ela estava no Cemai, que é como uma extensão da casa da gente”, diz Arlete. Hoje, prestes a completar 4 anos de idade, Scarleth fica no Centro das 8h às 17h. Lá a menina faz suas refeições, toma banho, tira uma soneca depois do almoço e brinca, brinca, brinca.

Profissionais da educação A educadora Dilcéia (à esq.) orgulha-se de não ser mais crecheira; a coordenadora Ana comemora as mudanças

ideal comunitário 15


foto: Nello Aun

I n fâ n c i a

PARCERIAS O intercâmbio entre empresa, poder público e organizações comunitárias foi de fundamental importância para o sucesso do programa Infância Ideal em Pedro Leopoldo. Conheça todas as parcerias do Instituto Camargo Corrêa e da InterCement: Projeto de Formação de Professores – Secretaria Municipal de Educação de Pedro Leopoldo, Fundação Pedro Leopoldo, Fundação José Hilário de Souza, Instituto Avisa Lá. Lazer, Esporte e Cultura – Associação de

Direitos integrais Projetos reforçaram os serviços de atenção e a rede de proteção aos direitos de crianças e adolescentes

Moradores Antônio Francisco Lisboa, Academia Alta Energia. Escola da Gestante – Pastoral da Criança, Secretaria Municipal de Saúde, Hospital e

E o trabalho continua A metodologia de investimento social privado que foi desenvolvida em Pedro Leopoldo a partir da implementação do programa Infância Ideal foi tão bem sucedida e fortaleceu de tal forma a relação entre empresa e comunidade que a expansão das ações do ICC no município está acontecendo de forma acelerada. Este ano, teve início o programa Escola Ideal, que visa contribuir com a melhoria da qualidade da educação pública do ensino fundamental. Para isso, foi estabelecida uma parceria com a Secretaria Municipal de Educação, que propôs a ampliação do programa para as escolas de educação infantil. Dentro do Escola Ideal estão os projetos: Sistema de Gestão Integrado, Juntos pela Escola Ideal, Ler: Prazer e Saber, Jornal Escolar, Educação Inclusiva, Escrita para Todos e Grupo Livre de Estudos e Formação. Além da troca de informação entre os projetos, formando uma rede de atuação integrada, foi também criada, a partir da mobilização dos profissionais da InterCement, uma rede de voluntários formada pela própria comunidade. O programa Ideal Voluntário, do ICC, tem como objetivo criar condições para que os profissionais das empresas do Grupo exerçam sua cidadania através do voluntariado. Além das ações permanentes, realizadas pelos grupos de voluntários, o programa realiza o Dia do Bem-Fazer, evento anual de incentivo ao voluntariado. Em Pedro Leopoldo, o evento reuniu, este ano, cerca de 3 mil pessoas. Dentre elas estava Camila Moreira, a agente de saúde que aparece no início desta reportagem, que ajudou a pintar as paredes do Cemai frequentado por sua filha Juju. 16 ideal comunitário

Maternidade Doutor Eugênio Gomes de Carvalho, Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, Lyons Club, Sociedade São Vicente de Paulo, Fundação José Hilário de Souza, Rotary Club, Lar Solidário Lagoa. Programa de Educação Afetivo Sexual – Prefeitura Municipal de Pedro Leopoldo (secretarias de Educação, Saúde, Desenvolvimento Social), Centro de Referência de Assistência Social (Cras), Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas), Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, Conselho Tutelar, Consultoria Integrar. Proteção Integral e Atuação em Rede na Garantia de Direitos de Crianças e Adolescentes – Associação Brasileira de Magistrados, Promotores de Justiça e Defensores Públicos da Infância e da Juventude (ABMP).


Foto: tatI WEXlER

inovação e referência

são as marcas do programa

infância ideal

Especialista em análise econômica do desenvolvimento urbano, a professora associada da Fundação Dom Cabral Nísia Werneck coordenou o estudo de caso Novas Fronteiras do Investimento Social: aprendizagens de uma experiência, que avaliou o investimento social da Camargo Corrêa no município de Pedro Leopoldo (MG). O estudo contou, ainda, com o trabalho das pesquisadoras Juliana Travassos e Flávia Alvim. O que mais lhe chamou a atenção durante a pesquisa? O modelo de trabalho. As ações são bem feitas porque nasceram de um projeto bem feito. E, mais importante que o projeto em si, foi o processo que, além de ser um sucesso, é replicável. É um modelo que dá para trabalhar em qualquer localidade, que pode gerar vários tipos de ação. É um modelo de referência, inovador e tem gerado transformações importantes não só em Pedro Leopoldo, mas também nos outros municípios onde está presente. Qual é a inovação desse modelo de trabalho? A conexão. É muito comum as empresas criarem os institutos e delegarem para aquela área toda a ação social. No caso do programa Infância Ideal, houve interação entre o Instituto Camargo Corrêa (ICC) e a empresa (InterCement). O ICC não é o executor, ele é gestor, fornece conhecimento, tecnologia. Mas quem executa é a InterCement. E há conexão também com a comunidade. A empresa não chegou com um projeto pronto. Ele foi construído em conjunto com os moradores da cidade. Foi um diagnóstico participativo e isso é um grande diferencial de atuação. Qual a principal razão desse novo modelo ter tido êxito em Pedro Leopoldo? O fato de tratar dos problemas que efetivamente a cidade estava necessitando que fossem resolvidos. O que foi priorizado era o que efetivamente estava atormentando e preocupando as pessoas. Para isso, a empresa estabeleceu contato com or-

ganizações locais que desenvolviam experiências exitosas nos setores que a comunidade apontou como problemas. Além de servir de estímulo, isso fortaleceu as instituições, que tiveram o trabalho reconhecido e servindo de modelo. É um processo que encurta o caminho e todo mundo ganha. A organização aumenta seu impacto e a comunidade vê o resultado mais depressa. Outro aspecto foi o compartilhamento da governança do projeto. Por meio do Comitê de Desenvolvimento Comunitário a empresa fechou o ciclo de participação, as coisas se integraram, não ficaram separadas umas das outras. A atuação se deu de modo transversal em todo o ciclo do projeto. Quais as vantagens do investimento social privado para as empresas e a comunidade? Ao trabalhar dessa forma, a empresa conquista a confiança da comunidade e cria um capital social. É uma espécie de “saldo no banco”. É preciso gerar capital econômico, mas o capital social também é importante e esse conceito é uma coisa nova. Ele é um ativo intangível da empresa e que está sendo muito valorizado. Ela cria uma relação de confiança e, com isso, consegue resolver problemas de forma mais fácil. Se um dia for preciso ampliar a fábrica, por exemplo, é muito mais provável que as pessoas acreditem nos compromissos que a empresa assumir porque elas sabem que, todas as vezes que fizeram um acordo, ele foi cumprido. E quanto mais você usa o capital social, mais ele cresce. E, da forma como o trabalho é feito, ele se estende à comunidade, cria um canal de comunicação que estreita as relações. As organizações que participam do programa em Pedro Leopoldo têm um relacionamento com o governo que gera uma possibilidade maior de articulação. Isso é capital social pra elas também.

ideal comunitário 17


educação Básica

Pondo a mão na massa pela

foto: Mariana Guerra

EDUCAÇÃO DE QUALIDADE

Projeto Juntos pela Escola Ideal mobiliza voluntários para reformar escolas públicas e transforma os mutirões em oportunidades educativas 18 ideal comunitário


de ligação ou afeto dos alunos e da comunidade com a escola, que é o que as atividades buscam incentivar.” Conhecer, participar, cuidar O guia indica atividades para serem realizadas antes, durante e depois do mutirão e, como resume Lúcia, estão assentadas sobre a ideia de que “para manter a escola, é preciso gostar dela”. O momento anterior à reforma é dedicado ao reforço dos laços afetivos entre os alunos e a instituição de ensino. Sob o mote “conhecer para amar”, são sugeridas atividades que resgatam a história da escola ou a importância dela para a comunidade. “Isso pode ser feito com entrevistas com os professores, com moradores do bairro”, exemplifica Lúcia. Outras formas de resgate são a realização de exposições sobre a história da instituição ou a redação de textos e poesias que falem da escola. A realização do mutirão em si é outro momento que pode ser aproveitado para reforçar os laços com a escola. Afinal, como diz a cartilha “Amar é tomar parte”. As crianças podem participar da mobilização, fazendo cartazes ou panfletos. Os alunos também podem entrevistar os participantes e registrar as atividades dos voluntários. Com a escola reformada, o foco das atividades é reforçar os valores do cuidado e da preservação da escola. foto: Mariana Guerra

Melhorar a qualidade da educação nas escolas públicas de Ensino Fundamental exige transformações em vários níveis, a começar pelo mais aparente: as condições físicas das escolas. De tão óbvio, parece até tolice chamar a atenção para o fato de que as instituições de ensino devem ter estrutura adequada para acolher bem alunos e professores. Mas não há nada de tolo, nem mesmo superficial na tarefa de melhorar a aparência e a infraestrutura das instituições. Uma escola bonita é um convite ao aprendizado e cuidar deste espaço tem também o seu valor pedagógico. Tudo isso tem sido experimentado pelas mais de cem escolas beneficiadas pelos mutirões já realizados pelo projeto Juntos pela Escola Ideal. A iniciativa, que faz parte do programa Escola Ideal do Instituto Camargo Corrêa, mobiliza voluntários das empresas do Grupo Camargo Corrêa e da comunidade escolar para trabalharem na reforma das escolas participantes. As transformações, no entanto, vão bem além da aparência e começam antes dos voluntários colocarem a mão na massa, nos tijolos e nas tintas. Desde o início do projeto em 2008, quando foram realizados os primeiros mutirões na Paraíba, em parceria com o Instituto Alpargatas, o Juntos alia ao seu objetivo principal – a revitalização e melhoria das instalações físicas das escolas – oportunidades para que os participantes e beneficiários aproveitem o potencial pedagógico dos mutirões. Para isso, foram desenvolvidas dois guias de atividades: um voltado aos voluntários, com foco no significado do voluntariado e com dicas técnicas sobre o trabalho na reforma, e outro para a escola, com orientações para que os educadores desenvolvam atividades que incentivem a reflexão sobre a relação de cada um com o espaço escolar e a preservação do patrimônio público. No último ano, este aspecto do projeto foi reforçado com a inclusão de um encontro formativo oferecido aos educadores das escolas que receberão os mutirões. A formação foi realizada em todos os municípios que recebem o projeto. Lúcia Helena Nilson, consultora do projeto, conta que os encontros mostraram-se importantes para que os participantes dos mutirões pudessem trocar ideias sobre como tirar do papel as propostas da cartilha. “É uma formação para que as pessoas conheçam o guia e o que o projeto propõe”, diz Lúcia. “Não é simplesmente ‘ir lá e arrumar a escola’. Isso não criaria nenhuma possibilidade

Juntos em Ipojuca (PE) Voluntários da comunidade e do Consórcio CNCC – Camargo Corrêa CNEC trabalham no mutirão na Escola Municipal Nossa Senhora de Fátima ideal comunitário 19


foto: Fernando Lara

foto: Mariana Guerra

educação Básica

Crianças também participam Em Ipojuca (PE – à esq.), estudantes de Pedagogia criam atividades especiais; em Santana do Paraíso (MG), elas realizam tarefas simples, como limpar mesas e cadeiras, sob a supervisão dos voluntários adultos

Aldeniza Souza Batista Martins, articuladora do Escola Ideal na Secretaria Municipal de Educação de Guajará-Mirim, ressalta a diferença entre os mutirões realizados antes e depois da formação. “As atividades educativas não estavam ocorrendo antes e a formação fez todos verem que o mutirão não é só pintar a escola, mas também é educar”, relata. Aldeniza diz que até mesmo a ideia de mutirão, do fazer juntos, enfrentava alguma resistência nas escolas. Por isso, também os funcionários, como as cozinheiras, participaram da formação no município. A consultora Lúcia elogia a experiência, repetida em Ipojuca. “Isso faz com que todos se sintam parte do processo de transformação pelo qual a escola vai passar”, afirma. Transformação Os mutirões do Juntos pela Escola Ideal reformaram, até outubro deste ano, 145 escolas em cinco estados. Quando o projeto nasceu na Paraíba, praticamente junto com a instalação do programa Escola Ideal no estado, a intenção era resolver a situação emergencial de algumas instituições. “Visitamos escolas, especialmente na zona rural, que haviam sido construídas há 20 anos e nada tinha sido feito depois. Algumas tinham condições bastante precárias, como ausência de banheiros ou água encanada”, conta Francisco de Assis Azevedo, diretor executivo do ICC. A ideia dos mutirões surgiu 20 ideal comunitário

como uma solução imediata, mas ao mesmo tempo sem deixar que as reformas fossem um fim em si mesmo. “O projeto visa maior envolvimento das pessoas, da comunidade, dos pais na vida da escola”, lembra Azevedo. Na Paraíba, até o momento, foram reformadas 121 instituições de ensino em seis municípios, sempre com a participação dos profissionais da Alpargatas e do Instituto Alpargatas (IA) na execução. “Todo o processo é monitorado, avaliado e seus resultados são divulgados para a comunidade”, diz Berivaldo Araújo, diretor executivo do IA. “Dele resulta um ambiente escolar mais apropriado ao aprendizado, maior motivação dos professores e melhor rendimento por parte dos alunos.” A experiência da Escola Municipal Antônio José de Andrade confirma a afirmação de Berivaldo. Maria Leozilda Alves da Silveira, diretora e professora da escola, localizada na zona rural de Mogeiro, diz que o mutirão realizado em 2009 ainda ecoa pelos corredores e salas de aula. “A gente percebia que tinha um certo desinteresse, uma falta de estímulo, talvez por conta da situação da escola antes, que não tinha uma boa aparência, não convidava o aluno a estar na escola”, diz Leozilda, lembrando que a instituição não tinha água encanada nem sistema de esgoto. “Hoje, a gente vê que os alunos perceberam as mudanças. Aumentou a participação nas aulas, nos projetos.” A diretora diz que a euforia das crianças com o fato de a escola estar mais bonita e ter um ambiente apropriado para re-


ceber os alunos da Educação Infantil ao 5º ano do Fundamental foi aproveitada desde o início e ainda é aproveitada. “Logo depois, nós conversamos com os alunos: ‘Tá bonita a escola? Vamos fazer nossos combinados pra continuar assim?’ E, para nosso orgulho, está tudo certinho e no lugar até hoje.” MãO Na MaSSa As reformas das escolas acontecem em três fases: há as reuniões com os voluntários e com a comunidade escolar; a reforma prévia dos espaços, onde são feitas as intervenções maiores como instalações hidráulicas ou construção de salas, e o mutirão em si, quando os voluntários reúnem-se para os toques finais. Tudo isso para garantir tanto o envolvimento da comunidade, como a parceria com o Poder Público, já que as prefeituras também são parceiras dos projetos e entram com contrapartidas na realização das reformas. Além, é claro, do engajamento dos profissionais do Grupo Camargo Corrêa com o voluntariado e a causa da educação básica de qualidade.

JuNTOS EM MuiTOS lugArES até outubro de 2012, o Juntos pela Escola Ideal reformou:

145

13

escolas

5

em municípios

de estados rondônia Guajará-Mirim

CArTilhAS Icc desenvolveu guias para escolas e voluntários com foco na preservação do patrimônio

Empresa parceira: Construtora Camargo Corrêa Paraíba campina Grande, alagoa Nova, Guarabira, Ingá, Mogeiro e serra Redonda Empresa parceira: Alpargatas/Instituto Alpargatas Pernambuco Ipojuca Empresas parceiras: Estaleiro Atlântico Sul/ Consórcio CNCC – Camargo Corrêa CNEC Minas gerais Pedro leopoldo, Ijaci e santana do Paraíso Empresa parceira: InterCement São Paulo apiaí e Itaoca Empresa parceira: InterCement

ideal comunitário 21


educação Básica

ral do município. Outro diferencial das ações no município é a atenção especial com as crianças. Uma parceria com a Faculdade de Ipojuca garante a presença de estudantes de Pedagogia, que realizam atividades de recreação com as crianças. E o envolvimento das crianças com o mutirão parece ser, mesmo, um destaque nos mutirões. Almir de Aguiar Silva, analista de laboratório sênior da InterCement em Santana do Paraíso, liderou o mutirão realizado em outubro na Escola Municipal João Matias de Oliveira e diz que o que mais lhe chamou a atenção foi o interesse das crianças em participar. “Elas querem ajudar de verdade, então tivemos que achar um jeito delas participarem com tarefas que pudessem realizar”, conta. A criançada, feliz da vida, tirou as cadeiras das salas e, com pano, água e sabão, limparam todas. Isso sem deixar de expressar a alegria de participar da transformação da sua escola cantando no karaokê improvisado pelos voluntários, com um violão e um microfone.

foto: Fernando Lara

“Quando nos reunimos com os pais e professores, a ideia é mostrar à comunidade que só faremos o mutirão se houver envolvimento da comunidade”, conta Jidel Santos, articulador do Escola Ideal em Ipojuca (PE). “Quando as pessoas botam a mão na massa, o aluno vê e diz ‘meu pai pintou’, ‘minha mãe pintou’, e isso gera mais cuidado e preservação.” Nem sempre é fácil convencer as pessoas. Jidel conta a história de uma mãe que, durante um dos encontros, reclamou dizendo que não deixaria de fazer a feira para trabalhar de graça. No entanto, depois da conversa, ela foi a primeira a chegar na escola no dia do mutirão. “E até hoje, quando passo por ela na rua, ela pergunta quando vai ser o próximo.” Em Ipojuca, os mutirões são realizados alternadamente pelos profissionais do Consórcio CNCC – Camargo Corrêa CNEC e do Estaleiro Atlântico Sul. No último mutirão realizado na cidade, cerca de 30 voluntários participaram da reforma da Escola Municipal Nossa Senhora de Fátima, na zona ru-

Juntos em Santana do Paraíso (MG) Profissionais da InterCement participam do mutirão na Escola Municipal João Matias de Oliveira, o terceiro do projeto no município 22 ideal comunitário


histórias de mutirões guAJArÁ-MiriM (rO) irinhas do município, as comunidades indígenas e ribe ia e à beira do Rio localizado na fronteira com a Bolív ladas pelos mutirões Mamoré, também foram contemp s por voluntários do Juntos pela Escola Ideal realizado logística é complicada construtora camargo corrêa. a as a muitas horas de da, pois as escolas estão localizad Mirim. outro difebarco do núcleo urbano de Guajarámunicípio é que eles rencial dos mutirões realizados no e de ressocialização têm sido também uma oportunidad que participam das de homens e mulheres presidiários, atividades de reforma.

iTAOCA (SP) Foram mais de cinco me ses de mutirão. Entre ou tubro de 2011 e abril deste ano, a comunidade do Bai rro Fazenda, na zona rural, reuniu-se todos os finai s de semana para praticamente reconstruir a única escola da região. a antiga escola de madeira e sem nenhum banheiro deu lugar a um pré dio em alvenaria, colori do e adequado para receber as crianças, jovens e adu ltos que frequentam a institu ição de manhã, à tarde eà noite. o trabalho contou com a participação de pro fissionais da Intercement e de empresas forneced oras.

iJACi (Mg) No município mineiro, os dois mutirões realiz ados em 2012 tornaram-se eventos comunitários. Nos dias em que os voluntários reuniram-se para finalizar a reforma das escolas, os profissionais da Intercement também organizaram uma rua de lazer. uma banda forma da por voluntários da fábrica esteve entre as atrações, que incluíam ainda apresentações de dança e teatro e brincadeiras para as crianças.

ideal comunitário 23

Foto: dIVulGação

ANTES E DEPOiS antiga escola no bairro Fazenda, em Itaoca (sP), foi demolida e reconstruída por voluntários ao longo de 5 meses


empreen d e d o ri s m o

Em terra de tomate,

morango

FOTO: RM Medeiros

quer virar rei

24 ideal comunitรกrio


Projeto Semeando Futuros estimula pequenos agricultores de Apiaí (SP) a adotarem o cultivo de orgânicos como alternativa de produção e renda

FOTO: RM Medeiros

Primeiras colheitas Juraci e Jair comemoram resultados com os morangos orgânicos e já planejam a safra de 2013

Com um sorriso largo no rosto, Juraci de Oliveira Rosa conta que herdou da mãe o amor pela agricultura e por Apiaí, cidade de cerca de 26 mil habitantes no Vale do Ribeira, quase na divisa de São Paulo com o Paraná. “Não saio daqui por nada”, diz Jura, como prefere ser chamada. Na lavoura desde criança, conhece bem a rotina dos agricultores da região, que tem na cultura de hortaliças, especialmente do tomate, o seu forte e, graças a isso, uma fama não muito boa de uso exagerado de agrotóxicos. “Mas logo vamos ser referência em morango. E orgânico!”, aposta Jura. A novidade veio com o projeto Semeando Futuros, realizado pelo Instituto Camargo Corrêa, através do programa Futuro Ideal, InterCement, empresa do Grupo Camargo Corrêa que tem uma fábrica de cimento na cidade, e o Instituto Meio. O trabalho em Apiaí prevê certificação orgânica e envolve 32 famílias da Associação dos Pequenos Produtores Rurais do Bairro Garcias (APPRBG). Jura, também vice-presidente da entidade, está no grupo de agricultores que integram o projeto. No segundo semestre deste ano, eles colheram suas primeiras caixas da fruta e estão animados. No ano que vem, vão investir novamente na nova cultura e já prometem até uma Festa do Morango na colheita. “Quem viu nossos resultados se animou e quem plantou está contente”, diz a agricultora. Lars Diederichsen, fundador do Instituto Meio, explica que os pequenos produtores receberam capacitação técnica em cultivo para orgânicos – algo que a maioria nunca havia experimentado – e suporte para a compra de insumos, bem como de sistemas de irrigação para as lavouras e acompanhamento constante de um engenheiro agrônomo. “Nosso objetivo é fortalecer a agricultura familiar sustentável na região de Apiaí, através de investimentos e ações que melhorem a produtividade, incentivem o uso de técnicas agroecológicas e agreguem valor aos produtos por meio da certificação orgânica”, diz Diederichsen. Desde o início do trabalho, 11 produtores já conseguiram a certificação, resultado animador para um período de menos de um ano. Diederichsen conta que a ideia também é dar aos agricultores instrumentos para que consigam se tornar independentes. “A cultura tradicional do tomate deideal comunitário 25


empreen d e d o ri s m o

pende de muito agrotóxico e de intermediários, que fornecem sementes e insumos, mas depois vendem os produtos pagando um preço por eles estipulado”, diz. “Nosso desafio é diminuir a dependência do tomate e quebrar a cultura e a crença de que somente é possível plantar e colher usando pesticidas químicos”. Esta tarefa inclui os agricultores, que precisam ser convencidos de que a mudança de cultura vale a pena, e também a comunidade. Por isso, os morangos orgânicos foram apresentados à população em festas escolares e no festival gastronômico local, evento tradicional de Apiaí. “Conseguimos uma barraca, enfeitamos inteira com morangos, ficou a coisa mais linda”, lembra Jura. O sucesso foi tamanho que, em uma das festas, o suco de morango vendeu mais que cerveja. São crianças No início do projeto, os agricultores enfrentaram muitas dificuldades até que as plantações “vingassem”. Das famílias participantes, 26 plantaram morangos, mas apenas 15 conseguiram colher. “Tivemos problemas com as mudas e com o clima, entre outras situações. No meu caso, por exemplo, plantei 6 mil pés e no final fiquei com 2 mil”, conta Jura. Ainda assim, o resultado e a qualidade dos frutos surpreenderam. “Tanto que todos vão plantar novamente”, afirma.

“O morango é igual criança”, define o agricultor Jair Rodrigues Machado, 67 anos. “Tem que estar todo dia cuidando, para garantir que fique bem”, diz Machado, que nunca havia plantado a fruta e trabalhava há 30 anos no cultivo do tomate, seguindo a cultura convencional, com agrotóxicos. Apesar da resistência inicial, ele aprovou o trabalho no modo orgânico. “Plantei pouco, meio preocupado, mas estou feliz com o resultado e vou plantar de novo”, garante. Ele destaca no projeto o suporte técnico constante que os produtores receberam. “O técnico esclareceu todas as dúvidas, acompanhou de perto. Sem isso, não teríamos colhido nada”, afirma. O técnico em questão é o engenheiro agrônomo Shigueo Sumi, no projeto desde o início. Foi ele quem sugeriu aos produtores que plantassem morangos, a partir do perfil das propriedades e do clima da região – Apiaí fica em uma das áreas mais frias de São Paulo. Shigueo conta que a experiência no Vale do Ribeira tem sido muito estimulante. “Boa parte dos agricultores não tinha qualquer noção de cultivo orgânico, muitos desconheciam questões de nutrição de solo, por exemplo, fator que reduz em muito o uso de agrotóxicos”, diz. “Agora, vejo alguns que não acreditavam que o trabalho seria possível já investindo em orgânicos nas suas propriedades. Percebi neles uma mudança real de paradigma”, avalia o agrônomo. “Nossa

• Reciclagem do material orgânico descartado na propriedade para elaboração de adubos orgânicos - como a compostagem e produção de húmus de minhoca. • Técnicas de conservação do solo e da água para evitar o processo de erosão e contaminação, como cultivo com cobertura do solo. • Utilização de adubos e corretivos para o solo que tenham passado por processos de nenhuma ou mínima interferência química, como rochas moídas e biofertilizantes. • Cultivo associado de diversas espécies vegetais e animais para promover um ambiente diversificado, evitando assim pragas e doenças específicas de uma mesma cultura. • Manejo de pragas e doenças de plantas utilizando métodos mecânicos, físicos e vegetativos (isenção do uso de agrotóxicos) e a não utilização de organismos geneticamente modificados no cultivo.

26 ideal comunitário

FOTO: RM Medeiros

AS TÉCNICAS DO ORGÂNICO Sem agrotóxico Pulverização com pimenta é alternativa usada no cultivo dos morangos


região estava contaminada. Espero que a gente consiga mudar um pouco a cabeça das pessoas”, afirma a presidente da APPRBG, Marina Gomes da Rosa Cordeiro, também agricultora e artesã. Planejamento Para garantir e otimizar as vendas, bem como evitar intermediários, os produtores rurais da APPRBG se uniram em cooperativa. Receberam, ainda como parte do projeto, uma qualificação em gestão. “Isso abriu a cabeça de todo mundo. Hoje, temos definida nossa missão, traçamos planos e metas”, conta Jura. O interesse do município e do governo federal nos orgânicos também anima os agricultores. “A merenda escolar hoje é feita preferencialmente com produtos orgânicos e agroecológicos. Aqui, os fornecedores seremos nós, produtores da região”, diz a agricultora. Além da fruta in natura, os participantes do projeto pretendem comercializar produtos feitos com o excedente da produção. Para tanto, estão construindo na sede da associação uma cozinha industrial. Essa etapa do trabalho tem sido acompanhada de perto por Ingrid Feldhaus, agricultora e também nutricionista. “Todo projeto está adequado às normas sanitárias. Nossa ideia é aproveitar tudo, não apenas do morango, mas de toda produção orgânica da cooperativa, fazendo geleias, doces, conservas. Queremos ser referência aqui no Vale”, diz Ingrid, que também ficou animada com o retorno da plantação. “Queremos inspirar outros agricultores a partir dos nossos resultados. Quando as pessoas veem que funciona, vão atrás”, afirma a nutricionista. Os planos da cooperativa, no entanto, não se resumem aos morangos. Com o lucro obtido pela nascente agroindústria, a associação pretende investir em projetos voltados para a melhoria da qualidade de vida de toda comunidade. Um dos projetos é um mutirão de saúde.

Orgânicos e não-orgânicos: quanta diferença A agricultura convencional caracteriza-se principalmente pelo uso de adubos químicos e agrotóxicos para controle de pragas e doenças. “Já a agricultura orgânica utiliza uma série de técnicas alternativas, inclusive o não uso de produtos químicos”, explica a professora Roseli Frota de Moraes Salles, coordenadora da Pós-Graduação em Agricultura Orgânica da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR). O cultivo de orgânicos também se destaca por minimizar impactos ambientais. Entre as vantagens do cultivo orgânico está a possibilidade de se usar áreas de preservação ambiental, onde não é liberada a agricultura convencional. “Os orgânicos também são uma fonte de renda a mais, principalmente em áreas onde predomina a agricultura familiar”, comenta Roseli. Em Apiaí, ocorrem essas duas situações – os agricultores envolvidos no projeto são donos de pequenas propriedades e na região há muitas Áreas de Preservação Permanente. O cultivo agroecológico e de orgânicos é uma resposta ao preocupante uso de agrotóxicos em todo o mundo, que ganhou força logo após a II Guerra Mundial e teve seu “ápice” na década de 1970. Muitos deles já foram proibidos em vários países e no Brasil, embora alguns agrotóxicos banidos no exterior continuem sendo usados por aqui. Estudos indicam que o contato muito intenso com estes produtos, seja na aplicação ou no consumo de alimentos, provocam sequelas gravíssimas, como maior incidência de câncer. “A partir disso, começou um processo de conscientização e tanto a produção como o consumo de produtos orgânicos ou similares ganham força a cada ano”, comenta Roseli. No Brasil, o fato de o produto ser orgânico agrega um diferencial que gera um preço final de 20% a 40% maior que o convencional, o que melhora a renda dos produtores, mas restringe a demanda. Os grandes compradores de produtos orgânicos, hoje, são os Estados Unidos e países europeus. Já a Oceania é o maior produtor de orgânicos na atualidade.

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Foto: MaNoEl douRados FotoGRaFIa

V o lu N ta R I a d o

idealismo reconhecido Primeira edição do Prêmio Idealista contempla 9 Gaivs que realizaram, cada um, mais de 350 horas de ações voluntárias em seis meses

28 ideal comunitário

Idealista, segundo os dicionários, é um sinônimo para sonhador. O que não significa que aqueles que acreditam em um mundo ideal vivam em um faz de conta. Na vida real, muitas pessoas trabalham para concretizar sonhos e transformações sociais, tarefa que não é fácil, nem tem fim. Como forma de incentivar os sonhadores que trabalham nas empresas do Grupo Camargo Corrêa a estruturarem planos que ajudem a aproximar o real e o ideal, o Instituto Camargo Corrêa (ICC) criou o Prêmio Idealista. Lançada em janeiro deste ano, a premiação faz parte do programa Ideal Voluntário e incentiva o voluntariado corporativo homenageando os Grupos de Ação Ideal Voluntário (Gaivs) que, ao longo de seis meses, somarem 350 horas em ações. Os Gaivs são os núcleos de voluntariado formados por profissionais das empresas do Grupo em cada unidade de negócio. Além do reconhecimento, os Gaivs recebem uma quantia de R$ 3 mil para destinarem a novos projetos nas instituições que atendem. No segundo semestre de 2012, foram conhecidos os primeiros Idealistas. Ao todo, nove Gaivs ultrapassaram as 350 horas em atividades de voluntariado ao longo do ano [os grupos são apresentados na página 28]. Entre setembro e outubro, foram realizadas cerimônias de premiação nas empresas ou nas instituições beneficiadas pelo trabalho de cada grupo. Além de um troféu para o grupo, os voluntários também receberam itens que os identificam como Idealistas, como botons e camisetas. Já a quantia em dinheiro será utilizada, nos próximos meses, em projetos desenhados conjuntamente pelos Gaivs e as instituições beneficiadas. A tarefa foi relativamente fácil, uma vez que as ações já são realizadas de forma contínua. O Gaiv Tempo de Educar,


SANTA hElENA DE gOiÁS Membros do Gaiv tempo de Educar exibem seus “diplomas” de “Idealistas”.

formado por 17 voluntários da Construtora Camargo Corrêa que atuam na obra da Ferrovia Norte Sul em Santa Helena de Goiás (GO), realiza atividades dentro do Plano Mobilização Social pela Educação, uma iniciativa do Ministério da Educação (MEC) que visa incentivar a participação dos pais e da comunidade na escola e na vida escolar das crianças. O grupo vai utilizar o prêmio para desenvolver ações para que os pais, alunos e professores deem continuidade ao trabalho quando a obra terminar, em 2014. A ideia é realizar atividades que levem as famílias para dentro da escola e preparar as escolas para receber esses pais. pÚBliCOS diVerSOS As cerca de 300 pessoas participantes dos Gaivs “idealistas” dedicaram-se a temas diversos, da construção de casas populares à criação de oportunidades de cultura e entretenimento para comunidades carentes, idosos e dependentes químicos. As iniciativas dos Idealistas do Grupo Camargo Corrêa contemplam milhares de pessoas. Só o trabalho do Tempo de Educar envolve 6 mil alunos do Ensino Fundamental das escolas municipais e 2,5 mil pais. Participante do Gaiv, Fernando Mendes conta que a escolha por trabalhar com o Mobilização Social se deu porque os voluntários acreditam que a educação é fundamental para o desenvolvimento das pessoas e da comunidade. “Além disso, é premissa da Construtora deixar um legado depois da obra e a educação é algo que vai contribuir para a evolução do município”, diz. A importância da dedicação e envolvimento dos voluntários para as instituições e os beneficiários das ações pode ser medida pelo relato de Alex Sandro Teixeira, 20 anos. Há cinco meses e meio na Instituição Padre Haroldo, que oferece tratamento para jovens dependentes químicos da região de Campinas (SP), ele acompanhou todo o trabalho do Gaiv Carona Solidária e quando questionado do que mais gostou responde: “Elas participam. Tem um pessoal que vem e não participa. Elas vêm e riem com a gente.” “Elas” são as oito profissionais do Centro de Soluções Compartilhadas, com sede em Americana (SP), que realizam atividades aos sábados na Instituição Padre Haroldo, oferecendo distração aos jovens de 18 a 24 anos que passam a semana numa rotina cheia por conta do tratamento. “Existem projetos em creches, abrigos, asilos,

orfanatos, porém não tínhamos visto algum em uma comunidade terapêutica voltada para o tratamento de dependência química”, explica Maria Eduarda Aloisi de Oliveira, líder do Gaiv. “O nosso objetivo principal é mostrar para esses jovens que eles também têm um lugar, que eles podem se reabilitar e encontrar um emprego, algo que gostem de fazer, ter uma família futuramente”, diz. O educador social da instituição Wendel Okino Lourenço afirma que as atividades que elas desenvolvem podem ser simples, como um bingo, mas são novidades para os jovens e mostram a possibilidade de diversão sem o uso da droga. “O pessoal fica até eufórico para saber o que vai ter no sábado”, conta o jovem Alex. HOraS a MaiS Atender todos estes públicos exige mesmo muita dedicação. Para surpresa do ICC, os Gaivs premiados somaram 5.979 horas, em 90 ações realizadas. “Estimamos alcançar entre 5 e 10 Gaivs e tivemos uma surpresa com 9 vencedores que, inclusive, ultrapassaram muito a média de 350 horas”, conta Mariana Baère, analista de projetos do programa Ideal Voluntário. As horas são contabilizadas a partir do cadastro da primeira ação no portal do programa, lançado junto com a premiação. No sexto mês, a contagem recomeça. São somadas as horas de trabalho voluntário de até dez pessoas, mesmo que o grupo seja maior. Em 2013, as premiações serão realizadas em março, junho, setembro e dezembro. Nos três primeiros, serão realizadas as cerimônias restritas aos Gaivs e envolvidos. Já dezembro será o mês oficial de homenagem a todos os vencedores do ano. Como todas as ações são registradas no portal Ideal Voluntário, o Instituto Camargo Corrêa faz um acompanhamento qualitativo das ações e incentiva que o Gaiv reflita sobre a capacidade transformadora dele. “A ação deve estar voltada para mudar determinada realidade e não um problema específico”, resume Mariana. Assim como o Prêmio Idealista, o portal tem funcionado desde o início como um instigador de ações mais estruturadas e perenes. Já no momento do cadastro no site, o Gaiv precisa colocar qual sua missão, crença e objetivo. Criado também para estreitar a relação do Instituto com os voluntários e para estruturar uma rede de voluntários, o portal tinha, até novembro, 1.470 voluntários e 211 Gaivs compartilhando informações. ideal comunitário 29


V o lu N ta R I a d o

Os primeiros idealistas Acorde

Escola de Meninos

Pais pela Educação lúdica

hM Engenharia - Barretos (sP)

Intercement– Pedro leopoldo (MG)

Intercement– apiaí e Itaoca (sP)

Fundação – dezembro/2011

Fundação – Janeiro/2012

Fundação – Março/ 2012

Integrantes – 5

Integrantes – 7

Integrantes – 20

atuação – Proporcionar, com a música,

atuação – Práticas esportivas e de ci-

atuação – Envolver os pais da fábrica e

atividades para as crianças e adolescen-

dadania com 44 alunos de 7 a 13 anos

da comunidade na educação das crian-

tes do conjunto habitacional Newton

do município. Foram realizadas pales-

ças que estudam na Escola Municipal

siqueira sopa, evitando que fiquem nas

tras educativas; primeiro torneio do

de Educação Infantil Elisa dos santos,

ruas, convivendo com a violência e as

dia Bem-Fazer; apresentação no desfile

em apiaí. os pais aprendem a usar

drogas.

de 7 de setembro e reforma do espaço

elementos lúdicos para complementar

cedido ao projeto pela Escola Estadual

e reforçar os conteúdos trabalhados

Julio cezar.

pela escola.

Fundação – Fevereiro/2012

grupo de Ação Solidária

Tempo de Educar

Integrantes – 13

alpargatas– Ingá (PB)

construtora camargo corrêa – santa

atuação – contribuir com a comuni-

Fundação – Novembro/2009

helena de Goiás (Go)

dade local. dentre as ações desen-

Integrantes – 160

Fundação – Março/2012

volvidas, estão: contribuições com os

atuação – construção de casas popu-

Integrantes – 17

desalojados de lavras, carnaval da

lares na comunidade do entorno da

atuação - atuar na mobilização social

solidariedade, dia das Mães, arraiá e

fábrica. Para arrecadar fundos, a equipe

pela educação. Participou da criação de

Páscoa da 3ª Idade no Núcleo assisten-

vende rifas. as famílias são escolhidas

um indicador para avaliar a aproxima-

cial casa do Vovô.

de acordo com a necessidade e emer-

ção entre pais /professores e alunos e

gência das condições de moradia.

o desempenho dos alunos. contempla

Administrativo ijaci Intercement - Ijaci (MG)

Carona Solidária

6 mil alunos do Ensino Fundamental e

centro de soluções compartilhadas

Nações unidas

(csc) - americana (sP)

Intercement– são Paulo (sP)

Fundação – Fevereiro/2012

Fundação - dezembro/2011

Zé Coque em Ação

Integrantes – 8

Integrantes – 3

construtora camargo corrêa - araucá-

atuação – oferecer cultura, conheci-

atuação – Fomentar o desenvolvimen-

ria (PR)

mento e distração aos jovens de 18 a 24

to pessoal e social das famílias das

Fundação - Novembro/2009

anos que fazem parte da comunidade

comunidades Real Parque e Jardim

Integrantes - 3

terapêutica Padre haroldo para depen-

Panorama, em parceria com o Projeto

atuação - desenvolve atividades ali-

dentes químicos. Foram realizadas ações

casulo. arrecadou R$ 14 mil com cam-

nhadas às ações ambientais e sociais do

como: tarde de Páscoa, confecção de

panha da Nota Fiscal Paulista e realizou

consórcio ccPR em araucária.

artesanato, esportes, gincanas, hip hop.

gincana da família.

30 ideal comunitário

2,5 mil pais.


FOTO: Edson Vasconcelos

perfi l

Líder em

solidariedade

Organizar, orientar e inspirar são as tarefas de Rosângela Pereira da Silva dentro e fora da fábrica da Alpargatas em Ingá (PB) Quando a oportunidade de ser voluntária bateu à porta, Rosângela Pereira da Silva demonstrou não só vontade de ajudar, mas também capacidade de liderança. São essas as duas virtudes que a levaram a tomar a frente da criação do Grupo de Ação Ideal Voluntário (Gaiv) Ação Solidária, formado por profissionais da fábrica da Alpargatas na cidade de Ingá (PB). O trabalho começou a partir de uma demanda dos moradores do entorno da fábrica. “Muitas pessoas vinham à porta da fábrica pedindo alimentos e ajudas de todos os tipos. Então a gente montou um grupo para ajudar”, conta Rosângela. Para dar conta dessa demanda, o grupo cadastrou 20 famílias em 2009 com as quais se comprometeu a distribuir cestas básicas pelo período de três meses. Foi a primeira ação organizada do Gaiv Ação Solidária, que atualmente conta com 10 membros efetivos e 160 voluntários. O trabalho constante em prol das famílias mais pobres de Ingá foi reconhecido pelo Prêmio Idealista. Hoje, o Gaiv organiza mutirões para a construção de casas populares de alvenaria para famílias que necessitam de moradia. Já foram construídas e entregues seis casas na cidade de Ingá. A meta é fazer uma casa por ano. Para isso, há pelo menos três etapas de trabalho. Primeiro, é feita a seleção das famílias. O critério é não ter nenhuma renda fixa e morar em casa de taipa ou barro. “A gente conversa com a família e exige que eles participem do mutirão”,

Casa nova Rosângela em visita a uma das famílias beneficiadas pelos mutirões

explica Rosângela. “É uma forma de aumentar os laços dos moradores com a nova casa.” Depois, o grupo solicita ao Instituto Alpargatas a doação de brindes – bolas, calçados, sandálias –, que são rifados para levantar o dinheiro necessário à reforma. Por fim, organizam o mutirão. Liderança lá e cá Rosângela começou a trabalhar na Alpargatas em 1995. Era operadora de costura. Com o tempo, foi promovida a monitora, depois líder e, há quatros anos, supervisora de produção. Atualmente, com 17 anos de empresa, ela compara o crescimento dentro da fábrica com o trabalho que exerce junto à comunidade. “O trabalho voluntário exige de você ser líder e na Alpargatas também exerço liderança, tenho que influenciar as pessoas, fazer elas se sentirem bem em fazer aquele trabalho”, compara. Ela diz que o voluntariado uniu mais a sua equipe e tem certeza que as ações têm influência no alto índice de satisfação dos profissionais da Alpargatas: 93% segundo pesquisa interna realizada em 2011. Líder nata, Rosângela acabou virando também uma espécie de “orientadora” das famílias beneficiadas pelo trabalho dos voluntários. “Houve um casal que brigou e queria se separar e, antes de se separarem, o marido ligou pra mim. Eu combinei de ele ir lá em casa para a gente conversar e eles acabaram não se separando, estão juntos e até hoje me ligam”, conta. ideal comunitário 31


inovaÇÕes sustentáveis

Sustentabilidade na prática Grupo Camargo Corrêa premia iniciativas sustentáveis de suas empresas

32 ideal comunitário

A terceira edição do Prêmio Inovação Sustentável demonstrou a solidez do compromisso do Grupo Camargo Corrêa e de seus profissionais com a inovação e com a sustentabilidade. Dividido em duas modalidades, Ideia Sustentável e Prática Sustentável, o prêmio contou com 459 trabalhos inscritos e teve como novidade o foco maior nas práticas, reconhecendo assim, as iniciativas que já estão em andamento. A cerimônia de entrega do prêmio foi realizada em 22 de outubro no Museu Brasileiro da Escultura, em São Paulo. Foram 21 projetos finalistas em sete categorias [conheça os finalistas e premiados no quadro à pág. 34]. Participaram da premiação 1.284 profissionais das 12 empresas que fazem parte do Grupo dentro e fora do Brasil. “É impressionante como a mobilização interna ocorre com base no compromisso dos profissionais do Grupo com este tema”, disse Carla Duprat, diretora de Sustentabilidade do Grupo Camargo Corrêa. Foram 373 trabalhos inscritos na modalidade Prática, um aumento de 28% em relação à edição anterior. Segundo Carla, o número maior de inscrições na modalidade Prática Sustentável revela que as ideias das edições anteriores viraram ações reais e houve progresso e inovação nos últimos anos. “É uma demonstração de que os conceitos de sustentabilidade estão cada vez mais incorporados às práticas de gestão de nossas empresas”, afirmou Vitor Hallack, presidente do Conselho de Administração da Camargo Corrêa S.A. Uma novidade deste ano foi ter Gestão da Água como categoria única na modalidade Ideia Sustentável. A decisão de focar esforços em uma única categoria visa antecipar as discussões sobre cooperação e uso racional desse recurso natural, tendo em vista que 2013 foi escolhido pela Organização das Nações Unidas (ONU) como Ano Internacional da Água. Nesta categoria, o vencedor foi o projeto Atitude Azul: Programa de Gestão e Consumo Responsável de Água, desenvolvido por profissionais da InterCement. Consiste na implementação, em todas as plantas da empresa no Brasil e na Argentina, de um sistema para a gestão de água, buscando a redução da captação e do consumo. Vale ressaltar também que nessa categoria, pela primeira vez na realização do prêmio, três empresas do Grupo Camargo Corrêa inscreveram um projeto conjunto. O Projeto Viol foi desenvolvido em conjunto pela Camargo Corrêa Desenvolvimento Imobiliário (CCDI), Construtora Camargo Corrêa e Participações Morro Vermelho (PMV) e tem como objetivo estabelecer um novo padrão de sustentabilidade com o reuso de águas. O outro finalista foi o projeto Ahorro de Agua y Energia em Horno 6 Olavarría, da InterCement.


foto: Ana Vitale

foto: Gabriel Andrade

Grandes Obras pela Infância Premiado na categoria Comunidade, projeto da Construtora Camargo Corrêa visa o enfrentamento da violência sexual contra crianças e adolescentes

Na mesma categoria, porém na modalidade Prática Sustentável, quem levou o prêmio foi o Acquasave® by Tavex. O processo de fabricação de tecidos é baseado na reciclagem e na redução do consumo de água e de energias térmicas na produção, especialmente na etapa de descoloração de tecidos. Apesar dos esforços conjuntos, Gestão da Água foi a categoria que recebeu o menor número de inscrições na modalidade Prática Sustentável. “Isso só confirmou a necessidade de um impulso corporativo nessa direção”, disse Carla Duprat. Práticas Vencedoras A Construtora Camargo Corrêa foi premiada na categoria Comunidade pelo programa Grandes Obras pela Infância. A iniciativa, realizada em parceria com o Instituto Camargo Corrêa e a Childhood Brasil, visa enfrentar a exploração sexual de crianças e adolescentes no entorno de grandes obras. A Construtora é a primeira empresa do ramo da construção civil a realizar um projeto próprio relacionado ao tema. As ações incluem a conscientização dos profissionais das obras para que se tornem agentes no enfrentamento da violência sexual e iniciativas de fortalecimento das redes de proteção dos direitos das crianças e adolescentes. Na categoria Saúde e Segurança, o Sistema Dilúvio, implementado por equipe da Tavex Corporation, foi o vencedor. O sistema de combate a focos de incêndios nas estufas de ar quente evita que os brigadistas tenham de entrar nos equipamentos para extinguir o fogo. “Em termos de números, deixamos apenas de usar os extintores. Mas se pensarmos em pessoas, a segurança que temos neste tipo de projeto é muito valiosa”, destacou Marcelo Bueno, integrante da equipe vencedora. A Recycomb, empresa da InterCement na Argentina, foi premiada na categoria Cadeia de Valor com o projeto El Velo-

ciraptor. Os profissionais desenvolveram um equipamento para triturar madeira inservível e aproveitá-la em fornos de cimento. A ideia surgiu depois que a Recycomb rompeu contrato com as fornecedoras de sabugo de milho, denunciadas por terem trabalhadores em condições questionáveis. “Foi uma alternativa para resolver vários problemas de uma vez, de forma rentável e inovadora”, disse Pablo Maldonado, líder de Planta e Operações Externas da Recycomb. Na categoria Agenda Climática, a CPFL Energia foi premiada pela criação da CPFL Renováveis, voltada para a geração de energia elétrica a partir de fontes renováveis, em especial parques eólicos, pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) e usinas termelétricas movidas a biomassa. A empresa também foi premiada na categoria Gestão de Resíduos com as Lâmpadas Revitalizadas. As lâmpadas de iluminação pública recuperadas e reutilizadas custam 50% menos do que uma convencional. “Acima da questão financeira, essa técnica pode trazer reduções muito expressivas de consumo de recursos naturais na fabricação e produção de lâmpadas e seus componentes”, destaca Rodolfo Nardez Sirol, diretor de Meio Ambiente da CPFL Energia. A primeira edição do Prêmio Inovação Sustentável foi realizada em 2008 e surgiu para incentivar a adoção e multiplicação de ações sustentáveis dentro do Grupo Camargo Corrêa. A segunda edição aconteceu em 2010. Neste ano, os vencedores passaram pela avaliação de um júri formado por 55 jurados especialistas nas categorias avaliadas.

NA INTERNET v Todos os projetos inscritos no Prêmio Inovação Sustentável 2012 estão disponíveis para consulta no site www.premiocamargocorrea.com.br ideal comunitário 33


inovaÇÕes sustentáveis

OS FINALISTAS DO PRÊMIO INOVAÇÃO SUSTENTÁVEL MODAliDADE PrÁTiCAS CATEgOriA COMuNiDADE

CATEgOriA CADEiA DE VAlOr

Programa grandes Obras pela infância - Construtora

El Velociraptor - interCement

Camargo Corrêa

É um projeto de desenho, ajuste e desenvolvimento de

Visa o enfrentamento da exploração sexual de crianças

um equipamento móvel para a trituração de madeira em

e adolescentes nas áreas de influência das obras da

desuso para serem usadas como biomassa em fornos de

construtora. conta com ações internas voltadas à

cimento. Foi desenvolvido pela Recycomb para substituir o

sensibilização e ao envolvimento de seus profissionais e,

sabugo de milho fornecido por empresas denunciadas por

externas, no trabalho para o fortalecimento da Rede de

manterem trabalhadores em condições insalubres.

Proteção dos direitos de crianças e adolescentes. Adesão da br Distribuidora ao Programa na Mão Certa Projeto Mão Amiga - Construtora Camargo Corrêa/

Construtora Camargo Corrêa

Mineroduto Minas-rio

o programa realiza ações conjuntas entre entes públicos

objetiva a profissionalização de mulheres e geração de

e privados para o enfrentamento da exploração sexual de

emprego e renda no setor com a criação de um polo de

crianças e adolescentes nas rodovias brasileiras.

confecção em Pedra dourada (MG). Programa Valor: implementando medidas de Cooperativa de Confecção em Americana (SP) - Tavex

responsabilidade Social Empresarial na cadeia de valor

Corporation

– interCement

Implantação de uma incubadora de cooperativas de

conjunto de práticas e ações que visam inserir as pequenas

trabalho de costura no município, com foco no público de

e médias empresas fornecedoras da loma Negra e Ferrosur

18 a 24 anos e pessoas com dificuldades de ingressar no

Roca, na argentina, no mundo da Responsabilidade social

mercado.

Empresarial (RsE).

CATEgOriA gESTãO DE ÁguA Acquasave® by Tavex - Tavex Corporation a coleção de tecidos é fabricada em processos baseados na reciclagem e na redução do consumo de água e de energias térmicas, mediante uma combinação de métodos que garantem a rápida descoloração. Em alguns casos, reduz a zero o consumo de água durante o processo de tintura do tecido. gestão de Água via Plataforma Sistrata - Construtora Camargo Corrêa

cRÉdItos: dIVulGação

criação de um sistema de monitoramento de águas e efluentes no projeto do Mineroduto Minas-Rio em tempo real. Prática de reuso de Água no Projeto Cyclone 4 - Construtora Camargo Corrêa Reuso de água da estação de tratamento de esgoto, do sistema de decantação da central de concreto, da água utilizada na rampa de lavagem da oficina de manutenção e até dos aparelhos de ar condicionado. 34 ideal comunitário


CATEgOriA gESTãO DE rESíDuOS

CATEgOriA SAÚDE E SEgurANçA

lâmpadas revitalizadas - CPFl Energia

Sistema Dilúvio – Tavex Corporation

Projeto de revitalização de lâmpadas da iluminação pública

consiste na implantação de tubos que permitem a

nas regiões onde o Grupo cPFl Energia é concessionário.

injeção de vapor para conter um foco de incêndio sem

o piloto foi realizado em campinas, em dezembro de

necessidade de o brigadista adentrar o interior das estufas

2011. Pretende-se que seja adotada em outros municípios,

de ar quente. Está em funcionamento desde 2010.

prevendo-se reuso de 90% de lâmpadas queimadas, cerca de 298 mil unidades/ano.

Fórum de Segurança no Transporte - interCement Realiza reuniões semestrais com os transportadores

Programa bolsa de resíduos - Construtora Camargo

para discutir temas relativos à sustentabilidade, saúde

Corrêa

e segurança. uma das ações é a criação de um selo de

o sistema de interface que coloca em contato as obras com

qualidade concedido aos transportadores.

o mercado de recicladores ampliou a comercialização dos resíduos em 45%.

Patrullero com hy-rail - interCement É um dispositivo mecânico que melhora as condições de

Eco Agregado - interCement

mobilidade, conforto e segurança dos profissionais que

É um novo produto criado a partir da reutilização dos

realizam o patrulhamento das ferrovias.

subprodutos das centrais dosadoras de concreto, que chegavam a gerar 4 mil toneladas/mês de resíduo.

MODAliDADE iDEiA CATEgOriA AgENDA CliMÁTiCA

CATEgOriA gESTãO DA ÁguA

Criação da CPFl

Atitude Azul – Programa de gestão de Água e Consumo

renováveis - CPFl

responsável- interCement

Energia

o projeto prevê a recirculação e reaproveitamento da água

a empresa, que gera

usada pela indústria no processo de resfriamento de gases

energia a partir de

e equipamentos na fabricação do cimento. Inclui ainda o

fontes renováveis

estímulo ao consumo responsável nas residências por meio

provenientes de

de campanhas. a previsão é economizar um volume de

parques eólicos, pequenas centrais hidrelétricas (Pchs)

água equivalente ao consumo anual de 104 mil pessoas.

e usinas termelétricas movidas a biomassa, é líder em geração de energia limpa e renovável, segundo a agência

Ahorro de agua y energia em horno 6 Olavarría -

Nacional de Energia Elétrica.

interCement o projeto aumentou a eficiência no consumo de água

Programa de redução de Consumo de Combustível -

e energia da usina olavarría da loma Negra a partir

Construtora Camargo Corrêa

do acompanhamento sistemático, por 10 anos, da

consiste no treinamento, capacitação e conscientização

produtividade do Forno 6.

dos operadores de caminhão basculante, visando à redução do consumo de diesel.

Projeto Viol – gestão de Água - PMV/CCDi/Construtora Camargo Corrêa

gestão de Carbono interCement - interCement

a combinação de estratégias de reuso, tratamento de esgoto

desde que foi implementado o modelo de gestão, a produção

e economia de água em um grande complexo predial em são

de cimento cresceu 27% sem aumento das emissões de co2.

Paulo deve gerar economia anual de água de até 45%. ideal comunitário 35


aÇÕes&parcerias

Gestão pública em foco Sete projetos de modernização da gestão municipal, resultados do projeto Cidade Integrada, são os mais novos frutos da parceria entre o ICC e o BNDES Fruto da parceria entre o Instituto Camargo Corrêa (ICC) e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o projeto Cidade Integrada formou funcionários e gestores públicos para trabalharem pela modernização da gestão nos municípios de Alpestre (RS), Guajará-Mirim (RO) e Apiaí (SP). Com a proposta de aumentar a arrecadação dos municípios a fim de torná-los menos dependentes dos recursos federais e conquistar mais eficiência na gestão, os grupos – formados majoritariamente por funcionários de carreira, representantes das mais diversas secretarias – receberam capacitação para desenhar projetos com foco na administração tributária. O resultado foram sete propostas, que agora estão prontas para sair do papel. Iniciada em 2011, a capacitação foi realizada pela Oficina Municipal. Nos encontros, grupos temáticos diagnosticaram os problemas, identificaram soluções e estruturaram os projetos. Foram pensados três projetos em cada município, sendo que, ao final, Guajará-Mirim optou por fundir os seus em um só. Os projetos foram apresentados em um seminário de encerramento realizado em agosto, em São Paulo. Com o suporte da Oficina Municipal, passaram por ajustes indicados pelo BNDES e agora chegaram a um momento-chave. “O nosso próximo desafio é fazer com que os projetos aconteçam”, pontua Joaquim Cordeiro, do Departamento de Economia Solidária da área de Agropecuária e Inclusão Social do BNDES.

36 ideal comunitário

Juntos, ICC, BNDES e Oficina Municipal estão levando as propostas elaboradas aos prefeitos eleitos. Mikael Linder, que coordenou os projetos na Oficina Municipal, estima que os projetos serão executados no primeiro trimestre de 2013. As perspectivas de ampliação desse trabalho não param por aí. “Mediante o êxito desse projeto piloto, o ICC já está se estruturando para continuar o apoio a municípios na gestão pública”, conta Felipe Soares, analista do programa Futuro Ideal. A viabilização dos projetos pode se dar por meio de recursos próprios ou de financiamentos do banco de fomento. Os projetos foram elaborados de acordo com os critérios do Programa de Modernização da Administração Tributária e da Gestão dos Setores Sociais Básicos (BNDES PMAT), voltado para municípios de até 150 mil habitantes e que apoia projetos voltados à modernização da administração tributária, a fim de gerar aumento de receita ao município. Já Alpestre, que está recebendo royalties da Usina Hidrelétrica Foz de Chapecó, pretende utilizar recursos próprios. Guajará-Mirim pode captar até R$ 2 milhões para colocar em prática uma alteração na arrecadação tributária que deve quadruplicar o que o município recebe atualmente. Por isso, de acordo com Izabel Hayden, diretora da escola de Ensino Fundamental Saul Bennesby que participou da formação, o Cidade Integrada foi recebido com bastante entusiasmo, pois representou a possibilidade de melhorar uma situação urgente de carência de recursos.


interaÇÃo

Que no próximo ano sigamos compartilhando estes valores.

Feliz 2013!

ideal comunitário 37


artiGo Flávia Marques

Consumo urbano,

Foto: aRQuIVo PEssoal

desenvolvimento rural

FlÁViA MArQuES é doutora em desenvolvimento Rural, professora do curso de agronomia da universidade Federal do Rio Grande do sul e membro da associação Brasileira de agroecologia.

38 ideal comunitário

Uma visão idealizada de urbanidade como sinônimo de progresso equivocadamente gerou uma noção mais ou menos generalizada de que o ambiente, a população e os costumes rurais são a representação de atraso. No entanto, em várias partes do mundo, a discussão sobre desenvolvimento sustentável, qualidade ambiental, equidade social, segurança alimentar e novos padrões de consumo tem mudado as expectativas em relação a este “rural”. Se pensarmos que somos todos consumidores e que aquilo que consumimos deve ser produzido por alguém, em algum lugar e com base em um conjunto de recursos (inclusive os naturais), é chegada a hora de nos perguntarmos de onde vem o que comemos. Ou melhor: o que estamos apoiando e reproduzindo quando consumimos alguma coisa? Com isto, pode-se introduzir justamente um dos pontos mais relevantes, neste momento, na construção de uma outra ruralidade: a relação com o urbano. Embora não seja a única conexão, o consumo é um dos laços mais relevantes entre rural e urbano. No mundo todo, crescem experiências de aproximação como, por exemplo, os Grupos de Aquisição Solidária na Itália, a rede da Associação pela Manutenção da Agricultura Camponesa na França ou as inúmeras cooperativas de consumidores – conhecidas como Co-ops – na Grã Bretanha, Estados Unidos e Norte europeu. A literatura especializada começa a identificar

estes processos como Redes Agroalimentares Alternativas (Alternative Food Networks). No Brasil, iniciativas similares também crescem, especialmente nas grandes cidades. Mas aproximar-se de quem produz pode ser, simplesmente, retomar antigas estratégias, como ir à feira, aquelas onde são os próprios agricultores que ofertam seus produtos. As feiras de agricultores crescem em todo o país e, embora não representem sozinhas uma solução para o abastecimento de alimentos, têm sido importantes para melhorar o acesso a produtos com identidade e qualidade e para gerar renda para a agricultura familiar. Todavia, é importante retirar esta questão tão fundamental da esfera das escolhas ou preferências individuais. É preciso reposicioná-la no centro do debate de um projeto coletivo para o futuro. Especificamente, a busca de sustentabilidade para a agricultura exige transições que vão além de adaptações ou da substituição de práticas e insumos por algo menos impactante ou “ecologicamente correto”. Além de mudanças de paradigma do ponto de vista técnico, é necessário tratar a questão política e socialmente, articulando as várias esferas envolvidas, no campo e na cidade, ampliando a possibilidade de diálogos e compartilhamento de responsabilidades e compromissos.

Embora não seja a única conexão, o consumo é um dos laços mais relevantes entre rural e urbano.


expediente

CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DA CAMARGO CORRÊA S.A. Presidente: Vitor Hallack Vice-presidentes: A.C. Reuter, Carlos Pires Oliveira Dias e Luiz Roberto Ortiz Nascimento ConselHo Deliberativo do instituto camargo corrêa Presidente: Rosana Camargo de Arruda Botelho Vice-presidente: Renata de Camargo Nascimento Conselheiros: Carla Duprat, Dalton dos Santos Avancini, Daniela Arantes Alves Lima, Daniela Camargo Botelho de Abreu Pereira, Elisa Camargo de Arruda Botelho, Francisco Tancredi, Henrique Ernesto de Oliveira Bianco, José Édison Barros Franco, Luiz Eduardo de Camargo Nascimento, Marcio Garcia de Souza, Márcio Utsch, Maria Regina Camargo Pires Ribeiro do Valle, Maria Tereza Pires Oliveira Dias Graziano, Naima Bennani Nascimento, Olga Colpo, Raphael Antonio Nogueira de Freitas, Ricardo Fonseca de Mendonça Lima e Vitor Hallack    Instituto Camargo Corrêa Presidente do Grupo Camargo Corrêa e do Instituto: Vitor Hallack Diretor executivo: Francisco de Assis Azevedo Superintendente: Rogerio Arns Neumann Coordenadora de comunicação: Clarissa Kowalski Coordenadores de programas: Flávio Seixas, Jair Resende, Juliana Di Thomazo e Toni Niccolini Analistas de projetos: Ariane Duarte, Felipe Furini, Gisele Pennella, Lívia Guimarães e Mariana Ramos de Baère Assistente administrativo: Bárbara Gomes Auxiliar administrativo: Maria de Lourdes Furtado dos Santos REVISTA IDEAL COMUNITÁRIO

Arte Irene Lafetá Sesana – studio1101 CAPA Nello Aun – foto impressão xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx COMUNICAÇÃO DO GRUPO CAMARGO CORRÊA CAMARGO CORRÊA S.A. Marcello D’Angelo, Mauricio Esposito, Cintia Mesquita de Vasconcelos Alpargatas Cássia Navarro INTERCEMENT Fernanda Guerra CONSTRUTORA CAMARGO CORRÊA Denise Pragana e Verena Ferreira TAVEX CORPORATION Andrea Shimada e Bianca Kapsevicius Gonçalves

Entre em Contato Opiniões, dúvidas e sugestões sobre a revista Ideal Comunitário: Avenida Brigadeiro Faria Lima, 3600 11º Andar - Itaim Bibi - São Paulo, SP - CEP 04538-132 www.institutocamargocorrea.org.br Tel.: (11) 2383-9333 e-mail: instituto@institutocamargocorrea.org.br

Comitê editorial Carla Duprat, Clarissa Kowalski, Fernanda Guerra, Francisco de Assis Azevedo, Rogerio Arns Neumann, Kalil Farran, Marcello D’Angelo, Mauricio Esposito, Olga Colpo, Ricardo Mastroti, Veet Vivarta Produção Editorial Máquina Public Relations EDITORA Cristina Charão

Realização

Parceiro

Texto Ana Cláudia Mielke, Ana Dangelo, Cristina Charão, Fernanda Santos, Giselle Godoi e Patrícia Ribas

ideal comunitário 11


Infância como prioridade Programa Infância Ideal, que visa a garantia integral dos direitos da criança e do adolescente, foi o primeiro a ser implementado no município, com ações que incluíram a formação de todos profissionais da educação infantil.


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