Número 21 • Março de 2013
Valores em cadeia
Inclusão de empreendimentos solidários na cadeia de valor das empresas beneficia o desenvolvimento local
nesta edição Número 21 | Março de 2013
3 Editorial 4 Entrevista Os desafios de realizar políticas públicas que atendam a primeira infância no Brasil por Ricardo Paes de Barros
10 Panorama Social Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa entra em vigor com adesão de quase 90% dos municípios 12 Infância Programa Infância Ideal conclui ações em Juruti (PA) deixando como legado um rede de proteção forte e reconhecida
18 Educação
Apoiar e orientar o trabalho dos professores é a função fundamental do coordenador pedagógico
22 Empreendedorismo CoopAmerican e Tavex ilustram bons resultados da inclusão de empreendimentos solidários na cadeia de valor das empresas
28 Voluntariado Ações de voluntariado corporativo compõem o processo de integração das equipes de novas unidades da InterCement
31 Interação 32 Inovações Sustentáveis Profissionais da Recycomb, empresa da InterCement na Argentina, criam máquina para reciclar madeira inservível
34 Ações&Parcerias Reafirmar parcerias com novos prefeitos é o objetivo de uma série de encontros realizados pelo Instituto
38 Artigo Kenn Allen fala sobre a relação entre voluntariado corporativo e desenvolvimento de competências
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editorial
Estratégias e repercussões Um dos desafios de se trabalhar a favor do desenvolvimento comunitário é fazer com que
edição de Ideal Comunitário, temos a oportunidade de apresentar diferentes estratégias que temos adotado para dar conta deste desafio.
Uma delas é a participação efetiva das empresas do Grupo Camargo Corrêa na execução
dos projetos. Em Americana (SP), o envolvimento da Tavex Corporation e de seus profissionais no apoio a um grupo produtivo local resultou na criação de uma cooperativa de costura, a
CoopAmerican, que cresceu rapidamente e hoje, além de vários outros clientes, fornece uni-
formes para as unidades da Tavex no Brasil. Este é um bom exemplo de inclusão de um projeto social na cadeia de valor da empresa.
Outra é o investimento nas parcerias com o poder público. O fortalecimento
Foto: Lilo Clareto
ações com prazo determinado para serem executadas repercutam por muito tempo. Nesta
“O fortalecimento de políticas públicas é uma das premissas do trabalho do Instituto.”
de políticas públicas é uma das premissas do trabalho do Instituto. Em um ano em
que muitos dos municípios em que estamos presentes trocam de prefeitos, estamos realizando reuniões para apresentar as atividades em andamento e repactuar compromissos de lado a lado. Em nenhum município em que atuamos haverá descontinuidade na parceria entre o Instituto e o poder público.
Além desta busca pela continuidade das ações, podemos mostrar também nesta
edição da revista o legado de nossas atividades na área da infância no município de
Juruti (PA). Parte dele é, justamente, o comprometimento do poder público local com políticas voltadas para crianças e adolescentes. Este, aliás, é o tema de nossa entrevista com o economista Ricardo Paes de Barros.
Uma terceira estratégia é a aposta no voluntariado como uma forma de estimular
a ação cidadã dos profissionais do Grupo e estreitar laços entre empresas e comuni-
dades. Por esta razão, estamos iniciando nossa relação com as novas unidades da InterCement no Brasil através do programa Ideal Voluntário. Acreditamos que as ações
voluntárias serão também uma oportunidade para integrar nossos profissionais e –
como aponta Kenn Allen no artigo que encerra a revista – desenvolver competências. Por fim, acreditamos que investir no conhecimento e no desenvolvimento das
pessoas é também uma forma de estender a influência de nossas ações. Isso é especialmente evidente nas ações do programa Escola Ideal. Temos realizado diversos projetos voltados à formação de educadores, entre eles os coordenadores pedagógicos, tema de reportagem desta edição.
Francisco de Assis Azevedo, diretor executivo do Instituto Camargo Corrêa ideal comunitário 3
entrevista Ricardo Paes de Barros
O desafio da
primeira in
4 ideal comunitário
Combinar políticas universais eficientes com ações pontuais eficazes. Obviamente, não se resume a isso a complexidade de governar, seja em um país que se aproxima dos 200 milhões de habitantes e que ainda acumula contradições sociais proporcionais à dimensão da sua população e do seu território, ou um município com 10 mil moradores. Entretanto, tendo o Brasil superado – ou estando em vias de superação de – alguns problemas básicos que travavam o desenvolvimento socioeconômico de forma mais ágil, torna-se cada vez mais relevante a implementação de políticas focadas em desatar nós estratégicos para o avanço consistente do “país do futuro”. É nesse cenário que surge a Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE). Criada, em 2007, a SAE nasceu vinculada à estrutura da Presidência da República e ganhou status de ministério logo no início do governo Dilma Rousseff com a enorme responsabilidade de se debruçar sobre temas estratégicos para a nação. Dentre os principais programas da SAE, que apontam os temas considerados estratégicos, podemos listar: “Atividades sustentáveis na Amazônia”, “Extrema pobreza”, “Favela”, “Gestão territorial da agricultura sustentável”, “Juventude”, “Classe média”, “Primeira infância” e outros. A SAE tem na Subsecretaria de Ações Estratégicas o seu órgão de maior notoriedade, cujo crédito é muito identificado com o trabalho realizado pelo subsecretário Ricardo Paes de Barros e sua equipe. Foi com ele que Ideal Comunitário conversou por cerca de uma hora e meia para entender o significado e o desafio que é priorizar as ações voltadas à primeira infância, que compreende os seis primeiros anos de vida. foto: Cristiano costa
Ricardo Paes de Barros, um dos maiores estudiosos do processo de desenvolvimento do Brasil, fala sobre como o atendimento à população de 0 a 6 anos impacta o futuro do país e qual o papel do Estado e da sociedade civil diante desta tarefa
nfância
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entrevista Ricardo Paes de Barros
Como foi o seu primeiro contato mais próximo com o tema enorme impacto sobre o desenvolvimento do cérebro dela. Já pelo lado de quem lida com política pública, há evidências de das políticas para a primeira infância? Meu primeiro contato com o tema foi através da professora vários programas para a primeira infância que acabaram tendo Mary Young, de Harvard. Eu já sabia da importância desse tema, impacto sobre o desenvolvimento daquela criança. Poderia se mas, num certo momento, cerca de 15 anos atrás, ela estava es- pensar que a atenção, nesta fase, teria que ser toda dada pela família, pois na hora em que o Estado entra com a crevendo um relatório sobre infância no Brasil política pública ele não consegue ter impacto, já e me chamou para trabalhar com isso. Além {{A neurociência que isso pode ser uma coisa muito específica da dela, o deputado federal Osmar Terra. Eles mãe ou do pai. Então, a grande contribuição de dois me trouxeram para essa discussão. mostra que os quem trabalha com política pública na primeira cuidados que infância é reconhecer que a família é extremaQual a relevância das políticas para a priuma criança mente importante, mas a política pública tammeira infância e quais os elementos mais recebe nessa fase bém importa. É preciso ter uma boa creche, um importantes a serem considerados? bom sistema de saúde, pois isso tudo faz também têm um enorme Quando você começa a estudar investimendiferença. Assim, combinamos duas coisas meio to nas pessoas, percebe que é preciso fazer impacto sobre o isso o mais cedo possível. Esse é o primeiro desenvolvimento óbvias: investir o mais cedo possível e – esse é o segundo elemento – investir no momento mais elemento. Mas não adianta você tomar essa do cérebro|| produtivo. É como quando você precisa investir decisão se naquele momento os investimenna floresta, que tem a estação das chuvas. Não tos não são eficazes. Por exemplo, você se pergunta quando vai alfabetizar alguém e tem como resposta adianta mexer na terra nesse período porque a chuva vem e des“o mais cedo possível”. Mas se você tentar alfabetizar alguém trói tudo. A terceira coisa é que esses investimentos na primeira de 3 anos, não terá eficácia. É muito bom investir muito cedo. infância, além de modificarem e ajudarem o desenvolvimento Mas esses investimentos têm impacto? A neurociência mos- da criança, a formação do cérebro, têm uma eficácia enorme tra que os cuidados que uma criança recebe nessa fase têm um sobre as políticas públicas que você vai implementar mais tarde.
fotos: Cristiano costa
De que forma? Uma política pública bem feita nessa idade vai fazer com que o trabalho do professor na hora de alfabetizar seja mais fácil. Da mesma forma, o trabalho de inclusão do jovem no mercado de trabalho, de formação de família por esse jovem e a sua inserção política e comunitária serão mais fáceis. Ou seja, se você trabalhou bem a primeira infância, aumenta a capacidade dessa pessoa de responder a intervenções para o resto da vida. Você não só fez um bom investimento, como preparou aquela pessoa para que todos os investimentos que vierem depois sejam mais eficazes. É como você preparar a terra não só para ela ser mais produtiva agora, mas para quando houver um processo de irrigação. Você a prepara não apenas para produzir mais de imediato, mas para receber de uma maneira mais efetiva qualquer investimento que acontecer depois. 6 ideal comunitário
No debate de direitos humanos e direitos sociais, tem grande destaque a equidade e a promoção da igualdade através das políticas públicas. Como isso ocorre na temática da primeira infância? Num mundo onde valorizamos tanto a igualdade, sobretudo de oportunidades, não há lugar mais relevante para se investir do que na primeira infância, porque é a hora onde a igualdade de oportunidades é uma coisa central. Diferentemente de um vestibular para um curso de Medicina, onde você vai ter o conflito entre a meritocracia e a igualdade de oportunidades, ao investir na primeira infância você garante a equidade, porque todas as crianças parecem iguais. Pode até existir um Einstein entre as crianças, mas você não sabe qual é. Portanto, não existe nenhum dilema de se investir igual em todos. É uma hora ideal para a sociedade praticar a preferência por igualdade.
E há como medir isso? É nessa área – que devemos medir para saber se estamos evoluindo, se não estamos garantindo apenas o seu direito a sobreviver e a não passar fome, mas também a desenvolver plenamente o seu potencial – que o Brasil está trabalhando hoje. Por que fazer uma excelente creche? Por que fazer um sistema de saúde que vá muito além de proteger a criança de sofrer com doenças facilmente evitáveis, um sistema que esteja preocupado com o desenvolvimento psicossocial daquela criança? Hoje, no Brasil, não temos nenhum indicador que nos mostre se estamos avançando ou não nesses aspectos. Não temos nenhum indicador que nos permita saber se estamos dando às crianças brasileiras ou em que extensão estamos dando a elas – ou para quais crianças brasileiras nós estamos dando – a oportunidade de se desenvolver plenamente.
E como tem sido o trabalho de monitoramento, de construção O que poderia ser feito? de indicadores de desempenho nessa área? O Chile, por exemplo, tem indicadores desse tipo desde Na verdade, para se garantir direitos, você não precisa de indi- 1974. Eles conseguem saber se, ao longo dos últimos 25 cadores. Eles servem para você mostrar que os direitos foram ou anos, têm melhorado ou não. E uma das grandes preocupanão foram garantidos e em que medida isso ocorreu. O Brasil ções deles é que têm melhorado pouco. E daí surgiu a necesnão tem um sistema abrangente de monitoramento do desen- sidade de criarem aquele programa “Chile cresce contigo”, volvimento na primeira infância, mas temos alguns indicadores que foi uma resposta ao fato de que, ao monitorar o dede alguns direitos básicos. Sabemos o que passou com a morta- senvolvimento psicossocial das crianças, perceberam que um lidade infantil no Brasil. Os Objetivos do Milênio eram muito percentual alto de crianças não estava desenvolvendo pleduros com a mortalidade infantil – reduzir a um terço a taxa namente o seu potencial. Nessa área, ainda trabalhamos de nacional até 2015 – e o Brasil foi um dos uma maneira relativamente cega, embora primeiros países a cumprir essa meta, anestejamos obtendo grandes avanços. Todo {{O desenvolvimento tecipadamente. Também cumprimos com brasileirinho tem uma caderneta da saúde pleno de uma as nossas metas de redução da subnutrição, da criança. E agora, já está acordado isso criança envolve o temos bons dados nesse aspecto. Ou seja, em no governo, ela vai se transformar numa indicadores mais básicos, que são muito relecaderneta “da criança”, que será utilizada desenvolvimento vantes para um país pobre, onde a prioridade pela saúde, pela educação, pela assistência cognitivo, deve ser nesses itens mais básicos, o Brasil social. E nessa caderneta já existem marsocioemocional, tem evoluído muito bem. Só que o desencos de desenvolvimento, um conjunto de motor, sua habilidade indicadores que permite o acompanhavolvimento de uma criança não se limita a ela permanecer viva ou a ela não estar com mento do desenvolvimento da criança. de comunicação, fome. O desenvolvimento pleno de uma habilidades afetivas, criança envolve o desenvolvimento cognitiQual seria o principal desafio nesse aspecto capacidade de vo, socioemocional, motor, sua habilidade de de avaliação, de elaboração de indicadores? resolver problemas|| comunicação, habilidades afetivas, capacidaO grande desafio hoje é construir esse sisde de resolver problemas e assim por diante. tema de monitoramento e o primeiro passo ideal comunitário 7
entrevista Ricardo Paes de Barros
é pegar o instrumento que toda criança tem – a caderneta, que a mãe guarda com todo cuidado – e fazer com que ele seja preenchido corretamente, da maneira como foi desenhado. Se a gente preencher cuidadosamente essa caderneta que toda criança já tem, daremos um passo gigante. Obviamente que fazer isso vai significar que cada mãe saberá como está o desenvolvimento do seu filho. E para termos uma noção nacional disso, precisamos coletar essa informação. O primeiro passo será fazer os registros nessa caderneta. O segundo passo será fazer com que o que está sendo registrado entre num sistema estatístico, de modo que possamos acompanhar os dados no decorrer do tempo. Para isso, deveríamos empreender um esforço de mobilização sensacional para que esse instrumento seja usado de maneira adequada. Como tem sido o diálogo da SAE com os gestores do Executivo, especialmente dos municípios, sobre esse tema e quais são as dificuldades enfrentadas nesse processo? Nunca tive contato com algum prefeito, parlamentar ou alguém num ministério que não tenha sensibilidade com a necessidade de se ter política pública para primeira infância. Todo mundo está de acordo. O que acontece é que várias outras coisas são importantes. Política para primeira infância não é uma coisa exótica, nova. No Império, já existia programa para cuidar de crianças órfãs. Alguns prefeitos ficam incrivelmente preocupados e fazem disso uma das suas principais bandeiras e há outros prefeitos que ficam impressionados com a questão da alfabetização, ou há outros que se preocupam mais com a questão da subnutrição e da mortalidade, de modo que há vários temas sociais importantes e é natural que uma prefeitura dê mais importância a uma coisa que outra. Mas todo mundo está preocupado com primeira infância e se você pegar o estoque de coisas que têm que ser feitas, acho que está todo mundo mais ou menos de acordo. Ou seja, que “a cesta é essa”, está todo mundo de acordo. Já o sequenciamento não tem acordo. É difícil responder “por onde vamos começar?”... Uns acham que se deve começar por aqui, outros por ali. E não é claro, cientificamente, qual é o sequenciamento ideal. 8 ideal comunitário
Por exemplo, o que é mais importante: organizar os {{ É preciso serviços existentes de maneiter uma boa ra integrada, isto é, integrar o que temos ou aumentar a creche, um bom oferta do que temos? Se você sistema de saúde, fosse um prefeito, qual seria pois isso tudo a sua prioridade? Integrar os faz também serviços ou criar mais creches, diferença || mais postos de saúde, mais serviços de assistência social, melhorar a qualidade dessas coisas? Ou você pega o que já tem e vai integrar, para depois expandir? Ou vai fazer uma combinação dos dois, com que peso? E o sistema de monitoramento, é uma prioridade ou é algo que pode ser feito mais tarde? O Bolsa Família, por exemplo, começou com cadastro único, como uma opção de se ter um cadastro espalhado pelo Brasil todo, cuja qualidade inicial não era a melhor do mundo. Mas a ideia foi a de que não adiantava começar com um cadastro “bonitinho”, “bem feitinho” em algumas poucas cidades e deixar o Brasil sem cadastro. “Vamos cadastrar todo mundo, depois a gente melhora a qualidade” foi uma aposta e uma aposta certa. Acho que vai ajudar muito o país se chegarmos a um acordo maior quanto ao sequenciamento, porque, em certo sentido, o prefeito fica um pouco desnorteado. Chega alguém dizendo que ele tem que fazer o sistema de monitoramento, aí vem outro e diz que ele deve integrar as políticas, e outro que propõe que ele deve expandir a oferta do serviço. O que falta, então, para que todos – União, estados, municípios, sociedade civil – trabalhem em ações efetivas a favor da infância? O grande desafio, se queremos orientar prefeituras, o Terceiro Setor e o país em geral, seria chegarmos a um sequenciamento. Isso pode passar a ideia de que a primeira infância é uma coisa muito complexa. A atenção básica na saúde é uma coisa complexa, mas o que o médico faz? Ele elabora um protocolo: primeiro você faz isso, depois isso. Mas se você disser que é preciso fazer 40 coisas, um médico novo talvez se questione:
A e o sistema de triagem identificou que tais crianças precisam disso. A entidade tem que atender essas crianças e não as crianças da comunidade onde ela está localizada ou as crianças da religião que ela comunga etc. Não pode haver discriminação. O que a entidade deve fazer é dizer: “eu vou cuidar de 300 crianças”. E o sistema unificado de triagem diz quais são estas 300 crianças.
Na sua opinião, qual deveria ser o ponto de partida? No meu ponto de vista, o primeiro passo é a integração das políticas. Mas há várias pessoas – inclusive prefeitos – com quem eu tenho conversado que pensam diferente.
Este seria o papel do Terceiro Setor, funcionar como apoio ao atendimento? O Terceiro Setor também é ótimo para mobilizar as pessoas para que estas fiquem conscientes dos seus direitos e busquem estes direitos. É importante que todos saibam quais são os seus direitos e possam se organizar para reivindicá-los, e não apenas os setores mais mobilizados.
Qual o papel que a sociedade civil pode desempenhar e que problemas ela pode causar? Para garantir a igualdade de acesso e oportunidade a todos, a sociedade civil, o Terceiro Setor pode ajudar, mas também pode dificultar. O que o Terceiro Setor não pode fazer é dizer que não é responsável por esta ou aquela pessoa. Temos que caminhar para uma situação na qual a porta de entrada para a política de primeira infância seja única. Essa porta de entrada tem que ser reconhecida por todos os programas municipais, estaduais, federais e do Terceiro Setor que operam naquele município. Eventualmente, esse sistema central de triagem pode encaminhar crianças a uma instituição do Terceiro Setor. E esta instituição tem que atender estas crianças. Por exemplo, uma entidade possui um programa de vitamina
foto:s Cristiano costa
como é que eu vou fazer isso? Então, o que nos falta é a organização de um certo protocolo, de tal maneira que um prefeito saiba qual o primeiro passo deve ser dado se ele quiser investir em primeira infância. Hoje, isso não está claro. Todos têm acordo quanto ao conjunto de passos, mas qual deve ser dado primeiro vai depender de para quem você pergunta. E isso pode paralisar um pouco as coisas.
ideal comunitário 9
Pelo direito
de aprender a ler e escrever
Quase 90% dos municípios brasileiros aderiram ao Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa
18 milhões é o número de pessoas que realizam trabalho voluntário no Brasil, segundo estimativas da organização britânica Charities Aid Foundation.
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O Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (Pnaic) começa a sair do papel em 2013. O Pnaic é um compromisso formal assumido pelos governos federal, do Distrito federal, dos estados e municípios para que todas as crianças estejam alfabetizadas em Português e Matemática até os 8 anos, ao final do 3º ano do ensino fundamental. Ao todo, 4.997 municípios dos 26 estados mais o DF concluíram o processo de adesão ao pacto até dezembro de 2012, o que representa 89,8% dos municípios do país. Nestes, os professores alfabetizadores passarão por um processo de formação especial, voltado para a melhoria do processo de ensino-aprendizagem. A proposta de alfabetizar todas as crianças até o final do 3º ano chamou a atenção, uma vez que o processo de alfabetização inicia no 1º ano. O Ministério da Educação (MEC) explica que a alfabetização deve ser olhada “como um ciclo, onde estar alfabetizado transcende a mera ideia de ‘ensinar a ler e escrever’ e significa ‘ser capaz de interagir por meio de textos escritos em diferentes situações e para atender a diferentes propósitos’”.
Para Antônio Augusto Batista, coordenador de pesquisas do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec), as crianças podem, desde o início do aprendizado, dominar o “principio alfabético” – ler e escrever palavras. “As crianças das escolas privadas conseguem fazer as duas coisas aos 6 anos. Existe uma grande diferença entre elas e as das escolas públicas. Não há razão cognitiva que justifique essa diferença. Espero que aos 8 anos elas sejam capazes de muito mais do que ler e escrever”, afirma. Para Batista, é importante que o governo federal consolide o Pacto, “pois muitos não estão fazendo sua lição”, mas pede que se leve em consideração os avanços de alguns estados. Ele cita Minas Gerais e Ceará como exemplos bem sucedidos de melhora significativa no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). Um passo na direção da consolidação é a transformação do Pacto em lei, uma vez que foi criado através da Medida Provisória 586/2012. A Câmara dos Deputados aprovou a MP em 26 de fevereiro. O texto agora segue para apreciação do Senado.
Foto: Shutterstock
Panorama social
Fato inusitado na história da humanidade, crianças começam a apresentar sintomas de doenças de adultos. Problemas de coração, depressão, respiração e diabetes tipo 2 são alguns dos resultados da ingestão de açúcares em excesso. Hoje, 33% das crianças brasileiras estão acima do peso e 15% já são consideradas obesas. No documentário Muito Além do
Peso, a diretora Estela Renner foi a fundo no tema da obesidade, a maior epidemia infantil da história. Estela e equipe viajaram para as cinco regiões brasileiras e conversaram com crianças, pais, professores e médicos, além do chef britânico Jamie Oliver, militante da boa alimentação. Os depoimentos das crianças são alarmantes. Elas demonstram o prazer
Foto: divulgação
Contra a epidemia de obesidade infantil
que sentem ao ingerirem refrigerantes, hambúrgueres, batatas fritas e bolachas, hábitos que, associados a uma vida sem atividades físicas, levam à obesidade. A diretora discute o papel da indústria, do governo, dos pais, das escolas e da publicidade na construção destes hábitos. O filme contou com o patrocínio do Instituto Alana e está disponível no site www.muitoalemdopeso.com.br
Foto: divulgação
Direto ao ponto
O Centro de Estudos em Sustentabilidade da Escola de Administração de Empresas de São Paulo (GVCes/EASP), em parceria com a ICLEI (Local Governments for Sustainability), lançou o livro Compra Sustentável: A força do consumo público e empresarial para uma economia verde e inclusiva. Lígia Ramos e Luciana Betiol, duas das autoras do livro, comentam os desafios da sustentabilidade em larga escala e a necessidade de colocá-la como prioridade dos setores público e privado. A questão da sustentabilidade é tratada como resultado de ações individuais. Como mudar essa mentalidade? Ações individuais são importantes, mas mesmo que inovadoras e bem intencionadas, não oferecem a escala nem a velocidade necessárias para responder aos desafios que o desenvolvimento sustentável nos coloca. Por isso, procuramos salientar a necessidade e o potencial de ações conjuntas de governos, empresas e sociedade civil. A sociedade, por sua vez, pode fazer sua parte fortalecendo o controle social, incentivando a adoção de práticas
mais sustentáveis, a disponibilização de informações sobre produtos e serviços e o fortalecimento dos sistemas de certificação. A autorregulação e a iniciativa dos setores têm sido suficientes? Nossos trabalhos mostram um comprometimento crescente dos setores público e privado. Porém, não nos parece que os instrumentos de regulação e autorregulação vigentes ou as iniciativas voluntárias já adotadas pelas empresas sejam suficientes para responder aos desafios do desenvolvimento sustentável. Como adequar as iniciativas em relação à escala do desafio do desenvolvimento sustentável? No caso do poder público, podemos citar a expansão das compras e contratações sustentáveis nas grandes obras públicas de construção civil; o maior engajamento de fornecedores locais e pequenas empresas; o comprometimento e formação do servidor público para a realização da compra sustentável; o cumprimento da legislação vigente e o desenvolvimento de instrumentos econômicos e políticas fiscais de estímulo à produção e consumo sustentável. Para o setor privado, podemos citar a adesão a sistemas de autorregulação, com padrões de desempenho mínimos, tanto para a produção quanto para o consumo sustentável.
AGENDA
18 de maio – Dia Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes • O dia 18 de maio é uma data para lembrar toda a sociedade brasileira que é preciso refletir e atuar na preservação da integridade da infância e da juventude do país. A data foi escolhida em alusão a menina Araceli Cabrera Sanches, então com 8 anos de idade, sequestrada, estuprada e assassinada em 18 de maio de 1973 por membros de uma tradicional família capixaba. A Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República desenvolve atividades de conscientização por todo o país. Fique atento à agenda de eventos no seu município.
na internet vO livro Compra Sustentável: A força do consumo público e empresarial para uma economia verde e inclusiva está disponível para download gratuito na página www.gvces.com.br/arquivos/130/ CompraSust_web_dupla.pdf ideal comunitário 11
Odadespertar proteção à infância Programa Infância Ideal conclui missão em Juruti (PA) deixando como legado uma rede de defesa dos direitos da criança e do adolescente fortalecida e reconhecida pela comunidade
12 ideal comunitário
Um município em que todas as crianças de 0 a 3 anos possam frequentar uma creche ou escola de educação infantil. Em que grávidas e crianças menores de 6 anos recebam acompanhamento para evitar a desnutrição. Onde adolescentes possam ter acesso a esporte, lazer e cultura e aqueles que tenham cometido algum ato infracional possam cumprir medida socioeducativa proporcional à gravidade do ato cometido, com atenção especializada e próximos de sua família. Depois de muitos anos sem contar com as condições adequadas ou o envolvimento da comunidade no tema dos direitos da criança e do adolescente, Juruti agora faz planos para o presente e o futuro de sua população de 0 a 18 anos. O município, localizado à beira do Rio Amazonas, no noroeste do Pará, é o primeiro a concluir o ciclo completo de ações do programa Infância Ideal, do Instituto Camargo Corrêa. Em 2007, o Instituto e a Construtora Camargo Corrêa iniciaram a implantação do programa e o desenho dos primeiros projetos. Depois de cinco anos de trabalho conjunto, Juruti conta com uma rede de proteção à infância articulada e reconhecida pelo poder público.
Foto: Bira Cabral
I n fâ n c i a
Direitos garantidos Valor do brincar foi resgatado na educação infantil com a formação dos educadores e distribuição de brinquedos para as escolas
representação. Todos os atuais representantes já declararam querer continuar no grupo, mesmo que como “pessoas físicas”. “Ainda não sabemos como será esta configuração, mas uma coisa que temos certeza é que não vamos mais trabalhar diretamente com a execução de projetos. Vamos atuar mais na articulação das soluções”, indica Eva. Missão cumprida O Infância Ideal chegou ao município em 2007, um ano depois de a Camargo Corrêa iniciar a construção de uma mina de bauxita para a Alcoa. “A construtora tem consciência de que a inserção de uma obra desse porte em Juruti, que é uma área sócio e ambientalmente muito frágil, requer uma série de cuidados”, salienta Kalil Farran, gerente executivo de Sustentabilidade da Construtora. “Junto com o Instituto, implantamos uma série de programas que não só preveniram e minimizaram os impactos da obra, como colaboraram com a superação de fragilidades socioeconomicas que já existiam. Além da geração de emprego e renda ajudamos a estruturar uma rede de proteção à criança e ao adolescente, por exemplo.” Farran visitou Juruti diversas vezes, desde os primeiros estudos de viabilidade da obra até a sua realização. Como alguém que conheceu bem aquela realidade, avalia: “Sair de lá e ver que essas ações vão ter continuidade deixa a sensação de missão cumprida, de que agregamos valores sociais àquela comunidade.” Foto: Bira Cabral
O nível de maturidade que o trabalho em rede alcançou tornou-se evidente pela forma como o Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA) confeccionou metas para garantir a melhoria de políticas públicas para crianças e adolescentes. Um cenário que aponta para uma rede cada vez mais fortalecida e atuante. As metas formam o Plano de Ação do CMDCA para 2012-2014. O documento traz oito objetivos estratégicos detalhados que vão auxiliar o trabalho da gestão pública (veja no quadro à pág. 14). Este é o primeiro plano elaborado pelo CMDCA. “Infância em Juruti só passou a ser discutida depois de ter sido criado o Comitê de Desenvolvimento Comunitário (CDC) e só depois das capacitações oferecidas pelos projetos do Instituto levamos o assunto ao poder público”, diz Eva Costa Silva, conselheira do CMDCA e representante oficial do CDC. O Comitê é o grupo criado assim que o Instituto Camargo Corrêa começa a atuar em uma cidade para diagnosticar as prioridades e desenhar os projetos. Formado por representantes de órgãos públicos, organizações comunitárias e instituições ligadas às áreas de atuação do Instituto, à época, o grupo de Juruti apontou a infância como prioridade. Para Naia Lúcia Costa Martins, membro do CDC que acompanhou todos os projetos como coordenadora de Educação Infantil da Secretaria de Educação, a principal conquista do grupo é o reconhecimento conquistado pelo CMDCA. O conselho existia no papel desde 1999, porém quase não tinha atuação. Nem mesmo seu regimento seguia as premissas do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Em junho de 2012, foi aprovada uma lei que o redefiniu, detalhando suas atribuições e regras. A primeira eleição de conselheiros, por exemplo, será realizada este ano. Já o CDC, que seria desmobilizado com o fim das ações do Instituto, deve seguir como base de apoio da comunidade para buscar a realização de todas as metas do plano. A proposta da atuação do comitê foi apropriada pelas organizações que agora discutem tornar o grupo uma instituição. Teriam, assim, reconhecimento legal para propor e buscar recursos para projetos próprios. O comitê tem hoje 16 membros representantes da área da educação, do CMDCA, do Conselho Tutelar, da saúde e de organizações da sociedade civil. O grupo reavalia a sua composição e a forma de
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I n fâ n c i a
8 objetivos estratégicos do Plano de Ação 2012-2014 do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente: Diminuir o índice de abuso, exploração sexual, violência e negligência cometidos contra crianças e adolescentes. Ampliar as oportunidades de acesso de crianças e adolescentes a atividades esportivas, de lazer e culturais. Diminuir o índice de gestantes e crianças de 0 a 6 anos desnutridas. Oferecer atividades multidisciplinares e qualificar adolescentes e jovens para o mercado de trabalho. Garantir o direito à educação das crianças de 0 a 3 anos. Assegurar o direito à convivência familiar e comunitária às crianças e adolescentes. Assegurar aos adolescentes em ato infracional o direito de cumprir medida socioeducativa correspondente à gravidade do ato cometido. Estruturar condições para o CMDCA e o Conselho Tutelar realizar suas atribuições.
foto:Bira Cabral
Rede forte Para Joanez e Eva, capacitação oferecida pelos projetos fortaleceram o CMDCA e o Conselho Tutelar
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A obra foi finalizada em 2009, mas o Instituto Camargo Corrêa estendeu sua presença na cidade até o fim do ano passado. “Uma das condições para nossa saída era Juruti ter o Conselho Municipal da Criança e do Adolescente atuando e com o plano municipal elaborado e validado no município”, explica Juliana Di Thomazo, coordenadora do Infância Ideal. O Plano de Ação do CMDCA foi aprovado em junho e a consagração se deu em dezembro de 2012. Em um ato público, prefeito, presidente da Câmara e vereadores eleitos se comprometeram com as coordenadas do plano apresentado pelo CMDCA e o CDC. Maria Alice da Silva, da Oficina de Imagens, uma das organizações parceiras na execução das ações em Juruti, chegou a se emocionar com a fala do vereador reeleito Cleverson Mafra, que era o presidente da Câmara. “Ele disse que tinha orgulho porque eles eram um dos poucos municípios da região com um plano de ação”, lembra. As prioridades definidas pelo CMDCA foram incluídas na previsão orçamentária do município. O vice-prefeito, Jonas Morais, conta que já foram feitas várias reuniões para discutir o pacto assinado. Ele acompanhou o empenho dos grupos como secretário adjunto de governo na gestão anterior e frisa que, de certa forma, o trabalho do CDC e do CMDCA abriu os olhos da gestão pública para a realidade e para as possiblidades de melhorar o atendimento às crianças. “Um trabalho muito valoroso, sinceramente”, declara. Para proporcionar uma transição ainda mais cuidadosa, o Instituto Camargo Corrêa procurou o Instituto Alcoa, que também atua na causa da proteção da infância no município, para apoiar o projeto Novas Alianças, que ofereceu aos conselheiros tutelares e dos direitos de crianças e adolescentes formações em 2011 e 2012. A ONG Oficina de Imagens, que coordenou o trabalho em parceria com o Instituto, apresentou um projeto ao Instituto Alcoa. O Instituto Camargo Corrêa também discutiu com o CDC e o CMDCA como eles poderiam atuar na Câmara Técnica da Infância no Conselho Juruti Sustentável, criado pela Alcoa e pela Prefeitura, para o qual foram convidados pela credibilidade que conquistaram. Após algumas modificações, como a inclusão de ações de enfrentamento da violência sexual contra crianças e adolescentes, o Novas Alianças foi aprovado pela gerente de Sustentabilidade e Relações Institucionais da Alcoa Juruti,
Juana Galvão, e aguarda o aval do conselho da instituição. “Foi para lá justamente porque a gente acredita nesse projeto”, garante Juana. Independente da continuidade do projeto, Maria Alice, da Oficina de Imagens, sente-se bastante tranquila. “Criou-se um mínimo de cultura de proteção da criança”, avalia satisfeita. Conquistas Conselheiro do CMDCA desde 2007 e membro do CDC, Joanez Cativo atribui esse desempenho à forma como as oficinas oferecidas aos membros da rede de proteção à infância e adolescência foram desenvolvidas. “Sempre nos deram prerrogativas para sermos criativos, independentes e fomos amadurecendo”, conta. Com uma fala bastante segura, Joanez tece um comparativo da atuação antes do trabalho com o Instituto Camargo Corrêa e agora: “A gente agora caminha com um norte. As medidas eram paliativas, o trabalho era muito desarticulado e recebemos essa noção, do trabalho em rede. Consideramos que tivemos muitas vitórias.” Ele lembra que foi o Ministério Público, que já vinha criticando o atendimento à infância no município, quem chamou atenção deles quando o Instituto chegou. “Puxaram a nossa orelha para aproveitar a oportunidade e realmente não teríamos como abraçar a causa da infância se não fossem as formações”, diz. Sincera, Eva lembra que depois da primeira reunião com Juliana, eles ficaram sem reação. “Depois, pensamos: opa, não podemos esperar ela vir aqui, isso aqui é para nós, estamos trabalhando para as nossas crianças, não é para o Instituto”, conta. A estruturação do CMDCA é um dos itens do Plano que já saíram do papel. Outro foi a criação da primeira casa de acolhimento do município. O CMDCA fez um acordo com a Prefeitura, que é a responsável legal pela casa, e disponibilizou R$ 60 mil do Fundo da Infância e da Adolescência (FIA). Quando esse recurso acabar, a Prefeitura segue se responsabilizando totalmente pela Casa de Acolhimento Institucional Deus Conosco, que tem capacidade para atender até dez crianças e adolescentes. Esse foi o primeiro grande investimento do Fundo. Por uma razão simples: o FIA não existia quando o Instituto chegou a Juruti. Joanez Cativo, no CMDCA desde 2007, vivia
inquieto com isso, até que se muniu de informações ao participar do primeiro Seminário do Infância Ideal, em 2008. O seminário é um evento organizado pelo Instituto, que reúne participantes dos projetos para troca de experiência. Joanez descobriu que o fundo chegou a ter uma conta, mas foi fechada pelo banco porque nunca tinha sido usada. Uma nova conta foi aberta em 2009 e o Instituto foi o primeiro contribuinte com R$ 220 mil. “Ficamos boquiabertos, nunca tínhamos tido um centavo”, diz Eva. A falta de costume fez com que, até a aprovação do projeto da casa de acolhimento, o fundo tenha sido usado apenas para gastos pontuais, como ajuda de custo para formações de conselheiros em Santarém. Quantias que, somadas, não chegam a R$ 2 mil. Maria Pereira Almeida, assistente social à frente da casa de acolhimento, fica emocionada ao exaltar a importância do resgate, ou melhor, da criação do FIA. A instituição abriga, desde março de 2012, quatro crianças – são irmãos de 6, 11, 13 e 15 anos. Antes, as crianças estavam em Santarém. Lá, ficaram completamente sem o vínculo da família, que não tinha condições financeiras para ir visitá-las. A história desses irmãos e o trabalho que vem sendo feito para reaproximá-los da família, na tentativa de que algum parente adote-os, expôs a necessidade de se pensar na questão da convivência familiar e comunitária. O plano prevê a realização de seminários com esse tema para conscientizar a sociedade. Extensão dos trabalhos Para ajudar a colocar em prática a complexa lista de objetivos previstos no plano, o CMDCA está elaborando com a Secretaria de Finanças uma campanha para arrecadar recurso para o Fundo da Infância e da Adolescência (FIA), que serão utilizados para projetos de instituições a serem eleitos. O cumprimento de algumas metas está alinhado à extensão dos projetos realizados pelo Infância Ideal no município. Para a qualificação de jovens, entre outros projetos, o Centro de Referência de Assistência Social (Cras) pretende abrir novas turmas da Oficina de Brinquedos, realizada no âmbito do programa do Instituto. Pelo projeto, 120 jovens participaram do curso de confecção de brinquedos de pano e 60 aprenderam a fazer brinquedos da madeira. Destes, 157 receberam certificado de qualificação profissional. ideal comunitário 15
I n fâ n c i a
Memórias Além de contribuir para mudar o presente e o futuro das crianças e adolescentes de Juruti, o Instituto Camargo Corrêa também investiu na revalorização do passado da região com o projeto Memória dos Brasileiros – Transformações Amazônicas. A ação instigou os alunos do Ensino Fundamental e Médio de todas as escolas (municipais, estaduais e particular) para descobrir os porquês de cada pedaço da história da cidade. Parceiro idealizador do projeto, o Museu da Pessoa orientou professores e alunos para documentarem os registros. Em novembro de 2011, foi realizado o Festival Cultural da Memória, que reuniu todos que participaram e os personagens das histórias, lendas vivas do município. Um livro artesanal foi produzido com esses registros.
Curso de marcenaria “Ficava alegre de trabalhar para ajudar as crianças”, diz Janiel, que aprendeu a fazer os brinquedos distribuídos para escolas do município
foto: BIRA CABRAL
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A atual coordenadora do Cras, Michele Soares, ressaltou que esse novo projeto exige apenas a contratação de técnicos pela Secretaria de Assistência Social, já que o maquinário, que é o mais caro, foi doado ao município. “A minoria dos jovens completa a Educação Básica. Com uma formação como esta, há uma perspectiva maior de entrar no mercado de trabalho”, diz Michele referindo-se à função da oficina. Na coordenação do Cras à época da realização do primeiro curso, Maria Pereira conta que muita gente queria comprar os brinquedos e os jovens percebiam o potencial de obter uma renda com aquela formação. Mas os brinquedos produzidos durante o curso geraram outros valores. Do Cras, saíram para todas as escolas de Educação Infantil do município, inclusive as da zona rural e das comunidades ribeirinhas. “Não fazia como uma obrigação. Ficava alegre de trabalhar para ajudar as crianças”, conta Janiel Canto Albuquerque, 19 anos, que fez o curso de marcenaria. Em muitas escolas que não tinham brinquedos, os materiais das oficinas chegaram para possibilitar colocar em prática a orientação que 180 educadores das 140 escolas que oferecem educação infantil receberam em uma formação realizada em parceria do Instituto Camargo Corrêa com o Instituto Avisa Lá. “Esse material contribuiu muito para que a gente pudesse trabalhar a nova orientação de que brinquedo não é só um brinquedo, mas uma oportunidade de ensino mais lúdico e atrativo para as crianças”, conta Maria Raimunda Melo, ex-secretária de Educação e membro do CDC. Segundo a ex-secretária, o trabalho fez com que a demanda por vagas nas escolas municipais tivesse um aumento considerável. “Atendemos vários objetivos dentro dessa ação: melhorar a qualidade do ensino, porque a base da educação são as fases iniciais, proporcionar o material às escolas e dar profissão aos nossos jovens que são bastante vulneráveis”, resume a atual secretária de Educação, Regina Maria Gomes Pinheiro, para reforçar que um trabalho dessa natureza não pode sofrer uma paralisação. “Com os brinquedos, a criança tem a oportunidade de ir para escola também para brincar. Muitas não têm o brinquedo em casa”, acrescenta a professora Benedita Lima Canto, da Escola José Trancredi Júnior, escola polo da comunidade ribeirinha de Paraná de Dona Rosa. Quando voltam do intervalo muito agitados, ela leva os brinquedos para debaixo de uma árvore na entrada da escola, na beirinha do Rio Amazonas. Ela amarra também pequenas redes, onde as crianças deitam para se acalmarem um pouco. “Às vezes, elas vão fazer uma leitura e colocam uma bonequinha ou um carrinho do lado. Eu nem tiro”, diz a professora, sorrindo.
RR
Juruti (PA)
AM
AP Juruti
PA
CE
MA PI
AC
TO
RO
População total:
47.086
População urbana:
15.852
População rural (incluindo ribeirinhos e comunidades na floresta):
31.234
Área territorial:
8.306 Km2
Frequentam creche ou escola:
20.664 pessoas
Rendimento médio per capta nos domicílios rurais:
R$ 127,50
Rendimento médio per capta nos domicílios urbanos:
R$ 260
MT
MT GO
SP
foto: BIRA CABRAL
DF MT
MS
RN PB PE AL SE
ES RJ
PR SC RS
Projetos desenvolvidos Formação aos integrantes do CDC (2008 a 2011)
Oficinas sobre questões relacionadas à infância, política e atuação comunitária com os 16 membros do CDC.
Formação aos membros do CT e do CMDCA (2008 a 2012)
Trabalho culminou no primeiro Plano de Ação (2012-2014) do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente.
Qualidade na Educação Infantil (2008 a 2011)
Curso formou 180 educadores de 140 escolas que oferecem Educação Infantil e o 1º ano do Ensino Fundamental sobre a importância do lúdico no ensino.
Oficina de Produção de Brinquedos (2008 a 2011)
Qualificação profissional a 157 jovens na confecção de brinquedos em tecido ou em madeira. A produção foi doada às escolas de Educação Infantil.
Memórias dos Brasileiros – Transformações Amazônicas (2010 a 2011)
Orientação a jovens e educadores de todas as escolas para resgatar as histórias da cidade. O acervo produzido foi apresentado em outra produção: o Festival Cultural da Memória.
Parceiros: Construtora Camargo Corrêa, Alcoa, Prefeitura de Juruti, Instituto Fonte, Instituto Avisa Lá, Oficina de Imagens, Instituto Museu da Pessoa.
ideal comunitário 17
educação Básica
Coordenadas Fortalecimento Ângela (à dir.) reúne-se com professoras de uma escola em Alagoa Nova (PB): “Discussões fortaleceram função formativa da coordenação.”
18 ideal comunitário
Fotos: Edson Vasconcelos
uma educação de
para
qualidade Vamos imaginar um técnico de futebol. Mas um técnico diferente: além de orientar diretamente os jogadores e lidar com a pressão da torcida, este é responsável por cuidar dos uniformes do time, controlar a venda de ingressos, acompanhar os jornalistas na sala de imprensa, inspecionar a limpeza dos banheiros do estádio e, eventualmente, substituir um dos jogadores em caso de baixas. Pesado, não? Pois no universo da educação é mais ou menos essa a descrição da realidade de trabalho de quem atua como coordenador pedagógico. De acordo com o Ministério da Educação, esse profissional “tem, por atribuição precípua, articular, coordenar, acompanhar, supervisionar, orientar, subsidiar o professor no desenvolvimento do trabalho pedagógico”, ou seja, atuar diretamente na formação dos docentes. Porém, quase sempre acumula diversas funções, muitas de ordem administrativa, e não raro se vê com dificuldades para exercer suas atividades – o que acaba refletindo diretamente na qualidade do ensino que é oferecido aos estudantes. Com a proposta de contribuir para a melhora dessa realidade, o Instituto Camargo Corrêa, através do programa Escola Ideal, apoiou em 2012 o projeto Grupo Livre de Estudo e Formação, voltado especificamente à formação de profissionais de educação que atuam como coordenadores pedagógicos. O trabalho teve 80 participantes, de 14 municípios, distribuídos em quatro polos estaduais: Rondônia, Paraíba, São Paulo e Minas Gerais. Para Ângela Pereira, coordenadora pedagógica em Alagoa Nova (PB), a discussão de temas comuns em grupo foi um dos maiores diferenciais do curso. “O trabalho foi muito dinâmico, trouxe aprendizagem real, ao mesmo tempo em que proporcionou reflexões coletivas acerca das diferentes concepções da função social da escola, entre outros temas”, afirma. “Na minha forma-
Ação do programa Escola Ideal valoriza a função primordial dos coordenadores pedagógicos: apoiar o trabalho dos professores em prol da qualidade do ensino
ção profissional, a experiência foi riquíssima, adicionando leituras, falas e discussões e fortalecendo assim a função formativa da coordenação”, avalia a pedagoga, que está há 22 anos na área de educação, 8 deles como coordenadora pedagógica junto à Secretaria Municipal de Educação. Desvio de função A pedagoga Walkíria Rigolon, idealizadora do projeto e uma das responsáveis técnicas pelo trabalho, explica que a principal intenção do grupo era garantir um espaço de formação que trouxesse questões ligadas ao dia a dia dos coordenadores pedagógicos, que, em virtude da dinâmica de trabalho nas secretarias de Educação, muitas vezes não têm condições de investir na própria formação. “Ao contrário do que muitos acreditam, os coordenadores não são legitimados pelo cargo que ocupam, mas pelos conhecimentos, os saberes e o respeito que conquista dos professores, expresso em sua atuação como formadores”, diz. Em 2011, ela participou, como pesquisadora, do levantamento O coordenador pedagógico e a formação de professores: intenções, tensões e contradições, parte de um amplo estudo sobre o perfil do coordenador pedagógico realizado pela Fundação Carlos Chagas, para a Fundação Victor Civita. “Nesse trabalho observamos que inúmeras demandas recaíam sobre estes profissionais, como acompanhar entrada e saída dos alunos, atendimento aos pais, apoio ao diretor em questões administrativas, resolução de questões disciplinares e até mesmo de conferência da limpeza da escolas”, relata Walkíria. “Desta forma, a formação de professores acabava sendo relegada a terceiro ou quarto plano. Este cenário foi verificado também nos grupos que acompanhamos no projeto do Instituto.” ideal comunitário 19
educação Básica
Segundo o MEC, que desde 2009 oferece o curso de Especialização em Coordenação Pedagógica (veja box ao lado), o cargo de coordenador pedagógico tem sua origem na década de 1920. Surgiu com um caráter mais de fiscal das atividades dos docentes do que de agente educador, sendo apenas nos anos 1980 que a função passa a ter de fato cunho pedagógico. Para Maria José Santos, pedagoga que atuou em parceria com Walkíria como assessora educacional no projeto do Instituto, essa origem ainda é responsável por muitos dos equívocos relacionados ao cargo. “Esse histórico ainda repercute na atuação desses profissionais”, afirma. “A confusão de papéis no interior da escola é muito comum. A falta de clareza das funções, aliada à falta de apoio dos demais profissionais da escola, leva a esse desvio”, avalia a pedagoga.
fotos: Shutterstock
Mudança de postura As responsáveis técnicas pelo projeto sustentam que o investimento na formação dos coordenadores é fundamental para fortalecer o trabalho destes profissionais, garantindo maior articulação frente às escolas e aos atores envolvidos no processo educacional. “Os gestores precisam reconhecer a dimensão formativa como ação principal do trabalho do coordenador pedagógico, evitando descaracterizar sua atuação. Cada vez que um diretor de escola atribui ao coordenador uma atividade não pedagógica está, de certa forma, o desqualificando”, diz Maria José. “Nos grupos, alguns coordenadores relatavam inclusive que seu papel formativo também não estava claro para os próprios professores e gestores das escolas, o que dificultava seu trabalho. Acredito que o melhor caminho para romper com essas visões equivocadas é o de oferecer apoio, formação e as condições de trabalho necessárias para que esses profissionais assumam integralmente a dimensão formativa de seu trabalho”, afirma Walkíria. Para Maria Cecília Felix de Godoy, do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec), a atitude dos próprios coordenadores também é importante para o fortalecimento e a melhoria das condições de trabalho da categoria. “A única maneira de esclarecer esse equívoco é o coordenador pedagógico deixar de atuar ‘nos bastidores’, realizando tarefas meramente burocráticas, ou como ‘bombeiro’ que apaga os ‘pequenos incêndios’ que ocorrem no dia a dia escolar”, defende. 20 ideal comunitário
Cecília destaca que o coordenador precisa atuar de forma contundente na elaboração e execução do Plano Político Pedagógico da escola, com propostas claras e bem definidas, compartilhadas com toda a equipe escolar. “Esse plano só acontece se for construído e desenvolvido em conjunto”, diz. Quando o coordenador consegue exercer plenamente suas funções, seu trabalho extrapola a sala de aula ou a sala dos professores. Ele pode atuar como uma ponte com os demais membros da comunidade escolar, como os pais, a direção da escola e os gestores municipais. “Quando o coordenador desempenha seu trabalho com seriedade, ganha o respeito da comunidade escolar, que aprende a contar com ele”, comenta Maria Cecília. “Se ele souber mostrar que esse trabalho visa ao objetivo fundamental de
Pós-graduação na área O Ministério da Educação (MEC), em parceria com universidades federais, oferece desde 2009, dentro do Programa Nacional Escola de Gestores da Educação Básica Pública, o curso de Especialização em Coordenação Pedagógica, na modalidade de Educação à Distância. A proposta de um curso de formação continuada para os profissionais que atuam na área da coordenação pedagógica, de acordo com o MEC, “nasceu do reconhecimento da importância desse profissional para a melhoria da qualidade do ensino brasileiro”. Com a pós-graduação, o MEC busca contribuir para “definir a função e a identidade do coordenador pedagógico como o responsável, na unidade escolar, pela articulação
qualquer escola, que é o efetivo aprendizado dos alunos, terá mais que o respeito, mas a parceria da maioria dos envolvidos.” Para Walkíria, o grande fruto do trabalho do coordenador pedagógico é conseguir integrar os professores e toda comunidade escolar e fazer com que trabalhem juntos para garantir a qualidade da educação. “Neste sentido, a ação principal do coordenador pedagógico deve ser a de fortalecer os momentos coletivos entre seu grupo de professores e a comunidade, ampliando o diálogo e o compartilhamento de experiências, bem como a busca por alternativas para o enfrentamento dos desafios e tensões existentes nas escolas. É o que buscamos discutir com o projeto”, conclui. E, fechando com futebol, com uma equipe entrosada, o time avança.
Quem é o coordenador pedagógico? O Ministério da Educação (MEC) define assim a função deste profissional: “O coordenador pedagógico, como membro integrante da equipe gestora da escola, atua como dinamizador na construção do Projeto Político Pedagógico (PPP) da unidade escolar, envolvendo a comunidade na definição e na execução deste projeto. É quem propicia meios para que as expectativas de todos os envolvidos no processo educacional sejam consideradas e que a comunidade tenha participação em todas as etapas de planejamento e execução do PPP da escola.”
de todos os envolvidos na tarefa de educar, bem como dar condições e conhecimento a esse profissional para que ele exerça a sua função”. Estão envolvidas no trabalho 21 universidades federais. Já foram ofertadas 8.530 vagas para o curso e há hoje 2.467 alunos concluintes. O Guia de Recursos para a Educação, publicado pelo Instituto Camargo Corrêa em 2012, traz todas as informações sobre como as redes públicas de ensino podem se beneficiar do programa. O guia está disponível no site: www. institutocamargocorrea.org.br/Paginas/biblioteca.aspx
na internet vConheça o estudo Perfil dos Coordenadores Pedagógicos, realizado pela Fundação Carlos Chagas, para a Fundação Victor Civita www.fvc.org.br/estudos-e-pesquisas/2010/perfil-coordenadores-pedagogicos-605038.shtml
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empreendedorismo
fotos: Lilo Clareto
Costuran
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Uma empresa torna-se parceira de um projeto para criar uma incubadora de empreendimentos solidários na área têxtil. A incubadora resulta na criação de uma pequena cooperativa. A cooperativa vira fornecedora da empresa parceira do projeto. Este é o enredo de uma história sobre costura. E não apenas porque estamos falando de uma cooperativa que reúne 23 costureiros do município de Americana (SP), a CoopAmerican, que se tornou responsável pela produção de milhares de uniformes para uma grande indústria, a Tavex Corporation, empresa do ramo têxtil do Grupo Camargo Corrêa. É uma história sobre como é possível costurar o potencial de pequenos empreendimentos às demandas de grandes empresas, gerando ganhos de lado a lado. A inclusão de empreendimentos solidários na cadeia de valor de empresas de grande porte exige alinhavar interesses e ajustar modelos. Para as cooperativas ou associações, figurar na lista de fornecedores destas empresas pode significar estabilidade comercial e financeira. Do lado das grandes empresas, contar com empreendimentos coletivos e de pequeno porte é uma forma de diversificar fornecedores e, ao mesmo tempo, fazer com que sua política de compras funcione a favor do desenvolvimento local. No entanto, as especificações técnicas e de qualidade, o volume dos pedidos
ndo
valores e os prazos de entrega exigidos pela dinâmica das empresas podem ser incompatíveis com a capacidade de produção dos empreendimentos coletivos. Sem falar, é claro, das questões relativas aos custos dos produtos. O estudo Inovação e Sustentabilidade na Cadeia de Valor, realizado pelo Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas (GVCes), aponta que há uma tendência das empresas em incluírem, cada vez mais, as questões socioambientais como variáveis das suas políticas de compra. “As empresas buscam fornecedores que trabalhem no sentido da ecoeficiência e que tenham uma atuação positiva em questões sociais, especialmente no que diz respeito a estratégias de redução da pobreza e do desenvolvimento local”, afirma Felipe Bannitz, coordenador da Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares da Fundação Getúlio Vargas (ITCP-FGV), ao comentar os resultados do estudo. “Porém, preços competitivos ainda são o que define esta compra.” Apesar do enredo um tanto quanto especial, é neste quadro que se desenrola a história da relação entre a Tavex e a CoopAmerican. Tudo começou com o projeto Tecendo a Inclusão Americana, ação do programa Futuro Ideal, do Instituto Camargo Corrêa. A Tavex foi uma das parceiras do projeto (saiba mais sobre o projeto no quadro à pág. 24), que visava à constituição de uma incubadora de cooperativas de costura. O projeto ofereceu treinamento para cerca de 380 pessoas. A expectativa era de que, com treinamento e sensibilização, seriam formados grupos dispostos a se qualificar e a trabalhar dentro do conceito de cooperativas. Da incerteza à cooperativa Na etapa de incubação, em 2011 (realizada pelo Polo Tec-
nológico da Indústria Têxtil e de Confecções de Americana), quando a CoopAmerican foi formada e abrigada em uma sede provisória, associados entravam e saíam. A baixa produtividade alcançada no início das atividades, o que significava ganhos muito modestos para os costureiros em treinamento, fez com que poucos decidissem apostar na criação de uma cooperativa. Um pequeno grupo, no entanto, persistiu. Dele fazem parte Vera Lúcia Marques Nascimento e Itana Gomes Palácio, hoje “veteranas” da cooperativa ao lado de Maria de Fátima Boraschi Antonio e Florinda Marques de Souza Pereira. Vera costurava em casa, mas nunca havia usado uma máquina industrial. Itana tinha trabalhado em confecções, mas nunca como costureira. Elas lembram-se dos primeiros dias, quando os pedidos começaram a chegar e precisavam lidar com suas limitações técnicas para dar conta da qualidade exigida pelos clientes. “Mas a gente pensava: tivemos muitas chances, recebemos as máquinas, treinamento, não podemos desistir”, conta Itana. “Errado a gente sabia fazer; queríamos aprender a fazer certo”, completa Vera. Esta disposição de aprender e seguir em frente convenceu os participantes do projeto de que a cooperativa poderia ser bem sucedida. De um lado, os líderes do Comitê de Incentivo ao Voluntariado e Interação com a Comunidade (Civico) da Tavex, responsável por acompanhar o desenvolvimento do projeto Tecendo a Inclusão, acreditaram no potencial do grupo e iniciaram um processo interno para alterar o processo de compras de uniformes, mudando o calendário de encomendas, visando incluir a CoopAmerican na lista de fornecedores. De outro, dois dos instrutores das costureiras durante o processo de treinamento – o casal Cláudio Henrique Cabral e Sílvia ideal comunitário 23
empreendedorismo
fotos: Lilo Clareto
Cristina Dias Cabral – decidiram tornar-se cooperados. Estes dois acontecimentos remodelaram a história da CoopAmerican, ajudando a alinhavar a demanda da Tavex à capacidade de produção do empreendimento.
PERSEVERANÇA Cooperados enfrentaram o desafio de aprender a costurar e persistiram mesmo quando ganhos da CoopAmerican ainda eram irregulares 24 ideal comunitário
GANHA GANHA Anselmo do Nascimento, gerente de Engenharia de Produção da unidade, conta que o envolvimento dos profissionais da Tavex com o projeto e, afinal, com a cooperativa formada a partir dele foi o primeiro passo para a consolidação da relação entre a empresa e a CoopAmerican. “Nós, do Civico, percebíamos as oscilações: um dia, íamos até a incubadora e ela estava cheia; no outro, vazia”, diz Nascimento. “Avaliamos que poderíamos ajudar em relação a esta ‘crise de confiança’ dos participantes nos fazendo mais presentes e oferecendo apoio mais diretamente.” O apoio veio na forma do compartilhamento dos conhecimentos em gestão e de recursos humanos dos profissionais da Tavex. Além de organizar uma oficina sobre o programa 6S de gestão – voltado para a melhoria do processo produtivo através da organização do ambiente de trabalho –, oferecida por profissionais da Tavex e do Centro de Soluções Compartilhadas do Grupo Camargo Corrêa, as visitas do Civico à cooperativa tornaram-se mais frequentes. “Comecei a ir semanalmente à cooperativa e, com isso, ajudava na avaliação e resolução dos problemas de ordem social – como o fato de alguns não terem dinheiro para o transporte ou não terem creche para deixar os filhos – e de relacionamento”, conta Daiani Moura, assistente social da unidade e membro do Comitê. A encomenda dos primeiros uniformes surgiu como uma segunda etapa desta aproximação. Anselmo Gasque Antoniassi, gerente de Recursos Humanos da Tavex, explica que o propósito inicial da parceria entre a empresa e o Instituto Camargo Corrêa no projeto Tecendo a Inclusão não previa a questão da uniformização dos profissionais da fábrica. “Pensávamos em fornecer tecido para que eles confeccionassem alguns produtos”, afirma. Mas uma demanda extraordinária, de camisetas para um evento interno, apareceu e foi apresentada à CoopAmerican. O resultado foi positivo a ponto de o Civico então se engajar em um diálogo interno na empresa para que o processo de compras de uniformes fosse modificado.
APOSTA Nascimento, Daiani e Antoniassi, do Civico da Tavex em Americana, acreditaram no potencial da cooperativa
Aprender fazendo Para Felipe Bannitz, da ITCP/FGV, o grau de qualidade e a produtividade alcançados pela CoopAmerican são diferenciais que facilitam a sua inclusão na cadeia de valor de grandes empresas. Ele avaliou o trabalho e gestão da cooperativa nos últimos meses, como consultor da nova etapa do projeto Tecendo a Inclusão, que prevê a consolidação da cooperativa através de um processo de melhorias na gestão que promova a autonomia comercial do empreendimento. Além disso, nesta nova etapa, o projeto irá financiar a construção de uma sede própria através de parceria entre o Instituto, a Tavex e a Prefeitura Municipal. Tanto o consultor como os cooperados acreditam que isso se deve essencialmente à presença de Sílvia e Cláudio à frente do empreendimento. De um lado, o casal respondeu a um problema do grupo original, a ausência de lideranças. “Pessoas com o nível de fragilidade social apresentado pelos primeiros cooperados não tinham o perfil de liderança necessário, daí termos apoiado – a pedido dos associados – a entrada dos dois, então consultores do projeto, na CoopAmerican”, conta Nascimento. De outro, o trabalho de anos dos dois no setor de confecções – ele, especialista em gestão de produção, ela, professora em diversos cursos de capacitação – permitiu que os cooperados, todos sem experiência prévia no ramo, seguissem se qualificando. Diretor da cooperativa, Cláudio foi responsável pela adequação dos processos de produção, da melhoria dos moldes
fotos: Lilo Clareto
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“Eles precisavam de parceiros que entendessem o timing do empreendimento”, diz Nascimento. “E nós percebemos que receber os uniformes aos poucos, não em uma única encomenda feita com muita antecedência, em uma quantidade enorme, poderia ser uma vantagem logística”, comenta Antoniassi. O processo de homologação dos uniformes produzidos pela CoopAmerican foi feito aos poucos e a demanda foi sendo ampliada paulatinamente. Também o processo de precificação foi discutido de forma conjunta. A gerente corporativa de Recursos Humanos da Tavex Corporation, Andrea Shimada, explica que a empresa busca fornecedores que respeitem as questões socioambientais, mas que qualidade e custo seguem sendo fundamentais na definição de fornecedores. Para ela, o envolvimento direto dos profissionais da empresa no projeto foi fundamental para que a CoopAmerican conquistasse o status de fornecedora de uniformes. “Conhecemos a cooperativa, além da qualidade e custo oferecidos, podemos confiar que não há problemas nas relações de trabalho, infelizmente, uma triste realidade do setor de confecções”, comenta Andrea. “Ao contrário: sabemos que o trabalho gera uma renda que faz diferença na vida dos cooperados, além de retomar uma tradição do município de Americana, o que nos deixa orgulhosos.” Hoje, a CoopAmerican é responsável pela fabricação de mil uniformes por mês, utilizados em todas as unidades da Tavex no Brasil.
CONTRIBUIÇÃO Primeiro como instrutores, depois como cooperados, Sílvia e Cláudio foram fundamentais para a consolidação da CoopAmerican ideal comunitário 25
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– que diminui o desperdício de tecido – ao desenho da linha de produção. Apesar do trabalho dos primeiros meses, ele faz questão de falar mais sobre o futuro. “Agora, estamos pensando em como trazer mais pessoas para a cooperativa e amadurecendo a idéia de trabalhar em turnos na nova sede”, avisa Cláudio, de olho no aumento da clientela. Já Sílvia, hoje presidente da CoopAmerican, além de professora, também assumiu o papel de motivadora do grupo. É toda elogios ao grupo de quatro mulheres com quem ela e o marido iniciaram a produção das primeiras grandes encomendas e não deixa de sorrir mesmo quando lembra que os dois passaram algumas madrugadas refazendo peças que não tinham alcançado o grau de qualidade exigido pelos clientes. “Elas tinham de aprender, mas nós precisávamos entregar a encomen-
da”, lembra. “Eu brinco que, aqui, desenvolvemos um método próprio: aprender produzindo.” O método parece ter se tornado uma marca da organização. Vera, por exemplo, antes dona de casa, agora assume o papel de instrutora dos mais jovens e recém-chegados. Sempre que ouve o seu nome, levanta de seu posto e senta ao lado dos colegas para ajudar com os pequenos probleminhas – a agulha que quebrou e precisa ser trocada, os pontos que estão saindo frouxos. Já Marcela Mathias Bego, uma das últimas cooperadas a se associar, ainda trabalha dobrando, etiquetando e embalando os produtos, mas já aprendeu a ajudar com os moldes. Foi ela quem deus as boas-vindas a Tamíres de Oliveira em seu primeiro dia de experiência na CoopAmerican. Como? Ensinando e produzindo.
Tecendo a inclusão A indústria de tecelagem faz parte da história do município de Americana (SP). O cultivo do algodão e, posteriormente, a instalação de uma fábrica de tecidos são marcos do desenvolvimento econômico e social da cidade. Com matéria-prima à mão, diversas empresas de confecção instalaram-se na região. Apesar desta tradição, as mais de 780 confecções de Americana e municípios ao redor apresentam baixos índices de produtividade, associados à falta de mão de obra qualificada. Além disso, convivem com problemas trabalhistas, terceirizando a produção através de contratos informais. Resultado da parceria entre o Instituto Camargo Corrêa, Tavex Corporation, Polo Tecnológico da Indústria Têxtil e de Confecções de Americana, além da Prefeitura de Americana e do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), o projeto Tecendo a Inclusão Americana dialogou com esta história e este cenário. Iniciado em 2010, visou à formação de mão de obra qualificada e incentivar o surgimento de cooperativas no ramo da confecção, através da criação de uma incubadora. O foco principal eram pessoas desempregadas, com especial atenção aos jovens de 18 a 24 anos. Cerca de 380 pessoas foram formadas nas oficinas oferecidas pelo projeto e a incubadora viu nascer a CoopAmerican. Com o apoio do Instituto e da Tavex, a cooperativa agora passa pelo processo de desincubação. Ou, melhor dizendo, de graduação. “Preferimos falar em graduação, como em uma formatura, para dizer que a cooperativa fechou o processo com chave de ouro”, diz o consultor da nova etapa do projeto, Felipe Bannitz. Além de uma nova e definitiva sede, que será construída em terreno cedido pela Prefeitura, o objetivo desta nova etapa é fortalecer o empreendimento economicamente e na perspectiva da coesão do grupo. “O foco é a ampliação da carteira de clientes, de forma que a cooperativa ganhe autonomia comercial”, explica Lívia Guimarães, analista de projetos do programa Futuro Ideal, do Instituto. Hoje, a CoopAmerican conta com 23 associados, quatro clientes ativos, uma produção de cerca de 20 mil peças/mês e uma renda líquida per capta média de aproximadamente R$ 1.300.
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A despeito do velho preconceito de que “costura é coisa de mulher”, eles foram chegando aos poucos à CoopAmerican. Hoje, atrás das máquinas de costura no galpão que abriga o empreendimento é possível encontrar cinco rapazes, jovens entre 17 e 21 anos. “O primeiro que literalmente bateu na porta foi o Fábio e, depois, veio um amigo e outro e outro”, conta a presidente da cooperativa, Sílvia Cristina Dias Cabral. Exibindo diversas tatuagens, Fábio Henrique de Sousa mantémse quieto e concentrado enquanto costura, mas levanta os olhos e diz: “Eles vieram mesmo por minha causa.” E ri. Ao seu lado, o caçula do grupo, Adriano Rosa Teles, gaba-se do que aprendeu e de ser, hoje, um especialista em pesponto. É dele o maior número de peças realizadas por dia nesta etapa da produção. “É engraçado, não é? Eu ‘zoava’ meu irmão porque ia ao curso de corte e costura na escola enquanto eu jogava futebol”, diz ele. Sílvia acredita que dois fatores ajudaram a trazer tantos homens jovens para a cooperativa. “Primeiro, eles chegaram aqui e viram o Cláudio [diretor da cooperativa e marido de Sílvia] e o Bruno [filho dos dois], que tem 19 anos, trabalhando”, diz. “Depois, onde jovens desta idade conseguiriam uma renda como a que conseguem fazer aqui?” Como a remuneração é feita de forma proporcional à produção individual, cada cooperado pode receber valores diferentes. Entre os rapazes, o mínimo auferido por mês é de cerca de R$ 1.200. O dinheiro no fim do mês, claro, é um incentivo, mas o grupo de jovens também parecem se motivar com a ideia de superar a marca do outro. Como “meninos” que são, costuram como quem disputa uma corrida de autorama. Quem ganha é a CoopAmerican.
fotos: Lilo Clareto
Rapazes na costura
CRAQUES DA COSTURA Adriano e outros 4 rapazes aprenderam a dominar agulha e linha e contribuem com os bons resultados da CoopAmerican
na internet vConheça o site do projeto Inovação e Sustentabilidade na Cadeia de Valor do Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargar (GVCes) www.inovacaonacadeiadevalor.com.br
O programa Futuro Ideal possui projetos desenvolvidos em parceria com o BNDES através do Acordo de Cooperação BNDES/ICC 10.2.2024.1
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V o lu n ta r i a d o
Caminho da
integração Integrar implica em incorporar um novo membro a determinado grupo de forma que o conjunto continue coerente em todas as suas características. No Grupo Camargo Corrêa, a integração de novas unidades e novos profissionais remete não simplesmente à revisão das operações de negócio como da forma como esses se relacionam com as comunidades em que estão inseridos. Dessa forma, a integração de novas unidades ou empresas ao Grupo passa necessariamente pela incorporação de suas políticas de investimento social, realizadas especialmente pelo Instituto Camargo Corrêa. Nas novas unidades da InterCement, recém incorporadas após a aquisição da Cimpor, a adesão às ações do Instituto será iniciada através
foto: voluntários intercement
Início das atividades do programa Ideal Voluntário é passo importante na incorporação de novas unidades da InterCement no Brasil e no exterior
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do programa Ideal Voluntário. A escolha é uma aposta de que o engajamento dos novos profissionais do Grupo em atividades de voluntariado corporativo pode ser duplamente eficaz em termos de integração: a noção de coletividade trabalhada pelo programa vai integrar as unidades nas comunidades, de acordo com a nova política de investimento social, e também os profissionais novos e antigos. De acordo com Francisco de Assis Azevedo, diretor executivo do Instituto Camargo Corrêa, a experiência acumulada desde que o programa foi implantado em 2008 demonstra que o voluntariado fortalece os laços afetivos, refletindo positivamente no ambiente de trabalho. “As pessoas participam de forma espontânea, porém
comprometida, e se sentem felizes por esta oportunidade de ajudar o próximo”, comenta. “Em qualquer processo de integração, é necessário que as pessoas se aproximem e se fortaleça a relação de confiança entre elas.” Com a conclusão da incorporação dos negócios da Cimpor pela InterCement, em 2012, a empresa passa atuar em oito novos municípios brasileiros. Cada uma das novas unidades receberá uma reunião de apresentação do programa Ideal Voluntário ainda no primeiro semestre de 2013. Além de uma data para apresentar as possibilidades de ações voluntárias e o modelo de funcionamento do programa, uma campanha já foi lançada para incentivar a criação dos Comitês de Incentivo ao Voluntariado e Interação com a Comunidade (Civicos) e dos Grupos de Ação Ideal Voluntário (Gaivs). Os Civicos são compostos por lideranças de cada unidade, responsáveis por discutir e orientar ações que fortaleçam os vínculos da empresa com a comunidade e incentivar as ações de voluntariado. Já os Gaivs são compostos por profissionais para a realização de atividades voluntárias. “Tenho certeza que o programa vai contribuir para a sinergia dos colegas aqui e para mudar a visão da comunidade em relação à fábrica, aproximar a comunidade”, comenta Maria Celeste Oliveira de Souza, do Civico de Campo Formoso (BA). “Eu pude participar do Dia do Bem-Fazer [evento anual de voluntariado do Grupo Camargo Corrêa] em 2012 e constatei in loco o processo de integração entre os profissionais, familiares e na comunidade ou entidade escolhida”, comenta o gerente de Recursos Humanos da Unidade de Negócios Brasil da InterCement, Carlos Fontes, profissional que fazia parte dos quadros da Cimpor. Para ele, o potencial de adesão dos profissionais que trabalham nas novas unidades é enorme. “A partir do conhecimento e divulgação dos programas iremos sentir rapidamente a repercussão em todas as localidades.” A expectativa do Instituto é de que até o final do ano, todas as unidades brasileiras – em Brumado (BA), Cajati (SP), Campo Formoso (BA), Candiota (RS), Cezarina (GO), João Pessoa (PB), Nova Santa Rita (RS) e São Miguel dos Campos (AL) – tenham ao menos um Gaiv e Civico formados e em atuação. Além disso, todas devem já participar do Dia do Bem-Fazer 2013, além do Prêmio Idealista – que reconhece os Gaivs comprometidos com atividades perenes de voluntariado. Também a primeira fase do Plano de
foto: voluntários intercement
PRIMEIRAS AÇÕES Em Campo Formoso (BA), profissionais mobilizaram voluntários para mutirão de limpeza da Lagoa da Vila dos Sonhos
Mobilização Social pela Educação deve ser implantada nas unidades do Nordeste e Centro-Oeste até o final do ano. O Plano é uma ação do Ministério da Educação para aumentar a participação dos pais e da comunidade na vida escolar e conta com o apoio de grupos de voluntários do Grupo Camargo Corrêa em diversos municípios. Estrutura e apoio O programa Ideal Voluntário encontra solo fértil nas novas unidades da InterCement. Antes mesmo do lançamento oficial, várias unidades já haviam criado Civicos e Gaivs. Alguns dos grupos estão trabalhando justamente na adaptação de ações que já eram realizadas pelos profissionais. Nas unidades de Campo Formoso (BA) e São Miguel dos Campos (AL), a formação de Gaivs deve consolidar a atuação dos profissionais no Projeto Pescar, que oferece qualificação profissional e desenvolvimento cidadão a jovens em situação de vulnerabilidade social. As aulas são ministradas por voluntários. Em São Miguel dos Campos, são atendidos 16 jovens por ano. Este ano, o curso oferecido será de eletromecânica. “Estamos criando o Gaiv para fortalecer as ações e dar continuidade ao projeto. Agora, temos 30 membros fixos, sendo que 24 são profissionais da empresa ou prestadores de serviços”, conta Christiane Acioli, profissional de Recursos Humanos da unidade. Além do Pescar, os profissionais de São Miguel dos Campos também estão discutindo a ampliação de outra ação realizada em algumas das antigas unidades da Cimpor, o projeto Amiguinhos do Meio Ambiente. “Estamos cheios de ideias ideal comunitário 29
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para pôr em prática”, diz Christiane. O projeto consiste na realização de atividades de educação ambiental com crianças do 5º ano do Ensino Fundamental. Em Campo Formoso, os profissionais da unidade não apenas têm muitos planos, como já começaram a realizar ações. Em 23 de fevereiro, o Gaiv Educando e Cuidando organizou um mutirão para limpar a Lagoa da Vila dos Sonhos. Mais de 250 voluntários realizaram a tarefa com o apoio de caminhões caçamba, carretas, carregadeiras e retroescavadeiras disponibilizados pela Prefeitura e por empresas da região. Em quatro horas, foram retiradas mais de 22 toneladas de entulho e lixo. A limpeza foi o primeiro passo para um projeto municipal de transformar a lagoa em área de lazer. Maria Celeste, do Civico, enumera pelo menos mais quatro ações sendo planejadas. Uma delas demonstra bem o espírito da integração. Durante reuniões com os profissionais de outras unidades da InterCement, Maria Celeste conheceu o trabalho dos voluntários de Pedro Leopoldo (MG). “Nos mostraram os projetos de lá e agora estamos pensando em fazer algo parecido com o Cuidando de Gente”, comenta. Este Gaiv de Pedro Leopoldo recebe pedidos de auxílio de moradores das comunidades próximas à fábrica e busca organizações parceiras para oferecer serviços de saúde bucal, física, mental e assistência em direito e economia doméstica. Internacionalização Além de ampliar sua presença no Brasil, com a aquisição da Cimpor a InterCement também passou a controlar operações em Portugal, Moçambique, Cabo Verde, Egito e África do Sul. Nesta nova configuração, a área de cimentos do Grupo soma 3,5 mil trabalhadores diretos no Brasil e 6,1 mil espalhados pela Europa, América do Sul e África. Uma inestimável força dentro de uma rede estruturada de voluntariado. Para chegar com efetividade a todas as unidades, os diferentes programas do Instituto Camargo Corrêa, com destaque para o Ideal Voluntário, serão implantados aos poucos. Adriano Nunes, diretor de Inovação e Sustentabilidade da InterCement, explica que, seguindo a orientação de dar prioridade às relações humanas, a ordem da adesão foi determinada por questões culturais. Primeiro, as unidades brasileiras, depois Moçambique, onde a carência social é maior, e em terceiro Portugal, pela importância que o país tem para a empresa, uma vez que é a antiga base das operações da Cimpor. 30 ideal comunitário
“A internacionalização das atividades do Grupo exige também a internacionalização das atividades do Instituto”, comenta Azevedo, acrescentando que apoiar a InterCement na implantação de projetos sociais em outros países representa um grande desafio inicial. Segundo o diretor executivo do Instituto, o primeiro passo é o de sempre: o diagnóstico. “Precisamos primeiro conhecer a realidade dos locais onde há presença de empresas do Grupo para depois definir o programa e a estratégia de implantação”, diz. No caso da InterCement, essa etapa já está nos planos da empresa. Em Moçambique, um trabalho de avaliação está sendo realizado por consultores para traçar uma estratégia de longo prazo. Já em Portugal, a ideia é estudar, em 2013, a dinâmica social do país e incorporar ações que já vinham sendo realizadas. “A segunda parte do plano envolve o início de uma sensibilização de nosso modelo de investimento social em todos os países. Queremos também aproveitar o Dia do Bem-Fazer para materializar nossa crença de responsabilidade social”, explica Adriano Nunes. CONVOCAÇÃO Instituto divulga o programa Ideal Voluntário nas novas unidades da InterCement
interação Idealistas 2012 Em 2012, primeiro ano do Prêmio Idealista, 14 Grupos de Ação Ideal Volun-
acumulam mais de 350 horas em atividades voluntárias ao longo de seis
tário (Gaivs) foram reconhecidos pela dedicação ao trabalho voluntário. Os
meses. Os Gaivs idealistas recebem R$ 3 mil para destinar a uma ou mais
Gaivs são os núcleos formados por profissionais nas várias unidades do Gru-
instituições que tenham sido assistidas pelas ações voluntárias.
po Camargo Corrêa e que são responsáveis pelo planejamento e execução
Os três grupos com o maior número de horas dedicadas ao voluntariado
das ações de voluntariado.
ao longo do ano também recebem um troféu. Em 2012, foram destaque
O Prêmio Idealista foi criado pelo Instituto Camargo Corrêa como uma for-
o Gaiv Administrativo Ijaci (formado por profissionais da InterCement em
ma de reconhecer e incentivar o trabalho voluntário dos profissionais do
Ijaci-MG); Gaiv Jacareí (também de profissionais da InterCement na unida-
Grupo que atuam de forma continuada. São reconhecidos os grupos que
de paulista) e Gaiv Ação Solidária (da fábrica da Alpargatas em Ingá-PB).
Veja abaixo a lista dos Gaivs idealistas de 2012:
GAIV
Empresa
Município
Integrantes
Acorde
HM Engenharia
Barretos (SP)
5
Administrativo Ijaci
InterCement
Ijaci (MG)
12
Carona Solidária
CSC
Americana (SP)
10
Cativar
HM Engenharia
Campinas (SP)
5
Cuidando de gente
InterCement
Pedro Leopoldo (MG)
7
Escola de Meninos
InterCement
Pedro Leopoldo (MG)
7
Grupo de Ação Solidária
Alpargatas
Ingá (PB)
10
InterVolun Ijaci
InterCement
Ijaci (MG)
8
Jacareí
Intercement
Jacareí (SP)
6
Nações Unidas
InterCement
São Paulo (SP)
9
Pais pela Educação Lúdica
InterCement
Apiaí e Itaoca (SP)
13
Tempo de Educar
Construtora Camargo Corrêa
Santa Helena de Goiás (GO)
9
Zé Coque em Ação
Construtora Camargo Corrêa
Araucária (PR)
6
MENSAGENS Tenho acompanhado com alegria, através da revista Ideal Comunitário, o belo trabalho que a equipe do Instituto Camargo Corrêa vem realizando. Eduardo Santos Salvador/BA Gostaria de saber como receber esta revista, pois li uma de setembro de 2012 e achei muito importante para o nosso trabalho na Associação para o Desenvolvimento dos Municípios do Estado do Ceará. Lourdinha Linhares Fortaleza/CE
Este espaço está aberto a opiniões, sugestões e debates a respeito de reportagens publicadas na revista Ideal Comunitário, do Instituto Camargo Corrêa. O e-mail de contato é instituto@institutocamargocorrea.org.br
Para receber a revista Ideal Comunitário, envie seu endereço para o e-mail instituto@institutocamargocorrea.org.br As edições da revista também estão disponíveis no site www.institutocamargocorrea.org.br
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Inovações Sustentáveis
Um problema que virou
solução Diante do desafio de substituir um fornecedor de matéria-prima, profissionais da InterCement da Argentina criaram um “dinossauro” para reciclar madeira inservível na internet vA 3º edição do Prêmio Inovação Sustentável, realizada em 2012, premiou iniciativas sustentáveis das 12 empresas do Grupo Camargo Corrêa. Confira todos os projetos e ações inscritos no site www.premiocamargocorrea.com.br
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Especialistas em administração e gerenciamento de empresas costumam dizer que os problemas devem ser encarados como oportunidades. Com a criação de El Velociraptor, os profissionais da Recycomb, unidade da InterCement na Argentina dedicada ao tratamento e valorização térmica de resíduos industriais, demonstraram que seguiram bem essa cartilha. A história do equipamento com nome de dinossauro e que serve para triturar madeira inservível e aproveitá-la como biomassa em fornos de cimento começou assim: em 2011, o governo argentino fez uma inspeção e acusou grandes empresas multinacionais de sementes de manterem pessoas trabalhando em condições desumanas. Uma dessas empresas era fornecedora do sabugo de milho usado como excipiente na preparação de combustível alternativo sólido para os fornos de produção de cimento da Loma Negra, empresa produtora de cimento da InterCement na Argentina.
A reação da Recycomb foi imediata. “Decidimos suspender as relações comerciais com as empresas envolvidas nas denúncias, já que elas não estavam de acordo com nossa política de luta contra o trabalho escravo e infantil”, conta Marcelo Santangelo, gerente de Combustíveis Alternativos da Recycomb/ Loma Negra na Argentina. Encontrar um substituto com as mesmas características e vantagens do sabugo de milho transformou-se em um desafio. A primeira tentativa foi o uso de serragem de madeira, porém essa se mostrou menos eficiente e muito mais cara, já que não se trata de um resíduo indesejado como o sabugo de milho, mas um produto precificado. Além disso, os custos com frete eram muito altos, uma vez que os fornecedores de serragem encontravam-se a 500 km de distância da unidade de produção, em Olavarría, distrito de Cañuelas na província de Buenos Aires. A Recycomb passou, então, a produzir sua própria biomassa, aproveitando a madeira in-
servível da unidade, especialmente de paletes (estruturas em madeira usadas no armazenamento de grandes quantidades de materiais). As primeiras tentativas foram com uma máquina comum de trituração. Para serem triturados nessa máquina, primeiro, os paletes eram cortados ao meio com uma serra elétrica. Além disso, era necessário elevar os pedaços de madeira para que entrassem na trituradora. “Era uma operação insegura, improdutiva e pouco eficiente”, explica Santangelo. Foi preciso pensar uma solução que pudesse ser mais eficiente, mais segura e menos onerosa. Ágil e eficiente “Foi então que se deram as condições necessárias para pensarmos uma nova alternativa para resolver vários problemas de uma vez, de forma rentável e inovadora”, explica Plabo Maldonado, líder de Usina e Operações Externas. A solução foi o desenho, ajuste e desenvolvimento de um equipamento móvel capaz de triturar paletes de madeira em desuso, produzindo assim, um novo tipo de biomassa para os fornos. O equipamento foi batizado de El Velociraptor. O projeto não apenas ganhou a categoria Cadeia de Valor na 3ª edição do Prêmio Inovação Sustentável em 2012 como também garantiu a redução de custos para a empresa. O equipamento foi construído com cerca R$ 140 mil e a expectativa é que tal custo seja pago com aproximadamente seis meses de trabalho contínuo de trituração de paletes – o equivalente a cerca de 1.700 toneladas de madeira. Dentre os desafios apontados pelos membros da equipe que desenvolveu El Velociraptor, o primeiro foi montar um grupo capaz de realizar a tarefa de “inventar” um novo equipamento. Depois, conseguir o apoio dos diretores da empresa, convencendo-os em relação ao custo/benefício do projeto. Por último, encontrar um fabricante argentino que estivesse disposto a construir tal equipamento. Já o nome curioso foi dado pelos próprios funcionários ao se depararem com a máquina, que conta com uma “boca” trituradora e uma correia de descarga do material triturado, é móvel e ágil. “Tanto sua forma física, quanto seu conceito e agilidade nos fez lembrar o velociraptor, animal pré-histórico que movia-se muito rapidamente e que, sendo carnívoro, possuía dentes para rasgar e triturar a couraça dura de outros animais”, diz Marcelo Santangelo.
Aproveitamento A ideia de produzir a própria biomassa a partir da madeira em desuso deu resposta a um outro desafio, já que os paletes são um problema para muitas empresas que não sabem como fazer o descarte ou não querem ter custos com a destinação do material. Além de resolver os problemas da unidade com este tipo de resíduo, atualmente a Recycomb presta o serviço de trituração da madeira inservível para outras empresas. Tendo em vista que El Velociraptor é móvel e ágil, é possível realizar o trabalho no local onde está o material. Com isto, o custo de adequação do material para o transporte é zero. Nesse caso, são necessárias pelo menos mil toneladas para a realização do serviço.
Ideia moderna, forma pré-histórica O velociraptor original viveu entre 84 e 80 milhões de anos atrás, em regiões da Ásia. O nome quer dizer “ladrão veloz” e os cientistas estimam que podia alcançar a velocidade de um leopardo. Media cerca de 60 centímetros de altura e 150 centímetros de comprimento e pesava em torno de 50 quilos. Diferente de outros dinossauros, o velociraptor podia movimentar os braços livremente e, com isso, agarrar e levantar as suas presas. Se alimentava de mamíferos e dinossauros herbívoros. Vivia e caçava em bandos. A ideia de batizar a nova máquina com o nome do dinossauro veio da forma e função da máquina, mas também de uma agora tradição interna da empresa. Anos atrás, a mesma equipe que desenvolveu El Velociraptor já havia batizado um outro equipamento – uma bomba de concreto que foi modificada e instalada como equipamento de bombeio de resíduos pastosos para um forno de cimento – como Mamute, por conta de sua semelhança com um elefante. “Assim nos pareceu uma boa ideia continuar a identificar os nossos projetos com animais pré-históricos que refletem algumas condições específicas de nossos projetos”, diz Marcelo Santangelo.
ideal comunitário 33
ações&parcerias
A palavra é:
repactuação
Reafirmar alianças com o poder público municipal é o objetivo de encontros que o Instituto está realizando com novos prefeitos
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A parceria com o poder público e as organizações sociais é o principal eixo de funcionamento dos projetos desenvolvidos pelo Instituto Camargo Corrêa. E a premissa para o desenvolvimento desses projetos é fortalecer as políticas públicas nos municípios onde a empresa atua. “Quando um projeto se torna política pública, as ações passam a fazer parte do orçamento municipal, a ter um caráter mais duradouro. Isso nos dá a sensação de missão cumprida”, comenta o diretor executivo do Instituto, Francisco de Assis Azevedo. O Instituto Camargo Corrêa desenvolve três programas diretamente ligados a áreas em que as prefeituras desempenham papel fundamental: a educação, através do Escola Ideal; os direitos da criança e do adolescente, com o Infância Ideal, e a geração de trabalho e renda, com o Futuro Ideal. Diversas ações propostas por esses programas já foram incorporadas pelos governos de municípios onde o Grupo Camargo Corrêa está presente. Segundo o professor Paulo Vicente Alves, da Fundação Dom Cabral, em geral, transformar uma ação de investimento social privado em uma política pública é algo positivo. “Gover-
ilustraçãio: Marcella Tamayo
nos vêm e vão, mas o Estado continua”, diz, alertando para o desafio que a alternância de poder representa para a manutenção de projetos bem sucedidos. De acordo com Alves, um bom caminho para superar este problema é atuar em conjunto com os novos prefeitos e secretários para dar continuidade às ações. Com o objetivo de reafirmar as parcerias com o poder público e alinhar as ações com as políticas dos novos gestores, o Instituto está realizando encontros com os novos prefeitos de 15 municípios de seis estados. Durante as reuniões, são apresentados o histórico das parcerias em cada município e as possibilidades de continuidade da aliança entre os setores. Para simbolizar a continuidade da parceria entre as empresas do Grupo Camargo Corrêa, o Instituto e as prefeituras, representantes dos três setores assinam um Termo de Compromisso ao final de todos os encontros. As primeiras reuniões foram realizadas em fevereiro. Em Apiaí (SP), Pedro Leopoldo e Santana do Paraíso (MG) reuniram-se representantes do Instituto, da InterCement (empresa do Grupo com sede nas três cidades) e do Comitê de Desenvolvimento Comunitário (CDC) de cada município com os novos prefeitos e secretários. Os CDCs funcionam como base da implementação dos projetos e são formados por representantes das empresas do Grupo presentes nos municípios e de organizações públicas e privadas ligadas às áreas de atuação do Instituto.
PARCERIAS RENOVADAS Para a secretária de Educação, Cultura, Esporte e Lazer de Santana do Paraíso, Gezilda Pires Anicio, as reuniões foram fundamentais para que ela conhecesse os programas de forma mais aprofundada. “Gostei muito do que vi não só nas apresentações, mas também em minhas visitas às escolas. Estamos muito animados para seguir com o que vem sendo realizado e trabalhar para conseguir ampliar as ações”, afirma. Em Santana do Paraíso, o Instituto desenvolve os programas Infância Ideal (desde 2009) e Escola Ideal (desde 2011). Para isso, conta com parcerias com as secretarias municipais de Assistência Social, de Saúde e de Educação. A fim de contribuir para a melhoria da educação infantil no município, por exemplo, 40 profissionais da área receberam curso de capacitação. Outros 17 professores da rede municipal de ensino estão recebendo formação nas modalidades de extensão e pós-graduação. Os dois programas são realizados também na cidade de Pedro Leopoldo. Lá, a Prefeitura atende crianças entre 0 e 6 anos em 13 Centros Municipais de Atenção à Infância (Cemais) e 12 escolas municipais. No ano passado, os profissionais dessas instituições concluíram um curso de formação continuada e receberam certificação de especialização em educação infantil. A Prefeitura também assumiu o projeto Escola da Gestante e o estendeu a toda a rede do Serviço Único de Saúde do município. Cerca de 800 mulheres já
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ações&parcerias
foram beneficiadas pelas ações desenvolvidas em 14 postos de Saúde da Família, na Maternidade Doutor Eugênio Gomes de Carvalho e na Clínica de Saúde da Mulher e da Criança. Além da ampliação das atividades já desenvolvidas na cidade, a próxima etapa das atividades do Instituto em Pedro Leopoldo é a implantação do programa Futuro Ideal. “Temos que continuar com um CDC mais forte e dar continuidade aos projetos com a mesma velocidade que implantamos na gestão anterior. O Infância Ideal e o Escola Ideal já fazem a diferença para a comunidade de Pedro Leopoldo e, em momento bem próximo, implantaremos o Futuro Ideal”, projeta o supervisor de produção da InterCement, Uelton Marques da Silva, que coordenou os encontros no município. A cidade de Apiaí já recebe ações dos três programas do Instituto. Desde 2009, quando foi iniciado, o Futuro Ideal proporcionou um aumento de 209% na renda média dos artesãos que trabalham com cerâmica no município e um acréscimo de 286% no faturamento da Associação de Artesãos de Apiaí. Já o projeto de Fortalecimento do Sistema de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente tem como foco os conselhos Municipal dos DCA, Tutelar e o de Assistência Social, uma clara contribuição para que o município avance em políticas públicas que são sua obrigação. O Escola Ideal desenvolve ações para a melhoria da qualidade da educação nas escolas públicas de ensino fundamental, como os mutirões de reforma das escolas do projeto Juntos pela Escola Ideal e ações voltadas à formação de gestores e coordenadores pedagógicos. “Estou presente no dia a dia das creches e das escolas e posso afirmar o quanto nossa educação avançou. O ensino oferecido hoje tem uma qualidade muito maior por causa das capacitações oferecidas aos educadores desde a educação infantil até o fundamental”, avalia a secretária municipal de Educação e Esportes, Rosângela Adeil Alves Aliaga. Segundo ela, o fortalecimento da parceria era algo muito desejado por parte da nova gestão da Prefeitura. “Essas ações já foram incorporadas ao projeto político pedagógico das escolas, ao ensino de Apiaí. É algo que não se tira mais”, afirma. TODOS PELA CONTINUIDADE O Infância Ideal e o Escola Ideal, principalmente, têm um vínculo muito forte com os poderes municipais. A incorporação desses programas pelo poder público é essencial para que eles sejam desenvolvidos. Já a falta de comprometimento das prefeituras, pode causar uma descontinuidade das ações, o que, de acordo com Azevedo, seria um prejuízo para a comunidade. “Por isso, a gente faz um esforço muito 36 ideal comunitário
ilustraçãio: Marcella Tamayo
grande para que, mesmo havendo alternância de poder, não haja descontinuidade desses projetos”, ressalta o diretor executivo do Instituto. “Temos tido um grau significativo de sucesso nessas repactuações. Em nenhum município houve manifestação de descontinuidade.” O grande desafio na realização do investimento social privado (ISP) é orquestrar o envolvimento dos três setores: o poder público, o mundo empresarial e a sociedade civil. O modelo de ISP desenvolvido pelo Instituto Camargo Corrêa procura promover essa interação através dos Comitês de Desenvolvimento Comunitário. A forma como a implantação e o desenvolvimento dos programas foram elaborados propicia não só o envolvimento de cada uma das partes, como também aumenta a chance de sucesso nas realizações. Os representantes de cada um dos setores nos CDCs, por exemplo, conseguem ver suas ideias sendo realmente concretizadas e, à medida que os resultados começam a aparecer, o envolvimento de todos é cada vez maior. Defensor das parcerias entre empresas e poder público, Paulo Vicente Alves acredita que, no Brasil, boa parte das soluções de problemas sociais e de infraestrutura passa pelo estabelecimento dessas alianças. E, segundo ele, essa integração com a comunidade é um dos fatores que favorecem a continuidade dos programas mesmo com a alternância política nos municípios. “No momento em que você envolve a população e que ela diz ‘isso aqui está funcionando, isso aqui é bom’, você acaba tendo uma maior garantia de continuidade”, afirma o professor da Fundação Dom Cabral. O envolvimento da comunidade nos programas desenvolvidos pelo Instituto Camargo Corrêa é fomentado pelo CDC e também pelo Ideal Voluntário, programa transversal que atua de forma integrada aos demais. O objetivo é criar oportunidades de trabalho voluntário para que profissionais do Grupo Camargo Corrêa e seus familiares – que, geralmente, compõem grande parte da população dos municípios onde a empresa está instalada – contribuam para o desenvolvimento comunitário das cidades onde vivem. Uma das ações desse programa é o Dia do Bem-Fazer, realizado uma vez por ano e que possibilita a articulação entre o terceiro setor, o setor público e o setor privado. Para se ter uma ideia do sucesso desse projeto, em Apiaí, o número de voluntários passou de 277, em 2009, para 704 no ano passado. Em Santana do Paraíso também houve aumento: de 95, em 2009, para 535 participantes em 2012. E Pedro Leopoldo superou todas as expectativas ao reunir, no ano passado, cerca de 3 mil pessoas no Dia do Bem-Fazer.
É DEVER DOS MUNICÍPIOS Cada cidade possui uma Lei Orgânica, uma espécie de “Constituição municipal”. A Lei Orgânica deve seguir os princípios das leis e constituições federais e estaduais, mas as prefeituras e Câmaras de Vereadores têm autonomia para criar normas de acordo com as necessidades e peculiaridades de cada município. Algumas ações, porém, são obrigatórias: Manter programas de educação infantil e de ensino fundamental. Destinar 25% da receita proveniente dos impostos para a manutenção e o desenvolvimento da educação. Investir 15% do produto da arrecadação dos impostos no setor de saúde local. Estimular e facilitar a destinação de recursos e espaços para programações culturais, esportivas e de lazer voltadas para a infância e a juventude. Possuir, no mínimo, um Conselho Tutelar como órgão integrante da administração pública local, além de criar e manter o Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente.
ideal comunitário 37
ARTIGO Kenn Allen
foto: arquivo pessoal
Aprendendo com o voluntariado
Kenn Allen é consultor sênior da Associação Internacional de Trabalho Voluntário (Iave) e presidente do Civil Society Consulting Group em Washington. Foi pesquisador-chefe do Projeto de Pesquisa de Voluntariado Corporativo Global da Iave e é autor de The Big Tent: Corporate Volunteering in the Global Age.
Programas de voluntariado criados como fonte de aprendizado são mais vantajosos para empresas e funcionários quando bem projetados e administrados. 38 ideal comunitário
A lógica clássica do voluntariado corporativo é “bom para a comunidade, bom para os funcionários, bom para a empresa”. Há alguns anos, uma vantagem não intencional, mas reconhecida, para os funcionários e para a empresa era que o voluntariado era uma forma de desenvolver habilidades, aprender a trabalhar em equipes e desenvolver capacidade de liderança. Hoje, esses benefícios não são mais colaterais, mas buscados ativamente pelas empresas. Os programas de voluntariado criados como fonte de aprendizado são mais vantajosos para empresas e funcionários quando bem projetados e administrados. Algumas ideias para maximizar o sucesso: • Construir comprometimento com aprendizado. Comece com o compromisso de usar a participação do funcionário como uma fonte de aprendizado para depois realizar o planejamento operacional e estratégico. Identifique as mudanças em políticas e práticas que podem ser necessárias para transformar planos em realidade. • Reconhecer a comunidade como um local de aprendizado. Isso significa afastar-se da crença de que a empresa “sabe mais” e aceitar que ONGs, agências governamentais e grupos locais contribuam com conhecimento, habilidades e poder de liderança. • Direcionar recursos para estimular e gerenciar o aprendizado. A criação de equipes não ocorre só porque as pessoas trabalham juntas, mas porque elas têm a oportunidade de refletir em grupo sobre a sua experiência. Pessoas que identificam suas necessidades de aprendizado e encontram oportunidades de voluntariado que ajudam a preencher essas lacunas ganham muito mais. Empresas que se informam
sobre as experiências de funcionários na comunidade podem aprender a melhorar alguns dos seus processos de negócios. • Criar parcerias de aprendizado. Crie parcerias sólidas na comunidade, que possam servir de apoio para suas metas de aprendizado. A principal meta do voluntariado é atender à comunidade e é essencial manter essas metas de aprendizado no plano secundário. Geralmente, com a ajuda de um “corretor” terceirizado, é possível identificar os parceiros que reconhecem e apoiam os diversos benefícios de envolver o funcionário. As empresas devem tomar um cuidado especial com o possível conflito entre os benefícios de desenvolver habilidades que as próprias empresas e seus funcionários procuram e a realidade das ONGs parceiras. Por exemplo, as empresas devem esperar que as ONGs desviem outros recursos para realizar suas expectativas, reduzindo sua capacidade de desempenhar sua missão principal? Devemos avaliar o mérito de construir uma parceria com uma ONG baseado em suas habilidades, capacidade e disposição para oferecer treinamento e serviços de desenvolvimento para a empresa? Na realidade, para maximizar as vantagens do voluntariado como um ativo estratégico para o desenvolvimento da força de trabalho, as empresas devem investir nesse conceito com uma equipe interna adequada para administrar o voluntariado, exigindo o apoio ativo das suas unidades de desenvolvimento de recursos humanos e oferecendo suporte financeiro adequado às ONGs parceiras, permitindo a realização das suas expectativas. Ou seja, o objetivo maior do voluntariado corporativo deve ser de manter a lógica de “bom para a comunidade, bom para os funcionários, bom para a empresa” e um equilíbrio apropriado entre todas as partes envolvidas.
expediente
CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DA CAMARGO CORRÊA S.A. Presidente: Vitor Hallack Vice-presidentes: A.C. Reuter, Carlos Pires Oliveira Dias e Luiz Roberto Ortiz Nascimento ConselHo Deliberativo do instituto camargo corrêa Presidente: Rosana Camargo de Arruda Botelho Vice-presidente: Renata de Camargo Nascimento Conselheiros: Carla Duprat, Dalton dos Santos Avancini, Daniela Arantes Alves Lima, Daniela Camargo Botelho de Abreu Pereira, Elisa Camargo de Arruda Botelho, Francisco Tancredi, Henrique Ernesto de Oliveira Bianco, José Édison Barros Franco, Luiz Eduardo de Camargo Nascimento, Marcio Garcia de Souza, Márcio Utsch, Maria Regina Camargo Pires Ribeiro do Valle, Maria Tereza Pires Oliveira Dias Graziano, Naima Bennani Nascimento, Olga Colpo, Raphael Antonio Nogueira de Freitas, Ricardo Fonseca de Mendonça Lima e Vitor Hallack Instituto Camargo Corrêa Presidente do Grupo Camargo Corrêa e do Instituto: Vitor Hallack Diretor executivo: Francisco de Assis Azevedo Superintendente: Jair Resende Coordenadora de comunicação: Clarissa Kowalski Coordenadores de programas: Flávio Seixas, Felipe Soares, Juliana Di Thomazo e Toni Niccolini Analistas de projetos: Ariane Duarte, Gisele Pennella, Lívia Guimarães, Mariana Ramos de Baère e Renata Monteiro Costa Assistente administrativo: Bárbara Gomes Auxiliar administrativo: Maria de Lourdes Furtado dos Santos Estagiário de comunicação: Bruno Teixeira Fioravante REVISTA IDEAL COMUNITÁRIO
Arte Henrique Mello – studio1101 CAPA Lilo Clareto – foto impressão Leograf COMUNICAÇÃO DO GRUPO CAMARGO CORRÊA CAMARGO CORRÊA S.A. Marcello D’Angelo, Mauricio Esposito, Cintia Mesquita de Vasconcelos Alpargatas Cássia Navarro INTERCEMENT Fernanda Guerra CONSTRUTORA CAMARGO CORRÊA Denise Pragana e Verena Ferreira TAVEX CORPORATION Andrea Shimada e Bianca Kapsevicius Gonçalves
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Ciranda do desenvolvimento Costureiros da CoopAmerican (ao centro) posam com profissionais da Tavex Corporation usando os uniformes feitos por eles: empresa apoiou ativamente a criação da cooperativa.