PI Revista

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Alexandre Macieira

Arte na Rua

No Theatro Municipal do Rio de Janeiro, cantata Catulli Carmina pode ser assistida pagando apenas R$1

De três em três

Cansado da mesmice? Confira dicas de três centros culturais que fazem parte do circuito alternativo da Cidade Maravilhosa. Nome: Ana Rafaela, Erica Dourado, Helena Pasos Email: ana.rafaela.8@hotmail.com

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Rio de Janeiro está repleto de centros culturais que fogem do circuito tradicional. Um deles é o Museu da Humanidade do Instituto de Pesquisa Histórica e Arqueológica do Rio de Janeiro - criado em 2002, o espaço fica no bairro de Anchieta, na zona norte da cidade, tem 2,4 mil metros quadrados. O edifício em estilo Islâmico Medieval homenageia de forma respeitosa um estilo de Arquitetura existente no Oriente Médio entre 1250 e 1517 dC. As visitas devem, sempre, ser agendadas! 2

O Centro Cultural Justiça Federal, na Cinelândia, também faz parte deste circuito, ele abriga exposições, peças, concertos, todos com preços bem acessíveis. Uma boa dica é agendar uma visita orientada com o setor educativo, é gratuita! Você pode ser conduzido a um passeio pelo Rio Antigo, por meio de histórias, pode conhecer um pouco da cultura africana e até ficar por dentro de todas as transformações que ocorreram com o prédio que abrigou o Supremo Tribunal Federal, e que atualmente, é um dos poucos remanescentes da reformulação da cidade do Rio

de Janeiro ocorrida no início do século XX. E não deixe de conhecer a antiga fábrica de chocolates Behring, no Santo Cristo, espaço que abriga diversos ateliês e uma editora, A Bolha, independente e especializada em títulos traduzidos. Imagina na Copa! Jazz no Rio De 30 de maio a 1º e junho, o Vivo Rio vai receber o BMW Jazz Festival, que este ano conta com a participação do pianista Ahmad Jamal, conhecido por ser um dos favoritos da lenda do jazz Miles Davis. Além dele, artistas como Bobby McFerrin, o contrabaixista Dave Holland,


Cultura ao ar livre Depois de ter passado por São Paulo, O Vivo Open Air volta ao Rio. O festival de cinema acontece na Marina da Glória, de 15 de maio a 1º de julho, e exibirá produções clássicas e recentes, como O Poderoso Chefão II, Homem de Ferro 3, Laranja Mecânica e até o mais recente sucesso infantil Frozen. Ingressos disponíveis pelo site Ingresso Rápido. Para fechar, aproveite o Rio por um real, ou por nada! Já passou o tempo em que só a elite carioca freqüentava o Theatro Municipal, agora você pode curtir a programação e aproveitar para apreciar, do lado de dentro, a sua belíssima e luxuosa construção. Assista, por apenas R$1, trechos da ópera “Elixir do Amor”. O CCBB está exibindo a mostra - Resistir é preciso, que conta os 50 anos da Ditadura Militar. Sobre a mostra: Exposição que marca os 50 anos da ditadura militar no Brasil (1964-1985) idealizada pelo Instituto Vladimir Herzog, apresentando as lutas pela reconstrução

da democracia por meio das artes plásticas, obras de fotojornalismo, videodepoimentos e documentação do período. A mostra reúne um expressivo conjunto de obras de arte e documentos históricos que apresentam a militância de artistas que denunciaram abusos e crimes da ditadura militar brasileira. Entre os painéis da exposição está a coleção de Alípio Freire, jornalista e ex-preso político, que reuniu obras de artistas plásticos como Sérgio Freire, Flávio Império, Sérgio Ferro e Takaoka – produzidas no período de cárcere, no presídio Tiradentes, em São Paulo.

É o caso do legado dos grupos étnicos que contribuíram para a formação do tecido social que povoou e deu diferentes contornos à paisagem do Rio de Janeiro. Dentre estes, a exposição lança um olhar sobre a presença africana, assunto ao qual o Museu dedicará um extenso programa de ações. Imaginar o lugar de permanência foi o que fizeram os colonizadores europeus e os escravos que aqui chegaram de outras terras há talvez mais de 450 anos. Que imagens da cidade ajudaram a produzir? O que dessa construção se manteve, o que se ressignificou e o que se quis esquecer para dar lugar a outras representações? A mostra recorre a esse trânsito de imagens para narrar uma história simbólica da cidade, entre as infinitas possíveis.

No MAR, o destaque é a exposição ImagináRio, Desdobramento da exposição Rio de Imagens: uma paisagem em construção, imagináRio pretende ampliar a discussão em torno da construção social da paisagem carioca. Localizadano andar concebido como espaço permanente para exposições dedicadas ao Rio de Janeiro, imagináRio agrega trabalhos que apontam para uma contínua reflexão.

O que? Museu da Humanidade Centro Cultural Justiça Federal Fábrica da Behring Jazz no Rio

CCJF

o saxofonista Kenny Garrett, o trompetista Chris Botti e o grupo Snarky Puppy e outros se apresentarão no festival. Uma chance imperdível para curtir boa música. Exposição Mueck Tem coisa boa no MAM! O Museu de Arte Moderna recebe, até junho, as obras hiper-realistas da exposição Still Life, do artista plástico australiano Ron Mueck. Vale à pena conferir - e se espantar - com as obras do artista que já colaborou com David Bowie

Rio tem peças de teatro de graça

Quando? Às sextas-feiras e aos domingos, das 10h às 17h, com visita marcada pelos telefones (21) 3358-0809 e 3358-4908. De terça a domingo, das 12h às 19h. Telefone: (21) 32612550 Diariamente, das 10h às 17h Onde? Avenida Chrisóstomo Pimentel de Oliveira, s/n – Anchieta Avenida Rio Branco, 241 – Centro Rua Orestes, 28 - Santo Cristo Avenida Infante Dom Henrique, 85 - Aterro do Flamengo Avenida Infante Dom Henrique, 85 - Aterro do Flamengo Avenida Infante Dom Henrique, s/n – Glória Praça Marechal Floriano, S/N – Centro Rua Primeiro de Março, 66 - Centro Praça Mauá, 5 – Centro

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Arte na Rua

Carnaval o ano inteiro Escolas lançam seus enredos para 2015 Nome: Tadeu Palrinhas Email: tadeu.ph@hotmail.com

“Portela e Estácio falarão sobre os 450 anos do Rio de Janeiro” A Mocidade, que contratou Paulo Barros, que foi campeão com a Unidos da Tijuca neste ano, colocará na avenida um enredo de autoria do próprio carnavalesco. Ele escolheu o tema: “O que você faria no último dia de sua vida”. Com um estilo inovador e próprio de seu trabalho, ele promete prender e surpreender a todos durante o desfile. A tradicional Mangueira, que sempre apoiado por seu integrantes terá sobre um enredo sobre “mulheres mangueirenses”.Figuras importantes como 4

Reprodução

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uase três meses do fim do Carnaval 2014, as escolas de samba já se preparam para 2015. Após um período de muito troca-troca entre integrantes das escolas, as agremiações estão na fase de lançamento de enredo. Duas delas falarão sobre os 450 anos do Rio de Janeiro, e a Mocidade, nova casa do carnavalesco Paulo Barros, contará na “avenida o último dia de nossas vidas”. A Portela, no grupo especial, e a Estácio de Sá, pela Série A, resolveram levar para a Sapucaí em 2015 os 450 da cidade do Rio de Janeiro. As duas agremiações deverão abordar desde o período da fundação da cidade, até a Copa do Mundo deste ano.

Torcedores criaram uma ideia de logo para enredo da escola

Dona Zica, Beth Carvalho, Alcione, Leci Brandão, entre outras, deverão ser lembradas em 2015 pela verde e rosa. A Vila Isabel, que realizou um desfile muito polêmico neste ano, em que muitas alas vieram sem nenhuma fantasia, deverá falar sobre os 80 anos do maestro da Orquestra Petrobras Sinfônica,IsaacKarabtchevsky.A escola que passa por uma mudança política, deverá ter outras novidades até o final do ano. A Beija-flor de Nilópolis, que levou este ano para a avenida o enredo sobre “Boni” e foi bastante criticada, amargando uma sétima colocação, deverá falar em 2015 sobre um país africano. Segundo informações, esse país deverá ser Guiné-Bissau. A Viradouro, recém-promovida para o Grupo Especial, chegou a deixar claro que a escola iria fazer uma homenagem a FernandaMontenegro,porém,uma

informação da assessoria de imprensa da atriz, que afirmou que ela estaria com uma viagem marcada no final de semana do Carnaval de 2015, fez com que a diretoria da escola voltasse atrás com o tema. Até o momento, não há nada definido. A Grande Rio e a Unidos da Tijuca também não chegaram a divulgar enredo e nem a comentar sobre o assunto, mas segundo a imprensa, a escola de Caxias deverá falar sobre o Cirque du Soleil. Já a atual campeão poderá deixar a Sapucaí com trajes chineses. Salgueiro, União da Ilha, Imperatriz Leopodinense e a São Clemente também ainda não anunciaram, e nem pistas sobre o que cada escola contará em 2015 foi dado. Mas, segundo as agendas carnavalescas, até a metade de junho essas agremiações deverão estar com o tema pronto e até trabalhado. Aguardaremos os próximos capítulos.


Arte na Rua

Favela-movie nasce e se consagra no Brasil

O gênero que remete a ação com uma pitada de cultura popular fatura milhões seado no livro homônimo de generalizada e de domínio do Paulo Lins. Após o sucesso, tráfico de drogas da década de com prêmios internacionais, 90. Para redefinir a situação do arece que foi ontem, mas Meirelles foi dirigir produções lugar onde cresceu, Lins usa já virou filme. O “Ale- em Hollywood e a Rede Globo o termo “neofavela”, em opomão”, filme lançado este sição à favela antiga, aque“Favela movie, que mistura o ano, é uma obra de ficção que la das rodas de samba e da cotidiano das comunidades recorre aos fatos reais do epimalandragem romântica. sódio conhecido como a InvaJosé Padilha sacramenta o esticariocas ao glamour das são do Alemão em 2010. Na lo em “Tropa de Elite”, sucesso salas de cinema.” época, as forças militares ocunacional absoluto acumulando param o Complexo de Favelas um total de R$ 102,6 milhões, do Alemão, na zona norte do lançou quatro temporadas da a maior do país! O personagem Rio de Janeiro, para a implan- série “Cidade dos Homens”. capitão Nascimento, do BOPE, tação de Unidades de Policias Na trama, os dois protagonis- virou queridinho nacional. O Pacificadoras (UPPs). tas, Acerola (Douglas Silva) povo da favela viu seu dia-a-dia O longa conta a história de cin- e Laranjinha (Darlan Cunha) contado de verdade. O bordão co policiais que se infiltram na são moradores de comuni- do brasileiro se tornou “Missão favela do Complexo do Alemão dades cariocas e vivenciam dada, é missão cumprida”. Wagpara completar uma missão, dilemas próprios da adoles- ner Moura, ator principal que no entanto, traficantes desco- cência, o contraste entre ricos interpreta o capitão, em uma brem tudo sobre a operação e pobres, a problemática do entrevista afirmou que era um secreta e começam uma bus- poder paralelo estabelecido anti-herói, e não esperava tamaca incessante para eliminar os pelo tráfico de drogas, a vio- nha empatia das pessoas. policiais infiltrados. lência urbana, dificuldades fi- O brasileiro conseguiu abAlemão constitui mais um filme nanceiras e a cultura das fave- sorver o dia-a-dia de uma do estilo que ficou conhecido las são temas recorrentes em sociedade por muito tempo como favela movie, que mistu- filmes do estilo favela-movie. escondida e tornar um estilo imra o cotidiano das comunidades Da pequena criminalidade dos portante para a cena e reforçar a cariocas ao glamour das salas de anos 60 à situação de violência identidade nacional. cinema. É importante pontuar que esse é um estilo cinematográfico com a cara do povo brasileiro. Os altos índices de bilheteria deu uma visibilidade maior ao cinema nacional que desde o Cinema Novo andava em baixa. Assim, o gênero ganhou novos horizontes, expandindo-se para a TV nas novelas e seriados. Em 2002 o diretor Fernando Meirelles, ficou conhecido internacionalmente com o filme “Cidade de Deus”. Ba- Alice Braga e Douglas Silva (Dadinho) no longa Cidade de Deus Nome: Mayra Lima Email: mayralima2@gmail.com

Cesar Charlone

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Marcus

Arte na Rua

Tradicional feijoada carioca.

Botecos cariocas e sua culinária Va r i e d a d e s d a g a s t ro n o m i a b ra s i l e i ra Nome: Glauce Tavares Pinto Email: glautp@gmail.com

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tradicional conversa de boteco, os seus petiscos maravilhosos e o chopp gelado, tornaram os restaurantes e bares do Rio de Janeiro pontos de encontro para relaxar e curtir. A feijoada, por exemplo, é o prato de maior referência em gastronomia na cidade, além do famoso bolinho de bacalhau, da canjiquinha, da bacalhoada, da sopa de ervilha, do caldo verde e da infinidade de tira-gostos. A essência do botequim é o ponto de encontro, para as mais diversas ocasiões. É lá que se encontra o samba de raiz, além das conversas descontraídas e dos encontros. Algumas casas centenárias no Rio de Janeiro possuem uma clientela cativa e estão resistindo às mudanças dos hábitos alimentares contemporâneos. Em uma grande metrópole, os ritmos de vida são mais acelerados, o que compromete a alimentação, 6

e apesar do aumento no serviço de fast food, as refeições tradicionais permanecem fielmente no cardápio do carioca e em outras grandes cidades. O boteco é um lugar sem sobrenome, onde não existe cor, nacionalidade, ou preconceito. Onde se faz amizades e se conversa de tudo. Podemos identificar várias influências indígenas na culinária brasileira, como o hábito de utilizar a mandioca e seus derivados, por exemplo, a farinha de tapioca. As influências africanas, onde adquirimos o gosto pelo a feijoada, a batata, o inhame, o cuscuz, a galinha e o azeite. Dos portugueses, herdamos a apreciação pelos doces, frituras, cozidos, sopas e refogados. Conhecer a gastronomia de uma cidade valoriza a cultura daquele povo, alé de ser uma fonte de investigação da identidade de uma região. Desta forma, o boteco é simplesmente parte da cultura nacional. Estas fortes influências no dia a dia brasileiro, incentivaram a criação

do concurso Comida di Buteco, que surgiu há 15 anos em Belo Horizonte. O concurso visa enaltecer os pratos considerados pratos de raiz, que são servidos nos bares e botecos das principais cidades brasileiras. A ideia se espalhou pelo país afora, e há nove anos o concurso acontece em outras grandes cidades do Brasil. Os estabelecimentos que participam do concurso Comida di Buteco são selecionados previamente pelos organizadores. Nesta última edição, só na cidade do Rio, 31 botequins embarcam no concurso, e em todo o Brasil 16 cidades estão participando. O Comida di Buteco apresentará neste ano 400 petisc com tema livre e votação popular em todas as cidades participantes de 11 de abril a 11 de maio.

“Conhecer a gastronomia de uma cidade valoriza a cultura daquele povo, alé de ser uma fonte de investigação da identidade de uma região. Desta forma, o boteco é simplesmente parte da cultura nacional.” O principal objetivo é incentivar a criatividade na confecção dos pratos, que são chamados tradicionalmente de tira-gosto, que além de saborosos, devem ter uma apresentação elegante. O Rio recebeu muito bem o concurso, e muitos bares pequenos tornaram-se referência e viraram pontos turísticos, como é o caso do Bar do David, que se tornou muito conhecido e recebe desde artistas a autoridades. Neste ano o tema é ‘Mais amor e mais buteco, por favor!’, lema inspirado em grafites das ruas do Rio.


Arte na Rua

PAQUERAS CARIOCA

Divulgação

A paquera carioca aborda um tema universal “ A comunicação”

Eis aí uma afinidade muito grande, tudo na vida tem que ter talento Nome: Joe Andreson Email: faomi@uol.com.br

“Começamos abordando um tema simpático, que é inspirado na atua- lidade. Amor com paquera combina? Eri Jonhson famoso ator concorda. Paquera, quando a gente está a fim de uma determinada coisa a gente faz tudo para conquistar (esse é um dos temas das paqueras). O humor faz parte da vida, sem ele não existe paquera (cita Eri Jonhson) podemos questionar: É namoro? É paquera? Eis aí uma afinidade muito grande. Tudo na vida tem que ter talento, com ele você consegue tudo. Tem que ter talento até para paquerar. Napaqueracadaesquinatemuma curva, nada é planejado a máxima é ser feliz. Tem por essencia a descrição e a caracterização deste evento tão leve que é a paquera.

Como? Quando? Onde? Porque? Quem faz parte dela? Da paquera virtual, olho no olho nas quadras, das escolas de samba, na torcida dos estadios, no futvôlei na barra. Eri diz que nao existe uma frase que define a trajetória. Em fotos com alguns de amigos de sua longa caminhada ele cita a de Romário “Quando eu nasci, Deus olhou para mim e disse: Esse é o cara” A paquera carioca aborda um tema universal“ A comunicação”. Na paquera o lema é não ter limites. Nada que define lugar, temperamento, ate a cantada ja não entra mais na paquera. Estilos de paquera que as pessoas usam ao se comunicar. Como parceiros em potencial “ cada abordagem leva a experiências diferentes. Pesquisando

entre artistas, pessoas do mundo tutorial afirmam que a maioria das pessoas é uma mistura de estilos de paquera como um tipo dominante”. Pesquisando a impotância da paquera de Eri Johnson. Eri Jonhson o humor te inspira nas paqueras? R: Sempre Qual a diferença entre paquera e namoro quando se trata de afinida de? R: Só ficando. Você prefere a paquera virtual ou o corpo a corpo? R: Fazer uma conexão real com outras pessoas pode ser emocionante. Sem a abordagem a coisa toma outro rumo tem que ser criativo e original. Existe um horario para a paquera? R: A noite depois do teclado deixa de ser criança e vira adulta o virtual vira real.

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Da boêmia ao elitismo Gabriel Lessa

A Lapa carioca sai do abandono, se revitaliza e volta às origens Gabriel Lessa e Jorge Porciuncula gabrielferreira88@hotmail.com

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Lapa está voltando a ser a Lapa. O trecho da música de Marcelo D2 exemplifica a nova fase do bairro. Depois de uma época onde a região foi relegada apenas ao consumo e venda de drogas, o povo carioca salvou a noite mais democrática do Rio de décadas de desprezo das administrações em tempos passados. No Paraná a Lapa é uma cidade. Em São Paulo é um distrito. Em Campo de Goytacazes, Salvador e Rio de Janeiro é um bairro, que na capital carioca tem um charme e uma vida noturna extremamente agitada todos os dias da semana, um reduto boêmio da cidade maravilhosa, berço dos malandros e do chopp na esquina desde 1950, quando intelectuais, políticos, músicos e outros artistas começaram a frequentar o local, atraídos por sua riqueza na arquitetura. A noite acontece na rua e é a personificação da boêmia carioca. Entram em cena as luzes coloridas, a rua para receber bambas do samba, gringos embriagados e até os que não querem nada com a música,

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Os arcos da lapa em um típica sexta-feira na vida dos cariocas

quase sempre boa, que vaza das boates e se mistura com a rua. De uma noite para outra, brota um novo espaço, às vezes sofisticado, às vezes improvisos de bar, só com mesas e geladeira. Todos com público garantido. E todo público com a garantia de que na Lapa ele vai se encontrar em algum canto. De beco em beco um novo estilo. A Lapa é um misto de ritmos e pessoas, onde todos convivem em literalmente plena harmonia. Reúne um imenso aglomerado de bares, restaurantes e grandes casas de show como o Circo Voador, localizada no antigo Largo das Pracinhas e atualmente mantida pela prefeitura e traz milhares de pessoas em seus espetáculos culturais. “Energia e multiplicidade é assim que eu resumo a Lapa”, diz Rafael Oliveira, estudante de Cinema e frequentador assíduo. “Cada dia estou num bar diferente, ouvindo um som

diferente com bandas diferentes”. No bairro encontramos os famosos “Arcos da Lapa” com contados 84 semicírculos, construídos no início do século XVIII no período de Brasil Colônia, com objetivo de conduzir água, pois nesta época o Rio de Janeiro sofria dificuldades no abastecimento de água, que até então eram os escravos que traziam do Rio Carioca. Hoje o aqueduto funciona como via para os bondinhos com destino a Santa Teresa, outro bairro histórico da cidade. Um lugar especial para moradores e visitantes do Rio de Janeiro, quem passar por lá presenciará história, ar te, música e muito lazer, para chegar à Lapa é fácil, está localizada na re gião central, lá cer tamente cada um encontra um cantinho que completa o seu estilo e faz da sua noite um verdadeiro deleite.


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A efervescência das ruas Nome: Carolina Russell Email: carolina.russell@hotmail.com

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Reprodução

moda, do jeito que conhecíamos, acabou. Culpe a internet! Foi ela, que com suas redes de comunicação global e velocidade de informação, ajudou a enxergarmos a moda de uma maneira diferente. Instruções codificadas, guias enumerados de revista do que é certo ou errado usar para pessoas que eram apenas um mercado, não existem mais como a última palavra no que é estilo. A moda, agora, está passando por uma fase inovadora em que as misturas de estilo são mais importantes do que grandes marcas. E, não podemos negar que ela se transformou em identidade, o reflexo de quem você é estampado na sua roupa, representando suas origens culturais e sociais. Este não é um fenômeno recente. Desde os anos 80, com o surgimento do grunge, hiphop & rap, e seguidamente, nos anos 90, o clubber a moda de rua tomou o seu lugar como manifestação cultural. Daí, para completar a salada de estilo, a internet apareceu para com-

partilhar com o mundo os looks dos desconhecidos das ruas. O surgimento de novas marcas com estilo e preços mais acessíveis e a evolução dos brechós (agora, outlets). Os grandes nomes e marcas também passaram a produzir para mercados mais massificados, com preços que não beiram a surrealidade e um ‘valor criativo’ imensurável. Muitos dos grandes estilistas já reconheceram a verdade mais óbvia de todas: não tem graça nenhuma estar à frente de designs que vão apenas para uma pequena parcela de donas de casa, ‘ricas e petulantes’, que não possuem a habilidade de buscar originalidade na hora de se vestir. A revolução do estilo chic-barato reforça o que os amantes da arte e da originalidade, sempre celebram e admiram: estilo de verdade, que é mais uma questão de criatividade do que de privilégio. Moda é simplesmente expressão da criatividade, é mostrar de qual nicho ou lugar você vem, é buscar inspiração nos lugares mais inusitados, é criar a partir de looks vistos em desconhecidos na internet.

Fotos do livro “ACarioca”.

“Estilo de verdade, que é mais uma questão de criatividade do que de privilégio.”

Enquanto, uma vez, era apenas punhado de pessoas que ditavam temporadas de estilo com conceitos e regras rigorosas do que fazer ou não fazer, hoje em dia, nós buscamos ideias em sites como o Sartolialist, o RioEtc, ou até mesmo no Instagram. Os blogueiros transformaram a passarela em calçadas de avenidas movimentadas e até mesmo pequenas vielas da Lapa. Isso significa que nunca tivemos nas mãos, como hoje, o poder de transformar e fazer moda cada vez mais rápido. Não há mais desculpas e reclamações sobre não ter dinheiro ou ideias para criar algo fantástico que possamos não só usar, mas carregar como identidade. O Rio de Janeiro vivia uma época de baixa estima por ser visto apenas com a moda de rua dos calçadões e da praia, nunca paramos para ver a garota de Ipanema usando um vestidinho para ir ao cinema. Porém com o surgimento de blogs e sites enaltecendo a cara dessa mesma moda praiana e descolada do carioca, só que fora das areias e mais perto do asfalto, deu visibilidade ao mundo do que é estilo na cidade maravilhosa. A interatividade com a rua passou a exigir mais e mais o desejo de conhecer, entrevistar e saber o que move cada um. Virou o que o carioca ouve, come, os lugares que frequenta, os filmes que assiste –enfim, como vive e como se relaciona com esse cenário único. 9


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dedor de gás de cozinha chegou ao Rio de Janeiro em 1984 para trabalhar com seu irmão mais velho vendendo queijo coalho e carne de sol, e desde então vive na própria Feira. O motivo da vinda para solo carioca? A profissão que seguia em sua terra natal estava muito concorrida: matador de galinhas. – Lá na Paraíba eu não tinha oportunidades. Matava galinha, mas muita gente já fazia isso. Então resolvi vir para o Rio tentar a sorte com meu irmão e graças a Deus tudo deu certo. A cidade e a Feira me acolheram. Tivemos uma grande dificuldade no principio, quando ela era apenas aos domingos, mas com muita luta e uma longa caminhada ela segue até os dias de hoje, agora funcionando de terça a domingo e sendo ponto de referência no país para as pessoas da minha terra (Nordeste) – afirmou ele, que é pai de dois filhos que também trabalham na Feira dos nordestinos. E Deda não é o único a ir buscar sua sorte em São Cristóvão. Atualmente a Feira conta com 624 barracas fixas, onde milhares de pessoas trabalham quase que diariamente nas mais variadas atividades. Entre elas estão o casal Vanessa e Alandelon Fernandes, uma maranhense e um carioca que casaram há um ano, trabalham no local e lá mesmo começaram sua história.

cionado pela união das duas culturas em solo carioca. – Meu pai tinha uma barraca de temperos quando a Feira ainda era realizada fora do pavilhão, assim como o pai dele (Alandelon). Nos conhecemos aqui quando criança. Depois fomos crescendo e passamos a trabalhar com nossos pais. O contato era e é diário, então a partir daí foi nascendo uma paixão. Há um ano nos casamos e somos muito felizes. Hoje tocamos juntos a loja do meu pai, que continua vendendo temperos, mas atualmente já conta com outras especiarias também – conta a carioca Vanessa. Assim como a história de amor entre Vanessa e Alandelon, outras tantas também tiveram início na Feira. O pavilhão é ponto de encontro regado a muita música e festa, principalmente aos fins de semana, quando recebe diversos shows típicos nos seus dois palcos principais. Em 2003, o local, que permaneceu ao redor do Campo de São Cristóvão por 58 anos,

foi reformado pela Prefeitura do Rio e virou Centro Municipal de Tradições Nordestinas. Mais tarde, em 2011, sofreu nova reforma, ganhando a cara atual e se transformando de vez em uma referência da cidade do Rio de Janeiro, não apenas para nordestinos e cariocas, mas também para turistas de todo o país e do mundo.

Sou apaixonada pela Feira e

grata por tudo o que ela me proporcionou Vanessa Fernandes

Foto: Diogo Santarém

624 barracas 10 mil pessoas por dia Feira dá início à amor Ela, filha de pais maranhenses, ele, filho de pais cariocas. O ponto de encontro? A Feira de São Cristóvão. Com 24 anos cada, Vanessa e Alandelon se conheceram no local em 1990, quando ainda brincavam pelos corredores coloridos. O casal representa apenas uma pequena parte do que podemos chamar de “conexão Rio-Nordeste”, efeito positivo propor-

Casal Vanessa e Alandelon Fernandes se conheceu ainda criança na Feira

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Arte na Rua

Nelson Kon

Um elefante nem tão branco assim

O prédio escultural da Cidade das Artes erguido a dez metros do chão, no coração da Barra da Tijuca Nome: Gabriel Baron Email: gabriel.baron@homail.com

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Cidade das Artes é um complexo cultural localizado na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio de Janeiro. Um projeto monumental do arquiteto francês Christian de Portzamparc, constitui um digno representante da arquitetura pós-moderna, uma reação contra o “racionalismo” excessivo da arquitetura moderna, voltando a introduzir motivos ornamentais e decorativos no projeto de edificações. Após investimentos de R$ 518 milhões e muita polêmica, a inauguração da obra, inicialmente batizada como Cidade da Música, foi realizada pelo prefeito do Município do Rio de Janeiro César Maia. O investimento bancado pela Prefeitura do Rio custou quatro vezes mais do que outro grande projeto cultural de Maia: a Cidade do Samba, inaugurada em 2006 com custo de R$ 102 milhões, em valores da época. Nova sede da Orquestra Sinfônica Brasileira e o principal centro de espetáculos musicais do Rio, a Cidade das Artes abriga a segunda maior sala de concertos de orquestra sinfônica e ópera da América Latina após o Teatro Colón de Buenos Aires, com

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até 1.800 lugares. O conjunto possui aproximadamente 95 mil metros quadrados e conta, além das salas de concerto e música de câmara, 13 salas de ensaio e salas de aula. Do terraço, tem-se uma visão panorâmica da região, que abrange a praia da Barra e a Baixada de Jacarepaguá. O local conta com um acesso subterrâneo para pedestres que faz a ligação com o Terminal Alvorada. O projeto foi apresentado em outubro de 2002, prevendo gastos de R$ 80 milhões e inauguração no fim de 2004. Contudo, tanto o orçamento quanto os prazos de conclusão sofreram grandes aumentos. A previsão da Prefeitura do Rio de Janeiro era de inaugurar a obra em agosto de 2008, mas ocorreram atrasos na obra e sua inauguração foi remarcada para meados de dezembro. No entanto, mais uma vez, foi adiada, a pedido do Corpo de Bombeiros da cidade. A justificativa era que a obra não estava concluída. O complexo foi finalmente inaugurado em janeiro de 2013. O conceito de cultura como motor do desenvolvimento foi o ponto de partida para a criação do conjunto de instalações que integram o grande

ícone arquitetônico. A multiplicidade das funções destes equipamentos, que reúnem a Grande Sala, o Teatro de Câmara, a Sala de Música Eletroacústica, as salas multiuso, a sala de exposições e as salas de ensaio distribuídas em uma construção ampla e arejada, faz da Cidade das Artes um espaço de fomento à cultura, com relevantes desdobramentos sociais e educativos. Grandes nomes das músicas clássica e popular, do teatro, das artes plásticas, da dança frequentam o espaço. O complexo já recebeu Deborah Colker, Fernanda Montenegro, Marco Nanini, o Grupo Corpo, a Alvin Ailey Dance Company, a Orquestra Petrobras Sinfônica, a OSB, e muitas outras atrações. A Cidade das Artes tem diálogo permanente com as mais importantes casas do gênero em todo mundo, sobretudo para articular co-produções internacionais. O pleno funcionamento e a programação bem cuidada e de excelência da Cidade das Artes trouxe, em muito pouco tempo, a conquista da credibilidade como espaço de referência na cidade do Rio de Janeiro.


Fashion Rio e os problemas da moda no Brasil As mudanças da semana de moda carioca e o futuro da indústria têxtil

A grife Osklen no Fashio Rio Verão 2015. Crédito: ffw/site 13


A semana de moda carioca, o Fashion Rio, vem passando por diversas mudanças ao longo dos anos. Discordâncias e impasses rodeiam o principal evento de moda da cidade. Às vésperas de sua 25ª edição, realizada de 8 a 11 de abril, seu criador, Paulo Borges, conhecido como o “papa” da moda, anunciou mais mudanças. O Fashion Rio vai perder sua edição de inverno e a ideia é convencer os patrocinadores do evento a criarem uma edição de alto verão, segundo Paulo, a edição de inverno, no ponto de vista comercial, era inútil. Outra mudança é que os desfiles de Verão 2015 não contaram com o espaço destinado a compras e vendas de produtos, o Salão Bossa Nova de Moda e Negócios. Mudanças que prejudicam o desenvolvimento da indústria da moda. O Salão, voltado ao crescimento e competitividade da indústria de confecções e moda do estado do Rio de Janeiro, promovia a relação de troca entre grandes marcas e fábricas locais, movimentando a economia de todo o estado. Em

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suas duas edições, reuniu centenas de empresas do ramo e promoveu grandes negócios do setor. A substituição foi feita por um novo espaço conceitual, o “Coletivo Rio”, que reunirá produtos de apenas 30 empresas representantes dos polos de moda do estado do Rio, selecionados a partir de critérios como criatividade, qualidade, produção e distribuição, segmentando ainda mais o setor. Paulo Borges acredita que a moda carioca está passando por uma readequação das grifes as pressões econômicas do modelo fast fashion, uma moda rápida e prática que chega com cada vez mais força ao país, obrigando as marcas locais a se reinventarem constantemente para atrair compradores. As novas mudanças atrapalham diretamente a indústria de moda fluminense, que não tem apoio governamental com nenhum plano de desenvolvimento. O governo brasileiro aparenta não se importar muito com esse setor da indústria no país, talvez irresponsavelmente não faça ideia de quanta mão de obra essa indústria

gera e de quanto capital é movimentado, 136 bilhões por ano no Brasil. A falta de investimento na moda acaba gerando essas mudanças no setor e mexendo com o calendário oficial de desfiles. Segundo Paulo Borges, como consequência das mudanças, marcas menores que não atenderem à demanda vão acabar, o que implica centenas de microempresários fali-

MUDANÇAS ATRAPALHAM DIRETAMENTE A INDÚSTRIA

dos e centenas de desempregados. Pela falta de incentivo do governo a indústria brasileira de moda está apresentando resultados negativos de exportação. Segundo a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro, Firjan, as exportações de moda brasileira caíram 44% em 2012 comparado ao mesCrédito: zeronaldo/site mo período de 2007, entre janeiro e abril, passando o lucro de US$ 91,6 milhões para US$ 50,8 milhões. São Paulo e Santa Catarina, maiores exportadores do setor junto com o Rio, sofreram queda nas exportações, mas o Rio cresceu 3,1% neste mesmo período. A participação do estado fluminense no total das exportações brasileiras foi de 10,4% nos primeiros quatro meses de 2007 para 19,2% em 2012, um total exportado de US$ 9,7 milhões. Mesmo com um cenário ruim para a moda, o vestuário exportado pelo estado continua valorizado, tendo nos últimos anos o melhor resultado entre os estados exportadores, o que prova que as Salão Bossa Nova de empresas fluminenses têm muita Moda e Negócios qualidade.


Pequenas empresas seriam prejudicadas. Crédito: modah/blog

indústria e competir com as pressões econômicas do modelo fast A marca Sianinhas, de Itaperuna, fashion. interior do estado, é um exemplo de sucesso de exportação e de como o investimento no setor vale a pena e é necessário. As bolsas artesanais vendidas inicialmente a varejo na cidade do interior são exportadas para Dubai desde 2011 no atacado. Ou seja, a indústria de moda brasileira, principalmente a do estado do Rio, tem capacidade de trazer grandes ganhos ao país,

Crédito: Cantão/site

O VESTUÁRIO EXPORTADO PELO ESTADO CONTINUA VALORIZADO

mas falta investimento. Federações e Sistemas como a FIRJAN e o SEBRAE tentam por si só encontrar mecanismos que valorizem a indústria de moda do estado do Rio, como patrocinar, por exemplo, o extinto Salão Bossa Nova de Moda e Negócios do Fashion Rio, mas como podemos perceber, não é o bastante para sustentar toda

O potencial da moda brasileira no desfile da Cantão 15


REVISTA PI RIO EM MOVIMENTO

COM TRÂNSITO EM CAOS, BICICLETAS AINDA NÃO SÃO UNANIMIDADE NO RIO FOTO: DIVULGAÇÃO

Ciclistas reclamam de insegurança para usar o meio de transporte mesmo após investimento da prefeitura

FELIPPE FRANCO TATIANA MARIANO

C

ada vez mais comuns no Rio de Janeiro, as bicicletas estão deixando as ciclovias de lazer em pontos turísticos e invadindo ruas e avenidas movimentadas do município. Em nome do respeito ao meio ambiente, de benefícios ao condicionamento físico ou apenas para fugir dos engarrafamentos, a bike ganhou e espaço e divide espaço com os carros. Uma alternativa saudável e sustentável, mas que perde pontos pela insegurança. Os principais caminho, muitas vezes, não têm faixas especiais para os ciclistas, que reclamam de serem preteridos na cidade grande. Mesmo em tempos em que até a prefeitura incentiva o uso da bicicleta, este meio de transporte continua sendo uma opção questionável. O músico Wladimir Pinto, 42 anos, é apaixonado por bicicletas desde pequeno, mas apenas há alguns anos, cansado dos intensos engarrafamentos, resolveu adotar uma bike como seu meio de transporte oficial. Morador de Ipanema, na Zona Sul do Rio, ele garante que não tira mais o carro da garagem para encontrar os amigos e até para trabalhar. “Hoje, com

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Postos do Bike Rio foram instalados em diversos pontos da cidade

esse trânsito e a falta de estacionamento, a bicicleta é a melhor a opção. Às vezes chego mais rápido nos lugares do que eu chegaria se eu estivesse de carro”, disse o músico, que usa um modelo dobrável, facilitando ainda mais a mobilidade: “Vou para shows e ensaios com ela. É dobrável, então é só desmontar rapidinho, colocar na bolsa e eu entrar em qualquer lugar. Nem me preocupo com vaga”. A rotina do músico sobre as duas rodas parece perfeita, mas a tranquilidade diminui quando o trajeto é longo. “Por mim, iria de bicicleta sempre, mas para alguns lugares é impossível. Não tem como eu entrar em uma via expressa com ela. É uma pena”, lamentou. A queixa é unânime. Até no Centro do Rio, onde o trânsito sucumbiu ao caos com as obras da Região Portuária, as bikes não são tão bem vistas. O prefeito Eduardo Paes, em conversa com jornalistas após a inauguração de um posto de aluguel de bicicletas nesta área, admitiu o problema. “É arriscado, sem dúvidas. Os guardas municipais monitoram as vias, mas também é uma coisa cultural da população fiscalizar

o motorista de ônibus e automóvel a ter respeito pelos ciclistas”, salientou. No último mês de março, 20 novas estações do Bike Rio, programa de compartilhamento de bicicletas que funciona na cidade em parceria com o Itaú. Os usuários pagam R$10 para utilizar o serviço durante o mês inteiro. Para Paes, trata-se de um preço simbólico. “Para quem usa o serviço com intensidade é muito barato, R$ 0,30 por dia. Mas não vale fazer totalmente gratuito porque acaba sendo uma coisa que a pessoa não dá devido carinho e atenção”, explicou o prefeito. Novas estações também fora instaladas nos bairros da Tijuca, Catumbi e Rio Comprido. A ideia é expandir as possibilidades de deslocamento e, cada vez mais, fazer com que as pessoas deixem os carros na garagem. “O carioca morando na Tijuca ou em grande parte da Zona Sul poderá perfeitamente vir para o Centro de bicicleta. E sem precisar ser atleta”, avaliou Eduardo Paes, em uma opinião que é compartilhada por adeptos das bicicletas. A ativista Ana Lycia Gayoso, do movimento Rio Eu Amo Eu Cuido, defende


RIO EM MOVIMENTO REVISTA PI o meio de transporte alternativo como uma forma de viver melhor e respeitar a cidade. “Usar a bicicleta como transporte é um pequeno gesto que faz toda a diferença, além de fazer um grande bem para a nossa saúde. Temos uma cartilha de pequenos gestos que incentiva o uso consciente da bicicleta e o respeito aos ciclistas”, destacou à reportagem. O Rio já soma 270 km de ciclovias e ciclofaixas, mas ainda convive com o desrespeito dos motoristas. Para José Lobo, presidente da ONG Transporte Ativo, trafegar de bicicleta em regiões sem a faixa especial seria possível se houvesse uma conscientização. “A gente nunca vai conseguir ter ciclovias na cidade inteira. As pessoas precisam saber que aquela bicicleta no trânsito não está atrapalhando, mas o ajudando a fluir melhor”, explicou ele à Agência Brasil. “Capitais como Amsterdã e Copenhague, onde o uso da bicicleta é gigantesco, não têm uma malha muito maior que a nossa. O que acontece lá é que os motoristas são educados. As pessoas precisam saber que aquela bicicleta não está atrapalhando, mas ajudando o trânsito a fluir melhor”. Segundo Lobo, é preciso desenvolver essa educação para a utilização das bikes como meio de transporte se tornar uma verdade segura. Outro problema é a falta de lugar específico para estacionar as bicicletas. O especialista destaca que é fundamental não só instalar novos bicicletários, mas em espaços estratégicos. “A bicicleta é um grande veículo para distâncias de 3 a 5 quilômetros. Por isso, é importante estar integrada ao transporte público. Eu posso pedalar até o metrô ou o terminal de ônibus, mas, muitas vezes, não tenho onde guardar a bicicleta. Uma legislação do ano passado liberou os ciclistas para prender as bicicletas nos postes, mas não é a mesma coisa”, disse. A universitária Nathanne Rodrigues, de 22 anos, adepta da bike, conta que sente na pele a falta de lugares para estacionar. “As condições são péssimas e existem poucos bicicletários espalhados pela cidade atualmente. O governo deveria investir mais nisso para que possamos chegar a mais lugares. Muitas vezes eu deixo de ir a algum lugar de bicicleta por não ter onde

guardá-la”, relatou a jovem. UM DIA SÓ PARA BICICLETAS Anualmente, em 22 de setembro, é celebrado o Dia Mundial Sem Carro, data escolhida para realizar iniciativas que levem à reflexão sobre os problemas causados pelo uso intensivo dos automóveis em todo o planeta. No Rio de Janeiro, o grupo Rio Eu Amo Eu Cuido instalou bicicletários em formato de carro na Zona Sul e no Centro da cidade no ano passado. A ideia, de acordo com integrantes do grupo, era mostrar que cabem sete bikes no espaço de cada veículos. Já os integrantes do movimento oficial do Dia Mundial Sem Carro se mobilizaram pela internet, de forma bem humorada, para pressionar as cidades que ainda não demonstram um engajamento pelas bicicletas. No site www.diamundialsemcarro.org.br é possível fazer download de um cartaz com os dizeres “Eu vou de bicicleta no Dia Mundial Sem Carro, mas o governo da minha cidade não colabora” para imprimir e se manifestar. A página convida os internautas a tirarem foto dos seus “protestos” para propagar a ideia. Nos fins de semana de setembro, por causa do Dia Sem Carro, as ações se intensificam. Os ativistas acreditam que novos hábitos podem surgir em momentos destinados ao lazer, mas evoluir para o cotidiano de cada um. “Final de semana não combina em nada com trânsito e stress do dia a dia, então eu acredito a bi-

cicleta é uma ótima alternativa para fugir da rotina e, quem sabe, virar definitivo”, afirmou a ativista Ana Lycia Gayoso. MÉTODO PARA RELAXAR Além de principal meio de transporte, a bicicleta virou método de relaxamento para a estudante Nathanne Rodrigues. Ela conta que deixou de perder tempo com o transporte público e isso reflete em seu bem estar. “Além de me exercitar e me desestressar, atualmente eu sempre chego mais rápido nos lugares que frequento”, disse a jovem, que inicialmente via a bicicleta apenas como forma de diversão: “Comecei a andar de bicicleta muito pequena com o meu avô. Nós sempre pedalávamos por Copacabana desde que eu tinha 3 anos, mas só como lazer”. A bike entrou na rotina da universitária de forma improvisada. Diante de uma greve no transporte rodoviário do Rio de Janeiro, em 2011, Nathanne se viu sem opção. “A única forma para eu conseguir ir para a faculdade era de bicicleta. Antes disso eu não tinha coragem de ir por achar perigoso passar pelo túnel”, lembrou, classificando os motoristas imprudentes e a chuva como maiores obstáculos da sua forma alternativa de se deslocar. A universitária conta que nunca sofreu um acidente, mas teme pela sua integridade: “Sempre tento me manter bem atenta quando estou circulando pelas ruas. Mas acho que a conscientização das pessoas está aumentando.” ♦ FOTO: ARQUIVO PESSOAL

Nathanne usa bicicleta como meio de transporte oficial desde 2011

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Para ing

Por Arthur Esteves, Raphael Bózeo e Vitor Milone Pense na seguinte situação hipotética: um milionário todo bem intencionado lhe propõe uma série de reformas na sua casa, prometendo transformá-la em tudo o que há de mais moderno, exigindo apenas uma compensação: que ele possa se hospedar nela por apenas um mês. A princípio parece o negócio perfeito, irreal, uma chance única, né? Finalmente você poderá se livrar de toda aquela velharia ultrapassada, dando o merecido e sonhado conforto a sua família e amigos. Mas aí, durante todo este processo, o tal ricaço começa a perder a mão, deixando a casa completamente diferente do que era antes, acabando até com as imperfeições das quais você mais gostava. E, a todo momento, sua opinião de nada vale, pois ele vai deixar a casa como ele quer, para passar apenas aquele período pré-estabelecido.

Quem realmente entende e gosta de futebol sabe que o Maracanã não merecia ser tão encolhido assim A situação, que já vinha ficando desagradável, se torna insuportável quando você, depois de muito pensar, se toca de que está sendo enrolado e quem vai pagar todas as despesas daquelas obras é você mesmo. E aí fica exatamente assim: ele foi até a sua casa, mudou totalmente a sua estrutura, quem pagou por isso foi você, e é ele quem vai tirar proveito disso. Depois você é quem irá continuar ali, morando em uma 18

casa que nem mais parece sua, sem nada do que você gostava, enquanto ele estará desfrutando de novos lares temporários. No Rio de Janeiro, o Maracanã parece ter sido um dos que mais se modificou. Erroneamente apelidado como o “Maior do Mundo”, o antigo gigante, que já não ocupava tal posição de destaque há muitos anos, passou a suportar um público de apenas 77 mil pessoas. Pode parecer saudosismo ou qualquer outro sentimento apegado ao passado, mas quem realmente entende e gosta de futebol sabe que o Maraca não merecia ser tão encolhido assim. Voltar atrás, depois de tantas

obras grandiosas, será inviável. Os estádios estão cada vez mais vazios, a ponto de um Flamengo e Vasco, válido pela final do Carioca deste ano, só atrair 27 mil pessoas, o que configura um recorde negativo. Então, por isso, ou os clubes devem procurar soluções alternativas, que seria a construção de estádios próprios, como acontece com São Januário, que não é influenciado pelo padrão FIFA, ou “alguém” terá de abrir mão de seu lucro para voltar a ter a cara do povo. Esse, por sua vez, não vê a hora de poder voltar a lotar as arquibancadas, cantando a plenos pulmões que “O Maraca é nosso”.


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glês ver

Aula em andamento na praia de Ipanema (Foto cedida por Bruno Rosa)

8 salgado, que afasta milhares de apaixonados pelo esporte. É bem verdade que com a proximidade da Copa do Mundo, tudo no Rio ficou mais caro. Mas se tratando dos ingressos, a reforma feita no Maracanã tem ligação direta com a alta dos preços. Como é um estádio mais moderno, é mais caro de se sustentar. Entretanto, os dirigentes dos clubes, que determinam os preços, não aliviam em uma partida sequer. Seja jogo de meio de tabela, seja final, o torcedor tem que desembolsar uma grana alta para ver o time do coração. No centro desta polemica aqui no Rio de Janeiro está o Flamengo. O clube de maior torcida do país e que é conhecido por ser um time do povo, é o campeão no quesito preço alto.

Atualmente, os ingressos mais baratos em jogos dos grandes times no Maracanã custam R$ 50.

O caso mais drástico e que causou maior repercussão foi na final da Copa do Brasil do INGRESSOS CAROS voltam para a arquibancada, ano passado contra o Atlétinão mostram uma multidão, e co Paranaense, quando os A Copa do Mundo está aí, ba- sim um grande vazio. ingressos variavam entre R$ tendo na porta. Falta pouco Os estádios com baixo públi- 250 e R$ 800 para os torcepara a maior competição de co se tornou rotina no Brasil dores que ainda não haviam futebol do planeta começar e e especialmente no Rio de aderido ao plano sócio-torcetodos os olhos do mundo se Janeiro, em jogos do Campe- dor do clube. Essa medida da viram para o Brasil. Mas en- onato Carioca. A cada fim de diretoria rubro-negra causou quanto a bola não rola, outros semana, especialistas e tor- revolta em alguns torcedores. campeonatos, como a Liber- cedores discutem o porquê - Foi um absurdo o que fizetadores, o Brasileiro e a Copa de tantas cadeiras vagas. ram na final da Copa do Brado Brasil seguem a todo o va- Entre os argumentos, o mais sil. O verdadeiro torcedor, o por. Dentro das quatro linhas, comum é o preço dos ingres- povão, é afasatado. Eu mestudo como sempre. Onze de sos. Atualmente, os ingres- mo não fui ao jogo como procada lado tentando fazer o sos mais baratos em jogos testo. Qem não tem grana é gol da vitória. Mas quando dos grandes times no Mara- excluído - disse Lucas Balas câmeras da televisão se canã custam R$ 50. Preço des, estudante e torcedor. 19


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Cadê você, torcedor?

Estádios recebem cada vez menos fãs do esporte mais popular do mundo pelo estadual. A própria modificação do modelo do torneio tirou a emoção das três finais disputadas para só então se conhecer o campeão do Rio. Os já desmotivadores jogos contra times de menor expressão também justificam as arquibancaTorcida do Flamengo protesta no Maracanã das vazias, pois o público Bola no centro do campo, joga- não é atraído para duelos entre o dores em suas posições, o juiz seu time do coração e um do inteautoriza o início da partida, mas rior do estado. cadê a torcida? Esta é a pergun- A situação piora ainda mais ta que ecoa nas arquibancadas quando o assunto é a condição cada vez mais vazias do Rio de dos gramados. Estádios em VolJaneiro. Seja no tradicional Ma- ta Redonda, Cabo Frio e Banracanã ou no singelo estádio de gu, por exemplo, estão longe Moça Bonita, em Bangu, o bai- de apresentar um campo no míxo público nos jogos do Campe- nimo decente para uma partida onato Carioca vem chamando de futebol. O que deveria ser um tanta atenção que os clubes e a espetáculo para quem assiste se FERJ (Federação de Futebol do torna uma verdadeira pelada que Estado do Rio de Janeiro) já até acaba por afastar cada vez mais falaram sobre o assunto, seja os espectadores das arenas. para reclamar ou pedir mudan- E se fosse somado a isso tudo ças no campeonato. o fato de os clubes priorizaMudanças que iriam de encon- rem outras competições vistas tro às últimas alterações fei- como mais importantes? Com tas na fórmula de disputa do o foco em disputas internaciotorneio. O formato com finais nais, o estadual chamado de de turno saiu de campo e deu mais charmoso do país perde lugar aos pontos corridos se- todo o charme que ainda lhe guidos de decisão mata-mata resta. Times reservas com poudevido ao menor número de ca pretensão são colocados em datas disponíveis no calendá- campo apenas para cumprir tario em função da paralisação bela. O título estadual fica em da Copa do Mundo. Porém, a segundo plano e o resultado transformação foi só no siste- são torcedores desmotivados ma, pois a média de público na por instituições que não são atual edição após as 15 roda- capazes de motivá-los. das da Taça Guanabara não Dados mais específicos dão a fica longe dos números de toda dimensão exata do que está a competição do ano passado. sendo o Carioca. Apenas 308 São 2.144 pagantes por jogo pagantes assistiram ao empaeste ano contra 2.396 em 2013. te entre Botafogo e Nova IguaRazão é o que não falta para o tor- çu ainda na primeira fase e 375 cedor não demonstrar interesse pessoas pagaram o ingresso 20

para ver o Flamengo derrotar o Bonsucesso. Já na semifinal da competição, o mesmo Flamengo amargou um prejuízo de R$ 11 mil com a presença de somente 3.625 pessoas. O primeiro jogo da final entre o Rubro-Negro e o Vasco, duelo conhecido como o Clássico dos Milhões, não foi capaz de lotar o Maracanã, levando um público de pouco mais de 20 mil torcedores. Estes números retratam fielmente o abandono do campeonato. Já há quem preveja o seu fim não tão distante. Jornalistas compartilham da opinião de que a competição não empolga, o que já não é mais surpresa para ninguém. O contraste entre o Carioca e os outros estaduais fica claro com os números vindos das arquibancadas. Jogos de menores expressões levam mais público em outros estados. A questão se torna mais preocupante quando se percebe que nenhuma atitude relevante foi tomada visando a volta dos torcedores aos estádios. Promoções no preço das entradas estimulam a ida a um jogo, mas não são capazes de fidelizar novamente os fãs do esporte e nem atrair os mais jovens para viver a experiência de fazer parte do evento.

Estádio Moça Bonita, em Bangu


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Vem pra praia!

Cariocas descobrem uma nova forma de usar suas já famosas areias brancas les que tentam fugir um pouco do ambiente comum da academia, optando por uma atividade ao ar livre, tendo o barulho do mar como trilha sonora e uma bela paisagem em troca dos espelhos e televisores de uma sala fechada e cheia de aparelhos. - Sempre fui aficcionado por atividades físicas. Devido ao trabalho e ao pouco tempo que tinha para me dedicar ao esportes durante a semana, me via ‘forçado’ a optar pela academia. O ambiente fechado e os exercícios de repetição nunca me agradaram e com o tempo fui perdendo a motivação, fazendo com que só praticasse alguma atividade nos fins de semana. Um amigo indicou os treinos na praia, achei Aluno pratica em Ipanema (Foto cedida por Bruno Rosa) a ideia interessante e resolvi Praia, sol, muito calor e mui- exercícios ao longo das praias. experimentar. Foi amor à prito exercício. O Rio de Janeiro Dia e noite, praticantes se reú- meira vista. Um ambiente muisempre foi a capital do estilo nem na orla carioca para rea- to descontraído, pessoas mais de vida saudável, um contras- lizar atividades como corridas relaxadas, uma vista fantástica te com a vida boêmia e agitada pela ciclovia, treinos funcionais e muito espaço para liberar a das noites da cidade. na areia, aluguel de pranchas energia acumulada durante o dia Neste cenário, os cariocas se di- de Stand Up Paddle, tênis de de trabalho. Fiz muitos amigos, videm entre a vida noturna que a praia, entre muitos outros es- recuperei a motivação e aconsecidade proporciona – em bares, portes - muitas vezes inusitados lho para qualquer um - declarou botecos, boates e rodas de sam- e desconhecidos por muitos. Gabriel Monteiro, estudante de ba - com a preocupação com o Mas, para ilustrar a situação medicina e praticante de treinos bem-estar e a saúde do corpo. atual, tomemos como referência funcionais na praia há um ano. Prova disso são os corpos escul- os treinos funcionais, praticados - É legal ver como os praticantes turais que desfilam pelas praias na areia. Muito utilizados por se animam, interagem entre si e da cidade maravilhosa, a quan- atletas de ponta para melho- trazem cada vez mais adeptos tidade de academias que são ria do condicionamento físico, ao treino. Fundei o meu negócio inauguradas anualmente e o nú- os treinos funcionais foram, ao aqui na praia há três anos e desmero, cada vez maior, de prati- longo do tempo, adaptados e de lá pude perceber o aumento, cantes de atividades físicas. hoje atraem pessoas de diver- não só da minha quantidade de Porém, um seguimento des- sas idades. E não se engane: alunos como a quantidade de sas atividades vem chamando não é preciso ser um atleta de atividades ao meu redor. São a atenção com um crescimen- ponta para participar de um trei- muitas opções para quem quer to exponencial: as atividades à namento desses; basta ter dis- “fugir” da academia e a motivabeira-mar. Nos últimos 5 anos posição e força de vontade. ção que se encontra ‘aqui fora’ foi possível notar um aumento Esse tipo de treino, assim como é muito diferente. Além de que, significativo na quantidade – muitos dos esportes praticados à com uma paisagem dessas, não e qualidade – dos ‘postos’ de beira-mar, é procurado por aque- tem como se desanimar – brin21


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Aula em andamento na praia de Ipanema (Foto cedida por Bruno Rosa)

cou o professor de Ed. Física Bruno Rosa, que dá suas aulas na praia de Ipanema. O constante crescimento das atividades esportivas na orla trazem benefícios não só para os praticantes, como também para os bairros em si. Gerando movimento em áreas antes desertas pela parte da noite, a segurança – ou ao menos a sensação de segurança – vem aumentando entre os moradores da orla, que comentam que, mesmo sem um aumento significativo nas patrulhas policiais, o maior movimento nas praias tornou um passeio na orla à noite algo menos perigoso. - A praia à noite era algo muito deserto. Sair sozinha, ou mesmo acompanhada, gera22

va medo e uma insegurança enorme. Aqui em casa, não saíamos para passear ou caminhar pelo calçadão depois das 20h. Com o aumento dessas escolinhas e atividades que são feitas aqui na praia, o movimento no calçadão aumentou muito, o que coíbe um pouco a ação de criminosos que se aproveitavam daquele ambiente vazio. Hoje já é possível caminhar na orla, assistir as pessoas praticando alguma atividade. Acho ótima essa movimentação e iniciativa de usar a praia de uma forma mais completa – contou Thalita Ferreira, moradora do Leblon há 35 anos. Utilizar a praia de uma forma mais completa está entre as

principais propostas dessas iniciativas. Um local que era visto apenas para um banho de mar, de sol ou a prática de esportes aquáticos, está sendo aproveitado dia e noite para diversos tipos de modalidades. O ambiente descontraído e a beleza da cidade vêm tirando cada vez mais pessoas de suas casas e academias para curtir exercícios e perder o medo de se sujar de areia. O custo também pode ser um fator motivador. Com preços acessíveis e variados, o praticante pode gastar desde 50 reais no aluguel de uma prancha de Stand Up Paddle por uma hora, como 150 reais na mensalidade de um treino funcional praticado diariamente.


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Racismo no futebol carioca

Jogador do Fluminense, Carlos Alberto

O racismo no futebol carioca começou na década de 20, pelo fato do esporte ser praticado pela elite e aristocracia, não era permitido ter negros nos times de futebol. Os grandes clubes como: Fluminense, Flamengo e Botafogo exigiam que os jogadores fossem de famílias abastadas e tivessem um emprego. O preconceito está diretamente ligado à história da equipe do Fluminense. No ano de 1914, o jogador Carlos Alberto veio de transferência do time do América para o Fluminense. Como Carlos Alberto era negro, ele ficou preocupado com a reação dos aristocratas da torcida do Fluminense e da sociedade da época, por este motivo ele passava pó-de-arroz no rosto. Mas, por conta do suor durante as partidas o pó-de-arroz começou a escorrer e ele ficou com um aspecto malhado chamando a atenção da torcida que gritou pó-de-arroz. Depois desse fato a torcida adotou o apelido de pó-de-arroz. Até os dias de hoje, os torcedores fazem referência ao pó-de-arroz, mas ao invés de usar o pó-de-arroz eles passaram a utilizar o talco que é jogado quando os jogadores entram em campo. Um dos primeiros clubes a aceitar jogadores negros em sua equipe

foi o clube de Regatas do Vasco da Gama. O time foi fundado por portugueses, e era muito democrático na hora de escolher os seus jogadores, não importava a classe social, se era pobre ou operário. A única coisa que realmente era primordial para o clube era se o atleta tinha habilidade . Um Exemplo desta democracia foi o fato de ter sido o primeiro clube a eleger um presidente negro, no ano de 1904, Cândido José de Araújo que foi reeleito em 1905. Em 1923, o Vasco da Gama conquistou o Campeonato Carioca na sua estreia na elite carioca, mostrando que para um time ser campeão era necessário ter jogadores de qualidade e não jogadores ricos ou de classe social alta. Nos anos 20, O Vasco da Gama lutou contra preconceitos raciais e sociais, também contribuiu para que o esporte deixasse de ser praticado somente por descendentes de ingleses e pessoas da aristocracia. Os clubes mais tradicionais começaram a ficar incomodados com as atitudes do Vasco da Gama. No ano de 1924, Botafogo, Fluminense, Flamengo e América saíram da Liga Metropolitana de Desportos Terrestres (LMDT) e fundaram a AMEA (Associação Metropolitana de Desportos Atléticos¬). As normas da nova entidade diziam que os jogadores precisavam provar que estudavam e que tinham um trabalho. Segundo o jornalista Mário Filho, empregados subalternos sem um emprego decente eram riscados. Passou a ser obrigatório ler e escrever. Outra exigência era que os clubes tivessem uma sede e campos próprios. O Bangu que era um time de operários de uma fábrica de tecido da zona oeste, foi convidado para ingressar na Liga AMEA,

mas as decisões ficariam nas mãos dos cinco grandes clubes. Carta de José Prestes anunciando a desistência do Vasco em participar da Liga AMEA, Como os jogadores do Vasco não preenchiam os requisitos pedidos pela associação a, AMEA eles teriam que ser afastados. Bom, o presidente do Vasco, José Augusto Prestes assinou uma declaração, em 7 de abril, desistindo de participar da liga AMEA. O fato ficou marcado na história do futebol carioca e brasileiro. Com essa decisão de permanecer na Liga LMDT, O Vasco mostrou que era contrário a todo tipo de preconceito racial e social. A atitude rendeu frutos à equipe como a conquista do campeonato Carioca de 1923. O Vasco da Gama com o passar dos anos foi conquistando sucesso, títulos e mais fãs no futebol, Mas havia um problema, o clube não tinha um estádio próprio. Na verdade o que parecia um problema foi resolvido em menos de 12 meses, com a união dos torcedores para a construção do Estádio de São Januário, em 21 de abril de 1927. Como resposta aos indivíduos que queriam impedir a ascensão do clube de negros e pobres no cenário carioca. No ano de 1928, o Vasco entrou em um acordo com a AMEA, e manteve em sua equipe os jogadores negros e pobres, tornando assim o futebol um esporte mais democrático. No ano de 2011, o Vasco lançou a terceira camisa, inspirada na camisa de 1923, ano em que o Vasco foi campeão Carioca. A camisa relembra a bela história de luta contra o racismo do clube. Graças ao Vasco, o futebol atualmente é praticado pelos jogadores negros. 23


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CAIO MARTINS E A HIPOCRISIA DO FANATISMO ESPORTIVO

Caio Martisns em dia de jogo. (Reprodução internet)

Martins será, portanto, a destruição de uma opção de lazer. Fará a história de Niterói e do Estado do Rio de Janeiro tornar-se em parte sem sentido. Será uma afronta à história de Niterói e um desrespeito ao povo fluminense. Com a proximidade da Copa e das Olimpíadas, melhor seria que o complexo fosse reformado e modernizado, até com outras opções de comércio e lazer, o que seria, sim, unir a tradição com a modernidade, sem agredir a memória cultural do Estado do Rio de Janeiro. O complexo caio Martins tem cerca de quatro hectares e é composto basicamente de um ginásio, uma piscina olímpica e um estádio de futebol. O fato de o atual ginásio e piscina olímpica não se prestarem e não serem adaptáveis ao padrão imposto pelo COI para a realização de competições olímpicas não significa que eles não possam servir plenamente ao desenvolvimento desportivo municipal, metropolitano e estadual. Portando a reação do prefeito, noticiada a certa altura pela imprensa, de recusar a oferta de cessão do Caio Martins por parte do governo estadual é prova de seu absoluto desinteresse pela cidade que o elegeu, como de sua cegueira e despreparo para perceber uma oportunidade pública de primeira ordem.

Um dos históricos estádios de futebol do país, e que durante muito tempo foi o principal Estádio do Rio de Janeiro, localizado em Niterói, corre sério risco de ser demolido, para dar lugar a vários prédios residenciais de luxo. Sim, o estádio que simbolizou durante décadas o futebol no Estado do Rio de Janeiro corre simplesmente o risco de desaparecer, como se sua história de muitas partidas nunca tivesse existido. É certo que o Caio Martins, ultimamente, mais parecia um campo de várzea cercado por muros, visivelmente acabado, entregue ao descaso e sendo usado de mordia por sem-tetos, em sua grande maioria do Morro do Bumba à espera de uma solução. O Caio Martins, em vez de se render à especulação imobiliária e dar lugar a um monte de prédios residenciais, deveria ser reformado, melhorado, modernizado, e convertido num poderoso espaço de lazer para a população do bairro do Jardim Icaraí, onde o estádio se situa. Demolir o Caio Fachada do Caio Martins abandonada. (Reprodução internet) 24


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A gestão Roberto Dinamite no Vasco da Gama

(Roberto Dinamite no camarote da presidência em São Januário | Foto: Pedro Maranhão)

Por Pedro Maranhão

por inúmeras decisões equiPorém, as coisas permanevocadas que o atual presidente cem bagunçadas pelas banO momento do Vasco é um e seus diretores vêm tomando. das de São Januário. Com exceção do ano de 2011, dos mais complicados de sua história. Ao fim de 2013, o se- Quando assumiu o clube em no qual a equipe carioca se gundo rebaixamento em seus 2008, após anos tenebrosos de destacou no cenário na115 anos de vida. A equipe gestão Eurico Miranda, Dina- cional, com os títulos da Copa do Brasil e o 2º lugar carioca parece perdida em mite pegou um Vasco totaltantas decisões erradas que mente arrasado, afundado em no Brasileirão, o Vasco são tomadas dentro de São dívidas e com um elenco, que vem cometendo inúmeros erros de gestão e da monJanuário. E não são apenas mesmo com Edmundo em as derrotas que prejudicam o campo, não parecia ter condi- tagem de elenco. E dessa time dentro de campo. ções de livrar o time do rebai- vez a culpa é quase que na sua totalidade de Roberto A crise interna, que começa xamento. Veio a Série B em na sua diretoria, tem como 2009 e a torcida, em reconhe- Dinamite. seu nome mais forte o maior cimento por tudo que o atual ídolo da história do clube: presidente já havia feito pelo E os motivos são muitos e começam desde 2012, Roberto Dinamite. Sua imaVasco em sua história, como quando após a eliminação gem como jogador vem sendo jogador, poupou o dirigente da Libertadores pelo constantemente arranhada de culpa pela queda. 25


Revista PI Corinthians, o Vasco se desfez de alguns de seus principais jogadores (Romulo, Fágner, Diego Souza, Allan) e não conseguiu repor o elenco à altura. Em alguns casos, como o de Diego Souza e Fágner, os jogadores chegaram a dizer que os dirigentes não se esforçaram para que eles permanecessem. Além disso, inúmeros atrasos de pagamento por conta de bloqueios judiciais, que impediram que o Vasco recebesse os valores dos jogadores que vendeu. Ainda ocorreu o ridículo e inacreditável corte de água no clube. Ainda em 2012, por conta de péssimas condições estruturais, o Ministério Público interditou Centro de Treinamento de Itaguaí, local onde treinavam as categorias de base do clube. Foram encontrados banheiros quebrados, alimentos expostos e impróprios para uso e alojamento que acomodavam até dez atletas por quarto. Em meio a tudo isso, Dinamite poucas vezes veio a público para falar sobre os problemas e toda vez que isso era feito, as justificativas eram vazias e sempre direcionadas às gestões anteriores, o que deixava os torcedores inconformados e mostrava uma fragilidade e dificuldade para assumir os problemas do clube. Com isso seus aliados foram saindo um a um, chegando ao ponto de até agora o Vasco tenha tido, apenas na gestão Dinamite, nada menos que 15 vice-presidentes. 26

A gestão Roberto não apenas queimou o ídolo Dinamite, mas também já colocou um rebaixamento no currículo de outros três: Edmundo, Pedrinho e Juninho Pernambucano. O único ídolo gerado entre 2008 e 2013 foi embora de maneira frustrante. Dedé, praticamente “expulso” do clube para pagamento de salários atrasados. Ainda teve Felipe, que foi embora pela porta dos fundos. O que era pra ser um conjunto de ídolos tirando o clube do fundo do poço, um ressurgimento, virou um grande pesadelo sem fim. Foram seis anos que não deixarão saudade em nenhum torcedor do Vasco. Todos esperam que as eleições aconteçam o mais rápido possível. Uma pena.


OBRAS NO BONDE DE SANTA TERESA AFETAM A ROTINA DOS MORADORES

Com a previsão de volta e normalização das atividades do principal meio de transporte para locomoção no bairro para junho deste ano descartada, a falta de funcionamento do serviço e a demora nas obras vem gerando insatisfação e revolta da população FOTO: TACIANA MARINHO

Nome: Taciana Marinho Email: tmarinho@revistapi.com

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bonde de Santa Tereza, bairro localizado no centro da cidade do Rio de Janeiro, sempre foi uma opção de passeio incrível e barata. Há mais de cem anos, o bondinho seguia seu itinerário pelo tradicional bairro boêmio carioca, conduzindo os turistas pelas belezas, pelos atrativos da região e servindo como transporte diário a seus moradores. Entretanto, o que anteriormente era uma facilidade e uma atração turística, hoje não passa de “dor de cabeça”.

COMO TUDO COMEÇOU

No dia 28 de agosto de 2012, uma falha no sistema de freios do bonde o fez bater em um poste e tombar, na rua Joaquim Murtinho, enquanto seguia para a Lapa. Quatro pessoas morreram na hora. Entre os mortos, estava o motorneiro que conduzia o veículo. Outros 57 passageiros ficaram feridos. Desde então, o principal sistema de transporte público do bairro – atrativo turístico dos mais charmosos da cidade – está paralisado. "O bonde estava super lotado e, naturalmente, isso contribuiu para que acontecesse o acidente", afirmou um dos passageiros feridos. Na época do acontecimento — o mais grave na história do bondinho — o laudo do Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE) apontou diversos problemas de manutenção: falta de conservação dos cilindros, desgaste do compressor e uso de peças remendadas. Cinco funcionários da Companhia Estadual de Engenharia de Transportes e Logística (Central), que operava o sistema, foram denunciados à Justiça por homicídio e lesão corporal. Ninguém foi julgado ainda. O secretário de Transportes, Júlio Lopes, dissem, na época, que o acidente representava uma tragédia para o turismo na cidade. Júlio ad-

Imagens do bonde chorando estampam os muros de do bairro de Santa Teresa mitiu que o bonde passava por reformas e informou que os reparos ainda não tinham sido concluídos. "A questão da superlotação e do uso inadequado é algo que nos preocupa muito e temos informações preliminares de que o bonde estava muito cheio. Foi uma fatalidade, uma tragédia", disse.

"Não são só os turistas que sentem falta do bondinho, mas milhares de moradores." Jacques Schwarzstein. A SITUAÇÃO ATUAL

A luta pelo retorno dos bondinhos vem sendo travada diariamente por parte de moradores, comerciantes e frequentadores do bairro. Nas paredes de bares e muros de casas é possível encontrar cartazes onde a população mostra a sua indignação. Protestos vêm ocorrendo com certa frequência.

Vinte por cento dos trilhos foram colocados, o equivalente a três quilômetros dos quinze necessários na primeira etapa das obras, prevista para ser concluída em março. O ex-secretário da Casa Civil do estado, Régis Fichtner chegou a prever que os novos bondinhos estariam circulando em junho, mas a assessoria da pasta informou que o planejamento atual é para o início de julho, após a abertura do Mundial. Segundo Jacques Schwarzstein, diretor de Transportes da Associação de Moradores e Amigos de Santa Teresa (Amast), a precisão de reinauguração dos bondinhos em julho é mais que otimista. “Não são só os turistas que sentem falta do bondinho, mas milhares de moradores que usavam a condução para se locomover pela região”, lamenta. Resta apenas esperar para que seja sanada a dúvida que estampa os muros de Santa Tereza: “Cadê o bondinho que passava aqui?”.

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UMA CIDADE NEM SEMPRE MARAVILHOSA Os cartões-postais do Rio de Janeiro cidade enfrentam mais problemas do que as empresas de turismo gostam de admitir INTERNET

Por Thayane Coelho Fernanda Monayar

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e olho nos turistas estrangeiros que virão para a Copa do Mundo de 2014, e as Olimpíadas de 2016, as empresas de turismo tentam, a qualquer custo, vender a imagem do Rio de janeiro como cidade maravilhosa. Apesar das belas paisagens significarem de fato, um verdadeiro cartão postal, por trás de tanta beleza, a cidade enfrenta também um rio de problemas. Na Zona Sul da cidade, onde se concentra praticamente todo o alto padrão do Rio, é o maior exemplo de maquiagem que podemos observar. Apesar das belas praias, dos grandes comércios e de comportar uma população tipicamente classe média e média-alta, comerciantes moradores e frequentadores reclamam do aumento da violência na região. A população passou a ter medo, uma vez que os assaltos passaram a ser frequentes. A babá Marileide Sales, que trabalha na zona sul há mais de cinco anos, confirma que a criminalidade no bairro turístico aumentou. Ela se sente mais segura de andar nas ruas de Campo Grande – bairro onde vive, na zona oeste da cidade - do que em Copacabana. “Aqui tem muito mais mendigos e moradores de rua. Principalmente à noite, não dá para andar na rua de forma tranquila, sem olhar para os lados”, afirma. 28

“Aqui tem muito mais mendigos e moradores de rua. Principalmente à noite, não dá para andar na rua de forma tranquila, sem olhar para os lados” Marileide Sales Segundo o levantamento do Instituto de Segurança Pública (ISP), só nos meses de alta temporada de 2013, entre janeiro e março, que possuem a maior rotatividade de turistas, as delegacias da zona sul registraram um aumento do número de furtos e ocorrência do ano passado, em relação a 2012. Os índices apontam 288 casos de roubos (contra 293 de 2012),

2.594 furtos (contra 2.382 em 2012) e 4.887 ocorrências (contra 4.687 de 2012). Assim como os indicadores de violência, que subiram no ano passado, em relação a 2012. O número de homicídios dolosos - quando há intenção - aumentou 16,7 em 2013, os casos de latrocínio - roubo seguido de morte - subiram 2,8%, além da lesão corporal seguida de morte ter atribuído novos 17 casos aos índices do ano passado. Os números do ISP também mostram que os roubos de veículos subiram de 14 para 20 registros e que os roubos em coletivos subiram de cinco para 21, de acordo com os índices de criminalidade.


também para promover o boicote a eles e divulgar dicas e alternativas. A ideia teve uma enorme repercussão entre jovens das classes C e B, fazendo com que estes aderissem a práticas anteriormente consideradas “de farofeiro”, tal como levar a própria bebida e comida para lugares públicos, como praias, parques, cinemas – apelidada de isoporzinho. Mas, infelizmente, o turista quem vem do exterior não tem fácil acesso a essa informação, Além da violência, outro as- enfrenta mais um problema - é e se torna mais suscetível a esse sunto recorrente em pauta, é a obrigada a conviver com uma tipo de abuso. infraestrutura da cidade. O caos alta de preços que ultrapassa a A Jornada Mundial da Juno transporte público no Rio de justificativa da inflação. Na Zona ventude foi o primeiro grande Janeiro ainda é um problema Sul, a região que mais concentra evento com o qual tivemos que que está longe de ter uma solu- “gringos”, é ainda mais claro. Fre- lidar, mas o perfil do público é ção definiva, uma vez que parece quentemente os comércios prati- bem diferente do que o que vem se agravar diariamente, trazen- cam um preço para o consumidor para eventos esportivos. Agora, do sofrimento para a população. local, que já é elevado, e outro é a Copa do Mundo que está Uma pesquisa recente, realizada preço para o turista estrangeiro, prestes a começar e os olhos pelo laboratório de Pesquisa da beirando o absurdo. do mundo todo estarão voltaUnicarioca, mostrou as coisas A fim de combater esse dos para o país e para a cidade que mais irritam os cariocas. tipo de prática, surgiu, em ja- Olímpica de 2016. Em primeiro lugar, aparece neiro deste ano, a campanha Se nas Olimpíadas de como grande vilão o transporte “Rio $urreal- NÃO PAGUE” cujo 2012, em Londres, a cidade solotado ou sem ar-condicionado, nome faz um trocadilho com freu boicote por causa dos altos considerado altamente estres- surrealismo – movimento artís- preços praticados, recebendo sante para 56% dos 762 entre- tico francês surgido na década menos turistas do que em perívistados. Depois, com 49%, foi de 20, inspirado em Freud e odos comuns, o Rio de Janeiro citada a “demora excessiva em suas idéias sobre a mente, o in- deve ficar atento. A imagem que chegar em algum lugar no ho- consciente, o impulso humano a Cidade Maravilhosa passará na rário marcado”, isto é o engar- – e a moeda brasileira, o Real. A Copa - seja em relação a violênrafamento. Em terceiro lugar, o página no Facebook conta com cia, a infraestrutura, ou em relacarioca apontou a sensação de a ajuda de seus seguidores na ção ao comportamento malandro insegurança (40%) e, em quar- rede social, não apenas para ex- - será decisiva para as Olimpíato, as filas intermináveis (39%) por esses comerciantes, como das em 2016. INTERNET — que vão desde aquelas para embarcar em ônibus, trens e barcas até as do banco ou dos restaurantes a quilo na hora do almoço. Por último, a corrupção foi mencionada por 37% dos entrevistados, que puderam citar mais de um transtorno. PREÇOS “ESPECIAIS” PARA O TURISTA Como se não bastasse a modalidade criminalidade “tradicional”, a população carioca Página de rede social que originou o movimento Rio $urreal 29


COM O NASCIMENTO DE UMA NOVA POSTURA, A SOCIEDADE ACORDOU E LUTA PELOS SEUS DIREITOS DIANTE DE TODO CAOS NA SAÚDE, EDUCAÇÃO, SEGURANÇA E DESENVOLVIMENTO, A SOCIEDADE FINALMENTE RESOLVEU IR À LUTA. CIDADÃOS FAZEM MANIFESTAÇÕES NAS RUAS E EXIGEM JUSTIÇA CRÉDITO DA FOTO

Paula Abreu Mendes pmendes@revistapi.com

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m problema que assombra a vida dos cariocas e atravessa gerações, está novamente em foco, e o melhor, tomou proporção digna de “palmas”, pois, ao que parece, a população cansou de assistir calada às ações de nossos governantes em ataques corruptos e resolveu ir à luta, esboçando manifestações na Cinelândia, Praça XV, Avenida Rio Branco e outros lugares de importância para a cidade. UMA NOVA SOCIEDADE Enquanto os comandantes loucos ficavam por aí queimando pestanas, organizando-se em quadrilhas para comandar desvios milionários de verbas públicas, ficava a população assistindo tudo em silêncio. E a cada ano fica cada vez mais difícil o pão, o arroz, o feijão, o aluguel. O homem tem que comprar o seu lugar na sociedade, pois ele é o que tem e não o que é. Por isso a busca de querer cada vez mais e daí nascem as corrupções. Nosso problema é histórico. Trazemos em nosso seio um berço esplêndido de traições e deslealdades e evoluímos nessa esteira achando tudo normal. Mas parece que a sociedade abriu os olhos. Nasceu um movimento revolucionário através de manifestações, insultos e até mesmo de uma nova política. O povo se revoltou com as cifras milionárias desembolsadas em construções de estádios e aeroportos, e o descaso com a falta de verbas para a saúde e a educação da cidade do Rio, pois os cariocas menos favorecidos financeiramente nascem em corredores e morrem nas filas dos hospitais por falta de recursos.

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Em manifestação no Centro do Rio, cidadãos pedem hospitais padrão FIFA Porém, ainda temos políticos imbuídos em suas próprias causas e patentes da própria razão. Em entrevista à Folha de S. Paulo, o Parlamentar "Tiririca" diz estar deixando o Congresso por um único motivo. “Nasci para ser palhaço e não para fazer o povo de palhaço.” E este é o nosso fatídico cenário. Infelizmente.

"Nasceu um movimento revolucionário através de manifestações, insultos e até mesmo de uma nova política."

DESIGUALDADE EXPLÍCITA O Deputado carioca Federal Romário declarou que a Copa de 2014 seria o maior roubo da história e os fatos estão aí para provarem o alegado. Já Ronaldo Nazário, ídolo incontestável da nação, disse, no Comitê da FIFA e

em rede nacional, que se deve investir em estádios, já que não se faz Copa do Mundo em hospitais. Diante de tudo isso, podemos ver que vivemos num caos de saúde, educação, segurança pública e desenvolvimento. Mas, em contrapartida, temos estádios avaliados em milhões. Ou seja, tais empreendimentos estão muito aquém do que realmente se utiliza. Investimentos totalmente sem logística e que oneraram muito o trabalhador brasileiro e os cofres públicos. Este é o nosso país. O que se espera é que realmente o gigante tenha acordado. Não podemos ver nossos filhos morrendo em filas de hospitais, e não queremos que nossas crianças sejam educadas nos morros ou vendendo balas nos sinais de trânsito. Queremos e esperamos por um futuro melhor, digno de uma terra amada que não foge à luta.


Policiais militares entram em confronto com manifestante no Centro (Crédito: Erick Dau)

Os protestos do Rio e os efeitos sobre a Polícia Militar Como os protestos no Rio e a ação dos Black Blocs afetaram a imagem da PM Leila Rigatos

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Polícia Militar do Rio de Janeiro vem sendo alvo de duras críticas desde o início das manifestações em junho de 2013. A ação do grupo Black Bloc nos movimentos culminou em atos marcados pela violência e a imagem da PM ficou ainda mais abalada. A atuação policial acompanhou o crescimento do vandalismo nas manifestações e o resultado desestabilizou a corporação: o comando geral foi trocado e a PM adotou novas táticas que impactaram diretamente a segurança pública no estado. É incontestável que os policiais do Rio agiram com truculência e que não estavam acostumados a lidar com manifestações. Em alguns momentos, usaram violência para reprimir os vândalos, mas quando uma parcela da população reclamou dos excessos, a PM foi passiva e permitiu o quebra-quebra. O primeiro grande ato que provocou uma reação mais opressiva da polícia aconteceu no Centro, no dia 17 de junho de 2013, e reuniu cerca de 10.000 pessoas. O confli-

to começou quando manifestantes pacíficos tentaram expulsar baderneiros, entre eles representantes do grupo Black Bloc, que já tinham marcado presença em eventos anteriores promovendo ataques. Rapidamente, o ato pacífico se tornou violento. As agressões aumentaram, os policiais foram recebidos com paus, pedras e coquetéis molotov e responderam com balas de borracha e gás lacrimogêneo. Essa ação se repetiu em quase todos os protestos e logo apareceram as primeiras denúncias de excessos por parte dos policiais militares. Em tempos de redes sociais e Mídia Ninja, grupo que filma e transmite em tempo real as manifestações, a atuação da PM durante os protestos virou alvo da opinião pública assim que surgiram as primeiras fotos e vídeos gravados pelos próprios manifestantes. Os policiais viraram algozes e o Ministério Público entrou em ação a partir da análise dessas imagens. Dez PMs foram identificados por cometer abusos contra manifestantes, como disparo de balas de borracha e uso desnecessário de spray

de pimenta. Os nomes não foram divulgados e os suspeitos foram ouvidos pela Corregedoria da Polícia. Se as denúncias ficassem comprovadas, eles seriam enquadrados por lesão corporal leve. Passados quase dez meses, o inquérito ainda não foi concluído. Em pouco mais de três meses, apenas quatro policiais militares foram afastados das ruas e somente um foi investigado

A ATUAÇÃO DA PM FOI MARCADA POR UMA SÉRIE DE ERROS.

pela instituição por abusos cometidos durante os protestos. A ação da Polícia Militar no Rio ganhou repercussão internacional. O jornal americano “The New York Times” publicou a fotografia de um policial lançando spray de pimenta no rosto de uma manifestante no Centro do Rio. Para piorar Crédito: ainda mais a imagem da PM, a corporação foi acusada de usar “P2”, policiais disfarçados, para promover desordem. Integrantes do protesto realizado ao fim da cerimônia com o papa Francisco, durante a Jornada Mundial da Juventude, afirmaram que agentes infiltrados teriam começado os ataques. Mais uma vez, imagens foram feitas pelos manifestantes para mostrar os excessos da polícia. A prisão de um dos colaboradores da ‘Mídia Ninja’ também foi duramente criticada pelos integrantes dos protestos. A polícia militar admitiu a utilização dos agentes à paisana e afirmou que é um recurso legal, muito utilizado para identificar e prender traficantes em lugares Policial agride manifestante com spray de pimenta. onde um policial seria rapidamente (Crédito: Victor R. Caivano/AP) identificado e morto.

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Coronel José Luís Castro assume o comando da PMERJ (Crédito:Domingos Peixoto)

A atuação da polícia militar foi marcada por uma série de erros. O desaparecimento do ajudante de pedreiro Amarildo Souza foi outro absurdo cometido pela polícia. Amarildo despareceu após ser abortado por policiais em frente à sua casa, na Rocinha, e conduzido à Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da comunidade, no dia

OS POLICIAIS DEVEM RECEBER CAPACITAÇÃO ADEQUADA

14 de julho de 2013. O sumiço do ajudante de pedreiro virou símbolo de casos não esclarecidos e ele foi transformado em um mártir dos protestos de rua. A campanha “Onde está o Amarildo?” rapidamente se espalhou pelas redes sociais e os gritos de ordem foram substituídos por “Cadê o Amarildo?”. Policiais militares da UPP

da Rocinha foram indiciados pelo Ministério Público pelos crimes de tortura seguida de morte e ocultação de cadáver. Entre eles, está o major Edson dos Santos, que comandava a unidade no dia do desaparecimento. Como não poderia ser diferente, durante três meses, desde o desaparecimento de Amarildo até a prisão dos primeiros policiais envolvidos com o crime, a tensão entre os manifestantes e a polícia aumentou intensamente. O policial, mais uma vez, passou a ser visto como inimigo, por uma parcela da população, principalmente jovens de classe média e estudantes que participavam dos protestos. No auge dos conflitos entre manifestantes e a polícia, em julho de 2013, uma declaração do então comandante-geral da PM, coronel Erir Ribeiro Costa Filho, fez com que especialistas passassem a analisar a conduta dos policiais de outra forma. O comandante afirmou que o treinamento para manifestações foi retirado da grade curricular do curso de formação da PM. Há cinco anos os policiais estão sem treinamento para atuar em situações como os recentes protestos no Rio porque, segundo o coronel Erir, a cidade tem tradição de manifestações pacíficas.

A ausência de treinamento é uma das responsáveis pela grande dificuldade da polícia em enfrentar os protestos. Nas primeiras manifestações, muitos policiais estavam despreparados e sem equipamentos, não contavam nem mesmo com escudos e armas não letais. A justificativa para a falta de planejamento foi que não poderiam prever que uma manifestação que se proclamava pacífica pudesse terminar em vandalismo e destruição. Todo policial militar passa por um curso de capacitação chamado Controle de Distúrbios Civis (CDC) antes de ingressar na tropa de choque. O curso é de suma importância para a formação do policial que vai atuar nas ruas. O estado precisa enxergar que esses agentes não estão preparados e devem passar novamente pelo treinamento. Os policiais militares devem receber a capacitação adequada para esse tipo de situação. Após a exoneração do comandante-geral coronel Erir Ribeiro, o comandante José Luís Castro Meneses assumiu o comando com a tarefa de reestruturar e recuperar a imagem da corporação. Uma série de medidas foi tomada para que a PM passasse a lidar melhor com as manifestações. O anúncio da criação do Batalhão de Grandes Eventos foi uma das estratégias adotadas. A nova unidade, que será formada por agentes especializados em mediação de conflitos, tem como objetivo evitar que situações com grandes públicos terminem em atos violentos. O BGE evitará o emprego do Batalhão de Choque e liberará os demais batalhões para atuarem no policiamento normal. Outras estratégias já fazem efeito: a PM deixou de usar balas de borracha durante os conflitos e diminuiu o uso de spray de pimenta e gás lacrimogêneo, seguindo uma recomendação da Anistia Internacional. Mas essas medidas são paliativas, enquanto toda a formação não for revista e os superiores não passarem por uma reciclagem, os policiais continuarão agindo com violência.

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