A R E V I S TA
DE INTERVENÇÃO URBANA
GRAFFITI
MENINAS NO GRAFFITI
COLETIVOS
UM NOVO CONTEXTO EM INTERNVEÇÃO URBANA
ENTREVISTA
COM O MÚSICO MARCELO CEARÁ
Novembro 2015
A
EDITORIAL
rtRua é uma revista que trata-se de um projeto de divulgação e apelo consensual para a importância de ocupações e intervenções urbanas nas ruas das grandes cidades. A revista Art Rua é voltada principalmente para a cidade do Rio de Janeiro. Não é de hoje que conhecemos o descaso e abandono com ruas e praças da cidade maravilhosa. Há muitos anos atrás, as praças e parques do Rio de Janeiro eram ocupados pela população. Era um ambiente livre, arborizado, bonito, sociável, e o melhor, gratuito. Hoje, as praças são quase sempre mal vistas e abandonadas. O que mais se vê são moradores de rua, pontos de drogas e de prostituição. Felizmente esse quadro está mudando, com o surgimento cada vez maior de projetos para a revitalização dos espaços públicos urbanos, que trazem propostas de integração e socialização, entretenimento de boa qualidade e gratuito para todas as idades. Além de devolver uma cara limpa e bonita a esses espaços, os projetos estão levando cultura às praças oferecendo música, oficinas de artes e outros divertidos encontros. A revista ArtRua tem como intuito trazer até o leitores essas ocupações/intervenções que visam transformar os espaços públicos das cidades com arte e amor, restaurando sua glória. Levaremos a você as melhores dicas de entretenimento ao ar livre e gratuito, além de divulgarmos os projetos mais interessantes nessa mesma proposta.
SUMÁRIO: APRESENTAÇÃO DA REVISTA- 1 GRAFITTI- 2,3 STENCIL ART- 4,5 COLETIVOS- 6,7 ENTREVISTA - 8,9 MULHERES NO GRAFITTI- 10 I LOVE XV- 11 CINE LIVRE- 12 AGRADECIMENTOS- 13
Tatiana Belmar
Editora Chefe
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grafite é uma das artes de rua que se espalha pelos muros, túneis e viadutos da cidade. Pode carregar um significado social, político ou simplesmente ser um vazio artístico. Esse símbolo de rebeldia e clandestinidade surgiu na pichação e foi herdado pelo grafite, tornou-se arte. No final da década de 1960 e início dos anos 70, jovens do condado de Bronx, em Nova York, fizeram ressurgir essa forma de arte. Há duas teorias complementares que explicam a origem dos grafiteiros modernos. Uma afirma que o grafite surgiu no Hip Hop. A outra defende que tenha surgido em NY. O que une essas duas visões é o fato de esses grafiteiros serem integrantes das gangues dos guetos de NY, onde o Hip Hop sempre esteve presente. Desde o começo, a temática era revolucionária, chamando a atenção para os problemas do governo e questões sociais. Os desenhos estavam, em sua maior parte, nos trens, isso, porque a intenção era passar a mensagem para o maior número de pessoas. Os muros eram alvos constantes também. Cada
grafiteiro tem um estilo, sua marca, e é possível reconhecer tal artista em qualquer de seus trabalhos. Entre eles o reconhecimento é através do grupo a que pertencem, são as crews. Cada crew tem uma identidade própria, artistas com características comuns nos desenhos. Os integrantes, às vezes, conhecem a arte e o estilo dos companheiros do grupo, tem contato, mas não se conhecem pessoalmente, porque estão espalhados pelo México, Chile, EUA, Brasil, etc. No final da década de 1960 e início dos anos 70, jovens do condado de Bronx, em Nova York, fizeram ressurgir essa forma de arte. Há duas teorias complementares que explicam a origem dos grafiteiros modernos. Uma afirma que o grafite surgiu no Hip Hop. A outra defende que tenha surgido em NY. O que une essas duas visões é o fato de esses grafiteiros serem integrantes das gangues dos guetos de NY, onde o Hip Hop sempre esteve presente. Desde o começo, a temática era revolucionária, chamando a atenção para os problemas do governo e questões sociais.
Os desenhos estavam, em sua maior parte, nos trens, isso, porque a intenção era passar a mensagem para o maior número de pessoas. Os muros eram alvos constantes também. Mesmo arte, o grafite não é reconhecido, é tratado como marginal. É preciso escolher um lugar onde ninguém vá utilizar, mas que seja visto por muita gente. Não é fácil alguém dar autorização para se grafitar o próprio muro, mas acontece, principalmente, por que os pichadores respeitam os desenhos e não passam por cima, não rabiscam. Um ato de consideração por parte deles. “E foi a partir disso que as pessoas começaram a pedir para grafitar os muros de suas casas”, diz Aline da crew HNF (Hope Never Fails). Quem grafita por puro hobby banca todo o material, trabalha praticamente de graça e pelo encanto e prazer da arte urbana. As origens desses artistas urbanos são bem diferentes. Alguns vêm do Hip Hop, outros dos quadrinhos, ilustrações ou artes plásticas e, sim, há os que passam da pichação para o grafite, mas são poucos. O grafite foi introduzido no Brasil no final da década de 1970, em São Paulo. Os brasileiros não se contentaram com o grafite norte-americano, então começaram a incrementar a arte com um toque brasileiro. O estilo do grafite brasileiro é reconhecido entre os melhores de todo o mundo. Muitas polêmicas giram em torno desse movimento artístico, pois de um lado o grafite é desempe-
nhado com qualidade artística, e do outro não passa de poluição visual e vandalismo. A pichação ou vandalismo é caracterizado pelo ato de escrever em muros, edifícios, monumentos e vias públicas. Os materiais utilizados pelos grafiteiros vão desde tradicionais latas de spray até o látex. Paralelamente ao movimento que despontava em Nova Iorque, o grafite surge no cenário da metrópole brasileira como uma arte transgressora, a linguagem da rua, da marginalidade, que não pede licença e que grita nas paredes da cidade os incômodos de uma geração. A partir disso, a arte de grafitar se transforma num importante veículo de comunicação urbano, corroborando, de alguma maneira, a existência de outras vozes, de outros sujeitos históricos e ativos que participam da cidade. A partir disso, importante ressaltar que o grafite, inicialmente, foi uma arte caracterizada pela autoria anônima, em que o grafiteiro ou “writer” transformava a cidade num importante suporte
de comunicação artística sem delimitação de espaço, mensagem ou mensageiro. Portanto, o que importava naquele momento, era a arte em si e não o nome de seu autor. Por esse motivo, os ditos “cânones” são retirados de sua posição central e imperativa para dar lugar a uma arte de todos e para todos; arte da rua, na rua e para a rua; arte da cidade, na cidade e para a cidade: o grafite. Nesse sentido, a arte se funde com a vida do cidadão da metrópole através do movimento mútuo de transformação e de identificação de seus sujeitos. No Brasil, essa arte disseminou-se rapidamente pelo país e, hoje em dia, segundo estudiosos do tema, o grafite brasileiro é considerado um dos melhores do mundo. Alguns nomes de destaque no cenário nacional e internacional são: Eduardo Kobra, Alex Hornest, Alessandro Vallauri, Ramon Martins, Gustavo e Otávio Pandolfo (os gêmeos).
GRAFITEIRO/WRITTER: o artista que pinta. BITE : imitar o estilo de outro grafiteiro. CREW: é um conjunto de grafiteiros que se reúne para pintar ao mesmo tempo. TAG: é a assinatura de grafiteiro. TOY: é o grafiteiro iniciante. SPOT: Lugar onde é praticada a arte do grafitismo.
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uem anda Pelas Ruas e repara em arte urbana, ja deve ter visto Algumas pinturas Feitas com uma técnica de stencil. Pra Quem Não SABE, stencil é Uma folha recortada COM (Desenhos, fotos ,letras ) de forma Que esta arte seja vazada para que você possa passar a tinta ou spray sobre a folha. AO Retirar o stencil a arte ja esta pronta. O estêncil é uma folha de papel, plástico ou metal, com letras ou desenhos recortados, usado como matriz negativa para produzir estas letras ou desenhos em uma determinada superfície, aplicando tinta através do corte na folha .A principal vantagem de um estêncil é que ele pode ser reutilizado para produzir várias vezes e rapidamente a mesma letra ou desenho. O projeto produzido com um estêncil é também chamado de stencil, como técnica na arte visual também é referido como pochoir (palavra em francês), esse método de estamparia por impressão na qual as matrizes são confeccionadas de modo artesanal, permitem
a produção de um estampado em muitas cores a um custo muito menor. Este processo pode ser uma ferramenta na criação de um modelo para ser aprovado e desenvolvido numa estamparia em grande escala. Uma técnica relacionada (que tem encontrado aplicabilidade em algumas composições surrealistas) é aerografia, no qual tinta spray é feito em torno de um objeto tridimensional para criar uma negação do objeto em vez de um positivo de um projeto do estêncil. Durante a Segunda Guerra Mundial, começou a ser utilizado em intervenções urbanas como forma de propaganda de guerra e também como forma de impressão nos uniformes e material de guerra. Hoje assistimos a um novo movimento artístico chamado Stencil Art, urbano, feito na rua e para a rua, os suportes são as paredes das cidades do mundo. Os artistas poucas vezes identificados, utilizam este meio como forma de expressão.
Esse é Carlos Joint, ele tem 28 anos e pratica a stencil arte há 5 anos. Essa criação tem um ano e meio e está espalhada pelas ruas da cidade. “Ela representa a rua como um espelho onde as pessoas refletem seus pensamentos e se veem nela. A expressão causada também pode estar em algum lugar proibido ou de difícil acesso”. disse Joint
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o quadro da intensificação da produção cultural de caráter urbano, um segmento que vem surpreendendo é o da atuação dos coletivos em formas diversas da cultura.
que a composição de um coletivo não é fixa. É móvel. Um artista pode pertencer a um coletivo em função de um projeto e no projeto seguinte juntar-se a outro coletivo para a realização de um outro projeto.
Com um crescendo constantemente eles vem realizando um trabalho de intervenções e ocupações nos espaços públicos. A importância dos coletivos culturais no desenvolvimento Hoje, a aproximação entre a Vida e a Arte é do cenário urbano vem sendo cada vez mais entendida de forma diversa. A ligação Arte/ perceptível. Vida torna-se funcional enquanto forma de levar a arte para o cotidiano das ruas e agrupar Podemos definir um coletivo como várias pes- os indivíduos-espectadores em torno de uma soas buscando o mesmo objetivo, é o desen- intervenção em seus hábitos. Portanto essa volvimento cultural através da produção inde- idéia de levar a arte para a cena pública do copendente. No caso dos coletivos, a produção tidiano caracateriza-se claramente como uma colaborativa veio a ser a principal plataforma tática de ação. de interação. Os coletivos não se configuram por seus integrantes e sim por determinadas ações, agindo sempre num contexto de intervenção pública. Os coletivos também não são cooperativas, não são grupos, não têm número de participantes determinado, nem podem ser caracterizados como movimentos artísticos. Sua forma de organização é independente e, para cada ação ou conjunto de ações, os coletivos buscam patrocínio, oferecendo cursos, vendendo trabalhos ou realizando serviços como ilustração,design, vídeo etc. Esta auto-gestão elimina, portanto a figura do curador, personagem cujo poder seletivo e decisório cresceram muito nos últimos 20 anos, adquirindo uma função de autoridade centralizadora no sistema das artes. Os coletivos são formados apenas em função da produção de um ou mais projetos. Estruturam-se para aquele fim específico e em seguida se recompõem com novos participantes em função de um outro projeto. Isso quer dizer
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Eu acho uma forma de levar arte e entretenimento a espaços que antes eram abandonados e pouco valorizados, como as praças, por exemplo. Um meio também de dar visibilidade a novos empreendedores através da arte, da gastronomia, da música, da moda e da dança. (Flavia Fernandes)
Acredito que o ideal coletivista tem obtido sucesso na concretização de objetivos pré-estabelecidos, principalmente, devido a capacidade de movimentação, mobilização, divulgação e poder de diálogo. (Caê Mancini)
Esse movimento vem crescendo principalmente no centro do Rio e trazendo vida a um espaço antes esquecido pelo poder público. (Maria Fernanda Souza)
OS COLETIVOS: Aqui vão alguns coletivos que estão atuando pelas ruas do Rio
tendências da produção audiovisual e online.
COLETIVO QUERMESSE https://www.facebook.com/coletivoquermesse?ref=br_rs
COLETIVO PERNALTA https://www.facebook.com/ coletivopernalta/timeline
Nascido no Morro da Conceição, o coletivo Quermesse tem ocupado a bela ladeira João Homem com muita música e degustação de incríveis quitutes. Com ações exclusivas na rua o grupo promove, sempre no último domingo do mês, o encontro de DJs já conhecidos na cena carioca com outros que ainda estão começando, além de convidar artesãos do Morro da Conceição e outros de variados pontos da cidade para expor e comercializar seus trabalhos.
O Coletivo PernAlta nasceu na cidade do Rio de Janeiro com o objetivo de pesquisar, difundir conhecimentos e experimentar processos criativos a partir de técnicas de equilíbrio em pernas-de-pau.
FEIJAO COLETIVO https://www.facebook.com/ feijao.coletivo O Feijão Coletivo é uma proposta criada por um grupo de profissionais das Artes. O principal objetivo do coletivo é ser uma produtora. Além de nos manter atualizados e estimular debate nos assuntos referentes á criação de conteúdo sobre Música e a cadeia produtiva da cultura. A iniciativa do grupo surgi da constatação que coletivamente os pontos de vista e experiências se enriquecem. Feijão Coletivo que tem como objetivo pensar e produzir conteúdo documental de maneira crítica e independente,integrando diversos formatos midiáticos e sobre tudo musical.Explorando diversas
Integrado por artistas e educadores de diferentes linguagens, o Coletivo PernAlta é responsável pela Oficina Pernas Voadoras (criada em parceria com a Orquestra Voadora), na qual cada aluno pode descobrir com segurança seu ritmo de aprendizado e vivenciar uma experiência desafiadora: a sensação de reaprender a andar. O Coletivo mescla em seus trabalhos elementos da cultura popular brasileira, suas festas e tradições culturais, com a proposta de realizar intervenções musicais e happenings teatrais nas ruas da cidade. Coletivo BRAVOS - https://www.facebook.com/ coletivobravos O BRAVOS acredita na cena independente e busca abrir espaço de contato entre os artistas e a platéia, levando arte onde o público estiver. Surgiu no início de 2011, com o objetivo principal de potencializar a cena local independente, criando espaços para apresentações cênicas, oferecendo assim oportunidades
para que os artistas mostrem suas propostas. Desde sua criação o COLETIVO BRAVOS divulga e organiza o Palco Aberto do Encontro Semanal de Malabares e Circo da Cidade do Rio de Janeiro que acontece nas segundas-feiras da segunda semana de cada mês. COLETIVO SERHURBANO https://www.facebook.com/ coletivoserhurbano/?fref=photo A cidade pode ser palco e pode ser plateia. Pode ser barulho, pode ser música. Motivo de vaia causa de aplauso: um ambiente fora de compasso, um espaço de vida e de sons em harmonia. Esteja ela afinada ou não com seus habitantes. A cidade, enfim pode sempre ser transformada. Criado no Rio de Janeiro, o coletivo SerHurbano é mais que uma produtora de audiovisual. Usamos nosso expertise de profissionais de diversas áreas na criação e curadoria de conteúdo colaborativo, criativo e inteligente para a TV, Web, Cinema e desenvolvendo também soluções urbano artísticas e a elaboração e execução de projetos especiais. Nosso objetivo é ocupar a cidade, seja com cultura, arte urbana, intervenções, música e diversão. Queremos transformar o ambiente urbano em algo mais colorido, mágico e democrático, para depois compartilharmos tudo isso por aqui!
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E NT REVIS TA COM
MARCELO CEARÁ
Sabemos que você faz parte de um coletivo, qual seria ele? Marcelo Ceará: Na prática faço parte de um coletivo como membro sócio, chamado etnohaus, que é uma casa-estúdio-produtora, e de outro coletivo como colaborador, chamado Ser Hurbano. Como funciona o Coletivo? MC: A etnohaus é uma casa-estúdio-produtora com 11 sócios que dividem os custos de aluguel, internet, luz e água. Todos esses sócios são músicos em sua maioria e também produtores. Utilizamos a casa como uma espécie de plataforma para divulgar, produzir e realizar conteúdo criativo no campo da música popular. A casa tem cinco bandas residentes (Mohandas, Maracutaia, Feijão Coletivo, Agytoê e Renascimento) e inúmeros projetos (Festival Dia de Zumbi, Ocupação Etnohaus, Cine Varal, O Passeio É Público, dentre outros). Além de colaborações espontâneas com diversos coletivos como Ser Hurbano, Leão Etíope do Méier, Sarau do Escritório, Quermesse, dentre outros.
Músico Marcelo Ceará 8
O que fez você sentir a necessidade de criar o Coletivo? MC: Na verdade eu entrei no coletivo já criado. A casa tem 5 anos e eu faço parte dela há 2 anos. Acho que o mais certo é que com divisão de tarefas, despesas e também co-working, a batalha de se viver de música fica mais fácil. Em vários momentos nos beneficiamos com equipamentos, com ideias, com força de trabalho que é gerido pelo coletivo. Isso acaba sendo um grande motor. O que o Coletivo permite vocês fazerem/desenvolverem? MC: Em geral são produções independentes relacionados à música, às bandas residentes. Local de composição, de ensaio, gravação de cd, divulgação do cd, realização de shows, eventos. Com a força de trabalho dos sócios e também dos não sócios que são membros das bandas residentes conseguimos chegar em bons lugares, bons palcos que se estivéssemos na batalha sozinhos, o caminho seguramente seria muito mais difícil. Que tipos de pessoas incorporam o coletivo que você participa? MC: Em geral músicos e produtores. No caso do coletivo etnohaus, o foco principal é a deusa música. Como é feita a comunicação organizacional entre os coletivos? MC: No caso da etnohaus internamente, o fato de termos uma casa pra gerir, acaba que nossa comunicação vira uma coisa quase família. Estamos sempre por lá, colaborando com apenas a presença. Às vezes uma grande ideia vem de um papo descompromissado. O diálogo da etnohaus com outros coletivos sempre foi uma busca nossa e esse ano de 2015 conseguimos realizar um evento que abraçasse diversos coletivos. Chamado O Passeio É Público, idealizado pelo coletivo Ser Hurbano que convocou todos os amigos parceiros para ocupar o parque do Passeio Público, que é a primeira praça pública do Brasil. Um lugar meio abandonado, carente de atividades culturais. Fizemos um evento com teatro, poesia,
música, cortejos, fotografia, gastronomia, etc. Esse foi um bom exemplo, pois no processo de produção o grupo do Passeio Público se tornou um imenso coletivo. A participação de diversos coletivos no cenário urbano é bem forte, tanto no resgate de espaços públicos e com intervenções. Qual sua opinião sobre esse contexto e de que forma os coletivos que você faz parte podem contribuir para isso? MC: O contexto na verdade é quase um beco sem saída, na verdade a saída desse beco são essas ocupações dos espaços públicos. Do início dos anos 2000 pra cá, fecharam mais de 100 casas de shows no Rio de Janeiro e diminuiu consideravelmente o número de eventos de rua. A nossa saída e nossa contribuição é essa de ir lá e fazer. Encarar a ridícula burocracia, enfrentar o poder público chato e trazer pra perto o público carente das atrações artísticas na rua, nas praças. O Leão Etíope do Méier é o melhor exemplo disso. Como produtores independentes, que tipo de contribuição vocês podem esperar da galera que frequenta e apoia esse tipo de manifestações urbanas? MC: Como as ocupações são em sua maioria colaborativas, um ótimo prisma pra se enxergar no meio disso tudo é que o público acaba fazendo parte do evento como artista ou produtor também. Na maioria dessas ocupações rola palco aberto para discussões, improvisações, canções. E também a questão da divulgação que fica bem mais orgânica, no bom e velho boca a boca. Digo isso pensando na cidade do Rio de Janeiro que tem esse hábito já clássico.
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A ARTE TAMBÉM É
DELAS
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uem está acostumado a ver apenas homens no skate ou no grafite deve estar se perguntando: “mulheres grafitando?”; É isso. A rua também é delas. Uma arte ainda predominantemente masculina vem ganhando espaço no mundo feminino. Foi se o tempo em que a sociedade calava as mulheres, hoje, elas estão por todos os lados, nos mais inúmeros estilos de profissões e contemporaneidade. E para aqueles que ainda duvidam da capacidade delas no estilo artístico do grafite, ai vai um cale-se em forma de arte de algumas das mais talentosas grafiteiras brasileiras.
Tikka é mais um dos talentos espalhados pelas ruas de São Paulo. Sua marca registrada são as bonecas tem feminilidade e delicadeza, além, é claro, dos olhos enormes e tristes. Tikka já pintou suas bonecas em muros de várias cidades do Brasil e de outros países da América Latina.
A carioca Panmela Castro usa a arte urbana para promover os direitos das mulheres, para informar e transformar vidas. Conhecida como Anarkia Boladona, Panmela criou em 2008 o “Grafiteiras Pela Lei Maria da Penha”, um projeto que usa o graffiti e cultura urbana para combater a violência contra as mulheres. Com imagens que questionam a sexualidade, igualdade e a violência doméstica, Conhecida como Minhau, Camila Pavanelli, é seu trabalho foi descoberto por uma organização responsável pelos gatinhos coloridos grafitados americana e a grafiteira passou a pintar em diversos em diversas partes de São Paulo. Minhau pintou países. seu primeiro muro com Chivitz, seu marido que também é grafiteiro, desde então, não parou mais.
Magrela começou com o grafite aos 23 anos e a influência artística veio de seu pai. Seus desenhos trazem em sua arte mulheres tristes e de formas retorcidas, que, muitas vezes, são reflexos de seus próprios sentimentos. 10
Como falar de arte de rua e não falar sobre skate? O skate faz parte de toda essa intervenção, que mistura cultura, música, estilo e manobras, e tudo isso está ligado à cultura urbana. A ligação do esporte com a arte do graffite é muito maior do que parece. Desde o fim da década de 1970, quando começou a se estabelecer um perfil próprio entre os skatistas, skate e arte passaram a ter uma ligação muito forte, principalmente desse esporte com as artes gráficas e a música – uma ligação que não se encontra de modo tão intenso e difundido em outras atividades esportivas.
O projeto I Love xv está ligado não só a intervenção urbana, mas a ocupação dos espaços públicos. E o projeto veio para mostrar como o skate pode salvar espaços antes abandonados pela sociedade e pelo Estado tornando-o novamente um lugar seguro. O projeto ganhou força e conseguiu realizar seu objetivo, hoje a praça xv, antes abandonada conta com obstáculos de skate que permitem aos skatistas utilizarem em determinados horários, além de ter trazido um legado de festas e eventos culturais para a região, que hoje é bastante frequentada pelos jovens. FamíliaXV https://www.facebook.com/familiaxv/?ref=br_rs
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cinema ao ar livre vem ganhando cada vez mais espaço na zona cultural da cidade do Rio de Janeiro. Entre projetos e iniciativas de coletivos focados em levar a arte para as ruas dando uma maior acessibilidade ao público surgiram distintos eventos, cada um com sua objetividade. Nesta reportagem nós iremos citar alguns e mostrar que suas intenções no final são todas voltadas para o mesmo incentivo, levar a arte às ruas como forma de ocupação e intervenção. Lembramos que todos esses eventos são feitos através de produções independentes colaborativas, então se você pretende aparecer por lá não se esqueça de dar aquela moral no chapéu. O Rio irá receber nesse final de ano o FESTIVAL INTERSESSÃO, que surge como uma celebração ao cinema independente, levando a quatro pontos da cidade exibições de filmes ao ar livre e atividades relacionadas ao universo do cinema. Além de muita música, cultura e arte. A proposta é contrapor o projeto de cidade-mercado promovido pelas políticas do Governo do Estado e da Prefeitura em parceria com grandes corporações. O
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objetivo é mostrar ao mundo que cidade maravilhosa é cidade que luta! O primeiro local que receberá o InterSessão é o Jardim América, na Zona Norte no Rio. No evento acontecem oficinas cinematográficas para as crianças, além de outras atividades e manifestações locais, como slackline e roda de capoeira. Após os filmes o evento trará debates com a presença dos realizadores e convidados. O Festival tem entrada LIVRE e rola a partir das10h. Toda a programação você confere no evento criado no Facebook: InterSessão - Festival de cinema de rua 07/11 Jardim América - ZN 14/11 Morro da Babilônia - ZS 28/11 Vila Autódromo - ZO 06/12 Cinelândia - C CINE GIRO Outro projeto que vem ganhando os olhares dos cariocas é o evento Cine-Giro. Quatro coletivos culturais se uniram em uma campanha de financiamento com o objetivo de promover ocupações culturais em quatro pontos distintos da cidade. A primeira edição do projeto, que foi um Piloto, aconteceu no mês de Junho, e reuniu centenas de pessoas na Praça Xavier de
Brito, Tijuca, para assistir ao filme argentino “Medianeras” e aos shows do cantor carioca Arthus Fochi e da banda paulista Francisco El Hombre. O evento foi um sucesso, misturando cinema, pipoca grátis, música, e muita diversão. A ideia do Cine Giro é realizar sessões de cinema ao ar livre com direito a distribuição de pipoca. Além disso, dois shows acontecem em cada edição. A ideia veio de uma pichação anônima numa casa abandonada. Se os cinemas de rua sumiram de alguns bairros, por que não criar uma versão itinerante que percorra as quatro regiões da cidade? o CINE GIRO quer que o Rio todo, da Zona Norte à Zona Sul, do Centro à Zona Oeste, volte a ter suas áreas públicas utilizadas pela população. Ao visitar locais pouco conhecidos ou frequentados, os coletivos esperam estimular a circulação pelos bairros e a (re) descoberta dos seus espaços. Coletivos colaborativos no projeto:
MIRA FAZ NA PRAÇA RÁDIO LIBERTÁ REBULIÇO
AGRADECIMENTOS: Eduardo Ferreira Marcelo Ceará Carlos Joint Maria Fernanda Sousa Caê Mancini Flávia Fernandes FONTES: http://jornalmulier.com.br/ http://www.guiadasemana.com.br/ http://vejario.abril.com.br/ http://cargocollective.com/ilovexv/O-PROJETO Facebook dos coletivos https://beta.benfeitoria.com/cinegiro