Paradigmas quebrados as diversidades do corpo
Entrevista Thiago Amaral dá lição de superação após tornar-se deficiente
ANATOMIA Descubra porquê brancos e negros se dão bem em esportes diferentes
CORPO FEMININO Você sabe quais são os padrões de beleza ao redor do mundo? O bumbum nem sempre é preferência nacional. 1º semestre de 2015
Paradigmas quebrados as diversidades do corpo A revista Paradigmas Quebrados é uma publicação da turma de Projeto em Impressos, da Facha, do 1º semestre de 2015, turno da manhã. Repórteres: Kim Migueis Laís Napoli Mariane Alvim Thaís Campos Thomás Milhazes Professora Responsável: Maracy Guimarães Diagramação: Laís Napoli
Apresentamos a revista Paradigmas quebrados – a diversidade do corpo, que tem por missão mostrar o outro lado que o corpo humano possui, ou seja, o corpo como superação e aspéctos biológicos, culturais e sociais. A primeira apresentação da revista fala sobre as aptidões do corpo humano e explica o motivo de negros se destacarem no atletismo, enquanto brancos sobressaem na natação. Segundo estudos, “a etinia pode influenciar nas atividades, já que o organismo das pessoas não funciona igual”. Já a segunda apresentação foca no culto ao corpo da mulher ao redor do mundo. A ideia da matéria é mostrar a forma que a beleza feminina é vista em diferentes países. Além de mostrar que a mídia ajuda muito a perpetuar a moda entre os países. Para fechar, mostramos o dia a dia de um deficiente físico que tem o esporte como paixão. A matéria fala sobre a superação de um homem que, ao invés de viver uma vida repleta de limitações, optou pelo esporte, mesmo com todas as dificuldades.
• ANATOMIA
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A cor do esporte
Por que negros se destacam no atletismo, enquanto brancos se dão melhor na natação?
Final dos 100m rasos, em Londres 2012 (D) e pódio dos 100m livres (E), em Pequim 2008 (Foto: Gazeta Press)
Por Kim Migueis
O esporte é visto, em geral, como uma forma de manter o equilíbrio na saúde, melhorar aptidões físicas e mentais e ainda proporcionar entretenimento aos participantes e espectadores. São centenas de tipos de esportes existentes, incluindo aqueles que são praticados por um único participante, até aqueles que chegam a casa dos milhares de participantes simultâneos. Os esportes são, na maioria das vezes, praticados apenas por diversão ou pelo simples fato das pessoas precisarem de exercício para se manterem em boas condições físicas. No entanto, o esporte e, em especial o profissional,
é muito competitivo e uma importante fonte de rendimento econômico e entretenimento no mundo inteiro. Nos dias de hoje, as diversas modalidades esportivas a nível profissional têm sido praticadas em patamares cada vez mais elevados. E com o objetivo de potencializar ainda mais o uso do corpo humano em tais atividades, a ciência passou a caminhar lado a lado com o esporte. Cada vez mais, os atletas passaram a contar com profissionais especializados e estudos sobre a genética do corpo para que o desempenho nas competições seja ainda mais satisfatórios, chegando a ultrapassar limites inimagináveis pelo e para o ser humano. Com o passar do tempo, os cientistas
foram descobrindo que a etnia poderia influenciar nas atividades, já que o organismo e, principalmente a musculatura, das pessoas não funcionavam de maneira exatamente igual. Dois esportes olímpicos e bastante tradicionais exemplificam muito bem a questão do biótipo dos atletas brancos e negros. A natação e o atletismo têm predominância de etnias não por acaso. Com a evolução do treinamento
A etinia pode influenciar nas atividades, já que o organismo das pessoas não funciona igual
esportivo, as provas de velocidade tanto socioeconômicos podem acarretar na do atletismo quanto da natação viven- escolha de um determinado esporte, ciaram frequentes quebras de recordes. fato que pode explicar por que vemos Estes recordes desde que começaram a maioria de atletas brancos em provas a ser computados foram efetuados em na água e negros em provas de chão. O assunto volsua maioria por netou a ser debatido gros nas provas de Os negros realmente após um aconteatletismo e brandominam os esportes de cimento em 2010, cos nas provas veforça e velocidade, e a em Valence, no lozes de natação. justificativa é a diferença sudeste da FranExistem vários de fibras musculares ça. Christophe estudos, como o Lemaitre, um joda Universidade de Howard, em Washington, nos vem francês, na época com 20 anos, Estados Unidos,envolvendo a com- foi o primeiro branco a correr prova paração no desempenho de negros dos 100 metros rasos abaixo da mare brancos em diversos esportes, po- ca dos 10 segundos. Apesar de ter sido rém, sabemos que fatores culturais e apenas o 71º velocista a baixar os 10s
na prova mais rápida do atletismo, Lemaitre fez história ao completar prova em 9s98 e entrar para o seleto grupo, onde até a tarde de 9 de julho, era “exclusivo” para atletas negros de procedência ou descendência do africana. Questionado sobre o seu feito, Lemaitrese sente desconfortável com a situação e acha que o foco deveria ficar apenas nas estatísticas do esporte em si. “Para mim, o atletismo nunca foi uma questão de cor da pele. Essa discussão (sobre o feito inédito) é absurda. Nomes como (Asafa) Powell e (Tyson) Gay ainda estão numa outra dimensão em comparação comigo. Minha preocupação é apenas correr mais rápido e aprender. Não acredito que seja decisivo. O êxito é uma questão de trabalho”, declarou. Vale lembrar que nenhum velocista branco foi campeão olímpico dos 100m ou 200m desde os Jogos de Moscou, em 1980.A exceção é o grego Kostas Kenteris, em Sydney, em 2000, que acabou suspenso. Por outro lado, a natação tem em sua grande maioria domínio dos brancos como medalhistas e recordistas. Enquanto UsainBolt, Tyson Gay e Asafa Powell, todos negros, dominam a provas rápidas no atletismo, Michael Phelps, Paul Biedermann, GranHackett, Cameron van der Burgh e Aaron Peirsol, todos brancos, são recordistas nas piscinas. Os negros realmente dominam os esportes de força e velocidade e a justificativa mais aceita é a que comprova a diferença de fibras musculares. De acordo com estudo feito feita na Universidade de Howard, negros tendem a ter membros mais longos, mas com uma circunferência menor. Isso afetaria o centro de gravidade de seus corpos, dificultando na hora de nadar. Desde 1968 os recordes na prova de 100 metros rasos foram quebrados por atletas negros. Isso aconteceria pela diferença que cada raça tem na sua estrutura física – então o atleta poderia ser africano, brasileiro, jamaicano, canadense ou alemão: se ele for afrodescendente, independente de sua cultura, ele terá mais chances de ser mais rápido por seu físico. Segundo os pesquisadores, as
diferenças são pequenas e não são notadas somente atravésdo olhar. Foi necessário medir e comparar os membros de atletas que os cientistas chegaram a essas conclusões. Já os brancos, possuem o tórax mais largo, levando certa vantagem em esportes aquáticos. O estudo analisou as medidas de soldados de 17 nações diferentes. Como os militares medem a maior parte do corpo de seus recrutas com exatidão, eles são uma fonte confiável. Depois fizeram as comparações e perceberam que as pessoas mais rápidas possuem membros longos, centro de gravidade mais alta, e que essas características são mais comuns em negros. Em comparação com negros e brancos, os atletas asiáticos possuem pernas mais curtas em relação aos componentes da parte superior do tronco, o que constitui uma característica dimensional benéfica nas provas de distâncias mais longas e no levantamento de pesos. Tais afirmações presentes no estudo de Bejan, Jones, Charles (2010) “The evolutionofspeed in athletics: whythefastestrunners are blackandswimmerswhite” (A evolução da velocidade no atletismo: por que os corredores mais rápidos são negros e os melhores nadadores são brancos, em tradução livre), concluem que as diferenças antropométricas – que pode ser entendida pelo conjunto de técnicas utilizadas para medir o corpo humano e/ou suas partes – entre negros e brancos tem relação direta no desempenho em seus esportes de dominância. Essa pesquisa indica que nos indivíduos negros, em média, o centro de gravidade está localizado 3% acima do que em indivíduos brancos. Na competição esportiva de alto nível, podemos analisar diversos fatores que definem o desempenho dos atletas de diversos esportes. Em provas rápidas do atletismo e da natação esses fatores parecem influenciar com mais precisão, pois cada milissegundo é importante para um atleta ser campeão. Porém elemento socioeconômico é um forte denominador que comprova a participação de grupos étnicos nos esportes de pista e de piscinas. Em nosso
A lenda Usain Bolt estará presente nas Olimpíadas Rio 2016 (Foto:Reuters)
país, por exemplo, negros ainda estão em sua maioria nos níveis de baixa renda, o que dificuldade o acesso às aulas de natação, assim sendo estes tendem a procurar esportes mais baratos, como o atletismo, para a sua prática. É importante ressaltar que isso não funciona como uma regra. A natação e o atletismo se destacam por necessitarem de características bastante definidas. Cada vez mais o ser humano tem mostrado que os limites podem ser superados. Nos esportes coletivos, como o futebol e o vôlei, por exemplo, essas diferenças físicas são determinantes para o conjunto. As diferentes características se completam, fazendo com que seja cada vez mais necessário a integração
de negros, brancos e até asiáticos em um mesma equipe devido ao alto nível dos esportes. O futebol é um dos maiores exemplos de quebra de paradigmas, onde jogadores com porte físico aparentemente inadequado podem se destacar. O ex-jogador Romário é uma prova disso. Muitas pessoas lembram da Copa do Mundo de 1994, quando o baixinho subiu pulou mais alto que os “gigantes” suecos para marcar de cabeça. E o que dizer da jogadora de vôlei Suelen, que atualmente defende o Sesi-SP. A líbero tem apenas 1,69m. Chamada muitas vezes de gordinha, ela mostra mais uma vez que o ser humano é capaz de superar os limites. •
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O corpo feminino ao redor do mundo
Entre bumbuns e peitos grandes, tabus e olhos ocidentalizados, o corpo feminino é moldado pela cultura e pelo audiovisual Por Laís Napoli, Mariane Alvim e Thaís Campos
Há nas sociedades contemporâneas uma intensificação do culto ao corpo, onde os indivíduos se preocupam cada vez mais com a imagem e a estética. O corpo feminino, idealizado desde os primórdios, esconde seus mistérios, cultos e preconceitos no Brasil, assim como no resto do mundo. O curioso é a forma como esses aspectos se diferenciam em cada sociedade. A brasileira cultua o bumbum grande; os americanos optam mais por peitos avantajados – e exportam essa cultura para outros países. Tais preferências não são resumidas apenas no ocidente: o islamismo, por exemplo, impede as mulheres de exibirem seus cabelos. Não é incomum também encontrar asiáticas em busca de olhos maiores, menos puxados, ocidentalizados. Mas de onde vêm essas idealizações e estereótipos? O cinema norte-americano é um dos culpados, mas a mídia tradicional também tem papel fundamental nesse processo de massificação. A afirmação de um padrão é um processo histórico, mas que possui implicações culturais, econômicas e ideológicas. O cinema de Hollywood, por exemplo, ajudou – e ainda ajuda – a criar padrões de aparência e beleza. Essa prática difunde valores da cultura de con-
sumo e projeta imagens de estilos de vida glamorosos para o mundo inteiro. Um estudo feita pela pesquisadora Isabella Goulart sobre o cinema na década de 1920 revela que os padrões lá disseminados até hoje são reforçados. Entre 1926 e 1927 aconteceu no Brasil o “Concurso de Beleza Fotogênica Feminina e Varonil”, realizado pela FoxFilm brasileira. O objetivo era levar dois brasileiros para atuar em Hollywood. O título do próprio concurso já mostra que ele está diretamente associado à be-
Além do cinema, a mídia tradicional também ajuda a perpetuar a moda leza e não ao talento dos concorrentes. Na descrição de quem poderia participar, dizia-se que os homens e mulheres deveriam ser jovens de “pele branca e sangue latino”. O padrão da época era uma mulher branca, magra, jovem e que cuidasse da aparência. Não apenas a cor da pele, mas qualquer traço ligado à negritude era visto como negativo. Essa concepção de beleza era o que queriam mostrar nas telas do cinema.
Desse modo, mostrar ao público apenas estrelas dentro desses padrões era o que fazia com que todos enxergassem isso como belo. Esses dois pontos podem ser facilmente usados nos dias atuais. Os padrões de beleza da década de 1920 não são tão distantes dos de hoje. Ainda que haja uma valorização maior da cultura negra, é só observar as novelas para perceber como o racismo ainda é forte no meio audiovisual. O trabalho de Goulart mostra, portanto, como eram os estereótipos presentes no cinema no início do século passado. A partir disso é possível compreender um pouco melhor como as representações que chegam nos dias de hoje foram construídas ao longo do tempo. Outra questão que merecer ser ressaltada é que os padrões e estereótipos são antigos, mas não se alteraram tanto quanto poderiam com o passar dos anos. Além do cinema, a mídia tradicional também ajuda a perpetuar a moda vigente. Impulsionados pelo processo de massificação das mídias a partir dos anos 1980, quando o corpo ganha mais espaço, não por acaso foi nesse período que surgiram as duas maiores revistas brasileiras voltadas para o tema: “Boa Forma” (1984) e “Corpo a Corpo” (1987).
O bumbum brasileiro O Brasil é um país pluralista, com muita miscigenação, então não há um padrão de beleza específico entre suas mulheres.Apesar disso, a maioria procura seguir um modelo que é considerado importante para os homens brasileiros: a fartura, mas principalmente as curvas. Diferente de alguns países, principalmente europeus, a mulher muito magra não é considerada atraente no Brasil. Há chances, inclusive, da mulher acima do peso provocar mais olhares do que a desprovida de curvas. A mídia determinou dois perfis de corpos femininos: a magra elegante (com pequenas curvas) e a gostosa. Quando o assunto é negras e mulatas, exige-se corpos ainda mais avantajados do que em mulheres brancas. Uma mulher com pernas grossas, bumbum grande e bastante seio é considerada o exemplo do corpo desejado. As negras, inclusive, são referências no samba, ritmo que requer muito gingado e damas com bastante carne. Aos poucos, essas mulheres ganham espaço na mídia e quebram tabus, como o preconceito por cabelos crespos. Com isso, mulheres que não se encaixam nesses padrões optam por excesso de exercícios físicos, suplementos e/ ou plásticas desnecessárias, que muitas vezes põem em risco a vida da pessoa. Um exemplo atual dessa busca insaciável pela perfeição é a Andressa Urach, que introduziu hidrogel nas pernas e luta até hoje para se recuperar completamente. Garota americana Nos Estados Unidos, ainda hoje a beleza mais admirada e desejada é o padrão da mulher tipo Barbie: loira de olhos azuis. Nos últimos 15 anos, um padrão conhecido como “aborígene” tomou conta do país. Além do tipo físico magérrimo e loiro, agora é preciso é injetar produtos no corpo, como o silicone e os anabolizantes, ou mesmo tatuagens e piercings. O aumento de plásticas para a colocação de próteses de silicone é constante em um país onde seios fartos é preferência entre os homens. Por outro lado, com
a globalização e a diminuição – mesmo que pouca – do racismo, já há crescimento na indústria de bumbuns mais fartos, inspirados nas negras americanas. O hip hop e o rap tem papel fundamental na disseminação desse estereótipo. Não se pode esquecer que os Estados Unidos mantém o monopólio do cinema e animação. Assim, o padrão de beleza norte-americano é inspirado nas princesas da Disney e nas atrizes dos filmes de Hollywood. Em um país extremamente massificado, não são raros casos de extrema competitividade, ainda na infância, em relação à estética – o que causa problemas sociais e psicológicos. A vaidade, ou melhor, a beleza dentro dos padrões estabelecidos, torna-se, desse modo, instrumento de status e poder. Beleza europeia Não é segredo que o padrão de beleza hoje em voga não é proveniente exatamente dos Estados Unidos, mas sim da Europa. O cinema americano apenas dissemina esse ideal de beleza feminina. De acordo com o padrão europeu, a mulher bonita é aquela alta, magra, branca, com traços finos e proporcionais. Esse padrão de beleza é discreto e equilibrado. Por outro lado, há diferenças específicas entre um país e outro, na Europa. Na França, por exemplo, mulheres mais magras, esbeltas, sem muita carne, fazem mais sucesso. Ainda falando da terra dos perfumes e roupas caras, as mulheres francesas que adotam uma aparência mais natural, embora elegantes e chiques, estão associadas ao grau máximo de beleza. Engordar não é uma opção para elas – é o fim da autoestima. Já na Itália, a preferência masculina, que influencia no padrão de beleza, é por mulheres fartas e curvilíneas, assim como seus carros. Por outro lado, a redatora-chefe da Marie Claire Itália, Antonella Bussi, discorda. “O ideal de beleza é ter bastante seio, pouco bumbum, pernas bem torneadas e cabelos compridos — de preferência com mechas loiras. Os homens preferem curvas, mas as italianas querem ser bem magras”. Antonella ainda afirma que Esse estereótipo empurra as mulheres para as
cirurgias plásticas. “Não somos altas, então a altura também é supervalorizada no país. Há até um ditado que diz ‘mezza altezza, mezza bellez-za’ (meio alta, meio bela)”. O contraponto é interessante, pois mostra que dois padrões podem existir – um influenciado pelo público masculino em relação às mulheres e outro pela indústria da moda.
O começo do culto à forma física perfeita surge na Grécia o olhar perfeito O estereótipo de beleza nos países orientais é o de perfeição através da naturalidade. Os cabelos devem ser lisos e a pele clara e macia. Os olhos puxados, por outro lado, muitas vezes perdem o seu charme para a beleza ocidental, incentivando muitas orientais a abrirem mão de seu olhar diferente. Elas querem olhos maiores e menos puxados. Esses tratamentos estéticos vem crescendo, por isso, a cada ano. No Japão, com frequência, as mulheres injetam colágeno em si mesmas para conseguir uma aparência mais jovial, e muitos restaurantes servem pratos preparados com a substância. As japonesas que têm os cabelos ondulados ou crespos são incentivadas a deixá-los lisos usando o método que for necessário. Muitas vezes, elas pagam para fazer o alisamento químico, que na América é conhecido por alisamento japonês. Na China e na Coreia do Sul, além da busca por olhos mais ocidentalizados, muitas utilizam das cirurgias plásticas, como as desenvolvidas nos Estados Unidos ou no Brasil. Essas mulheres mudam o formato do nariz, das pálpebras ou dos queixos, principalmente entre artistas
e os que possuem recursos para tanto. Também o botox passou a ser utilizado na China, havendo peles branqueadas com injeções, pois consideram o branco mais bonito que peles mais morenas. Por trás dos véus “As árabes são conhecidas por seus cabelos longos, bem pretos e muito brilhantes. Como a maioria cobre o corpo, o cabelo é o principal sinônimo de beleza”, explica a Mariana Nahed, editora de beleza da Marie Claire do Oriente Médio. Para quem acha que a vaidade não existe por trás dos longos véus islâmicos muito se engana. As mulheres árabes estão sempre ligadas nos lançamentos de tratamentos e colorações. Há, no entanto, algumas diferenças nas preferências de cores entre os países. No Kuwait, por exemplo, fazem sucesso as luzes loiras. Nos Emirados Árabes, as favoritas são as colorações de tons de castanho. Todas, no entanto, adoram apliques e megahair. Por causa das roupas compridas, também é dado muito valor aos pés e mãos, que devem estar sempre bem cuidados. A tatuagem de hena, considerada muito sensual no Oriente Médio, evidencia a beleza nessas regiões. Nos países em que o rosto também fica quase todo coberto, os olhos têm um papel importante. Por isso são muito maquiados. No Irã, mais um país que tem o islamismo como religião, a cirurgia plástica é uma forma aceitável de melhorar a beleza exterior e, atualmente, esse é o país com os maiores índices de rinoplastias realizadas. Exibir a realização desse tipo de cirurgia no nariz significa ter status, devido aos altos custos associados ao procedimento. Mais uma vez, é percebida a valorização de partes do corpo que ficam a mostra. Peitos, bumbum e barriga
não têm tanta relevância nessa cultura. África e suas mulheres A beleza africana vai desde a pintura corporal ao cabelo trançado. A África enfeita suas mulheres conforme a cultura a que pertencem e logo constroem a moda africana. Ela une utilidade e estética e está nos objetos, na música, na dança, na pintura corporal, no artesanato e nos rituais sagrados. As mulheres africanas usam turbantes pois traz proteção para os seus orixás. Além disso, simbolizam hierarquia social e espiritual e diferencia diversas etnias. Os turbantes valorizam a beleza e a cultura da raça. Em alguns países africanos, a cultura da mulher é um pouco diferente. Em Mauritânia, que é um país situado no noroeste da África ocidental, por exemplo, uma mulher ser obesa é sinal de status, ou seja, mostra que é uma mulher que não precisa trabalhar porque o marido é rico. Ser obesa é garantia de casamento. Já na Etiópia, localizado no nordeste africano, há tribos em que as mulheres usam enormes discos de madeira ou porcelana no lábio inferior, através do ritual que se inicia aos 15 anos de idade, onde a menina recebe um corte nessa região pela mãe ou avó.
“Se os nobres tinham suas origens genealógicas como diferencial, a burguesia passou a desenvolver a noção de um corpo disciplinado para se destacar”
Um pouco da história
O começo do culto à forma física perfeita surge na Grécia. Os gregos buscavam capacidades intelectual e física sempre desenvolvidas. O lema era, portanto, mens sana in corpore sano (mente saudável em corpo são). Entretanto, após a Era Clássica, na Idade Média, as questões estéticas e o físico ficaram relegados ao segundo plano. Durante essa época, o corpo foi tratado pela sociedade de forma discreta, com todo o decoro exigido pelas crenças religiosas e de acordo com as leis divinas. O papel do corpo não ficará renegado por muito tempo. Com a chegada da burguesia ao poder, no século XVIII, a estética física volta a ter destaque na sociedade europeia ocidental. De acordo com o psicólogo Fernando de Almeida Silveira, doutor em filosofia e professor da USP, com a queda da aristocracia europeia, a burguesia foi se auto-afirmando por meio de uma nova relação corpo-essência. "Se os nobres tinham suas origens genealógicas como diferencial, a burguesia passou a desenvolver a noção de um corpo disciplinado, saudável e longevo para se destacar tanto da aristocracia decadente quanto do proletariado promíscuo e desregrado", explica Silveira. Assim, o capitalismo também teve sua participação na idealização do corpo. Por fim, chega-se ao ponto em que o crescimento da mídia torna-se o principal indutor da indústria da beleza. No século XXI, é este mercado que produz novos padrões de beleza para a sociedade, criando obsessão em todas as classes e no mudo inteiro. Hoje cada vez mais pessoas buscam formas de transformar o físico em nome da perfeição imposta pelos padrões.
• Europa • Mulheres brancas, altas, magras e curvilíneas. Quanto menos maquiagem, melhor.
• EUA • Padrão tipo Barbie: magérrimas, loiras e com peitos grandes.
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• • Brasil • Bumbum é preferência nacional, assim como mulheres com mais carne.
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• África • Bem eclético. Pintura corporal, cabelos trançados e até obesidade são cultuados no continente.
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• Ásia • Naturalidade nos cabelos (lisos), mas buscam olhos ocidentais por acharem mais atraentes.
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• Mundo árabe • Cabelos, pés e mãos devem estar sempre bem-cuidados. Peitos e bumbuns não tem tanta importância.
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O dia a dia de um deficiente físico O esporte como forma de integração e superação Revista: Como foi o acidente? Thiago Amaral: Eu fazia mountain bike e corria. Fui à uma corrida em Saquarema, a Wool Extreme. A prova era subir uma serra. Depois da prova peguei uma carona com outros atletas. O primo de um deles que dirigia, meu hotel era a menos de 5km dali, mas o carro capotou. Eu estava sem cinto de segurança. R: Receber a notícia não deve ter sido fácil... T: É a vida te falando "Aí garoto, agora é isso. Mas você tem escolha ainda, casa e cama, ou descobrir o que de positivo dá para tirar dessa vida". Não é fácil, mas também não é tão difícil quanto parecia. Um dia de cada vez, uns bons, outros nem tanto. O jeito é conseguir priorizar o lado bom sempre.
Thiago é um atleta dedicado ao rugby
Por Thomás Milhazes
Todo sábado, quando o relógio marca seis horas da manhã, o despertador de Thiago Amaral toca. Acordar cedo em pleno fim de semana para muitos é algo ruim, mas ele faz isso sempre com alegria. Thiago é atleta do Santer Rio, uma equipe que disputa o campeonato brasileiro de rugby em cadeira de rodas. Em novembro de 2011, com 21 anos, Thiago sofreu um grave acidente de carro. Após ficar pouco mais de um mês na UTI, veio a notícia: uma lesão medular alta o deixou tetraplégico. Sua vida mudou radicalmente, mas o jovem soube lidar bem com todas as adversidades que a vida lhe apresentou.
R: Os amigos e familiares lidaram bem com a nova situação? T: Eu gosto sempre de realçar a importância do apoio que tive na época da minha família, minha agora ex-namorada, Camila, e meus amigos. Eles foram os pilares, sem eles não daria. R: Como você chegou ao esporte paralímpico? T: Os profissionais do hospital que trabalham na recuperação de pacientes sempre tentam incluí-los em um meio pra distração e interação. Uns pela dança, outros nas artes e outros esportes. Por eu ter vindo do esporte, já foram direto nele. O perfil da minha lesão me enquadrava em alguns como tênis de mesa, bocha e rugby.
R: E por que o rugby? T: Li sobre todos os esportes que me indicaram, e o rugby me chamou bastante a atenção. Parei nele. O nosso rugby não pegou muito as regras do rugby não. Na verdade, tinha que ter um nome melhor que murderball para ser considerado esporte paralímpico. Por isso fizemos a associação com o tradicional esporte originado na Inglaterra. R: As regras do jogo são muito diferentes do rugby tradicional? T: O rugby em cadeiras de rodas é disputado em uma quadra, com quatro atletas de cada lado. O objetivo, assim como no rugby tradicional, é levar a bola até a linha de fundo do campo do adversário. O atleta não pode ficar mais de dez segundos com a bola na mão sem dar pelo menos um quique dela no chão. Não é difícil, mas na prática é mais simples de entender.
É a vida te falando “Aí garoto, agora é isso. Mas você tem escolha ainda, casa e cama, ou descobrir o que de positivo dá para tirar dessa vida” to?
R: O esporte te dá algum susten-
T: Não, o whell chair rugby não me dá sustento nenhum. Como a minha equipe não está muito bem colocada
Não gasto R$ 1,00 em jogo de futebol no Brasil, não preciso pagar nem o estacionamento. E você nunca vai saber a alegria de ver uma rampa e ter rodas para descer a hora que for, seja onde for (risos) no ranking nacional, eu não recebo o bolsa-atleta. Mas de certa forma estou envolvido com o esporte no meu emprego. Participei de um programa de paratletas e conseguiu trabalho no Rio 2016, o comitê que está organizando os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2016. Não deixo de viver de esporte. R: Mas você ainda sonha em viver de rugby.... T: Hoje eu penso mais em quando vou chegar a seleção do que se volto a andar. Tenho pouco mais de dois anos
no esporte, por isso ainda não fui convocado. Penso em passar um período no Canadá treinando. A seleção deles está entre as três melhores do mundo, junto com Austrália e Estados Unidos. É o que eu gosto, é o que eu quero. R: Você se dedica bastante? T: Na "Nice!", meu treino é orientado pelo meu querido professor Rafael, que já foi quatro vezes campeão brasileiro como técnico por três equipes diferentes. Ele me passa um cronograma de exercícios diários. O cara sabe tudo, repete até não sair da cabeça o que cada atleta deve fazer. É bem completo o programa. Sei que só dependo de mim para chegar onde quero, por isso me esforço ao máximo sempre. R: Como é viver sobre uma cadeira de rodas? T: Eu penso de uma maneira meio boba, tudo tem um lado bom e ruim, e a gente tem que valorizar o bom e suas vantagens. Por exemplo, você pode atravessar a rua correndo, mas a probabilidade do trânsito parar pra que eu
atravesse ao invés de você é bem maior (risos) Não gasto R$ 1,00 em qualquer jogo de futebol no Brasil, também não preciso pagar nem o estacionamento. E você nunca vai saber a alegria de ver uma rampa e ter rodas para descer a hora que for, seja onde for (risos). R: E os estudos? T: Além da carreira de jogador, eu quero contribuir para o desenvolvimento do esporte paralímpico no Brasil. Além do meu trabalho na organização dos Jogos de 2016, faço faculdade de administração. Penso muito em trabalhar no Comitê Paralímpico Brasileiro. R: Você acha que hoje seu limite é muito distante do seu limite anterior ao acidente? T: Fiz, faço e vou fazer coisas que antes não pretendia. Montanha russa eu não ia nem nas de parquinho da cidade. No ano passado fui na 8ª maior do mundo! Tentei e vou tentar de novo o surf adaptado, que antes nunca tinha feito. Eu perdi o limite, isso sim! E espero continuar assim (risos). •
Jogadores do Santer Rio Rugby reunidos antes do início de mais uma partida: o esporte exige força e concentração
Paradigmas quebrados as diversidades do corpo
1ยบ semestre de 2015