PANORAMA
ed.01 - ano I
O CONFRONTO NAS REDES SOCIAIS A COMÉDIA NA POLÍTICA O USO DA INTERNET COMO FERRAMENTA POLÍTICA
POR CARLOS EDUARDO ARRAES, DANIEL BERGMAN E GUILHERME SANTOS
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A POLÍTICA NO MUNDO DA COMÉDIA O jornalista Pedro do Coutto falou a respeito dos candidatos pitorescos que surgem em todas as eleições
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andidatos das mais variadas naturezas surgiram nas últimas eleições. Pessoas que normalmente não teriam destaque utilizaram a internet como ferramenta para se promoverem. O sucesso nas redes sociais foi grande. As propagandas foram feitas com vídeos toscos com figurino cômico, entre outros tipos. Apesar do sucesso, a dúvida que pairava era a de que se isso era suficiente para esses candidatos conseguirem votos. A resposta é: não. Um candidato chamado Jesus tentou ser eleito deputado estadual de Pernambuco. Com um forte apelo religioso e a promessa de paz no estado, não houve milagre que o salvasse. Jesus terminou a eleição com 3.393 votos e passou longe. Paulo Batista se candidatou a deputado estadual de São Paulo, ficou famoso no Facebook com o seu “raio privatizador”, além de pregar a luta contra os comunistas. Com alguns vídeos de teor cômico, o candidato, entretanto, também não conseguiu. Ganhou 16.853 votos em São Paulo. Outros personagem pitorescos que fracassaram são Clark Crente, candidato à Assembléia Legislativa do Paraná, com 2.214 votos, Mister M do PMDB, com 3.929 votos e Mulher Maravilha do Distrito Federal, que foi a pior, com míseros 81 votos. Dessa forma, ficou claro que o time dos super-heróis anda em baixa no Brasil. Houve também a tentativa de utilizar um nome conhecido entre todos os brasileiros, como foi o caso do candidato Neymar. Victor Terssariol buscou alcançar uma vaga à Assembléia Legislativa de São Paulo já que possui alguma semelhança com o craque do Barcelona. No total, foram irrisórios 494 votos.
A piada alcançou até a rede de TV norte americana CNN. Em ritmo de carnaval e clima de clipe do É o Tchan!, a reportagem dos americanos focou nos candidatos absurdos, como os clones de Obama e Osama Bin Laden, por exemplo. Mas quem chamou mais a atenção dos gringos foi o palhaço profissional Tiririca, que nas eleições de 2010 foi o deputado mais votado da história e neste ano alcançou a marca de 1.134,152 votos para o cargo de deputado federal de São Paulo. O humorista conseguiu chamar a atenção do público ao imitar Darth Vader, Pelé e Roberto Carlos. Isso tudo rendeu grande repercussão ao palhaço nas redes sociais. O jornalista Francisco Pedro do Coutto, de 80 anos, é especializado em análises políticas e eleitorais. Iniciou sua carreira no Correio da Manhã, em 1954. Foi repórter de O Globo, Jornal do Brasil e CBN, além de ter escrito o livro O voto e o povo (1966), redigiu verbetes sobre políticos e partidos do pós-45 para a Grande enciclopédia Delta Larousse e concedeu uma entrevista sobre os candidatos cômicos. 1 – O que o senhor acha de candidatos que não apresentam propostas e apelam para o humor? Acho que o apelo para o humor – o humor traz consigo
vários tipos e níveis, vale frisar – destina-se a suprir, na grande maioria dos casos, exatamente a falta de propostas e ideias concretas e claras, no limite do possível. Propor o impossível, mesmo através do humor, não motiva eleitores e assim não resulta em votos. Além disso, o uso do humor, de modo geral, depende do desempenho de quem a ele recorre. Mas de qualquer modo, ele visa, no fundo, suprir a apresentação de propostas sérias e viáveis. 2 – O senhor acha que a apelação para o humor pode se dever ao nível do eleitorado? Sim, em grande parte. Mas também tem como objetivo atingir a uma fração dos que pretendem anular o sufrágio ou votar em branco. Neste caso, a exemplo do deputado Tiririca, o humor tem como alvo menosprezar o processo eleitoral: em vez de anular o voto, os decepcionados com a política votam naqueles que a agridem através, não apenas do humor, mas por intermédio de uma posição de deboche. 3 – Apesar disso, muitos candidatos engraçados não conseguiram alcançar votos suficientes para se eleger. O que o senhor considera fundamental para aqueles que possuem pouco tempo na televisão por conta de se filiarem a partidas de menor expressão? Ser engraçado nem sempre funciona. Na maioria dos casos, o tempo disponível (falando sobre candidaturas à Câmara Federal e Assembléias Legislativas) é mínimo, não dando margem nem para o chamado non-sense. Mas esta questão possui outros aspectos. A começar pelos votos obtidos por legenda que asseguram o número de cadeiras conquistadas, resultado da votação pelo quociente eleitoral. Este, por sua vez, resulta do número de votos válidos dividido pelo
total das cadeiras em disputa. Sucede então o seguinte: as principais figuras, os principais candidatos, que possuem bases eleitorais quase certas, aceitam pessoas de destaque nas comunidades como candidatos, sabem que não farão votos para ameaçar suas colocações. Não se elegem, mas acrescentam votos para as legendas. Disputando, estão assegurando a vitória dos mais fortes. 4 – O brasileiro tem a característica de ser um povo bem humorado e receptivo. Será que a nossa cultura influencia no surgimento de candidatos com esse perfil? Exemplo disso é a repercussão internacional que alguns políticos tiveram. A cultura e o nível brasileiro de educação ajudam, sim, quanto ao aparecimento de candidatos (e candidatas) que recorrem ao humor. Mas o fenômeno não é só brasileiro. 5 – O senhor acha que esse fenômeno acontece na mesma proporção em outros países? Ocorre em outros países, como vimos nas recentes eleições nos EUA para o Senado, Câmara dos Representantes, governos estaduais. Faz parte do jogo político. Entretanto, sob este aspecto, vale destacar que nos Estados Unidos, França e Reino Unido existe uma vinculação entre o candidato e a legenda do que acontece no Brasil. Tanto assim que trocar de partido em nosso país é algo encarado com naturalidade e com permissão legal. Nas nações culturalmente mais sólidas, pedir voto por uma agremiação, e, depois de eleito, transferir-se para outra, é algo que nem sequer tem cabimento. E porque, no fundo, a política, seja como for, é levada muito mais a sério. Os compromissos assumidos têm de ser cumpridos. Além de respeitados. • Carlos Eduardo Arraes e Daniel Bergman
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A POLÍTICA NO MUNDO VIRTUAL
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s eleições no Rio de Janeiro e em todo Brasil chegaram ao final e os políticos usaram de todas as suas possibilidades para angariar eleitores. Para tal, candidatos abusaram dos veículos de comunicação para atrair o público com propostas e formas alternativas de conquistar o povo de nosso país. Contudo, o tempo na televisão e na rádio se torna muito limitado para muitos políticos, fazendo com que os mesmos necessitem de novos caminhos para apresentar seus projetos. Em um contexto geral, analisando o cenário político nos últimos anos, é inegável dizer que a internet ganhou muita força na busca por votos e na possível influência na cabeça dos eleitores, principalmente àqueles que ainda estão indecisos e em busca de um candidato para votar. É nessa conjuntura que a internet, meio de comunicação mais novo e que vem ganhando força a cada ano, entra no cenário político nacional. Candidatos lançaram sites próprios para divulgar pensamentos e ideologias e usufruem também das redes sociais, construindo perfis oficiais para disseminar suas propostas de governo. Tal medida acaba se tornando muito efetiva, já que é notório que o brasileiro está cada vez mais inserido no mundo virtual. .Já são quase 59 milhões de pessoas em nosso país inseridas nas redes sociais. Candidatos a governo do Rio ‘usam e abusam’ das redes sociais A disputa para o governo no estado do Rio de Janeiro foi acirrada, com uma diferença muito pequena entre os principais candidatos ao posto. Exemplificando o equilíbrio, podemos citar Crivella com 20,26% de votos no primeiro turno e Garotinho com 19,73% de pessoas que votaram nele. Pezão, que se elegeu no segundo turno, foi a exceção: conquistou 40, 57% dos eleitores cariocas no primeiro turno e se destacou na campanha. Para conseguir conquistar o povo esses políticos se inseriram no novo mundo virtual.
Luiz Fernando Pezão, que conseguiu a reeleição com cerca de 56% dos votos, usou frases como: #AMudançaSóComeçou, ou #SouPezão. A internet é um meio tão forte para cada político que, só esses dois candidatos juntos, têm mais de 1 milhão de seguidores na rede social. Propostas são debatidas intensamente nos comentários de cada postagem dos candidatos, onde o povo discute entre si se as providências que estão sendo sugeridas seriam benéficas ou não para a população. É indiscutível que a internet se tornou o principal meio de comunicação entre candidato e público alvo. Outro político que utilizou bastante as redes sociais como forma de promover sua campanha é Crivella. Além de propagar suas ideias, ele também fez uso das famosas ‘hashtags’, como: #Crivella10 e #ORioEmBoasMãos. E esses ‘bordões’ acabam sendo essenciais em suas campanhas, já que seus seguidores nas redes sociais utilizam essas frases como ‘gritos de guerra’ para divulgar as propostas e exibir seu apoio a determinado político. Busca pela presidência começa na internet Não é só com os candidatos a governador que as redes sociais se tornam importante ferramenta para angariar eleitores. Candidatos a presidência da república também fizeram uso de tal artifício para aumentar sua popularidade no país. Vamos nos abster aos três grandes candidatos para essa última eleição: a presidente reeleita Dilma Rousseff, Aécio Neves, que quase conseguiu o posto, e Marina Silva, que ficou pelo caminho no primeiro turno. A dona do mais
EXPEDIENTE Editor de texto - Carlos Eduardo Arraes / Editor de imagem - Letícia Nogueira / Reportagens: Daniel Bergman / Revisão: Guilherme Santos
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comunicação entre Aécio e seus eleitores. Contudo, é possível observar que sua página entrega para os seguidores mais ‘feedbacks’ de perguntas, o que pode ser importante para conquistar a simpatia do público. A maior disparidade de seguidores é a candidata Marina Silva, que surgiu, em algum momento, como grande favorita para ir ao segundo turno com Dilma Rousseff.
No ‘Facebook’, rede social mais importante e popular do Brasil nos dias de hoje, hashtags foram lançadas para disseminar a candidatura desses mesmos políticos. Anthony Garotinho, que liderou a momentaneamente as pesquisas para ser o governador, utilizou bordões virtuais como: #ComAForçaDoPovo, ou #TemQueSerBomPraTodoMundo.
importante cargo político do país, além de popularizar suas ‘hashtags’ na rede social, utilizou de imagens para que o público relembrasse supostas melhorias que a candidata implementou no país nos últimos quatro anos em que esteve à frente do Brasil. Dilma é bastante popular no ‘Facebook’, já que conseguiu o expressivo número de mais de 1 milhão de seguidores na rede social. No ‘Twitter’ a marca é ainda maior: a petista conseguiu expressivos 2 milhões de seguidores. Contudo, um fato aproximou Aécio Neves de um segundo turno e de uma arrancada que quase o trouxe a presidência do país: ele possui cerca de 1 milhão e 400 seguidores no ‘Facebook’; ou seja, quase 200 mil a mais que a atual presidenta. Isso mostrou a força do mineiro na briga por uma vaga na segunda parte da votação. Todavia, no ‘Twitter’, o candidato não chega sequer a marca de 1 milhão de seguidores, número muito abaixo de Dilma. Sua metodologia nas redes sociais não difere dos outros políticos. Propostas e frases de efeito marcam o canal de
Marina tem mais de 2 milhões de seguidores no ‘Facebook’, se tornando o grande fenômeno da rede social. Porém, no ‘Twitter’, possui o pequeno número de mil seguidores. Apesar de cuidar das duas redes com o mesmo afinco, Marina e sua assessoria não conseguem estabilizar os números entre as duas redes sociais. Será que as redes sociais influenciaram nos resultados finais das
eleições? O certo é que essa importante via de comunicação entre candidato e eleitor pôde aproximar os políticos dos seus militantes e eleitores indecisos, tirando muitas dúvidas dos mesmos e conquistando até a simpatia e voto de alguns.
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Guilherme Santos
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