Revista 2014

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2014_

Edição 1 - Dezembro/2014

Aqui Jaz

O ano ainda não terminou mas já deixou muitas vítimas Roberta Pereira

Economia

brasileiro paga muito imposto. Será? Vinícius Corrêa

Política

No Brasil, política é coisa de família Luis Eduardo Moreira

Cultura

O bom e velho cinema de rua carioca está desaparecendo Thaís Urbano

A nova noite do Méier Clícia Couto

Cervejas e cervejas: os bistrôs invadem a cidade Fernanda Anjos

No carnaval, os sambas-enredo têm logomarca Rafael Damico

Cidade

O que está acontecendo com o engenhão?

André Sassara

O que ficou da Jornada Mundial da Juventude

Karine Sued


Um Carnaval com Logomarca

Tijuca venceu carnaval de 2014 com um enredo sobre Ayrton Senna que gerou R$ 8 Milhões para a escola (Foto: Marcelo Sayao/Reuters)

O

Rafael Damico

que você acha de empresas, prefeituras e até países estrangeiros patrocinarem enredos de Escolas de Sambas? Isso é o que chamamos de Enredos Patrocinados. Esta prática gera muitapolêmica entre os profissionais do mundo do samba.Uns são favoráveis ao financiamentodos temas, pois acreditam que assimo espetáculo fica ainda mais grandioso. Mas há também aqueles, que sãoreticentes, por acharem que asescolas perdem a suaessência.

De acordo com o antropólogo Ricardo De-

lezcluze, do Instituto de Artes da Uerj, a profissionalização dos desfiles favorece a entrada das empresas nesse tipo de investimento. “A criação do sambódromo [em 1984] e a transmissão de TV deixaram o desfile mais organizado. Junto com isso, a partir da década de 1990, começou um processo de espetacularização desse evento que foi adotado pelas escolas e pela Liesa. Esses fatores estimularam as empresas a investir”, explica o professor ao portal da PUC.

Notas geram discórdia entre agremiações que receberam verbas distintas, uma com patrocínio e a outra sem (Foto Ricardo Moraes/Reuters e Portal Veja Rio)

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Já trinta anos depois, em 2014, somente três agremiações não tiveram o investimento das empresas no desfile do grupo especial no carnaval carioca: a Portela (7º lugar), a São Clemente (penúltima colocada) e a Império da Tijuca, que acabou sendo rebaixada para o grupo de acesso.

Verba não chega e componentes do abre-alas só receberam cabeça e esplendor da fantasia (Foto Alba Valéria Mendonça G1)

A Escola do Morro da Formiga foi a avenida com o enredo ‘Batuk’, sobre a influencia das batucadas africanas que criaram suas raízes na vida do povo brasileiro, através do samba. A Império foi a Sapucaí com um desfile grandioso com bastante luxo, porém bastante pontuado pelos Jurados, como aconteceu no quesito fantasia onde a escola não recebeu nenhuma nota 10, já a escola Vila Izabel, campeã de 2013, foi a Marques de Sapucaí com fantasias de baixa qualidade e em determinadas alas com adereços faltando em sua fantasias, porém mesmo assim a escola conseguiu de uma determinada jurada a nota máxima do quesito.

A Vila receberia R$ 6,718 milhões oriundos de três empresas por meio da Lei de Incentivo à Cultura, porém a quantia não chegou aos cofres da escala, assim a agremiação não conseguiu fazer o que havia planejado para o seu carnaval. Mesmo com esses problemas a escola do bairro da Tijuca conseguiu manter-se no Grupo Especial. Das nove escolas patrocinadas, as mais beneficiadas foram a Mangueira, a União da Ilha e Unidos da Tijuca. Para desfilar com o enredo“Verde e Rosa apresenta um pouco da história das festas no Brasil”, a escola recebeu cerca de R$ 15 Milhões do governo da Paraíba e do Amazonas, segundo publicou o Jornal Extra. Já a Escola da Ilha para desenvolver o tema “Brincadeiras de povos antigos à história do conceito de criança”,recebeu de uma grande empresa de brinquedos R$ 10 Milhões. A campeã do Carnaval, Unidos da Tijuca, que homenageou o piloto Ayrton Senna e o universo das corridas, faturouem torno de R$ 8 Milhões. Outras escolas receberam um grande apoio financeiro como a Beija Flor, que contou a trajetória do comunicador José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, a Imperatriz Leopoldinense que homenageou o Galinho de Quintino, Zico, também conhecido como Arthur Antunes Coimbra, e a Mocidade, que teve a ajuda do Governo de Pernambuco, por fazer e enredo sobre o Estado, entre outras. 2007

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Com aporte financeiro escola de Caxias consegue fazer os maiores carnavais de sua história (FOTO: Portal Liesa Net) 2007 E 2010 (FOTO RETIRADA DO PORTAL MEMORIAL GRANDE RIO)

2010

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No ano anterior, em 2013, das 12 escolas do Grupo Especial do Rio de Janeiro, oito desfilaram com enredos patrocinados, apenas quatro não receberam dinheiro de patrocínio. As seis primeiras colocadas no Carnaval, cinco receberam o aporte financeiro. Isso sugere que ter à ‘ajuda’ das empresas contribui para a escola se destacar e assim conseguir os títulos. Como aconteceu com o Acadêmico do Grande Rio, que só conseguiu êxito com os enredos patrocinados. Entre 2005 e 2011, a escola do Bairro de Caxias só teve enredos ‘bancados’, e assim conquistou três vice-campeonatos 2006, 2007 e 2010. Os investimen-

tos, no entanto, não foram divulgados pela a escola e pelas empresas. Em 2006, o patrocínio veio da Prefeitura de Manaus (com o enredo: Amazonas, o Eldorado é Aqui), 2007 investimento foi da Prefeitura de Caxias(enredo: Duque de Caxias, o Caminho do Progresso, o Retrato do Brasil) e em 2010 foi a AMBEV que patrocinou a Tricolor de Caxias(enredo: Das arquibancadas ao camarote número 1, um Grande Rio de emoção, na Apoteose do seu coração ). A Escola soube empreender o dinheiro, com isso, quase conseguiu o tão sonhado título.

Parte da alegoria da Porto da Pedra de 2012, quando a escola foi patrocinada por uma indústria de bebidas lácteas e acabou sendo rebaixada (Foto AG NEWS)

Porém para outras escolas o dinheiro não foi benéfico, como aconteceu com a escola Porto da Pedra, em 2012, com o enredo “Da seiva materna ao equilíbrio da vida”, financiado por uma indústria de bebidas lácteas, a Nestle, ondecontou a trajetória do iogurte, e acabou sendo rebaixada para o Grupo de Acesso. Esse foi um claro ‘tiro no pé’, e não se deu bem com a vinda dessa empresa.

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milhões de reais. Segundo o vice-presidente de marketing da Mocidade Independente de Padre Miguel, Wallace Barroso relata que o repasse da Liga para as escolas mal dá para pagar a metade dos gastos:“Falta dinheiro para viabilizar o carnaval”. Márcio André de Souza, diretor de carnaval da União da Ilha do Governador, também é da mesma opinião:

“Hoje colocar o desfile na rua sem patrocínio é com Uma escola que quer disputar o título ou ao plicado. O carnaval é cada vez mais grandioso, e o menos esta nos desfiles das campeãs (classificando custo é elevado. Por isso, mesmo quando não existe até o sexto lugar) deverá desembolsar entre 6 a 10 um enredo teoricamente patrocinado, as escolas buscam o apoio de empresas”.


Imperatriz é a primeira escola a desfilar com o aporte das verbas de patrocínio no carnaval em 1994 e 1995 (FOTO Reprodução TV GLOBO)

No entanto, desde a inauguração do Sambódromo, em 1984, apenas oito vezes o enredo campeão foi patrocinado. A Imperatriz foi a primeira a conseguir essa proeza em 94, com o enredo, “Catarina De Médicis Na Corte Dos Tupinambás e Tabajeres” patrocinada por empresas francesas,e ainda faturou o bicampeonato em 1995 com o enredo “Mais vale um jegue que me carregue que um camelo que me derrube... lá no Ceará”, com patrocínio do estado do Ceará.

Algumas escolas acenam com patrocínios para o carnaval de 2015. A Portela, por exemplo, poderá ter como investidor o Governo do Estado do Rio, já que o seu enredo é alusivo aos 450 anos do Rio de Janeiro. Porém a única que anunciou realmente o patrocínio foi a atual campeã do carnaval, Unidos da Tijuca, que fará o enredo “Um conto marcado no tempo” com o financiamento da marca de relógios swatch.

União da Ilha e Unidos da Tijuca foram as escolas que mais se destacaram no carnaval 2014, devido as verbas de patrocínio. (FOTO: Portal TERRA E Portal O GLOBO)

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Roda de samba, de choro, jazz, capoeira, teatro, performance e gente jovem reunida. Que lugar é este? “Quem é do Méier não bobéier”Foto: Marina Andrade Clícia Couto

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uando fui convidada por uma amiga para participar de uma “roda” de jazz o me causou surpresa foi o do tal evento acontecer no Méier. Não que eu seja uma grande entusiasta do estilo, já que na minha biblioteca musical não possuo grandes coisas do gênero. Porém, minha amiga que é moradora de Ipanema, começou a apontar as novidades que vem acontecendo no bairro. Por essa eu não esperava, mesmo. Para minha surpresa, ela com muito entusiasmo sugeriu que eu curtisse as páginas do facebook “Leão Etíope do Méier”, “Perto do Leão Etíope do Méier” e “Zona Norte e etc”. Logo percebi que quem realmente estava por fora do cenário carioca, era eu. Grande parte dos meus amigos já estava curtindo as páginas e compartilhando os eventos. Vasculhando a página do Leão Etíope, constatei que havia perdido uma porção de eventos que eu nem hesitaria em deixar de ir. Passaram pelo bairro Thiago Elnino, que veio de Volta Redonda e mistura samba, música Jamaicana, afrobeat. O músico se

Roda de Jazz na praça Agripino Grieco considera uma referência nas rodas de rap que acontecem no bairro. Outro evento imperdível foi o show de Os Siderais, que surgiu como bloco de carnaval e posteriormente formou a banda que vem com versões em marcha de carnaval, com instrumentos de sopro, percussão de black music, rock e jazz. Já teve também Beach Conbers, banda com influência no surf music que costuma se apresentar em praças públicas no centro da cidade, atraindo a atenção de quem passa. Tem também Roda de Choro, Geraldo Júnior, entre tantos outros músicos que estão surgindo e conquistando uma geração carioca. O bom é que ao que parece as atividades culturais no bairro não estão perto de terminar. A praça Agripino Grieco, mais conhecida como Praça do Leão, virou point e quase todo fim de semana rola alguma atividade, principalmente revelando novos artistas do Rio de Janeiro. Isto tem chamado à atenção de um público cada vez mais heterogêneo e de outros bairros da cidade. E ainda tem coisa


acontecendo no Imperator. Depois de dois anos de reabertura, dá para encontrar programas diversos, como teatro, música e cinema. Todos os eventos de altíssima qualidade. Com a parceria do “Queremos!”, uma plataforma que possibilita

o fã ajudar por meios de financiamento coletivo (crowndfunding) a trazer bandas internacionais para a cidade, o Imperator trouxe as bandas Nouvelle Vague e Ghost.

Bar Castro

AGUA NA BOCA _ Por essas e outras o bairro aparece cada vez mais em cadernos de entretenimento. Recentemente, foi publicado na versão online do caderno Rio Show no jornal O Globo a matéria “Um Méier pra chamar de seu”, que trata do despertar cultural do bairro e o que já existe de mais boêmio. A matéria cita desde a “Casa do Bacalhau”, que já foi visitado por celebridades como Will Smith, o rapper Kanye West e sua mulher, a modelo Kim Kardashian, até o burburinho dos novos bares. Nesta leva tem a filial do famoso Bar do Adão, que é conhecido pelo chopp servido “no ponto” e pastéis dos mais variados sabores. Para a versão do Méier, o cardápio ganhou oito pastéis exclusivos. Um deles é o Imperator, uma homenagem ao bairro, feito de salmão, cream cheese e cebolinha. O outro lado do bairro também ganhou reforço com a chegada do Bar Castro, que é dos mesmos donos do bar Botero, em Laranjeiras. A atração do cardápio é o bolinho de pato e o harumaki de costela. Aos sábados, o reforço chega com a feijoada e a roda de samba. Com o movimento aumentando, os comerciantes já estão ligados de que é preciso expandir para esta “nova” demanda. E hoje, não

me faltam convites pra “conhecer o barzinho novo que abriu que tem pastel de cordeiro e cervejas metidas a besta”, ou o “cafébar que tem uma carta de sobremesa apenas maravilhosa”. Para mim, não foi preciso mais que uma hora de passeio pela internet, para começar a perceber que existe algo de novo no velho bairro do Méier. Não foi preciso mais que participar de um evento, a convite de uma amiga da zona sul, para perceber que existe uma juventude disposta a utilizar a linha do trem para apreciar o que tem de bom nessa tal praça, nesse tal bairro. Antes dessa revitalização, todos os olhares estavam bem distantes deste “lado de cá”. Agora, não é difícil encontrar meus amigos suburbanos dividindo a cerveja com os amigos da zona sul. A cidade assim se integra. Há poesia neste movimento de diversão. Nós, que somos do lado de cá, começamos a mostrar que também que somos possibilidade. É um movimento que deve encabeçar outros bairros da zona norte, outras praças da zona norte, outras estações de trem daqui. E é com graça que hoje reproduzo o ensinamento que tanto já me disseram “quem é do Méier não bobéier”. E por sorte, agora, eu também não!

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O Engenhão que você não conhece! Por André Tavares

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ue o estádio Olímpico João Havelange é palco de shows e partidas de futebol todo mundo sabe. Mas outras atividades também são realizadas ali, em especial, o projeto Estação do Conhecimento. O programa permite a jovens moradores do entorno inclusão ao esporte. Mesmo interditado e com obras, ele continua funcionando. Saiba mais o que rola além do visível canteiro de obras. Construído para os jogos Pan Americanos de 2007, no então mandado do ex-prefeito César Maia (2004-2008), o estádio teve seu orçamento em 80 milhões. Quando pronto em 2007 a um mês do início dos jogos, o custo total foi de 380 milhões de reais. Em relação a escolha do local para a construção, o bairro foi bem escolhido. Trouxe revitalização a uma área abandonada de estrutura e serviços. Legado?

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Após o término dos jogos Pan Americanos, a Prefeitura resolveu abrir uma licitação com a finalidade de conceder o estádio ao vencedor durante 20 anos. O tão esperado legado dos jogos parecia ter sumido após o evento, o Engenhão se tornaria um grande elefante branco. O Botafogo de Futebol e Regatas venceu a licitação e passou a arcar com os custos e administração, pagando uma taxa não divulgada. Parece inimaginável pensar que após seis anos de vida já começasse a aparecer problemas estruturais numa obra faraónica, vista pelos gastos absurdos. Em março de 2013, a Prefeitura interditou o local para eventos. Pouca gente sabe, mas dentro do terreno existem anexos campos de futebol e estrutura para esportes olímpicos como pista de atletismo.

Quem passa pelo local, se depara com obras de revitalização das calçadas na parte externa. Na parte interna é possível ver grandes guindastes auxiliando numa obra com a finalidade de reforçar a estrutura da cobertura, motivo para a interdição. Atualmente a administração está a cargo da Prefeitura, mas o custo com as obras são de responsabilidade das construtoras. O projeto Um projeto entre o clube Botafogo de Futebol e Regatas junto a mineradora Vale, proporciona aos jovens moradores do entorno do bairro do Engenho de Dentro um complemento aos estudos acadêmicos e a oportunidade de lazer. A parceria surgiu devido a uma antiga dívida do clube alvinegro com a mineradora. Com o objetivo de aproveitar não somente as instalações do futebol, mas também a parte olímpica do estádio. O Engenhão é o único dos aparelhos que ficaram como legado dos jogos Pan Americanos a receber atletas não profissionais para treinamento.

Bruno de Lima- agência o Dia

Oportunidade

O Instituto Vale, padrinho do projeto fez do local uma Estação do Conhecimento. A empresa possui outras estações em diversos locais, como a vila Olímpica em Deodoro. Crianças entre 6 a 18 anos podem participar do projeto. Para participar das atividades, o aluno deve obrigatoriamente estar matriculado em uma escola de rede pública ou particular de ensino. Podem participar tanto meninos como meninas. Além de aproveitar toda estrutura de ponta, os alunos contam com o acompanhamento de psicólogo, assistente social e pedagogo. O projeto ainda fornece uniforme e lanche. Em caso de seleção para competições oficiais, os participantes do projeto ganham inscrição e transporte pago. Apesar de todo o apoio, o projeto não tem objetivo de formar atletas profissionais e sim cidadãos. Segundo a assessoria de imprensa do Instituto Vale: “As estações Vale contribuem para o desenvolvimento humano e econômico das regiões onde atuam. Visamos formar o cidadão,


a gente trabalha para ir além do esporte, trabalhando a cidadania e o respeito ao próximo”. Todos os profissionais envolvidos são qualificados e possuem experiência na área. O processo seletivo para os interessados são realizados através de testes motores e específicos de acordo com cada modalidade, sendo escolhidos aqueles que obtiverem melhor desempenho. Segundo o vice-presidente de comunicação do Botafogo, Thiago Cesário Alvim, o clube também tem outros projetos sociais. Entre eles, uma parceira com o Instituto da Criança na comunidade Santa Marta, em Botafogo. No projeto, são oferecidas aulas de jiu-jitsu as crianças e jovens. Os jogadores da base do clube também contam com uma série de ajudas, como psicólogos e dentista. Além disso, os jovens são levados para fazer atividades culturais e passeios por pontos turísticos da cidade. Importância da iniciativa Entre as atividades realizadas estão: futebol; salto a distância e atletismo, sendo a última a principal. Tanto que a equipe de atletismo é batizada de “Brasil que vale ouro”, pois apresentou atletas com grande potencial. Stephany conta como o projeto foi importante: “Eu era muito tímida, agora estou mais social. Passei a ter mais responsabilidade com os compromissos.” Com treinos diários, de segunda à sexta, ela trocou as tardes livres pelas atividades e está muito feliz em participar do projeto. Numa área tão carente de projetos sociais, é importante ressaltar a importância de proporcionar as crianças e jovens um complemento escolar e incentivar o esporte. Faltando pouco menos de dois anos para as Olímpiadas, este projeto serve de exemplo para outras empresas privadas tomem a iniciativa de realizar programas de inclusão social e esportiva aproveitando as estruturas construídas para os jogos.

Reprodução: site cidade olímpica

2014, o começo de um novo ciclo! O ano de 2014 não foi de atividades e eventos culturais no Estádio Olímpico João Havelange, mas a promessa de dias melhores está por vir. A obra de reforço da cobertura já está acabando. No entorno obras urbanísticas estão a total vapor: novo paisagismo, obras de drenagem, cabeamento subterrâneo, além de uma ciclovia e recuperação de calçadas. O bairro quer fazer bonito nas Olímpiadas de 2016, as ruas do entorno do bairro também estão sendo beneficiadas e placas para facilitar o acesso estão sendo colocadas. O grande legado para a população vai ser a Praça do Trem, no local onde funcionava uma oficina de trens abandonada, obras aceleradas

estão dando forma a esta nova área de lazer. Não é só na parte externa que as coisas estão melhorando. No interior do Engenhão, a prefeitura vai anunciar a vencedora da licitação em dezembro. O vencedor vai ficar responsável pela instalação provisória de 15 mil cadeiras, a troca da pista de atletismo, a implantação de rede de média tensão, um novo sistema de som, infraestrutura para cabeamento de telecomunicações, novas câmeras de segurança, adaptação da rampa externa e uma nova iluminação para a pista estão entre as melhorias para os jogos Olímpicos de 2016. O local sediará as provas de atletismo, e o Brasil tem tudo para dar muita alegria ao povo brasileiro.

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O curioso caso dos cinemas de rua do Rio de Janeiro

Por Thaís Urbano

“Por que ir para tão longe para assistir um filme? No shopping aqui perto tem cinema, ora.” poderia ser respondida simplesmente com a exibição de um filme francês sobre o amor, uma comédia argentina ou um drama iraniano, todos obviamente legendados. A experiência de ir a um cinema de rua nunca poderá ser sentida em um cinema de shopping por diversos motivos: desde a diferença espacial até a ansiedade de o filme encantar. De ser daqueles filmes inesquecíveis e essenciais para a sua vida ou de ser chatíssimo, daqueles que não serão esquecidos pelo mesmo motivo. De simplesmente assistir a algo diferente, fora dos padrões estabelecidos pela grande indústria cinematográfica e ver que sempre há algo além do que nos é “imposto”. A diminuição dos cinemas de rua do Rio de Janeiro pode ser considerada um retrocesso cultural porque estes espaços são muito importantes para a exibição de filmes alternativos durante o ano e na época de um dos maiores festivais de cinema do país, o Festival do Rio. Ao longo dos anos, as salas de rua foram diminuindo principalmente por conta do surgimento das salas de shopping e de todas as vantagens oferecidas por estes centros comerciais. Sendo assim, as salas de rua não conseguiram se manter e foram pouco a pouco dando lugar a igrejas e outros estabelecimentos. Em 2014, a cidade viu o fechamento de um de seus cinemas mais importantes: o Odeon. No Brasil, dados do ANCINE, Agência Nacional do Cinema, mostram que o número de salas em shopping passou de 1.712 em 2009 para 2.343 em 2013, enquanto a quantidade de cinemas de rua nos mesmos anos diminuiu de 398 para 335. O Rio de Janeiro, atualmente, conta com menos de 20 cinemas deste tipo. Muitos deles, como os do Grupo Estação, rede de cinemas que exibe filmes alternativos, encontram muitas dificuldades financeiras para ficar de portas abertas, por terem contraído muitas dívidas ao longo dos últimos anos. Shopping Center: a “cidade” dos sonhos

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As salas de cinema em shopping começaram a ser uma tendência nos anos 80, e atualmente, parecem ser a única opção para a maioria dos cariocas. O sucesso do shopping nas cidades se deu ao fato de que estes centros comerciais representam tudo o que o próprio espaço urbano deveria ser: organizado, limpo, seguro, com opções de lazer para a família e ainda oferecer várias formas para o consumo. Segundo a ABRASCE, Associação Brasileira de Shopping Centers, o estado do Rio de Janeiro conta com 63 shoppings, sendo que a maioria tem os cinemas como a forma mais atrativa de entretenimento. Três grupos são detentores da maioria das salas de cinema, o Cinemark, o UCI e o Kinoplex. O formato multiplex é o casamento perfeito com os shoppings, pois dispõe de 5 a 18 salas em cada ponto e estimula o consumo com os combos de pipoca e refrigerante, além de investir na qualidade digital das imagens e

Banco de dados O Globo

Odeon nos anos 60.

no maior conforto do espectador, tanto nas cadeiras físicas quanto na compra on-line dos ingressos. Desta forma, o cinema se apresenta como a melhor forma de lazer dentro dos shoppings, e para conseguir agradar a toda a massa que o frequenta, a programação sempre conta com os filmes comerciais, geralmente “fáceis” de assistir, cheios de movimento, tecnologia, instantaneidade e superficialidade. Além disso, como os filmes são, na maioria, estrangeiros, cada vez mais aumenta a tendência de exibi-los dublados. O que confirma pesquisa do Instituto Datafolha de 2012, encomendada pelo Sindicato das Empresas Distribuidoras Cinematográficas do Rio de Janeiro, em que 56% dos espectadores responderam que preferem assistir filmes dublados. Os cinemas adaptam seus conteúdos para atender a demanda mercadológica e, portanto, gerar mais lucros. Já a dublagem pode “facilitar” a vida do espectador, porém, o descarte do idioma original significa uma perda da essência do filme e das atuações. É fato que o surgimento das salas de cinemas em shopping enfraqueceu a ida aos cinemas de rua, que passaram a ser vistos como estruturas obsoletas, lugares que exibem “filmes chatos e esquisitos” justamente por não se encaixarem no modelo Hollywoodiano, considerado por muitos como a maneira correta de se fazer cinema. Alguns cariocas nem sabem da existência dos cinemas de rua que ainda sobrevivem, e por isso, não podem nem se dar a chance de assistir filmes diferentes dos exibidos no grande circuito. Ademais, o fato de a maioria das salas estar na Zona Sul (as únicas da Zona Norte são o Ponto Cine, em Guadalupe; CineCarioca Nova Brasília, no Complexo do Alemão e CineCarioca Imperator, no Méier) dificulta o acesso de uma boa parcela da população. A distância desestimula muitas pessoas a ir nesses cinemas, especialmente porque muitas vezes elas acabam demorando mais no trajeto de casa até o cinema do que vendo o filme.


Site Time Out

Sala do Grupo Estação em Botafogo. O amor pela sétima arte Quando tudo parecia perdido o Grupo Estação conseguiu o tão esperado apoio de que precisava para sobreviver. Acaba de ser divulgada a parceria entre o grupo e a NET, serviço de TV a cabo, que pretende não só quitar as dívidas, mas também fazer uma série de melhorias na estrutura e na organização da rede de cinemas. Dentre as novidades, terá a mudança do nome do grupo para Circuito Estação Net de Cinema; modernização dos equipamentos; wifi nos espaços; duas novas salas, uma na Gávea e uma em Botafogo; além de uma nova cara para o site e um aplicativo para smartphone. Ainda não há decisão sobre o futuro do Odeon. O Estação Botafogo, primeira unidade da rede, foi inaugurado em 1985, e desde então oferece filmes diferenciados, isto é, os que não são campeões de audiência, para os cinéfilos declarados e para os em formação que tomaram o gosto pelo cinema por frequentarem o espaço. A partir daí, foram adquiridos outros cinemas, como o Estação Gávea (no shopping da Gávea), o Estação Rio, o Estação Ipanema, o Odeon e o Estação Barra Point (também em um shopping, mas não dos mais “badalados” na Barra), totalizando dezesseis salas. Nos últimos anos, o Grupo Estação encarou uma série de problemas de administração e financeiros com dívidas que chegaram a 31 milhões de reais. Em 2010, em uma tentativa de liquidar dívidas já existentes, as salas foram vendidas para um fundo de investimento, mas o resultado, em vez de positivo, só complicou mais a situação do empreendimento. O fundo não só não quitou as dívidas, como as aumentou. As obras do Estação Gávea e o cancelamento do patrocínio da prefeitura no Festival do Rio de 2007, só serviram para agravar ainda mais a situação. A solução encontrada por Marcelo França Mendes, presidente do grupo, foi pedir uma recuperação judicial, ou Site do Festival do Rio

Festival do Rio, a melhor época do ano para os cinéfilos.

seja, recorrer a uma medida legal que permite uma empresa evitar sua falência, mesmo não estando em condições de pagar suas dívidas. Além disso, houve uma grande mobilização nas redes sociais dos aficionados por cinema arte querendo colaborar para que os cinemas não fechassem. Apesar de ajudas individuais não serem suficientes para a extinção da dívida, a manifestação das pessoas via redes sociais ajudou a mostrar a relevância do espaço. Em agosto deste ano, houve renegociação do déficit. Os credores perdoaram 75% do valor, exigindo somente o pagamento à vista de 25% (8 milhões de reais) em um mês. Festival do Rio: Tudo pode dar certo Os problemas com o Grupo Estação e a desvalorização dos cinemas de rua podem prejudicar um dos maiores festivais de cinema do Brasil, o Festival do Rio. Com o Odeon, fechado desde junho para obras e sem previsão para a reabertura, o Festival do Rio teve de se readaptar e arrumar outra “casa” para abertura, encerramento e eventos com os atores dos filmes participantes, o Cinépolis Lagoon, na Lagoa. Mesmo temporário, o fechamento do Odeon faz com que o nome “Cinelândia” perca todo o sentido, já que todas as salas existentes na região ou viraram outro tipo de estabelecimento ou estão fechadas. Apesar de todas as adversidades e problemas com o Grupo Estação, a décima sexta edição do Festival do Rio transcorreu normalmente de 24 de setembro a 8 de outubro. O evento teve 8,5 milhões de orçamento e o patrocínio da Petrobras, Prefeitura do Rio de Janeiro e Rio 450. O festival teve em sua abertura e encerramento dois filmes brasileiros: “O Sal da Terra”, de Juliano Ribeiro Salgado e Win Wenders e “Trash – A Esperança Vem do Lixo”, de Stephen Daldry. Ambos foram exibidos no Cinépolis Lagoon. Além disso, foram exibidos mais de 300 filmes de mais de 60 países divididos em 22 mostras. Neste ano, a mostra Mundo Gay foi abolida do festival porque a organização do evento julgou ser incoerente a separação dos filmes de temática gay. A intenção da direção do evento foi a de exibir os filmes junto com os outros sem rotulá-los pela orientação sexual. Os filmes que se enquadrariam nesta mostra foram classificados por outros critérios e espalhados nas outras mostras. O público, este ano, também pôde mergulhar na produção do cinema do México e conhecer mais o estilo do país de fazer cinema, retratando o povo mexicano e suas peculiaridades. Cinco filmes foram incluídos no tema “Clássicos Mexicanos” e outros treze no “Foco México”, responsável por mostrar as produções mais recentes do país.

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De Poderosos Chefões, padrinhos e a importância da família

Jogadinha Garotinho-Cabral: no Brasil, política é um negócio de família (Foto: VEJA.com)

Luís Moreira

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o grande clássico do cinema mundial, o Poderoso Chefão, de Francis Coppola, o espectador é apresentado, à moda hollywoodiana, ao mundo da máfia e dos notórios mafiosos italianos. Durante a trilogia, no entanto, é outro tipo de comportamento, para além do crime e da violência, que mais chama a atenção: os sermões de Don Vito Corleone, o “padrinho”, a respeito da importância da família. Pois, no Brasil, esse conceito já parece ter sido assimilado no meio político há um bom tempo, e a coisa tem se tornado ainda mais clara nos últimos tempos. Nessas eleições de 2014, foi notável a recorrência dos mesmos nomes (ou melhor, sobrenomes) de sempre nas disputas aos poderes Executivo e Legislativo. A começar, é claro, pelo ex-governador de Minas Gerais e candidato derrotado do PSDB à Presidência, Aécio Neves. O senador é neto de Tancredo Neves, primeiro presidente civil eleito (ainda que indiretamente) após a ditadura militar, e seu pai, Aécio Cunha, serviu oito mandatos legislativos pelo estado de Minas. Brasil afora, não são poucos os exemplos

de sobrenomes famosos: no Rio de Janeiro, Clarissa Garotinho (PR), Rodrigo Maia (DEM) e Marco Antônio Cabral (PMDB) foram eleitos para a Câmara dos Deputados; no Paraná, Zeca Dirceu (PT) e Requião Filho (PMDB) também conseguiram mandato; em São Paulo, Bruno Covas (PSDB); no Rio Grande do Norte, Walter Alves (PMDB) e Felipe Maia (DEM); no Maranhão, Sarney Filho (PV); no Pará, apesar da derrota de Helder Barbalho (PMDB) na disputa pelo governo do estado, Elcione Barbalho (PMDB) conseguiu se reeleger deputada federal. E essas é só a ponta do iceberg, os nomes mais conhecidos. Para ilustrar melhor, podemos ver o resultado de um levantamento feito após as eleições anteriores, de 2010. Segundo informações do Congresso em Foco, site hospedado no UOL que faz cobertura jornalística do Congresso Nacional, 48% dos deputados federais que exerceram mandato em 2011 (entre titulares, suplentes e licenciados) tinham ou tiveram, em algum momento, algum parente na política (271 de um total de 564). Entre os deputados com menos de 35 anos, esse


percentual chegou aos 80%, ou quatro em cada cinco. Cabe notar que o site define “parentes na política” da seguinte forma: “São filhos, netos, pais, irmãos, sobrinhos, tios, primos, cônjuges ou ex-cônjuges de quem tem ou já teve mandato, exerceu algum cargo de nomeação política ou participou de eleição”. Entre os partidos – e isso, com certeza, não será surpresa alguma –, DEM e PMDB eram os grandes campeões dessa prática. Na Câmara, 31 dos 49 (ou 63%) representantes dos Democratas tinham algum parente na política; no caso do peemedebistas, eram 55 de 84 (ou 65%). É muito zelo pela família. Importante também perceber que, segundo esses números oficiais, a representação dos familiares na Câmara dos Deputados em 2011 triplicou em comparação ao pleito de 2006. Na ocasião, apenas 92 deputados apresentavam elo de parentesco com outros representantes. Ou seja, apesar de esta ser uma prática antiquíssima na história do nosso país, nossos políticos têm se mostrado, atualmente, Fonte: TSE ainda mais apegados aos seus do que em de destaque: a discrepância entre as campanhas outras épocas, reconhecidas notoriamente eleitorais e a forma como os candidatos tentam por apadrinhamentos e grandes oligarquias – (e, normalmente, alcançam) seus respectivos completamente diferente dos tempos atuais, cargos. Ou, de forma mais clara, os gastos de obviamente. campanha. Jorge Picciani (PMDB), por exemplo, um dos mais poderosos chefões da área, foi eleito cinco vezes deputado estadual e seus “Rio, mas é de chorar” gastos aumentam ano a ano. Nessas eleições, Constante em todo o território nacional, ele gastou um milhão e oitocentos mil reais, este modus operandi também encontra jazigo conquistando seu mandato com o apoio de 76 no estado do Rio de Janeiro. Este panorama mil eleitores. Jair Bolsonaro (PP), por outro lado, não é recente, mas, como no restante do país, também foi eleito cinco vezes, em seu caso tem aumentado nos últimos tempos. No atual como deputado federal, mas se mostra mais mandato, 19 dos 46 (ou 41%) deputados que moderado na gastança: na última eleição, foram fizeram parte da Câmara possuem alguma gastos 400 mil reais para a aglutinação de 464 relação de parentesco com outros políticos. mil votos. A família Picciani, que continua No Senado Federal, dois dos quatro que representaram o povo fluminense no último expandindo-se na política fluminense (e quadriênio possuíam alguma conexão familiar nacional), é das que mais gastam com campanha – Francisco Dornelles (PP) e Marcelo Crivella no estado – e a análise das contas deixa bem claro o relacionamento de clã. O primeiro filho de (PRB). A bem da verdade, esta prática é de total Jorge Picciani a entrar para a política, Leonardo, conhecimento do povo carioca. Nos últimos gastou, em sua campanha de reeleição a anos, os cargos públicos em disputa eleitoral deputado federal em 2006, valor um pouco têm sido sistematicamente entregues nas mãos superior a um milhão de reais. Destes, nada de algumas poucas famílias (ou, em alguns menos do que 400 mil chegaram via PAItrocínio casos, “famiglias”), com maior ênfase àquelas (o resto, em grande parte, foi doado pelo próprio já “tradicionais”: os Garotinho, Cabral, Maia, PMDB). Nos últimos dois pleitos, 2010 e 2014, o panorama se repetiu, e desta vez contou ainda Picciani, Bolsonaro, entre outros. Nesse interim, porém, há ainda outro fator com a inclusão do irmão mais novo.

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Rafael Picciani declarou gastos de 1,5 milhão de reais em sua vitoriosa campanha para deputado estadual em 2010, com participação ativa do pai (200 mil) e do irmão mais velho (20 mil). Em 2014, os gastos permaneceram praticamente iguais, em 1,7 milhão, e nenhuma das doações vieram do pai, mas o irmão deu sua “ajudinha de custo” (180 mil). No caso de Leonardo, foram gastos 1,9 milhão de reais em 2010, dos quais 200 mil vieram diretamente do pai e outros 50 mil do irmão. Nesse ano, foram 120 mil do velho e 80 mil do caçula. É notável como a política é um negócio de família... O próprio Jorge Picciani, por sua vez, tentou uma vaga no Senado Federal no ano de 2010, mas acabou derrotado pelo candidato do PRB ao governo do estado nessas eleições, Marcelo Crivella. A discrepância de números desta disputa chega a ser estupefaciente: enquanto o ex-Ministro da Pesca gastou 2,6 milhões de reais para reunir seus três milhões e trezentos mil votos, o derrotado Picciani, que amargou o terceiro lugar (Lindbergh, do PT, foi o mais votado), declarou gastos superiores aos oito milhões de reais, finalizando a votação com pouco mais de três milhões de votos recebidos. E o histórico de gastança na disputa pelo Senado se repetiu nessas eleições. Candidato do DEM à cadeira do Rio na mais alta casa legislativa do país, o ex-prefeito da cidade do Rio de Janeiro César Maia gastou nada

Fonte: TSE

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menos do que seis milhões de reais em sua campanha eleitoral. O resultado, entretanto, não apareceu. Seus um milhão e meio de votos foram insuficientes para derrotar o ex-jogador e deputado federal Romário, que gastou pouco mais de um milhão de reais e recebeu quatro milhões e meio de votos. Ou seja: César Maia gastou quase seis vezes mais para receber apenas um terço dos votos do baixinho. É mais uma prova de que, mesmo na política, dinheiro não é tudo. Mas essa perpetuação do poder não é exclusiva dos Picciani. No pleito deste ano, o horário eleitoral gratuito está abarrotado de parentes e apadrinhados políticos, incluindo até algumas novidades. O novo mas nada novo nome da vez é o filho do ex-governador Sérgio Cabral. Marco Antônio Cabral, que conquistou vaga na Câmara, dá início a terceira “geração Cabral” na política fluminense. Clarissa Garotinho, filha dos ex-governadores Anthony e Rosinha Garotinho, também arranjou sua boquinha em Brasília. Já Rodrigo Maia, filho de César Maia, vai para seu terceiro mandato como deputado federal. No pleito de 2006, Rodrigo obteve a terceira maior votação do estado, amealhando 235 mil votos. Na disputa de 2010, no entanto, ocorreu algo curioso: apesar de ter dobrado os gastos de sua campanha (1,9 milhão contra 980 mil de 2006), ele recebeu apenas cerca de um terço do número de votos (86 mil). No pleito recente, gastos e votação mantiveram suas trajetórias contrárias: apesar de ter aumentado seus gastos para 2,9 milhões de reais, ele recebeu somente 53 mil votos. É apenas um entre muitos casos que apontam contra a “lógica financeira” das eleições, de que gastos maiores produziriam resultados melhores. Por fim, fica evidente que os “clãs familiares” se espalham pelo estado e pelo país, e que esta foi a maneira encontrada por alguns de se perpetuar no poder. Da família de José Camilo Zito, vulgo Rei da Baixada, passando pela influência de Domingos Brazão e cia na ALERJ, os herdeiros do ex-governador Leonel Brizola, até os parentescos familiares de Francisco Dornelles com ex-presidentes, como Tancredo Neves e Getúlio Vargas. A verdade é uma só: a já raríssima renovação política brasileira, quando acontece, atinge apenas os nomes, deixando intocados e impolutos os sobrenomes, que seguem assombrando a vida do eleitor brasileiro.


Vinícius Corrêa goleada de 7 x 1 que a seleção brasileira tomou para a Alemanha na Copa do Mundo de 2014 nem de perto é o maior vexame do país. No campo da carga tributária, o trabalhador só toma frango e não sobra nem a pele para se cobrir da vergonha. O Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT), entidade mantida por empresas privadas, inaugurou em 2005, em parceria com a Associação Comercial de São Paulo (ACSP), o impostômetro: um cálculo do quanto o governo arrecada em impostos, taxas e contribuições, incluindo multas, juros e correções monetárias, com metodologia criada pela própria entidade, muito questionada por diversos especialistas. Do início de 2014 até o momento, o painel do impostômetro informa que foram pagos mais de R$1 trilhão em tributos pelos brasileiros. Para quem desconhece o funcionamento da arrecadação feita pelo Estado, o “placar eletrônico dos impostos” – vamos chamar as-

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sim – foi uma interessante forma de incutir no cidadão a ideia de que realmente pagamos tributos demais, aliando à antiga noção de que o Brasil é o país que mais paga impostos no mundo. Mas o que há por trás desta intenção? Um dos idealizadores do impostômetro é Guilherme Afif Domingos. Para quem não o conhece, ele colaborou com o governo paulista de Maluf, em 1980. Foi candidato à Presidência da República pelo então Partido Liberal (PL) com ideais pseudoliberais nas eleições de 1989. Em 2013, foi nomeado ministro-chefe da Secretaria da Micro e Pequena Empresa (SPME) por Dilma, mas nunca abandonou sua ideologia do Estado mínimo e de combate às altas taxas tributárias do Brasil. Afif é, acima de tudo, um empresário. O ministro levanta a bandeira de que as empresas vivem em um ambiente extremamente hostil no Brasil, seja na tributação, seja na burocracia. No mesmo ano em que criou o impostô-

metro, Afif encabeçou a campanha De Olho no Imposto e combateu ferozmente a Medida Provisória (MP) 232, ato legislativo que tinha por ação elevar os tributos sobre empresas prestadoras de serviço, agricultores e transportadores. E para defender os interesses da sua categoria, ele e sua bancada derrubaram a MP. O impostômetro não explica detalhadamente a importância de cada imposto para a arrecadação do Estado nem propõe uma alternativa para resolver esta questão. Devemos, portanto, ficar de olho no impostômetro. A avaliação do impostômetro é correta? Seria muito complicado enumerar cada uma das tributações existentes no país, pois são várias e para as mais diversas situações. Não só eu teria que citar cada uma, mas explicar o que são, como também a diferença, por exemplo, entre a Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira

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(CPMF) e a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (Cofins), entre outros. O caminho mais sensato para descobrirmos se pagamos tantos impostos assim é compararmos com o quanto outras nações arrecadam e como revertem para a população esta receita. Vamos ver?

sede na Holanda, e que realiza anualmente um índice das taxas de tributos, a alíquota referente aos impostos empresariais no Brasil no ano de 2014 é de 25%. Interessante é a situação da maior economia do mundo, os Estados Unidos, que é, também, a que mais cobra taxas do setor privado. De acordo com a KPMG, Se compararmos os dados empresa privada de auditoria, im- da KPMG sobre as taxas corporatipostos e consultoria de gestão com vas entre os países da América La-

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tina, veremos também que o Brasil se sai bem. Um dos mais bem avaliados é o Chile, com 20%. Com menor alíquota das Américas, o Paraguai apresenta taxa de 10%. Por esta questão, o país despontou com sua economia, atraindo empresas nacionais e multinacionais. Por outro lado, não conseguiu reduzir a pobreza. Destes países, apenas três estão a frente do Brasil no ranking de crescimento do


o consumidor, embutindo no valor final do produto/serviço as taxas que ele tem de pagar. Ou seja, quando você vai a um supermercado comprar arroz, naquele preço da etiqueta estão inclusas as cargas tributárias que o empresário tem de recolher. Já nos Estados Unidos, esse valor não está embutido na etiqueta, ele é acrescentado depois, possibilitando ao cliente saber o que e quanto ele pagará de imposto sobre um determinado produto. Ou seja, o problema real é outro. Começando a entender o problema

Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil no segundo trimestre de 2014, elaborado pela Austin Rating, agência classificadora de risco de origem brasileira: Chile (0,6%), Peru (0,4%) e México (4,2%). Isso significa dizer que, entre todos estes países, a condição tributária do empresário que atua no Brasil não é tão má como se afirma. Com outra metodologia, a Tax Foundation, organização independente sediada em Washington, Estados Unidos, formada por consultores especialistas que prestam serviços profissionais em auditoria, tributos e consultoria, o Brasil aparece com uma taxa de 34% sobre o empresariado, inferior a de países considerados com maior liberdade econômica. No mesmo estudo, das 20 nações com menor tributação corporativa, nenhuma possui uma forte economia. Começamos a perceber com estes dados que o problema brasileiro não é a alta carga tributária sobre as empresas. E ainda que haja uma tributação, vale ressaltar que o empresário brasileiro repassa este custo para

Em relatório publicado pela PricewaterhouseCoopers (PWC) em 2014, o problema encontrado na América do Sul, in-

clusive no Brasil, é tempo e trabalho gastos para cumprir com os procedimentos do fisco: cerca de 2.600 horas ou mais por ano, em 2012. Ou seja, a complicação acaba sendo burocrática, enquanto a reclamação tributária não possui qualquer fundamento. Percebemos então que, para o dono de uma empresa no Brasil, o grande problema não é pagar por impostos, mas a dificuldade que ele possui para realizar a atividade, com diversos empecilhos gerados pelo governo. Aliado a isto está a forma de recolhimento deste imposto. Vamos supor que, além do arroz, você tenha comprado um computador em outra loja. Em vez de pagar à vista, selecionou o pagamento a prazo, em dez vezes. O comércio que lhe vendeu o produto tem um

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curto tempo para efetuar o recolhimento dos tributos, geralmente bem curto. Porém, o recebimento pelo o que ele vendeu não será de imediato. Em algumas situações há inadimplência, o que dificulta ainda mais a situação. Com todos esses entraves, o comerciante se vê obrigado a elevar ainda mais o preço do bem a ser vendido, para garantir-lhe compensar os prejuízos que possa vir a ter com o recolhimento dos impostos. Esses são alguns aspectos do chamado “Custo Brasil”, nome dado a uma série de entraves ao desenvolvimento do mercado brasileiro. E quem sofre mesmo com a tributação, é o trabalhador:

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Nos Estados Unidos, cuja taxa total é de 46,3%, a tributação do trabalhador é de apenas 9,9%. Porém, a taxação dos lucros é de 27,9%, mais que em nosso país, que é de 24,9%. Dados esses da PWC. Assim começamos aos poucos a desvendar a lenda do país que cobra os mais altos impostos do mundo, sobretudo, contra o empresariado, principalmente as grandes empresas, que conseguem maiores condições de competitividade em relação ao médio, pequeno e microempresário.

tributária brasileira, medida em 2012 pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), era de 35,85%, abaixo de países como Dinamarca, França, Itália, Suécia, Finlândia, Áustria, Noruega, Holanda, Alemanha, entre outros, ficando em 15º lugar. Mas interessantes mesmo são os dados da instituição pseudoliberal Heritage Foundation. Mesmo sendo uma organização que supostamente prega a ideologia do Estado mínimo e da redução da cobrança dos impostos, Mas então, quem paga? em seu relatório de 2014 aponta o Brasil com taxa tributária de 34%, Se o brasileiro paga caro em tribu- ficando abaixo da França (34,3%) tos, que brasileiro é esse? A carga e dos Estados Unidos (35%), este último geralmente citado como livre economicamente pela mesma entidade. Por conta disso, é preciso fazer algumas considerações. A debilitada divisão do total de tributos arrecadado com o PIB é simplista e não


explica de fato o funcionamento da carga tributária líquida. Ainda de acordo com os dados da OCDE, a carga tributária bruta que era de 35,85% em 2012, passa a ter carga tributária líquida de 19,82%. E mais uma vez percebemos que o Brasil não é o país dos impostos. Mas do que a elite brasileira reclama tanto? Duas pesquisas mostram que não há o menor motivo para as classes mais abastadas criticarem a cobrança de impostos: conforme o levantamento feito pela PWC, em relação aos ricos, o Brasil cobra menos do que a maioria dos países que compõem o G20. Dentre os países que mais favorecem os milionários, estamos atrás apenas da Arábia Saudita e da Rússia. O brasileiro que possui uma renda muito mais do que em países de- da líquida é de 73,3%. Já uma renmensal de cerca de R$50 mil não senvolvidos. Para quem tem uma da mensal de R$23 mil por mês, a paga tanto imposto de renda, pois renda mensal de R$83 mil, a ren- renda líquida é de 75,5%. sobra a ele 73,9% do que é retido,

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As maiores alíquotas se encontram na Europa, onde a taxação dos mais ricos é maior, justamente onde há maior política social. Ou seja, no Brasil, os ricos são taxados da mesma forma que os pobres trabalhadores, o que significa dizer que o empregado de menor renda ganha pouco e ainda lhe resta menos dinheiro para comprar as necessidades mais básicas. Portanto, ao comprar um arroz ou um computador, o pobre sofrerá muito mais peso no bolso, pois o que lhe sobrará da renda será muito inferior àqueles com maior rendimento, comprometendo muito mais dos seus ganhos. Se a crescente política de programas sociais vem desagradando esta elite, o único motivo para tal desprezo é o fato de que tais promoções permitem maior renda para os miseráveis, retiradas de uma mínima retenção dos impostos cobrados dos próprios pobres. O que temos na verdade é uma devolução para o trabalhador de parte daquilo que ele já paga, e ainda não é muito. Outra crítica da elite é o quanto a elevada taxa que supostamente prejudica a produção no país. E como explicar a boa situação do país após a crise de 2008 nos Estados Unidos, que até hoje afeta os países europeus que sofrem com a baixa no PIB? Para isso basta fazermos a seguinte análise: se a tributação é tão alta como reclama o setor empresarial, como pode o Brasil registrar índices positivos de produção? Somos o maior exportador de soja no mundo. Somos o maior produtor mundial de etanol e um dos maiores em biodiesel. E mesmo que o crescimento não tenha sido tão animador, o Brasil é a sétima economia do planeta, a frente de países como Irlanda (48º), Chile (43º), Finlândia (42º), Hong Kong (39º), Cingapura (38º),

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Dinamarca (33º), Taiwan (25º), Suécia (21º), Suíça (20º), Austrália (12º) e Canadá (11º), considerados como Estados de livre economia pelos conservadores da Heritage Foundation. Enquanto houver desigualdade, menos retorno para a sociedade O grande entrave na luta pela igualdade no país é a concentração de renda. Como pudemos ver, o grande colaborador para este fator é a baixa tributação aos mais

ricos e uma maior carga tributária ao trabalhador em relação a sua renda. As desigualdades na taxação são ainda maiores se analisarmos por gênero e etnia. De acordo com o estudo As implicações do sistema tributário brasileiro nas desigualdades de renda, divulgado recentemente pelo Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc) e pela confederação internacional não-governamental Oxford Committee for Famine Relief (Oxfam – Comitê de Oxford de Combate à Fome, em português), a tributação


no Brasil sobrecarrega o assalariado, indireta e cumulativamente, já que mais da metade da arrecadação provém de taxas que recaem sobre bens e serviços. Os dados apontam para o fato de que a classe trabalhadora e os mais pobres são responsáveis por 71,38% da contribuição do fisco. Mais profunda ainda é a análise da diferença da tributação em relação às mulheres e aos negros. Como a renda dessas classes ainda é inferior à renda do homem branco, a mulher negra pobre sente maior peso tributário no consumo dos produtos que compõem a cesta básica. Os resultados da pesquisa confirmam o que foi discutido aqui: enquanto parte dos países desenvolvidos tem maior taxação sobre o patrimônio e a renda dos mais ricos, o Brasil acentua a desigualdade social cobrando mais impostos dos assalariados, principalmente das trabalhadoras negras. A regressão tributária no Brasil é fruto do processo político por qual o país passou, desde o Golpe Militar que culminou em uma ditadura voltada para beneficiar a exploração de empresas estrangeiras, passando pela (figurativa) reabertura política e atravessando os governos Collor e Fernando Henrique, que também contribuíram para a estratégia neoliberal das grandes nações, reduzindo a carga tributária corporativa e taxando cada vez mais o pobre trabalhador, ao contrário das políticas preconizadas pelos governos de cunho socialdemocrata ou liberal social, ainda que dentro de uma lógica capitalista. O Brasil de hoje ainda enfrenta este entrave que dificulta na redução da desigualdade. O projeto de Reforma Tributária deve se voltar para uma maior arrecadação dos ricos e um alívio na taxação da renda dos pobres. Boa parte do que se tem arrecadado retorna para o setor privado como créditos de financiamento por meio do Ban-

co Nacional do Desenvolvimento (BNDES), enquanto o retorno em políticas sociais ainda é pequeno, por mais que o Brasil tenha avançado em programas de benefícios à população de baixa renda. Transferir os serviços essencialmente públicos para o setor privado é gastar mais O mínimo que o cidadão deveria fazer era suspeitar de políticas que desejam reduzir a carga tributária no Brasil. Vejamos, se a taxa é reduzida, isso implica em menor investimento em infraestrutura. Se o trabalhador é o que mais paga impostos e menos tem acesso ao bem-estar social, com a redução das alíquotas, o trabalhador pagará ainda mais quando tiver que tirar do próprio bolso para pagar pelos serviços essenciais que deveriam ser públicos, mas ficariam a cargo do setor privado. Não basta para os ricaços criticar a pequena taxa de impostos que pagam e ainda terem uma grande concentração de renda. A insaciabilidade dessa classe vai além. Para poder medir o tamanho da ganância da elite brasileira, o Sindicato Nacional dos Procuradores da Fazenda Nacional (Sinprofaz) criou, em 2009, o placar das sonegações, o sonegômetro – um contrapeso ao importômetro. O projeto, intitulado Quanto Custa o Brasil?, já calculou até hoje mais de R$420 bilhões de tributos sonegados. Isto reduz o quanto o governo necessita arrecadar para pagar as dívidas e as despesas e também investir no país. No final das contas, do que deveria ser arrecadado, somente 70% são recolhidos, a maior parte paga da renda do trabalhador. O que falta neste país é, portanto, uma carga tributária equitativa, de forma proporcional à renda, e uma fiscalização, tanto so-

bre a arrecadação como para onde este dinheiro vai. Assim a Saúde, a Educação e a Mobilidade Urbana funcionariam para todos. Há hospitais que possuem equipamentos e funcionam muito bem, enquanto que por outro lado, há tantos que sequer possuem maca. Como isso é possível? Administração corrupta ou ineficiente. Será então nossa bandeira lutarmos por impostos mais baixos ou por uma equidade da arrecadação e fiscalização do destino do dinheiro público? Ao menos possuímos um sistema universal de saúde que, por mais que seja precário em muitas regiões, em outras funciona adequadamente. Enquanto nos Estados Unidos, o cidadão não tem acesso a este tipo de serviço, sendo obrigado a pagar por um plano privado se quiser ser atendido. O interesse da elite e da política neoliberal estrangeira é justamente sucatear os serviços públicos para que fiquemos refém do setor privado, como vem ocorrendo com a crescente procura pelos serviços das operadoras de planos de saúde, que funcionam tão precariamente como muitos serviços de saúde pública. Se quisermos ter um padrão de bem-estar ao nível europeu não será exigindo menos impostos que chegaremos a este patamar. O primeiro passo é invertermos a ordem da taxação, em que os ricos pagam mais impostos, como é feito lá. O segundo passo é fiscalizar o destino do dinheiro público quando ele sai da União e vai para os governos e prefeituras, exigindo que sejam gastos em melhores serviços para a sociedade e comprovando no que os recursos foram usados. Somente assim teremos a condição de melhorar este país e tentar subir no pódio da equidade da distribuição de renda e do fornecimento de serviços públicos de qualidade.

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O aumento de Bistrôs no Rio de Janeiro

Fernanda Anjos

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istrô é uma palavra originalmente francesa, país onde essa cultura iniciou. Hoje, a França, conta com uma cartela infinita de locais nesse estilo. Bistrôs são pequenos restaurantes e bares, charmosos e aconchegantes, com o mais variado cardápio de comidas e bebidas, principalmente as alcoólicas, como cervejas especiais e vinhos, cafés e drinks. No Brasil, principalmente nos grandes centros, como o Rio de Janeiro, essa cultura que até pouco tempo era mais conservada, está ganhando um desataque cada vez maior. De acordo com a Associação Brasileira de Bares, o aumento

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desses estabelecimentos chegou a 26% em relação aos outros anos, principalmente por causa da Copa do Mundo de 2014. E, hoje, no Rio é possível encontrar grande variedade de Bares e Bistrôs, onde é possível se alimentar e beber sofisticadamente. Esse aumento foi tão significativo, que o governo fluminense lançou no dia 18 de Novembro a Rota Turística e Cervejeira do Rio de Janeiro. A Rota é iniciada nas cervejarias da região serrana, com o objetivo de salientar a qualidade de produtos e equipamentos que o Rio de Janeiro oferece. Conheça alguns exemplos de Bares e Bistrôs Cariocas:


Bistrô Estação R&R: É o primeiro Bistrô de cervejas artesanais, importadas e nacionais do Complexo do Alemão, criado em novembro de 2012, e já consta no cardápio sua própria cerveja artesanal que é rotulada com o nome da comunidade carioca. O casal, Gabriela Romualdo e Marcelo Ramos, que sempre se interessaram em cervejas, tiveram a idéia de abrir um espaço diferenciado na garagem do pai de Gabriela, vendendo apenas 20 rótulos de cervejas especiais. Hoje, o Bistrô, conta com uma arrumação chique e rústica e, vende cerca de 150 rótulos de cervejas, que variam entre R$5,00 a R$250,00. Esse Bistrô aconchegante fica na Travessa Jalisco, 32 – Inhaúma. O horário de funcionamento é: as quartas e quintas-feiras das 18:00h às 00:00h e as sextas e sábados das 18:00h às 02:00h. Adega do Pimenta: A tradicional casa alemã de Santa Teresa, também tem endereço na Praça Tiradentes, é um casarão no maior estilo século XVI, com paredes em pedras e uma mezanino incrível. A cozinha e o serviço, depois de décadas de experiência, funcionam muito bem e, as sextas-feiras são servidas uma feijoada alemã, à base de feijão branco e carnes, sucesso pelas mesas. A Adega do Pimenta, é reconhecida por seu chope bicolor, que são dois estilos de chope em um só. O escuro, mais denso, fica no fundo e não se mistura ao claro. Além de vender mais de 200 rótulos de cervejas artesanais, nacionais e importadas. Com preços que variam de R$7,00 a R$300,00. A tradição alemã pode ser conferida em Santa Teresa na Rua Almirante Alexandrino, 296 e Praça Tiradentes, 6 - Centro. O horário de funcionamento é de segunda a sábado de 12:00h ás 22:00h. Domingos e feriados de 12:00h às 18:00h. Delirium Café: O Delirium Café é a sexta franquia da famosa filial Delirium Café Bélgica, a primeira da América dos Sul. O delirium é temático e sua decoração é toda de elefantinhos, cartazes de cervejas e suas bandejas. Com uma carta de mais de 300 rótulos de cervejas, o bistrô é ponto de encontro dos apreciadores das melhores cervejas do mundo, que pode, também, ser apreciadas com petisco como o croquete de St. Paulin, os pratos com mexilhão, creme de queijo feito com Hoegaarden e outros. O Delirium Café fica na Rua Barão da Torres, 183 – Ipanema. Aberto diariamente das 17:00h ás 03:00h.

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A grandeza

“A grandeza de uma nação pode ser julgada pelo modo que seus animais são tratados.” Mahatma Gandhi. Diariamente, muitos animais são retirados das ruas por pessoas se dedicam em tempo integral para cuidarem da proteção deles. Embora ainda existam muitos outros a espera de anjos como Denise de Moura, de 31 anos, moradora de Mesquita, que adotou, através do projeto “Melhor Amigo do Homem”, da Prefeitura de Mesquita, uma cadelinha de dois anos que não possui a pata dianteira direita. Para a mesquitense, adotar a cadela Pipoca foi a saída encontrada para preencher o vazio da perda de sua outra cachorrinha. Segundo ela, há três meses ela estava procurando em sites de adoção um cão, quando encontrou a foto de Pipoca em uma rede social. “Eu estava muito mal por ter perdido por ter perdido minha cachorrinha, que morreu de câncer. Quando me recuperei da perda, resolvi adotar outro cão. Procurando em diversos sites, encontrei uma foto da Pi-

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poca no Facebook e me apaixonei. Foi amor à primeira vista. Fiquei muito preocupada com a adaptação dela em casa, porque eu nunca adotei nenhum animal crescido antes. Mas com a Pipoca eu não tive problemas, só solução. Ela é um doce”, desabafa Denise. Segundo Denise, sua rotina mudou drasticamente com a chegada de Pipoca. Como a cadela perdeu recentemente a pata dianteira direita, seu processo de adequação a nova casa foi demorado. Por causa de suas limitações, ela encontrava dificuldades em acessar determinados cômodos. Por isso, a família fez algumas adaptações na casa para facilitar a mobilidade de Pipoca. “Tivemos que tirar todos os tapetes da casa e mudar alguns móveis de posição, porque ela é muito estabanada. Mas, por sorte, Pipoca é muito esperta e independente. Superou com muita rapidez sua deficiência. O problema é andar com ela na rua, porque os ignorantes não enten-

dem que ela é normal. Eu vivo distribuindo foras por causa disso.” Ainda segundo ela, seus dois gatos, Leon, resgatado em outubro de 2013, e Frajola, encontrado em março desse ano, foram retirados das ruas em situações de extremo abandono. Ela comenta que Leon estava bem debilitado por algum tipo de agressão sofrida. Sua cauda quebrada e o nariz sangrando. Como estava chovendo, o animal estava encolhido embaixo de uma marquise sem qualquer proteção. “Eu estava voltando do trabalho e chovia demais. Quando desci do ônibus me deparei com aquela situação, ele ensopado e todo machucado. Enrolei um saco plástico nele e o enfiei em meu casaco. Ele me deu muito trabalho, porque estava muito machucado e infestado de parasitas. E sua calda tinha sido quebrada recentemente. Mas hoje ele é outro. Tem a personalidade muito forte e não topa muita a Pipoca e o Frajola, mas eu não vivo sem ele.”


da adoção Amor animal Atualmente, algumas pessoas abrem mão de suas carreiras para seguirem um sonho. Como o caso da protetora independente, Raquel Figueira, de 22 anos, que largou seu curso de técnica em química para arriscar tudo em sua carreira de fotógrafa. E dessa forma, ela pode garantir tempo para seu sonho de proteger animais abandonados. “Quando deixei para trás seis anos de curso, fui muito criticada por parentes e amigos. Hoje eu posso ver o quanto sou feliz por estar fazendo o que eu realmente sei fazer.” De acordo com Raquel, após seu primeiro resgate, mais de 200 animais foram recolhidos, castrados e doados através de divulgações e redes sociais. “Eu comecei quando achei um gatinho abandonado, foi meu primeiro resgate. Ele estava sendo maltratado por pessoas e tinha pânico de gente. Acabei ficando com mais um, depois me uni a uma amiga protetora e sempre quando algum animalzinho precisava, nós resgatávamos. E a partir daí, levamos na clinica, castramos e encaminhamos para a adoção”, explica a protetora. Segundo a fotógrafa, sua meta agora é arrecadar fundos para ajudar a idosa, Maria Cristina, de 50 anos, moradora da Palhada, em Nova Iguaçu, que divide o pão que come com seus oito cães. A mulher foi abandonada por seu marido, que levou tudo que tinha, após descobrir que ele tinha relacionamentos extra-conjugais. “Ele a abandonou e levou tudo, ela tem que sustentar, sozinha, oito cães e divide arroz e feijão com eles. É o que eles comem todo dia. O cachorro que ela resgatou tem que fazer quimioterapia sempre e quem está bancando sozinha é a Acácia. Nosso coração se partiu quando vimos a veterinária doando um pouco de ração

e o cachorro comendo desesperadamente. É de partir o coração. Ela está em total depressão, mas mesmo assim topa qualquer faxina. Ela é tão humilde que me pediu só R$ 2 para comprar pão para os cachorros.” Projeto:

Melhor Amigo do Homem

O Rio de Janeiro mantém, atualmente, cerca de 40 projetos que visam resgatar das ruas esses animais. Infelizmente, a maior carência desses projetos é a falta de patrocínio das prefeituras e instituições privadas. Assim como a prefeitura de Mesquita, A prefeitura do Rio, Rio

das Ostras, Cabo Frio, Queimados e Campos foram as cidades cariocas a darem o primeiro passo. O projeto visa diminuir o número de cães e gatos que circulam pelas ruas da cidade, e, assim, evitar que acidentes envolvendo animais e veículos ocorram. De acordo com a proposta do trabalho exercido pelos protetores, na primeira fase, somente os cães de rua serão tratados. Após concluírem a tarefa nas ruas, animais de cuidadores também vão ser atendidos pelo projeto. De acordo com a tabela feita pal Associação de Animais de Rua, de janeiro de 2013 até agora, cerca de 435 animais foram retirados das ruas, porém, 266 ainda aguardam a oportunidade de terem um lar.

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O legado da JM Economista e padre falam, um ano depois, dos benefícios que a Jornada Mundial da Juventude trouxe ao Rio

Após pouco mais de um ano da passagem da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) pelo Brasil, até hoje os jovens continuam praticando ativamente sua fé. Além de impactos positivos na religião, a JMJ também injetou cerca de R$ 1,8 bilhão na economia carioca. De acordo com o Ministério do Turismo, o evento foi o que mais atraiu turistas na história do Brasil. Idealizada pelo Papa emérito João Paulo II, a primeira JMJ aconteceu em 1986, na cidade de Roma. O evento ocorre em intervalos de dois ou três anos e tem duração de aproximadamente uma semana. O objetivo é alcançar a nova geração de católicos e propagar os ensinamentos da Igreja.

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MJ 1 ano depois

A JMJ do Brasil foi anunciada em 2011, quando ocorria em Madri. Desde então, a cidade do Rio de Janeiro começou a se preparar para receber o evento. Segundo o Comitê Organizador Local (COL), o público presente chegou a 3,7 milhões de pessoas, vindos de 175 países. O custo total estimado foi de R$ 118 milhões, pagos pelo próprio comitê. Professor da FACHA e economista, Eduardo Amazonas falou do impacto do evento na economia. “A Jornada poderia ter rendido mais para a economia do Rio, pois a maioria dos turistas do evento eram jovens e ficaram hospedados em paróquias, igre-

jas e casas de voluntários. Foi bem pouco o número que se hospedou em hotéis”. Perguntado sobre quais os benefícios da Jornada ter acontecido no Rio, ele respondeu: “O bom de um evento com esse porte ter acontecido aqui, é que ele pode ser mostrado ao mundo inteiro, e isso faz com que turistas queiram vir à cidade.” De acordo com o COL, 93% dos participantes da JMJ pretendem retornar à cidade. No âmbito religioso, o Padre e participante do COL, Eliezer, da Paróquia Nossa Senhora da Guia, no bairro do Lins, disse: “Até hoje temos bons frutos da Jornada. Muitas pessoas fo-

ram convertidas no período de realização dela. Lembro-me de quando estávamos passando em procissão pela Lapa. Era uma sexta-feira e lá estava lotado. As pessoas que estavam bebendo nos locais demonstraram diversas manifestações. Muitos aplaudiam, outros olhavam de maneira curiosa e poucos, visivelmente, se mostravam incomodados.”. Perguntado se o número de jovens havia aumentado na igreja, após mais de um ano do evento, ele respondeu: “É difícil fazer esse balanço e afirmar que tenha aumentado. Mas o que posso dizer é que muitas pessoas que estavam afastadas, voltaram”.

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2014... Deixa eu

Roberta Pereira em só de futebol viveu 2014, se a derrota para Alemanha foi sofrida, quem dirá pras famílias de nomes bem conhecidos que perderam seus entes queridos. Não dá para levar a sério o ano de 2014, que ninguém espera a morte todo mundo sabe, e sabe também que um dia ela vem, mas e a Mãe Dináh? Conhecida por ser médium, será que conseguiu prever a própria morte? O ano está repleto de perdas e algumas ganham um maior destaque como no caso do ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos, que em plena campanha para a presidência da república, o cara dá adeus. É de se estranhar e muito, mas vai saber, aviões caem o tempo

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todo né? E falando em cair, quem aqui não já caiu de rir de alguém com uma roupa engraçada? Pois é, não era só você que ria e fazia piadas, Joan Rivers, apresentava o programa “Fashion Police” no canal E! Enterteniment e não perdoava ninguém que estivesse fora dos padrões da moda. Seguindo por este caminho, o mundo da moda acordou mais triste em Outubro, quando o estilista Oscar De La Renta, também deixou o ano de 2014. O fato é que 2014 foi levando feito tsunami nomes conhecidos do cinema, televisão, literatura, comunicação e como o Brasil é o pais do futebol, também levou jogadores.

1º Eduardo Campos: 10 de agosto de 1965 — 13 de agosto de 2014 2º Ariano Suassuna: 16 de junho de 1927 - 23 de julho de 2014 3º Gabriel Garcia Marquez: 6 de março de 1927 — 17 de abril de 2014 4º João Ubaldo Ribeiro: 23 de janeiro de 1941 — 18 de julho de 2014 5º Robim Williams: 21 de julho de 1951 — 11 de agosto de 2014 6º Philip Seymour Hoffman: 23 de julho de 1967 — 2 de fevereiro de 2014 7º Oscar De La Renta: 22 de Julho de 1932 - 21 de outubro de 2014 8º José Wilker: 20 de agosto de 19443 2 — 5 de abril de 2014 9º Luciano do Valle: 4 de julho de 1947 — 19 de abril de 2014 10º Washington (Ex-jogador do Fluminense): 3 de janeiro de 1960 - 25 de maio de 2014


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