O passo-a-passo das pesquisas eleitorais Gabriel Cardoso
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ocê sabe como funcionam as pesquisas de intenções de voto? Quais são as perguntas feitas nessas pesquisas e quais os critérios utilizados para selecionar quem deve ser entrevistado? Aliás, você conhece alguém que já tenha participado dessas pesquisas? Pois é, essa reportagem vai te ajudar a entender um pouco mais sobre esse sistema que tenta descobrir em quem você vota. Entretanto, antes de chegarmos à cereja do bolo, é preciso entender como funcionam as pesquisas de um modo geral, pois elas vão mui-
to além da “boca de urna” e não se restringem às eleições. Para que serve uma pesquisa? As pesquisas servem para fazer um levantamento dos interesses de um determinado grupo e muitas vezes é através delas que podemos desenvolver soluções de ordem prática do cotidiano. De acordo com o IBOPE, entrevistas são realizadas “para compor os painéis de audiência de TV, responder às pesquisas de consumo dos meios e fomentar outros estudos¹”. As informações coletadas são confidenciais e utilizadas apenas em análises coletivas, ou seja, de interesse
geral. Se uma pesquisa identifica que 88% (número arbitrário) das noveleiras de plantão estão insatisfeitas com o desempenho de uma atriz na novela das oito, é bem provável que a Globo diminua o tempo de participação dessa atriz na trama. Da mesma forma que se uma pesquisa identifica que 70% (novamente um número arbitrário) dos moradores do município de São Gonçalo, RJ, estão insatisfeitos com a qualidade do transporte público, é bem provável – ou pelo menos deveria ser – que a prefeitura tome medidas para contornar as dificuldades de mobilidade do município. Simples, em tese. Estes são só alguns exemplos,
porém mostram que as pesquisas estão por toda parte, espalhadas em diversos segmentos. No entanto, para que essas pesquisas tenham um nível considerável de confiabilidade, é preciso que o número de entrevistados seja expressivo. Ou seja, não se pode entrevistar cinco pessoas e afirmar categoricamente que esse número representa a população. Imagina o desespero da noveleira ao saber que sua personagem favorita foi cortada da novela porque três pessoas foram entrevistadas e duas delas disseram que não gostavam da atuação da moça. Problema dos grandes. Para que essas pesquisas tenham um nível considerável de confiabilidade, é preciso também que essa parcela de entrevistados seja equivalente ao todo. Segundo o Datafolha, essa parcela chamada de “amostra” de entrevistados precisa ter a mesma proporção de homens e mulheres e de jovens e idosos que a população, por exemplo, do município de São Gonçalo tem. O mesmo critério vale para outras características demográficas: se, por exemplo, um determinado local for predominantemente agrícola, a amostra daquela região terá mais empregados da agricultura do que da indústria ou de serviços. Se em outro local o perfil da população é de escolaridade mais baixa, a amostra terá mais entrevistados nessa faixa de escolaridade. E assim sucessivamente. As pesquisas de intenção de voto No campo das eleições, as pesquisas são realizadas para saber em quem você vai votar e funcionam do mesmo jeito
que as demais. As pesquisas são encomendadas pelos veículos da mídia (Globo, Folha de São Paulo, entre outros), que contratam empresas especializadas no serviço (IBOPE, Datafolha e Vox Populi são as mais consultadas). São através das chamadas Pesquisas Eleitorais que a mídia tenta diagnosticar quais são os candidatos que a população prefere ver no poder. Mas por que é que é tão importante assim para a mídia saber em quem você vai votar? Se toda pesquisa é feita com o intuito de facilitar a tomada de determinadas decisões e ações, quais seriam os interesses da mídia em descobrir quais são os candidatos preferidos e quais são as decisões e ações tomadas por ela ao saber dessa preferência? Sim, a mídia tem interesses. Políticos, econômicos e comerciais. Afinal, ela é composta por pessoas e pessoas sempre têm seus próprios interesses. E os interesses da mídia são o reflexo das pessoas que controlam essa mídia, uma vez que a chamada “linha editorial” não se baseia somente na questão ideológica, mas também na questão comercial, ligada diretamente às empresas que financiam essas mídias, através da publicidade. Se as pessoas – e de certa forma empresas – que comandam um veículo preferem o candidato “A”, o veículo sempre prestigiará e enaltecerá o candidato “A”. Então, quando a mídia quer descobrir qual é o candidato predileto da população, ela quer saber se o candidato que ela prefere também é a preferência da maioria. E sabe aquela história de tomar decisões e ações depois de descobrir quais são
os preferidos? Pois bem, e se esse veículo descobrisse através de uma pesquisa que seu candidato “A” está em desvantagem? É bem provável que o veículo tentaria buscar meios de destacar positivamente o seu candidato e, claro, destacar negativamente o oponente, o candidato “B”. Ou seja, tentaria convencer quem assiste / ouve / lê aquele veículo de que o candidato “sugerido” por ele é o mais indicado para assumir o cargo. A manipulação do diagnóstico Em um determinado momento, no entanto, os veículos da grande mídia perceberam que é muito mais prático tomar decisões durante o diagnóstico do que tomar decisões após o diagnóstico. Ao invés de esperar os resultados de uma pesquisa saírem para tomar decisões visando seus interesses, por que não trabalhar durante o processo dessa pesquisa para que os resultados saiam, digamos, “mais com a cara” dos seus interesses? Ou seja, para quê esperar sair o resultado de uma pesquisa para expor positivamente a imagem do candidato “A” que eu quero que seja eleito, se eu posso fazer isso durante o processo dessa pesquisa para tentar convencer os chamados indecisos a responderem “eu vou votar no candidato ‘A’”? Para que isso faça mais sentido, precisamos analisar a fundo como funcionam as Pesquisas Eleitorais. A metodologia O Brasil tem cerca de 142 milhões de eleitores². Seria praticamente impossível entrevistar toda essa gente. É por isso que
as empresas especializadas no serviço de pesquisas perguntam apenas a uma pequena parcela do eleitorado brasileiro em quem ela pretende votar nas próximas eleições, parcela que eles chamam de “amostra”. Para entender melhor como funciona esse cálculo da amostra, o diretor do Vox Populi, João Francisco Moreira, faz uma analogia com o exame de sangue: “você não precisa tirar todo o sangue do indivíduo para saber quais as características do sangue dele; tira só alguns mililitros. Se a sua amostra é bem calculada e os indivíduos são capazes de constituir uma miniatura do conjunto da sociedade, a tendência é que o comportamento desses indivíduos se reproduza para o conjunto.” Para representar o eleitorado brasileiro e garantir o nível de confiabilidade, essa amostra precisa ter a mesma proporção de homens e mulheres. O mes-
mo critério vale para a idade (proporção de jovens e idosos), eleitores por Estados e outras características de cada região. As entrevistas são feitas nas ruas dos municípios, em pontos estratégicos, para aumentar o contato do pesquisador com os eleitores que compõe a amostra, assim como são realizadas por e-mail ou por telefone. É por conta do impacto que essas pesquisas causam no eleitorado que a Justiça Eleitoral estabelece que os meios de comunicação façam um registro no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) antes mesmo de ouvir a população. Nesse registro deve ser informado quem contratou a pesquisa e quem foi contratado para fazer a mesma, além do valor e origem dos recursos gastos no trabalho, metodologia, período de realização da pesquisa, dados sobre os entrevistados, margem de erro, nível de confiança e,
claro, os questionários utilizados com os entrevistados. Quem divulgar informações sem esse registro prévio estará sujeito a pagar uma multa, cujo valor varia entre 50 e 100 mil reais. Já quem fraudar informações, além da multa, também pode ser preso. O juiz eleitoral Edir Josias Silveira Beck alerta que essas medidas são necessárias para que a prática seja mantida em ordem e que não se deve confiar 100% em pesquisas, mesmo que elas sejam feitas dentro da legislação. “O que a lei determina é que seja feito somente o registro. Então, quando essa pesquisa é divulgada, não significa que a Justiça Eleitoral está afirmando que essa pesquisa é totalmente correta, nem que ela foi feita dentro dos padrões estatísticos esperáveis. Tampouco significa que está chancelando que a pesquisa é inquestionável.”
As pesquisas são registradas no TSE e estão livres para consulta no site do órgão do governo (http://www.tse.jus.br/). Basta seguir o caminho: Eleições > Eleições 2014 > Pesquisas Eleitorais > Consulta às pesquisas registradas. Aí é só acessar e fuçar! Não é necessário preencher todos os campos. Insira apenas a empresa contratada e o número do protocolo (aquele número de registro que é sempre divulgado no final de uma reportagem).
Os questionários Não dá pra fazer uma pesquisa sem questionário. Os questionários possuem uma série de perguntas objetivas que ajudam a direcionar o entrevistado. O método de abordagem e os questionários variam um pouco de acordo com a empresa pesquisadora. Peguemos, como exemplo, as três empresas que são mais contratadas para realizarem pesquisas eleitorais: Datafolha, IBOPE e Vox Populi.
Pesquisa IBOPE para presidente República: BR – 01079/2014
Os dados da pesquisa estão disponíveis junto com o questionário utilizado (material de campo) e a relação de municípios onde a entrevista foi realizada. / Dados de pesquisa do IBOPE (contratada pela Rede Globo) para Presidente da República: BR-01071/2014 Datafolha
IBOPE
A metodologia utilizada pelo Datafolha está disponível em um vídeo institucional, neste link do site da Folha de São Paulo (http://www1.folha.uol.com. br/poder/2014/09/1518360-entenda-como-o-datafolha-faz-a-pesquisa-eleitoral.shtml). O pesquisador pergunta em quem pretende votar e o entrevistado responde o que vem à sua mente, inclusive nomes errados ou de candidatos que sequer existem. Através da “resposta espontânea” o pesquisador consegue determinar o nível de interesse que aquele entrevistado tem pela eleição. Quanto mais nomes certos, maior o interesse.
A metodologia utilizada pelo IBOPE está disponível em texto institucional, neste link do site do IBOPE Inteligência (http://www.eleicoes.ibopeinteligencia.com/Paginas/Metodologia.aspx). As entrevistas, de acordo com o instituto são realizadas sempre face a face, por telefone ou via online. “O IBOPE Inteligência usa amostras rigorosamente representativas da população em estudo, selecionadas por meio de critérios estatísticos, que utilizam como base as fontes oficiais de dados do País: IBGE, TRE e TSE.”³
da
Vox Populi (Registrado no TSE como VOX Opinião Pesquisa e Projetos) A metodologia utilizada pelo Vox Populi está disponível em texto institucional, neste link do próprio site da empresa (http://www.voxpopuli.com.br/metodologia). O Vox Populi utiliza metodologias qualitativas, quantitativas e semiestruturadas, além de técnicas qualitativas e projetivas. O instituto também divide sua amostra em cinco estratos: idade, sexo, escolaridade, renda e ocupação, estratos um pouco diferentes do Ibope, que divide em apenas quatro (idade, sexo, escolaridade e ramo de atividade). A partir de informações da Justiça Eleitoral e de pesquisas do IBGE, como o Censo e a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), é possível conhecer o perfil do eleitor em cada cidade e estado.
Por que devemos desconfiar de pesquisas? Ainda que a parte da população entrevistada seja precisamente proporcional ao todo, não quer dizer que os entrevistados representem exatamente os anseios da população. Afirmar que uma amostra consegue representar o Brasil é dizer que uma amostra consegue representar você. É afirmar que uma pessoa da sua cor, da sua idade, do seu nível de escolaridade e da sua classe social pensa igual a você. Ela vai votar no mesmo candidato que você só porque faz as mesmas coisas que você? O diretor do Vox Populi fala que bastam apenas algumas gotas de sangue para identificar as características dele. No entanto, seguindo essa linha metafórica de raciocínio, existem exames que só podem ser feitos caso o paciente retire uma quantidade maior de sangue. Há ainda a possibilidade de o paciente estar doente e o exame não conseguir identificar a doença com apenas essas gotinhas. O Datafolha também quis fazer uma abordagem metafórica em seu vídeo institucional, afirmando que não é necessário tomar toda a sopa pra saber se ela é de cebola ou de alho. Porém se a sopa tiver sido preparada por uma pessoa que não sabe cozinhar, vai ser difícil identificar. E se a sopa estiver quente demais
torcedores do Vasco tem no Rio de Janeiro. Por que cargas d’água nós iríamos até o Maracanã no dia de um Fla x Flu? O exemplo pode ser estruturado no âmbito eleitoral: não aparece o número de entrevistados por bairro, então será que os interesses do entrevistado morador de Ipanema são os mesmos interesses do entrevistado e a pessoa queimar a língua, ela vai conseguir identificar morador de Nova Iguaçu? E se o instituto conseguir 800 o sabor? Outro ponto a ser destacado entrevistas em Ipanema e são os locais nos quais as apenas oito em Nova Iguaçu, pesquisas são realizadas. como será feito o cálculo de Se você abrir uma dessas proporção? pesquisas vai perceber Em escala nacional, sabia que que no final da página há Estados menores têm peso um arquivo em PDF com a menos relevante? Na pesquisa relação de municípios ou presidencial do IBOPE, por de bairros onde a entrevista exemplo, os estados do Amapá, foi realizada. O problema é de Roraima e de Rondônia se que, ao abrir esse arquivo, revezam em cada pesquisa. consta apenas o nome dos Já o Vox Populi faz a pesquisa municípios ou dos bairros, em 25 unidades da Federação mas não diz quantas pessoas – Roraima e Amapá não foram entrevistadas em cada entram porque têm menos de um. Seguindo a ideia de 1% do eleitorado, portanto um proporcionalidade, será que percentual inferior à margem o número de entrevistados de erro da pesquisa, que é 2 em Madureira foi condizente pontos percentuais. Ou seja, com o número de habitantes as pessoas desses Estados não são iguais a ninguém, do bairro? E se por um acaso eles tampouco brasileiras, e não entrevistarem mais gente de servem para entrar na amostra. uma área do que deveriam? Por falar em entrevistas, Para entender isso, lá vai aqui vai outro problema: estudos são uma situação hipotética: diversos queremos fazer um cálculo realizados para se chegar à para estimar quantos conclusão de que o número
de entrevistados que condiz proporcionalmente com a população é 4 mil (número arbitrário). Levando-se em consideração que, como as próprias empresas enfatizam, muitos questionários são descartados pelo grau de desinteresse, pelos erros na hora de responder e outros imbróglios, o número final de entrevistas computadas e válidas não será os quatro mil propostos no início. Acesse novamente uma dessas pesquisas e veja o número de entrevistas que eles estipularam e o número de entrevistas que eles realizaram e foram efetivas. A diferença é enorme, são quase mil entrevistas a menos em todos os registros, às vezes até mais. O resultado final com certeza não estará dentro da amostragem ideal. Continue fuçando os materiais registrados. Agora abra uma pesquisa para governador do seu Estado. Qual seria a razão para que uma pesquisa para governador faça perguntas sobre em quem você vai votar para o cargo de presidente da República? Se isso é importante, porque a divulgação posterior ao resultado das pesquisas, feitos pela Globo e pelos outros veículos, não cita essa “continuação” do questionário? Exemplo: uma pesquisa indica que 40% dos eleitores vão votar no senador Crivella, sendo que apenas 18% deles tem preferência pelo presidente Aécio. Ou seja, se não há a divulgação disso, por que essas perguntas estão inseridas no questionário? Qual seria o propósito de juntar esse material?
Não pare de fuçar as pesquisas, aí vem a cereja do bolo! Tente acessar o maior número de pesquisas que conseguir até encontrar registros absurdos de pesquisas que não existem ou mesmo de pesquisas que não foram realizadas de acordo com o que foi divulgado. Vou ajudar: nesta matéria do G1, por exemplo, sobre as intenções de voto para governador do Estado do Rio (http://g1.globo.com/riode-janeiro/eleicoes/2014/ noticia/2014/10/ibope-votosvalidos-pezao-tem-56-ecrivella-44-no-rj.html), o número de registro fornecido pelo site e pelo IBOPE dá acesso a uma pesquisa, pasmem, para governador... do Mato Grosso do Sul! Para encerrar, é preciso fazer uma última análise sobre as pesquisas de intenções de voto: é preciso entender que a influência dessas pesquisas nas pessoas indecisas – ou mesmo já decididas – é tão grande que os resultados delas são capazes de influenciar os eleitores. Há três possibilidades de influência, de acordo com o resultado final obtido pela pesquisa: - Se o eleitor achar que seu candidato preferido tem chance de ser eleito, então mantém seu voto; - Se o eleitor acreditar que seu candidato preferido não tem chances de vencer, ele reconsiderará seu voto, escolhendo o candidato que avaliar com chances razoáveis de derrotar o candidato que ele prefere menos. Esse recurso infelizmente é baseado naquela frase “não vou votar nele porque ele
não vai ganhar”; ou mesmo na intenção de impedir que um candidato que ele goste menos vença: - Se o eleitor for “orientado para o futuro”, manterá seu voto no candidato preferido, mesmo que esse não tenha chances de se eleger, acreditando que com essa escolha, no futuro esse candidato possa ter mais chances, ou mesmo acreditando em uma reviravolta. Independente das possibilidades, as pesquisas criaram um processo inverso nas eleições: as pesquisas não são mais um reflexo das urnas, mas as urnas é que são um reflexo das pesquisas. O eleitor usa o resultado das pesquisas como uma estimativa de como será a eleição. Desse modo, a opção da maioria vira base para sua tomada de decisão. Porém, é claro que a pesquisa de intenção de voto, por si só, não é responsável pela decisão, é preciso levar-se em consideração também a propaganda eleitoral, opinião de pessoas próximas e influentes, cobertura jornalística, entre outros fatores. O problema é que sem o estímulo ao engajamento do eleitorado, o que podemos chamar de “apego político”, os eleitores tornam-se cada vez mais reféns da mídia para escolher seus candidatos e acabam votando naquele que mais aparece e principalmente naquele que lidera as pesquisas. Portanto, fique atento e sempre com um pé atrás quando as pesquisas começarem a pipocar. Mais informação: http://www. observatoriodaimprensa.com. br/videos/view/pesquisas_de_ opiniao.
Como são escolhidos os entrevistados
M
uitos eleitores se questionam quais são os parâmetros utilizados pelas pesquisas eleitorais e se, isto é, possível atestar a credibilidade dos resultados. A pesquisa eleitoral é feita a pedido dos veículos de comunicação por institutos especializados, no Brasil os dois principais são Datafolha e Ibope Inteligência. As pesquisas são registradas, para presidente no Tribunal Superior Eleitoral e, nas disputas estaduais no Tribunal Regional Eleitoral. Porém, alguns resultados podem ser apenas para consumo interno, ou seja, para os próprios candidatos, partidos e patrocinadores da campanha eleitoral. Para saber a intenção de
Louise Bonfim
voto do eleitorado, o Instituto de Pesquisa responsável entrevista em torno de 2.000 a 3.500 pessoas. As características como idade, sexo, escolaridade, espaço geográfico e etc- são selecionadas com base nos dados do País, obtidos através do: IBGE, TRE e TSE e representam uma amostra do conjunto populacional de uma determinada região. As cidades são escolhidas através de sorteios. Primeiro são sorteados os municípios, depois os bairros e pontos que serão aplicadas as entrevistas. O Ibope utiliza duas formas para realizar as pesquisas eleitorais: a pesquisa com resposta espontânea e a
pesquisa com resposta estimulada. O que difere as duas são as formas de abordagem ao eleitor, a pesquisa espontânea solicita que os entrevistados digam por si só o nome do candidato em que pretendem votar e a pesquisa estimulada mostra um disco com o nome de todos os candidatos, pedindo para que o entrevistado escolha dentre as opções o candidato em quem votará. Também são estipuladas outras formas de perguntas de acordo com os objetivos da pesquisa, tais como potencial de voto do candidatos, nível de rejeição, avaliação do governo, imagem dos candidatos e entre outros. “Nas eleições, temos que ter o cuidado de fazer a pergunta de forma totalmente isenta. A
pessoa começa fazendo a pergunta (para que seja respondida) de forma espontânea. Daí a gente apresenta um disco (uma figura em forma de círculo) com os nomes dos candidatos, de modo que não prioriza nenhum dos candidatos. O entrevistador entrega para a pessoa, que lê os nomes e diz em quem vai votar. O entrevistador não faz nenhuma leitura dos nomes”, explica o diretor de Opinião Pública, Política e Comunicação do Ibope, Hélio Gastaldi. Cerca de 40% dos brasileiros possuem linha telefônica fixa em casa, ou seja, fica difícil realizar pesquisa eleitoral no país com esse pequeno percentual de representatividade do total do eleitorado. O Datafolha, segundo o site informa, opta por fazer abordagem nas ruas – seguindo todos os procedimentos necessários –, por ter dificuldade de acesso a residências em condomínios, prédios ou comunidades. Muitos parâmetros investigados pelas pesquisas não são de conhecimento público, assim como os detalhes, exigências e recortes populacionais o que torna a pesquisa eleitoral manipulável. O fato, é que é difícil conhecer alguém que tenha sido abordado por um Instituto de Pesquisa. O Ibope explica que em São Paulo existem mais de nove milhões de eleitores, porém só é entrevistada apenas uma parcela da população, que se encaixa em uma determinada amostragem. Por isto, justifica que a probabilidade de uma pessoa conhecida ser selecionada é muito pequena. Segundo Gastaldi, a pesquisa é feita em dois ou três dias e o trabalho do investigador para captar pessoas que se
Na
democracia todos votam, mas nas pesquisas apenas alguns são ouvidos
enquadrem nos perfis pré determinados pode ser muito difícil. “É um trabalho duro. Ele tem que ter muita disposição. Os questionários são de rápida aplicação. O entrevistador demora muito mais tempo procurando as pessoas, batendo nos domicílios ou abordando as pessoas.”, explica. Todo trabalho estatístico está sujeito a margens de erro. Nas pesquisas de intenção de voto, tanto para presidência como para governador, prefeito, senador, deputado federal e estadual, a margem de erro é de 2 pontos percentuais para
mais ou menos. Como explica Marcos Ruben Oliveira, estatístico do DataSenado: “Toda pesquisa pode errar porque não é precisa, é uma amostragem. Sempre tem a possibilidade de cair na margem de erro e no nível de confiança. Em 95% das vezes a pesquisa vai acertar, mas sobrou 5% de possibilidade de erro”. As pesquisas eleitorais realizadas com fins de divulgação se encontraram disponíveis nos sites dos Institutos Datafolha e Ibope, também encontra-se no site do Tribunal Superior Eleitoral e Regional.
Quando a mídia manda no voto
Amanda Tinoco e Rafaela Miranda
As pesquisas de intenções de votos – pesquisas eleitorais – são feitas por institutos que tem como finalidade saber qual candidato ganhará as eleições antes do dia da votação. Essas pesquisas são encomendadas e divulgadas incansavelmente pelos meios de comunicação. A mídia possui uma grande influência sobre os eleitores, o que pode gerar a imposição de uma ideologia de poder sobre os mesmos. É comum em épocas eleitorais vermos canais televisivos e jornais encomendando essas pesquisas a diversos institutos. A forma como os mesmos noticiam esses resultados foge a especulação e suposição, pelo contrário, os resultados são divulgados como verdade absoluta. Os meios de comunicação se utilizam de três institutos para realizar suas pesquisas, são eles: Datafolha, Ibope e Vox Populi, esse último sendo
o menos divulgado na mídia. O Datafolha é o instituto de pesquisas do Grupo Folha, conjunto de empresas no qual o jornal Folha de S. Paulo faz parte. Ele realiza levantamentos estatísticos, pesquisas eleitorais, de opinião e de mercado. Já o Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (IBOPE) é uma das maiores empresas de pesquisa de mercado da América Latina. O Instituto fornece aos seus clientes um amplo conjunto de informações e estudos sobre mídia, opinião pública, intenção de voto, consumo, marca, comportamento e mercado, no Brasil e em mais 14 países. O Vox Populi é uma empresa brasileira especializada em pesquisas de opinião. Encontra-se entre as dez maiores empresas de pesquisas do país e realiza pesquisas para pessoas físicas e jurídicas, como políticos, empresas de comunicação e etc.
Na divulgação dos resultados das pesquisas nos telejornais é fácil perceber uma padronização o que leva a uma abordagem superficial. Isso pode ser justificado pela falta de tempo do veículo, porém deixa de informar aos telespectadores dados essenciais para que entendam o que significam aqueles números. As dúvidas são muitas. Como por exemplo, mesmo divulgando quantas pessoas foram ouvidas em nenhum momento sabemos, de fato, quais são as idades, a escolaridade ou a renda destas pessoas. Nos números de municípios e regiões acontece à mesma coisa não especificam quais as cidades e estados. Uma informação considerada de extrema importância, já que determinadas regiões podem vir a beneficiar um candidato. Da mesma forma que os votos inválidos não são explicados com precisão. Não sabemos ao
certo quantos são votos nulos e brancos, porém a diferença de ambos é grande. Em branco, o eleitor não manifesta preferência por nenhum candidato, ao anular ele protesta contra os candidatos que concorrem ao cargo. Algumas vezes essas pesquisas podem não significar absolutamente nada. Digamos que duas mil pessoas foram ouvidas, mas todas elas são da região sudeste e compararmos o número de pessoas com o número de habitantes essa porcentagem de votos passaria a ser insignificante, não acrescentando em nada ao resultado da pesquisa, o que nos reafirma que essas pesquisas não esclarecem nada. Muitas vezes elas apresentam resultados que não se concretizam. Como na pesquisa feita pelo Datafolha e divulgada no dia 21/10 que mostra a candidata Dilma Rousseff (PT) perdendo na região Sudeste para o can-
didato Aécio Neves (PSDB) por uma margem de pontos consideráveis, resultado esse que ao final não se confirmou nas urnas. Sobre a famosa “margem de erro”, o professor aposentado da Unicamp e um dos profissionais mais reconhecidos da área de estatística no país, José Ferreira de Carvalho, acredita que são falsas e que não podem ser comprovadas cientificamente. - E te digo como estatístico, a resposta é que não dá pra confiar. Margem de erro é uma coisa importante e as fórmulas que eles usam estão erradas, você tem 17 pontos de diferença em uma pesquisa, oito em outra e zero em outra, ou seja, estão completamente fora. É comum também vermos a expressão “nível de confiança”, mas o que ela quer dizer? Para tentar explicar pegamos uma definição do Ibope que diz: “O nível de confiança da pes-
quisa é estabelecido de comum acordo entre o cliente e o instituto, entretanto, o mais usual é trabalhar com intervalos com 95% de confiança. Considerando uma margem de erro de 3 pontos percentuais para o candidato A com estimativa de intenção de voto fixada em 30%, por exemplo, o intervalo de confiança dele, com uma confiabilidade de 95%, seria de 27% a 33%. Isso significa dizer que, considerando o mesmo modelo amostral, se 100 amostras forem tiradas da população, em 95 delas o índice deste candidato variará entre 27% e 33%”. Resumindo uma matemática mirabolante que não prova confiança nenhuma nessas pesquisas e em seus resultados, vistos muitas vezes ao fazermos comparações com os resultados reais. O que nos deixa com a seguinte pergunta: “O quanto podemos confiar nas pesquisas eleitorais divulgadas pela mídia?”
ELEIÇÕES NO Nessas eleições, o repertório de piadas e gozações com os candidatos a presidência nas redes sociais foi gigantesco. Os motivos são vários: a margem de erros das pesquisas eleitorais, o bate-boca e acusações pessoais nos debates na televisão, assim como escândalos e dados imprecisos.
“Emocionada ! O ibope me ligou !” Quando o assunto é pesquisa de intenção de voto o primeiro obstáculo é encontrar entrevistados. Julie Duarte
Amigos , conhecidos , parentes , quem de fato respondeu á pesquisa? No facebook perguntou-
-se : “Alguém já foi , ou conhece alguém, que tenha sido entrevistado por instituto de pesquisa ?”. O resultado foi : “ Nunca conheci alguém que tivesse participado “ , “ Tá aí uma coisa rara hehe “ , “ Não , nem nunca vi ... será que é lenda urbana ?” . Em sites e blogs não existem relatos de entrevistados , onde está a voz dessas pesquisas? Como se sentem os que são escolhidos ? Como são abordados? Como encaram á pesquisa ? Quanto tempo dura ? onde e como são feitas ? Encontrar resposta para essas perguntas não é algo tão fácil quanto parece.
D
enise Lilenbaun , 52 anos , professora universitária ,residente no Rio de Janeiro, foi uma das poucas pessoas que comprovou á existência das pesquisas , até então questionada quanto á sua veracidade. “ Fiquei emocionada, adorei porque comprovou , de fato , que as pesquisas são reais, ou seja , tem que ver para crer. Me ligaram , e primeiramente perguntaram sexo , nível de escolaridade, e faixa salarial, depois me perguntaram em quem votaria para governador e presidente. “
F
átima Leão, 56 anos, secretária fez a seguinte publicação no twitter : “Ibope me ligou e começou perguntando meu grau de escolaridade, quando sentiu que meu voto era Dilma, disse que não me enquadrava no perfil da pesquisa.
Adriana Quadros , atriz , 54 anos , mo-
radora do Rio de Janeiro , foi outro exemplo de comprovação! “ Achei o máximo ! Quando recebi uma ligação e se identificaram sendo do ibope , me senti ! Não conhecia ninguém que tivesse sido entrevistado antes nessas pesquisas eleitorais , sempre questionei á existência . Me fizeram um questionário antes mesmo de começar a perguntar meus candidatos, falei minha renda e nível de escolaridade, tudo por telefone!”
Claudinéa Costa , 49 anos, pro-
fessora , respondeu ao questionário!: “ Me ligaram do ibope , perguntaram nível de escolaridade , renda e sexo . Depois de responder á essas perguntadas , disse em quem votaria para Governador e Presidente .”A moradora de São Gonçalo afirma que não se sentiu á vontade e teve medo ao passar pela pesquisa .
A MANIPULAÇÃO : Foi feita uma matéria pelo CMI ( Centro de Mídia Independente)em 2013, divulgada na internet, onde um indivíduo não identificado afirmou ter trabalhado no ibope e relatou : “Eu trabalhei no IBOPE como pesquisador . E sei bem como eles podem manipular dados de pesquisas para conseguir o resultado que quiserem. Por exemplo: Se um dos candidatos vai bem entre os pobres, e o outro os ricos , eles dão uma “ reforçada” na fatia de entrevistados ricos
em relação ao total , distorcendo o perfil econômico do eleitorado .É possível distorcer um pouco os verdadeiros perfis de acordo com as suas respectivas preferências, e fazer a adaptação mais conveniente ás expectativas de resultado de quem contratou o instituto para fazer a pesquisa.” Diante dos relatos e experiências apresentados , pode-se dizer que as pesquisas eleitorais existem sim, porém é possível á manipulação de acordo com a preferência do instituto contratado .
A intenção de votos estimula o financiamento das campanhas
Matheus Mello
As pesquisas de voto influenciam eleitores indecisos e determinados a mudar o voto na última hora, deixando de lado sua primeira opção e escolhendo outro candidatos, segundo o jornalista Lalo Leal. Ele também afirma que essas pesquisas são fundamentais para o direcionamento das doações dirigidas às diferentes campanhas. O dinheiro chega com mais facilidade nos cofres dos que aparecem com mais chances de voto. A Data Folha e o Ibope afirmam que as pesquisas têm a intenção de apontar tendências, fazendo com que muitos eleitores mudem o voto. Para o professor de estatística da PUC-RS, a diferença de percentual tem a ver com o método utilizado pelos institutos, mais barato e que demanda menos tempo para ser executado. O economista José Kobori alega que o método de pesquisa utilizado pelos institutos deveria ser aprimorado, le-
vando em consideração alguns aspectos como gênero, classe social, situação econômica, escolaridade e faixa etária. Porém devido à pressão do tempo, cada instituto procura divulgar a pesquisa o mais rápido possível, por isso nem sempre esses dados são observados. O diretor-geral do Data Folha Mauro Paulino afirma que o fator principal para a escolha do método atual é o tempo. As pesquisas são feitas durante as campanhas eleitorais. Segundo Mauro, essas pesquisas deveriam ser realizadas antes e depois das campanhas para realmente saber o que mudou na intenção de voto da população. De acordo com a diretora do Ibope Márcia Cavallari, as pesquisas medem a opinião do
Para Paulo Moura as pesquisas produzem o voto útil.
eleitores e isso vai mudando ao longo do processo eleitoral até a hora do voto. Especialistas ouvidos pelo R7 afirmam que as pesquisas, além de influenciar podem até definir uma eleição, pois quando publicadas, os candidatos ganham visibilidade em todo o país, já que o nome fica em evidência e pode direcionar o olhar do eleitor. O professor e coordenador do curso de ciências sociais da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra) no Rio Grande do Sul, Paulo Moura garante que o que define a pesquisa é o noticiário. Segundo ele, o candidato que está na mídia terá ampla vantagem sobre aquele que não é notícia. O professor afirma também que as pesquisas acarretam no que chamamos de voto útil, em que a pessoa vota em um candidato, com o objetivo de eliminar o seu concorrente, por não gostar dele e muitas vezes por influência de outros veículos. Paulo Moura diz que os partidos políticos também sofrem influência das pesquisas, pois a campanha política é toda baseada em pesquisa de comportamento, que não são iguais as pesquisas de intenção de voto.