Mara Rossatto: Vídeo Animação: potencializando a aprendizagem colaborativa nas aulas de arte.
Justificativa Muitas são as possibilidades do uso pedagógico das mídias hoje em dia. Para que se possa desenvolver a aprendizagem e criticidade usando mídias faz-se necessário conhecer as possibilidades e limites destes recursos e fazer delas um bom uso. Ao professor, no papel de mediador, faz-se necessário favorecer esta conexão entre o aluno e as possibilidades de ampliar seus olhares e mostrar que a educação não se limita aos espaços da escola, mas na capacidades de pensar criticamente, e não apenas assimilar seus conhecimentos, e sim, partindo de ferramentas adequadas, mostrar suas potencialidades e vivências do fazer e para quê. O uso de tecnologias no ensino e na aprendizagem está em constante crescimento. A integração entre a educação, a tecnologia e o meio onde vivemos criou um paradigma na história da educação, procurando adequar esta nova tendência de auxílio na educação e aprendizagem individual em tudo conhecimento compartilhado e coletivo. As novas tecnologias mostram-se uma ferramenta importante na ação educativa. Na disciplina de Arte, elas desempenham funções exploratórias e de pesquisa, e também assumem um papel importante como ferramenta fundamental de trabalho, na produção de conteúdos ligados às artes gráficas, visuais e audiovisuais.
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Mara Rossatto: Vídeo Animação: potencializando a aprendizagem colaborativa nas aulas de arte.
Este é um relato de um projeto desenvolvido junto aos alunos de 3 turmas de 8ª série, da Escola M.E.F.São Vitor, em Caxias do Sul, entre os meses de agosto a novembro de 2012. Na disciplina de Arte, onde o uso de celulares e máquinas fotográficas são instrumentos que contribuem para a aprendizagem significativa, num processo colaborativo e de autonomia, os alunos tornam-se autores e produtores de vídeos. Estimulados a expressar suas visões de mundo, os alunos assistiram um clipe musical, esse serviu como disparador do projeto. Através da animação de imagens, buscou-se compreender como as experiências individuais e coletivas, se manifestaram em suas produções. Objetivos • Identificar a história da fotografia e seu contexto artístico; • Conhecer a história da técnica stop motion ; • Produzir uma animação com a técnica em stop motion; • Compreender a experiência da fruição e análise das produções; • Usar o celular como dispositivo de criação. • Reconhecer a imagem como meio de comunicação; • Ampliar o espaço de expressão e diálogo na escola e fora do contexto escolar; • Proporcionar novas formas de sentir, potencializando a criatividade e imaginação; • Oportunizar formas de compreender diferentes visões de mundo através da apreciação do trabalho dos grupos.
Conteúdos Curriculares Fotografia; Roteiro; Storyboard; Stop Motion; Animação; Vídeo clipe.
Metodologia Segundo Libâneo, (2001): (...) as mídias apresentam-se, pedagogicamente, sob três formas: Como conteúdo escolar integrante das várias disciplinas do currículo, portanto, portadoras de informação, ideias, emoções, valores; como competências e atitudes profissionais; e como meios tecnológicos de comunicação humana (visuais, cênicas, verbais, sonoras, audiovisuais) dirigidos para o ensinar a pensar, ensinar a aprender a aprender, implicando, portanto, efeitos didáticos como: desenvolvimento de pensamento autônomo, estratégias cognitivas, autonomia para organizar e dirigir seu próprio processo de aprendizagem, facilidade de análise e resolução de problemas etc. ( LIBÂNEO, 2001, p. 70). Partindo destas prerrogativas, apresentei um projeto intitulado: 1º Festival Anima Arte São Vitor, onde 67 alunos de 3 turmas de oitava série, através da técnica de Stop Motion, deveriam produzir um clipe musical, partindo de suas vivências e leituras do mundo. O início deste trabalho foi uma leitura de imagens produzidas pelos próprios alunos, adquiridas através de celulares e máquinas fotográficas. A captação da imagem para o início deste trabalho, foi de livre escolha do aluno, e transcorreu em sala de aula e no espaço escolar. As imagens captadas foram apresentadas em data-show e discutidas pelas turmas, comentadas, apreciadas e em alguns momentos citações mais críticas como escolha de ângulos, qualidade de imagem, enquadramentos e perspectivas foram abordadas pela professora e pelos alunos.
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Após a primeira discussão, notou-se a necessidade de apurar e desenvolver um conhecimento interpretativo da ação fotográfica, realizando um estudo de pesquisa sobre a história da fotografia e conceitos de planos fotográficos, entre outros. Alguns artistas contemporâneos como Man Ray e Andy Wharhol, e o uso da linguagem fotográfica em suas produções, foram explorados. Uma nova captação de imagens fotográficas foi realizada e leituras foram feitas fortalecida por subsídios teóricos e artísticos estudados anteriormente. O uso de celulares na escola São Vitor, somente é permitido quando apresentado em projetos pedagógicos, para a coordenação ou direção da escola, mesmo assim, constante são as intervenções dos professores, pelo uso indevido no ambiente escolar. Atuando há 5 anos na mesma escola, muitos são os projetos apresentados na disciplina de Arte, para o uso do celular como ferramenta de auxílio em projetos, como foi neste caso. Num próximo encontro, foi realizada um entrevista com os alunos sobre o que teria a ver este estudo fotográfico com o Festival Anima Arte São Vitor? Apresentar aos alunos a fotografia como um produto inacabado foi a resposta dada ao questionamento inicial, estimulando-os ao pensamento criativo e ao fazer o NOVO: O que pode vir antes deste registro e após ele? E se vários registros fotográficos forem feitos, o que contariam? Muitos responderam com outra pergunta: uma história? Um registro de fotos, quadro a quadro, reproduzidas e editadas em uma sequencia de tempos (frames) bem próximas uma da outra, dando a ilusão de movimento, constitui a técnica do Stop Motion. Os primeiros trabalhos no cinema encontrados com a técnica de stop motion pode ser creditada a Albert E. Smith e J. Stuart Blackton para o filme Vitagraph 's The Humpty Dumpty Circus em 1897. Atualmente vários filmes em animação foram desenvolvidos nesta técnica, como exemplo: O Estranho Mundo de Jack, Fuga das Galinhas, a Noiva Cadáver, Mary e Max. Em outras mídias são usados em propagandas e comerciais, jogos de computador, em clipes musicais, entre outros. Selecionei parte destes filmes citados e outros trabalhos na técnica de Stop Motion e foram apresentados para os alunos. Foi discutida quanto técnica de animação em stop motion e as conversas foram medidas com ênfase em filmes já assistidos e conhecidos pela turma. Site como o youtube fornecem uma variedade infinita de trabalhos em Stop Motion, muitos apresentando o making off da produção, que enriqueciam ainda mais e fortalecem a assimilação dos conceitos. Ferramentas de pesquisa de informação, como sites de busca, foram utilizadas como recursos de investigação e partilha de conhecimentos, no LIE ( laboratório de Informática Educativa) da escola. O conceito storyboard também foi apresentado aos grupos para qualificar os trabalhos , pois essa técnica ajuda na organização das ideias e na sequencia das imagens. Ela é utilizada como um instrumento que orienta todas as etapas da fotografia, um desenho ferramenta, que organiza e auxilia o registro fotográfico. Seguindo esta perspectiva, iniciaram um pequeno exercício de storyboard em uma folha de desenho A4 . A narrativa proposta foi a seguinte: dois alunos, cada um próximo à um canto do quadro negro, um deles projetaria “raios” através das mãos ( desenhos no quadro) para o outro, projetando este colega ao chão, em uma sequencia de mais ou menos 40 frames. Com storyboard em mãos foi realizado a sequencia de fotos por um aluno, a ação formulada era representada no quadro negro, através de giz, por outro aluno. Mais dois colegas fizeram parte do vídeo, o que projetava os raios e o que recebia a “descarga elétrica”.
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Este exercício prático realizado pelos alunos neste momento foi apresentada como animação em Pixilation, quando usamos na animação pessoas e objetos. A exploração da animação Claymotion, utilizando massinha de modelar, também foi explorada e executada em sala de aula pelas turmas. Estas sequencias de fotos, realizadas nos dois tipos de animação, ao final da produção de fotos , foram editadas através do software movie maker, explorando os recurso de edição deste software. Conforme os PCNs: “A educação de artes visuais requer entendimento sobre os conteúdos, materiais e técnicas com os quais se esteja trabalhando, assim como a compreensão destes em diversos momentos da história da arte, inclusive a arte contemporânea. Para tanto, a escola, especialmente nos cursos de Arte, deve colaborar para que os alunos passem por um conjunto amplo de experiências de aprender e criar, articulando percepção, imaginação, sensibilidade, conhecimento e produção artística pessoal e grupal. A educação visual deve considerar a complexidade de uma proposta educacional que leve em conta as possibilidades e os modos pelos quais os alunos transformam seus conhecimentos de arte, ou seja, o modo como aprendem, criam, desenvolvem-se e modificam suas concepções de arte.” (PCN, 1998, pág 63). Momento importante das discussões: os direitos autorais e toda legislação que rege uma edição e divulgação de vídeos nas mídias. Estas atividades foram realizadas com todas as turmas. Os trabalhos foram diferenciados entre eles, ampliando a gama de registros. A troca de estudos motivouos e em cada apresentação novas ideias iam surgindo. Estudiosos enfocam esta abordagem de construção de conceitos através das tecnologias: Moran (1993) que defende as tecnologias como mediação ao saber fazer pedagógico; Pereira (1997) que mostra estratégias de como fazer leituras através de imagens, e como também Duarte (2002) a qual enfatiza que um trabalho como TV, vídeo, câmeras, imagens em celulares desenvolve a competência para ver. A proposta do Festival Anima Arte São Vitor, foi a construção de um clipe musical em Stop Motion, onde no final das produções, seriam escolhidos um clipe vencedor de cada turma, por uma comissão julgadora, mais um clipe eleito através do público, apresentado em um blog. Limitou-se o número de 4 integrantes por grupo. A escolha da música ficou livre e também dos elementos para sua produção. Foram 33 vídeos produzidos entre as 3 turmas. Alguns registros fotográficos para a execução dos vídeos foram produzidos na escola, durante a disciplina de arte, outros em horário livre, janelas, da disciplina, houve mediação dos trabalhos também no turno contrário, pois atuo 40 horas na mesma escola, facilitando esta alternativa . Alguns alunos optaram por produzir seus registros fotográficos em casa e somente a edição foi feita na escola. Dois clipes foram executados na íntegra, em casa pelos grupos. Notou-se, neste caso, que os alunos já haviam uma familiaridade com softwares de edição e a sequência no tempo dos frames foi transcorrida conforme ritmo da música. Os grupos foram organizados por pastas das turmas (notebook da professora), e em cada pasta, novos semi grupos foram criados, onde as fotografias eram arquivadas para posterior edição. Conforme eram entregues, um processo de avaliação era feito, e em alguns casos mostrou-se necessário executar o registro novamente, com cuidados com enquadramento, iluminação e sequencia. A edição foi cuidadosamente organizada individualmente com os grupos, onde aprendiam 4
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a usar os recursos do editor movie maker. Neste momento eram convidados à refletir sobre os recursos existentes, ou sobre as possibilidades de dinamização de todo o processo. Em um outro arquivo físico, também foi anexado os direitos de imagem, aos grupos que dela optaram. A divulgação e premiação foi realizada em dois momentos: um no centro de Cultura Ordovás, na cidade de Caxias do Sul, e a outra, e dias depois, concomitantemente na escola e através do blog. Dia 5 de novembro, no primeiro momento, foi realizado um encontro para promover a divulgação, exibição e compartilhamento com as 3 turmas de oitava série. Neste momento, houve a escolha das melhores produções, avaliadas por uma comissão julgadora. Os 33 vídeos editados, foram apresentados na sala de cinema do centro de cultura para os 67 alunos, direção da escola, e comissão julgadora (diretora da escola, 3 professoras da escola São Vitor, 2 representantes da coordenação pedagógica da SMED de Caxias e a coordenadora do Centro Cultural Ordovás). No Centro de Cultura Ordovás, a ansiedade dos grupos era visível na apresentação e neste momento de apreciação coletiva, os alunos sentiam-se atores, produtores e editores de suas próprias histórias. Após a apresentação dos vídeos, a comissão julgadora divulgou ao grande grupo o resultado da votação, aos grupos que atingiram melhor pontuação nos critérios de qualidade técnica e estética das fotos, adequação ao tema proposto, originalidade e criatividade na abordagem do tema. Entre eles: vídeo 3 - Pais e Filhos, vídeo 17 - Você Escolhe seu Futuro e vídeo 24 - Xeque Mate. O resultado foi apreciado aos aplausos pelos alunos da Escola São Vitor. No segundo momento, os vídeos foram apresentados na escola em um espaço que chamamos de área coberta, preparada com cadeiras, datashow e caixa de som. Os vídeos foram apresentados às turmas da escola para os dois turnos, manhã e tarde. Uma segunda votação foi promovida neste momento através do blog criado especificamente para este projeto. Após a apresentação os alunos poderiam usar o laboratório de informática da escola e através do site do blog, fazer a sua escolha. Um novo vencedor seria escolhido através do júri popular e todos os alunos da escola foram convidados para votar no blog Anima Arte São Vitor, http://www.animaartesaovitor.blogspot.com.br , em um período de 15 dias para acontecer a votação. Campanhas envolvendo redes sociais foram usadas pelos alunos das 3 turmas, para divulgar e solicitar votos para suas produções. Nesta etapa o grupo vencedor foi o que produziu o vídeo nº 13Abadá Capoeira. Os vencedores, receberam como premio uma sessão de cinema no Shopping da cidade. O envolvimento dos alunos por meio das mídias sociais desempenhou um grande papel de socialização e divulgação de trabalhos. A educação na sociedade atual, não se restringe apenas em ensinar como usar estes aparatos tecnológicos, e sim, preparar alunos com habilidades e criticidade que permitam absorver facilmente esta fluência de informações, acompanhando e fazendo parte destas transformações de forma criativa, agindo com responsabilidade, ética e moral. O blog, como um software social, teve funções específicas neste projeto: de divulgar e socializar o trabalho dos alunos, e em outro momento captar seus anseios, dificuldades, descobertas, conquistas e perspectivas do trabalho para ações futuras, através de uma enquete realizada para os alunos
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responderem através do google docs. Para meu trabalho, o blog serviu como ferramenta interativa de auxílio e reflexão, e um importante repositório de informação e interpretação.
Resultados e Considerações Na análise e interpretação destes dados, produções e enquete, ficou claro que os grupos transpuseram suas vivências, subjetividades, gostos e sonhos através da escolha das músicas e produção dos vídeos. Na página do blog, foram mais de 5.000 votos. Todas as turmas da escola, entre educação infantil ao 9º ano, puderam assistir e participar da votação. Em 15 dias estipulados para conhecer o vencedor do júri popular, muitas campanhas foram vinculadas em redes sociais, promovida até por pais dos alunos participantes do projeto. A arte e o olhar dos alunos, e sua sensibilidade de interpretação de uma determinada música, estava sendo difundida, divulgada e apreciada por muitos. Temática como capoeira, amor, brincadeira de criança, sonhos de adolescentes, drogas, amizade, jogos, entre outros, foram evidenciados nos trabalhos de uma forma natural, mostrando em vídeos suas formas de sentir e ver o mundo que os rodeia. O resultado, os alunos relataram em entrevista para jornal Pioneiro da nossa cidade, durante uma campanha da RBS TV, Dever de Casa, sala de aula. A educação escolar precisa de uma perspectiva crítica para o uso das mídias (...) que proponha a produção criativa no próprio espaço escolar como construção de respostas sociais aos meios de comunicação de massa e que propicie modos de construção de visibilidade para as culturas locais e para as diferentes identidades socioculturais. (...). (OROFINO, 2005, p. 117).
Avaliação Vivenciar arte é possibilitar experiências significativas em apreciação e reflexão também nas elaborações dos próprios alunos, privilegiando a aquisição de novos conceitos com as experiências , subsidiados por ferramentas e técnicas em novas práticas. Desta forma, foi possível perceber o papel construtivo de saberes do aluno durante todo o processo de desenvolvimento do projeto, refletindo ao longo de todo o percurso, procurando definir soluções e almejando bons resultados, viáveis aos objetivos do grupo. O desafio de construir e de transformar em vídeos suas vivências, fortalecidas pelos conhecimentos adquiridos durante o fazer criar, foram vencidos quando sentiram-se produtores e autores de suas produções, mostrando que compreenderam o processo de criação na linguagem fotográfica em seus vídeos em stop motion, realizando mudanças na produção, leitura fotográfica e reflexões interpretativas quando foram necessárias. O uso de ferramentas que são comuns do cotidiano do aluno, como o celular, favoreceu a mediação do professor e contribuiu à uma nova prática de aprendizagem. Os conteúdos específicos da disciplina foram integrados ao projeto e imergiram naturalmente e constantemente, fazendo o aluno
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refletir no trabalho de construção do vídeo do grupo, construindo também sua própria planificação pessoal. A avalição do projeto foi constante, e mesmo o resultado final dos vídeos ser bastante satisfatório, os grupos foram reflexivos à todo o processo de construção, deste os técnicos aos mais específicos da disciplina, fortalecida por debates em sala de aula e laboratório de informática. Educar na era digital é formar cidadãos digitais, responsáveis por suas atitudes, ações e postura adequada à nova sociedade, respeitando leis, inclusive as virtuais, informados sobre tecnologias, e preparados com problemas que podem surgir.
Referências bibliográficas: OROFINO, Maria Isabel, Mídias e mediação escolar: pedagogia dos meios, visibilidade, São Paulo: Cortez: Instituto Paulo Freire, 2005.
participação e
PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS, Ensino da arte, 1998. LIBÂNIO, José Carlos. Adeus professor, adeus professora. São Paulo: Cortez, 2001.
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