UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO “A VEZ DO MESTRE”
SIMBOLOGIA DAS MÁSCARAS NO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DE ALUNOS PORTADORES DE NECESSIDADES ESPECIAIS – SURDOS
Por: Mara Teresinha Rossatto
Prof.ª Maria da Conceição Maggioni Poppe Orientadora
Trabalho monográfico apresentado como requisito para a obtenção do Grau de Especialista em Arteterapia.
Caxias do Sul 2004
À aos
minha amiga e professora de Artes, Marlene Dalla‟Palma do Nascimento; e alunos
surdos
que
participaram
do
trabalho. Ao colégio Hellen Keller, em especial à Diretora Suzana Lenita Turella Tomé. A minha coordenadora Maria da Conceição Maggioni Poppe. E
a
todos
que,
direta
e
indiretamente,
contribuíram para a execução desta pesquisa.
D
edico este trabalho de pesquisa a todos aqueles que estão envolvidos nos ideais
da educação especial.
“O
consciente
humano
está
em
perpétua busca de uma linguagem e de um estilo. Ganhar consciência é,
ao mesmo tempo, ganhar forma. Mesmo em níveis muito baixos da zona de definição e clareza, existem formas, medidas e relações. A principal característica da mente é estar constantemente descrevendo a si mesma.” Henri Focillon
RESUMO
Trata da análise do conteúdo expresso na criação e realização de máscaras, com alunos portadores de necessidades especiais, surdos, do Colégio Hellen Keller. O âmbito deste estudo busca interligar subsídios teórico-práticos, facilitando o acesso profundo com o simbolismo, por meio de uma comunicação, de uma linguagem não-verbal, permitindo a expressão interna de conteúdos emocionais e imaginários.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 7 CAPÍTULO I CONTEXTO SOBRE A ARTE NA SAÚDE ....................................... 10 1.1 A arteterapia na educação .......................................................................... 12 CAPÍTULO II A MÁSCARA COMO MATERIAL EXPRESSIVO ............................ 15 2.1 Conceituando máscaras ............................................................................. 15 2.2 A máscara como facilitadora de significados simbólicos ............................. 19 CAPÍTULO III METODOLOGIA ............................................................................. 21 3.1 Tipologia e Local ......................................................................................... 21 3.2 População ................................................................................................... 21 3.3 Materiais e técnicas .................................................................................... 21 3.4 Materiais e técnicas utilizados..................................................................... 23 3.5 Metodologia................................................................................................. 23 3.6 Análise e interpretação das informações .................................................... 25 3.7 Descrição dos símbolos .............................................................................. 27 3.8 Uso das cores ............................................................................................. 29 3.9 Da cor em si e do significante ..................................................................... 31 CONCLUSÃO........................................................................................................ 34 BIBLIOGRAFIA ..................................................................................................... 36 ANEXOS ............................................................................................................... 39
INTRODUÇÃO
Os surdos, hoje, são considerados membros pertencentes a um grupo social peculiar, que se caracteriza por uma minoria lingüística e culturalmente diferente, e não deficiente. Neste sentido, a identidade surda se constrói dentro de um mundo visual, cuja língua é visual-espacial.
No passado, os surdos eram considerados incapazes de ser ensinados, por isso eles não freqüentavam escolas. As pessoas surdas, principalmente as que não falavam, eram excluídas da sociedade, sendo proibidas de casar, possuir ou herdar bens e viver como as demais pessoas. Assim, privadas de seus direitos básicos, ficavam com a própria sobrevivência comprometida.
Estudiosos como Vygotsky apontam a linguagem como fato importante para o desenvolvimento do intelecto, em especial do pensamento abstrato. No entanto, o surdo tem demonstrado que é capaz de ultrapassar os limites impostos pela sua deficiência, conquistando espaços na sociedade. “O plano de vida da pessoa humana se desenvolve e cresce, está determinado com a necessária objetividade pelos condicionamentos sociais, da mesma forma que o curso da corrente de um rio é determinado pelos condicionamentos que lhe impõem suas margens e seu leito” (VYGOTSKY, 1993).
O tratamento oferecido a pessoas surdas sempre esteve diretamente relacionado aos fatos que marcaram a história da humanidade, bem como aos valores e crenças mantidos pela comunidade.
Existem relatos de 1550 a.C. a respeito do tratamento de pessoas surdas no Egito, onde a grande ênfase era quanto aos aspectos legais e religiosos, porém nenhuma preocupação com a educação ou com pesquisas médicas. Por volta de 335 d.C., com a ascensão da Grécia e de Roma, começaram a aparecer importantes filósofos, como Aristóteles, que acreditavam
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que o pensamento era desenvolvido através da linguagem e a linguagem com a fala, assim, o surdo não pensava e, conseqüentemente, não poderia ser considerado humano.
Não existe nenhuma informação sobre tentativas de educação de pessoas surdas antes do século XVI. E, no período do Humanismo Renascentista, com o conceito do amor e da natureza pelo corpo humano e sua beleza, firmou-se o pensamento baseado no conceito da pessoa humana e da sua superioridade sobre as forças da natureza, que desta forma trouxeram algumas mudanças essenciais na vida de pessoas surdas (SILVA, 1998).
A medicina começou a ser marcada pelo estudo da anatomia, por um lado, valorizando o artístico e, por outro, favorecendo a livre consciência da crítica individual.
No fim da década de 1960, a Língua de Sinais voltou a ser considerada importante, depois de ser desvalorizada por muito tempo. “A voz dos surdos são as mãos, e os corpos pensam, sonham e expressam. A Língua de Sinais envolve movimentos que podem parecer sem sentidos para muitos, mas que significa a possibilidade de organizar idéias, estruturar o pensamento e manifestar o significado da vida dos surdos. Pensar sobre a surdez requer penetrar no mundo dos surdos e „ouvir‟ as mãos que com alguns movimentos nos diz o que fazer para tornar possível o contato entre os mundos envolvidos” (QUADROS, 1995, p. 39).
Grande parte do processo de aprendizagem do aluno surdo é visual. Por isso, a visão é a ferramenta de trabalho que lhes confere competência intelectiva na expressão do pensamento.
Assim, o pensamento da pessoa surda é dependente das imagens não só para expressar, mas para existir. Esta habilidade visual intensa que o surdo dispõe para desenvolver seu pensamento parece sustentar os aspectos formais da linguagem plástica.
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A arteterapia auxilia neste processo de criação plástica, oferecendo inúmeros materiais para que o indivíduo sinta-se livre na escolha daquele que mais lhe for apropriado. Baseando-se na integração da criação de imagens, do processo criativo da arte e da relação com a obra criadora. Este meio facilita o auto-conhecimento, a solução de conflitos emocionais e o desenvolvimento humano harmonioso.
No trabalho terapêutico com alunos surdos, a máscara pode ser particularmente interessante na reflexão e no confronto do indivíduo consigo mesmo, facilitadora da expressão interna e forma representativa de autoconhecimento e autotransformação. Este trabalho visa aprofundar o “fazer arte” como beneficiadora do processo terapêutico, aprofundar o estudo sobre a máscara como recurso expressivo,
analisando
reações,
simbologias,
despertados diante do trabalho exposto.
reflexões
e
sentimentos
CAPÍTULO I CONTEXTO SOBRE A ARTE NA SAÚDE
Há registros do emprego da Arte, como meio de tratamento e cura, desde o século 5 a.C., na Grécia. Desde as mais remotas épocas, as expressões artísticas correspondem à expressão psíquica da comunidade e, particularmente, de cada indivíduo. A arte tem uma função simbólica que retrata estruturas psíquicas internas do inconsciente pessoal e coletivo, permitindo ao homem expressar e, ao mesmo tempo, assimilar os significados atribuídos à sua vida na busca do equilíbrio constante.
Jung, na década de 20, usou a arte como parte do tratamento de seus clientes. Ele considerava o material artístico, a representação das imagens e os sonhos como uma simbolização do inconsciente individual e coletivo. Criou o conceito de arquétipo, estudando e observando símbolos de diversas culturas e juntando com aspectos similares.
Jung considerava a criatividade uma função psíquica e natural da mente humana, com a função estruturante do pensamento, processo que se valoriza por intermédio de símbolos presentes no conteúdo onírico (sonhos), nas fantasias e nas diferentes expressões da arte.
Para Freud, a criação artística é um produto de uma função psíquica denominada sublimação. A psicanálise estabelece conexões entre a libido e o impulso criador, este seria resultante de desejos sexuais e agressivos sublimados, pela canalização de parte da energia psíquica primária e instintiva
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para uma representação simbólica do objeto primeiro de satisfação. Desta forma, a arte passa a ter um valor como observação terapêutica, como possível uso de diagnóstico (ANDRADE, 2000, p. 51). “O processo arteterapêutico é, então, um trajeto marcado por símbolos, que assinalam e informam sobre os estágios da jornada da individualização de cada um. Por individualização entende-se a árdua tarefa de tornar-se um indivíduo (aquele que não se divide face às pressões externas) e que assim procura viver plenamente integrando seus talentos a suas feridas e faltas psíquicas. Trata-se de um processo preferencialmente e predominantemente não verbal” (PHILIPPINI, 1998, p. 7).
No contexto histórico, a arteterapia tem como maior representante a Dra. Nise da Silveira, que, nas décadas de 30 e 40, introduziu na prática psiquiátrica, trabalhos em arte como pinturas livres e espontâneas, como prova, forma de tratamento. “Paralelamente, pedagogos e inovadores encorajaram a expressão criadora na criança, praticando os métodos de pedagogia viva. Entre eles, citamos Decroly, Freinet, Montessori, Pudolf Steiner” (PAIN; JARREAU, 1996, p. 13).
Para ela, através da pintura torna-se possível a reconquista do espaço do doente mental, reconstruindo sua realidade, documentada através de imagens e símbolos.
A arteterapia é o caminho que auxilia o ser humano a explorar, descobrir e entender suas idéias e sentimentos, favorecendo sua auto-estima, reduzindo ansiedades e melhorando a qualidade de vida. Aumenta, também, a espontaneidade e melhora a comunicação consigo mesmo e com o outro. “Portanto, o convite ao trabalho com arteterapia é um convite à individualização porque supõe o risco de poder expressar-se, ir contra as regras vigentes, aos modelos idealizados, a tradição, os costumes, a conformidade. Implica em poder ousar, ver-se experimentar-se, soltar-se, sair de estados confortáveis, confiáveis, seguros e estagnados, para outros lados escuros, ainda não conhecidos de si mesmo. Dando ao usuário a chance de romper com a ilusão de perfeição e de superioridade tão nefasta à criatividade e à integração psicológica” (URRUTIGARAY, 2003, p. 72/73).
Segundo Philippini (1995), a arte como ferramenta terapêutica, no Brasil, é vista por segmentos mais conservadores com reservas. Dentro do
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universo
Junguiano,
ela
sempre
esteve
presente
entre
as
estratégias
terapêuticas, mostrando-se eficaz na amplificação dos conteúdos simbólicos presentes no universo imagético singular de cada paciente. Segundo Jung, o inconsciente pessoal corresponde às camadas mais superficiais, e o inconsciente coletivo se refere às camadas mais profundas deste universo, sendo estruturas psíquicas comuns a todos os homens.
Do centro de toda a personalidade emana todo o potencial energético de que a psique dispõe. É o ordenador dos processos psíquicos. O self é o arquétipo da ordem, da organização e da unificação, atrai a si e harmoniza os demais arquétipos e suas atuações nos complexos e na consciência, une a personalidade, deferindo senso de unidade e firmeza.
1.1 A arteterapia na educação
Não só na área clínica ou psicoterápica a arteterapia é praticada. No campo pedagógico existe um grande campo para a sua aplicação. “Se a arte possibilita o desabrochar do imaginário, a partir da idéia de ser a origem do pensamento ou da idéia, cabe ao sistema educativo expandir o desenvolvimento deste sistema simbólico, através de práticas expressivas que possibilitem a integração do aprendizado emocional ao aprendizado de conhecimentos e informações adquiridas da cultura humana” (URRUTIGARRAY, 2003, p. 38).
Vygotsky (1999) entende a arte como algo real e complexo, como conhecimento emotivo do mundo. Segundo ele, “a arte é a mais importante concentração de todos os processos biológicos e sociais do indivíduo na sociedade, é um meio de equilibrar o homem com o mundo nos momentos mais críticos e responsáveis da vida”.
Sob a influência da psicanálise, educadores como Karl Groos, Piaget, Karl e Charlotte Bühler, Melanie Klein, Susan Isaacs, Margaret Lowenfeld, Luquet e outros, reconhecem a arte como fator fundamental no crescimento e desenvolvimento da criança em seus estudos.
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Segundo Luquet (apud PERONDI; TRONCA, D. S.; TRONCA, F. Z., 2001, p. 175), “[...] o desenho não é, de maneira alguma, um substituto do objeto correspondente, de menos valor e que seria inútil na presença deste objeto, e sim a obra da criança, produto e manifestação de sua atividade criadora [...]”.
Já Schiller (1991) diz que essa forma de educação tem por objetivo mediar razão e sentimento. Essa mediação consiste em dar aos sentimentos uma forma para que participem da razão, despojados de seu caráter abstrato. A fusão do racional com o sensível, segundo esse autor, resulta no que se chama a verdadeira realidade. “A arte estimula diretamente os sentidos, é possível explicar esse estímulo em termos da física e da psicologia, e como estas ciências são universais poderíamos esperar que as propriedades formais da arte não variem de país para país, ou de época para época” (READ, 2001).
Para Fusari e Ferraz (1992), a diversidade de atitudes estéticas do ser humano frente à realidade é tão multifacetária quanto são variados os fatores sociais e culturais. Nesse contexto, é evidente a abrangência da educação estética e a importância dessa forma de conhecimento para uma melhor compreensão dos fenômenos culturais e sociais que envolvem o ser humano. “Torna-se produtivo e criativo, como resultado desta aprendizagem, demanda ações educativas transcendentes ou simples movimento de processar informações, ou de relembrar situações guardadas na memória. Ser criativo implica em elaborar, construir novas estratégias frente a situações desconhecidas, desafiar o receio frente ao diferente, possibilitar e efetuar modernizações nas relações estabelecidas entre o sujeito e seu ambiente” (URRUTIGARAY, 2003, p. 39).
Cabe aos educadores criar momentos de vivências com os materiais expressos, estimulando com o simbólico, com as emoções, descobrindo sua própria identidade e trabalhando uma diversidade de noções conceituais de forma concreta.
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O conhecimento é adquirido pelo constante processo de construção e reconstrução, onde arte e arteterapia elaboram juntas pensamentos, expressam sentimentos e constroem conhecimentos.
CAPÍTULO II A MÁSCARA COMO MATERIAL EXPRESSIVO
2.1 Conceituando máscaras
Entre os inúmeros materiais usados em arteterapia, o relevante trabalho mostra a relação entre a confecção das máscaras e sua produção simbólica, como caminho para ajudar o indivíduo a reconstruir a si mesmo, possibilitando uma comunicação por meio de uma linguagem não verbal, que permite a expressão interna de conteúdos emocionais e imaginários.
Os mais antigos documentos deixados pelo homem, como por exemplo, as são gravuras e pinturas rupestres da Idade da Pedra, já mostravam cenas representando caçadores mascarados com cabeças de
animais.
Presumível que recorressem a uma representação mágica, para fluir sobre o êxito da caça.
Conforme Monti (1992, p. 9/10) no plano psicológico, “a origem da máscara deve ser buscada na inspiração mais atávica do ser humano de evadir-se de si mesmo, para poder se enriquecer com a experiência de existências diferentes – desejo obviamente irrealizável no plano natural – e para poder aumentar seu próprio poderio, identificando-se com as forças universais, sejam elas divinas, sejam demoníacas. Portanto, um desejo de sair das limitações propriamente humanas de indivíduos realizados em formas definidas e inelutáveis, encerradas num ciclo de nascimento e morte que não deixa possibilidade alguma de aventuras existenciais conscientemente escolhidas”.
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Historicamente, a máscara é um adereço cênico iniciado no teatro grego. As máscaras da tragédia e da comédia nasceram do mesmo culto dionisíaco.
No Egito, as máscaras eram usadas em sacrifícios cerimoniais. As múmias eram mascaradas com máscaras adornadas com pedras preciosas e ouro.
As máscaras de esquimós mostravam a dualidade existente, forma humana ou animal.
Entre todas as culturas, o mascarado poderá ser também um homem espírito, benéfico ou maligno, homem animal, homem divindade, tornando-se uma possibilidade real de existir de outra maneira. Decorrem daí a reverência e o temor ao poder transfigurador que a máscara incute, depositária das capacidades de metamorfose do indivíduo. A auto-sugestão inconsciente do homem que a usa é a virtude secreta que a máscara guarda. Psicologicamente, o mascarado não é uma pessoa autêntica, pois deseja ocultar-se na máscara para dar expansão aos seus atos, que de forma aberta não teria condições de os realizar. A pessoa que a usa passa a ser uma pessoa falsa que deseja esconder sua verdadeira identidade.
Para Jung, persona é a máscara ou fachada aparente do indivíduo exibida de maneira a facilitar a comunicação com seu mundo externo, com a sociedade onde vive e de acordo com os papéis dele exigidos. A persona serve também como proteção contra nossas características internas, as quais achamos que desabonam e queremos esconder. “O sujeito ao se sujeitar às convenções culturais pode fazer com que uma determinada máscara, ou roupagem social aceita, adquira a condição de representar sua subjetividade, em menosprezo de si em outras possibilidades. Esta persona aparecendo em diferentes situações daquela criada originalmente acaba por ser confundida com o próprio sujeito, acarretando numa cisão psíquica por identificar um modelo de adaptação, um comportamento, com toda totalidade ou pessoalidade” (URRUTIGARAY, 2003, p. 52).
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A máscara, dentro das modalidades de arte, está freqüentemente associada ao teatro e à dramatização, seguindo seus princípios básicos, eis que amplia conceitos, exagera fatos, amplia a vida, mostra algo além do que aparenta (AMARAL apud VALLADARES, 2001, p. 7). Na contemporaneidade, o homem se obriga a usar máscaras “virtuais” no seu dia-a-dia, conforme Cuschnir e Mardegan Júnior (2001), desde a infância o homem aprende que não pode mostrar-se na sua amplitude, deve esconder determinadas emoções, comportar-se de determinadas maneiras para provar que é adequado, homem e “vencedor”.
Dar-se conta das diferentes personas que vestimos, isto é, estar consciente das máscaras que servem ao ego em exercício de (re) velar-se aos outros, é fase preliminar e imprescindível de todo e qualquer processo de autoconhecimento,
a
que
Jung chama
de individualização.
Isto
para
que
estabeleçamos aparências que nem sempre correspondem àquilo que somos essencialmente.
Sob o prisma da psicologia Junguiana, a persona encarna a metáfora da fixidez da máscara do ator que, no transcorrer de sua recitação, desenvolve o papel que lhe cabe, procurando fazer coincidir as qualidades de seu personagem com a modalidade plástica do seu rosto. Desse modo, tornar-se consciente da própria persona ou de seus aspectos mais relevantes, é perceber aquilo que “já somos” no mundo, posto que a persona traz elementos fortes de caráter que nos são dados desde as primeiras experiências de vida e que se cristalizam sobre o ego ao longo de todo um complexo processo de desenvolvimento da personalidade. O caminho da individualização pressupõe que nossas máscaras sejam paulatinamente experimentadas, assimiladas, reconhecidas e retiradas e compreendidas pelo ego.
O ego é a maneira que a consciência tem de tomar conhecimento do self e sem este conhecimento não haverá integração de conteúdos inconscientes, nem tão pouco individuação como uma “expansão da consciência”.
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Para Jung, o ego é um complexo “o complexo do ego”. É um dado complexo formado primeiramente por uma percepção geral de nosso corpo e existência e, a seguir, pelos registros de nossa memória, se impondo como centro da consciência e atrai para si os demais conteúdos conscientes, visando a totalidade.
O inconsciente é formado pelo coletivo e individual. No inconsciente coletivo encontram-se os conteúdos arquétipos universais e os instintos, e esse tipo de inconsciente é resultante das experiências da humanidade na psique coletiva pela hereditariedade. O inconsciente pessoal é formado pelas experiências reprimidas, ou não, da história da pessoa, desde seu nascimento. Pode ser expressada através de imagens plásticas e até mesmo por sonhos e fantasias.
Os arquétipos correspondem às imagens primordiais ou padrões universais profundos da psique humana. “São, os arquétipos, expressões de padrões reais e impessoais de ideação, sentimento e comportamento, contendo por este último, uma expressão empírica propriamente dita, já que se encontra vinculado a uma situação contextual do sujeito. Mas como possui também uma outra dimensão possível ou virtual, por ser ideal, torna-se mais difícil de ser identificada. Sendo, portanto, sistemas de prontidão para a ação ao mesmo tempo em que são imagens, como impressões de emoções e impulsos conjugados, fusionados” (URRUTIGARAY, 2003, p. 34).
As produções simbólicas revelam uma psique em múltiplos estágios, ativando a comunicação entre inconsciente, elementos que estavam ocultos e ego, com dimensões mais acessíveis de serem compreendidas. Processo este que auxilia a compreensão e resolução de estados afetivos conflituados, apoiados na estruturação da personalidade, através da criação. Processo que resulta na formação de símbolos psíquicos, até antes desconhecidos.
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2.2 A máscara como facilitadora de significados simbólicos
No trabalho terapêutico com surdos, a máscara pode ser usada como recurso expressivo, transformando suas produções em palavras, reveladora de conflitos emocionais e auto-conhecimento.
A pessoa surda utiliza a comunicação espaço-visual como principal meio de conhecer o mundo em substituição à audição e à fala. A arteterapia, através da percepção, favorece esta conexão entre a visualização do sentido na imagem produzida, com as sensações pertinentes ao uso dos diferentes materiais e a descoberta das emoções sentidas no desfrute do trabalho concluído. “A deficiência não torna a criança um ser que tem possibilidades a menos; ela tem possibilidades diferentes. Dessa perspectiva, a deficiência não deve ser concebida como falta ou fraqueza, já que o indivíduo pode encontrar a partir de relações sociais, outras formas de desenvolvimento com base em recursos distintos daqueles tipicamente acessíveis na cultura. Por isso, o diagnóstico e o planejamento educacional devem orientar-se para os pontos fortes da criança, e não para a falta. Na mesma linha, são feitas críticas às orientações educacionais „minimalistas‟, que não investem no processo do tornar-se humano. Restringem os esforços às capacidades elementares, sem mirar para a conquista de acesso a recursos semióticos e a formas efetivas de inserção em diferentes esferas de atividades” (GOES, 1996, p.35).
Através do uso de técnicas expressivas, criam-se recursos de inserção do surdo com o seu meio e com o seu interior, propiciando condições suficientemente boas para um desenvolvimento emocional que o capacite a expressar-se prezando sua própria linguagem e imagem. Compreende-se aqui que o pensamento deve ser conceitualizado, mas esta interpretação não se reduz à linguagem verbal.
Sobre isto Andrade (2000, p. 29) destaca: “A partir de uma função signa, a comunicação gradativamente vai adquirindo uma função simbólica, estruturada em uma linguagem articulada e outras expressões não verbais, que permitem revelar toda uma organização social e humana de cooperação entre os indivíduos.”
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“Na intervenção em arteterapia, a predominância é do não-verbal, isto é, a abordagem e as formas de intervenção destinam-se ao confronto com conteúdos inerentes a processos psíquicos primários e pré-verbais (que não passam pelo crivo da consciência). Utiliza-se a palavra durante o desenrolar dos processos expressivos, mas não de forma abusiva, pois ela poderá dificultar na psique. Após o término das atividades plásticas, a palavra poderá ser mais produtiva que o objetivo de melhor expor as experiências subjetivas, de maneira às vezes mais profunda. De qualquer forma, antes ou depois da palavra, com ou sem ela, o indivíduo já terá vivenciado dentro de si aquilo que efetivamente a arteterapia tem de mais benéfico e produtivo terapeuticamente, que é: expressar, configurar e materializar conflitos e afetos” (PHILIPPINI, 1998, p. 7).
A arteterapia vem no auxílio aos psicanalistas que já conhecem outros significados simbólicos de comunicação não verbal, como gestos, expressões faciais, tom de voz, reconhecerem através de criações, conflitos inconscientes sem ter que descrevê-los em palavras.
CAPÍTULO III METODOLOGIA
3.1 Tipologia e Local
Trata-se de um estudo descritivo, com enfoque exploratório, realizado na Escola Municipal Hellen Keller, na cidade de Caxias do Sul, no período de dois meses (agosto/setembro), uma vez por semana, no horário da aula de artes, duas horas por dia. Neste estudo, destacou-se a importância no processo de construção das máscaras como auxiliadora no auto-conhecimento.
3.2 População
Os colaboradores foram 5 alunos da turma da 7ª série, com idade entre 14 e 19 anos, alunos especiais, surdos, sendo um aluno anacúsico e os outros quatro com surdez profunda. A participação da professora de artes foi essencial para a troca de informações.
3.3 Materiais e técnicas “A arteterapia é uma modalidade terapêutica que utiliza a arte, em todas as suas manifestações expressivas, para que o indivíduo expresse suas imagens internas e inconscientes na sua experiência artística” (PAIN; JARREAU, 1996).
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Cada modalidade expressiva tem propriedades terapêuticas inerentes e específicas, e cabe ao arteterapeuta construir o momento terapêutico ideal para utilizá-los, de acordo com o quadro clínico e população.
Neste processo, pode-se adotar uma multiplicidade de modalidades ou apenas uma, podendo ser intensificadora na medida que o paciente conseguir expressar-se com mais facilidade.
Entre as modalidades expressivas mais utilizadas, encontram-se: a) Desenho – técnica presente na história da humanidade desde os remotos tempos da pré-história. Concretiza alguns pensamentos, exercita a memória, objetiva a forma, a precisão, o desenvolvimento da atenção e da concentração, da coordenação iso-motora e espacial. Está relacionado ao movimento e ao reconhecimento do objeto. Pode ser feito com lápis, carvão, giz de cera, nanquim, pincel, folhas de árvores, pastel seco, etc. b) Pintura – a fluidez da tinta e a expressão do movimento têm função libertadora, induzindo a expansão e trabalhando o relaxamento dos mecanismos defensivos e de controle. Expressa emoção, sentimento, sensibilidade, evoca o gesto e a intuição. Pode ser feito com tinta acrílica, tinta óleo, aquarela, pigmentos, carvão, anilina, purpurina, etc. c) Modelagem – trabalho baseado na construção tridimensional, sendo uma atividade especialmente sensorial. Trabalha-se nesta modalidade expressiva com tecidos, argila, papel-machê, gesso, massa caseira, etc. d) Construção – atividade de organização tridimensional que requer níveis melhor elaborados que os das atividades bidimensionais. Utiliza-se madeira, tecidos, papéis e sucatas em geral. e) Dramatização – facilita o próprio paciente de incorporar seu personagem, permitindo projetar conteúdos conflitivos, organizá-los e reorganizá-
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los. Tem função emocional e cognitiva. Os tipos de dramatização encontrados são: marionetes, fantoches, bonecos, máscaras, origamis. f) Colagem e recorte – trabalho que favorece a organização de estruturas através da junção e articulação de formas já existentes. Utilizam-se revistas, jornais, caixas, tecidos, fitas, fibras.
3.4 Materiais e técnicas utilizados
Como recurso, foi utilizada inicialmente a exposição de lâminas que retratavam “máscaras”, objetivando a importância da imagem na vida do surdo.
Os materiais de construção empregados na confecção das máscaras foram variados. Utilizou-se argila, gesso, jornal, cola, tintas, purpurinas, fitas, etc.
3.5 Metodologia
O trabalho foi realizado com 4 dinâmicas diferentes:
Dinâmica 1: apresentação das lâminas retratando significados representativos das mesmas (Anexo A). “Há um permanente intercâmbio entre imagens, pré-símbolos, símbolos propriamente ditos, regidos por motivações efetivas associadas a percepções imediatas ou à distância. Toda a estimulação do ambiente externo ou interno seria constantemente integrada, entendida nessa esfera de conceituação inconsciente ou conscientemente” (ANDRADE, 2000, p.32).
Dinâmica 2: criação de molde através da argila.
A argila tem sido utilizada por vários terapeutas, arteterapeutas, terapeutas ocupacionais e outros, como método terapêutico.
24 “Precisamente porque a argila é um suporte de nossos afetos, é interessante analisar as diferentes atitudes suscetíveis de se desenvolverem frente a ela, assim como os diferentes modos de aproximação que se pode propor em um ateliê terapêutico” (PAIN; JARREAU, 1996, p. 10). “A experiência com a argila provoca o emergir de emoções, sendo recipiente de projeções para experiências com o mundo circundante, favorecedora de descargas emocionais, atuando, incluso, como produtora de efeitos calmantes. Como o trabalho pode ser feito e refeito, a argila também promove o desenvolvimento da autoconfiança a quem a pratica” (URRUTIGARAY, 2003, p. 64).
Através da modelagem da argila, existe a possibilidade de expressão, de fazer concreto o que está intrinsecamente no mundo interno de cada um. Com o manuseamento da argila, abre-se um caminho com o inconsciente e a imaginação.
Psicólogos como Sara Pain e Violet Oaklander utilizam a argila como meio de expressão de fantasias e sentimentos. “A argila aproxima as pessoas e seus sentimentos. Talvez por causa da sua fluidez, ocorre a união entre o meio e a pessoa que usa” (OAKLANDER, 1980, p. 85).
Gouvêa (1996, p. 56) diz que “ao tentar como analista encontrar uma massa imaginária, apta a receber a forma de minha própria matéria em ação e paixão, uma massa que fosse o ventre, o seio, o útero, a água, o mercúrio, o princípio de assimilação e o princípio de unidade radical da vida, percebi que a terra úmida do inconsciente e da imaginação conscientizante da matéria, as operações manuais induziram a imagem do homem feito de barro e retornando ao barro”.
Funcionando como objeto intermediário, a argila ajuda na liberação das emoções através da expressão das sensações táteis, auxiliando o vínculo terapêutico. E, na medida que este trabalho evolui, maiores serão as possibilidades de percepção e auto-conhecimento, propiciando uma liberação de emoções transformando-as em imagens concretas.
Com estas propriedades oferecidas pela argila, os moldes foram construídos evidenciando particularidades específicas de cada aluno (Anexo B).
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Dinâmica 3: com o negativo pronto, foi obtido através do gesso o molde para a construção das máscaras, empregada a técnica de construção utilizando pequenos pedaços de jornal e cola.
Construção, segundo Ferreira (1986), vem do verbo construir, que significa: dar estrutura, edificar, fabricar, organizar, dispor, arquitetar, formar, conceber e elaborar.
A construção é uma das possibilidades expressivas em arteterapia. Conforme Reily (1986), ela parte de técnicas básicas das artes plásticas, como modelagem, recorte, colagem, desenho e outros materiais (Anexo C).
Dinâmica 4: retirada a máscara de jornal do negativo elaborado, foi feita a caracterização da máscara com temática livre. Utilizou-se tintas e materiais alternativos (Anexo D). “Ao utilizar-se de práticas artísticas como a pintura, a modelagem e muitas outras tendo funções terapêuticas, postula-se a capacidade da vida psíquica organizar-se a partir delas e naturalmente deixa-se de lado os aspectos estéticos e formais de julgamento da expressão enquanto „Arte Maios‟ ou não. O que importa de fato é propiciar aos indivíduos uma forma de dinamizar sua condição inata de organizar suas percepções, sentimentos e sensações, ou seja, os conteúdos internos de sua vida psíquica vertidos em imagens e símbolos” (ANDRADE, 2000, p. 35).
No mesmo molde, foi feita também uma máscara de tecido (Anexos E e F – máscaras prontas).
3.6 Análise e interpretação das informações
Na vivência de experiências internas, acredita-se que é possível criar condições de identificar suas próprias experiências subjetivas mais profundas.
Conforme destaca Philippini (2000, p. 19),
26 “o símbolo tem uma função integradora e reveladora do eixo de si mesmo, entre o que é desconhecido, inconsciente individual e coletivo e a consciência. O símbolo aglutina e corporifica a energia psíquica, permitindo ao indivíduo entrar em contato com níveis mais profundos e desconhecidos do seu próprio ser e crescer com estas descobertas. O símbolo constelado com a ajuda dos materiais expressivos dinamiza e facilita a estruturação e transformação dos estados emocionais que lhe deram origem”.
Jung vê nos produtos da função imaginativa do inconsciente autoretrato do que está acontecendo no espaço interno da psique, sem quaisquer disfarces ou véus. Na tentativa de penetrar no íntimo de seus doentes, Jung sugeria que eles pintassem o que eles criam dentro deles, pois o que importa é o indivíduo dar forma, mesmo que rudimentar: imagens carregadas de energia, desejos e impulsos (SILVEIRA, 1981, p. 85).
Segundo Jung, “as imagens simbólicas, com suas múltiplas faces, exprimem os processos psíquicos de modo mais preciso e muito mais claramente que o claro dos conceitos. O símbolo não só transmite a visualização dos processos psíquicos, mas também e isso é importante, a re-experiência destes processos” (apud SILVEIRA, 1981, p. 87).
As informações coletadas através das observações de campo, da produção simbólica, dos pareceres “expressos”, encontram-se organizadas a seguir.
Os símbolos prevalentes foram: olhos, boca, cruz e flor, nas cores vermelha, azul e amarela. As “palavras” predominantes foram: felicidade, tristeza, vergonha, silêncio, cansaço, brabo.
Aluno A Máscara 1 – “No passado, jovem, orgulhosa, alegre, bonita”. Máscara 2 – “Triste, chorando, igual água”. Máscara 3 – “Quando velha vai casar, já com filhos, velha, enrugada”.
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Aluno B Máscara 1 – “Feliz, Brasil campeão”. Máscara 2 – “Felicidade, gosto de flores, gosto de pegar flores no jardim”.
Aluno C Máscara 1 – “Felicidade, tristeza” (triste ao lembrar do filme Titanic)*. Máscara 2 – “Silêncio, cansado, manter silêncio”.
Aluno D Máscara 1 – “Brabo, assassino, igual a filme que viu na TV” (referindose ao filme Brinquedo Assassino). Máscara 2 – “Ficou feliz em fazê-la, conseguiu conversar mais”.
Aluno E Máscara 1 – “Parte superior (olhos) brabo, parte de baixo vergonha. Sinto vergonha quando preciso falar. Vergonha quando fazem alguma coisa errada. Gosto de pessoas educadas”. Máscara 2 – “Vergonha, muito braba, vermelha igual fogo, cansada”.
3.7 Descrição dos símbolos
Conforme Chevalier e Gheerbrant (1986), foram descritos os significados dos símbolos referidos: a) Elemento Olho – símbolo da percepção intelectual, do compreender e entender. O olho sugere a luz oculta na escuridão interior e pode revelar informações sobre a relação do ego com o arquétipo do self. O olho divino que tudo vê.
*
Utilizou a palavra “Titanic” e o símbolo (cruz).
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O olho também simboliza luz e espírito e abrange as noções de beleza, luz, mundo, universo, vida.
Tradicionalmente, o olho direito (sol) corresponde à atividade e ao futuro; o olho esquerdo (lua) à passividade e ao passado.
Em todas as tradições egípcias, o olho se revela como sendo de natureza solar e ígnea, fonte de luz, de conhecimento e fecundidade.
Na tradição maçônica, o olho simboliza, no plano físico, o sol visível de onde emanam a Vida e a Luz; no plano intermediário ou astral, o Verbo, o Logos, o Princípio Criador; no plano espiritual ou divino, o Grande Arquiteto do Universo. b) Elemento Boca – símbolo da força criadora. Simboliza também um grau elevado de consciência, uma capacidade organizadora através da razão. Força igualmente capaz de construir e destruir, de dar vida e de matar, de animar e confundir. Ponto de partida ou de convergência de duas direções, simboliza a origem das oposições, dos contrários e das ambigüidades.
Jung vê um elo sinestésico, uma relação profunda entre boca e fogo. Duas das características principais do homem são o uso da palavra e o uso do fogo. Ambas procedem de sua energia psíquica. c) Elemento Cruz – base de todos os símbolos de orientação. Nela se juntam o céu e a terra, se confundem o tempo e o espaço. Ela é o cordão umbilical, jamais cortado, do cosmo ligado ao centro original. De todos os símbolos, a cruz é o mais universal, o mais totalizante. Ela é o símbolo do intermediário, do mediador, daquele que é, por natureza, reunião permanente do universo e comunicação terra-céu. É a cruz que recorda, ordena e mede os espaços sagrados.
Na tradição cristã, o símbolo da cruz é condensado na imagem e história da salvação e paixão do Salvador. A cruz significa o Crucificado, o Cristo,
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o Salvador, o Verbo, a segunda pessoa da Santíssima Trindade. Símbolo da glória eterna, símbolo da totalidade do mundo, da ligadura central dos anos. d) Elemento Flor – símbolo do princípio passivo.
Na arte Ikebana, a flor é considerada o modelo do desenvolvimento da manifestação, do ciclo vital e de seu caráter efêmero.
Muitas vezes, a flor apresenta-se como figura-arquétipo da alma, como centro espiritual. Quando isso ocorre, seu significado se explica conforme suas cores que revelam a orientação das tendências psíquicas. e) Símbolo Bandeira – símbolo de proteção, concedida ou implorada. O portador de uma bandeira ou de um estandarte ergue-o acima de sua cabeça. De certo modo, lança apelo ao céu, cria um elo entre o alto e o baixo, o celeste e o terreno. “Muito embora na arteterapia a ênfase recaia na interação entre a constatação da intenção consciente e suas regras de composição com os conteúdos do material inconsciente, juntamente com as reações provocadas pelo uso dos materiais, o confronto entre as polaridades opostas (consciência e inconsciente) traz, pela forma criada, a possibilidade de integração entre ambas. Surgindo, assim, a partir do todo configurado, a temática afetiva oculta, porém, presente na mesma, que será interpretada pelo próprio cliente, através da análise de sua criação” (URRUTIGARAY, 2003, p. 139).
3.8 Uso das cores
A cor é o aspecto superficial da forma. Entretanto, a cor tem um papel muito importante a desempenhar, pois tem um efeito direto nos sentidos. “Fazer uso das cores em produções é facilitar a passagem da mensagem, feita através do canal do inconsciente à consciência, dos afetos reprimidos, esquecidos ou ainda imaturos para o alcance da mesma” (URRUTIGARAY, 2003, p. 114).
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Segundo Pain e Jarreau (2001), a cor está relacionada com a sensação, ela provoca a sensibilidade e a intuição, traduz a emoção e é a qualidade do objeto.
Segundo esses autores, as cores são fundamentais no processo de arteterapia, pois possuem um código subjetivo com ressonâncias e associações às experiências vividas. Assim, a constância das manifestações entre cores e os afetos, entre sensações de cores e as sensações produzidas por outros sentidos, como também entre o investimento dos objetos e a marca colorida permitem decifrar o subjetivo, sendo a cor o signo rico de significados embutidos, mensageiras de informações codificadas, prontas a ser decifradas.
Numa conotação arquitípica, as cores podem representar os elementos da natureza: Ar – amarelo, branco, azul Fogo – vermelho, laranja Água – verde, azul Terra – preto, castanho, marrom, verde
Em alquimia, o preto representa a matéria, o oculto, o pecado, a penitência; o branco representa a pureza, a inocência e a tranqüilidade; o vermelho representa a paixão, a força, o elemento de vida e morte; o azul representa os ideais, o que está longe.
No Cristianismo, o símbolo da fé e castidade é representado pelo branco; o Filho pelo azul; o amor, o Espírito Santo e a caridade são representados pelo vermelho; enquanto que a penitência é representada pelo preto.
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3.9 Da cor em si e do significante
Psicologia do amarelo
O amarelo pode despertar associações de imagens. A psicodinâmica do amarelo é fortemente determinada pela sua intensidade de luz.
Os elementos associativos do amarelo: o amarelo simboliza o ouro, motivo de excitação, o amarelo inspira bom-humor e alegria. A raiva, a ira, os impulsos em geral, enquanto são vida, podem ser sugeridos com o amarelo. Misturado com o preto, o amarelo se torna repulsivo, por causa de sua tonalidade verdosa e escura. Nestas condições se aproveita para indicar doença, desprezo, dificuldade, ruína, decadência.
Psicologia do azul
O azul não cansa e tende a tranqüilizar.
O associativo do azul: o azul do céu associa a serenidade, a meditação, a santidade, a perfeição, o infinito, a eternidade, a oração; o azul do mar (azul-marinho) associa-se com a vastidão, a profundeza, o mistério, o místico. A tranqüilidade do azul assemelha-se a diversas situações humanas e que, por isso, são associadas. Por este lado, o azul se associa com a felicidade (que é tranqüila). Na expressão “tudo azul” ocorre a associação de “tudo bem”, “tudo feliz”.
Psicologia do vermelho
Os elementos objetivos determinadores da psicologia do vermelho são particularmente a sua luminosidade e brilho. O vermelho é a cor certa quando se busca diretamente o efeito excitante e extraordinário.
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O associativo do vermelho: o vermelho do sangue, o vermelho da ação, o vermelho da luta, o vermelho do amor se associam entre si, e por isso fazem do vermelho um símbolo, que, nas bandeiras de batalhas, quer na cor símbolo da violenta dialética marxista e das esquerdas, quer na cor do anel do advogado que defende e acusa, quer nas representações de santos e anjos figurados a combater o diabo.
O vermelho, com que se pinta o coração, se deve à cor natural do coração, mas também à associação que o vermelho exerce com a paixão, o carinho e o amor, mesmo do coração materno.
Psicologia do verde
Funções psicológicas moderadoras.
A associatividade do verde: a circunstância que liga o verde à natureza lhe empresta um caráter evidentemente poético. Basta a visão do verde, para que ele prontamente estimule o surgir de mais imagens. Encontram-se na natureza as mais diversas modalidades de sugestões e que ingressam pela cor verde. Também a paz é sugerida pelo ramo verde no bico de uma pomba. Pelas condições psicológicas de que dispõe o verde, passou a se estabelecer como símbolo da esperança. Através deste simbolismo, sempre novas evocações e associatividades ingressam no visor da fantasia humana.
O azul e o verde são também consideradas cores calmantes e excitantes. São cores tranqüilizantes ou calmantes as que levam ao descanso.
O vermelho e o amarelo são também consideradas cores excitantes ou estimulantes. Essas cores são as que levam ao movimento e à ação.
Quanto aos referenciais simbólicos observados nas máscaras, houve uma predominância da representação facial nos dois modelos. Distingue-se também a máscara pintada em vermelho, na qual olhos e boca são cobertos pela
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cor. O contraste entre o azul escuro e o vermelho também é encontrado em outra máscara.
Conforme Scott (1989, p. 58), quando se escolhe o azul, há necessidade fisiológica de descanso, de repouso e de oportunidade para recuperação. O azul é o infinito da eternidade, representando a tradição e os valores duradouros, de modo que tende a perpetuar o passado. Segundo o mesmo autor e obra (1989, p. 62), o vermelho é a expressão da força vital, da atividade nervosa e glandular e, portanto, tem o significado do desejo e de todas as formas de apetite e ânsia insaciável. O vermelho é o impulso para obter resultados, atingir sucesso, é a avidez de desejar todas as coisas que oferecem vivência intensa e experiência plena.
CONCLUSÃO
Ante os aspectos descritos, pode-se considerar que no processo expressivo dos alunos surdos observou-se a projeção de si mesmos. A arte serviu como caminho para exteriorizar e interpretar suas experiências pessoais, fruto de memórias conscientes e inconscientes.
Através do trabalho com as máscaras, os alunos surdos expressaram, através de uma linguagem não verbal, seus conteúdos emocionais e imaginários, auxiliando no processo de auto-conhecimento e auto-transformação. O ato de criar e o produto de criação tornou possível esta conexão entre suas necessidades e seu mundo interior. “[...] As técnicas expressivas têm um enorme poder de intensificar a elaboração simbólica porque elas ativam a raiz arquitípica dos símbolos através da mobilização de dimensões pouco acessíveis à palavra [...] Também podem ser indicadas porque ampliam o contexto de elaboração simbólica além do contexto verbal” (SILVEIRA, 1981).
A análise simbólica das máscaras reforçou questões psicológicas características destas pessoas, portadoras de deficiência auditiva, que sentem vontade de se comunicar, de serem aceitas socialmente com seus sonhos, fantasias e desejos. A análise mostrou que, através do recurso arteterapêutico, torna-se possível o surgimento de símbolos, permite que o surdo exprima sua linguagem própria, codifique signos e transforme em “fala” sua comunicação visual.
No processo terapêutico, a máscara mostra que possui um aspecto desmascarante, de caráter expressivo e energético bastante intenso. A máscara é tida como uma projeção do self, uma possibilidade de confronto consigo mesmo.
Podemos considerar que este trabalho contribua para a diversificação e aprofundamento do trabalho arteterapêutico com a comunidade surda, uma vez que oferece dados analisáveis, expõe reflexões, sentimentos e emoções nos
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quais estão envolvidos. Contribuindo também no processo contínuo, oferecendo recursos que facilitassem a expressão de conteúdos internos. A arte mostrou ser o caminho para exteriorizar as expressões internas, possibilitando a comunicação dos alunos surdos através de símbolos expressados e configurados.
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ANEXOS
ANEXO A – Lâminas ANEXO B – Criação das máscaras com argila ANEXO C – Criação das máscaras com jornal ANEXO D – Caracterização das máscaras ANEXO E – Máscaras prontas
ANEXO A
ANEXO B
ANEXO C
ANEXO D
ANEXO E
FOLHA DE AVALIAÇÃO
Nome da Instituição:_________________________________________________ Título da Monografia: ________________________________________________ Autor: ____________________________________________________________ Data da Entrega: ___________________________________________________
Avaliado por: ______________________________________________________ Conceito: _________________________________________________________
Avaliado por: ______________________________________________________ Conceito: _________________________________________________________
Avaliado por: ______________________________________________________ Conceito: _________________________________________________________
Conceito Final: _____________________________________________________