O Mal estar na Cultura, a Contracultura e a Moda

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O MAL-ESTAR NA CULTURA, A CONTRACULTURA E A MODA Luana Friedemann e Marcelo Magalhães da Silva

Instituto Orbitato - Cultura e Contra Cultura na Era da Comunicação - Prof. Martin Cezar Feijó - Novembro de 2014


1. O MAL-ESTAR NA CULTURA Freud, em sua obra “O Mal estar na Cultura”, analisa a situação do ser humano em sua busca por felicidade e satisfação e o que conduz suas expectativas à frustração. O “mal-estar na cultura” trata de um mal-estar que sempre esteve no homem, mesmo que inconscientemente, e que faz com que se espere uma situação mais prazerosa do que a atual. Talvez uma ilusão de que há uma chance de ser melhor do que o agora, ou como se houvesse um resquício de um tempo que foi melhor e mais prazeroso. A busca por felicidade é colocada como eterno e necessário para que se tenha uma vida plena. Por outro lado, além da busca por prazer, para ter felicidade é necessário excluir o sofrimento, a tristeza e a dor. Essa busca de satisfação começa pelo suprimento das necessidades vitais, como comer, ter um abrigo e procriar. Hoje é necessário trabalhar para ter dinheiro e então pagar pelo suprimento dessas necessidades. A satisfação também se estende a suprir carências afetivas em busca de conquista do amor, viver em família e olhar o outro além de a si mesmo. Com a necessidade de ser feliz surge na sociedade um sentimento de insatisfação, uma frustração por não conseguir ser alegre o tempo inteiro. Essa frustração pode ser vivenciada e sentida, ou, como a maioria dos indivíduos, é possível se distrair. Atividades, passeios, artes, esportes, distrações em geral são algumas fontes diárias para suprir tais sentimentos. Outra maneira encontrada pelo homem foi o uso de drogas (entorpecentes, drogas, remédios, álcool, etc) já que dessa maneira o corpo experimente a sensação de prazer de maneira mais rápida. A cultura da sociedade humana é criada para oferecer a felicidade (conhecimento, hábitos, leis, moral, etc), mas percebe-se que transformaram-se os indivíduos em neuróticos, felicidade e prazer não é permitido, dessa forma é gerado sofrimento. É necessário renunciar a felicidade individual para conseguir conviver com as pessoas e dessa maneira ser feliz e aceito. Freud aborda a cultura que serve para inibir a libido, influenciada pela religião, com leis morais e impedimentos do prazer através das relações sexuais. O indivíduo teve que se adequar às normas civilizatórias. E essa tentativa de controle de libido gerou maior insatisfação, medo e frustrações. A religião tem grande influência na cultura ao estabelecer quais caminhos devem ser seguidos para ter uma vida plena. Através de obrigações e leis que impedem que o homem deseje a satisfação e o prazer (felicidade), oferecem como recompensa a certeza de que a escolha o levará à uma morte (ou pós-vida) de libertação e paz. Através da influência nas artes, literaturas e outros, a religião apresentou à sociedade o sentimento de temer à morte e se utiliza

disso para guiar o homem à um caminho seguro. Para Freud, o que estabelece a finalidade da vida é a busca incessante pela satisfação de prazeres. Esse princípio comanda o funcionamento do aparelho psíquico desde o início da vida. Não há dúvida de sua afirmação, porém a cultura da sociedade humana colocou impedimentos entre o homem e a felicidade.

“Enfim, de que nos vale uma vida longa quando ela se revela estéril em alegrias, e tão cheia de desgraças que só a morte é por nós recebida como libertação” Freud aborda que as possibilidades de felicidade já são limitadas pela nossa constituição, e que são muito menores os obstáculos para experimentar a infelicidade. O nosso próprio corpo, que está, inquestionavelmente, destinado à velhice e à dissolução é vulnerável e utiliza-se da dor e do medo como sinais de alarme. Portanto, no momento atual da cultura em que há uma adoração por um tipo de corpo idealizado, é inevitável a frustração e com isso doenças psíquicas e fisiológicas. Há uma grande parcela da sociedade insatisfeitas com seu corpo e que sofrem por isso. O mundo externo também tem ação sobre o ser humano e a natureza age com forças podendo ferir, destruir e modificar o meio ambiente em volta ao indivíduo, além da possibilidade de dar fim à vida. Contra o temido mundo externo não é possível defender-se senão por alguma espécie de afastamento ao esconder-se. Outra solução da comunidade humana, foi passar a atacar a natureza e submetê-la à vontade humana com a ajuda da técnica guiada pela ciência. Isso através de intervenção, exploração e construção. Além de necessidades básicas, a sociedade estabeleceu a cultura do amor. Deve-se amar e ser amado. Aí também foi incluída uma séria de impedimentos


morais, como a monogamia, a castidade, a homofobia, etc. O principal obstáculo à satisfação e felicidade são as relações com outros indivíduos, onde o sofrimento é sentido mais doloroso que qualquer outro. A ação humana é imprevisível, cada um age de acordo com a necessidade e de acordo com a vontade de também satisfazer-se. As pessoas não conseguem se proteger da dor do amor, do sofrimento que é gerado quando se ama alguém. Freud diz que “jamais nos tornamos tão desamparadamente infelizes do que quando perdemos o objeto amado ou o seu amor.” Essa dor de amor refere-se ao amor romântico, do casal onde um deseja ou deixa o outro, onde há o medo de perder, o medo de ser excluído e a angústia de não ver a pessoa amada. A família também gera um amor e dependência de seus integrantes que fazem com que o individuo se emocione durante toda a vida. O homem adotou o hábito de formar famílias, supostamente pela necessidade de satisfação genital, onde o macho teve motivo para “apossar-se” de sua mulher, como objeto sexual. Outro fator seria a mão de obra, onde mulher e filhos podem ajudar o homem a conseguir abrigo e alimento. Necessidades básicas de sobrevivência. A experiência do amor sexual proporcionou ao humano as mais intensas satisfações, de lhe dar verdadeiramente o modelo para toda felicidade, porém a dependência do outro e a obediência à moral o expõe ao sofrimento mais uma vez.

“somos feitos de tal modo que apenas podemos gozar intensamente o contraste e somente muito pouco o estado.” A busca de satisfazer todas as necessidade é colocado como modo de vida, onde é necessário correr atrás dos sonhos, trabalhar e viver de acordo com as normas morais correntes. Isso se opõe e é quase insustentável ao tentar suprir a satisfação de prazer, comer, amar e ser feliz. No atual consumismo os

prazeres de comprar, ter, possuir são impulsionados pela satisfação do sentimento de status e aproveitando-se disso a mídia e as empresas colocam ofertas de inúmeros produtos que devem ser mais uma necessidade. Juntando isso às regras morais e à religião, conquistar a felicidade fica a cada dia mais distante e gera mais um ciclo de suprir necessidades e insatisfação.

2. CONTRACULTURA Contracultura foram movimentos que aconteceram a partir da metade do século XX, após a 2ª guerra mundial, e foram principalmente empurrados por jovens que queriam mudanças e manifestaram isso através de literatura, música, arte, modo de se vestir, de falar e de agir. Como características principais dos movimentos da Contracultura temos: valorização da natureza e de uma vida mais natural, luta por direitos e pela paz, respeito às minorias, anti-consumismo, experiências com drogas e aproximação às religiões orientais.

Beatniks Conhecidos como a Beat Generation, foi um dos primeiros movimentos da contra cultura. Os beatniks eram jovens intelectuais sendo geralmente artistas e escritores que não eram a favor do consumismo e contestavam o otimismo pós guerra americano, o anticomunismo e a falta de pensamento critico da sociedade da época. A característica mais importante foi o inconformismo com a realidade do começo da década de 1960. Os líderes do movimento beatnik, que serviu de base para o movimento hippie, foram Jack Kerouac, Allen Ginsberg e William Burroughs. Apesar das principais contribuiçoes desta geraçao terem se dado na literatura, onde subscreveram um estilo de vida antimaterialista, influenciaram também no jazz bop de Charlie Parker, ato de criaçao contínuo em improvisos no palco, e na pintura de Jackson Pollock, o expressionismo abstrato.

Movimento Hipster Hipster é uma palavra inglesa usada para descrever um grupo de pessoas com estilo próprio e que habitualmente inventa moda, determinando novas tendências alternativas. O termo deriva de “hip”, um adjetivo inglês usado desde a década de 1940 com o significado de “descolado” ou “inovador”, designando os jovens brancos e ricos que imitavam o estilo dos negros do jazz. A cultura hipster é marcada pela música independente, saudosismo recorrente, uma variada sensibilidade para a tendência non-mainstream (não comum, não recorrente) e estilos de vida alternativos. Os interesses referentes à


mídia por esse grupo incluem filmes independentes, revistas e websites notadamente relacionados à música alternativa. Os Hipsters iam contra ao consumo de cultura comercial de massa.

3. A CONTRACULTURA E A MODA

O Rock Nos anos 50 surge um estilo musical mais pesado, com guitarras elétricas e misturando influencias do jazz, blues, country entre outros. O rock não se manifestou só na música, mas como um novo jeito de se vestir, um novo corte de cabelo, um novo modo de dançar, alterou a maneira como os corpos eram vistos e consequentemente a sexualidade dos jovens.

A cultura da Maconha Nos anos 60 parte significativa da juventude deu-se a contestar o estilo de vida norte-americano. Cabelos, roupas, sexualidade, tudo mudou. E se fumava maconha. Maconha era como que um transporte à contracultura, uma erva mágica que abria a imaginação. Os jovens dos anos 60 e 70 viam a maconha como uma maneira de se rebelar do mundo monótono em que seus pais viviam. Ser maconheiro era um status de contracultura, era alguém se pulou o muro, ao mesmo tempo em que para a antiga geração ser maconheiro era ser marginal. Muitos artistas bastante influentes ao redor do mundo foram e são usuários de Cannabis. Nomes como Paul McCartney, John Lennon, David Bowie, Gilberto Gil, Rita Lee, David Gilmour, Bob Dylan, entre muitos outros. Aqui percebe-se o assunto que Freud abordou quanto as leis morais e sua influencia na frustração do homem. Apesar da CIA afirmar que a maconha era uma arma dos comunistas para acabar com a civilização jovem ocidental, a Maconha foi uma droga proibida não por fazer mal à saúde dos jovens, mas apenas por não ser bem vista moralmente.

Movimento Hippie O termo Hippie derivou da palavra hipster, e foi um movimento de contracultura que se iniciou nos EUA dos anos 60. Adotaram um modo de vida comunitário, tendendo a uma espécie de socialismo libertário, a um estilo de vida nômade e à vida em comunhão com a natureza. Negavam o nacionalismo e as Guerras. Abraçavam aspectos de religiões orientais como o budismo e o hinduísmo e das religiões das culturas nativas norte-americanas. Estavam em desacordo com valores tradicionais da classe média americana e das economias capitalistas. Enxergavam o patriarcalismo, o militarismo, o poder governamental, as corporações industriais, a massificação, o capitalismo, o autoritarismo e os valores sociais tradicionais como parte de uma instituição única sem legitimidade. O uso de drogas como maconha, haxixe, LSD, visando a “liberação da mente” eram comuns e foi influenciado pela literatura beat. O uso de maconha era vasto, e era exaltado também por sua natureza iconoclasta e ilícita.

Durante muito tempo a questão da moda viu-se atrelada à distinção de classes sociais. Com o movimento da contracultura inaugurou um estilo antimoda, opondo-se aos padrões da moda até aquele determinado momento, rompendo o ciclo de filhos usarem as roupas iguais às dos pais e rompendo os paradigmas da Alta Costura. Com a difusão do jeans e a explosão da moda hippie tudo começou a mudar. Houve uma redução das diferenças entre o vestuário de homens e mulheres, acompanhado também pelas mudanças nos cabelos e a partir da introdução do jeans, passou a assumir um conteúdo relacionado com a faixa etária de seus usuários: os jovens. O desejo da satisfação ilimitada e busca da felicidade fazem parte da nossa cultura. A contracultura e seus movimentos subsequentes influenciaram diretamente as roupas e corpo dos jovens.


Rock

Elvis Presley 1957

Calvin Klein 2014

Jaqueta de couro, coturno, camisetas de bandas, bandanas e jeans rasgado são algumas das características de quem se veste a rigor. O poder de influência dos grandes astros sobre as passarelas é proporcional a fama e prestígio junto ao público.


Hippie

Woodstock 1969

Etro s/s15 2014

O traje desse movimento era composto de calças jeans, pantalonas com boca de sino e, no lugar de camisas e blusas, ambos os sexos usavam batas indianas como apego às culturas distantes deste mundo massificado e corrompido pela guerra e pela sociedade de consumo. A estética hippie é também conhecida pelas estampas, cores e flores. Moços e moças usavam cabelos longos repartidos ao meio com ar angelical. Os sapatos e bolsas portavam um aspecto artesanal, próprio de culturas não industrializadas. Houve uma grande valorização dos adornos de origem folclórica.


Punk

Londres 1979

L’officiel 2011

Tenis, coturnos, correntes, corte de cabelo moicano ou cabelo um pouco espetado, bagunçado. A moda punk contrasta com a moda vigente e sempre apresenta elementos contestadores aos valores aceitos pela sociedade. Entre as características ideológicas podemos citar o anti-nazismo, o amor livre, a liberdade individual, o autodidatismo e o cosmopolismo.


Grunge

Kurt Cobain 1992

Gisele Bundchen 2013

A estética grunge é despojada em comparação a outras formas de rock, e muitos músicos grunge se destacaram por sua aparência desleixada e por rejeitarem a teatralidade em suas performances.


Referências Freud, Sigmund, O mal estar na Cultura, Porto Alegre, L&PM, 2010 http://filosofiacienciaevida.uol.com.br/ESFI/Edicoes/34/artigo133511-1.asp http://www.significados.com.br/hipster/ http://pt.wikipedia.org/wiki/Hipster Douglas Haddow (2008-07-29). “Hipster: The Dead End of Western Civilization”. Adbusters. Retrieved 2008-09-08. https://www.inesul.edu.br/revista/arquivos/arq-idvol_13_1305232527.pdf http://pt.wikipedia.org/wiki/Hippie http://www.portcom.intercom.org.br/pdfs/1311184250291878799997724038 70331419898.pdf http://nanabritomorais.jusbrasil.com.br/artigos/115405447/maconha http://contraculturabrasil.blogspot.com.br/ http://educaterra.terra.com.br/voltaire/mundo/guerra_vietna7.htm http://www.digestivocultural.com/jdborges/autoresnovos/rafaellimaelisandrogaertner.htm http://www.infoescola.com/literatura/movimento-beat/ http://www.brasilescola.com/sociologia/estilo-punk.htm http://www.ebah.com.br/content/ABAAAAecgAE/moda-contracultura-relacao-paradoxal1 http://jornalsociologico.blogspot.com.br/2009/05/contracultura-o-que-ecomo-se-faz.html http://www.fashionbubbles.com/historia-da-moda/a-musica-e-o-movimento-hippie-a-segunda-denticao-do-rock-tribos-urbanas/ http://www.pinterest.com/pin/220043131766263300/

Luana Friedemann e Marcelo Magalhães da Silva Instituto Orbitato - Cultura e Contra Cultura na Era da Comunicação - Prof. Martin Cezar Feijó - Novembro de 2014


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