memórias da nossa terra
António Reis Marques
Os Pregões O
s pregões constituíram uma espécie de anúncio oral, de origem muito antiga, que ficaram particularmente associados ao exercício do comércio ambulante. Ainda que, ao longo da história, se saiba do uso dos pregões ligados à proclamação, pelos arautos, das mensagens ou sentenças régias, à leitura de ordens, avisos ou notícias de autoridades eclesiásticas, judiciais, fiscais ou municipais, a verdade é que foi através do elogio cantarolado das mercadorias, que tinha efeitos persuasivos nos ouvidos do povo, que deixou mais funda recordação. Os pregões tiveram a sua justificação, a sua oportunidade, em épocas em que tudo se anunciava na praça pública, visto não existirem outros meios de publicidade. Do pouco que chegou até nós sobre os pregões ouvidos em Sesimbra, julgamos poder agrupá-los em quatro grupos diferentes, a saber: Os relativos às coisas oficiais transmitidas por edital; os que davam conhecimento dos objectos perdidos; os que eram ouvidos aos rapazes que vendiam peixe pelas ruas; e, por último, aqueles que englo-
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bavam a grande variedade de vendedores ambulantes. Quanto aos primeiros, sabe-se que as principais deliberações, as posturas e regulamentos municipais chegavam ao público por meio de editais, que eram afixados nos lugares mais concorridos. Mas porque eram poucas as pessoas que sabiam ler, para que todas tivessem conhecimento e não pudessem alegar ignorância, os editais eram primeiro apregoados junto ao pelourinho ou na portaria da Câmara e, depois, nas principais ruas e largos da vila. Relativamente aos segundos, o recurso ao pregão era então o principal meio para tentar a recuperação dos objectos perdidos. E aqui releva a figura do pre goeiro, o mais conceituado de todos não só pela sua voz mas também pela honestidade de que sempre dera provas. Era conhecido pela alcunha do “Caça Minas”, que lhe fôra dada em virtude de ter conseguido, desde muito novo, que fossem achados e entregues aos donos muitas coisas de valor, como relógios e objectos de ouro e prata. O pregão que usava, e terá
sido bem sucedido, era bem simples no seu enunciado. “Dão-se alvíssaras a quem achar e entregar um objecto