Capítulo I A Vitória no Campo de Batalha Escócia, 1540
No calor da batalha Tohran Cameron não sentiu que o homem com quem lutava tinha lhe acertado o braço direito, o braço que segurava Furor do Guerreiro, a espada que seu pai lhe deu no dia que se tornou um cavaleiro. Pelo corte fluía sangue incessantemente, encharcando assim sua blusa marrom de lã. Tohran somente abaixou sua espada quando seu adversário caiu morto aos seus pés. Ele olhou para o campo de batalha e viu homens escoceses e ingleses mortos depois daquela grande batalha. Olhou para as suas mãos e braços e viu seu sangue misturado com o sangue do inimigo. A guerra tinha terminado. Tohran sentiu em seu coração que aquela era a última batalha que travaria com os ingleses e que agora poderia ir para casa e cuidar do seu clã. Tinha cumprido sua palavra com o seu rei. Sua missão na fronteira da Escócia com a Inglaterra tinha começado três anos atrás, depois que seu pai morreu em uma luta com o clã Grant. Os Cameron e os Grant sempre foram inimigos, mas o clã Cameron de Corpach nunca teve um confronto direto com o clã Grant. Mas
desde que Lorde Cormag se casou com Lady Megan Campbell e ganhou as terras nos arredores de Strone como dote por seu casamento, as batalhas com os Grant começaram pela retomada dessas terras. Os Grant afirmavam que as terras lhes pertencia. Décadas atrás os Grant contraíram uma dívida com os Campbell e para pagá-la deu as terras em questão. Os chefes dos dois clãs fizeram um acordo, onde ficou combinado que os Grant teriam as terras de depois de pagar toda a dívida. Mas pouco antes da dívida ser quitada, o chefe do clã Campbell deu as terras como dote de casamento de uma de suas filhas a Lorde Cormag. Depois do casamento Lorde William, chefe do clã Grant, foi até Corpach e avisou sobre a dívida de seu pai e disse que faltava pouco para quitá-la. Mas Lorde Cormag, chefe do clã Cameron de Corpach, disse que ele não tinha nenhuma dívida com ele e que não lhe devolveria as terras, que agora elas pertenciam a ele. Desde então os dois clãs travavam batalhas constantemente por essas terras. A exatos três anos atrás, durante uma dessas batalhas, Lorde William matou Lorde Cormag. Sir Tohran, na época com seus 22 anos, furioso com a morte de seu pai e depois de se tornar o chefe do clã e passar a ser Lorde Tohran, convocou todos os clãs Cameron e seus aliados para atacarem o clã Grant. Por sua vez, Lorde William convocou todos os Grant e seus aliados para essa batalha. Essas convocações chegaram aos ouvidos do Rei James Stewart, que não gostou de saber que poderia haver uma grande guerra de clãs nas Highlands. Ele convocou os dois
chefes e disse que resolveria a questão, mas que antes os dois chefes teriam que lhe servir de alguma forma. A Lorde William o rei deu a incumbência de resolveu problemas com um Burgh em Aberdeen, o que tomou apenas alguns meses do tempo de Lorde William. E a Lorde Tohran ele enviou para a fronteira da Escócia com a Inglaterra para terminar com os confrontos entre os dois países. A missão de Lorde Tohran durou exatamente três anos. E durante esses anos ele soube que o rei tinha permitido que Lorde William preparasse a terra para formar uma vila do clã Grant. O rei esperava que Lorde Tohran morresse em uma das batalhas que sempre ocorria na fronteira e tudo ficaria resolvido, dando assim as terras para Lorde William. Como Lorde Tohran não era casado e nem tinha filhos, ninguém reclamaria a posse das terras pelos Grant. Mas a morte de Lorde Tohran não aconteceu e ele tinha terminado com a disputa na fronteira ao colocar os ingleses para fora da Escócia. Agora ele podia voltar para o seu castelo e seu povo. E tudo o que Tohran queria era poder cuidar do seu povo e viver tranquilamente no Castelo Corpach. — Tohran! Ao ouvir uma voz familiar chamar seu nome, Tohran virou o corpo e ao ver o primo com a espada erguida, esboçou um leve sorriso para o primo. Tohran nunca foi de comemorar depois de uma batalha vencida. Seu pai o havia ensinado que batalhas podiam ser vencidas e perdidas, e que um homem só podia comemorar uma vitória quando essa fosse a sua última batalha. Tohran
continuou a olhar para o primo, que gritava a todo pulmão com sua espada erguida, fazendo assim com que os homens sobreviventes também levantassem suas espadas e gritassem em comemoração. Coberto de sangue como Sir Eachan estava, Tohran quase não conseguia reconhecer o homem loiro, de olhos azuis e atraente, que encantava todas as mulheres que encontrava em seu caminho. Desde que Eachan foi morar no Castelo Corpach, os dois jamais se separaram. Eachan era dois anos mais velho que Tohran, mas apesar de mais novo, Tohran parecia o mais velho dos dois, sempre o mais responsável. Eachan sempre dizia que ele não tinha que ser responsável já que nunca seria um chefe de clã. Quando Sir Eachan chegou ao Castelo Corpach tinha 18 anos. Tinha sido levado arrastado por seu pai. Sir Eachan se engraçou com a filha de um arrendatário do seu pai e sua punição foi de viver longe da moça até que ela se casasse. Ela se casou, mas Eachan estava tão apegado a Tohran que não quis mais voltar para a casa dos pais. Quando Sir Eachan chegou no castelo ele não queria saber de treinar com os outros homens, só queria saber de correr atrás das criadas e possuí-las nas alcovas do castelo. Mas dois anos depois de chegar ao castelo isso mudou e Sir Eachan passou a ser mais responsável e a prestar mais atenção aos treinos. Tudo por causa de uma promessa que Tohran lhe fez. Naquele ano, durante uma conversa com Tohran depois de um tedioso treino, Sir Eachan soube que o primo nunca tinha se deitado com uma mulher. Ao saber daquela novidade, Sir Eachan decidiu que terminaria com a
virgindade do primo. Naquela noite foi sorrateiramente até o quarto de Tohran e lhe disse que tinha uma surpresa para ele em seu quarto. Sem dizer o que era o levou até o seu quarto. Quando Tohran entrou no quarto viu duas mulheres nuas em cima dos lençóis brancos que envolvia a cama de Eachan. No instante que Tohran colocou os olhos nos corpos perfeitos das duas mulheres, seu desejo ficou evidente em seu corpo. Elas olharam para o membro erguido de Tohran embaixo de seu camisolão e sorriram. Na mente de Tohran vieram as palavras de seu pai quando o pegou observando as criadas tomando banho nuas no lago que tinha perto do castelo. Ele tinha 15 anos na época e vivia cheio de desejo pelas mulheres. — Eu sei o quando seu corpo deseja estar com uma mulher, meu filho. Mas um homem sábio não deixa que seu corpo comande sua vida. O homem sábio controla sua vida e seu corpo. É muito bom estar com uma mulher, Tohran. Mas, melhor ainda é estar com a mulher que se ama. Se quiser pode se enfiar entre as pernas de uma mulher. Mas vou lhe avisar de algo. Preste bem atenção, Tohran. Um dia você será o chefe do clã Cameron de Corpach e terá que ter a confiança e o respeito de todos. De todos, meu filho! Tanto dos homens como das mulheres. Como poderá ter o respeito das mulheres do seu castelo se ficar correndo atrás das criadas. Vou lhe contar uma história. O pai do meu avô tinha duas mulheres sobre o mesmo teto, a esposa e a amante. Ele se deitava com todas as criadas do castelo, nenhuma mulher queria trabalhar no castelo porque sabia que ia passar pela cama
do senhor do castelo. Ele não respeitava nem as mulheres dos seus homens. Ele queria provar todas as mulheres. Ele morreu envenenado e ninguém sabe por quem. Podia ter sido qualquer um. A esposa, a amante, as criadas e seus próprios homens. O filho dele, o meu avô, prometeu que não seria assim. Ele nunca tocou em nenhuma criada. E ele passou esse ensinamento para o meu pai, e ele passou para mim. E agora estou passando para você. Se você será a quarta geração de Cameron de Corpach que seguirá o ensinamento do avô do meu pai, só dependerá de você — olhou para as criadas que se banhavam tranquilamente nas águas do lago. — Elas são bonitas, com lindos corpos. Mas você, Tohran, está aqui para protegê-las e não para tirar proveito dos corpos delas. Pense nisso meu filho. Fora do castelo há muitas mulheres para você se meter no meio delas e tirar seu prazer, você não precisa perder o respeito do seu clã para isso. Depois de dizer essas palavras ao filho, Lorde Cormag o deixou sozinho. Tohran não entendeu de imediato tudo o que pai lhe disse naquele momento. Mas algo que Lorde Cormag lhe disse ficou ecoando em sua mente. E o que o pai disse era o que ele queria. Quando fosse o chefe do clã Cameron de Corpach ele queria a confiança e o respeito de seu povo, de todo o povo. Ao voltar sua atenção para as duas mulheres na cama, Tohran viu que as duas eram criadas da cozinha, mulheres que quase não eram vistas andando pelo castelo. Mas ele as conhecia. Seu pai uma vez lhe disse que um bom chefe conhece a todos em seu castelo, mesmo que somente de
vista. E ele conhecia aquelas duas criadas da cozinha de passar às vezes por lá e vê-las trabalhando. Tohran foi até a cadeira onde elas deixaram suas roupas e as entregou para elas. — Saiam as duas daqui — disse muito sério, não deixando dúvida de sua vontade. As duas mulheres obedeceram rapidamente, saindo do quarto e deixando os dois homens sozinhos. — O que foi, Tohran? Não gostou das duas mulheres? Prefere outra. Eu posso trazer para você. Tohran sentou na cama e pediu que o primo sentasse ao seu lado. Ele lhe contou a conversa que o pai teve com ele no dia que estava olhando as criadas no lago. — Eu não quero ser como o pai do avô do meu pai. — Eu entendo você, Tohran. E respeito muito isso — disse Eachan com sinceridade. — Antes de morar no castelo eu acreditava que a vida do chefe do clã fosse fácil. Mas depois de todos esses anos aqui no castelo, eu percebi o quanto o seu pai trabalha. Ele tem muitos problemas para resolver. Eu admiro muito o seu pai. Depois Tohran voltou para o seu quarto e Eachan voltou para cama sozinho. Ele entendia o modo de pensar de Tohran, mas ainda não tinha desistido de fazer Tohran se deitar com uma mulher pela primeira vez. No dia seguinte, quando o treino terminou no final da tarde, Eachan cruzou o caminho de Tohran com dois cavalos selados. — O que vai fazer, Eachan? — Vamos até a Vila de Corpach.
— E o que vamos fazer lá? — Quando chegarmos lá você verá. Os dois deixaram o Castelo Corpach e cavalgaram em direção a Vila de Corpach, que ficava meia hora do castelo. A todo o momento Tohran perguntava para o primo o que iriam fazer na vila, mas Eachan estava misterioso e nada disse. Pouco depois os dois estavam parados em frente a casa da Sra. Lola. Essa casa era famosa por manter todos os tipos de mulheres que satisfaziam os homens por algumas moedas. Elas eram cuidadas pelas Sra. Lola, uma mulher gorda, que estava sempre vestida como se estivesse na corte do rei. Seus vestidos rodados eram sempre coloridos e de linho caro. — O seu pai disse que você podia se deitar com as mulheres que fossem de fora do castelo. Essas mulheres não são suas criadas, Tohran. Tohran olhou para o primo e sorriu. Os dois saíram da casa da Sra. Lola quando a lua já estava alta no céu. Os dois saíram sorrindo, e Tohran era o mais sorridente. — Você parece um bobo sorrindo desse jeito — disse rindo do primo. — Eu estou feliz, primo. Muito feliz. — Pelo jeito a dama que a Sra. Lola escolheu para você soube lhe agradar muito bem, primo. — Ela me agradou muito, Eachan. Me agradou muito. — Da próxima vez que voltar na Sra. Lola, vou escolher ela para me satisfazer. Tohran olhou para o primo com um meio sorriso. — O que foi, Tohran? Acha que só você pode se meter
entre as pernas dela. Nesse exato momento ela está fazendo com outro o mesmo que fez com você. — Com certeza está — disse olhando para frente e tratando de esquecer a mulher com quem tinha passado as últimas horas. Ela não era sua mulher, mas mulher de qualquer um que pudesse pagar. Os dois voltaram a conversar sobre tudo o que tinha acontecido com Tohran na casa da Sra. Lola. Tohran se sentia como se tivesse descoberto algo que nunca pensou que pudesse existir. Estar com uma mulher foi a melhor experiência que ele já tinha vivido. Quando passaram em frente ao lago, Tohran pediu que eles parassem porque queria dizer algo para Eachan. Eles sentaram no gramado em frente ao lago. — Eu estou muito feliz com o que aconteceu essa noite. Você me mostrou algo totalmente novo para mim. Algo que vou querer experimentar muitas vezes. — Os dois riram. — Por isso é que quero lhe dar algo. — O que você vai me dar? — Vou lhe dar uma promessa. — Uma promessa? Tohran virou o corpo e ficou de frente para Eachan que também virou o corpo. — Isso mesmo. Eu prometo que quando eu for o chefe do clã Cameron de Corpach, você será o meu Chefe de Guerra. Eachan o olhou com os olhos arregalados. O chefe de Guerra de um clã era alguém de muita confiança, coragem e inteligência. Era uma grande honra que Tohran estava
oferecendo ao primo. — Eu farei de tudo para estar preparado quando você precisar de mim. Mas isso pode demorar um pouco. Seu pai deve viver por mais uns 10 ou 20 anos. — Não importa o tempo que leve, primo. Minha promessa será para sempre. Enquanto isso eu vou me preparando para ser o chefe do clã Cameron de Corpach e você para ser o meu Chefe de Guerra. Aprenda tudo o que puder com Sir Adaire. — Eu aprenderei, primo. Os dois cruzaram as mãos e selaram aquela promessa. — Terminou, primo — gritou Eachan ao se aproximar de Tohran e tirá-lo de sua volta ao passado. — Vamos poder voltar para a casa. — Terminou, Eachan — concordou Tohran ao colocar a mão no ombro do primo, que o olhou enviesado. — Não parece feliz com isso? — Estou, Eachan. Pode acreditar que estou. Mas só vou ter certeza que tudo acabou de verdade quando estiver cavalgando em Turin em direção a Edimburgo. Eachan balançou a cabeça e virou de costas para o primo, abriu os braços e gritou. — Pois pode comemorar, meu primo. Acabou! — Depois de suas palavras, caiu na gargalhada. — Agora tudo o que quero é deitar em cima de uma mulher e me meter no meio dela. Eu quero travar outra batalha — riu ainda mais e se afastou de Tohran. Enquanto observava o primo se afastar sorridente, Tohran balançava a cabeça com um pequeno sorriso nos
lábios. Ele não concordava com o jeito galanteador do primo. Eachan estava sempre agarrado com uma mulher. Não conseguia viver longe das mulheres. Já tinha perdido as contas de quantas vezes teve que salvar o primo de algum marido traído. Seu pai nunca se importou com as farras do sobrinho porque Eachan sempre se engraçava com as mulheres dos camponeses, nunca com os homens importantes de Corpach. Tohran voltou a pensar em sua primeira vez na casa da Sra. Lola. Ele voltou mais vezes depois daquela, muitas vezes na companhia do primo. Mas aos poucos seu interesse pelas mulheres da casa da Sra. Lola foi diminuindo. Não que ele tenha se cansado das mulheres, mas a empolgação que ele sentia no começo foi se apagando. E algo que ele não conseguia explicar vinha acontecendo com ele sempre que terminava de se deitar com as mulheres. Ele sentia um vazio dentro de si, um vazio que ele não conseguia explicar. Quando saia de cima da mulher, ele não sentia mais vontade de estar ao seu lado. Ao terminar ele sempre esperava que algo acontecesse, que ele fosse olhar para a mulher ao seu lado e fosse querer algo mais. Um mais que ele ainda não sabia o que era. O tempo foi passando e esse mais, por qual ele esperava nunca acontecia. Ele cansou de esperar e já não se importava com o vazio que sentia. Ele sentia o seu prazer e as mandava embora. Uma vez ele conversou com Eachan sobre isso e ele lhe disse que ele queria o amor. Que esse algo mais, era o amor. Mas Tohran nunca tinha amado uma mulher e não
sabia como seria o amor. Eachan disse que amava a todas as mulheres com quem se deitava. Por isso o prazer que sentia era muito mais forte. Tohran resolveu que ia procurar por esse tal amor. Ele queria sentir aquele prazer com uma mulher na cama como Eachan dizia sentir, um prazer que ele ainda não tinha sentido. Mas algo aconteceu que fez com que Tohran banisse o amor de sua vida, mesmo antes de senti-lo. Quando Tohran estava com 20 anos, sua mãe ficou muito doente e morreu dias depois. Foi uma dor muito forte para todos. Lady Megan Campbell Cameron de Corpach era amada e respeitada por todos em Corpach. Nunca antes deve uma senhora do Castelo Corpach tão dedicada ao clã como ela. Foram vários dias de lamento pela morte de Lady Megan. Duas semanas depois, Tohran entrou no castelo no meio da madrugada, estava voltava da casa da Sra. Lola. Ele passou em frente ao quarto do pai e ouvir um choro de desespero. Um choro de muita dor. Ele sabia que era seu pai sofrendo pela morte de sua mãe. Ele entrou no quarto e viu o pai agarrado à camisola de sua mãe chorando copiosamente. Apesar de sentir pena do pai, ele viu o pai de uma forma como nunca o tinha visto antes. Fraco. Ele caminhou até o pai e sentou ao seu lado. Lorde Cormag estava sofrendo tanto que não se importava do filho ver o quanto estava fraco. — Eu não consigo viver sem ela, Tohran. Está difícil aceitar que ela se foi e nunca mais a terei em meus braços — voltou a chorar, agarrado a camisola da mulher.
— Eu quero ajudá-lo, pai. Mas não sei o que fazer. — Quer me ajudar? — Tohran acenou que sim. — Nunca ame, meu filho. Nunca deixe o amor entrar em seu coração. O amor deixa o homem fraco. Nunca deixe a droga do amor enfraquecer o seu coração. — O homem caminhou até a mesinha de vinho, sentou e bebeu o líquido de uma garrafa direto dela. — Agora me deixe sozinho, Tohran. Deixe-me com minha fraqueza. Tohran deixou o quarto, mas nunca se esqueceu das palavras e do estado que o pai estava naquela noite. O tempo foi passando e Lorde Cormag nunca mais foi o mesmo. Quando Lady Megan morreu levou a felicidade e a alegria do marido. Ele vivia por viver. Mesmo depois de anos da morte da mãe, Tohran ainda ouvia o pai chorar sozinho em seu quarto. E isso foi tornando o coração de Tohran duro e ele prometeu a si mesmo que jamais se deixaria ser fraco como o pai um dia foi. E Lorde Tohran baniu o amor de sua vida. Uma semana depois tudo estava pronto para a partida de Tohran e seus homens. Por ele teria partido no dia seguinte para Edimburgo, mas primeiro precisava avisar ao rei o que tinha acontecido e esperar por sua permissão para que deixassem a fronteira. E essa permissão veio com o mensageiro que ele tinha enviado ao rei. Na mensagem o rei dizia que quando eles chegassem a Edimburgo, seriam tratados como heróis. Eles deixaram o campo perto da fronteira com os ingleses e voltaram para Edimburgo. Quando faltava apenas uma cidade para que chegassem até Edimburgo, Eachan se aproximou de Tohran com um
semblante preocupado. — Está preocupado com o quê, primo? — Estava pensando em nosso povo, Tohran. Será que o clã ainda está em Corpach? — Claro que está, Eachan. O rei me prometeu que não deixaria que nada acontecesse com as pessoas de Corpach enquanto eu estivesse lutando para ele. — O que será que ele resolveu, Tohran? Nós sabemos que Lorde William está preparado as terras para montar uma vila do clã Grant. Talvez já tenha pessoas morando na terra. — Eu lutei pelo rei por três malditos anos. Tenho certeza que o rei decidirá pelo certo. Ele me dará aquelas terras. Afinal de contas eu paguei por elas nesses três anos de serviços a ele. Terras que já são minhas por direito. — Mas não podemos esquecer que o que ele queria era que você morresse durante sua permanência na fronteira. — Mas não foi o que aconteceu e ele sabe que todos os clãs sabem que minha ida até a fronteira foi uma forma de pagar aquelas terras para ele. E agora a fronteira está livre dos ingleses. Ele terá que me pagar pelo o meu serviço. E eu não quero nada além das terras pela qual o meu pai morreu. — Eu não vejo o momento que tudo isso fique resolvido e possamos voltar para Corpach. Vou passar uma semana na casa da Sra. Lola. Depois de três anos ela deve ter muitas novidades em sua casa — sorriu de forma maliciosa. Dois dias depois eles foram recebidos com festa em
Edimburgo. Uma vitória em cima dos ingleses era sempre um grande motivo para se festejar. E Tohran e os homens que lutaram na fronteira, homens do clã Cameron de Corpach e também homens contratados para cuidar da fronteira, foram recebidos nas ruas de Edimburgo como heróis. Enquanto os homens comemoravam com os habitantes de Edimburgo, Tohran e Eachan foram até o rei na sala do trono no Palácio Holyrood. — Você conseguiu, Tohran. Livrou a fronteira daqueles malditos ingleses. — Vossa Majestade disse que se eu expulsasse os ingleses eu poderia voltar para o meu clã e ficar com as terras que fazia parte do dote de minha mãe. — Não foi bem isso que disse o nosso grandioso rei — disse uma voz conhecida de Tohran vinda do fundo da sala. Todos olharam para William Grant. — Vossa Majestade — curvou ao se aproximar do trono. — Meu caro William. Não sabia que tinha chegado a Edimburgo. — Acabei de chegar, majestade. E me pareceu que foi bem no momento que Vossa Majestade iria entregar as terras que me pertence por direito. Tohran olhou para Lorde William com ódio. Ele tinha prometido no campo de batalha, depois que seu pai morreu em seus braços, que um dia vingaria a sua morte. Mais uma vez estava perto do seu inimigo e não poderia cumprir sua promessa.
— Eu pensei muito durante esse tempo e cheguei a uma decisão que será boa para ambos os lados. As terras ficarão com as duas famílias. — Como assim, majestade? Vossa Majestade irá dividir as terras? — perguntou Tohran nervoso. — Não. Essa noite eu darei um baile para comemorar minha vitória e amanhã eu direi o que decidi. Mas só amanhã. Tohran não gostou nada de saber que teria que esperar por mais um dia para poder voltar para casa. À noite Tohran e Eachan foram até o quarto que ficariam hospedados no Palácio Holyrood. — Por que está carrancudo, primo? — Eu não queria estar aqui. Queria voltar para o meu castelo. Não suporto mais essa angustia de não saber o que vai acontecer com as terras que me pertencem. — Amanhã, depois que o rei informar o que decidiu, que com certeza será a seu favor, voltaremos para Corpach. Enquanto o amanhã não chega, vamos aproveitar a festa da vitória — aproximou-se de Tohran e colocou a mão no ombro do primo. — Agora vamos descer e aproveitar. Eu ouvi dizer que a filha do chefe Grant está no palácio, veio junto com o pai e o irmão. Dizem que ela é linda, a mulher mais linda de toda a Escócia. — E o que isso me importa. Ela é uma Grant e eu quero distância de todos os Grant. — Pois eu não me importaria de passar alguns momentos com ela se eu estivesse no meio de suas pernas — disse rindo.
Tohran balançou a cabeça não concordando com a atitude do primo. — Você só pensa com a cabeça debaixo, meu primo. Ainda vai se dar muito mal por causa disso. — Pois eu não me preocupo com isso. Sempre que penso com a minha cabeça debaixo — olhou para baixo —, sempre me dou muito bem — gargalhou forte. Os dois saíram do quarto gargalhando. Por mais que Tohran não aprovasse a vida que Eachan levava com as mulheres, ele gostava muito do primo. Era como se fosse um irmão. Durante a festa no palácio Tohran viu Enyah Grant, a filha do seu grande inimigo. Como seu primo dissera, Enyah era realmente muito linda, com certeza a mulher mais linda que já tinha visto até aquele momento. Tinha os cabelos dourados, que estavam amarrados em um lindo coque com alguns cachos enrolados soltos do coque. Seu corpo era esguio e perfeito. Tinha os seios pequenos, mas mesmo assim estavam provocantes em um pequeno decote. A maioria dos homens do salão ficava em volta dela e sorriam. Até mesmo o rei. E Tohran percebeu que para ele era para quem ela mais sorria. Nesse momento Tohran percebeu porque Grant tinha levado sua filha para a reunião com o rei. Com certeza ele queria amansar o rei prostituindo a própria filha. “Todos os Grant são traiçoeiro”. Pensou Tohran e desviou o olhar e parou em uma linda moça também de cabelos dourados, que o olhava com o olhar de quem o queria devorar. Se não fosse uma Grant, era com aquela com que Tohran passaria
aquela noite. Seus pensamentos foram interrompidos pela chegada de Eachan. — Ela não é bonita, Tohran? — disse olhando em direção a Enyah. — Bonita como muitas aqui no salão — mentiu. — Qualquer homem cairia de amores por essa beldade — disse Eachan balançando a cabeça de forma negativa. — Mas você não. Só porque ela é uma Grant. Quem vai se importar com o clã que a mulher pertence enquanto está em cima dela. Qualquer um se apaixonaria por ela — disse de modo sonhador. — Lá vem você falando de amor. Eu já lhe disse que o amor é para os fracos. — Pois essa noite eu serei o mais fraco dos homens. Eu estou caído de amores por essa mulher. E olha que não serei o único fraco essa noite. O rei também parece bem fraco ao estar ao lado dela. — Muito apropriado Grant trazer sua filha justo no dia que o rei dará sua decisão em relação as terras. Esses Grant são uns traiçoeiros. Ao ouvir o que Tohran acabara de dizer, Eachan ficou sério. Ele sabia o que uma mulher podia conseguir com os seus encantos. Ele mesmo já tinha feito coisas que nunca pensou em fazer por causa dos encantos de uma mulher. Do outro lado do salão Enyah foi atraída pelos olhares dos dois homens. Ela virou encantadoramente e olhou diretamente para Tohran. Apesar dos dois homens serem muito atraentes, o moreno chamou sua atenção. Seus olhos eram tão claros como a água de uma nascente. Aquele
olhar a fascinou, mas parou de olhá-lo ao ouvir as palavras do rei. — Aquele é Tohran Cameron — disse o rei para provocála. Ela voltou a olhar para Tohran, mas agora já não via nenhum encanto nele. — O inimigo do meu pai — disse aquelas palavras com ódio. — Não gosto da rixa que os clãs têm, sempre lutando entre si. Principalmente quando isso interfere em meus afazeres. — O senhor é um ótimo rei, majestade. Tenho certeza que sempre toma as decisões certas — disse e o olhou com um olhar malicioso. Depois olhou rapidamente para Tohran, que ainda continuava olhando para ela. — É bom saber quem é aquele senhor. Assim poderei ficar bem longe dele. Se é inimigo do meu pai, também é meu inimigo. No final da noite Tohran levou para o seu quarto a dama que o olhou durante a noite toda. Era uma recente viúva que queria desesperadamente a companhia de um homem. E naquele momento tudo o que Tohran queria era sentir prazer e nada mais. Para ele era somente o que ele podia ter de uma mulher. Prazer. Sem nenhum sentimento.
Capítulo II A Decisão do Rei
No dia seguinte Tohran mandou a mulher embora como se a noite que passou com ela não tivesse tido nenhuma importância. Momentos depois ele estava em frente ao rei a espera de sua decisão. — Então o que Vossa Majestade decidiu referente as terras que foram dadas ao meu pai pelo dote de minha mãe? — Espere só mais um pouco, meu caro Tohran. Sei que minha decisão é muito importante para você e que já esperou por tempo demais. Mas peço-lhe que espere um pouco mais. Eu mandei que avisassem Lorde William que eu também o quero nessa reunião. Tohran se irritou ao ouvir o nome de seu inimigo. Ele sabia que Lorde William tinha o direito de saber sobre a decisão do rei, mas esperava que ele fosse conversar com os dois separadamente. Tohran não gostou de saber que teria que estar novamente no mesmo recinto que seu grande inimigo e não poder realizar sua vingança como tinha prometido ao pai logo depois deste morrer. — Vossa Majestade mandou me chamar e eu já estou aqui — disse William Grant assim que entrou na sala do
trono. Tohran percebeu que Grant estava muito sorridente. Talvez já soubesse o que o rei tinha decidido e por conta disso já estivesse comemorando. Tohran viu quando Lady Enyah deixou o grande salão na companhia do rei. Ele não podia perder as terras do pai por causa dos encantos de uma mulher. Tohran teve que usar toda sua calma para não acusar o rei de estar sendo parcial naquela questão. Ficou calmo e prometeu a si mesmo que deixaria as acusações para o final, que primeiro ouviria o que o rei tinha para falar. Ele queria saber qual seria a justificativa que o rei daria para lhe tirar as terras que lhe pertencia por direito. Para provocar ainda mais a Tohran, Lorde William parou ao lado dele, mas em nenhum momento olhou em sua direção. — Agora que os dois envolvidos na questão estão presentes, eu poderei informar ao dois a minha decisão. Para acabar com a briga dos dois clãs pelas terras perto de Corpach, eu decidi que Lorde Tohran Cameron se casará com sua filha — disse olhando para William Grant, que olhava para o rei tão surpreso como Tohran. — Assim as terras ficarão com as duas famílias e acabaremos de uma vez por todas com essas brigas. Eu espero que a minha decisão não seja desrespeitada por nenhum dos dois lados — disse o rei com firmeza. — Mas, meu rei — começou Lorde William Grant se aproximando do trono —, eu não posso juntar o sangue dos Grant com um Cameron. Eu imploro ao senhor que reconsidere sua decisão.
— Minha decisão já está tomada e nada a mudará — disse em um tom áspero, deixando bem claro que não tinha gostado nada do pedido do chefe do clã Grant. — Então eu gostaria de lhe pedir algo, Vossa Majestade — implorou Lorde William Grant. — E o que é? — disse o rei impaciente. — Eu queria lhe pedir um tempo para preparar minha filha para esse casamento. Eu posso lhe garantir que minha filha jamais imaginou que essa poderia ser sua decisão. — Isso vai depender de Tohran — disse como se não se importasse com os sentimentos da mulher com quem tinha passado toda a noite. Os dois homens olharam para Tohran que ficou calmo e imóvel todo o tempo. — Eu também gostaria de pedir um tempo, Vossa Majestade. E dizer que quero que o casamento aconteça em meu castelo. — Que assim seja. O casamento será realizado daqui a cinco dias. E logo depois quero que traga sua esposa até Edimburgo para que eu posso abençoar essa união — sorriu com malícia. O rei quis provocar Tohran. O rei sabia que Lorde Tohran estava ciente que ele se casaria com uma mulher que já tinha sido dele, e que provavelmente seria novamente. — E mais uma coisa. O documento que os dois assinarão concordando com os termos, só será assinado depois do casamento. Eu enviarei um representante meu para assistir o casamento e ele levará o documento, que espero que seja assinado pelos dois depois do casamento realizado. Agora podem ir.
Os dois homens saíram da presença do rei e foram em direções opostas. Tohran voltou para o seu quarto e estava visivelmente transtornado com aquela situação que o rei lhe colocou. Casar com uma Grant era algo que nunca tinha passado em sua cabeça. E quanto mais com uma mulher que ele sabia que tinha se deitado com o rei para conseguir as terras que eram suas por direito. Ele tinha percebido quando Grant falou sobre a filha. Ele viu quando o rei ficou aborrecido com aquele comentário. Como ele poderia se casar com esse tipo de mulher? Tohran pegou o copo que estava bebendo vinho e jogou com toda sua força de encontro a parede. — O que foi que aconteceu para deixá-lo nesse estado, primo? Não me diga que o rei não lhe deu as terras? — perguntou Eachan ao entrar no quarto e ver a parede manchada de vinho e os restos do copo no chão. — Pior do que isso, Eachan. Aquele desgraçado disse que as terras só passarão para mim no dia que eu me casar. — Eu não vejo problema nisso. Arrume uma mulher e se case — sentou em uma das poltronas que tinha no grande quarto. — O problema é que o rei já arrumou uma pretendente para mim. — Quem? — perguntou desconfiado. — A filha do maldito Lorde William Grant. Eachan teve que se segurar para não cair na gargalhada. Se não fosse trágico aquilo séria cômico. Tohran teria que se casar contra sua vontade com a mulher mais desejada de
toda a Escócia. — Eu sei que você odeia os Grant. Eu também — disse rapidamente. — Mas odiar uma mulher como Lady Enyah Grant é um absurdo. — O pai dela insinuou que sua filha não ia gostar da decisão do rei depois de ter se deitado com ele. Com certeza ela fez isso esperando que o rei dessa as terras para o pai. — Lorde William fez isso? — perguntou admirado. — Ela deve ter lhe dado uma noite muito prazerosa, pois o rei estava de tão bom humor que não disse nada com a insinuação do maldito Grant. — E você está reclamando porque vai se casar com ela? — fez a pergunta como se Tohran fosse um louco por agir dessa forma. — Eu não quero me casar com uma mulher que talvez já tenha passado por quase todas as camas dos homens da Escócia — disse Tohran nervoso. Eachan viu que Tohran estava realmente muito chateado com toda aquela situação. Ele se levantou e serviu um copo de vinho ao primo. — Acalme-se, Tohran — ofereceu o copo e Tohran aceitou. — Esse sacrifício lhe dará as terras por qual seu pai tanto lutou. — E morreu por elas — completou Tohran. — Tudo isso vai ficar no passado, primo. Com o seu casamento acabarão as lutas. Seu povo viverá em paz. Tohran olhou para o primo e pensar no que ele disse lhe fez ter um pouco mais de calma.
— Você está certo. Eu já sei o que vou fazer. Depois de me casar com essa prostituta, vou colocá-la em uma das torres do castelo e esquecer que ela está lá. Eachan riu do modo malvado que Tohran disse aquela frase. Ele sabia que o primo não tinha um mau coração, por isso jamais levaria a sério a sua ameaça.
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