Os Ossos na Caverna - Marcia Pimentel

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Os Ossos na

Caverna


Prólogo A noite estava fria e cinzenta, no céu a lua estava encoberta por grossas nuvens carregadas, o que fazia com que a noite ficasse ainda mais escura. Dorrell MacKenzie, um rapaz alto, tão alto como um dia seu avó já fora, e com os mesmos olhos verdes esmeralda. Dorrell sentia o vento frio soprando em sua nuca, tudo o que ele queria era poder voltar para o calor da hospedaria da Cidade de Gasbhsunn Bho Dheas, uma cidadezinha costeira ao norte da Ilha de Lewis. Dorrell Esfregou as mãos perto da boca e soprou para que o ar quente as esquentasse. Olhou para trás e viu o carro parado perto de onde estava sua vontade era de caminhar até ele, entrar em seu interior e deixar aquele tempo frio do lado de fora, mas não podia deixar seu avô passar por aquilo sozinho. De longe Dorrell observava o vulto do avô parado em frente de uma lápide. Ao lado do rapaz estava o pastor da paróquia de Gasbhsunn Bho Dheas. A cidade era banhada pelo Oceano Atlântico. O pequeno cemitério de Gasbhsunn Bho Dheas ficava em uma elevada colina bem afastada da cidade. Do cemitério tinha-se uma boa visão do oceano e suas ondas com espumas brancas que batiam constantemente no rochedo que sustentava o cemitério de Gasbhsunn Bho Dheas. O cemitério por ser afastado da cidade, facilitou o trabalho dos três homens. Com certeza


haveria muito falatório na cidadezinha de Gasbhsunn Bho Dheas se vissem os três homens desenterrando o corpo da mulher mais querida da cidade e a colocando em outra sepultura. Aquela mulher tinha dedicado toda a sua vida a ajudar as pessoas daquela cidade e até mesmo de outras próximas. Foi um grande lamento para todos a perda daquela boa senhora. Mas não para ela. Aquela boa mulher vivia esperando o dia que fecharia os olhos e descansaria junto com o amor da sua vida. E agora ela estava ao lado dele, juntos para sempre. Cansado e com frio, Dorrell olhou para o homem ao seu lado. O pastor era mais velho que seu avô apenas alguns anos. Desde que se afastaram da lápide, deixando seu avô sozinho, o homem não tirou os olhos da figura parada perto da lápide. Ao terminarem de trocar o corpo de um túmulo para outro, Dorrell viu a troca de olhares dos dois velhos, ele sabia que aqueles dois guardavam algum segredo. Desde que bateram na porta do pastor, algumas horas atrás, os dois tinham trocado poucas palavras, parecia que evitavam se falar para não relembrar o passado e o segredo que guardavam. Assim que o pastor abriu a porta da casa onde morava, ao lado da paróquia de Gasbhsunn Bho Dheas, seu avô disse secamente: “Chegou a hora!”. E o pastor lhe respondeu ainda mais seco: “Era a vontade dela”. Depois disso nenhum dos dois voltou a falar. Dorrell suspirou impaciente com a demora do avô. Ele voltou a olhar para o velho a quem amava como se fosse um pai. Desde que perdeu seu pai, quando ainda era um


menino, seu avô tomou para si a responsabilidade de cuidar e criar do menino órfão de pai e que foi deixado ainda bebê pela mãe, que tinha fugido com um amante. Ele tinha muito orgulho e gratidão pelo avô, que sempre foi um exemplo de homem e de pessoa para ele. Dorrell sempre ouviu dizer que quando somos felizes realmente, sorrimos com os olhos, porque os olhos são as janelas da alma e mostra o que sentimos por dentro. Pois seu avô nunca sorriu com os olhos. Ele nunca entendeu porque seu avô nunca se sentiu feliz plenamente. Ele era um homem importante, tinha riqueza e uma grande família. Mas nunca se sentiu feliz por completo. Mas agora ele entendia. Quando Dorrell voltou dos seus pensamentos, viu que seu avô continuava parado em frente à lápide daquela mulher que para ele era uma completa desconhecida. Dorrell achou que eles já tinham passado tempo demais naquela colina, era hora de ir embora. Caminhou até seu avô e parou alguns passos atrás dele. — Temos que ir! — disse mansamente. Dorrell sabia que aquele era um momento muito triste para o avô. Ele sabia que aquela mulher tinha sido alguém especial na vida dele. Dorrell viu o sofrimento estampado no rosto do avô quando o caixão foi aberto e ele olhou para a senhora, que deveria ter uns 70 anos, alguns anos a menos que seu avô. Dorrell viu sofrimento e também muito amor no olhar do avô. Uma vez ele ouviu uma das suas tias contando para uma amiga, que sua avó sempre reclamou que seu avô nunca a amou plenamente porque seu coração


nunca esqueceu um amor do passado. Dorrell pensou que talvez fosse aquela senhora para quem o avô olhava com tanto carinho. — Sim, temos que ir — disse o velho depois de um tempo. Seu avô virou-se lentamente e caminhou em silêncio em direção ao carro. Passou pelo pastor, mas não lhe disse nenhuma palavra de adeus e nem lhe olhou nos olhos. Dorrell sabia que seu avô estava deixando para trás um passado que por algum motivo o atormentou durante toda sua vida. Antes de ir para o carro, Dorrell olhou para a lápide em sua frente, leu os três nomes que estava escrito na pedra. O primeiro era o nome de uma mulher, embaixo o de um homem e abaixo do nome do homem, o nome de outra mulher. E embaixo dos nomes uma frase. “Juntos para sempre”. Assim que terminou de ler, perguntou a si mesmo. “Quem seriam aquelas duas outras pessoas?”. Ele sabia que mesmo que perguntasse para o avô a identidade das outras duas pessoas e porque tinham mudado o corpo daquela senhora para juntos das duas ossadas, ele não lhe responderia. Resolveu deixar seu avô e os mortos em paz.


Capítulo 1

Brasil

50 anos antes...

aula de Arqueologia na Universidade EducaMais no Rio de Janeiro estava em completo silêncio, todos estavam com suas mentes voltadas para o que o professor André Ribeiro estava explicando na frente da turma. — Essa ossada foi encontrada no Canadá em 1.823, pelo arqueólogo Oswaldo Olimpo e sua equipe — olhou para a foto que estava projetada no quadro. — Essa ossada foi datada de 2.000 anos antes de Cristo. Não é de um nativo... Nesse momento o sinal tocou avisando o término da aula. — Continuamos de onde paramos na próxima aula. Não esqueçam a pesquisa que mandei fazer sobre o que estudamos na aula passada. Todos arrumaram suas coisas dentro de suas bolsas e mochilas e se preparam para sair, alguns ainda teria mais algumas aulas. André desligou o aparelho de slide e acendeu a luz da sala. Ao olhar para as cadeiras, viu que


todos os alunos já tinham saído, mas uma ainda continuava em sua cadeira arrumando seus papéis tranquilamente. André sorriu ao pensar que aquela mesma cena acontecia em todos os finais de aula desde o primeiro período. Ele não conseguia nem imaginar o que seria ficar sem ver aquela cena nos finais das aulas daquela turma quando Bruna se formasse. Bruna Mattos era a mulher mais linda que ele já tinha visto em toda sua vida. Antes dela muitas mulheres já tinham passado em sua vida, mas nenhuma o fez desejar tanto poder passar o resto da vida somente com ela. Bruna era especial. André se apaixonou por ela desde o primeiro momento que a viu. Nunca tinha se apaixonado por uma aluna antes. Muitas alunas já tinham se encantado por ele, mas André nunca alimentou esses sentimentos, sempre deixava bem claro que a única relação que teriam era de aluna e professor. Mas com Bruna foi diferente. Ele jamais esqueceria o dia que a viu pela primeira vez. Foi no primeiro dia de aula, André estava se apresentando aos alunos quando a porta abriu e Bruna entrou na sala, estava atrasada, foi a primeira vez que ela chegou atrasada em sua aula. Ela abriu um largo sorriso e pediu desculpa pelo atrasado, prometeu que jamais voltaria acontecer, e cumpriu sua promessa. André acenou e mandou que ela sentasse. Enquanto Bruna caminhava até a segunda fileira de cadeira e se sentava de frente para ele, André não conseguiu tirar os olhos daquela mulher que flutuava em sua frente. Seus cabelos loiros escuro chamaram sua atenção, sempre teve preferência pelas loiras; seus cabelos estavam presos em um


longo rabo de cavalo, ela sempre deixava um mexa solta na frente, o que a fazia parecer inocente. Seu corpo tinha as formas perfeitas; usava um jeans que marcava toda sua silhueta, seu traseiro era uma tentação para qualquer homem. Naquela manhã ela usava uma camiseta regata que marcava sutilmente os seus seios, que eram cheios e duros. Tinha os ombros arredondados, que André adorava beijar lentamente e subir devagarzinho até o seu pescoço, fazendo Bruna gemer de prazer. A pele de Bruna era macia como a seda do oriente, ele jamais esqueceria o prazer que sentia cada vez que tocava em sua pele. Ela tinha uma pele branquinha pincelada com algumas pintas. Ao pensar nas pintas de Bruna, André lembrou as intermináveis horas que passou beijando cada uma delas. Isso fez com que um sorriso discreto brotasse em seus lábios. E para completar sua beleza, Bruna tinha o rosto desenhado pela deusa da beleza, era lindo e perfeito. E quando sorria, com um sorriso tímido que ele tanto amava, sua boca se transformava em um coração. Perdeu as contas de quantas vezes beijou aquele coração que adornava o seu rosto. Gostava de beijar os lábios carnudos que ela tinha. Ele subia mais um pouquinho e tocava levemente com os lábios em seu pequeno nariz arrebitado. E os olhos? Ele jamais esqueceria a intensidade do olhar com que ela o olhava toda vez que terminavam de se amar. Os olhos de Bruna eram de um azul bem claro, lembrava o céu em um dia sem nuvens, esse azul era contornado por um fino anel preto que fazia o azul dos seus olhos ainda mais visível. Bruna era perfeita, e depois de quatro anos ela continuava


do mesmo jeito, perfeita! Quando conheceu Bruna ela tinha 19 anos. Ela tinha terminado o ensino médio com 17 anos, mas ficou dois anos sem estudar decidindo o que faria, até que decidiu ser arqueóloga. Ele sabia que tinha que aproveitar bem aqueles momentos, em breve não a veria mais com tanta frequência. O período estava terminando e logo ela estaria formada e morando em outro estado. Sempre que pensava nisso uma grande tristeza se apossava do seu coração. Ele estava disposto a fazer qualquer coisa para que aquilo não acontecesse. E ele já tinha começado a se mexer para que Bruna não fosse viver longe dele. Nos dois anos que ficaram juntos, André pediu Bruna para se casar com ele milhões de vezes, mais ela sempre dizia que ainda não estava preparada para um passo tão importante. Ele não entendia a recusa dela, André sentia que Bruna lhe amava, mas algo a impedia de se entregar totalmente na relação. Ele sentia que isso a magoava muito, e ele não podia ajudá-la. Qual fosse o motivo que bloqueava Bruna em se entregar ao amor, ela teria que resolvê-lo sozinha. Ele decidiu não insistir mais no casamento e deixar que Bruna aos poucos se envolvesse mais na relação dos dois. O tempo que passaram juntos, André percebeu que quando Bruna estava realmente envolvida com algo, ela se jogava de cabeça, não se importava se daria certo ou não, ela se envolvia até o fim. Ele esperava que isso acontecesse com a relação deles, que ela se entregasse de corpo e alma no amor que sentiam. Ele esperou ansioso que aquilo acontecesse, mas para o seu


desespero, isso nunca aconteceu. Um dia Bruna pediu um tempo para se dedicar mais aos estudos e eles nunca mais voltaram. Mas continuaram muito amigos. Muitas noites ele adormeceu pensando no quanto queria que ela tivesse se envolvido na relação deles como ele tinha se envolvido. Ele se arrependia de não ter tentado ainda mais em fazer com que Bruna percebesse que só seria feliz ao lado dele. Depois que eles terminaram, Bruna se dedicou totalmente aos estudos, tudo o que ela queria naquele momento era aprender tudo o que podia para ser uma grande arqueóloga. A verdade é que foi por isso que ela se aproximou dele, para aprender tudo o que ele sabia. No começo André ficou admirado com o amor que Bruna tinha pela arqueologia, pela sua fome de saber. Por causa do tempo que passavam juntos, ele passou a conhecer melhor a mulher em sua frente e acabou se apaixonando pela mulher que Bruna era. Pelo seu jeito dedicado e calmo de ser. Bruna não era de sair muito, ela não gostava de baladas, era mais de ficar em casa curtindo um filminho na televisão. O que mais Bruna gostava de fazer aos sábados à noite era assistir um filme e comer pipoca em frente à televisão. André era diferente, gostava de bailes e paqueras. Ele estava com 32 anos e sentia que era o momento de viver tudo o que a vida podia lhe oferecer. Ele tinha passado anos se dedicando aos estudos e ao trabalho na universidade. Agora ele queria estudar e trabalhar, mas também queria muito, muito se divertir. Nos dois anos antes de conhecer Bruna, André saiu todos os finais de


semana para curtir a noite. Sempre ficava com mulheres diferentes a cada final de semana. Ele não queria se apaixonar, queria curtir a vida e as mulheres. Mas tudo isso mudou depois que conheceu Bruna. Sua vida mudou muito depois que começou a namorar, ele passava a maior parte do tempo no apartamento dela, principalmente nos finais de semana. Os dois visitavam museus, iam às palestras sobre arqueologia. André se sentia o homem mais feliz do mundo quando estava ao lado de Bruna. Mesmo depois que resolveram, na verdade Bruna resolveu serem apenas amigos, André continuou no mesmo ritmo de vida que tinha com Bruna. A vida que tinha antes dela não tinha mais sentido para ele. Por André os dois ainda estariam juntos. Seu coração ainda batia acelerado só em olhar para ela. Às vezes ele se sentia um adolescente apaixonado pelo seu primeiro amor. Bruna sempre seria o seu grande amor. Nesse momento Bruna sentiu que era observada e olhou para frente. Seu olhar se encontrou com o de André. Aqueles olhos verdes que a olhavam agora com tanta intensidade sempre a fascinou. André era um homem muito bonito, Bruna sempre via as garotas da faculdade dando em cima dele, mas André sempre deixava bem claro que seu interesse nelas era somente como professor. Bruna sempre se perguntava o que André tinha visto nela. Ele podia ter a garota que quisesse daquela faculdade. Ela se considerava uma garota normal, sempre de calça jeans, camiseta e rabo de cavalo. A única maquiagem que usava era um batonzinho rosa claro.


As garotas que se jogavam em cima dele eram perfeitas, com seus vestidinhos curtos, suas longas pernas e com um jeito sedutor, o tipo que agrada a todos os homens. Mas André a escolheu. No começo todas as alunas veteranas se aproximavam dela e queriam saber o que aquela garota sem charme tinha feito para conseguir o professor mais gato da faculdade. Nesses momentos Bruna se sentia feliz com ela mesma ao saber que antes dela André nunca tinha ficado com nenhuma aluna. Ela se sentia especial porque ele a fazia se sentir assim. No começo Bruna acreditou que tinha encontrado o grande amor da sua vida, mas com o tempo ela percebeu que como das outras vezes, ela não conseguia se entregar de corpo e alma àquela relação. E isso a deixava frustrada e amargurada por acreditar que talvez ela nunca encontrasse o seu grande amor. No começo Bruna ficou atraída por André por causa do seu porte físico. André era forte, tinha os músculos definido em 1,80m de pura tentação. Tinha os cabelos pretos, cortados bem curtos e repartidos ao meio. Seus olhos eram verdes claros, que Bruna adorava admirar assim que André acordava, era quando eles ficavam ainda mais claros. Tinha uma boca larga e bem desenhada. Como ela, André também gostava de jeans e estava sempre de calça jeans e blusa polo, Bruna tinha comprado várias para ele. André sempre as usava presa na frente e solta atrás. Ele ficava ainda mais charmoso. Depois de um tempo, Bruna percebeu que André não era só um corpinho bonito. Era um homem estritamente carinhoso, atencioso, inteligente e um amante ardoroso na cama. Com o tempo Bruna foi


ficando cada vez mais encantada com André. Mas ao ver que nunca poderia amá-lo como ele realmente merecia, Bruna resolveu deixá-lo livre para encontrar alguém que fosse se entregar de corpo e alma a ele. Isso já tinha acontecido antes. André não era o primeiro namorado que Bruna deixava, mesmo amando-o, para que ele encontrasse a felicidade nos braços de outra mulher. Isso já tinha acontecido antes. Pouco depois de terminar o namoro ela sempre via seus ex-namorados felizes com outras garotas. Ela pensou que o mesmo fosse acontecer com André, mas não foi o que aconteceu. Depois que terminaram André não ficou com ninguém. Isso a fazia sofrer, ela queria que ele fosse feliz, que encontrasse alguém. Mas ao mesmo tempo ela ficava feliz ao saber que ele, de alguma forma, ainda era dela. Bruna sorriu com o seu sorriso tímido. Aquele sorriso foi o convite para que André se aproximasse. — Sou sempre a última a deixar a sala. Mais alguns meses e isso terminará — disse ela enquanto ele se aproximava. Bruna voltou a guardar suas coisas dentro da bolsa. — Vou sentir sua falta. Ela parou o que estava fazendo e o olhou com carinho. — Não vou para o outro lado do mundo — levantou e ficou tão perto dele que sentia sua respiração em seu rosto. — Foi o melhor que apareceu para mim, André. — Trabalhar em um museu em São Paulo arrumando o arquivo deles? Pegou sua bolsa e colocou atravessada no ombro. Já


tinham conversando sobre aquilo, não queria discutir com ele mais uma vez sobre sua decisão. — Você sempre me disse que queria trabalhar como assistente de algum arqueólogo e poder aprender para ser uma grande arqueóloga. Espere mais um pouco, Bruna. — Não quero, André — disse de modo rude. — Já conversamos sobre isso. Quero trabalhar na minha área assim que terminar a faculdade. Eu vou aceitar esse emprego em São Paulo. — Quando vai dar a resposta a eles? — Semana que vem. Vou viajar até São Paulo e me familiarizar com o lugar. Eles já disseram que vão esperar eu terminar a faculdade. Isso vai ser bom para mim. Quantas pessoas terminam a faculdade já com um emprego em vista? Eu tive sorte. Bruna desceu alguns degraus e parou, virou o corpo e olhou para André. — Ainda vamos nos ver, André. Sempre que der vou vir ao Rio. Sabe o quanto amo essa minha cidade e esse sol — sorriu. — Sabe que não é só por causa disso que estou insistindo que espere mais um pouco para começar a trabalhar — passou por ela e foi para perto de sua mesa, Bruna o acompanhou. — Sei que vai sofrer por não estar fazendo o que realmente quer. — Não se preocupe, André — tocou com carinho em seu rosto. — Não vou ficar parada. Vou enviar algumas cartas para alguns arqueólogos aqui do Brasil. Sei que algo legal ainda vai aparecer para mim.


André a olhou desanimado e os dois deixaram a sala juntos. A noite Bruna estava tomando banho quando o telefonou tocou na sala. Ela suspirou. — Sempre que estou no banho o telefone toca. Isso já está virando rotina. Fechou a torneira rapidamente, se enrolou na toalha e foi até a sala atender ao telefone. — Alô! — Bruna, é o André. Estou indo aí, tenho uma novidade para você — disse animado. — Vou avisar para o porteiro que você está chegando. É só subir quando chegar. — Até daqui a pouco. Bruna voltou para o banheiro e tomou um banho rápido antes que André chegasse e atrapalhasse novamente o seu banho. Bruna estava curiosa para saber o que André tinha para lhe contar. Ele parecia muito animado com a novidade. Pouco depois André estava sentado no sofá da sala do apartamento de Bruna com um largo sorriso no rosto. — Qual é a novidade? — perguntou ao sentar no sofá de frente para ele e amarrar o cabelo em um rabo de cavalo. — Como está o seu inglês, Bruna? — Bem — disse olhando para ele desconfiada. — Consigo me virar muito bem com o inglês que sei. Fiz três anos de Inglês. — O que você acha de fazer um estágio de arqueologia na Escócia?


Bruna arregalou os olhos ao encarar André não acreditando em sua pergunta. — Está falando sério? — perguntou com sorriso ansioso nos lábios. — Depois que terminei a faculdade eu trabalhei dois anos com um arqueólogo na Escócia. O Dr. Hendri Scott. É um ótimo arqueólogo. Eu liguei para ele para saber se ele sabia se algum arqueólogo estava precisava de uma assistente. Ele me disse que estava justamente à procura de uma assistente. Mas que estava sem muitos recursos por isso estava contratando uma estagiária. Eu comentei com ele sobre você e ele topou contratá-la. Você topa? Bruna levantou do sofá e andou um pouco pela sala, ela ainda não acreditava que o que André tinha terminado de falar era realmente verdade. Um estágio na Escócia com um dos melhores arqueólogos da Europa. Bruna já tinha ouvi muito falar do arqueólogo escocês Hendri Scott, ele era um dos melhores em sua área. — É claro que eu topo, André — sentou ao lado dele e o abraçou. — Eu nem acredito que isso está mesmo acontecendo. Quando eu tenho que ir? — O mais rápido possível. Ele está trabalhando em um sítio arqueológico que encontrou em uma caverna no norte da Escócia. — Me dê dois dias e tudo estará pronto para minha viagem. — Temos que comemorar. Que tal sairmos para dançar? — Eu me arrumo em cinco minutos — disse indo em direção ao quarto.


Bruna deixou André sozinho na sala e foi até o quarto se arrumar. André andou pela sala do apartamento e parou em frente do porta retrato que tinha a foto dele e de Bruna em uma viagem que fizeram até a Chapada do Araripe, onde foi descoberto o fóssil do maior pterossauro descoberto no Hemisfério Sul e terceiro maior do mundo, com 8,5 metros de uma ponta da asa à outra. Foi à primeira viagem que fizeram juntos. Ele a amava muito e estava sofrendo pela viagem que ela faria para a Escócia. Mas ele sabia que era só por dois meses, logo ela estaria de volta e quem sabe eles reatariam o relacionamento novamente. André estava decidido que quando Bruna voltasse para o Brasil, faria de tudo para tê-la ao seu lado para sempre. Depois de uma comemoração em um barzinho com música ao vivo até a metade da madrugada, André parou o carro em frente ao apartamento Bruna. — Obrigado por tudo, André. — Sei que não estaria feliz no emprego em São Paulo. E sendo assistente do Dr. Hendri Scott você aprenderá muito, voltará com uma larga experiência. — É uma pena que seja só por dois meses, mas pelo menos é alguma coisa — sorriu. — Novamente eu peço obrigada pelo o que fez por mim. Nesse momento uma tensão foi sentida pelos dois dentro do carro. O olhar de um foi atraído pelo outro. Bruna tocou no rosto de André com carinho. Tudo o que André queria naquele momento era poder sentir novamente os lábios de Bruna colados aos seus. Ele


aproximou seu rosto e tocou seus lábios levemente nos dela. Mas seu desejo por Bruna era tão grande que ele não conseguiu se segurar e a agarrou com fúria e a trouxe para mais perto dele e a beijou violentamente. Bruna se entregou ao beijo de André. Ela gostava do sabor dos beijos dele, gostava de estar em seus braços. Bruna não sabia por que não conseguia se entregar plenamente àquela relação, por isso sempre que estava com André daquela forma, ela se entregava plenamente naquele momento. Quando os dois se separaram, as respirações estavam descompassadas. Bruna sorriu e foi recompensada com um largo sorriso de André. — Fica? — pediu Bruna com carinho. — É tudo o que eu mais quero. Bruna se ajeitou no banco do carona para que ele levasse o carro para a garagem do prédio. Horas depois os dois estavam na cama se recuperando dos momentos de prazer que um proporcionou ao outro desde que entraram no apartamento. André olhou pela janela e os primeiros raios de sol começavam a brilhar no céu alaranjado. Ele olhou para a mulher nua do outro lado da cama. Seus olhos passearam pelo corpo da mulher que tanto amava. A marca que Bruna tinha em sua barriga perto do umbigo chamou sua atenção. — Essa marca parece uma cicatriz de um corte — passou o dedo pela cicatriz. — Parece um corte de faca. Bruna olhou para sua barriga.


— Tenho essa marca desde que nasci. Minha mãe dizia que ela era pequena, mas que foi crescendo conforme eu crescia. Nunca gostei dela. E não me pergunte por quê. — Ela é linda porque faz parte de você. Bruna olhou para ele e sorriu. Ela se aproximou dele e o beijou. — Vamos dormir um pouco. Bruna se aninhou nos braços de André e fechou os olhos. André suspirou e sorriu ao pensar que tinha Bruna novamente em seus braços. Aquele era o lugar onde ela pertencia e não deixaria que saísse dali nunca mais. Ele teria que ficar sem ela por dois meses, mas logo ela voltaria para o Brasil e faria de tudo para que ela compreendesse que os dois nasceram para ficarem juntos. Ela seria dele para sempre. Tudo o que ele queria era formar uma família com Bruna.


Capítulo 2

Escócia

rês dias depois de André entrar em seu apartamento com a notícia de um estágio para ser assistente de um dos maiores arqueólogos da Europa, Bruna estava agora dentro de um avião indo para a Inglaterra, onde pegaria um trem que a levaria até Edimburgo. André lhe disse que uma pessoa da equipe estaria esperando por ela na Estação. Bruna estava com o coração acelerado por causa daquela nova aventura. Dentro do avião Bruna relembrou de como foi corrido os dois dias atrás. Ela teve que ligar para o emprego no museu de São Paulo e contar para o curador que tinha conseguido um estágio como assistente do arqueólogo Hendri Scott. Assim que o curador ouviu o nome, disse que entendia e que ela seria uma boba se deixasse passar aquela oportunidade. Ele prometeu que o emprego no museu a estaria esperando quando voltasse. André disse que o estágio duraria uns dois meses. Bruna sabia que seriam os dois meses mais importantes de sua vida. Ela percebeu que André não gostou de saber sobre o emprego no museu estar lhe esperando quando voltasse, ele disse


que enquanto ela estivesse na Escócia, arrumaria algo para ela no Rio de Janeiro, que era para ela esquecer o museu em São Paulo. Bruna resolveu não brigar com ele já que estava de partida. Quando chegasse o faria entender que ela queria vencer com seus próprios esforços. A despedida de André foi um momento difícil para Bruna. Ela sentia como se não fosse vê-lo nunca mais. Aquela sensação a assustou. Ela o abraçou e o apertou forte no meio do saguão do aeroporto. — O que foi, Bruna? — perguntou André ao sentir a tensão de Bruna ao abraçá-lo. — Só vamos ficar separados por uns dois meses. Ela se afastou se sentindo um pouco envergonhada por tê-lo abraçado daquela forma no meio de um terminal lotado de pessoas que olhavam para eles e sorriam. Com certeza estavam pensando que era uma despedida de namorados. — Eu sei. Acho que acordei um pouco manhosa hoje. Acho que é por causa do meu medo de avião — tentou disfarçar o que realmente estava sentindo. — Não se preocupe, vai dar tudo certo. Quando você se der conta que está em um avião, ele já vai ter pousado na Inglaterra — acariciou o rosto dela. Bruna sorriu com o otimismo de André. Antes de entrar no avião, Bruna se despediu de André com um longo beijo. Mas aquele não foi um beijo como os outros. Bruna não sabia o porquê, mas naquele momento ela se entregou de corpo e alma àquele beijo. Quando os dois se separaram, André olhou surpreso


para Bruna, ela nunca o tinha beijado com tanta entrega. Ele sorriu. — Eu estarei esperando por você e por mais beijos iguais a esse. Depois de 13 horas dentro de um avião, Bruna se sentia feliz por não estar mais sob as nuvens. Agora ela estava sentada dentro de uma cabine em um trem que a levaria até Edimburgo. Assim que chegou ao aeroporto de Londres de manhã bem cedo, pegou um táxi, o que não foi difícil falando tão fluentemente o inglês, e foi até a estação de trem e uma hora depois embarcou no trem para a capital da Escócia, Edimburgo. Agora teria que passar 5 horas dentro do trem. Era o tempo que levava de Londres a Edimburgo. De dentro da cabine ela olhava a paisagem passar pela janela, estava tão cansada por não ter conseguido dormir no avião, que seus olhos teimavam em se manterem fechados. Por causa do medo que tinha em voar, ela nunca dormia quando viajava de avião. Ao sentir o balanço silencioso do trem, Bruna acabou adormecendo. Quando acordou estavam na metade da manhã. Bruna saiu da cabine e foi até o vagão onde tinha o bar. Ela bebeu um suco e antes de voltar para a cabine, perguntou para o barman. — Ainda estamos na Inglaterra? — Não, senhora. Já tem uma hora que entramos na Escócia. — Obrigada pela informação. Bruna voltou para a cabine e olhou pela janela. Olhou para a paisagem e um sentimento de nostalgia tomou


conta dela. Bruna olhou pela janela e suspirou, tinha a sensação de estar voltando para a casa. O que sentiu a intrigou, como podia sentir aquela sensação se nunca tinha estado na Escócia? Balançou a cabeça e pensou que talvez aquela sensação fosse coisa de sua mente, talvez ela ainda estivesse um pouco desnorteada por causa das várias horas que passou no avião. Aquilo poderia explicar aquele sentimento de felicidade que estava sentindo. Ela sorriu e se ajeitou melhor na poltrona da cabine, talvez ela ainda estivesse nas nuvens. Sorriu ao pensar nessa possibilidade absurda. Bruna encostou a cabeça no encosto da poltrona e fechou os olhos, novamente acabou adormecendo. Horas depois Bruna acordou com o coração acelerado e suando frio, sua respiração também estava acelerada. Ela olhou para os lados para se certificar de onde estava. O sonho que tinha acabado de ter tinha sido tão real que ela ainda conseguia sentir o frio em sua pele. Mas não estavam na estação do frio, estavam em Julho, na metade da primavera. Ela ouviu o maquinista anunciar pelo altofalante que em cinco minutos o trem estaria chegando a Edimburgo. Bruna começou a se preparar para descer do trem, não queria fazer a pessoa que a estava aguardando na estação esperar demais por ela. Por mais que Bruna quisesse esquecer o sonho que teve momentos antes, ela não conseguia. Tudo que viveu no sonho passava por sua cabeça insistentemente. Assim que chegou à estação e desceu do trem, Bruna viu um senhor de cabelos e barba branca com os óculos na metade do nariz, baixo, pouco centímetros mais alto que


Bruna, e com uma barriga levemente arredondada. Ele estava na plataforma e olhava tudo a sua volta, parecia que procurava por alguém. Bruna se aproximou do senhor e viu que ele carregava um pequeno cartaz com o seu nome. Ela se aproximou ainda mais e ficou na frente do homem. — Olá! Eu sou Bruna Mattos. O homem a olhou com carinho e sorriu. — André disse que você era muito bonita, mas não disse que era tão bonita! — olhou Bruna da cabeça aos pés sorrindo. Bruna olhou para o homem velho em sua frente e ficou intriga ao ouvi-lo dizer o nome de André com tanta intimidade. O homem tinha uma voz grossa e falava pausadamente. — Eu sou Hendri Scott. Bruna arregalou os olhos ao saber que o homem que estava em sua frente era o famoso arqueólogo para quem iria trabalhar. Bruna nunca imaginou que fosse o próprio Hendri Scott que estaria esperando por ela na estação. — Desculpe, Dr. Hendri Scott, eu não sabia que seria o senhor que estaria me esperando — apertou a mão do homem e tentou se acalmar. — É um prazer conhecêlo. — O prazer é todo meu, Bruna. Venha, vou levá-la para o hotel. Você deve estar cansada depois dessa longa viagem. Amanhã partiremos para Cromore. É uma pequena cidade costeira na Ilha de Lewis. Já ouviu falar? — Não — disse como se lhe pedisse desculpa por não conhecer a cidade.


— Claro que não conheceria. Cromore não é uma cidade turística. Ficaram em silêncio até chegarem ao carro. — Eu fiquei muito feliz pelo senhor ter me aceitado como sua assistente — disse Bruna assim que entrou no carro. O Dr. Hendri dirigia um Rover prateado. Bruna se ajeitou no banco do carona e não pôde deixar de se sentir estranha ao sentar do lado esquerdo, o lugar onde os motoristas dirigem no Brasil. — Não se preocupe, logo você se acostumará — sorriu ao ver o olhar de Bruna ao sentar no banco do carona. Bruna sorriu e continuou. — Eu ouvir dizer que o senhor só contrata pessoas com experiência em arqueologia. O André deve ter lhe avisado que ainda estou na faculdade e que não tenho nenhuma experiência em campo. — Não se preocupe, Bruna. O André me disse tudo sobre você. A verdade é que você não será minha assistente. Eu estou trabalhando em uma descoberta na França, por isso não posso ficar aqui na Escócia. Você será assistente do meu sócio. Ele é uma ótima pessoa. E muito paciente. Tenho certeza que ele gostará de você. Ao ouvir as palavras do arqueólogo, Bruna olhou para frente para que ele não notasse em seu rosto a decepção por saber que não iria trabalhar com ele. — É uma pena que não irei trabalhar com o seu senhor, mas estou feliz por fazer parte da sua equipe — tentou dizer com animação. — Mas o senhor ficará alguns dias na


Escócia? — perguntou com esperança. Se ele ficasse pelo menos Bruna poderia aprender um pouco com ele. Seria muito bom para ela no futuro poder dizer que trabalhou com o famoso arqueólogo Dr. Hendri Scott. — Vou ficar alguns dias até que esteja entrosada com a equipe. Nossa equipe aqui na Escócia não é muito grande. Temos a Sra. Hailee MacKenzie que é a nossa antropóloga, Kevin MacLeen que é o assistente dela e Gillyan MacKenzie o meu sócio, que comanda a expedição em Cromore. Eu escolhi os dois por conhecerem bem a região e o pessoal. A Sra. Hailee já morou na Ilha de Lewis e Gillyan ainda mora na ilha. — Eu li que os ossos foram encontrados nos arredores de Cromore um mês atrás. — Foi um grande achado! Aqueles ossos tinham tudo para nunca serem descobertos. Fica em um lugar deserto e nada que chame a atenção para o lugar. Agora estamos estudando os ossos para saber mais sobre eles. Bruna estava muito empolgada para ver o sítio arqueológico com as ossadas encontrada. Ela não via a hora de poder estar trabalhando com a equipe do Dr. Hendri Scott. Assim que chegou ao quarto do Hotel Fraser Suítes Edinburgh, Bruna tomou um banho, almoçou no quarto e dormiu por algumas horas. Estava tão cansada que só acordou ao ouvir as batidas na porta. Bruna colocou o roupão por cima do baby-doll e foi abrir a porta. — Desculpe, Bruna. Não pensei que ainda estaria


dormindo. — Tudo bem, Dr. Hendri. Eu já ia acordar mesmo. — Eu vim convidá-la para jantar. Vou levá-la em um restaurante que gosto muito aqui em Edimburgo. Vou esperá-la no saguão do hotel. — Eu me arrumarei em poucos minutos — disse Bruna com um sorriso nos lábios. Assim que fechou a porta, Bruna pegou uma calça jeans na mala, uma blusa de manga cumprida, apesar de estarem na primavera a noite estava fria. Depois de tomar um banho rápido, colocou a roupa escolhida, calçou suas botas sem salto, colocando a calça por dentro das botas, prendeu o cabelo em um rabo de cavalo, deixou uma mexa solta na frente e desceu para o saguão, onde encontrou com o Dr. Hendri, que a levou para jantar em um restaurante perto do Castelo de Edimburgo. Enquanto andavam a pé pelas ruas da cidade, o Dr. Hendri lhe contava algumas histórias sobre aquela parte da cidade. Eles não tiveram que andar muito, o hotel ficava somente duas quadras do restaurante. Bruna estava fascinada por Edimburgo, para cada lado que olhava, via algo que a levava para a era medieval. Apesar de todo o seu entusiasmo com Edimburgo, Bruna não via a hora de chegar às Highlands e conhecer o sítio onde trabalharia. Bruna e o Dr. Hendri passaram várias horas conversando sobre a Escócia e Edimburgo. Quando voltaram para o hotel era tão tarde que assim que chegou ao quarto do hotel, Bruna foi direto para cama e adormeceu. Ela tinha combinado que assim que chegasse à Escócia ligaria para André e eles conversariam por vídeo,


mas Bruna estava tão cansada que acabou esquecendo a promessa que fez para André. No dia seguinte Bruna deixou Edimburgo na parte da manhã na companhia do Dr. Hendri Scott. Eles foram no carro do Dr. Hendri. Bruna aproveitou bastante a viagem, em nenhum momento ela tirou os olhos da paisagem que passava pela janela do Rover prateado. Bruna sorria encantada pela Escócia. Ela se sentia feliz como nunca antes tinha se sentido. Desde pequena Bruna sentia que faltava algo em sua vida. Nunca se sentiu feliz plenamente. Perdeu os pais quando ainda era uma menina e foi morar com os tios, irmã da sua mãe. Eles não tinham filhos e por isso a tratavam como filha. Os perdeu quando era adolescente, quando teve que aprender a se virar sozinha. Bruna sentia que em sua vida sempre seria assim, ela sempre perderia as pessoas que amava, por isso procurava não se entregar. Estava cansada de perder as pessoas que amava. Mas desde que chegou à Escócia, sentia algo diferente em seu coração. Uma felicidade nunca sentida antes. Quando chegaram às Highlands, passaram pelo Lago Ness. — Será que vamos ver o monstro Ness? — perguntou Bruna sem tirar os olhos do lago. A estrada passava bem perto do lago. — Quem sabe — disse o Dr. Hendri sorrindo. — O senhor não acredita no monstro do Lago Ness? — perguntou Bruna surpresa ao virar e olhar para o arqueólogo.


— Como escocês eu acredito, mas como arqueólogo, acho pouco provável que tenha um Plesiossauro vivendo nas águas do lago. Essa história de monstro do Lago Ness começou por causa de uma mentira. — Uma mentira? — Sim, uma mentira. Em 1934 um repórter do Daily Mail, falsificou a foto do monstro em busca de um furo jornalístico. Acredito que ele não deve ter imaginado que fosse dar tanto o que falar aquela foto. Dias depois começou a chover cartas de pessoas relatando seu encontro com o monstro. Pouco depois equipes e mais equipes, até mesmo de outros países, vieram para as Highlands atrás do tal monstro. Isso teve suas vantagens, chamou a atenção do mundo para algo de muito bonito que temos aqui nas Highlands. O Lago Ness. Que ficou conhecido mundialmente. Quem não conhece o Lago Ness? — Eu ouço falar do monstro do Lago Ness desde criança. Fiz muita pesquisa sobre ele, e isso me motivou a querer ser uma arqueóloga. O Dr. Hendri sorriu ao ouvir aquela revelação. — Fico feliz em saber que decidiu ser uma arqueóloga por causa da Escócia. — Gostaria de estudar o lago algum dia. — Quando fizer isso, gostaria de estar ao seu lado. — Será um prazer. Os dois sorriam e continuaram a viagem pelas lindas paisagens das Highlands. Chegaram a Uig, a cidade onde pegariam uma balsa que os levariam até Tarbert, uma cidade da Ilha de Harris.


Da cidade continuariam a viagem pela Ilha de Harris e Lewis no Rover do Dr. Hendri. Bruna ficou ainda mais encantada com a travessia da balsa do continente para as ilhas. As águas estavam calmas e a travessia foi tranquila. Assim que chegaram a Tarbert, Bruna viu que era uma cidade pequena e muito aconchegante. De repente ela sentiu uma necessidade muito grande de conhecer todo o lugar. Olhou tudo a sua volta e sorriu. Ela sentia uma paz em seu coração. Momentos depois estavam novamente na estrada. Pegaram a estrada que os levariam para a parte que era a Ilha de Lewis. Depois de uma hora de viagem, ao entrar na estrada que os levaria até a cidade de Cromore, Bruna olhou para a paisagem e sem conseguir entender, reconheceu o lugar. — Podemos parar? — pediu Bruna de repente. O Dr. Hendri achou um pouco estranho o pedido de Bruna, mas parou o carro. — Está tudo bem, Bruna? — perguntou assim que o carro parou. Bruna ignorou a pergunta do arqueólogo e desceu do carro. Caminhou até o começo da colina por onde a estrada passava. Bruna sentiu que já tinha visto aquela paisagem. Ela olhava para tudo e não compreendia como podia conhecer tudo aquilo se nunca tinha estado na Escócia e nem naquele lugar. — O que está acontecendo, Bruna? — perguntou o Dr. Hendri. Ele olhava preocupado para ela. — Não sei como explicar, mas eu já estive aqui. Eu


conheço esse lugar. — Pensei que fosse a primeira vez que estivesse na Escócia? — E é. — Então você deve ter visto esse lugar em alguma foto. — Não. É como se eu já tivesse estado aqui. É estranho. — A verdade é que você não é a primeira pessoa que se sente assim. Essa ilha é mágica — disse sorrindo. Bruna sorriu. — Deve ser isso, então! — A caverna onde encontramos os esqueletos fica aqui perto — apontou para uma pequena colina que tinha um pouco mais a frente. A colina ficava ao pé de um descampado com a vegetação rasteira. Bruna também reconheceu aquele lugar para onde o arqueólogo apontava. De repente ela se lembrou de onde reconhecia aquele lugar. Do sonho que teve quando estava no trem. Ela tinha certeza que tinha sonhado com aquele lugar, com aquela mesma colina. No sonho ela corria por aquele descampado, ela vestia um longo vestido escuro com um corpete envolvendo sua cintura e parte dos seus seios. Seus cabelos estavam soltos e voavam ao vento. Em sua mão esquerda ela segurava uma espada ensanguentada. Ela olhava para os lados e procurava desesperadamente por alguém. No sonho ela gritava pelo nome de alguém, mas não saia nenhum som de sua boca. Foi um sonho que a deixou muito intrigada quando acordou, mas quando chegou à estação e viu o Dr. Hendri esperando por ela, acabou esquecendo o sonho. Mas agora ele voltou


nitidamente em sua mente. Ela olhava para o lugar e via a imagem do seu sonho. — Você gostaria de passar primeiro na caverna e conhecer o pessoal, ou prefere se instalar primeiro? O Dr. Hendri interrompeu os pensamentos de Bruna com sua pergunta. — Eu gostaria de ir até a caverna. — Então vamos. Enquanto o carro voltava a percorrer a estrada que os levaria até a caverna, Bruna voltou a pensar no seu sonho e tudo o que estava acontecendo, ela não conseguia entender como tinha sonhado com cada detalhe daquele lugar se nunca tinha visto antes? Bruna saiu do seu devaneio ao ver o carro entrar em uma rua de terra batida, onde a paisagem era bem fechada. As copas das árvores se tocavam e deixava a estrada um pouco escura por causa da sombra que elas faziam. Pouco depois os dois chegaram ao acampamento onde estava a equipe do arqueólogo Dr. Henri Scott. Bruna olhou para aquele lugar e sentiu que lhe era familiar, e diferente do que sentiu na colina, ela não se sentiu feliz em estar ali. Ela sentiu uma amargura no peito. Afastou aquele sentimento e acompanhou o Dr. Henri até uma tenda marrom que tinha sido montada perto de onde tinham encontrados os esqueletos. Assim que entraram na tenda, Bruna viu uma mulher de cabelos cinza debruçada em cima de uma mesa com vários objetos que tinham encontrado na caverna. — Sra. Hailee.


A antropóloga virou abruptamente e sorriu ao ver o Dr. Henri na entrada da tenda. — Dr. Henri, esperávamos pelo senhor só amanhã. — Onde está, Kevin e Gillyan? — Kevin foi até Edimburgo pesquisar algo para mim. Gillyan levou um pedaço de osso de um dos esqueletos que encontramos até Londres para datar a idade deles. — Essa é Bruna Mattos. Ela será a assistente de Gillyan. — Que bom que chegou, Bruna — disse a Sra. Hailee sorridente e a cumprimentou — Temos muito trabalho e pouco pessoal — olhou para o Dr. Henri colocando a culpa nele. — Eu não posso fazer nada se o parlamento escocês me deu poucos recursos para trabalhar neste sítio — defendeuse o arqueólogo. — Seja bem-vinda à Escócia, Bruna. — Obrigada, Sra. Hailee. — Vamos, Bruna. Vou lhe mostrar a caverna e os esqueletos — disse o Dr. Henri ao colocar a mão no ombro de Bruna e guiá-la para fora. Bruna deixou a tenda e foi em direção à caverna. Ela sentia seu coração acelerar a cada passo que dava. Ela atribuiu aquela agitação pela emoção de fazer parte pela primeira vez de uma equipe de arqueologia. Na faculdade ela já tinha feito parte de alguns sítios arqueológicos, mas sabia que estava ali só com uma espectadora. Mas agora era diferente, ela fazia parte da equipe e teria muito trabalho pela frente. Estava muito ansiosa para conhecer a caverna. — Como os ossos foram descobertos? — perguntou


Bruna ao subir a colina. — Um mês atrás dois moradores encontraram a caverna enquanto faziam uma caminhada pela colina. A caverna estava fechada por várias pedras, mas com o tempo algumas pedras foram se soltando e a entrada da caverna ficou visível. Eles abriram e encontram as duas ossadas e informaram às autoridades. E agora estamos aqui para descobrir tudo sobre elas. Enquanto ouvia o Dr. Hendri falar, Bruna olhava tudo em volta e sentia que aquele lugar não lhe era estranho. Aquela sensação de Déjà-vu não queria deixá-la. — Alguém escondeu os corpos lá dentro? — É o que vamos descobrir. A Sra. Hailee acredita que tenha sido um assassinato e que os corpos foram escondidos dentro da caverna. O que está nos intrigando é o jeito como os corpos foram colocados. — Como? — Você verá com os seus próprios olhos. Bruna viu o Dr. Hendri entrar na caverna e desaparecer dentro dela. Ela parou a poucos passos da entrada e ficou olhando em sua direção. Ela sentiu seu coração disparar como se fosse encontrar algo que mudaria para sempre sua vida. Um temor passou por todo o seu corpo. Bruna olhou para trás e pensou se não deveria escapar do que a estava esperando dentro daquela caverna. Ela voltou a olhar para a entrada da caverna. — Você não vai entrar? — perguntou o Dr. Hendri ao aparecer na entrada. Bruna acenou que sim e foi em direção à caverna.


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