Prólogo Dois dias depois do casamento de Carina, ela subiu a pé até o Mirante do Encontro. A subida não foi fácil como não estava sendo fácil sua vida naqueles últimos dias. Aquele lugar já lhe trouxe lembranças de momentos felizes, mas tudo o que ela sentia agora era uma imensa tristeza por aqueles momentos. Era finalzinho de tarde e em pouco tempo a noite chegaria. Carina se aproximou lentamente da beirada da montanha e assim que sua mente a levou direto para a lembrança da primeira vez que Rodrigo a levou naquele lugar, afastou rapidamente aquele pensamento. Ela tinha certeza que foi naquele momento que tudo começou. Foi no instante daquele primeiro beijo que ela começou a abrir o seu coração para ele. E esse foi o seu grande erro. Olhou para o horizonte que ainda estava alaranjado mostrando ao mundo o poder magnifico de Deus. Aos poucos o brilho do sol começava a sumir no horizonte. Fazendo daquele mais um lindo por do sol. Enquanto olhava para aquele lindo espetáculo, Carina perguntava a si mesma, por que Rodrigo a tinha traído daquela forma? Por que ele tinha jogado fora tudo o que tinham vivido juntos?
Carina abaixo a cabeça e lágrimas de tristeza rolaram de seus olhos. A dor que estava sentindo no peito era tanta que quase não conseguia suportar. Quando tinha 12 anos sua avó lhe contou o que tinha acontecido com sua mãe. Ao saber de todo o sofrimento que a mãe passou, Carina prometeu a si mesmo que jamais deixaria que um homem fizesse com ela o mesmo que seu pai fez com sua mãe. Prometeu que jamais deixaria que o amor entrasse em seu coração. Mas depois que conheceu Rodrigo sua promessa aos poucos foi esquecida. E quando viu já estava loucamente apaixonada por ele. Mas acreditou que Rodrigo fosse diferente de seu pai e que nunca a magoaria. Como ela estava enganada! E agora como faria para tirar Rodrigo do seu coração? Com essa pergunta ecoando em sua cabeça, Carina voltou a olhar para o horizonte e viu que o céu começa a escurecer. O dia começava a dar lugar à noite. E seria assim que ela arrancaria aquele amor de seu coração. Aos poucos. Apesar de odiar Rodrigo com toda a sua força, o amor que sentia por ele ainda estava vivo em seu coração. Mas ele tinha certeza, que como o dia aos poucos dar lugar à noite, aos poucos aquele amor despareceria do seu coração. Carina prometeu a si mesma que jamais deixaria que outro homem a engasse com Rodrigo a enganou. Jamais voltaria a amar novamente. Ela tinha certeza que com o tempo ela esqueceria Rodrigo para sempre. Mas as coisas não aconteceram com Carina esperava. Nesse mesmo momento em São Paulo, Rodrigo estava
sentado em frente ao volante do carro de Alan. O carro estava parado em frente ao portão do Parque Ibirapuera. Rodrigo estava esperando que o dia se transformasse em noite para poder entrar no parque. Depois que a revista saiu com aquela notícia, ele não conseguia mais ter paz ao sair na rua. Todos os fotógrafos queriam tirar fotos dele e os fãs o reconhecia em todos os lugares. Queriam abraçá-lo e um autógrafo. Ele tinha conseguido o tão sonhado reconhecimento. Mas não conseguia se sentir feliz com isso. Assim que a noite chegou com a sua escuridão, Rodrigo colocou o boné e o óculos escuro, e saiu do quarto. Andou pelas ruas do parque apresadamente para que ninguém o reconhecesse. Parou ao chegar em um grande lago no meio do parque. Rodrigo olhou para o lago e sentiu uma grande dor no coração. Tentou não chorar, já tinha derramado lágrimas demais ao descobrir à traição de Carina. Ele ainda se perguntava por que Carina tinha jogado fora tudo o que tinham vivido. Ele acreditou realmente que ela o amava e que viveriam juntos para sempre. Como ele pôde se enganar tanto com Carina! Ela provou que não era diferente das outras garotas que tinha conhecido. Decidiu que não deixaria que aquela dor o impedisse de viver. Faria como seu pai. Mataria Carina dentro do seu coração. Assim a esqueceria para sempre e viveria sua vida como se ela nunca tivesse entrado em sua vida. Colocou a mão no bolso da calça e retirou um aliança de dentro dele. Ela brilhou na palma de sua mão ao ser
refletido o brilho da lua em seu aro dourado. Ele colocou a aliança em sua frente e lágrimas rolaram por seu rosto. Limpou o rosto por baixo do óculos. Prometeu a si mesmo que não voltaria a chorar por Carina. Ela não merecia suas lágrimas. Fechou os olhos e levantou o braço que segurava a aliança acima de sua cabeça. Agora que ele tinha matado Carina em seu coração, ele a enterraria para sempre no fundo daquele lago. Estava preparado para jogar a aliança nas águas escuras do lago do parque, mas de repente colocou a aliança de volta na palma da mão e a apertou tanto que chegou a ferir. Por mais que ele odiasse Carina por sua traição, ele ainda não estava preparado para enterrá-la. Rodrigo guardou a aliança novamente no bolso. Prometeu a si mesmo que um dia voltaria naquele mesmo lago e enterraria Carina pra sempre no fundo daquele lago e nunca mais voltaria a pensar nela novamente. Decidiu que assim que saísse daquele parque, faria com que aquela notícia da revista virasse verdade e seguiria com a sua vida. Rodrigo virou, dando as costas para o lago, e caminhou anonimamente em direção à saída do parque.
O Folheto Primavera de 1986 – Pureza – Rio de Janeiro Assim que entrou no colégio Fernão Diaz, Carina olhou com as sobrancelhas cerradas alguns garotos que corriam de um lado a outro do pátio do colégio. O primeiro pensamento em sua cabeça foi que aqueles garotos ainda acreditavam estar no ensino fundamental, como sua avó dizia: alguns garotos nunca crescem. Desde o ensino fundamental Carina sempre acreditou que não pertencia aquele mundo. Ela não conseguia se encaixar naquele mundo dos adolescentes. Era uma garota reservada, que não tinham amigas e nem saía para curtir a noite. A verdade era que tinha se fechado para o mundo desde os seus 12 anos, quando soube o que aconteceu com sua mão. Por esse motivo ela afastava a todos de perto dela. Mas no último ano do ensino fundamental isso mudou. Carina conheceu Alex, um garoto recém-chegado na escola e na cidade. O diretor pediu que Carina, umas das melhores aulas do colégio, mostrasse o colégio para o novo aluno. Carina viu que Alex também era reservado e
muito inteligente. Sua conversa favorita era sobre escola, estudo, trabalho do colégio. Com certeza ele era diferente dos garotos que conhecia, não quem conhecia, mas com quem estudava. Eles acabaram se tornando melhores amigos. Estavam sempre juntos no colégio e se encontravam todos os sábados e passavam as tardes juntos. Geralmente na praça do bairro de Carina. A avó de Carina não deixava que ela fosse na casa de Alex. A avó era muito protetora e ela entendia. Um dia ele disse não concordar com a avó com toda aquela proteção. Então Carina contou o que aconteceu com sua mãe. Era primeira vez desde que soube, que ela contava para alguém. Alex percebeu o quanto tudo aquilo magoava a amiga e nunca mais tocou no assunto. Com o tempo Alex montou um grupo no colégio onde só entrava quem gostava de estudar. O grupo debatia sobre vários assuntos, faziam palestras e cursos entres eles próprio. Pela primeira vez Carina estava participando de um grupo. E eles ficaram conhecidos com os grupo nerd. No começo Carina se sentia bem quando estava com o grupo. Mas o tempo foi passando e algo dentro dela dizia que ainda na tinha encontrado o seu grupo. Apesar de gostar de estudar e conversar sobre estudo, aquilo às vezes a cansava. Estudo e falar sobre estudo o tempo todo a cansava. Senão fosse por Alex ela nem estaria mais com os nerds. Mas ela gostava de ficar com Alex, e para estar com ele tinha que participar do grupo dele. E quando terminaram o ensino fundamental e passaram para o ensino médio, todos do grupo passaram. O colégio Fernão Diaz era o único estadual da cidade.
Não precisava nem fazer prova. Todos que terminavam o ensino fundamental passava direto para o colégio Fernão Diaz. Mas não havia nenhum faculdade em Pureza, e nem em Cambuci, a maior cidade por perto. Quem quisesse fazer o ensino superior tinha que ir para a cidade do Rio de Janeiro. Carina sabia que tinha que começar a pensar nisso, tinha três anos para pensar em como faria para fazer faculdade no Rio de Janeiro, já que não conhecia ninguém lá. Seu sonho era se tornar uma grande economista. Adora os números. Ao virar um pouco o corpo para o lado, Carina viu Alex se aproximando com um sorriso nos lábios. Alex não era nenhum galã de novela, mas tinha o seu charme. Tinha os cabelos curtos partido ao meio e jogado para trás em camadas. Tinha a mania de jogar um dos lados para trás o tempo todo. Seus olhos azuis escuros ficavam escondidos atrás de um óculo de armação quadrada. Era alto e magro. Era branco com vários pintas pelo corpo, principalmente no pescoço. As garotas nerds eram todas caidinhas por ele. Sempre foi o mais inteligente do grupo. Tinha se mudado para Pureza no começo do ano passado. Ele trabalhava com o pai na parte da tarde em loja de ferragens no centro da cidade. Alex se aproximou e abraçou a amiga descansando o braço nos ombros dela. — Como está se sentindo em seu primeiro dia no ensino médio? Carina olhou para o amigo como se aquela fosse uma pergunta sem nenhum sentido para ela. — Normal — levantou os ombros ao responder a
pergunta. Alex se afastou um pouco e ficou em frente a ela. — Não está se sentindo nem um pouco diferente? — insistiu o garoto. — Mais adulta talvez? — Adulta, Alex? — olhou para ele não acreditando em sua pergunta. — Eu ainda me sinto com 15 anos se quer saber. — Eu não estou dizendo na idade. Mas no espírito. No modo de ver a vida — disse olhando para o céu de forma sonhadora. Ela riu achou o amigo um bobo. — Não, Alex. — Já disseram para você que é uma pessoa bem chata? — Hoje ainda não — olhou para cima como se estivesse buscando em sua memória. — Você foi o primeiro. Os dois riram da brincadeira. — O que é isso em sua mão? Carina pegou um folheto que Alex estava segurado desde que se aproximou dela. — E um panfleto de uma banda de rock. — Uma banda de rock? — olhou para ele surpresa. — Desde quando você gosta de rock? — Foi uma garota que me deu e eu peguei — disse como se não fosse nada de importante. — A banda vai tocar pela primeira vez no bar Atolados que fica lá no centro. — Eu sei onde fica o bar Atolados. Esqueceu que eu nasci e cresci aqui? O bar Atolados era o único bar decente com música ao vivo que tinha na cidade. Era frequentado por bêbados e
viciados. — E qual é o nome dessa banda de rock? — Asfalto Negro. Carina olhou para o amigo e fingiu enfiar um dedo na boca, simulando vômito. — A banda não deve ser tão ruim assim, Carina. Todo o colégio está falando da banda. Parece que os integrantes da banda estudam aqui. Vamos? — Eu não gosto de rock, você sabe. — Você não gosta de nenhum tipo de música, Carina. Até hoje eu não entendo como pode ter no mundo uma pessoa que não ouve música. — Mesmo que eu gostasse, Alex, sabe que minha avó não me deixaria ir. — Eu não entendo sua avó. Já nos conhecemos a mais de um ano e ela ainda não gosta de mim. Sempre me olha como se pudesse me ver por dentro. E tenho certeza que ela não gosta do que ver. Carina riu do modo dramático que Alex disse aquelas palavras. — Vou lhe dizer uma coisa, Alex. Isso não é só privilégio seu. Eu moro com ela há 15 anos e ela ainda não gosta de mim. Os dois voltaram a rir. — Vamos esquecer sua avó e vamos procurar o restante da turma para ver em que aulas estamos juntos. — Vamos. Ele voltou a colocar os braços em volta dos ombros dela e os dois caminharam juntos para dentro do colégio.
Quem visse os dois de longe acreditaria que eram namorados.
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