O Beijo do Highlander - Marcia Pimentel

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Sinopse: Em seu caminho para se encontrar com o seu futuro marido no Castelo Strome, o destino colocará Jeanne Sinclair de frente com um Highlander que lhe despertará com um beijo, desejos nunca antes sentido. E a partir desse encontro, suas vidas mudarão. Eles terão que lutar para se manterem afastados, pois o amor que sentem em seus corações, é proibido. Mas como conseguir resistir ao desejo de estarem juntos? Como sufocar um amor tão grande? Sabendo que se ficarem juntos estarão fazendo algo de muito errado, eles decidem se afastar para sempre. Mas por causa de uma tragédia, o destino os colocará juntos novamente. E agora os dois terão que lutar contra um inimigo que ameaça seu lar e pessoas amadas.


Capítulo 1 O Encontro no Lago Carron

Escócia, Norte das Highlands Verão de 1552

O sono de Jeanne Sinclair foi perturbado por vozes vindas do corredor. Ela abriu os olhos e sentiu a claridade de mais um dia de verão em seu rosto. Estavam na metade da estação mais quente do ano. Apesar dos dias estarem mais quentes, as noites nas Highlands eram sempre geladas. Ela inspirou e sentiu o cheiro da lenha que ainda queimava na lareira. Ela olhou para cima e observou o forro da cama com dossel. O tecido era velho e os desenhos bordados estavam gastos pelo tempo. Mas ainda dava para ver lindas rosas azuis, amarelas e vermelhas. Suas cores, que um dia tinham sido vibrantes, agora estavam desbotadas. Mas, uma rosa no velho forro chamou sua atenção. A rosa tinha cinco pétalas brancas no formato de coração, e o centro da rosa era amarelo com pequenos pontos em marrom. Mais o que realmente chamou a atenção de Jeanne, foi que aquela rosa era a única rosa branca em todo o forro, ela estava no centro e suas cores não estavam desbotadas como as outras. Jeanne ficou


intrigada com aquele contraste no forro que adornava a cama onde dormia. Era como se aquela rosa branca fosse especial de alguma forma. Ao abaixar um pouco o olhar, Jeanne encontrou uma janela fechada a sua frente. Foi então que se deu conta que não estava em seu quarto no Castelo Girnigoe. Por um momento se viu perdida e não se lembrava de onde estava. Precisou de um tempo para se lembrar de como tinha chegado até aquele quarto. Suspirou resignada ao se lembrar de que realmente aquele não era o seu quarto, mas sim o quarto de uma hospedaria. Olhou tudo em volta e viu que o quarto era pequeno e muito simples. Tinha somente uma cama onde ela dormia, uma poltrona com o forro rasgado em várias partes, e uma mesa com duas cadeiras. Bem diferente do seu quarto! O quarto de Jeanne no Castelo Girnigoe era tão espaçoso que ela e as primas brincavam de correr quando eram apenas meninas. Lembrou-se do tecido macio verde musgo que adornava sua cama, um tecido que ela mesma tinha escolhido quando foi com a mãe na feira na vila de Wick. Lembrar-se de seu quarto, do Castelo Girnigoe, onde viveu por toda sua vida, a deixou deprimida. Ela lembrou o motivo de estar naquele quarto de hospedaria. No dia anterior, tinha deixado o Castelo Girnigoe com a primeira luz do dia. Deixou o castelo depois de se despedir de seu irmão William e de sua cunhada Elise, que estava à espera de seu primeiro filho. Foi com grande tristeza que Jeanne deixou o castelo e sua família naquela manhã de verão. Agora ela estava em uma hospedaria na


vila de Lairg, estava viajando rumo ao um destino que mudaria para sempre a sua vida. Ela suspirou e se preparou para mais um dia de viagem. Só chegaria a Strathcarron na tarde do dia seguinte. Foi o que Sir Lorne disse quando chegaram à hospedaria na vila de Lairg. Sir Lorne era o homem de confiança do Earl William, senhor do Castelo Girnigoe, que ficava ao norte da vila de Wick. Irmão de Jeanne e chefe do clã Sinclair. Sir Lorne também foi o homem de confiança do Earl Dougan, pai de William e Jeanne. Ele tinha morrido há um pouco mais de um ano. Como tinha pouco tempo que William era o chefe do clã Sinclair, ele achou melhor não se afastar do clã. Ele tinha medo que o chefe do clã Gunn, seu maior inimigo, se aproveitasse para atacar o castelo e tomá-lo. Por esse motivo que Sir Lorne entregaria a irmã do chefe do clã Sinclair para o seu futuro marido. Quando ela chegasse ao seu destino, teria que se casar com um homem que nunca viu em sua vida, que nem ao menos sabia de sua existência até um mês atrás, quando seu irmão William lhe comunicou que se casaria e moraria em Strathcarron, o lar do clã MacDonell. Jeanne se lembrou da primeira vez que foi comunicada que se casaria. Ela tinha 13 anos quando sua mãe chegou em seu quarto e lhe contou que seu pai estava procurando um pretendente para que pudesse se casar. Ela sempre soube que esse dia chegaria e não ficou ressentida. Esse era o destino de todas as mulheres. Casar, ter filhos, cuidar do marido, dos filhos e da casa. Jeanne só esperava que fosse com um homem bom e que não fosse muito velho. Mas à


procura não foi fácil porque seu pai queria conseguir com o seu casamento uma boa aliança com algum clã amigo. E um ano depois uma tragédia se abateu na família Sinclair. Sua mãe estava grávida e caiu da escada e perdeu o bebê. Ela ficou dias com febre e acabou morrendo. Durante um ano seu pai ficou de luto. Depois de ter passado um ano da morte da mãe, Jeanne acreditou que seu pai voltaria a procurar um pretendente para ela. Mas em uma manhã fria, durante a refeição no grande salão, ela soube que seu pai desejava se casar novamente e mandou que procurassem por uma donzela pelos clãs aliados. Um ano depois seu pai morreu em uma batalha contra o clã Gunn, antes que encontrassem uma pretendente para ele. Dias depois o irmão, com 22 anos, foi apresentado como o chefe e dois meses depois se casou. Mais um ano se passou e todos receberam uma notícia que os alegrou muito. Elise estava grávida. Meses se passaram e Jeanne já se acostumava com a ideia que não se casaria mais. Estava ficando velha e nenhum homem a aceitaria como esposa. Estava com quase dezoito anos, e muitos a considerava velha para o casamento. Mas de repente seu irmão a chamou até sua sala de reunião e disse que ela se casaria em um mês. E agora ela estava indo para Strathcarron para se encontrar com o seu futuro marido e selar aquela união. Decidida a enfrentar mais um dia de viagem, Jeanne sentou na cama. Ela virou o corpo de um lado a outro e sorriu ao olhar para as duas primas que a acompanhava na viagem. Mhairie e Bethia Sinclair eram filhas de seu tio Taghan Sinclair, irmão de seu pai. Mhairie e Bethia eram


alguns anos mais novas que Jeanne, com diferença de um ano entre as duas irmãs. Seu tio estava à procura de um pretendente para Bethia, a mais velha entre as duas. As duas tinham lindos cabelos dourados. E somente nisso elas eram parecidas. As duas tinham personalidades bem diferentes e também eram diferentes na aparência. Mhairie tinha excesso de carne em seu corpo, enquanto a irmã era desprovida de carne. O rosto de Mhairie era arredondado, enquanto que de Bethia era macilento, e por causa disso Mhairie sempre a chamava de rosto de cavalo. Jeanne era bem diferente das primas. Tinha os cabelos negros como as noites sem lua das Highlands. Sua mãe sempre dizia que Deus tinha sido generoso com ela quando a formou. Ela tinha carne sobrando nos lugares certos, como nos seios, quadris e coxas. Jeanne desviou seu olhar das primas e olhou para o catre no meio do quarto onde estava uma adormecida Myrna, sua criada particular. Ela voltaria com Mhairie e Bethia para o Castelo Girnigoe, ela agora iria cuidar do filho de William e Elise. Jeanne virou e ficou ajoelhada na cama. — Vamos acordar, suas dorminhocas — tirou a coberta de cima das primas, fazendo com que elas acordassem assustadas. As duas puxaram a coberta das mãos de Jeanne e começaram a reclamar, mas pouco depois estavam as três rindo e batendo uma na outra com os seus travesseiros. Logo depois Myrna também acordou e se juntou as três. Jeanne sempre tratou Myrna como uma amiga e não como criada. Por isso eram tão unidas.


Momentos depois as quatro garotas estavam novamente dentro da carruagem sacolejando pelas estradas do norte da Highlands. Pela janela da carruagem Jeanne observava os picos altos da Highlands, coberto com um tapete roxo das urzes daquela época do ano. As quatro garotas passaram mais um dia dentro da carruagem, e mais uma noite em uma hospedaria. Na manhã seguinte as três desceram para o grande salão da hospedaria para tomarem o desjejum, enquanto isso Myrna levou as bagagens de volta para a carruagem. Ao terminarem a refeição, viram Sir Lorne se aproximou com Myrna ao seu lado. Jeanne notou que Myrna tinha um semblante de felicidade no rosto. O que a deixou curiosa. O que teria acontecido para que Myrna ficasse tão contente? — Srta. Jeanne — cumprimentou Sir Lorne primeiro a Jeanne e depois a Mhairie e Bethia. O homem que acompanhava Jeanne e as primas naquela viagem era alto e muito sério. Poucas vezes Jeanne o viu sorrindo. Como chefe de guerra do clã Sinclair e acostumado às batalhas, Sir Lorne tinha um corpo forte e sem nenhuma gordura em seu corpo. Apesar da idade já avançada, Sir Lorne ainda tinha muita vivacidade. — Bom dia, Sir Lorne. Algum problema? — Tenho algo para lhe informar, lady Jeanne. Na parte da manhã nós entraremos na terras dos MacDonell. Seu irmão pediu que a senhora se disfarçasse de criada enquanto que Myrna se passará pela senhorita, usando suas roupas.


Jeanne olhou surpresa para Sir Lorne. — Por que tenho que me disfarçar de criada? — Seu irmão tem medo que os MacKenzie tente raptá-la para atrapalhar o casamento. — Por que eles fariam isso? — perguntou Mhairie tão intrigada quanto Jeanne. — Os MacKenzie são inimigos dos MacDonell — informou. — Esse clã fica perto de Strathcarron, Sir Lorne? — Não, lady Jeanne. Não precisa se preocupar. Nada acontecerá se a senhorita fizer o que seu irmão ordenou. Já conversei com Myrna e ela saberá o que fazer caso algo aconteça. Jeanne olhou para Myrna e não gostou de saber que ela estaria em perigo caso os MacKenzie os atacasse. — Eu não gosto de saber que Myrna estará em perigo por minha causa. Não há outra maneira de fazermos isso? — Não. — Tudo bem, lady Jeanne. Será uma honra ajudar em sua segurança — disse aquelas palavras com grande verdade. — Tudo bem, então. — Jeanne se conformou ao ver que Myrna estava feliz por poder ajudar. Myrna sempre foi uma grande amiga. Depois de trocar de vestido com Myrna, a viajem para Strathcarron recomeçou. Eles chegariam ao Castelo Strome durante a tarde. Jeanne olhava distraidamente pela janela quando ouviu a pergunta de Mhairie e virou rapidamente o corpo. — Você sabe como é o seu futuro marido, Jeanne?


— Não — disse um pouco apreensiva. — Tudo o que sei é que ele tem a idade de William. Seu pai morreu há pouco tempo e ele passou a ser o chefe do clã MacDonell. — Esse não é o clã de sua mãe? — perguntou Bethia. — Sim. Meu futuro marido é um parente distante da minha mãe. Meus avós queriam que meu pai se casasse com a filha do chefe MacDonell, mas eles não tinham nenhuma filha na época. Por isso meu pai se casou com minha mãe. Ela era a filha de um parente distante do chefe MacDonell. — Se seus avós estivessem vivos dariam pulos de alegria — falou Mhairie animada com o seu pensamento. — Por quê? — Jeanne não entendeu o pensamento da prima. — Você agora vai se casar com o chefe do clã MacDonell. Vai realizar o sonho deles. — Minha mãe sofreu muito por não ser a filha do chefe MacDonell. Meu pai sempre a culpava por causa disso. Ele a fazia se sentir sem valor por esse motivo — lamentou Jeanne, ao lembrar das vezes que viu a tristeza nos olhos de sua mãe. — Isso não vai acontecer com você, prima. Você é a irmã do chefe do clã Sinclair. É alguém importante. — Bethia tentou consolar a prima com suas palavras. — Você acredita que ele possa ser como o meu pai? — sua voz saiu carregada de medo que aquilo pudesse acontecer. Seu pai era um homem rude e sem nenhum amor pela esposa. — Eu acredito que não exista homem como o seu pai,


Jeanne — disse Mhairie em tom de brincadeira para amenizar o clima pesado que se abateu na carruagem. As quatro garotas riram da forma como Mhairie disse aquela frase. Tudo o que Jeanne queria era que o marido fosse bem diferente do pai. Ela amava o pai, ainda se sentia triste por sua morte. Mas o Earl Dougan, senhor do Castelo Girnigoe, era um homem muito severo e rude com sua mãe. Lady Aslynn era uma mulher carinhosa e submissa ao marido, mesmo com todos os maus-tratos que sofria. Ela não queria um marido igual ao seu pai. Um homem rude e que teve várias amantes. — Vamos mudar de assunto — disse Bethia. — O que está achando de ser lady Jeanne? — perguntou ao olhar para a criada que estava usando um dos vestidos de Jeanne. — Eu nunca vou esquecer desse dia, senhora — disse a criada ao olhar para Jeanne. Ao ver o brilho de alegria nos olhos de Myrna, Jeanne pediu a Deus que nada de ruim acontecesse naquele dia que estragasse a felicidade dela. Momentos depois, Bethia, que estava olhando pela janela, viu dois homens montados a cavalos em cima de uma colina. Ela avisou para as outras garotas, que se espremeram na janela para verem os homens. — Não precisam se preocupar. São homens MacDonell. Eles vigiam as terras de Strathcarron. Eles sabem quem somos por causa do estandarte dos Sinclair que estamos carregando. Agora não encontraremos mais os MacKenzie — avisou Sir Lorne, que cavalgava ao lado da carruagem e viu o interesse das garotas nos dois homens.


As quatro garotas se olharam aliviadas. — Quer trocar de vestido agora, lady Jeanne? — Não, Myrna. Pode ficar mais um pouco sendo lady Jeanne Sinclair. Myrna sorriu agradecendo. — Eu preciso me aliviar — disse Jeanne apertando as pernas momentos depois. — Não dá para esperar, Jeanne? — perguntou Bethia. Ela acenou que não com a cabeça. — Sir Lorne não vai gostar de ter que parar. Estamos quase perto do castelo — disse Mhairie olhando com pesar para a prima. — Vou tentar segurar até chegarmos ao castelo. As três garotas olharam com pesar para Jeanne. — De jeito nenhum! — disse Mhairie de repente, pegando todas de surpresa. — Imagine se seu futuro marido estiver lhe esperando na entrada do castelo. Não vou deixar que você passe vergonha ao aparecer para ele apertando as pernas. O que ele vai pensar de você! Mhairie colocou a cabeça para fora da carruagem e falou algo para Sir Lorne. Jeanne sorriu ao ouvir o homem ordenando que a carruagem parasse. As quatro garotas desceram todas sorridentes. — Não vão muito longe — disse Sir Lorne com um semblante de quem não tinha gostado daquela parada. Ao lado da estrada onde pararam, passava o lago Carron. O lago banhava o Castelo Strome. As garotas caminharam até a margem do lago. O lugar era lindo, com árvores frondosas, uma grama verdinha e várias pedras na


margem do lago. Ao virar na direção do lado esquerdo, as garotas viram várias pedras grandes que impediam a visão do outro lado. As pedras chegavam até dentro do lago. Para chegar do outro lado das pedras, tinha que passar por um conjunto de árvores frondosas que ficavam mais a cima. — Ali é um bom lugar para se aliviar, Jeanne — apontou Bethia para as árvores perto das grandes pedras. — Os homens perto da carruagem não poderão vê-la. — Eu vou com a senhora — disse Myrna ao levantar o vestido para acompanhar sua senhora. — Não precisa, Myrna. Você agora é uma lady e não pode ajudar uma criada em suas necessidades — disse sorrindo. — Se precisar de ajuda é só gritar — disse Mhairie toda sorridente. — Não vou precisar de ajuda. — Ela se afastou das três garotas e foi em direção às árvores. Depois de se aliviar, Jeanne ajeitou o vestido e quando ia voltar para junto das primas e de Myrna, escutou um barulho vindo do lago, mas não do lado onde estavam as primas. Ela andou um pouco por entre as árvores e ficou atrás de um arbusto com pequenas frutinhas vermelhas. Escutou novamente o barulho. O barulho era de alguém mergulhando nas águas claras do lago. Ela sabia que devia voltar para perto das primas, mas a curiosidade foi maior que o seu bom senso. Jeanne colocou a cabeça para fora do arbusto e olhou em direção ao lago. Ficou surpresa ao ver um homem emergir das águas do


lago. Ele estava de costas e passou as mãos pelos cabelos para secá-los. O homem tinha as costas largas e braços fortes. Seus cabelos loiros e encaracolados brilhavam na luz do sol. Quando o homem virou e olhou para frente, Jeanne pensou que talvez estivesse vendo uma miragem. O homem era tão bonito que não conseguia afastar o olhar de sua direção. Ela sentiu seu corpo todo se aquecer quando o homem saiu do lago e caminhou em direção onde estavam suas roupas. Ele estava nu. Magnífico e descaradamente nu. Seu corpo era perfeito, com ombros largos e um peito amplo. Era a primeira vez que Jeanne via um homem completamente nu. As pernas do homem eram grossas e peludas, com pelos dourados, como os fios de seus cabelos. Os olhos de Jeanne percorreram cada centímetro do corpo daquele homem. E se sentiu invadida por um desejo que nunca sentiu em sua vida. Desejou ardentemente tocar naquele corpo perfeito. Distraidamente o homem pegou seu kilt e o envolveu em sua cintura. Jeanne voltou a se esconder atrás do arbusto quando o homem se virou em sua direção. Seu coração acelerou ao pensar que ele poderia tê-la visto. Sabia que devia sair dali e voltar para perto das primas, mas queria vê-lo novamente. Só mais uma vez. Jeanne olhou novamente para a margem do lago, mas o homem não estava mais lá. Ela olhou para o lugar intrigada. O homem tinha desaparecido como que por encanto. De repente Jeanne se virou ao sentir alguém atrás dela. Seu coração acelerou ao ver que era o homem do lago. Ele ainda estava nu da cintura para cima. Estava vestido


somente com o kilt. A água dos seus cabelos escorria por seu corpo, fazendo o seu peito musculoso brilharem na luz do sol. O homem tinha lindos olhos azuis escuros, que estavam fixos nela. Parecia ter a idade de seu irmão William. Era tão alto que Jeanne precisava levantar bem a cabeça para olhá-lo. Tinha o rosto bem marcado, com um pequeno furo no queixo. O homem a olhava com um olhar de divertimento, não parecia zangado por encontrá-la observando-o. — Por que está me espionando? — Não estava espionando o senhor — gaguejou ao dizer cada palavra. O que a deixou com raiva, não queria que o homem pensasse que estava com medo. Mesmo que estivesse. Ele sorriu e Jeanne viu um lindo colar de dentes brancos. — Eu tenho que ir, senhor. Jeanne tentou passar pelo homem, mas ele a segurou em seu braço. Jeanne olhou para cima e seus olhos se encontraram novamente. O homem a olhou tão intensamente, que Jeanne sentiu como se ele estivesse explorando cada parte de sua alma. Ela se sentiu invadida por aquele olhar, mas isso não a desagradou. Ela sentiu o corpo novamente se aquecer com aquela proximidade. — Não sairá assim impunemente. — O que o senhor pretende fazer? Ao ouvir aquela ameaça o coração de Jeanne bateu tão acelerado como o bater das asas de uma águia quando foge do seu predador. Ela só não sabia se era por estar tão


próxima daquele homem ou pelo medo de sua ameaça. Com certeza ela estava com medo da ameaça do homem, mas a proximidade com que estavam fazia o sangue em suas veias percorrerem o seu corpo tão rapidamente, que Jeanne agradeceu por ele a estar segurando, senão com certeza cairia. Sentia o seu corpo mole e sem força. — Será castigada pelo seu ato. Jeanne olhou apavorada para a enorme mão que segurava o seu braço. — Acalme-se — disse com um sorriso sedutor em seus lábios, o que o deixava ainda mais bonito. — Não vou usar minhas mãos para puni-la. Ela o olhou intrigada e ficou ainda mais apavorada. — Quem é você? — o olhar do homem era de admiração. — Eu?... Sou uma criada — disse como se fosse algo obvio. — Isso eu sei — olhou para as roupas dela. — Minha senhora está indo para o Castelo Strome, para o casamento do chefe MacDonell. Ele a olhou avaliando se o que ela disse era verdade. — Eu tenho que ir, senhor. Minha senhora sentirá a minha falta. Mas em vez de deixá-la ir, ele a segurou pela cintura e colou seu corpo ao dela. Jeanne sentiu todo o contorno do corpo do homem grudado ao seu. Ela segurou nos braços fortes do homem e seu coração acelerou ainda mais. — O que está fazendo, senhor? — Receberá a sua punição pelo o que fez.


— Por favor, senhor. Deixe-me ir embora. Eu já disse que eu não o estava espionando. — Será punida, moça. E nunca mais ficará olhando um homem enquanto ele estiver tomando banho. — O que vai fazer, senhor? — Isso. Ele tomou os lábios de Jeanne ferozmente e a beijou de forma impetuosa. Jeanne nunca tinha sido beijada. Ela sabia que tinha que lutar para se afastar. Ela até lutou um pouco no começo, ficando com a boca fechada e tentando se afastar do corpo dele. Mas aos poucos o seu corpo foi sendo domado por aquele homem. Ela já não lutava mais. Quando ele a apertou ainda mais ao colar seu corpo ao dele, Jeanne gemeu ao sentir a masculinidade dele em seu ventre. O pano do vestido de Myrna era fino, e Jeanne se sentiu nua nos braços daquele homem. Quando Jeanne abriu a boca ao gemer, o homem introduziu sua língua em sua boca e acariciou sua língua com a dele. Jeanne sentiu uma sensação de ardor consumir todo o seu corpo. O desejo que sentiu com o toque da língua dele na sua, fez desaparecer todo o medo que antes havia sentido, e a fez se entregar totalmente àquele beijo. Jeanne abraçou o homem pelo pescoço e o beijou ainda com mais ardor com que ele a beijava. Ela queria aproveitar cada momento daquele beijo. Do seu primeiro beijo. Mas de repente ele se afastou e a olhou sorrindo. — Agora pode ir — disse sério, mas com um sorriso escondido em seus lábios.


Jeanne olhou para o homem e se sentiu atordoada. Suas pernas estavam fracas e ela teve que lutar para se manter de pé. Ela tinha que sair rapidamente de perto daquele homem e se afastar da tentação que ele era. Ela correu em direção onde estavam suas primas. — Onde estava, lady Jeanne? Estávamos preocupadas. — Já íamos atrás de você — informou Bethia, deixando bem claro em sua voz que não tinha gostado de sua demora. — Parem com isso — ralhou Mhairie. — Não vê que estão deixando nossa prima envergonhada. Olhe como as bochechas dela estão vermelhas — disse sorrindo. — Nós sabemos que ela foi até as árvores para se aliviar. Ela não precisa nos dizer tudo o que fez. — Obrigada, Mhairie. — Vamos antes que Sir Lorne venha nos buscar — disse Mhairie para encerrar aquela conversa. As quatro garotas foram em direção à estrada. Jeanne olhou para trás e sorriu ao lembrar-se do beijo. Enquanto as mulheres se afastavam, Gaelan olhou para a criada que o fascinou de uma forma como nenhuma mulher o tinha fascinado. Ele nunca tinha sido beijado com tanto ardor como ela o beijou. Gaelan sorriu e sabia que tinha sido a primeira vez que aqueles lábios tinham sido beijado. Olhou determinado para a mulher de lindos cabelos negros e prometeu a si mesmo que ainda beijaria muito aqueles lábios. Aquela mulher seria dele, prometeu a si mesmo. Ele montou em seu cavalo e foi em direção ao Castelo Strome por outro caminho.


Capítulo 2 Chegada ao Castelo Strome

Enquanto que Mhairie e Bethia estavam animadas ao ver o Castelo Strome se aproximando a cada trote dos cavalos que puxavam a carruagem, Jeanne estava calada, pensando no que tinha acabado de lhe acontecer perto do lago. Uma doce sensação de felicidade passava por todo o seu corpo quando se lembrou dos lábios quentes daquele homem encostados aos seus. Por estar distraída em seus pensamentos, Jeanne se assustou quando Bethia sacudiu os seus ombros. — O que foi? — perguntou Jeanne com um olhar zangado por ela ter lhe tirado de pensamentos tão prazerosos. — Onde estava, Jeanne? Eu lhe chamei umas três vezes e você ficou parada olhando para o nada. O que está acontecendo? Jeanne olhou para as três garotas dentro da carruagem e viu que olhavam para ela com semblantes preocupados. Ela sorriu para tranquilizá-las. Precisava dividir com alguém o que tinha acontecido no lago. — Aconteceu uma coisa enquanto eu estava naquelas árvores.


— O que aconteceu, prima? — perguntou Mhairie curiosa ao se aproximar de Jeanne. — Eu escutei um barulho do outro lado do lago e fui ver o que era — contou com tom de suspense. — E o que era, lady Jeanne? — Era um homem. E estava nadando nu no lago. — Nu? — as três falaram ao mesmo tempo e colocaram as mãos na boca. — Nu. Era o homem mais lindo que eu já vi em toda minha vida. — E ele viu você? — perguntou Bethia preocupada. — Ele lhe fez alguma coisa? — perguntou ainda mais preocupada. — Claro que não fez nada com ela, Bethia — disse Mhairie achando a preocupação da irmã exagerada. — Se tivesse acontecido ela teria gritado. — Mas aconteceu algo, Mhairie. — Aconteceu? — sua voz saiu com uma mistura de preocupação e curiosidade. — Ele me beijou — disse séria. As três garotas se aproximaram ainda mais de Jeanne. — Por que não gritou, prima? — Porque eu gostei, Bethia — confessou envergonhada. — Como assim você gostou, Jeanne? Você está prestes a se casar com o chefe do clã MacDonell e deixou ser beijada por um estranho? Onde estava o seu bom senso para fazer o que era certo, Jeanne? — Nas nuvens, minha prima. O homem me beijou e quando eu vi eu estava correspondendo ao beijo dele — fechou os olhos. — Meu Deus! Eu não consigo esquecer o


beijo e nem aquele homem. — E quem era o homem? — Eu não sei, Mhairie. Eu não sei — olhou para prima com os olhos brilhando. Mhairie suspirou ao imaginar a aventura que a prima viveu. — E se for um dos convidados do seu marido? — perguntou Myrna preocupada. — Ele não é — disse Jeanne com toda a certeza. — Eu disse que estava indo para o casamento do chefe MacDonell e ele não disse nada. Se ele fosse um convidado diria que também estava indo para o castelo. — Ele pode ser um camponês que trabalha para o seu futuro marido. E se você encontrar com ele novamente? — perguntou Bethia com as sobrancelhas levantadas. Ao ouvir a pergunta da prima, Jeanne começou a se preocupar. Ela não tinha pensado naquela possibilidade. A verdade era que ela não tinha pensado em nada enquanto o beijava. Somente se entregou àquele momento como se dependesse daquele beijo para viver. — Se ele for um MacDonell com certeza eu jamais voltarei a vê-lo novamente. Eu vivi minha vida toda em Wick e não conheço todos os Sinclair que moram em Wick, nem mesmo os que moram entorno do Castelo Girnigoe. — Jeanne tem razão, minha irmã. Com certeza ela jamais voltará a ver esse homem novamente. Ela estava com roupas de criada e ele pensou que ela fosse uma criada, por isso a beijou. O beijo foi bom, prima?


— Foi maravilhoso, Mhairie. Foi o meu primeiro beijo. Os lábios dele eram tão macios e quentes. Eu nunca senti antes o que senti enquanto estava nos braços dele. — Eu sei que deve ter sido algo maravilhoso, prima — disse Bethia ao segurar as mãos de Jeanne. — Mas tem que esquecer. Você se casará amanhã e não pode ficar pensando em outro homem. Isso é errado. Mhairie arrancou bruscamente as mãos de Jeanne das mãos da irmã e disse olhando diretamente para Jeanne. — Pois eu acho que você não tem que esquecer nada, prima — olhou para a irmã e com o olhar lhe disse que estava errada. Depois voltou a olhar para Jeanne. — Muitas mulheres passam a vida sem nunca ter sentido o que você sentiu com aquele homem. Muitas morrem sem nunca terem sido beijadas como você foi. Um beijo que lhes provoque sensações que nunca sentiram antes. Os maridos não beijam suas esposas dessa forma. Muitos maridos nem beijam suas esposas. Não esqueça o beijo, prima. Essa lembrança a fará se sentir viva quando o seu marido perder o interesse por você. No final todos perdem o interesse pelas esposas e procuram as amantes. Foi assim com minha avó, com minha mãe e com certeza será assim comigo. Eu queria muito ter essa sorte que você teve de ter sido beijada de forma tão arrebatadora por um desconhecido. Jeanne abraçou a prima como forma de agradecimento. Ela entendia o que a prima queria dizer. Sua mãe uma vez lhe disse que seu pai nunca a beijou, que ela nunca tinha sido beijada. Os carinhos e os beijos de seu pai eram reservados para as amantes.


— Já estamos chegando ao Castelo Strome. É melhor vocês trocarem de roupa — avisou Bethia, olhando de Jeanne para Myrna. Elas fecharam as cortinas das janelas da carruagem e trocaram de vestido. Momentos depois elas viram surgir as primeiras casas que ficavam próximas do castelo. E chegando mais perto do castelo, Jeanne viu as casas e o mercado que ficavam em volta do Castelo Strome. Por onde a carruagem passava, os camponeses paravam e se curvavam. Eles sabiam que dentro daquela carruagem estava a futura senhora do Castelo Strome. Assim que entraram no pátio do castelo, Jeanne ouviu as águas agitadas do Lago Carron batendo na muralha que ficava em volta do castelo. O pátio tinha uma pequena agitação, que com certeza era por causa de seu casamento. A carruagem parou em frente à porta do castelo e um criado abriu a porta. Sir Lorne já tinha desmontado e estava do lado da porta da carruagem. Jeanne foi a primeira a descer. Em frente à porta estava uma mulher baixa de meia idade, de forma arredondada com uma touca branca na cabeça. Seu rosto transmitia calma e candura. Ao seu lado estava uma jovem de cabelos avermelhados com uma aparência selvagem. Apesar dos cabelos alvoroçados e o jeito vulgar, a mulher era muito bonita. As alças do seu vestido estavam caídas abaixo dos ombros deixando à mostra todo o seu colo e parte dos seus seios. A mulher mais velha desceu os poucos degraus e ficou em frente à Jeanne, que estava ao lado de Sir Lorne. Mhairie, Bethia e Myrna desceram da carruagem e ficaram


atrás dos dois. — Você deve ser Jeanne Sinclair — disse a mulher sorrindo. — É exatamente como Feandan a descreveu para o jovem Earl MacDonell. Estávamos todos ansiosos para conhecê-la, lady Jeanne. Eu sou a Sra. Deirdre. Jeanne fez uma mesura demorada para a mulher como forma de respeito. Ela sabia que a mulher em sua frente era uma criada, mas percebeu que ela deveria ser alguém importante para o senhor do castelo. — É um prazer conhecê-la, Sra. Deirdre. Esse é Sir Lorne — virou-se para o homem ao seu lado. — Sir Lorne é o homem de confiança de meu irmão, o Earl William Sinclair. Ele veio no lugar de meu irmão. Essas são minhas primas, Mhairie e Bethia. Jeanne indicou com a mão as duas garotas atrás dela, que cumprimentou a mulher com um aceno de cabeça. Não dedicaram o mesmo respeito com que Jeanne dedicou à mulher. — E essa é minha criada Myrna — disse ao olhar para Myrna e sorriu. Myrna se abaixou e cumprimentou a mulher com todo o respeito que ela merecia. Ela era uma criada, mas como Jeanne, ela tinha certeza que a mulher era alguém muito respeitada pelos senhores do castelo, pois tinha sido escolhida para receber a futura senhora do castelo no lugar deles. — A senhora não precisará mais de sua criada — virou e olhou para a jovem que estava um pouco atrás dela. — Laudine será sua criada a partir de agora.


Ao ouvir o seu nome, a mulher, que deveria ter um ou dois anos a mais que Jeanne, se aproximou e se curvou. — Eu sei, Sra. Deirdre. Myrna partirá com minhas primas de volta a Wick. Mas enquanto ela estiver aqui, eu a quero como minha criada. Se isso não for nenhum problema. — Com certeza não, lady Jeanne — sorriu. — Laudine levará os homens para guardar a carruagem e os cavalos e mostrará onde eles ficarão. Depois ela levará Sir Lorne até o seu quarto no castelo — disse olhando para Sir Lorne. — Venha comigo, Sir — disse Laudine com uma voz sedutora. — Eu vou mostrar onde fica o estábulo do castelo. Enquanto Sir Lorne e os outros homens seguiam Laudine, as mulheres em frente ao castelo ficaram em silêncio. — Venha comigo, lady Jeanne. Vou levá-la até o vosso quarto. Enquanto a Sra. Deirdre as conduzia pelos cômodos do castelo, Jeanne observava tudo. — Estamos todos muito contentes com sua vinda, lady Jeanne. Há anos que não temos uma senhora no Castelo Strome. Depois que Lady Coira MacDonell morreu, o Earl não voltou a se casar. Sou a cozinheira mor, mas desde a morte de Lady Coira eu também cuido do castelo. Mas agora poderei ficar somente em minha cozinha, o lugar onde gosto de ficar e comandar. As duas sorriram. — Eu também estou muito feliz por estar aqui, Sra.


Deirdre. A Sra. Deirdre olhou para Jeanne e viu que ela não parecia feliz, mas sim apavorada com tudo o que estava lhe acontecendo. — A senhora ficará neste quarto — disse ao parar em frente de um dos quartos do corredor do terceiro andar do castelo. — Aqui também é o quarto do Earl MacDonell? — perguntou Jeanne ao entrarem no quarto. — Não, lady Jeanne. O quarto do Earl MacDonell fica no final do corredor. Eu virei buscá-la e a levarei até o seu futuro marido assim que ele chegar. — Ele não está no castelo? — ficou surpresa ao saber que seu futuro marido não estava no castelo para recebê-la. — Não. Ele foi cavalgar. Os últimos dias têm sido muito agitados para todos, ainda mais para o Earl MacDonell. Ele teve várias reuniões com os lairds do clã. E agora o casamento. Mas logo ele voltará para o castelo. Eu mandarei uma criada avisá-la quando ele chegar e depois eu mesma virei buscá-la. — Eu estarei pronta, Sra. Deirdre. — Eu vou levar suas primas até o quarto onde elas ficarão. Nos vemos depois, lady Jeanne. Depois que a porta se fechou, Myrna disse com um grande sorriso no rosto. — O castelo é lindo, lady Jeanne. É maior que o Castelo Girnigoe. E o seu quarto é tão lindo! — disse olhando tudo em volta. — É tudo muito lindo mesmo, Myrna.


— O que foi, lady Jeanne? A criada notou o desânimo na voz de sua senhora. — Em pouco tempo eu vou conhecer o meu futuro marido. E se ele não gostar de mim, Myrna? Não gostaria de viver a mesma vida que minha mãe viveu. Estar casada com um homem que a desprezava, que não sentia nenhum carinho por ela. — Isso não vai acontecer com a senhora. Seu marido há de se apaixonar assim que vê-la. Mas será que o mesmo acontecerá com a senhora? Jeanne olhou desanimada para a criada. Ela sabia a resposta. Talvez isso acontecesse senão tivesse tido o encontro com o desconhecido no lago. Mas agora o seu coração estava tomado pela imagem e pela lembrança do toque das mãos daquele homem em sua pele, do sabor dos seus lábios em sua boca, da sensação de prazer que ele lhe proporcionou. Como esquecer o homem que a fez sentir tantas emoções em tão pouco tempo? Como afastá-lo de seu coração para que ela pudesse sentir algo por seu marido? Ela tinha pouco tempo para descobrir o que fazer para esquecer aquele homem. — Eu espero que sim, Myrna. — Não se preocupe, lady Jeanne. Tudo dará certo. Jeanne olhou para Myrna e tentou esboçar um sorriso. Ela queria demonstrar que estava confiante, mas por dentro estava com muito medo que nada desse certo no primeiro encontro com o futuro marido. ***


Assim que chegou ao pátio do castelo, o Earl MacDonell entregou seu cavalo para um dos cavalariços que ficavam na porta. Entrou de forma intempestiva e caminhou apressadamente para a sua sala de reunião, que ficava em um dos corredores do primeiro piso do castelo. Ele fechou a porta e foi até a mesa onde ficavam as garrafas com o vinho que era feito em Strathcarron pelos seus inquilinos. Ele tomou o conteúdo de um só gole e olhou para o vazio. Acreditou que o passeio a cavalo o faria se acalmar, mas não teve o efeito que desejava. Sentiase ainda mais agitado depois da cavalgada em Aldelaram, o cavalo que um dia foi de seu pai. A porta da sala abriu e a Sra. Deirdre entrou. — Como ela é, Sra. Deirdre? — perguntou ansioso. A Sra. Deirdre sorriu ao ver o menino, que um dia segurou em seus braços e que agora era um homem feito e chefe do clã ao qual pertencia, ansioso como se estivesse esperando por um pedaço de torta. — Ela é linda, meu senhor! Ele sorriu com seus dentes brancos perfeitos. — É sorridente? — Sim. Tem um sorriso muito bonito. Quer que eu a traga agora? — Não. Espere escurecer e a traga. — Eu vou avisá-la que o senhor chegou para que ela fique pronta para descer. — Vá então, Sra. Deirdre. Depois que a mulher deixou a sala, andou agitado pelo


cômodo. Dependendo de como fosse aquele primeiro encontro, poderia haver ou não, um casamento no dia seguinte. Batidas na porta o tiraram de seus pensamentos. — Entre — disse ao se sentar em sua cadeira atrás da grande mesa de carvalho. — Senhor — disse um jovem criado ao abrir a porta —, tem alguém que deseja lhe ver. — Quem é, Morven? — disse com voz zangada. Ele não queria ter que resolver nenhum problema naquele momento. Antes que Morven dissesse quem era, o homem entrou e olhou sorrindo para o homem atrás da mesa. — Eu sabia que você veria, seu desgraçado. — Ele levantou-se e caminhou rapidamente em direção ao homem que tinha a mesma altura que ele. Os dois eram os homens mais altos de Strathcarron. Os dois homens se abraçaram rindo e batendo com força em suas costas. O jovem criado sorriu ao ver a cena e fechou a porta para dar privacidade aos dois homens. — Eu sabia que você não perderia o meu casamento, irmão — disse sorrindo ao se afastar. — Eu jamais perderia o casamento do meu irmão mais velho. — Mas perdeu a cerimônia quando eu me tornei o chefe dos MacDonell — afastou-se indo em direção à mesa de vinho. — O tio Tormond precisava de mim, Eoghan. Travamos uma batalha difícil com os MacKenzie no dia que você se


tornou o chefe do clã. Desculpe-me por não estar aqui. Eoghan sentiu na voz do irmão que ele realmente sentia por não ter estado ao seu lado naquele momento. — Não estou zangado realmente, Gaelan. Sei que estava defendendo as pessoas do nosso clã. Sabe que minha vontade sempre foi estar onde você estava. Lutando pelo clã. E como está o tio Tormond? — Rabugento como sempre. Desejou-lhe felicidade. Eoghan entregou o copo de vinho para o irmão e levantou o seu copo para brindarem aquele momento. — É bom tê-lo aqui, meu irmão. — É bom estar em casa novamente. Ao seu casamento, meu irmão. Os dois beberam todo o vinho de uma só vez. Eoghan se sentou em sua cadeira e convidou o irmão para se sentar na cadeira que ficava em frente à mesa. — E como é sua noiva, Eoghan? — Eu ainda não a conheci, Gaelan. A Sra. Deirdre a trará aqui pouco depois que escurecer. — Parece nervoso, meu irmão. — Gaelan riu ao ver o irmão nervoso por conhecer uma mulher. — Estou um pouco nervoso sim, Gaelan. Gaelan parou de ri ao ver que o irmão parecia preocupado com algo. — O que está acontecendo, Eoghan? O chefe do clã MacDonell se levantou e andou de um lado a outro atrás de sua mesa. Gaelan viu que era algo mais sério do que pensava. — Estou decidido a não me casar caso ela seja como a


Coira. Gaelan ficou surpresa ao ouvir as palavras do irmão. Lady Coira MacDonell era a mãe dos dois. Eoghan e Gaelan nunca a viram sorrindo. Estava sempre com um semblante fechado. Era uma mulher amarga e infeliz. Ela tinha se casado obrigada com o Earl Hamish MacDonell. Coira estava prometida a outro homem, por quem estava completamente apaixonada. Quando soube que teria que se casar com o chefe do clã MacDonell, ela tentou fugir com o homem que amava, mas os dois foram pegos e seu pai matou o homem. Ela se casou com Earl Hamish MacDonell, que se apaixonou pela linda mulher assim que a viu. Coira odiava o marido. Ela o culpava pela morte do homem que amava. E o ódio que sentia pelo marido, não a deixava amar os dois filhos que tinha tido com ele. Eoghan e Gaelan nunca tiveram o amor da mãe, que morreu quando Eoghan tinha 15 anos. Agora, sete anos depois, Eoghan iria se casar e não queria viver com uma mulher amarga como sua mãe pelo resto de sua vida. — Mas Feandan não lhe disse como ela é? — Sim, disse — voltou a sentar em sua cadeira. — Chegou aqui dizendo que ela é divertida e vivaz. E a Sra. Deirdre disse que ela tem um sorriso lindo. — Então por que toda essa preocupação? — Não é preocupação. Só estou um pouco ansioso com esse encontro. — Tudo vai dar certo, meu irmão — disse ao se levantar. — Assim que se encontrarem pela primeira vez, os dois logo se apaixonarão. E viverão felizes para sempre. — Foi


em direção à porta. — O que vai fazer, Gaelan? — Vou andar pelo castelo e cumprimentar alguns amigos. Já chegaram muitos convidados? Eoghan sorriu e sabia o que o irmão iria procurar. Mulheres. — Alguns convidados chegarão amanhã antes do casamento. Mas o castelo está cheio dos convidados que chegaram por esses dias. Vá se divertir, meu irmão. Só não se meta com as mulheres casadas — disse sorrindo. — Quero distância das mulheres casadas, meu irmão. Saiu e fechou a porta, deixando Eoghan sorrindo com o jeito despojado do irmão mais novo. Eoghan era dois anos mais velho que o irmão. Ele suspirou e tentou se acalmar para o encontro com sua futura esposa.

Em breve o livro será lançado no formato impresso e digital.


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