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Projetos na EFASERRA: um estímulo à aprendizagem e a um novo tempo 26A Socioaprendizagem

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Em comemoração

Em comemoração

Projetos na EFASERRA: um estímulo à aprendizagem e a um novo tempo

Rosa Ana Bisinella* Vania Marta Espeiorin*

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O ensino e a aprendizagem por meio de projetos evocam uma palavra que valoriza o encontro, a união, a troca... Essa palavra é interdisciplinaridade. E estamos nos referindo ao que ela oportuniza em termos de encontro entre docentes de diferentes áreas, de união entre estudantes de distintos ritmos de aprendizagem e de troca de saberes e vivências entre educadores e alunos e alunas tanto presencial quanto virtualmente. Pois, este novo tempo em que vivemos, o qual exige enfrentamento a um vírus que não enxergamos e precisamos evitar aglomerações para que não se dissemine, a educação teve que se adaptar a sistemas híbridos, envolvendo o real e o universo on-line. Nesse contexto, quando o assunto é projeto de ensino-aprendizagem, interdisciplinaridade caminha abraçada a outra palavra: interação. Vasconcellos (2002, p. 103) ressalta que “um projeto será tanto melhor quanto mais estiver articulado à realidade dos educandos, à essência significativa da área do saber, aos outros educadores (trabalho interdisciplinar) e à realidade social mais geral". Na Escola Família Agrícola da Serra Gaúcha (EFASERRA), com cerca de 150 estudantes e uma equipe qualificada de quase 20 monitores, há projetos que têm aproximado conhecimentos e reflexões. Os educandos se envolvem e aprendem muito sobre o mundo agrícola por meio dos conteúdos e práticas interdisciplinares que esses projetos viabilizam. Na EFASERRA, cuja base é a Pedagogia da Alternância e o ensino é voltado, principalmente, ao jovem do campo, com formação de Ensino Médio concomitante ao curso de Técnico em Agropecuária, o trabalho final é em forma de projeto e se assemelha à proposta da Base Nacional Comum Curricular/BNCC (BRASIL, 2018, p. 473). O documento nacional realça que é “papel da escola auxiliar os estudantes a aprender a se reconhecer como sujeitos, considerando suas potencialidades e a relevância dos modos de participação e intervenção social na concretização de seu projeto de vida”. E é por esse caminho que o Projeto Profissional do Jovem (PPJ), trabalho de final de curso na EFA, é construído. Todo estudante do terceiro ano o elabora, pensando nos próximos passos que sonha dar à sua vida no âmbito rural. Ao mesmo tempo que desenvolvem o projeto, seguem frequentando as aulas do Programa Jovem Aprendiz, iniciativa fundamental para a juventude. Na prática, projetos e Programa Jovem Aprendiz dialogam no percurso de ensino ofertado na EFASERRA. Em conversa com estudantes, ficam nítidos essa relação e os benefícios do Jovem Aprendiz no dia a dia da garotada. Segundo os alunos, é uma chance de aprendizado técnico sem precisarem abandonar a escola ou o campo, “e que mostra possibilidades de trabalho e de mercados disponíveis e reais para aperfeiçoarmos a atuação ali em frente”. Enquanto absorvem novos saberes, ainda recebem um valor que auxilia na independência financeira, e ampliam o convívio entre colegas. “O Jovem Aprendiz olha para nossa autoestima e para as relações humanas que nos constituem como cidadãs e cidadãos”, entendem os estudantes. Esse diálogo entre projetos e entre as diversas disciplinas que o Ensinos Médio e Técnico preveem fortalece o aprendizado. E seu resultado acaba sendo um convite aos estudantes da EFASERRA continuarem se qualificando para que o campo e também a cidade sejam ambientes melhores para todos viverem.

Quando o assunto é projeto de ensino-aprendizagem, interdisciplinaridade caminha abraçada a outra palavra: interação.

REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2018. VASCONCELLOS, Celso dos S. Planejamento: projeto de ensino-aprendizagem e projeto político-pedagógico. São Paulo: Libertad, 2002

A Socioaprendizagem profissional da ACM-VRO: por um olhar permeado de perspectivas

Márcia Costa Rodrigues Martins*

A ACM-RS criou em 2001 uma unidade para auxiliar na transformação da comunidade: A ACM Vila Restinga Olímpica busca a inserção social por meio do esporte. Atendemosa crianças e jovens em situação de vulnerabilidade no turno inverso ao da escola, com realização de atividades recreativas, desenvolvimento cognitivo e motor, para íntegrar os que frequentam a instituição, aproximar a comunidade e estreitar os laços com as famílias. Procuramos garantir a todos, sem distinção, tenham as OPORTUNIDADES necessárias para desenvolver suas potencialidades, com isso, mudar suas realidades e perspectivas. A partir dessa transformação, um FUTURO MELHOR é possível, e essas pessoas passam a ser AGENTES DE MUDANÇAS também em suas famílias e comunidades. As atividades são acompanhadas por uma equipe multidisciplinar composta por profissionais das áreas de esportes, nutrição, pedagogia, psicologia e serviço social, entre outras em umas das regiões de maior exclusão social de Porto Alegre. Em 2018 visando à inserção dos adolescentes e jovens no mercado formal de trabalho a ACM VRO implementou o programa de Socioaprendizagem profissional compreendendo os inumeros desafios e perspectivas que atravessam este período da vida, as relações que se estabelecem e o impacto do coletivo na construção do indivíduo.

No bate papo com a nossa Aprendiz yasmim, foi possível ver toda a motivação e o brilho nos olhos, esses cheios de esperanças de dias melhores.

ACM-Restinga tem como objetivo preparar espaços para o desenvolvimento integral do Aprendiz com foco no primeiro emprego, possibilitando a inclusão social, transformando vidas através da qualificação cidadã e profissional. Pensando um pouco sobre esses jovens e o programa, chamamos para um descontraído bate-papo a aprendiz Yasmin Torres Nascimento, de 15 anos, que está fazendo o curso Vendedor de Comércio e Varejo e a prática no Super Kan Supermercados.

Márcia Martins - Quais eram suas perspectivas em relação ao curso?

Yasmin Torres - Eu pensava na Aprendizagem como um espaço que valorizasse os jovens, porque não somos apenas números, somos pessoas que desejam oportunidades para aprender e crescer, poder olhar para o futuro com mais segurança e autoestima, sabendo que depois do curso vou ter habilidades para praticar o que aprendi em outros espaços de trabalho.

Como está sendo sua experiência como Jovem Aprendiz?

Tenho vivido muitas situações que me fazem aprender todos os dias. Fazer a prática no comércio e estar junto à teoria na ACM tem me auxiliado a me entender melhor, lidar com as pessoas, organizar minha vida, meu dinheiro e meus planos para o futuro.

Quais seus maiores aprendizados como Aprendiz?

O principal aprendizado que levo comigo é que os exemplos de outras pessoas podem mudar nossa visão de futuro, criando em nós a vontade de fazer parte de projetos e histórias de vida. Aprendi que também quero ser um exemplo positivo para outras crianças e adolescentes. Aprender com as outras pessoas e saber que eu também posso ensinar.

Estar aprendiz em meio à pandemia do coronavírus te afetou? De que forma?

Sim, afetou a todos nós. Fazer a prática no comércio me fez perceber como as pessoas estão sofrendo devido ao aumento dos preços, principalmente da comida, mas a situação que mais me afetou foi assistir ao relato de um colega em que uma idosa chorou na fila do mercado porque não tinha dinheiro para levar todas as compras. Penso em quantas pessoas estão sem alimentos, sem água e sem luz devido ao desemprego e a pandemia.

Como você está lidando com os protocolos sanitários e distanciamento social nos espaços de teoria e prática do curso?

Está sendo um aprendizado, porque sou uma pessoa que é afetuosa e gosta de tocar nas pessoas, mas por causa da pandemia não posso mais ter essas atitudes, então penso primeiro na saúde, minha e das outras pes-

soas. Sigo todos os protocolos uso máscaras, muito álcool em gel e distanciamento social, mas sinto muito a falta de estar com meus amigos e de ter vida social. Mas tenho esperanças que se nos cuidarmos, logo vamos superar essa pandemia.

O que te chama à atenção na rotina das pessoas e no comércio desde o inicio da tua prática?

Com certeza a economia, as pessoas estão pagando preços mais caros e recebendo menos, muita gente desempregada vivendo do auxilio emergencial. Pessoas que compravam e saiam com o carrinho cheio, hoje usam uma cestinha. Isso é muito triste, porque sabemos como nossa comunidade é carente.

Hoje, fazendo uma avaliação durante tua trajetória na aprendizagem, quais as principais mudanças tu percebe em relação ao teu desenvolvimento?

Muitas (risos) percebo que amadureci enquanto jovem, consigo me relacionar melhor com as pessoas, mas o mais importante é que consigo planejar meu futuro, já estou me organizando para quando terminar o curso de ter meu próprio negócio, estou economizando para isso. Tudo aquilo que tenho aprendido no curso, quero colocar em prática na minha vida pessoal e profissional, já estou (risos).

Quais dicas você daria para aqueles que desejam acessar o Jovem Aprendiz?

Que o princípio de tudo somos nós, precisamos confiar em nós e em nossa capacidade de aprender, não desistir, se uma porta fecha, temos que tentar de novo, até acontecer. É importante aproveitar as oportunidades para aprender e conhecer, valorizar quem acredita na gente.

No bate papo com a nossa Aprendiz yasmim, foi possível ver toda a motivação e o brilho nos olhos, esses cheios de esperanças de dias melhores. Dentro do contexto da Socioaprendizagem da ACM, procuramos desenvolver o protagonismo juvenil e lideranças que possam de alguma forma, compartilhar conhecimento, competências e habilidades e é através destes objetivos que acreditamos na transformação social e oportunidades de direitos. Conforme Paulo Freire: “Educar é um ato de amor, por isso, um ato de coragem”. Nós, enquanto unidade da ACM nos sentimos privilegiados por auxiliar na construção de cidadãos críticos e humanizados.

Yasmin APDZ1

*Márcia Costa Rodrigues Martins, graduada em Pedagogia, graduanda em Filosofia/Licenciatura e Educadora Social.

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