FACULDADES INTEGRADAS HÉLIO ALONSO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL JORNALISMO
A FORÇA TRANSFORMADORA DA INTEGRAÇÃO A História do Jornal Essência Vital
Juliana Ugolino Nunes
Rio de Janeiro Dezembro de 2008
JULIANA UGOLINO NUNES
A FORÇA TRANSFORMADORA DA INTEGRAÇÃO A História do Jornal Essência Vital
Monografia de graduação do Curso de Comunicação Social, habilitação em Jornalismo, apresentada como exigência final do curso. Disciplina: Projeto Experimental (2º semestre/2008).
Orientador: Nailton Agostinho Maia
Rio de Janeiro, Dezembro de 2008
Faculdades Integradas Hélio Alonso
À memória de João Nunes Sobrinho, que sempre esteve comigo. E, certamente, também está muito feliz por mais esta conquista.
AGRADECIMENTOS
A Deus, pelo fantástico presente que é estar na Terra. A meus amados familiares e amigos, pelo amor, apoio e compreensão incondicionais, apesar da minha ausência. A Alê, pelo carinho, paciência e fiel companhia em todos os dias e noites em claro que envolveram este trabalho. A Nailton Agostinho Maia pela orientação acadêmica e por compartilhar de meu entusiasmo. E aos amigos da ONG Essência Vital e todos os que por ela passaram, por terem gentilmente dedicado seu tempo e atenção a vasculhar suas memórias e contar esta história comigo. Por terem auxiliado a realização deste trabalho com idéias, conteúdo, revisões e total incentivo. Por terem despertado em meu coração, ainda adolescente, a confiança de que vale a pena acreditar e trabalhar por um mundo melhor. Por me ensinarem sobre amor, ética, companheirismo e responsabilidade. Mas, principalmente, por me darem a maravilhosa oportunidade de realizar o sonho de qualquer jornalista: ser livre para trabalhar de acordo com sua consciência.
“Devemos olhar para frente, recolher todos os sinais que nos apontem para um desfecho feliz de nossa perigosa travessia e gestar uma atmosfera de benquerença e de irmandade que nos permita viver minimamente felizes nesse pequeno Planeta, escondido num canto de uma galáxia média, no interior de um sistema solar de quinta, mas sob o arco-íris da boa vontade humana e da benevolência divina.” Leonardo Boff
SUMÁRIO APRESENTAÇÃO ............................................................................. 07 INTRODUÇÃO .................................................................................. 08 1. A ORIGEM DO JORNAL ESSÊNCIA VITAL ................................... 1.1 Contexto sócio-político ..................................................................... 1.2 Nasce o Jornal Essência Vital ............................................................. 1.3 Base intelectual e filosófica ................................................................ 1.4 Público-alvo e distribuição ................................................................ 1.5 Modo de produção e construção do texto ..............................................
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2. VISÃO HOLÍSTICA: O DIFERENCIAL NA ABORDAGEM .............. 2.1 Parcialidade assumida ...................................................................... 2.2 Aplicação da abordagem integrada ...................................................... 2.3 Seções do Jornal Essência Vital ..........................................................
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3. A TRAJETÓRIA DO JORNAL ESSÊNCIA VITAL ............................. 3.1 Política comercial ............................................................................ 3.2 Crescimento: volume e tiragem .......................................................... 3.3 Dificuldades ................................................................................... 3.4 Projeto gráfico ................................................................................ 3.4.1 Impressão na Editora Rocco: qualidade e perdas .................................
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4. PESSOAS ESSENCIAIS .................................................................. 4.1 Colaboradores ................................................................................. 4.2 A equipe vital: “Jornalzinho, não!” ...................................................... 4.3 Os leitores: a força propulsora ............................................................
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5. FIM DO JORNAL ESSÊNCIA VITAL E NOVAS PERSPECTIVAS 59 5.1 As sementes plantadas e o futuro ........................................................ 61 CONCLUSÃO .................................................................................... 63 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................... 64
APRESENTAÇÃO
Este trabalho se propõe a contar a história do Jornal Essência Vital, veículo de comunicação alternativa que circulou mensal e gratuitamente no Estado do Rio de Janeiro durante oito anos, de 1995 a 2003, com um perfil único e de vanguarda: a inédita convergência de temas até então tratados distintamente, apesar de estarem profundamente interligados: Ecologia, Ciência, Saúde, Política e Espiritualidade de forma integrada. Com linguagem simples, leve e conteúdo profundo, o Jornal Essência Vital falava, a um público heterogêneo, com total liberdade e independência, inaugurando na imprensa uma visão sistêmica que se contrapunha à segmentação vigente, e que só agora, passada mais de uma década, passa a ser compreendida e esporadicamente aplicada em algumas poucas publicações. Como qualquer jornal independente, a jornada do Essência Vital é uma história de dedicação, entrega, renúncia, idealismo, sacrifícios e superação. Sobretudo, é uma história de pessoas que amavam o que faziam, e cujas palavras repercutiam na vida de leitores apaixonados, despertando consciências e fomentando transformações. Se, num primeiro momento, pode parecer impreciso classificar como jornalismo o perfil contundente, esclarecedor, opinativo e claramente posicionado do Essência Vital, por outro lado, seus frutos dirimem qualquer dúvida. Multiplicam-se histórias de leitores que transformaram sua realidade a partir da leitura do jornal, motivando assim a mudança no universo ao seu redor e desencadeando uma rede de ações conjuntas pelo bem coletivo. Nesse sentido, o Jornal Essência Vital cumpriu com mérito sua função social e o mais nobre objetivo do jornalismo, aquele que primeiro nos instiga a escolher como profissão este verdadeiro sacerdócio: mudar o mundo.
INTRODUÇÃO Fruto do sonho de jovens amigos, o Jornal Essência Vital nasceu para preencher uma lacuna que ficara em aberto nas gerações que sucederam a ditadura militar: a falta de pensamento crítico, de ideais e o contraponto ao individualismo que tomou conta das pessoas. Além disso, nasceu com objetivos ainda mais nobres: servir, se doar, transformar a realidade a partir da comunicação. E essa transformação se daria com uma abordagem integrativa até então nunca vista numa publicação: a idéia de que tudo e todos estamos interligados, de que, para haver saúde e educação, é necessário que haja uma política social adequada, e que a atitude ecologicamente adequada passa pela espiritualidade, pelo respeito por todos os seres, por uma reformulação de valores, que assim seriam capazes de transformar vidas. Atualmente, essa visão sistêmica começa a ganhar espaço, difundida por importantes intelectuais da atualidade que, assim como o Essência Vital, já a vinham trazendo num esforço solitário: físicos, ambientalistas e formadores de opinião conhecidos nossos, como André Trigueiro, Leonardo Boff e Frei Betto – tendo estes dois últimos sido colunistas do Essência Vital. Com esses objetivos em mente, o Jornal Essência Vital foi projetado para chegar ao maior número possível de pessoas, ainda que sua tiragem não passasse de 20.000 exemplares. A despeito de todas as dificuldades financeiras para manutenção da publicação – uma vez que era imprescindível ser comercialmente independente para que o conteúdo fosse abordado com liberdade –, o jornal foi impresso em papel de livro, para que pudesse durar, ser colecionado e compartilhado entre as pessoas. Pela mesma razão, as matérias tinham um caráter atemporal, se mantendo atuais mesmo após uma década de publicação. No entanto, ainda que o tema fosse denso, a linguagem era simples, o texto era leve, bem humorado, mesclando a formalidade necessária com a descontração de uma conversa entre amigos. Agregada ao conteúdo, havia ainda a preocupação com a estética, com a agradabilidade e o conforto na leitura. Assim, o Essência Vital possuía uma diagramação diferenciada, adequada às principais referências do design editorial, trazendo a arte e o lúdico para suas páginas. Além dessas características que já o tornavam único, o Essência Vital foi criado para ser distribuído gratuitamente, e assim foi desde o início até o fim de sua publicação. Mantido com anunciantes selecionados por critérios éticos do jornal, que sempre primou pela coerência e independência de qualquer interesse comercial, foi criada uma rede alternativa de
distribuição, o que acabou formando um público heterogêneo de leitores apaixonados. Tão apaixonados que criou-se uma iniciativa um tanto quanto inusitada: um grupo de assinantes, pessoas que mensalmente pagavam por um jornal gratuito, com o objetivo de contribuir para a expansão do trabalho. Como resultado, vinha a recompensa: leitores que tiveram suas vidas transformadas a partir de reflexões despertadas pelo Essência Vital. Pessoas que mudaram sua maneira de pensar, que determinaram o rumo de suas vidas profissionais, que tomaram iniciativas de ação social, que modificaram seus hábitos de vida e conquistaram saúde, que despertaram para a necessidade de desenvolver a espiritualidade no sentido mais amplo: o amor e o respeito pelo próximo, pela vida, pelo planeta e a responsabilidade de cada um para garantir o desenvolvimento sustentável – mesmo quando ainda mal se falava disso na grande mídia. Para contar a história do Jornal Essência Vital, buscamos o único caminho possível: as pessoas que o construíram e mantiveram. Fundadores, colaboradores e leitores falaram sobre sua relação com o jornal e o impacto deste em suas vidas. Embora não seja simples enquadrar o Essência Vital como publicação jornalística segundo os critérios tradicionais, exceto pelo viés social do jornalismo cidadão, buscamos analisá-lo detalhadamente, contemplando os aspectos temáticos, textuais, gráficos e estéticos. Assim como o Essência Vital era livre para se posicionar, ao invés se vestir com uma pretensa isenção que, sabemos, jamais existiu em qualquer veículo de comunicação, também este trabalho pede licença para ser um registro livre. Escrito com texto jornalístico e não acadêmico, há espaço para diferentes visões do nosso objeto de estudo. Entretanto, seria impossível deixar de lado o olhar apaixonado que sempre caracterizou os leitores do Essência Vital.
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CAPÍTULO 1 A ORIGEM DO JORNAL ESSÊNCIA VITAL 1.1 CONTEXTO POLÍTICO-SOCIAL O Essência Vital nasceu em janeiro de 1995 com um propósito ousado: cumprir o papel social que não era exercido pelas empresas, nem pelo Estado, num momento em que o Terceiro Setor ainda era incipiente. Estava adormecido, há uma década, o espírito combativo dos anos de chumbo, da efervescência cultural e intelectual surgida durante a ditadura militar, que resultara em inesquecíveis títulos da imprensa alternativa brasileira, como os jornais O Sol e O Pasquim. O que se via na mídia, de modo geral, era uma imprensa acomodada com a democracia e comprometida com a censura não dos militares, mas dos interesses econômicos que a sustentavam. Entretanto, embora democrático, o quadro político não era dos melhores. Iniciava-se o mandato de Fernando Henrique Cardoso que, ao longo de oito anos na presidência da República, resultaria em aumento vertiginoso do desemprego, queda da renda, além de polêmicas privatizações, sob o véu da pseudo-estabilidade econômica. A sociedade civil, por sua vez, contente em poder exercer o direito de expressão garantido pela democracia, havia transferido seu foco do coletivo para o individual. Já não havia, aparentemente, necessidade de lutar por um ideal, então, voltava-se para si. A preocupação com o meio ambiente ainda era coisa de “ecochato” e não se falava em desenvolvimento sustentável. O sentimento participativo de que se poderia promover cidadania através das organizações não governamentais era somente um embrião. A compreensão da espiritualidade estava restrita apenas aos compromissos religiosos. E tudo isso era tratado de forma segmentada. Ainda não se falava de pensamento sistêmico, trazido com o advento da Física Quântica na virada do século. Nesse contexto, surge o Jornal Essência Vital, com a proposta de integrar todos esses aspectos e despertar em seus leitores uma nova consciência: a de que ecologia, ciência, política e espiritualidade estão profundamente interligados e são interdependentes. E mais do que isso: a idéia de que uma mudança em nível global só seria possível a partir de transformações no âmbito do indivíduo. Portanto, buscava estimular o leitor a sair da inércia e apropriar-se de sua parcela de responsabilidade social. Se atualmente esse ponto de vista holístico está apenas começando a ser propagado,
11 falar disso através da imprensa há 13 anos era algo, no mínimo, peculiar, o que explicita o caráter vanguardista do Essência Vital. Ainda hoje, ele pode ser percebido como portavoz de uma proposta inovadora, uma vez que vemos na mídia apenas lampejos pontuais de uma abordagem integrada. De modo geral, a segmentação permanece. Vejamos, então, como surgiu essa idéia.
1.2 NASCE O ESSÊNCIA VITAL Em 1994, no Rio de Janeiro, dois amigos de longa data decidiram criar um informativo. Marcos Melo, designer e atualmente presidente da ONG Essência Vital, na época tinha 25 anos de idade e uma pequena loja no bairro da Tijuca, que já trazia o nome Essência Vital, intuído em sonho, juntamente com seu símbolo, o beija-flor. O conceito da marca era divulgar, através de camisas com estampas exclusivas, mensagens espiritualistas, de culturas e religiões variadas, revelando a sabedoria existente em todas elas. Cabe aqui uma breve reflexão sobre ela. O beija-flor, símbolo da marca, está intimamente ligado ao nome, por ser um pássaro com características únicas, representante da beleza, leveza, precisão e espiritualidade. Seu simbolismo remete à idéia de síntese do nome Essência Vital: a raiz que gera, sustenta e transforma a vida, a própria espiritualidade inerente a toda manifestação material. Seu sentido nos faz perceber a importância da simplicidade e da integração para expandir a visão de mundo. Essência Vital é a força que se traduz como criatividade. Não por acaso, a interpretação do ideograma chinês “Criativo”, segundo o milenar “I-Ching - O Livro das Mutações”, traduz com exatidão o significado da marca Essência Vital e o sentido que tem norteado a sua história desde que surgiu: O primeiro hexagrama se compõe de seis linhas inteiras. Essas linhas correspondem à energia que, em sua forma primordial, é luminosa, forte, espiritual, ativa. O hexagrama é integralmente forte em sua natureza e, por estar livre de toda fraqueza, tem como essência a energia. Sua imagem é o céu. Sua força nunca é limitada por condições determinadas no espaço e por isso é concebida como movimento. O tempo é a base desse movimento. Portanto, o hexagrama inclui também o poder do tempo e o poder de persistir no tempo, ou seja, a duração. (...) O poder representado pelo hexagrama deve ser interpretado em dois sentidos: em termos de uma ação no universo e de sua ação no mundo dos homens. Em relação ao universo, ele expressa a atividade criativa e poderosa da Divindade. Aplicado ao mundo dos homens, representa a ação criativa dos santos e dos sábios, dos que governam e conduzem a humanidade e que, através de sua força, despertam e desenvolvem a natureza mais elevada dos seres humanos. (...) O curso do Criativo modifica e modela os seres até que cada um alcance sua verdadeira e específica natureza, e os mantém, então, em concordância com a grande harmonia. Assim, o Criativo se revela como o que favorece ou propicia através da perseverança. Aplicado à esfera humana, isso mostra como o homem superior traz ao mundo paz e segurança em virtude de sua ação ordenadora. (...)
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Para aquele que obtém esse oráculo, isso significa que o sucesso lhe chegará das profundezas primordiais do universo e que tudo dependerá dele procurar a sua felicidade e a dos outros através de um único caminho: a perseverança no bem¹.
Marcelo Pinto, então estudante de Jornalismo, amigo de Marcos desde o colégio, acompanhava de perto os primeiros passos da loja. Prestes a se formar, e com a bagagem de ter produzido ao lado de Ronaldo Soares, hoje na Revista Veja, um fanzine bem-sucedido durante os anos de faculdade, Marcelo conta que não se sentia motivado a seguir o caminho das grandes redações: “Aquelas 12 edições do zineÓ me proporcionaram uma satisfação que eu não teria em nenhum jornal ou revista: a de exercitar um jornalismo mais livre, que possibilitasse experimentar novos caminhos. Estava embriagado pelo sonho de editar uma publicação com autonomia, tanto para buscar as pautas que considerava pertinentes quanto para desenvolver um conceito próprio na redação e edição de todo material. Lembro que me perguntava como seria editar um jornal que tratasse de temas espirituais, porém, com uma abordagem menos grave e hermética, com um texto claro e objetivo e, sendo possível, que lançasse mão do humor – por que não?” Nesse momento, eles se encontraram para falar sobre a Essência Vital. Marcos estava preocupado com a divulgação da loja e pensava em lançar algum anúncio ou material promocional dos produtos. Um dos objetivos da loja era de que parte do lucro fosse revertida para alguma ação social. Marcelo propôs, então, que criassem um jornal homônimo, que funcionaria como um folheto de divulgação não só dos produtos, mas da filosofia que eles viviam. “O custo-benefício seria infinitamente melhor, uma vez que ele teria autonomia para escrever e editar os assuntos da forma que quisesse. Marcos topou na hora”, relembra Marcelo. Assim, com a primeira entrada de recursos, foi criado o Jornal Essência Vital, informativo de quatro páginas, em formato tablóide e papel offset. Com tiragem de 4.000 exemplares, a primeira edição trazia como pauta principal as propriedades energéticas dos cristais. A distribuição, inicialmente, ficou restrita à loja. “Se o Marcos já alimentava a idéia de transformar seu projeto em jornal, e se eu já minhocava a possibilidade de editar uma publicação inovadora sobre espiritualidade, o casamento se daria ali”, afirma Marcelo. Apesar da boa repercussão da iniciativa junto aos clientes, logo após o primeiro número, uma crise entre Marcos e seu sócio determinou Primeira edição do Jornal Essência Vital
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o fim da loja. Entretanto, a semente já estava lançada: “Quando começamos a produzir o jornal, vimos que ele tinha um potencial muito maior de comunicar e nos encantamos com aquela possibilidade”, conta Marcos. A segunda edição seria, portanto, o primeiro número com um conceito mais claro de jornal. “Ele não estava ali mais para divulgar uma loja, mas para ser porta-voz de um projeto maior: uma publicação que tratasse de temas espiritualistas, aliando-os ao debate científico e ecológico, sempre que possível com um olhar jornalístico, com um pé fincado na vida prática, no cotidiano. Jornalismo sobre a espiritualidade, mas sem mistificações, com irreverência, responsabilidade e ética”, relata Marcelo. Com a experiência em design e artes gráficas de Marcos e a paixão de Marcelo pela comunicação, o Essência Vital foi tomando corpo. A cada nova edição, crescia o número de páginas e novos conteúdos de diversas áreas eram enxertados. “Um ano e meio antes de abrir a loja, fui intuído a comprar um computador. Acostumado a desenhar tipografia à mão, não fazia idéia da necessidade de ter um. Mas comprei, comecei a aprender a usar e depois entendi o motivo: produzir o jornal. Assim, começamos o Essência Vital. Escrevendo e diagramando em casa, Marcelo e eu, cada um com um computador. Até a quarta edição [que já trazia os primeiros anunciantes], o jornal foi custeado com recursos da loja, que foi apenas um pretexto para ele existir. Depois disso, precisamos buscar sua sobrevivência comercial, pois um projeto gráfico, por mais simples que seja, sempre tem um custo elevado”, explica Marcos. Uma das premissas claramente definidas era a de que o Essência Vital seria gratuito. A desvinculação da loja, ao invés de ameaçar o crescimento do jornal, favoreceu: a quinta edição surge com o dobro de páginas, sendo duas ocupadas apenas por anúncios, além das primeiras mudanças no projeto gráfico, que começava a ser refinado. A partir daí, o Essência Vital seguiria crescendo em volume e tiragem, não sem dificuldades, ao longo de 77 edições. Mas sempre com muito entusiasmo, como mostra o editorial da quarta edição, publicada em setembro de 1995:
Caro leitor, O Essência Vital não veio ao mundo a passeio. O Essência Vital tem uma missão definida. Levar ao leitor, em linguagem acessível, informações básicas que o ajudem, primeiro, na sua caminhada em busca do autoconhecimento e, segundo, no amadurecimento como cidadão do próximo milênio. Cidadão e cidadã que, aliás, precisam ter uma visão bem mais ampla do que significa ecologia, ciência e espiritualidade. Do contrário, correm o sério risco de perder o bonde da História e, mais que isso, de ver o próprio bem-viver descarrilar. Dito isto, vamos agora a outro aspecto tão essencial quanto vital. E este vai na forma de pergunta: para que serve um jornal? Alguém dirá que ele serve para transmitir informações e serviços para um determinado público. Está certo. Mas se você parar para pensar, um jornal pode ser algo bem maior do que isso. Pode ser uma espécie de tribuna livre. Por exemplo: o Essência Vital sabe que, no fundo, um jornal é propriedade de todos e de ninguém. Ou seja, ele pertence menos aos editores, que escrevem, fotografam e diagramam, e muito mais aos leitores e anunciantes. Todos exercem um papel fundamental na partilha. Como num triângulo, por assim dizer, onde o equilíbrio fica comprometido caso um dos vértices falte.
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Por isso, agradecemos a todos, sem distinção. Agradecemos, principalmente, a chance de poder levar a você informações que são tão essenciais neste momento do planeta e da vida humana. Enfim, somos gratos a todos que, de alguma forma, contribuem para que este jornal prossiga. E resista, na sua persistente sobrevivência. Que esta magia não nos abandone. E que a paz habite nossos corações. Os Editores
1.3 BASE INTELECTUAL E FILOSÓFICA Criar um jornal com uma abordagem integrada de ecologia, ciência, política e espiritualidade era empreitada que exigia uma complexa formação intelectual e filosófica de seus editores. Sobre esse aspecto, Marcos conta que, ainda adolescentes, ambos buscavam juntos, cada um à sua maneira, associarem-se a questões que envolvessem transformação social: “Participamos de campanhas políticas, passeatas, fizemos parte do movimento estudantil secundarista, buscávamos uma literatura focada em processos questionadores, desde poesia até filosofia, como Sartre”. Marcelo concorda: “Fui da geração que viveu os últimos anos da divisão do mundo em blocos capitalista e socialista. Lembro do estranhamento que me causou a queda do Muro de Berlim. Embora sempre fosse apaixonado pelo Brasil e sonhasse com justiça social, nunca me filiei a qualquer grupo. No fundo, me sentia um anarquista”, revela. Jean-Paul Sartre, filósofo existencialista francês do início do século XX, trazia um pensamento de fato alinhado com os anseios daqueles jovens editores. Sartre defende que o homem é livre, porém responsável por tudo que está à sua volta: Somos inteiramente responsáveis por nosso passado, nosso presente e nosso futuro. Não é Deus, nem a natureza, tampouco a sociedade que nos define, que define o que somos por completo ou nossa conduta. Somos o que queremos ser, o que escolhemos ser; e sempre poderemos mudar o que somos. Os valores morais não são limites para a liberdade. Assim, perante suas escolhas, o 2 homem não apenas torna-se responsável por si, mas também por toda a humanidade.
O interesse pela comunicação também era compartilhado pelos dois, de forma ainda mais evidente por Marcelo, que seguiu o jornalismo: “Sempre me apaixonou a possibilidade de democratizar o conhecimento, divulgar informações e assim colaborar para que as pessoas pudessem viver suas cidadanias de forma mais plena. Sacudir o conformismo e a acomodação, provocar, despertar. O jornalismo caiu como uma luva, pois sempre desconfiei de verdades estabelecidas, de dogmas e, como ensina a técnica jornalística, é preciso ouvir sempre todas as partes envolvidas na questão, pois todas trazem um pedaço de verdade. Acho que era isso que tentávamos fazer no Essência Vital: buscar mostrar o Deus de cada religião ou filosofia. Isso me motivava, revelar como cada segmento acreditava estar mudando o mundo, e como, de alguma forma, de fato estava e está mudando”.
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Em determinado momento da juventude, Marcelo pendeu para o estudo acadêmico e Marcos passou a se dedicar mais intensamente à arte e ao estudo da espiritualidade. “Assim juntamos aspectos muito importantes: o conhecimento intelectual horizontal, que as pessoas buscam e respeitam, com o conhecimento mais metafísico, lúdico, impregnado pela arte e associado com a comunicação”, afirma Marcos. A questão da espiritualidade era fortemente presente no Essência Vital, desde a primeira até a última edição. A associação entre jornalismo, política Edição nº. 10 e espiritualidade não era novidade. Nos anos 70 e 80, a imprensa comunitária das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), ligadas à Igreja Católica, tiveram um importante desempenho na luta contra a ditadura militar e pela redemocratização do país. Aplicando o método ver-julgar-agir, as CEBs discutem todos os problemas pertinentes à vida da comunidade, sejam religiosos, sociais ou políticos. Realizam, por isso, a junção fé e vida, dissociadas por uma longa história eclesial no nosso continente. Nesta junção, elas representam a palavra dos oprimidos na sociedade. Esta palavra aparece, sobretudo, na 3 produção de material que configura uma rede de comunicação popular”.
O objetivo da imprensa produzida pelas CEBs não se restringia ao campo eclesiástico: Seu objetivo é mais amplo que a Igreja, a religião e a ética. Num certo sentido é universal, secular, porque sua esfera de interesse e atenção é o mundo e todas as coisas temporais que acontecem. Tais periódicos são publicados por cidadãos católicos, frequentemente para 4 cidadãos católicos, entretanto, mais cidadãos que católicos.
De modo semelhante, a formação espiritual recebida pelos editores também encontrava espaço no Essência Vital. Ambos tiveram, desde crianças, uma base religiosa calcada na doutrina espírita, e as questões filosóficas tratadas pelo Espiritismo podem ser encontradas em muitos momentos do jornal, traduzidas em valores que eram transmitidos sob um enfoque universalista aos leitores. O Livro dos Espíritos, obra de referência doutrinária codificado por Allan Kardec, afirma nas questões 860 e 1.019: A força das coisas possibilita a mudança, mas não construirá uma sociedade mais justa, mais livre, mais feliz, sem que cada família, cada grupo, cada cidade, cada nação elabore seu 5 projeto, organize sua ação para chegar a essa sociedade melhor.
O escritor Deolindo Amorim, no livro “O Espiritismo e os Problemas Humanos”,
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também fala sobre o compromisso com a sociedade: Para os espíritas, finalmente, o Cristianismo não é apático. Se, na realidade, o cristão ficasse apenas na fé, rezando e contemplando o mundo à grande distância, sem participar do trabalho de transformação do homem e da sociedade, jamais a palavra do Cristo teria a influência ponderável. O verdadeiro cristão, o que tem o Evangelho dentro de si, e não apenas o que repete versículos e sentenças, não pode cruzar os braços dentro de um mundo arruinado e 6 poluído pelos vícios, pela imoralidade e pelo egoísmo.
Embora o Essência Vital extrapolasse os limites de qualquer religião para falar de espiritualidade sob um enfoque amplo e universalista, com o objetivo de despertar os leitores para a verdade e sabedoria presentes em todas elas, era na doutrina espírita que estava fincada a sua raiz. Muito do que o Essência Vital produziu foi, segundo os editores, fruto de intuição e orientação espiritual. Sem mistificações, isso era tratado por eles de forma natural e respeitosa, ainda que implicasse em algumas necessárias adaptações no dia-a-dia do jornal. Marcelo comenta: “Quase sempre, havia consenso na forma de abordar os temas. Cada um tinha seu filtro e humor próprios, mas que no geral convergiam. Dividíamos a elaboração da edição, mas, em vários momentos, pesava o fato de o Marcos ter uma mediunidade inata. Como muitos textos escritos por ele eram, como ele próprio afirmava, canalizados, não restava muito espaço para a discussão editorial. Desde o início, procurei aceitar essa relação como uma contingência espiritual ou, digamos, uma prerrogativa com a qual eu teria que conviver se quisesse continuar no projeto. Às vezes, isso me frustrava do ponto de vista jornalístico, já que impossibilitava um planejamento mais adequado das edições, considerando que a comunicação era ‘vertical’. Até porque isso determinava uma relação um tanto desigual. O antídoto era seguir o que aprendi com o professor de Yoga Hermógenes – a quem entrevistei para o Essência Vital: ‘entrego, aceito, confio e agradeço’. Numa relação desigual entre a ‘comunicação vertical’ e a comunicação, digamos, ‘horizontal’, os atritos poderiam ser constantes. Claro que eles existiam. Mas isso não impedia que seguíssemos tocando as edições. Para mim, estava claro que a única chance de o jornal dar certo era ter fé nos sinais, confiar na intuição. A confiança mútua ajudava bastante. E, assim, a intuição - em um nível para ele, em outro para mim – seguiu sendo a mola-mestra do nosso trabalho”. Era também numa instituição espírita que o Essência Vital encontraria seu principal ponto de distribuição: a Sociedade Espírita Ramatis, no bairro da Tijuca, que recebe um fluxo de mais de 10.000 pessoas semanalmente e realiza trabalhos sociais em asilos, orfanatos, hospitais, além de atender crianças e gestantes carentes. Nas quintas-feiras, dia de maior movimento na casa, o Essência Vital era distribuído e os editores recebiam os primeiros feedbacks de seus leitores.
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1.4 PÚBLICO-ALVO E DISTRIBUIÇÃO Diferente da maior parte das publicações que, no projeto inicial, já determinam seu público-alvo, o Essência Vital não tinha um perfil definido de leitores. Segundo Marcos Melo, segmentar significaria elitizar uma parte do público e excluir outra: “Produzíamos pensando numa faixa que ia do estudante ao alto executivo. O jornal tinha um conteúdo mais leve e compreensível para o jovem, que era fisgado pelo humor, e também textos mais contundentes, espirituais e tocantes que tinham a ver com pessoas de senso crítico mais apurado. O Essência sempre foi pensado de maneira a integrar os aspectos humanos, gráficos, fazer uma síntese. Nosso público era heterogêneo, visava abarcar o maior número possível de pessoas, independente de classe social, credo ou gênero”. A rede alternativa de distribuição criada para fazer o Essência Vital chegar gratuitamente às pessoas facilitava a formação desse público heterogêneo. Pensando em lugares de grande circulação e que, de alguma forma, tivessem relação com a temática do jornal, os editores elegeram centros terapêuticos e restaurantes do Rio de Janeiro como pontos de entrega. “Os restaurantes foram os grandes veículos para fazer o Essência chegar a pessoas completamente diferentes. Era comum, durante a distribuição, vermos executivos de terno e gravata saírem do restaurante com um exemplar embaixo do braço, seguidos por algum jovem de mochila que também levava o jornal. Isso era algo que um jornal ou revista convencionais jamais conseguiriam, pois são formatados para atenderem a um público específico que paga pela publicação, e que sempre tem encalhe”, afirma Marcos. Por ser gratuito, este - que é um problema crônico do mercado gráfico - nunca fez parte da história do Essência Vital. “A menos que sejam casos excepcionais de notícias bombásticas ou furos de reportagem, as estatísticas apontam que 40% das publicações vendidas em banca encalham, o que significa desperdício de papel, dinheiro e mão de obra. O Essência nunca encalhou. Tudo o que ia para a rua era distribuído. Se não separássemos alguns exemplares para arquivamento, acabavam sendo distribuídos também. Essa era uma das grandes vantagens de ser uma publicação gratuita”, explica o editor.
1.5 MODO DE PRODUÇÃO E CONSTRUÇÃO DO TEXTO Das 77 edições do Essência Vital, os editores compartilharam as tarefas da publicação até o número 41, quando Marcelo partiu para novas empreitadas. “Inicialmente, respondíamos sozinhos pelo projeto inteiro: pensar pautas, escrever, diagramar as páginas, negociar com gráfica, correr atrás de anunciantes, e garantir a distribuição”, conta Marcelo. Posteriormente, com o crescimento do jornal, as atribuições passaram a ser divididas. Eles contam que, em termos editoriais, não havia uma regra: quem tivesse a idéia da pauta ou se considerasse mais apto a discorrer sobre determinado tema, escrevia. “Às
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vezes, discordávamos em algumas pautas, pois ambos tínhamos poder de decisão e isso causava uma certa tensão. Marcelo tinha um ponto de vista mais intelectual e, de certa forma, horizontal, quando na verdade, precisávamos pensar o conteúdo de uma forma mais global e vertical, pois o jornal sempre teve uma proposta: se a matéria não tivesse um teor indicativo de um processo de transformação, que incitasse à reflexão, a víamos como efêmera. Nossa orientação é que o máximo do que produzíssemos tivesse um caráter atemporal, deveria servir para qualquer época. No final, priorizávamos o que era melhor para o conjunto do Essência”,afirma.
A produção do Essência Vital. Charge de Fábio Monteiro
A construção do texto também era pensada para instigar e envolver emocionalmente o leitor, de modo que ele pudesse interagir com a mensagem, fazendo daquilo uma ferramenta de transformação para sua vida. Havia alternância nessa construção. “Em alguns momentos, Marcelo produzia conteúdos com uma linguagem mais formal, até porque estava envolvido com a faculdade, onde era cobrado a produzir uma escrita mais imparcial, talvez técnica. Aprendi muito com isso. Houve uma troca nesse processo, pois a própria arte, que era o meu viés, é uma maneira de quebrantar a formalidade e tornar o conteúdo mais leve”, conta Marcos. “Entretanto, percebemos que as pessoas precisavam de algo que as aproximasse, ao invés de afastá-las. Não queríamos fazer discurso, então, tentamos desenvolver uma linguagem mais leve. Às vezes eu me excedia e escrachava demais, então o Marcelo tentava formalizar um pouco. Em outros momentos, tentávamos quebrar a dureza com humor. Intervíamos no texto um do outro, o que às vezes era motivo de desentendimentos, mas tudo era sempre resolvido. Foi uma mistura muito interessante. Era a concretude com o lúdico e a vanguarda, aspectos muitas vezes conflitantes, porém integrativos. A essência do trabalho foi realmente desenvolvida enquanto estávamos juntos. Depois que ele partiu, o trabalho prosseguiu, amadureceu, mas essa química gerida nos primeiros números do jornal permaneceu nele”. A seguir temos um trecho exemplar, publicado na edição 45, de como eram mescladas essas características:
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Xô, Deprê! Tão difícil como ver um enterro de anão é achar alguém que hoje em dia não sofra de depressão! Perdas, traumas, pré-disposição genética, tristeza, desânimo, solidão, medo, baixa vitalidade orgânica e de autoestima, estresse, obsessão espiritual, instabilidade financeira, dívidas, desemprego, o salário mínimo, o time do Fluminense, FHC... tudo é motivo de cair na “deprê”. Uma em cada cinco pessoas no mundo sofre de depressão, diz a OMS (Organização Mundial de Saúde). Para muitos, ela não passa de um breve estado de espírito, mas, na verdade, pode se tornar uma doença grave, com sérias conseqüências para Edição nº. 45 o nível físico e psíquico de seu portador. Como vimos, inúmeros podem ser os fatores geradores da depressão, porém, o sentimento raíz que a deflagra é sempre o da incapacidade do indivíduo em superar as dificuldades e limitações ao seu redor. O mundo moderno, que impõe uma competição alucinada e estressante atrás de objetivos materiais - muitas vezes fantasiosos e inatingíveis -, tem impulsionado os seres a uma corrida louca por superação e conquistas, e assim, acentuado o surgimento de quadros depressivos. O imediatismo e a banalização dos sentimentos e da poesia de se viver em harmonia, com tranqüilidade, tem exigido de muitos seres sacrifícios além de suas possibilidades, alterandolhes os ritmos naturais. Ou seja, nem todos são obrigados a viver um pique físico e de frieza de emoções igual a de um executivo de Wall Street! Somos seres humanos e não robôs! Lá vão, então, alguns toques práticos que, com certeza, vão lhe dar uma força para sair do buraco. Afinal de contas, quem gosta de buraco é tatu do mato e minhoca da terra.
O Essência Vital trazia ainda uma característica peculiar em relação a outras publicações: o anonimato nas matérias. Os textos produzidos pelo jornal jamais eram assinados. A autoria aparecia apenas pontualmente, em textos de colunistas e colaboradores. Marcelo explica o motivo: “Foi uma decisão tomada naturalmente, uma conseqüência de como víamos a função do Essência Vital, que era também a de servir de exemplo. Mostrar a importância de nos despojarmos de vaidades, de deixarmos o nosso ego em segundo plano para realçar o sentimento coletivo, de irmandade, de pensar na humanidade, nas questões planetárias que afetam a todos indistintamente”. Definido o conteúdo, partia-se para a diagramação. “Éramos designers diletantes, mas o Marcos sempre se dedicou mais a isso. Como não podíamos pagar um profissional, eu procurava evitar críticas ao seu trabalho, apenas quando considerava que ele havia exagerado no uso de texturas e outros elementos visuais. A despeito disso, dentre as edições do Essência Vital, há belas capas criadas por ele. Arriscava-me pouco nesse latifúndio”, relembra Marcelo, que se encarregava da revisão. O passo seguinte era o processo gráfico: aprovar fotolito – o que às vezes implicava em madrugadas inteiras de retoques – e impressão da tiragem. A distribuição era feita pelos dois, que se dividiam entre os locais escolhidos. “Além de alguns pontos de distribuição, Marcos ficava com a Ramatis, onde tinha licença da direção para ficar às quintas-feiras, no balcão da entrada, distribuindo e coletando colaborações em dinheiro para o jornal. Eu fazia o restante dos pontos”, diz Marcelo.
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CAPÍTULO 2 VISÃO HOLÍSTICA: O DIFERENCIAL NA ABORDAGEM Quando surgiu o Jornal Essência Vital, não havia no Brasil – ao menos não conhecida – qualquer publicação que apresentasse uma abordagem integrada de Ecologia, Ciência, Política e Espiritualidade. Havia apenas veículos tratando desses temas de forma segmentada. E uma abordagem integrada não significava apenas ter editorias de cada um desses assuntos, mas sim apresentá-los a partir de uma visão sistêmica, ou seja, numa perspectiva de fenômenos interligados, que interagem e se comunicam o tempo todo. O pensamento sistêmico, que surgiu no final do século XX em contraposição ao pensamento reducionista-mecanicista herdado do século XVII, acredita que a racionalidade científica não oferece parâmetros suficientes para o desenvolvimento humano, e, por isso, deve ser desenvolvida conjuntamente com a subjetividade das artes e das diversas tradições espirituais. O físico austríaco Fritjof Capra, em seu livro A Teia da Vida, de 1996, nos ajuda a compreender esta nova visão: O novo paradigma pode ser chamado de uma visão de mundo holística, que concebe o mundo como um todo integrado, e não como uma coleção de partes dissociadas. Pode também ser denominado visão ecológica, se o termo “ecologia” for empregado num sentido muito mais amplo e profundo que o usual. A percepção ecológica profunda reconhece a interdependência fundamental de todos os fenômenos e o fato de que, enquanto indivíduos e sociedades, estamos todos encaixados nos processos cíclicos da natureza (e, em última análise, somos dependentes desses processos). A ecologia profunda não separa seres humanos - ou qualquer outra coisa do meio ambiente natural. Ela vê o mundo não como uma coleção de objetos isolados, mas como uma rede de fenômenos que estão fundamentalmente interconectados e são interdependentes. A ecologia profunda reconhece o valor intrínseco de seres vivos e concebe os seres humanos apenas como um fio particular na teia da vida. Em última análise, a percepção da ecologia profunda é percepção espiritual ou religiosa. Quando a concepção de espírito humano é entendida como o modo de consciência no qual o indivíduo tem uma sensação de pertinência, de conexidade, com o cosmos como um todo, torna-se claro que a percepção ecológica é espiritual na sua essência mais profunda.7
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O sociólogo francês Edgar Morin também fala a respeito: Vivemos numa realidade multidimensional, simultaneamente econômica, psicológica, mitológica, sociológica, mas estudamos estas dimensões separadamente, e não umas em relação com as outras. O princípio de separação torna-nos talvez mais lúcidos sobre uma pequena parte separada do seu contexto, mas nos torna cegos ou míopes sobre a relação entre a parte e o seu contexto. Além disso, o método experimental, que permite tirar um “corpo” do seu meio natural e colocá-la num meio artificial, é útil, mas tem os seus limites, pois não podemos estar separados do nosso meio ambiente; o conhecimento de nós próprios não é possível, se nos isolarmos do meio em que vivemos. Não seríamos seres humanos, indivíduos humanos, se não tivéssemos crescido num ambiente cultural onde aprendemos a falar, e não seríamos seres humanos vivos se não nos alimentássemos de elementos e alimentos provenientes do meio Natural.7
Aplicar essa percepção sistêmica ao exercício jornalístico era, sem dúvida, um desafio. E, pioneiro nessa empreitada, o Essência Vital a traduzia de maneira simples, como podemos atestar no editorial da 16ª edição, em outubro de 1996: Quando se fala em Nova Era, as pessoas costumam projetar seus sonhos de paraíso na Terra, de justiça, igualdade, liberdade etc. Mas se alguém fala em política da Nova Era, a maioria ainda torce o nariz, respondendo algo do tipo: “Isso pertence ao mundo de agora. No futuro ninguém mais vai precisar de política”. Será mesmo? Será que no próximo milênio “ninguém mais vai precisar de política”? Bom, primeiro é melhor saber de que tipo de política estamos falando. Se aquela associada apenas à roubalheira, falsidade, ambição pessoal, ou se esta visão envolve ideais nobres como distribuição da terra, descentralização do poder, equilíbrio ambientaI, participação de todos. No dia em que compreendermos que política é parte integrante da vida, aí sim a Nova Era terá se manifestado. Pois como ensinou Gandhi, política é uma atividade santa.
De acordo com o editor Marcos Melo, o Essência Vital foi criado como um projeto para acionar outros projetos, outras visões. “Formar opinião, incentivar, instigar, fazer refletir. Como o próprio nome diz, a Essência Vital representa a síntese, o somatório de tudo. Viemos de todo um processo histórico humano de fragmentação, de pensamento cartesiano, especialmente no Ocidente. Tivemos um período da história em que o pensamento era integrado, fizemos um mergulho no materialismo para absorver ciência e agora vamos resgatar aquele primeiro conceito, em que o ser humano vai integrar ciência e espiritualidade novamente e ver as coisas de uma forma mais plena. E o Jornal Essência Vital nasceu no Rio de Janeiro, local que ainda é considerado referência do ponto de vista cultural, uma ponta de lança para tendências que acabam sendo seguidas no mundo inteiro. Apesar da característica humilde do jornal, que nunca teve muitos recursos materiais para ser mantido e expandido, a energia convergida nele foi para produzir algo que pudesse servir como exemplo. Acredito que a idéia tenha sido replicada de diversas maneiras em publicações que surgiram depois,
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embora não tenhamos esse tipo de dado concreto. Até porque o Essência não tinha o intuito de ser reconhecido, se impor pelo ego ou ter retorno financeiro. O objetivo era servir e informar”, comenta. Um sinal desse legado ou, ao menos, uma possível repercussão anônima na mídia atual é o trabalho desenvolvido pelo jornalista André Trigueiro, professor e criador do curso de Jornalismo Ambiental da PUC/RJ e autor do livro “Mundo Sustentável - Abrindo Espaço na Mídia para um Planeta em transformação” (2003). Em seu livro, Trigueiro enfatiza a necessidade de se formar jornalistas capazes de cobrir o meio ambiente sob um ponto de vista holístico: O Jornalismo Ambiental preconiza um olhar ecológico, inter-relacional, que remete a uma abordagem sistêmica dos assuntos do cotidiano. Invariavelmente desagrada interesses políticos e econômicos contrários à sustentabilidade. Pela gravidade da crise ambiental em que estamos mergulhados nos dias de hoje, pode-se dizer que o estudante de jornalismo que sai da universidade depois de quatro anos de curso sem um pacote mínimo de informações na área ambiental, não está apto a cumprir sua função social. O que se espera do profissional de imprensa nesse momento é a capacidade de denunciar com clareza o que não é sustentável e sinalizar rumo e perspectiva para a sociedade.9
Em seu site, Trigueiro reforça essa abordagem dedicando uma seção à temática espiritual. Ele comenta que diversas religiões e tradições espirituais têm se manifestado sobre a crise ambiental que ameaça a vida no planeta e apresenta uma seleção de textos que confirmam a existência de uma teologia ambiental e de uma preocupação crescente dessas tradições em ratificar a presença do sagrado nas mais diversas manifestações de vida. Vejamos dois deles: Há chance de salvamento. Mas para isso devemos percorrer um longo caminho de conversão de nossos hábitos cotidianos e políticos, privados e públicos, culturais e espirituais. A degradação crescente de nossa casa comum, a Terra, denuncia nossa crise de adolescência. Importa que entremos na idade madura e mostremos sinais de sabedoria. Sem isso, não garantiremos um futuro promissor.10 A Terra produziria sempre o necessário, se com o necessário soubesse o homem contentar-se. Se o que ela produz não lhe basta às necessidades, é que ele a emprega no supérfluo o que poderia ser empregado no necessário.11
2.1 PARCIALIDADE ASSUMIDA Integrar temas diferentes com o objetivo claro de promover a transformação social era tarefa que, por princípio, não admitia o tradicional discurso imparcial que manda a regra jornalística, muito embora o senso comum saiba que ele jamais existiu. “Não existe imparcialidade em nenhum veículo de comunicação, mesmo nos mais tradicionais. Até
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porque se você falar alguma coisa que vá contra a linha editorial ou os interesses comerciais do jornal, você será obrigado a refazer seu trabalho” enfatiza Marcos. “Enquanto eu tendia sempre a querer publicar a verdade e falar tudo o que fosse necessário, doesse a quem doesse, o Marcelo se preocupava em fazer o contraponto de produzir conteúdos mais isentos, de forma mais neutra. Isso foi muito válido, especialmente no momento em que o Essência precisou se tornar mais político”. A temática prevalecente nas primeiras edições do Essência Vital era a espiritualista e ecológica, embora a política sempre houvesse permeado o discurso. Nos meios em que circulava, especialmente tendo seu principal ponto de distribuição em uma casa espírita, esse perfil era muito bem assimilado pelos leitores. Com a saída de Marcelo, em 1999, que coincidiu com a predominância de um enfoque político no jornal, este passou a apresentar um texto mais opinativo. Os leitores, acostumados a encontrar no Essência uma fonte de leitura que os enlevava, reagiram – alguns positivamente, outros não, como é comum em todo processo de mudança. Mas, com o suceder das edições, compreenderam a necessidade. Vejamos a carta de um leitor publicada no número 47, de outubro de 1999: Prezados Senhores, Recentemente lhes enviei uma carta na qual tecia algumas críticas (construtivas, no meu entender) relativamente ao engajamento político partidário que começava a aparecer no jornal. Lendo agora o número 44, encontro diversos assuntos realmente importantes e dignos do Essência - se bem que em alguns momentos ainda se encontrem pitadas de petismo mas, tudo bem. Sinto-me na obrigação de lhes parabenizar, principalmente pela continuidade do que tem realmente valor no jornal. Por isso, parabéns. Continuem. Cordialmente, Victor Dias Moreira
Se, por um lado, parece arriscado definir como jornalístico o conteúdo produzido pelo Essência Vital, dado o claro posicionamento do discurso, por outro, esta postura é facilmente compreendida se o classificarmos como um veículo de jornalismo comunitário, considerando o papel que ele desempenhava. A mestre em Comunicação pela ECO-UFRJ, Rosa Nívea Pedroso, esclarece: O conceito de jornalismo comunitário aqui empregado é entendido como opção editorial e política que o veículo faz diante de seu público, com conteúdos e temáticas assumidamente engajadas, afinadas e sintonizadas com os compromissos sociais do Estado, com os direitos e as necessidades básicas do cidadão comum. O resultado que procura é a politização (no sentido de conscientização pela informação) e a organização das comunidades, através do projeto de produção, reprodução e transformação da realidade sob o prisma da análise crítica ou denúncia do fato. Para que ocorra uma produção comunitária e popular é preciso que predomine uma perspectiva de mudança, libertária em relação às pautas, aos assuntos e às temáticas, aos enfoques, ao tratamento textual e estético, às fontes escolhidas, ao sectarismo e doutrinarismo político e partidarismos. (...) Outro desafio do jornalismo comunitário é associar informação com crítica, informação com explicação, informação com denúncia, isto é, elaborando um discurso polêmico (político, denunciador, crítico) sem sectarismo. Enfim, rompe com estereotipações sociais e univocidades. Vai permitir a emergência de novas concepções de comunicação, possibilitar o desenvolvimento de um projeto editorial que garante espaço à
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subjetividade (pontos de vista, opiniões, idéias diferentes), às análises/ tendências/ críticas pluralistas, à participação ativa da comunidade e a políticas informacionais que acompanhem perspectivas de mudança. A informação que lhe interessa é a informação social que visa denunciar, esclarecer, informar, explicar, analisar, educar sobre a marginalidade, exclusão e desigualdades sociais, econômicas, culturais etc. Porque o público que lhe interessa não é o indivíduo-vítima social, mas o cidadão completo.12
2.2 APLICAÇÃO DA ABORDAGEM INTEGRADA A interconexão temática aparecia não apenas na escolha das matérias que cumpunham a edição e que, de modo geral, eram distribuídas entre ecologia, ciência, política e espiritualidade. Em muitos casos, aglutinavam-se todos os temas em um único texto. Desse modo, o leitor era levado a perceber a relação entre eles e desenvolver o raciocínio sistêmico. Um exemplo dessa abordagem, que se tornou clássico entre os leitores do Essência Vital, é a matéria sobre vegetarianismo, publicada no número 65, de abril de 2001, que acabou sendo reeditada no mês seguinte. Sob o título “Vegetarianos Futebol Clube”, o texto apresentava não apenas os aspectos relativos à saúde que levam a essa opção alimentar, mas também as questões éticas, como a violência e o desrespeito pela vida animal; as razões ambientais, como o desmatamento causado pela pecuária; as políticas e econômicas, que implicam no problema da fome mundial e o aspecto energético / Edição n.º 65 espiritual. Para cada hambúrguer do McDonald’s, seis metros quadrados de florestas precisam ser derrubadas para criação de novas áreas de pasto. Sendo assim, quem se alimenta com carne bovina contribui diretamente para a extinção das florestas que ainda restam. A postura separatista e individualista que nos impede de olharmos para os lados faz com que não percebamos como tudo se inter-relaciona numa enorme cadeia. Atualmente, começamos a perceber esta interatividade global devido aos avanços da comunicação, que quase instantaneamente nos põe a par de tudo que acontece no mundo. Podemos ou não aproveitar esta oportunidade e modificar o andamento dos fatos, principalmente aqueles relacionados ao meio ambiente. Hoje, mais do que nunca, a nossa e a sua postura pessoal interfere diretamente em vários aspectos da vida no planeta.
Outro exemplo da integração temática está na edição 37, de setembro de 1998, que trouxe nas páginas centrais a matéria “Homeopatia: A Medicina do Terceiro Milênio”. Logo na introdução, o leitor já percebe que não terá ali apenas um panorama científico, que se
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restrinja aos benefícios físicos desse tipo de tratamento: Partindo de uma visão mais holística, concluímos que o ser humano adoece não apenas por disfunções anátomo-fisiológicas, como infelizmente a grande maioria dos médicos atuais acham. Dentro de uma compreensão maior sobre a totalidade da experiência humana, percebemos que não somos apenas um corpo com funções meramente mecânicas e autômatas. O Ser é um conjunto de fatores interagentes que devem simultaneamente habitar vários níveis de manifestação. Equivocase a medicina ortodoxa e cartesiana, por não compreender e não considerar a tríade mente, emoção e corpo que compõe os veículos de Edição n.º 37 expressão do espírito ou centelha. A visão fracionada desta realidade interagente entre os diversos níveis do Ser dificulta a detecção precisa ou causa primordial dos processos enfermiços. Observam-se as partes sem, contudo, analisar o todo. Por este motivo, o número de novas doenças cresce e a medicina não consegue resultados duradouros e definitivos na grande maioria dos casos. Existem muitos interesses em jogo para que uma visão médica mais holística não surja, pois afetaria algumas máfias financeiras ligadas à área da saúde, e isto ocorre a nível mundial. Entre elas, as dos laboratórios farmacêuticos, que faturam bilhões e bilhões de dólares com as doenças alheias. Tais empresas encarregam-se de financiar órgãos oficiais formadores da opinião pública, que, por sua vez, influenciam na formação dos profissionais da área médica dentro mesmo das próprias universidades, enquanto ainda moldam suas tendências. Assim, forma-se uma rede de profissionais induzidos a prescreverem drogas químicas que “combatem” doenças ao invés de curar doentes.
O posicionamento político do Essência Vital era claro. Segundo Marcelo Pinto, isso não era fruto de uma determinação editorial, mas apenas resultado de uma intuição: a de que espiritualidade deveria andar junto com justiça social. “Tínhamos em comum essa vontade de tocar no coração dos fatos e das pessoas, de provocar transformações nas consciências. Algo bem ambicioso, mas, por isso mesmo, estimulante – até porque, com o passar das edições, tínhamos retorno de que pequenas transformações realmente iam acontecendo com os leitores”, explica. Com o passar dos anos e o agravamento dos problemas sócioeconômicos do país durante os mandatos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que governou o país de 1995 a 2003, o Essência Vital assumiu, a partir de 1999, uma postura ainda mais Charge publicada na edição n.º 48
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contundente. Marcos Melo nos conta como se deu esse processo: “No período da Ditadura, as pessoas queriam falar, tocar, compor e não podiam porque eram torturadas, mas, se pudessem, falariam e muito. Nós vivemos um período que não podemos comparar com a Ditadura, mas que foi igualmente tenebroso: os oito anos da era FHC e a implantação do neoliberalismo, que é a pior face do capitalismo. A economia foi massacrada, nossas melhores estatais foram vendidas, cresceu assustadoramente o desemprego. Então, por que calar diante disso se tínhamos a liberdade para falar? Quem calava era exatamente quem, Edição n.º 56 de alguma forma, estava conectado ao poder. Se o Essência Vital era independente, tínhamos que falar. E falávamos”. Assim, era feita uma coletânea dos melhores textos críticos publicados na mídia por formadores de opinião e livres pensadores, o material era avaliado, ganhava um toque próprio do Essência e era então publicado. “Muitos leitores reagiam, alegando que o Essência não devia falar de política porque era um jornal espiritual. Mas o barato era fazer as pessoas perceberem que o preço do feijão que elas comem não é ditado pela espiritualidade, e sim pela política. Foi um processo de construção. Começamos devagar e, aos poucos, intensificamos a abordagem. Até porque sabíamos que teríamos aí a chance de fomentar um processo de mudança através das eleições. Uma das tarefas do Essência Vital foi formar massa pensante para constituir um governo socialista. E o Essência Vital encerrou seu ciclo com a fundação da ONG e a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva”, relata Marcos. Para compor esse trabalho, o noticiário era uma referência obrigatória, como afirma Marcelo Pinto: “O objetivo do Essência Vital era, digamos, espiritualizar o noticiário, colocar um novo filtro em cima de fatos recorrentes, ou, dito de outra forma, jogar outras luzes sobre assuntos diante dos quais as pessoas já estavam um tanto anestesiadas. Casos como a morte de vários idosos na Clínica Genoveva, no Rio de Janeiro, amplamente noticiado pelo jornal O Globo, mereceram matéria do Essência Vital. Ou o centenário da Abolição da escravatura. Autores como Ramatís e Trigueirinho também eram citados com freqüência No entanto, a essência (vital) do trabalho era contribuir para que as pessoas não apenas vissem, mas olhassem o que estava ao seu redor – muitas vezes invisivelmente aos olhos físicos – e, ao olhar de verdade, refletissem sobre o que o noticiário tratava muitas vezes de modo superficial.
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2.3 SEÇÕES DO JORNAL ESSÊNCIA VITAL Quando entrou em seu terceiro ano de publicação, momento em que alcançou uma estabilidade comercial que o permitiu manter a média de 20 páginas e tiragem de 15.000 exemplares, o Essência Vital encontrava-se dividido nas seguintes seções: • Caro leitor: Editorial. Espaço em que a equipe se comunicava com o leitor e demonstrava abertamente seu posicionamento ideológico; • Toques essenciais: Pequenos textos com o objetivo de motivar brevemente a reflexão e/ou trazer novidades sobre saúde, ecologia, política, ciência e espiritualidade; • Matérias: Eram distribuídas ao longo do jornal. A manchete ocupava as páginas centrais; • Psicografia: Trazia mensalmente uma psicografia de Divaldo Pereira Franco, de quem falaremos no capítulo 4; • Com a palavra: Coluna concedida para publicação de textos de articulistas e profissionais que não faziam parte da equipe do Essência Vital; • Alquimia alimentar: Coluna gastronômica, em que eram publicadas receitas vegetarianas; • O que está acontecendo no mundo: Seção onde eram abordados temas políticos, ambientais, científicos e espirituais com o objetivo de explicar a conjuntura vigente; • Classivital: Com o subtítulo “seu classificado humanizado”, era o suplemento encartado de anúncios. Poderia ser retirado pelo leitor, de modo a não impedir a visualização da matéria central. Este era um diferencial do Essência Vital em relação às demais publicações gratuitas contemporâneas, que distribuíam os anúncios ao longo de todo o jornal, mesclando-os às matérias e poluindo visualmente as páginas; • Livros e CDs: Seção de resenhas que trazia sugestões de leitura e música. Ao longo de sua história, o Essência Vital estabeleceu parceria com diversas editorias e recebia dezenas de livros todos os meses, que eram sorteados entre os assinantes; • Dê uma força: Publicação dos contatos e informações de instituições de caridade que precisassem de ajuda material ou humana. Esta última seção, em particular, foi responsável por arregimentar, gratuitamente, auxílio social para centenas de pessoas. “Na época, e até hoje, não conheci nenhuma publicação que anunciasse essas instituições sem cobrar pelo espaço. E quantas doações aquelas instituições receberam através de leitores! Frequentemente chegavam mensagens
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de lugares que eram auxiliados através do Essência Vital. No natal, abríamos um espaço maior para que mais instituições pudessem ser ajudadas”, conta Marcos. Vejamos a seguir, a carta enviada pela Sociedade União Internacional Protetora dos Animais (SUIPA), em agradecimento pela divulgação: A toda a Equipe, Amados irmãos! As palavras serão poucas porque não temos como agradecer pela maravilhosa ajuda que vocês nos deram com a reportagem “A SUIPA E A ARCA DE NOÉ”. Com muita dificuldade conseguimos um ou dois associados. Com muita dificuldade conseguimos conscientizar as pessoas a adotar nossos simpáticos sobrinhos do abrigo. Contudo, após a matéria feita por esta equipe fantástica, estamos recebendo telefonemas de inúmeros HUMANOS que estão se associando para nos ajudar a alimentar a “criançada”!!! Nosso coração está repleto da Essência Vital que vocês transmitem em cada linha deste Jornal. Aceitem um enorme beijo de todos os amigos da SUIPA e nossos sobrinhos enviam a todos vocês lambidas agradecidas pela força que recebemos com a reportagem de maio/99. Até a próxima. Sociedade União Internacional Protetora dos Animais - SUIPA
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CAPÍTULO 3 A TRAJETÓRIA DO JORNAL ESSÊNCIA VITAL Desde as primeiras edições, que nasceram modestas, porém com grandes objetivos, o Essência Vital seguiu um contínuo processo de crescimento até alcançar uma estabilidade na qual lutou para permanecer, apesar das constantes dificuldades financeiras. “Com exceção dos quatro primeiros números, que foram custeados pela loja, a história do jornal sempre foi dificultosa em função do alto custo, realidade de qualquer publicação impressa, especialmente no caso de nossas escolhas gráficas, como o papel offset, que é quatro vezes mais caro que o papel jornal. Esse é um problema presente até hoje para muitos trabalhos que não conseguem surgir, a menos que sejam construídos com um perfil direcionado para dar retorno financeiro – o que não era o caso do Essência. Para que o jornal desse certo, nós demos o impulso inicial com o apoio da loja e depois corremos atrás da publicidade”, explica Marcos.
3.1 POLÍTICA COMERCIAL Apesar da onipresente necessidade de ancorar recursos para a manutenção do jornal, o Essência Vital era rigorosamente criterioso na busca de anunciantes que, antes de serem publicados, passavam por um filtro ético. De acordo com Marcos Melo, o jornal recebeu, ao longo de sua história, interessantes propostas comerciais que talvez gerassem até a independência financeira da publicação. Porém, eram recusadas por serem ideologicamente incompatíveis com a política editorial. “Um exemplo de anunciante que dispensávamos eram as farmácias. O comprometimento social de uma farmácia é nenhum. É uma empresa que visa apenas lucro, focada em alopatia, e não em uma medicina humanizada. Se, no que tange à saúde, o Essência era focado em medicina natural, reeducação alimentar, Homeopatia, Psicologia, qual o sentido de publicar o anúncio de uma farmácia? Era preferível anunciar os serviços de um terapeuta, um psicólogo, uma empresa que produzisse algo que não agredisse ninguém. Da mesma forma, não fazíamos propaganda de remédio. Por que publicaríamos algo da indústria farmacêutica, que tem mais interesse em manter as doenças do que promover a cura? Algumas pessoas que passaram pelo jornal não entendiam muito bem essa questão
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de afinizar o conteúdo ideológico ao comercial, e isso precisava sempre ser discutido para não priorizarmos o lado financeiro em detrimento do direcionamento ético do jornal.” Contra a poderosa indústria farmacêutica, aliás, o Essência Vital nunca hesitou em falar. Vejamos o trecho da matéria publicada na edição 70, de setembro de 2001: A Lei do Lucro Selvagem A Indústria Farmacêutica não parece ter outro objetivo que Charge publicada na edição n.º 54 ganhos astronômicos. Quando nós falamos, aqui neste jornal, que as doenças geram lucros de bilhões de dólares para os laboratórios farmacêuticos, e que este setor é pior do que a máfia ou qualquer ramo do crime organizado, alguns podem pensar que somos radicais. Mas a verdade é dura! Piores que criminosos, que são nitidamente uma face sombria de nossa sociedade, são os que legalmente enriquecem com a doença alheia. A cura, essa, definitivamente não interessa. A doença sim, essa interessa e muito. A doença rende fortunas, a cura, “não”. Quanto mais adoentados e embotados, maiores os lucros do mercado farmacêutico que, por ano, movimenta bilhões e bilhões em todo o mundo. Tais laboratórios agem como governos paralelos e sem pátria, ou seja, influenciam decisões governamentais por todo o planeta, sem limites de fronteiras, criando assim uma rede cuja trama nos envolve e aprisiona. Não bastassem todas as enormes dificuldades oriundas da modernidade, com as quais temos que conviver, interagir e sobreviver, temos ainda que suportar o peso das mãos que nos escravizam e manipulam nossa existência. Hoje, quem está por trás da educação, da saúde, da alimentação? Infelizmente são poderosos grupos financeiros, entre os quais se destaca o farmacêutico. A mídia, por sua vez, se encarrega de massificar as informações impostas como reais e indispensáveis. E então acabamos por nos alienar e colaborar com um sistema que sempre irá explorar os ignorantes e adoentados.
Diante de todas as constrições econômicas que se impunham no cotidiano da redação, principalmente por se tratar de uma publicação gratuita, manter o direcionamento ético na triagem de anunciantes era tarefa árdua. Entretanto, o resultado era de valor incalculável: a credibilidade dos leitores, que, por extensão, confiavam nos produtos e serviços publicados no Classi Vital. “No mercado, os profissionais de qualquer área trabalham pela remuneração e o reconhecimento. Como todas as revistas e jornais estão preocupados em vender, a permissividade do capitalismo acaba impondo, a quem lida com comunicação, a lei do dinheiro. Não há um alinhamento ético. Veículos que falam, por exemplo, de sustentabilidade, acabam publicando anúncios de empresas que degradam o meio ambiente. E há uma cultura de normalidade em torno disso. Mas se você tem ideal, e hoje isso é raro na juventude, é preciso saber quais são os meios corretos para realizar aquele sonho, e não fazer concessões que eticamente o corrompam”, desabafa Marcos.
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3.2 CRESCIMENTO: VOLUME E TIRAGEM Apoiado pela confiança dos leitores, que eram seus maiores multiplicadores, o Essência Vital experimentou um crescimento quase constante, mesmo que, no aspecto financeiro, vivesse sempre no limite de suas possibilidades. “Acredito que o impulso mais importante tenha vindo do apoio da Casa Ramatis. Graças ao afluxo elevadíssimo de pessoas às quintas-feiras, que pegavam o Essência Vital na entrada – e deixavam contribuições em dinheiro ou faziam assinaturas –, o jornal teve crescimento. Ao mesmo tempo, centros de Yoga e de terapias alternativas, além de lojas de produtos naturais, que abraçavam o jornal e abriam seus espaços para distribuição, foram fundamentais para essa expansão”, afirma Marcelo. Esse crescimento é nítido ao analisarmos o aumento no volume de páginas desde o lançamento até o final da publicação. Das quatro páginas iniciais, o Essência Vital chegou à última edição com 36. Embora o aumento não tenha sido constante e, em algumas ocasiões, o volume oscilasse, o gráfico nos mostra uma linha ascendente:
Crescimento do volume Jornal Essência Vital
Páginas
40 30 20 10 0 1
2
3
4
5
6
7
8
9
10 11 12 13 14 15
Edições
Com o planejamento da publicação voltado para o objetivo de chegar ao maior número possível de pessoas, sempre que a receita aumentava, o saldo era completamente aplicada no aumento da tiragem. “Chegamos à tiragem máxima de 20.000 exemplares que, levando-se em conta o custo do papel offset, é considerada uma tiragem alta. Talvez, se tivéssemos mantido uma tiragem um pouco mais baixa, ou feito um capital de giro com a receita sobressalente, teríamos uma sobrevida maior. Porém, como não estávamos focados no lucro, priorizávamos o ideal”, conta Marcos. A tiragem de uma publicação é determinante na captação de anunciantes. Entretanto, mesmo quando o número de exemplares era reduzido de uma edição para outra, o Essência Vital nunca publicou um dado que não correspondesse à realidade – prática comum no setor
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editorial, especialmente no caso de publicações gratuitas, que não são auditadas pelos órgãos responsáveis. Curiosamente, os editores só vieram a tomar conhecimento desse costume capcioso quando já estavam há cinco anos no mercado: “Em determinado momento da vida do jornal, cheguei à gráfica da Folha Dirigida para imprimir a edição no mesmo instante em que estava sendo emitida a nota fiscal de um jornal gratuito que concorria conosco em termos comerciais. Na nota constava 5 mil exemplares a serem impressos. Depois, constatei no expediente que eles diziam imprimir 20 mil. Eu, que nunca havia imaginado fazer algo do tipo, fiquei perplexo ao conversar com algumas pessoas da gráfica e ouvir de todos elas que esse tipo de mentira é muito comum. Santa inocência! Depois de anos, eu ainda era virgem!”, brinca Marcos. Diante da concorrência desleal na captação de anunciantes, o Essência Vital optou por não mais publicar a tiragem no expediente, informando-a apenas aos anunciantes que perguntassem a respeito. “Essa não era a forma mais correta, mas ao menos, era uma maneira de não mentir e dar uma sobrevida ao jornal, mesmo competindo com pessoas de caráter duvidoso”, explica Marcos. Exceto por picos de 20.000 exemplares, em edições especiais, podemos perceber um crescimento constante desde o surgimento até alcançar a média de 12.000 exemplares. Os números correspondem à tiragem medida até a edição 51, de dezembro de 1999, a partir da qual deixou de ser registrada:
Crescimento da tiragem Jornal Essência Vital
Tiragem
20.000 15.000 10.000 5.000 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 Edição
O crescimento do jornal, a expansão da possibilidade de levar a mensagem do Essência Vital para mais e mais pessoas era sempre comemorada com muito entusiasmo pela equipe, pois significava a realização, a cada mês, de um sonho. Vejamos o otimismo presente na coluna “Caro leitor” da 33ª edição, em maio de 1998, uma das ocasiões em que o jornal alcançou 20.000 exemplares:
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Num momento de incertezas e transformações como esse que a sociedade mundial atravessa, com a economia apertando, o desemprego crescendo e o desespero rondando, talvez seja útil lembrar um pouco a singela história do Essência Vital. Quando foi lançado, em 1995, o Essência trazia 2.000 exemplares, quatro páginas e um projeto muito claro: falar de espiritualidade de uma maneira como não se fazia antes na imprensa alternativa do Rio, com texto objetivo, bem-humorado, opinativo e, sobretudo, integrando o tema espiritualidade à ecologia e à ciência. A idéia sempre foi mostrar que a verdadeira espiritualidade não está restrita apenas a guetos ou grupos escolhidos, pois que ela é uma vivência de todos. No primeiro ano, a equipe de duas pessoas e quase nenhum recurso virava-se como podia. Mas os números foram saindo. Mensalmente, os anunciantes foram aparecendo e o jornal crescendo em tiragem e tamanho. Ajudas espontâneas, tanto físicas como espirituais, sempre chegaram na hora certa. Hoje, o Essência Vital tem 20 páginas e uma tiragem de 20.000 exemplares (gratuitos) distribuídos por Rio, Niterói, Petrópolis, Teresópolis, Nova Friburgo, Itaipava e São Paulo. É a maior tiragem entre todos os jornais no estado do Rio que abordam a temática espiritualista. A equipe cresceu. Atualmente, somos muitos que colaboram direta ou indiretamente neste projeto. Pois aí vai nosso toque: jamais desanime. Acredite no seu sonho, como nós, com a mente projetada no infinito e os pés fincados no chão, e você alcançará seu objetivo. Se ele for nobre, estiver voltado para o bem do próximo e imbuído de muito amor, então, ele já é realidade. Acontecer é só uma questão de tempo, pois toda semente bem plantada germina. Sejamos como o beija-flor, cujo maior músculo é o coração, e cujo alimento vital nunca lhe falta. Sejamos como o beija-flor: voemos mais alto.
A mesma alegria também foi registrada no editorial do número 37, em outubro do mesmo ano: O leitor deve estar estranhando o jornal este mês, todo em papel especial - inclusive o Classi Vital - e com uma qualidade de impressão bem melhor. Mas isto só acontece graças ao esforço coletivo de uma equipe amiga e, como já dissemos em outra ocasião, à base da renúncia de alguns e do serviço profissional prestado por outros. Somente assim o Essência Vital poderia voar cada vez mais alto em meio a tantas crises. Existe na estrutura deste jornal um sentimento de servir à sociedade antes de qualquer coisa. Não nos enche os olhos a gana comercial. Para nós, o mais importante é amar o próximo, fazer chegar até ele toques essenciais que possam mudar sua vida, aproximando-a de Deus. A receita do crescimento gradual e seguro é essa, anota aí: mente elevada, coração puro, ética de relacionamento, parceria. Esforçamo-nos humildemente, como milhões de brasileiros nas escarpadas e pelejas diárias, lembrando-nos sempre das doces palavras de Jesus: “primeiro o Reino de Deus e sua Justiça, depois tudo mais vos será dado por acréscimo”. Sendo assim amigo leitor, que tudo aquilo que fazemos com pesquisa, sacrifício e carinho possa com esta singela obra consolidar em ti a esperança de um novo céu e de uma nova Terra. Também a lugar algum chegaríamos se não fossem as abnegadas presenças dos irmãos da espiritualidade. Eles que, anonimamente, na pátria extrafísica conspiram com amor a nosso favor. O Essência é um projeto que exala de suas páginas a mais pura fragrância ecumênica e universalista, respeita as diversas formas de religiosidade, preocupando-se apenas, sim, em integrar ecologia, ciência e espiritualidade. Observamos a Verdade em todos os seres e formas. Não a possuímos e nos achamos sinceramente muito longe de alcançá-la. Talvez nunca a conquistemos, porém apenas sabemos que ela se revela no bem de nossa seara.
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3.3 DIFICULDADES Os empecilhos para a realização de um projeto como o Essência Vital eram inúmeros – alguns dos quais já pontuamos – e não faltaram momentos de dor e incerteza diante das dificuldades que se apresentavam. “Quando o Marcelo deixou o jornal, me questionei se conseguiria levar o Essência adiante, se poderia dividir a tarefa com outras pessoas. Era um problema na gestão de idéias, na base intelectual do trabalho. Mas não tive sequer tempo de pensar, pois precisávamos arcar com muitas responsabilidades, como o salário de nossa secretária Tânia e diversas contas para pagar. Então, o jeito foi trabalhar. E muito. Para fechar as edições, foram necessárias várias noites em claro, uma fase bem pesada”, relembra Marcos. A despeito da intensa carga de trabalho sobre uma equipe pequena, as maiores e mais constantes dificuldades eram de ordem financeira. Durante dois anos, a partir de 1999, o Essência Vital contou com o trabalho de dois contatos publicitários: Fernando Rodrigues e David Miller que, juntos, foram responsáveis pelo crescimento do volume de anúncios e uma conseqüente fase de estabilidade comercial, que resultou no aumento da tiragem. Após esse período, houve nova queda na receita. Vera Lúcia de Carvalho, psicóloga que colaborava voluntariamente realizando as pesquisas de mídia para formação do clipping do jornal – e hoje gestora do Projeto Vibração Positiva, da ONG Essência Vital – acompanhou de perto essa história até o fim: “Todo final de mês, havia um estica-e-puxa. Fazer o jornal era muito dispendioso, pois o papel era de qualidade superior e tentávamos sempre manter a tiragem. Quando era possível, aumentávamos o número de exemplares, mas às vezes acontecia de algum anunciante não pagar e precisávamos nos adaptar a isso. O início do ano também era complicado, por ser um período em que naturalmente há recessão econômica, o que diminuía o número de anúncios”, conta. Denise Moraes, hoje diretora-executiva da ONG Essência Vital e, na época, revisora do jornal, concorda: “Sempre houve muita dificuldade, pois o jornal tinha um formato de vanguarda, com temas hoje comuns para o grande público mas que, em 1995, era completamente único no que se propunha. Congregar ecologia, educação em valores humanos, cidadania, espiritualidade, política, vegetarianismo, ética, amor, terapias alternativas, humor, Direito, era realmente uma revolução no mercado, salientando que sua distribuição era totalmente gratuita. Impossível não ter dificuldade para realizar tamanho bem. Mas, fato era que isso acabava nos fortalecendo ainda mais para prosseguir. Os anunciantes nunca conseguiam suprir o valor da impressão do jornal, mas inteirávamos a diferença com nosso próprio dinheiro e íamos tocando”. Em suas edições, o Essência Vital dividia as dificuldades diárias com seus leitores, como vemos nesse trecho do editorial de março de 2001:
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Aqueles que acompanham a trajetória deste periódico sabem que mantê-lo é uma luta constante. Fazer o Essência todo em papel especial a fim de que possa durar muitos anos, vez por outra nos obriga a diminuir seus custos, estando entre as alternativas econômicas para isso, a redução, por exemplo, do seu número de páginas. E isto não é vergonha alguma. Para que o leitor tenha uma idéia mais clara do que queremos dizer, só no mês de fevereiro, quando fomos distribuir o jornal pela cidade, constatamos, infelizmente, o fechamento de diversas lojas/pontos. Algumas até mesmo em shoppings, onde normalmente as vendas são boas. É isso aí, o governo mente descaradamente afirmando que a economia está se aquecendo, no entanto, a realidade diária mostra o contrário. Temos presenciado um empobrecimento generalizado e falências constantes. Somente os setores capitalizados pelos investimentos financeiros internacionais têm visto seus lucros avançarem, como, por exemplo, os das telecomunicações, cujas tarifas não param de subir. A política econômica criminosa do atual governo FHC empurra impiedosamente as micro-empresas ao endividamento e o cidadão brasileiro para a pobreza, para o emprego informal, estimula a violência urbana e a corrupção. Ser honesto e sobreviver com dignidade está cada vez mais difícil.
3.4 PROJETO GRÁFICO Em sua trajetória, o Essência Vital seguiu a evolução tecnológica na produção gráfica. Testemunhou a inserção dos microcomputadores no cotidiano das pessoas e empresas, passou por muitas versões dos softwares de diagramação e pela mudança nos processos de impressão: conheceu do fotolito analógico à impressão em chapa. Acompanhando esse movimento, o projeto gráfico do jornal também evoluiu. Embora o papel offset fosse quatro vezes mais caro que o papel jornal, o que permitiria uma tiragem maior, o Essência Vital não abria mão da orientação de produzir um material que tivesse durabilidade: “O papel jornal, com o tempo, amarela, gera fungos, odor e é descartado pelas pessoas. O conteúdo do Essência não poderia ser descartado, deveria durar o máximo possível e isso determinava a escolha do papel. Esta questão foi motivo de diversas discussões, pois passamos por constrições econômicas e, em alguns momentos, chegamos a produzir os classificados em papel jornal. Mas, sempre que a situação melhorava, voltávamos ao papel de livro, pois acreditávamos que a qualidade também deveria contemplar os anunciantes, para que pudessem ser vistos por vários anos”, explica Marcos. Essa escolha, embora dispendiosa, era coerente com o caráter atemporal das matérias publicadas, e permitiu que muitos leitores colecionassem o jornal e o compartilhassem até hoje. A preocupação em produzir um jornal que aliasse conteúdo transformador a uma estética refinada implicava em
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muita dedicação e, por que não dizer, paciência. Quando começou a ser editado, o Essência Vital era feito em um computador com processador Intel 386, praticamente o primeiro equipamento de uso pessoal a ser maciçamente comercializado. “Conforme o jornal crescia em número de páginas, a diagramação se sofisticava e precisávamos de equipamentos que correspondessem à demanda. Então, volta e meia precisávamos fazer upgrade para nos adaptarmos à exigência dos softwares”, afirma Marcos. A diagramação, que sempre foi vista como diferencial do Essência Vital em relação às demais publicações gratuitas, era feita com versões iniciais do Corel Draw e, posteriormente, do PageMaker. “Para fazer as escolhas estéticas do jornal, procurávamos ler bastante e usar o senso de observação. Eu e Marcelo fizemos curso de fotografia e viajamos muito para fotografarmos juntos. Então, o Essência era composto do resultado dessas observações, tanto do ponto de vista estético, como de conhecer o que existia de material gráfico na época. Buscávamos referências e incorporávamos aquilo que nos agradava. Nem sempre acertamos em nossas escolhas estéticas. Aliás, cometemos muitos erros. Um deles, por exemplo, cometi por muitos anos, que era o fato de usar textura por trás dos textos.”, conta Marcos. A seguir, ele explica o porquê: “Havia diferença técnica entre uma máquina plana, feita para impressão de livros, que tem uma sensibilidade maior para produzir impressos com qualidade, e uma máquina rotativa, que é usada para imprimir jornal. Uma impressão em máquina plana permite que se aplique retícula por trás do texto sem prejudicar a leitura. Demorei muito tempo para definir a retícula cujo tom de cinza ficasse adequado à leitura com impressão pela rotativa. Fazia esse esforço porque produzir um jornal em preto e branco com arte era um desafio, e as nuances de cinza permitiam uma sofisticação maior. Porém, tínhamos um grave problema técnico: cada máquina rotativa de cada gráfica é regulada de uma maneira diferente. Havia máquinas extremamente bem calibradas, em locais que investiam no parque gráfico, e outras completamente desreguladas pela falta de manutenção ou de mão de obra qualificada. Durante muito tempo, imprimimos o jornal na Tribuna de Icaraí, e o impressor que trabalhava à noite era alcoólatra. Ele não começava a rodar o jornal se não bebesse antes! Isso gerava um desperdício absurdo, pois a máquina rotativa é muito rápida e, só em ligá-la, já iam embora três mil jornais até que o impressor conseguisse regular os cilindros para que os tons de cinza claro das retículas aparecessem adequadamente. No aspecto gráfico, o Essência Vital estava sempre tentando se adaptar. Ou ficávamos na mesmice, ou tínhamos que sofrer algumas perdas para ousar. E inovar implicava até em alguns conflitos de equipe, pois, às vezes, imagens que estavam bem fotografadas, digitalizadas e diagramadas ficavam simplesmente destruídas na gráfica”, recorda-se Marcos. A impressão no processo analógico era trabalhosa. Primeiro era obtido o fotolito, um filme transparente feito de acetato que, gravado por processo fotográfico, registrava os textos e imagens do original. Porém, antes de levá-lo para impressão, era preciso retocar as falhas deixadas pelas máquinas para que a reprodução ficasse perfeita. Nesse processo, a equipe do
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jornal muitas vezes passava madrugadas inteiras. Em busca de qualidade, o Essência Vital passou por quase todas as gráficas do Rio de Janeiro que imprimissem jornais em formato tablóide. Foi na Folha Dirigida onde permaneceu mais tempo. “Era interessante ver a reação dos próprios impressores. Ninguém fazia uma tiragem de 20.000 exemplares em papel de livro de um jornal gratuito com quase 30 páginas. Isso estava fora da realidade. Éramos vistos como malucos”, diverte-se Marcos.
3.4.1 Impressão na Editora Rocco: qualidade e perdas O local em que os editores encontraram a melhor qualidade de impressão foi o parque gráfico da Editora Rocco, em setembro de 1998, que havia sido recém-criado e, mesmo não imprimindo até então qualquer material de terceiros, abriu exceção para o Essência Vital. “O gerente industrial, Carlos Borges, era um acadêmico de primeira grandeza e conhecia profundamente as máquinas. Ele foi convidado a montar esse parque gráfico da Rocco, que anteriormente terceirizava o serviço de impressão, e fez um trabalho de gênio. Montou uma estrutura inédita na qual Edição 70: impressa na Rocco o miolo de todos os livros, ao invés de serem impressos em máquina plana, eram impressos em rotativa – algo que ninguém faz. Assim, ganhou redução do custo e otimização da produção, com qualidade perfeita. Isso era possível porque a máquina era perfeitamente calibrada e recebia manutenção regularmente. Além disso, os impressores eram impecavelmente treinados. Foi o período em que tivemos a melhor impressão do Essência Vital”, declara Marcos. Após um período de total satisfação, o aumento na demanda interna da editora consumia todo o tempo de uso das máquinas e isso começou a gerar atrasos na impressão do jornal e desentendimentos com os anunciantes. Porém, mais do que problemas de cronograma, a equipe do Essência Vital viveria ali uma de suas maiores perdas. Marcos relata: “Nesse período de quase três anos, precisávamos de um lugar para arquivar nossos jornais. Como o parque gráfico tinha um imenso galpão, o diretor Carlos nos autorizou a armazená-los lá. Inocentemente, não assinamos qualquer documento e levamos nosso arquivo. Toda a vida do jornal ficou guardada ali. Um dia, chegamos à gráfica com o fotolito e fomos informados pelo gerente de chão de fábrica, que não simpatizava com nosso trabalho e causava diversos problemas, que não poderíamos mais rodar o jornal. Procuramos o Carlos, ele abriu exceção para que ainda imprimíssemos naquele mês, e disse que, apesar do gargalo na produção dos livros, tentaria manter nossa impressão. No mês seguinte, ele não havia entrado em contato, então, fizemos o fotolito – que era específico para a máquina da Rocco e, há dez
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anos, já custava R$ 400,00 – e, ao chegarmos à gráfica, fomos proibidos de entrar. Carlos havia pedido demissão, não fomos avisados e precisávamos rodar o jornal. Todas as gráficas exigem pagamento à vista na primeira impressão, então, além de perdermos o dinheiro do fotolito, tivemos que fazer um empréstimo bancário, sair em busca de uma nova gráfica às pressas e tentar explicar para os anunciantes o motivo do atraso. Depois disso, veio o pior: a notícia de que o gerente de chão de fábrica tinha mandado jogar fora todos os arquivos do nosso jornal. Foram praticamente 60 edições para o lixo. Isso caiu como uma bomba sobre nós. Ficamos desnorteados”, rememora. Vera também lembra a atmosfera de tristeza que envolveu o episódio: “Foi muito difícil. Toda a equipe chorava, pois, mais do que o arquivo, um pedaço do coração de cada um foi perdido. Marcos ficou muito revoltado. Mesmo sendo um momento triste, foi também uma ocasião muita bonita, pois eu, que havia recém-chegado ao grupo, pude ver o quanto cada pessoa ali depositava sua vida naquele trabalho. Havia realmente muita doação e muito amor naquela história”, conta. A dor não passou sem que os editores a compartilhassem, indignados, com seus leitores no editorial do número 69, de agosto de 2001. A relação franca, construída desde o princípio com o público, dava-lhes essa abertura. Pasmem. Desde fevereiro último, não estamos mais imprimindo nosso jornal na gráfica na qual nos encontrávamos há quase três anos! Sabem por quê? Não?! Nem nós! É isso mesmo, de uma hora para outra, sem nunca termos deixado de quitar nossos compromissos de pagamento, sem termos feito nada, absolutamente nada, a gráfica nos boicotou. Durante os dois últimos meses de pré-expulsão (fevereiro e março) a tal gráfica nos fez, inclusive, gastar dinheiro (que já é contado!) com um tipo de fotolito (filme gráfico) que só eles trabalham, e na hora de imprimir o jornal alegaram que não poderiam fazê-lo. Isto sem nem ao menos um telefonema para nos poupar de gastar o dinheiro. Todas as outras gráficas que poderiam rodar o jornal trabalham com fotolito negativo, enquanto a gráfica em que estávamos usa exclusivamente o fotolito positivo. Nós, clientes de quase três anos, cuja receita gerada para eles não era de se desprezar – nestes tempos de crise –, fomos tratados com desrespeito e estupidez, sob a alegação de que nosso trabalho não mais lhes interessava. Mas não parou por aí. O pior ainda estava por vir! Nesta gráfica, tínhamos estocado todos os arquivos da história de nosso jornal, ou seja, lá se encontravam caixas catalogadas e etiquetadas com uma determinada quantidade de exemplares de cada um dos 60 jornais, feitos ao longo de sete anos. E daí? Daí que, enquanto corríamos desesperadamente atrás de outra gráfica que pudesse atender-nos e adaptar-se às características gráficas deste jornal, a recém-antiga gráfica nos comunicou friamente que todos os nossos arquivos haviam sido jogados no LlXO! É isso mesmo, jogaram todos os Essências Vitais, exemplares de todos estes anos de sacrifício, no LIXO! Um prejuízo irrecuperável! Imaginem nossos corações! Este fato nos abalou profundamente, poucas não foram as lágrimas e mesmo assim tivemos que seguir com vocês, leitores, desde fevereiro, imprimindo o nosso Essência em outra gráfica, com certos atrasos, e cujo preço de impressão é O DOBRO do que pagávamos antes. Ou seja, conseguiram nos dar uma grande – desculpem o termo – porrada que, inclusive, está sendo de dificílima absorção. A última?! Querem realmente saber? Então lá vai... Clonaram, agora em julho, o cartão magnético da conta utilizada pelo jornal, exatamente alguns dias antes de termos que pagar a gráfica, nossa maior despesa. Ou seja, roubaram todo o dinheiro que tínhamos para pagar à gráfica. Não nos pergunte como resolvemos o problema. Só a fé e o amor podem responder. Por que será que somos tão atacados? Leia as matérias deste jornal e compreenda. Aliás, o Essência deste mês, modéstia parte, está MUITO BOM!
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Na edição seguinte, os leitores respondiam ao editorial com palavras de incentivo: Lendo “Caro Leitor” de agosto: continue com seu jornal, estamos com vocês. É um jornal de vanguarda, útil, um jornal do Terceiro Milênio. A Força Criadora do Universo espera que nós ajudemos na formação de novas mentalidades. Hoje somos poucos com muita dificuldade, mas amanhã seremos muitos, comungando com mesmos ideais. Coragem e força, vocês não estarão sozinhos. Um abraço cheio de essência vital, Glauce Há situações que não necessitam de muito esforço mental para serem compreendidas. Nunca interessou à elite brasileira (desvairada) que o povo fosse detentor das condições básicas, mínimas, para uma sobrevivência digna. A história nos tem mostrado claramente tal fato. E como a história se repete, continuamos, em pleno século 21, ainda nos tempos da posse pelos portugueses. O que vocês do Essência Vital estão proporcionando aos seus leitores é a transmissão de artigos de qualidade que, além de bem informarem, são de caráter educativo. Claro que isso incomoda! O saudoso Professor Milton Campos, com sua invejável (no bom sentido) sabedoria, dizia que “quem ensina não tem ódio.” Portanto caros editores, continuem a nos bem informar. Deixem o ódio para eles. Vamos juntos seguir o bom caminho sempre, cada vez mais. Valdemar de Aquino
Eram palavras como essas que mantinham o Essência Vital firme em seu propósito, apesar de todas as intempéries do caminho.
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CAPÍTULO 4 PESSOAS ESSENCIAIS Como dissemos na introdução deste trabalho, a história do Essência Vital é feita de pessoas que se doavam por um ideal com renúncia, coragem e amor. Pessoas que, de fora, contribuíam com suas palavras e talento, como os colunistas; pessoas que diariamente se dedicavam, com o seu trabalho, a fazer o jornal acontecer e pessoas que eram a causa dele existir: os leitores que, apaixonados, alimentavam de força esse círculo virtuoso. Vamos então a elas.
4.1 COLABORADORES Desde as primeiras edições, o Essência Vital buscou enriquecer seu conteúdo somando, às matérias que produzia, o trabalho de colaboradores. Passaram pelo jornal, entre outros nomes, Divaldo Pereira Franco, Ricardo Kelmer, José Roberto Machado e, nas últimas edições, aportaram Frei Betto e Leonardo Boff.
Divaldo Pereira Franco Reconhecido como um dos maiores médiuns e oradores espíritas da atualidade, além de o maior divulgador da doutrina espírita por todo o mundo, é também um exímio educador, com mais de 600 filhos e 200 netos adotivos, atendendo atualmente a cerca de 3.000 crianças, adolescentes e jovens de famílias de baixa renda, por dia, em regime de semiinternato e externato na Bahia. Publicou 202 livros, com mais de 8 milhões de exemplares, muitos deles ocupando lugar de destaque na literatura, no pensamento e na religiosidade
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universais. Dessas obras, houve 92 versões para 16 idiomas. Recebeu mais de 700 homenagens de instituições culturais, sociais, religiosas, políticas e governamentais, incluindo o Título de Embaixador da Paz no Mundo, recebido em Genebra, na Suíça, em 2005. Com o Essência Vital recém-criado, Marcos recebeu a orientação de escrever uma carta para Divaldo, convidando-o para ser colunista do jornal. Entregou a ele em mãos, durante uma de suas palestras e, no mês seguinte, recebeu o aceite do convite, acompanhado da primeira psicografia para ser publicada. A partir de então, todos os meses, Divaldo enviava pelo correio as psicografias e se iniciava uma relação de cooperação e amizade. Com sua forte presença no jornal, Divaldo abriu várias portas para a divulgação do Essência Vital, que iniciava sua expansão a partir da seara espírita, como já vimos.
Ricardo Kelmer Assim que o Essência Vital nasceu, o escritor, roteirista, letrista e palestrante Ricardo Kelmer também foi convidado a integrar o time, e nele permaneceu da oitava à quadragésima edição. A iniciativa foi de Marcelo Pinto, que conta como ocorreu: “Ricardo acabara de lançar, em 1995, o livro de ensaio (não necessariamente de auto-ajuda, embora muitos buscassem isso nele) “Quem apagou a luz – certas coisas que você precisa saber sobre a morte para não dar vexame do lado de lá”. Ele havia chegado há poucos meses de Fortaleza e me procurou por sugestão de uma amiga em comum. Desde que nos conhecemos, identifiquei nele a irreverência que buscávamos no trato dos temas espiritualistas. Com um estilo próximo ao da crônica, ele abordava de tudo um pouco: autoconhecimento, Física Quântica, I-Ching, reencarnação, sonhos, discos voadores etc. Todos pelo filtro do humor – meio abusado, meio anárquico, mas sem nunca deixar de acertar no alvo”. A análise de Marcelo pode ser confirmada pelo seguinte trecho, retirado da crônica
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publicada por Kelmer no Essência Vital número 19, de fevereiro de 2007: Ai, ai. Michel virara esotérico de carteirinha, desses que fazem a alegria das lojas especializadas. Até uma tal coleção de pena de ganso sagrado do Egito ele tinha. Festejava uma tal mudança em sua vida mas parecia não perceber que a mudança fora superficial. Por dentro continuava o mesmo Michel de sempre, inseguro, egocêntrico, cheio de defeitos a resolver. Eu sei. Cada um está em seu caminho e todos um dia chegarão lá. Eu sei. Mas é impressionante ver como as pessoas transformaram essa coisa do esoterismo numa ótima desculpa pra não ter de encarar seus problemas interiores. Elas compram cristais pra isso e aquilo e ficam aguardando guias espirituais lhe ditarem o caminho. Esoterismo fácil. Vão a palestras, fazem cursos e se consideram, logicamente, os escolhidos pra serem resgatados quando as catástrofes começarem. Mas nunca olham pro lugar certo, pra dentro. Nunca direcionam sua energia pro que realmente importa: a transformação interior. Têm sérios defeitos a encarar, mas estão sempre adiando o confronto consigo mesmas. Têm bloqueios seriíssimos e fingem não ver. Enfrentam longas discussões espiritualistas e não enfrentam os próprios medos. Enganam-se com suas velas pra isso e aquilo e seus seres ascensionados e seus livros e o escambau. Enquanto isso, o tempo vai passando, a vida vai lhes cobrando certas posturas e necas: contentaram-se com as mudanças externas – que não valem nada.
José Roberto Machado: Mestre Zé Cuca Fresca José Roberto Machado, cozinheiro vegetariano talentoso e carismático, que já contribuiu para a abertura de dezenas de restaurantes deste segmento no Rio de Janeiro, foi colaborador durante toda a história do Essência Vital com a coluna Alquimia Alimentar. “Ao lado de uma caricatura do Zé feita pelo Arnaldo, publicávamos a cada edição uma nova receita. O texto era feito no estilo de reportagem, com muitas aspas (sempre inteligentes e divertidas) sobre os poderes nutricionais dos ingredientes. Com o tempo, o Zé ganhou um apelido na coluna: Mestre Cuca Fresca”, relembra Marcelo.
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A parceria se deu, claro, pelo paladar: Zé e a esposa Lúcia entregavam refeições diariamente para a equipe do Essência Vital, enquanto trabalhavam para fundar o restaurante Reino Vegetal, no Centro. O jornal ajudava na divulgação do restaurante no Classi Vital e, durante alguns anos, fizeram uma permuta de anúncio por comida. Marcos fala sobre o acordo, que foi fonte de prazer gastronômico e muitas risadas: “Todos tínhamos direito de comer no Reino Vegetal: eu, Marcelo, Arnaldo, Chico [amigo e colaborador do jornal, de quem falaremos mais adiante]. Certa vez, o Chico, que sempre comeu muito, se empolgou e comeu um prato que pesava mais de um quilo! Isso é motivo de chacota até hoje”, divertese. “O Zé é muito generoso. Às vezes, preparava uma comida diferente, especialmente para nós com o maior carinho, porque conhecia nossas preferências, Além disso, ajudou muitas pessoas e contribuiu imensamente para o movimento vegetariano no Rio”, conclui. Atualmente, Zé Cuca Fresca é proprietário do restaurante Caminho do Mar, próximo à Prainha, no Rio de Janeiro.
Frei Betto Carlos Alberto Libânio Christo, conhecido como Frei Betto, é uma das vozes mais ativas pela justiça social na América Latina. Estudou Jornalismo, Antropologia, Filosofia e Teologia. Frade Domenicano e autor de dezenas de livros, ganhou o Prêmio Jabuti, concedido pela Câmara Brasileira do Livro, duas vezes: em 1985, por seu livro de memórias Batismo de Sangue, e em 2000, com a obra coletiva Mysterium Cretiones – Um olhar interdisciplinar sobre o Universo. Frei Betto começou sua militância muito jovem, na Juventude Estudantil Católica. Foi preso político entre 1969 e 1973. Atuou intensamente nas favelas e periferias e, no final da década de 70, foi um dos idealizadores e fundadores do Partido dos Trabalhadores. É amigo pessoal e conselheiro do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A colaboração de Frei Betto chegou na reta final do Essência Vital. Embora o jornal já houvesse pontualmente publicado textos dele como referência em outras matérias, a parceria oficial resultou na estréia de uma coluna na última edição, que explica como se deu a aproximação: Já faz alguns meses que estávamos remetendo para a residência de Frei Betto um exemplar do Essência Vital para que pudesse ter ciência de nossas propostas e objetivos. Esperamos
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então, pacientes, o momento adequado para que pudéssemos abordá-lo pessoalmente e fazer a ele o humilde convite de colaborar com nosso Jornal. O dia chegou. Tínhamos acabado de imprimir o exemplar sobre a fundação da ONG Essência Vital e havia uma palestra na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) em que Frei Betto estaria presente. Fim da palestra quando Rafael, um dos jovens que integra nossa ONG e cursa Jornalismo na referida universidade aproximou-se de Frei Betto, apresentou-se, entregou-lhe um exemplar sobre a ONG e lançou o convite em nome do jornal. Frei Betto, mesmo cercado pela multidão, foi atencioso e ficou de nos responder. Sua resposta, para nosso espanto, foi quase que instantânea: dois dias depois, sua Assessoria de Imprensa nos enviou um e-mail dizendo que a partir daquele dia Frei Betto havia autorizado a publicação de textos que periodicamente nos seriam enviados. O e-mail inclusive já veio acompanhado de um texto seu.
Na edição que trazia uma capa especial comemorativa à eleição de Lula, com uma homenagem ao novo presidente, o texto enviado por Frei Betto não poderia ser mais apropriado. Vejamos um trecho: Ensina a teu filho que o Brasil tem jeito e que ele deve crescer feliz por ser brasileiro. Há neste país juízes justos, ainda que esta verdade soe como cacófato. Juízes que, como meu pai, nunca empregaram familiares, embora tivessem filhos advogados, jamais fizeram da função um meio de angariar mordomias e, isentos, deram ganho de causa também a pobres, contrariando patrões gananciosos ou empresas que se viram obrigadas a aprender que, para certos homens, a honra é inegociável. (...) Ensina a teu filho que ele não precisa concordar com a desordem estabelecida e que será feliz se unir-se àqueles que lutam por transformações sociais que tornem este país livre e justo. Então, ele transmitirá a teu neto o legado de tua sabedoria. Ensina a teu filho a votar com consciência e jamais ter nojo de política, pois quem age assim é governado por quem não tem, e se a maioria tiver a mesma reação será o fim da democracia. Que o teu voto e o dele sejam em prol da justiça social e dos direitos dos brasileiros imerecidamente tão pobres e excluídos, por razões políticas, dos dons da vida. Ensina a teu filho que a uma pessoa bastam o pão, o vinho e um grande amor. Cultiva nele os desejos do espírito. Saiba o teu filho escutar o silêncio, reverenciar as expressões de vida e deixar-se amar por Deus que o habita.
Leonardo Boff Professor de Teologia, Filosofia, Espiritualidade e Ecologia, Leonardo Boff trabalhou por mais de 20 anos como frade franciscano em Petrópolis. É autor de mais de 60 livros e assessora comunidades brasileiras e estrangeiras. É doutor honoris causa em Política pela Universidade de Turim (Itália) e em Teologia pela Universidade de Lund (Suécia), tendo ainda sido agraciado com vários prêmios no Brasil e no exterior, por causa de sua luta em favor dos Direitos Humanos e dos fracos, oprimidos e marginalizados. Sua aproximação com o Essência Vital também
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se deu no final da trajetória do jornal. A equipe lhe enviava exemplares regularmente. Com a edição 77, que tratava sobre a fundação da ONG Essência Vital, foi enviada a Boff uma carta formal de convite para que ele se tornasse um colaborador. Alguns dias depois, por e-mail, ele enviava o aceite: ----- Original Message ----From: Leonardo Boff To: presidencia@essenciavital.org.br Sent: Saturday, December 28, 2002 5:53 PM Subject: Re: ONG Essência Vital - Agradecimentos Marcos, Passarei a enviar meus textos semanais. Fica a critério de vocês quais julgam adequados ao Jornal para a sua publicação, quais não. Podem ter toda a liberdade, desde que reforce a visão que juntos comungamos. Um abraço bem fraterno, lboff
Embora a parceria tenha sido selada após aquela que foi a última edição do Jornal Essência Vital, ela permanece até hoje. Semanalmente, a ONG Essência Vital recebe os textos de Leonardo Boff, que têm sido publicados no informativo eletrônico quinzenal da instituição, a Newsletter Essência Vital.
4.2 A EQUIPE VITAL: “JORNALZINHO, NÃO!” A distribuição do Essência Vital era feita em restaurantes naturais e centros terapêuticos do Rio de Janeiro, locais onde também eram distribuídas outras publicações gratuitas, de cunho esotérico. Apesar das diferenças estéticas, o Essência era freqüentemente confundido com elas. Mas ai de quem se referisse a ele desta forma! Se algum desprevenido leitor pedisse um exemplar daquele “jornalzinho esotérico”, a valente equipe logo se emprumava: “Ei! Jornalzinho, não!”. Pudera. Embora pequeno, o Essência Vital abarcava o trabalho intenso de pessoas apaixonadas, que o enxergavam grande, muito grande. Em dezembro de 2001, tanta dedicação era reconhecida por um presente de Natal que o editor Marcos Melo dava para a equipe, que sempre trabalhou anônima: uma declaração pública de amor e gratidão publicada na edição 73, que merece ser registrada na íntegra:
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Aos Amigos Vitais, Vocês sabem por que o Essência Vital existe há sete, oito anos? Porque ele é mantido com o amor, com a renúncia e com a dedicação do coração de amigos Vitais. Se não fosse o esforço e o companheirismo do sem-vergonha, teimoso, pé-de-boi e carne-de-pescoço Décio “PX/Grande Urso”; a positividade e energia dinâmica da toda poderosa e expressiva Taninha “Maravilha”; o otimismo, solicitude e jogo de cintura do “véio” Dudu (78 aninhos de pura travessura!); a perseverança e constância da atenciosa Verinha “Coisa Ruim”; a presteza, incentivo e carinho 100% da Samantha “Florzinha” (malcriada paca!); a capacidade de revisão durante as madrugas da Lucinha, da Juliana “Ju” e da Denise (tinha prometido a ela que não iria mais chamá-la de “Celeste”, aquela cobrinha do programa Castelo Ratibum. Ih! Chamei!); os textos conscientes e meio revoltados do jovem Rafael “Rafa”; os doces desenhos da Mônica, da Dani e do João; as psicografias do “tio” Divaldo (com esse a gente não brinca não, senão sua mentora, Joanna de Ângelis, arranca nosso couro)... Enfim, se não fossem estes e muitos outros, irmãos e amigos, o Essência Vital não existiria. O Essência é uma família, uma constelação de pessoas que brilham anônimas sem desejarem aplausos ou reconhecimento, e é exatamente por isso que este jornal irradia e toca tantos corações, acionando incontáveis processos de intercâmbio, educação e crescimento em nossa sociedade. São ainda muitas outras pessoas belas que no plano físico, de algum modo, contribuíram ou contribuem para a existência do Essência, pessoas cujos nomes e descrições ficarão escritos em nosso coração por toda a eternidade. Nossa gratidão ao pai Francisco, à mãe Maria, aos irmãos Otávio, Marcelo, Arnaldo, Fernando, David, às irmãs Soninha, Beatriz, Emília, Alda... Se não fossem todos estes, de algum modo agindo, voluntária e espontaneamente, o Essência não haveria de existir. Seu editor seria completamente incapaz de publicá-lo. Será que faltou mencionar alguém no coração deste agradecimento? Faltou sim. Faltou um calango que, de propósito, deixamos para o final, como símbolo síntese de um amigo muito, muito Vital. Faltou falar do irmão Francisco, “Chico” ou “Chiquinho”, como nós, carinhosamente, o chamamos. Poucas não foram as vezes em que esse irmão saiu urgente de sua casa, de madrugada, para prestar ajuda técnica aos nossos computadores, ferramentas também - vitais na edição deste trabalho que vai para as mãos de milhares de leitores. Poucas não foram as vezes, durante, praticamente, todos os anos de vida do Essência Vital, que esse irmão veio em nosso socorro para nos auxiliar. Um cara simples pra caramba, inteligente, super esforçado, chefe de família, pai de uma (Isa)bela menina e amigo que nunca cobrou por nada que fez, muito menos soltou algum tipo de piada como meio de ser reconhecido em sua ajuda. Um semelhante como poucos, que trabalha sem reclamar, em silêncio quando a coisa fica preta e cabeluda, que sempre busca solucionar as situações que estão ao seu alcance e só não faz mais porque é um só. Caros leitores, até conhecemos, de fato, algumas pessoas com certa disponibilidade de recursos, que sabem, por sua vez, da situação de nosso jornal, e que muito bem poderiam nos ajudar a ter melhores condições de funcionamento e chegar num número ainda maior de criaturas, beneficiando-as, mas... E daí? Daí saibam, por exemplo, que há três meses, os últimos deste duro ano que finda, em que o Essência enfrentou diversos assédios perversos, temos feito o Essência sem um computador próprio. A não ser um compangaré que também já tá pedindo aposentadoria por tempo de serviço. Como assim? Há três meses o nosso computador principal pifou e a crise financeira pela qual nosso país e nós brasileiros atravessamos não nos permite comprar outro. E daí novamente?! Sabe quem veio em nosso socorro? Ele mesmo, o velho e bom superamigo Chiquinho. Ele que não é primo do Bil Gates, não é sócio do Eurico Miranda, nem do Pedro Malan, que também passa um sufoco danado para pagar suas contas, pois, sendo um técnico liberal, não tem renda fixa, tirou seu computador de casa (que usa para trabalhar, diga-se de passagem), e nos entregou espontaneamente, para que pudéssemos fazer o Essência ir para as ruas. Detalhe: sem que pedíssemos. Um gesto que diz mais que mil palavras, que vale mais do que muitas promessas. Existiam muitos ricos e letrados na época de Jesus, mas Jesus preferia os humildes e puros de coração, aqueles que se esforçavam em tirar a oferenda de carinho e amor para com sua transformação interior, do pouco ou quase nada que possuíam. Nosso irmão Chico, com seus erros e virtudes, tirou do pouco que tem e, deste pouco, muitos milhares de jornais puderam ser editados nestes três últimos meses de 2001. Sem o seu computador emprestado,
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o Essência pararia. Mas ele não parou, nem irá parar. O Amor e a Fé sempre vencem. Que muitos Chicos possam despertar e ajudar trabalhos como este do Essência Vital, que intervém na vida de incontáveis sementes humanas. Podemos estar enganados, mas gestos como esse do nosso irmão o tornam muito mais próximo do aniversariante Jesus, do que os de muitas outras pessoas que se julgam bem além do que na verdade são perante Deus nesta época. O editor deste jornal tem profunda gratidão ao irmão Chico, pelo que já fez e faz por este jornal, e espera ter força para continuar retribuindo na forma de sua perene edição. Saiba também, Chiquinho, que ele sempre ora para que Jesus te ampare e dê em dobro! Poucos são os que vivem a metafísica franciscana do “é se doando que se recebe”. Aos olhos do mundo podemos não significar nada, mas aos olhos de Deus somos seus herdeiros. Mais uma vez gostaríamos, com humildade, de agradecer tudo o que estes irmãos citados já fizeram ou fazem pelo jornal, agradecer também aos abnegados e bondosos espíritos que amparam na Espiritualidade Maior este projeto, agradecer aos que, sem que saibamos, também o ajudam de algum modo, seja distribuindo, reciclando passando adiante, xerocando, enviando por e-mail, fazendo fumaça, dando pro cachorro da vizinha fazer pipi, limpando vidraça etc., pois toda ação é válida e grandiosa se nossas intenções forem amorosas. Obrigado, amigos vitais!
Para contar a jornada do Essência Vital, objetivo deste trabalho, é imprescindível, pois, falar sobre as pessoas que o criaram e mantiveram. Contudo, sem a preocupação de uma abordagem imparcial – que seria impossível em se tratando desta história. Vamos então conhecer alguns desses amigos, apresentados por si mesmos ou pelos outros, saber de suas lembranças e impressões dos anos em que se dedicaram ao jornal. Convidados a participar deste trabalho, eles dizem o que tornava único o Essência Vital. Arnaldo Oliveira Amigo de Marcos e Marcelo desde o colégio, Arnaldo esteve presente no Essência Vital a partir da 10ª edição, a convite de Marcos. “Arnaldo era estudante de Medicina na época, mas possuía uma incrível habilidade para desenhar, inclusive para criar charges. Assim, criamos na segunda página um espaço fixo para charges, onde ele sempre marcava presença com algum assunto daquela edição”, conta Marcelo. Além das charges, Arnaldo também ilustrava as capa e matérias do jornal. Marcos explica como acontecia o processo criativo: “Eu e Arnaldo trabalhávamos muito juntos. Normalmente eu intuía um contexto, uma cena, e o Arnaldo as materializava como nenhum outro desenhista fez no Essência Vital. Ele também criava espontaneamente as ilustrações. Era inventivo, intuitivo. A idéia para a ilustração da matéria Vegetarianos Futebol Clube, por exemplo, me foi intuída de madrugada. Arnaldo não estava presente, só o Marcelo. Pegamos o telefone, ligamos para a casa dele e o acordamos, empolgados, para falar sobre a intuição daquela idéia inédita de costurar uma relação arquetípica do popular futebol com os conceitos de espiritualidade e vegetarianismo. Ele adorou e produziu aquela capa que é uma obra-prima. Tivemos, ao longo de nossa história, ótimos desenhistas, mas a interação com o Arnaldo era única. Seus traços eram perfeitamente adaptáveis a qualquer estilo”, afirma.
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Cláudio Senra Diretor do Instituto Collunas, no bairro da Tijuca, onde durante alguns anos o Essência Vital alocou seu escritório, Cláudio se tornou amigo e companheiro do grupo, principalmente quando o jornal atravessou situações financeiras difíceis, o que implicava, muitas vezes, no atraso do aluguel. “Uma das coisas que mais me atraía no Jornal Essência Vital era o comprometimento espiritual sem um tom piegas. A preocupação com o desenvolvimento de consciência política dos leitores. A abordagem diferenciada das outras edições alternativas do mesmo período, com relação à profundidade e abordagem dos temas. As pessoas que faziam o Essência Vital eram Gente com “G” maiúsculo. Pessoas comprometidas e dedicadas a uma causa superior. Profundamente éticas e devotadas. Passamos muitas madrugadas juntos no escritório durante a edição do jornal... Essência Vital não era apenas o nome, mas exatamente o que a equipe dava para a realização do mesmo, a sua essência para o bem comum. Foram tantos fatos e vivências, que daria um livro e não uma resposta. Os perrengues de grana, a formação da ONG, a dedicação incansável dos membros, o abandono de colaboradores no meio de caminho, a superação de diversos percalços. O que tornava o Essência Vital único, além da linguagem, da coerência, da diagramação, dos colunistas-colaboradores de altíssimo gabarito, do auxílio explícito da espiritualidade, eram as pessoas que compunham a equipe. A fibra, o compromisso, o espírito de serviço, a ética, a visão social, o idealismo e a vontade inabalável de tornar o mundo um lugar melhor, com pessoas melhores. Ninguém passa incólume por tanto tempo de convivência. As marcas do carinho, da dedicação, do empenho vital, da perseverança e do espírito ecosocial marcaram a mim e minha família.”
Décio Luiz Duarte
Muito amigo de todos, Décio virava noites ao lado de Marcos no preparo do jornal.
Diagramava o Classi Vital, ajudava a contatar anunciantes, fazia de tudo. Era o maior colaborador do jornal. Literalmente, como explica sua irmã Denise: “Havia na equipe alguém muito especial não só para mim, mas para todos do Jornal:
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Décio Luiz Duarte, que se superou em muitos aspectos e se deu integralmente para aquele trabalho de amor. Sua contribuição foi uma das maiores, não só por ter 2,10m de altura, 250 quilos de peso e um planeta inteiro no seu coração, mas pela forma com que ouvia, atendia, recebia todas as pessoas que entravam em contato com o jornal. Ele está em outra dimensão desde 2004, mas o seu legado de amor permanecerá no coração de todos que o conheceram. Acho que posso me permitir agradecer por todos nós do Essência Vital todo o carinho, todo o empenho, todo o cuidado, todo o amor que ele repartiu com a família planetária. Valeu, mano!”
Denise Moraes Colaboradora do Essência Vital como revisora, Denise permaneceu com a equipe até o fim e compartilhou, com os poucos que ficaram, todas as dificuldades da transformação e término do jornal. Hoje é diretora-executiva e sócia fundadora da ONG Essência Vital. Ela fala sobre sua relação com o jornal: “Meu primeiro contato com o Essência Vital na Sociedade Espírita Ramatis. Meus sentimentos em relação ao jornal foram de surpresa e muita alegria pelo descortinamento de um mundo que, até aquele momento, eu não fazia idéia de poder existir e tudo amarrado com muita ética, respeito pelo livre arbítrio do ser humano e uma consciência elevada. O que mais me chamou a atenção foi a diversidade de informações, a profundidade com que eram tratadas e a noção de integralidade do ser. Pela primeira vez em minha vida – eu já havia passado dos 30 anos e era mãe de um casal de filhos com cinco e dois anos –, entendi o quanto atuar na sociedade, seja de que forma possamos fazê-lo, é fundamental para construirmos um mundo mais justo, ético, humano, gerar cidadania. Eu amava humor do Essência Vital, suas charges, os editoriais, que sempre tinham uma mensagem séria mas, no final, havia esperança, doçura, crença no ser humano e sua transformação, e tinha sempre uma brincadeira. Quando lia o Essência, eu sorria com a alma e, de alguma maneira, esse foi o sentimento que me alavancou para produzir as mudanças necessárias em minha vida.
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Percebi que o Essência Vital poderia me proporcionar um sentido real ao fazer o bem sem olhar a quem e nada receber em troca. Então, ofereci minha ajuda e fui ‘iniciada’ nos trabalhos. Meu papel, no começo, era o de revisar o jornal junto com outros colaboradores, mas, assim como numa empresa “familiar” todos ajudam em tudo, assim também foi com o Essência. Tudo que podíamos fazer para ajudar era o nosso papel. O Essência Vital motivou diversas, profundas e definitivas transformações na minha vida. A principal delas foi diminuir meu grau de egoísmo. Se pensarmos o quanto podemos fazer pelo próximo e o quanto nos acomodamos em nossos redutos pseudo-seguros, esperando que os Governos façam tudo por nós, aí entra o jornal Essência Vital, nos trazendo todo tipo de assunto para reflexão, nos fazendo rever posturas, se o que falamos está coerente com o que fazemos. E tudo com muito humor, e muita seriedade, sem nenhum tipo de preconceito, mas com uma profunda afinidade com a verdade e muita qualidade editorial, com informações escritas pela alma e coração do editor e dos colaboradores. O Essência chegava às nossas mãos com vibrações positivas”, conclui.
Eduardo Rezende O Sr. Dudu, como era carinhosamente chamado por todos, era um grande amigo do Essência Vital, conforme conta Vera Lúcia: “Na época, Dudu já tinha 77 anos e estava sempre pronto a ajudar. Pagava contas no banco, porque não precisava enfrentar fila. Quando Marcos virava a noite trabalhando, Dudu chegava lá de manhã com suco, café, um lanchinho e aquilo alimentava o Marcos imensamente, porque, embora ele estivesse longe do conforto de uma casa, estava sendo cuidado e acarinhado por um senhor que poderia ser o seu avô. Dudu acompanhava a distribuição do jornal na Ramatis, conversava com os leitores, às vezes ia para a gráfica, os meninos o levavam para a praia... ele já era idoso mas parecia um adolescente, de tão entusiasmado!” Denise também fala sobre Dudu: “Ele era um exemplo para nós, ajudava todos os dias. Fez todo o grupo conhecer um pouco de música clássica, pois era admirador de Beethoven e, sempre que nos reuníamos, ele retribuía sua felicidade chamando bem alto pelo nome de Jesus! Tenho lembranças maravilhosas deste senhor, que já desencarnou.”
Francisco Menezes Vice-presidente da ONG Essência Vital, Chico, como é chamado por todos, sempre foi um grande amigo. Microempresário de Informática, estava sempre pronto, dia e noite, para socorrer a equipe quando alguma coisa não ia bem. Vera fala sobre ele: “Chico é um amigo de ouro, estava sempre lá quando precisávamos consertar computadores, impressoras,
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a qualquer hora. Ajudava também a distribuir o jornal, enfim, era muito prestativo. E mesmo quando não havia problema nenhum, lá estava ele também conosco!”. Chico também fala sobre sua convivência com a equipe: “O Essência Vital me fazia pensar sobre diversas posturas e o desdobramento delas na vida prática. Ao ler, eu me sentia conversando com alguém que tinha muito amor nas palavras. O jornal tinha um grande papel na reeducação ecológica, política e espiritual, percebia a necessidade de mostrar nossa responsabilidade em todos os aspectos da vida. Para mim, estar na equipe era como trabalhar na NASA: você sabe que está ajudando algo grande e do interesse de todos. Participar disso foi um presente em minha vida. O Essência me ensinou muitas coisas: a não julgar as pessoas, ou pelo menos não com tanta pressa, a esquecer a embalagem e se concentrar no conteúdo e, principalmente, que Décio, refrigerante e sala pequena não é uma boa combinação! A alegria foi a marca indelével deixada em cada coração, em cada alma que participou desse processo. A atmosfera de carinho, amor e amizade mudou nossa identidade.”
Marcelo Pinto Fundador, ao lado de Marcos, do Jornal Essência Vital, conhecemos um pouco de seu perfil neste trabalho. Agora, Marcelo fala sobre as transformações e marcas que o Essência Vital deixou em sua vida: “Entre as lições mais importantes que aprendi com o Essência, em primeiro lugar, foi a clareza da dimensão espiritual em nossas existências. Lidar o tempo todo com temas que tratam de vida após a morte, de vida em outros planetas, de alternativas mais saudáveis de alimentação, de exemplos de conduta, de práticas de meditação etc., isso deixa marcas em você. No mínimo, fica a humildade que pode ser resumida na famosa ‘só sei que nada sei’. Mas, para mim, em especial, ficou a lição de que, se por um lado a prática espiritual não pode ser jamais abandonada, por outro, é na vida em sociedade, a chamada vida mundana, que está a grande oportunidade de promovermos as transformações mais
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profundas. Creio que às vezes precisamos nos afastar um pouco para nos fortalecer, mas não creio em espiritualidade que se isola ou mistifica essa experiência. Desconfio de quem se sente ‘eleito’ ou porta-voz do ‘outro lado’. Acredito mais na força e na verdade dos anônimos que dão seu exemplo silenciosa e diariamente. Todos são poetas, todos têm fome de absoluto e de transcendência. E estamos aqui para aprender uns com os outros. Fora disso não há salvação. Para mim, o fruto mais importante deixado pelo Essência Vital foi a percepção de que nada adianta um belo discurso ou uma bela oração, se não forem acompanhados de ações e palavras na mesma sintonia. Como dizia Gandhi, ‘seja você a transformação que quer ver no mundo’. Acho que isso resume tudo. Uma das pautas que mais me marcaram na história do Essência Vital foi a entrevista com Luiz Gonzaga Scortecci, um arquiteto e urbanista que, graças à sua mediunidade clarividente, acostumou-se a conviver com mensagens de seres de outros planetas. Ele promovia oficinas que duravam até seis horas seguidas. Era o porta-voz da Vimanosofia, a ciência que estuda não a ocorrência de UFOs, mas as civilizações que tripulavam essas naves incríveis. Nunca esqueço da resposta dele à pergunta que fiz sobre qual seria a reação das pessoas na ocasião – prevista por ele – em que a Terra passará quase uma semana sem ver o Sol, e que será, segundo ele, o momento culminante do chamado ‘Juízo Final’. Scortecci disse que, mesmo pessoas que morrem de medo desse cenário, vão se sentar no meio-fio das calçadas e soltar um grande suspiro: ‘Até que enfim, a mudança veio’. Editar o Essência Vital foi, quase sempre, uma grande aventura”, conclui. Marcos Melo Criador do Essência Vital ao lado de Marcelo, e hoje presidente da ONG Essência Vital, Marcos permaneceu na direção do jornal até o fim. Para guiar o barco, que começou e terminou com poucos tripulantes, mas onde estiveram muitos passageiros, conciliava as funções de designer, editor, redator, administrador, entregador, amigo, conselheiro... Enfim, assim como todos, se dividia em muitos. Às vezes, para a nau não perder o rumo, era preciso tomar conta dos remos – o que nem sempre era bem interpretado pelo grupo: “Existe uma dualidade no meu comportamento, no sentido de precisar ser severo para realizar algumas coisas, mas, ao mesmo tempo, ser paternal, porque sou muito gregário. Lamento muito a partida de alguns colegas por não terem compreendido que, em alguns momentos,
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eu precisava ser enérgico para defender o Essência Vital e manter essa história que, embora envolvesse a todos, estava sob a minha responsabilidade. Quando observava alguma situação que colocaria em risco o trabalho que estava sendo feito, era inevitável ter uma atitude um pouco mais centralizadora”, admite. Entretanto, a imagem que certamente ficou gravada na memória de todos os que o conheceram é a do trabalho incansável, persistente, feito com amor, alegria e dedicação pela realização de um ideal. Vera comenta: “Marcos é uma pessoa de uma retidão, um caráter, uma amorosidade e, ao mesmo tempo, uma lucidez impressionantes. Era até engraçado, porque em alguns momentos ele era muito doce, mas, quando precisava, também era incisivo. Falava o que era necessário e, dali a pouco, já estávamos todos rindo e brincando. Éramos, na verdade, um grupo de amigos que se doava em prol do Essência. Todos nós, com exceção da Tânia, éramos voluntários e fazíamos o nosso melhor. Ele, então, chegava à exaustão, pois virava duas, três noites para fechar o jornal no prazo e atender os anunciantes. Marcos é todo coração e amor dele era a mola mestra que conduzia o trabalho e nos contagiava. Quando ele falava, víamos o brilho em seus olhos. E ele não falava querendo doutrinar ninguém, mas sim querendo compartilhar conosco. Ao mesmo tempo, era amigo, companheiro e sabia o momento certo de falar e de calar. Ele trabalhava com entusiasmo e contagiava a todos nós que ali chegávamos. Aprendi com ele a importância de ter essa relação de amorosidade, companheirismo e de trabalharmos juntos por algo maior”.
Rafael Maia Jornalista, Rafael é um jovem de espírito inconformado com as injustiças sociais. Em contato com o Essência Vital desde adolescente, através da Casa Ramatis, não havia se interessado pelo jornal até ler a edição que trouxe na capa a matéria sobre dívida externa: “Depois desta capa, resolvi que não só seria leitor assíduo, mas tentaria procurar o Essência para, de alguma forma, participar. Escrever, servir cafezinho, sei lá. Eu me apaixonei pelo jornal por conta dessa matéria. Até chorei. Sério!”, relembra. Através do contato com Otávio Ritter, que também foi colaborador do Essência Vital, Rafael se ofereceu para ajudar na redação: “Em outubro de 2000, uma quinta-feira, o Otávio me ligou, dizendo que falara com o Marcos, e que era para eu procurá-lo naquele minuto. Liguei. O Marcos foi super solícito e pediu que eu comparecesse ao escritório imediatamente. Cheguei e lá estavam Décio, Samantha e o editor Marcos, que não escondeu
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sua decepção quando viu aquele menino, adolescente, entrando no jornal (risos). Então, ele pegou uma pilha de jornais, sobre a crise na Palestina e falou assim: ‘Aqui nós temos uma coluna chamando O que Está Acontecendo com o Mundo. Vamos fazer um teste: você escreve sobre a Palestina’. Pautou-me na linha editorial do jornal: bom humor, sugestão de posturas, mudança de consciência etc. e me mandou para casa, certo de que eu não daria conta. Saí do jornal em êxtase! Não dormi naquela noite. No dia seguinte, já tinha apurado tudo e escrevi o texto. À noite, enviei e fiquei torcendo. Passou sábado, passou domingo e nada. Já estava triste. Na segunda de manhã, me liga o Marcos. Estava super feliz, elogiou o texto, disse que faria algumas edições, mas que estava bom. Mandou um e-mail, que eu guardo até hoje. Eu me emocionei muito. A partir daquele momento, eu me tornei um colaborador da Família Essência Vital”, conta Rafael. “Meu papel foi o de redator, durante muito tempo, da capa do Classi Vital e da coluna ‘O que Está Acontecendo no Mundo’. Apesar da desconfiança inicial, o Marcos se mostrou um irmão mais velho. Os toques com relação ao melhor estilo de redigir me ajudaram muito. Além de ter sido o meu primeiro estágio, essa experiência com os temas do jornal foram fundamentais para minha contratação na Revista Vida do Jornal do Brasil”, completa. Para ele, o que tornava único o Essência Vital era a abordagem integrada de saúde, educação, espiritualidade, ecologia, ciência e política. “O Essência foi o primeiro e único a fazer isso. Único, pois as demais publicações sempre se esquecem da política”.
Samantha Villaça No dia-a-dia da redação, Samantha resenhava os livros, ajudava a atender o telefone, eventualmente escrevia alguma matéria ou ajudava na diagramação, fazia faxina, distribuía o jornal, enfim, envolvia-se com prazer nas mais diversas tarefas: “Era muito legal estar com os amigos unidos em torno de um objetivo comum. Trabalhávamos com alegria. Na distribuição, carregávamos peso, ficávamos sujos, levávamos multa... já aconteceu de ter meu carro rebocado com todos os jornais dentro, recém-saídos da gráfica. Tive que me virar em dinheiro e correr contra o tempo para conseguir pagar a multa e tirar o carro ainda no mesmo dia, pois o jornal precisava chegar aos lugares”, diverte-se. “Foi um período muito intenso e importante de doação, prestação de serviço à sociedade. O que nos movia era o ideal. Todo mundo acreditava e se doava porque sabia que o jornal fazia bem às pessoas. Muitos de nós já contribuímos com nosso próprio dinheiro
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para quitar despesas, Tânia já abnegou o próprio salário, Marcos vivia em função do jornal sem nunca ter recebido dinheiro para fazê-lo. O retorno dos leitores era o que nos alimentava. Todo mês, quando o jornal saía, era uma grande alegria. Ficávamos em êxtase, com um maravilhoso sentimento de missão cumprida! No Essência Vital aprendemos a amar, renunciar, aprendemos que somos do bem. Aprendemos a olhar sempre por um outro ângulo. O que o tornava único era o amor. O Essência Vital era magnetizado com muito amor. Era feito por mãos que amavam o que faziam”, conclui.
Tânia Oliveira Sempre sorridente e cheia de energia, Tânia era a secretária do Essência Vital. Sendo a única funcionária remunerada em um grupo onde todos eram voluntários, acabava sendo a mais exigida. Porém, correspondia plenamente, trabalhando com entusiasmo e comprometimento. Vera fala sobre ela: “A Tânia é uma pessoa maravilhosa, muito simpática e dinâmica. Deixava os problemas pessoais fora do escritório e se dedicava de coração ao trabalho, fazendo contato com os leitores e anunciantes, tarefa na qual era muito competente. Aprendi com ela a fazer esse intercâmbio com as pessoas”.
Vera Lúcia de Carvalho Verinha, como é carinhosamente chamada por todos, hoje é gestora do Projeto Vibração Positiva, da ONG Essência Vital. Desde que conheceu e se aproximou do jornal, permaneceu até o fim e ajudou a construir uma bela história, que ela mesma conta: “A primeira vez que vi o Essência Vital foi em 1996 na Ramatis, onde fazia tratamento espiritual. Adorava o jornal porque a qualidade do papel era maravilhosa, a programação visual era ótima e a qualidade dos textos era divina, com humor e informação. A temática da alimentação no Essência me ensinou muito. Nessa época, eu pegava 10, 20 exemplares no balcão da Ramatis e distribuía para os meus amigos do Grupo Pela Vida. Sou soropositiva e, em 1999, tive acesso a um livro muito importante chamado ‘Aids – Invenção de uma nova doença’, que apresenta um ponto de vista muito polêmico, o de
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que não é o HIV que nos faz adoecer, mas sim o estilo de vida que levamos. Esse livro me deixou muito impactada, afinal, se aqueles médicos e cientistas estavam certos, então tudo o que se fazia nos grupos de apoio estava errado, pois estavam envenenando as pessoas. Fiquei muito angustiada e quis conversar com o Marcos a respeito, com quem ainda tinha um contato distante. Ele sugeriu que eu escrevesse sobre isso para que fosse publicado no jornal, o que me deixou ainda mais angustiada, pois implicava em contar a minha história pessoal. Mas escrevi e o texto fui publicado Edição nº 54 na edição 54. A partir desse contato, passei a colaborar como voluntária do jornal, fazendo o clipping que servia de base para as matérias e ajudando no que fosse preciso. Estar no Essência foi maravilhoso em termos de convívio grupal. Às vezes ficávamos, muitos de nós, virando noites em busca de imagens nas revistas para ilustrar as matérias. Depois íamos todos tomar café da manhã na padaria, ríamos, falávamos bobagens... era muito divertido! Havia muito companheirismo, apoio mútuo, amizade verdadeira. O dia-a-dia era delicioso. O Essência me ensinou a importância da solidariedade e do respeito. Apesar, de no final da jornada, terem acontecido tantos contratempos, nada apagou da minha mente o quanto havia amizade entre as pessoas, ética com os leitores, com os anunciantes, o compromisso permanente com a verdade. O que tornava único o Essência Vital era, sem dúvida, o amor”.
4.3 OS LEITORES: A FORÇA PROPULSORA O sacrifício e a dedicação que todos esses colaboradores, movidos pelo ideal, dispensavam ao jornal tinham uma fonte inesgotável de alimentação: o feedback dos leitores. “O retorno que recebíamos dos leitores era sempre maravilhoso, afinal, quantas coisas são oferecidas gratuitamente, e ainda com aspecto agradável e conteúdo transformador? O jornal era um presente que trazia sempre um bom conselho, um toque, sugeria mudanças. Então, desde o início, recebíamos apenas palavras de elogio dos leitores. As pessoas reconheciam no Essência Vital o esforço de ser algo bom, e quando a qualidade é reconhecida, é também respeitada. Esse retorno foi o único e maior alimento que tivemos em meio a tantos problemas de nossa história”, relembra Marcos que, ainda assim, alertava para a necessidade de ser cauteloso com os elogios: “Era preciso estar atento para não deixar que isso ficasse o tempo todo alimentando nosso ego. Algumas situações muito profundas e importantes nos marcaram, mas, quando acontecia de forma pontual, procurávamos esquecer para não ficarmos acendendo as chamas da vaidade”.
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Foram muitos os casos de leitores que transformaram suas vidas a partir de reflexões lançadas pelo Essência Vital. Denise recorda uma ocasião que lhe marcou: “Estava um dia no escritório do jornal e atendi ao telefonema de um leitor, que me comoveu dando seu depoimento de como o Essência mudou sua vida, sua visão de mundo e sua rotina. Ele havia se tornado vegetariano, se inscreveu num programa de voluntariado, tinha parado de fumar e estava tentando reatar seu casamento. Quando desliguei o telefone, as suas palavras ecoavam em meu coração e tive a exata noção do que representava aquele jornal: um veículo de profundas transformações internas que desaguavam no mundo externo e, sem trocadilho, isso era a essência do Jornal Essência Vital”. Além dos trechos de cartas já transcritos anteriormente, apresentamos a seguir mais alguns exemplos das muitas correspondências que mensalmente chegavam à redação, além do depoimento de dois apaixonados leitores do Essência Vital, representantes dos milhares de responsáveis pela sua existência. Estou muito feliz! Espiritualidade = Cidadania. Sou leitora do Essência Vital e li a reportagem “um outro mundo é possível” e estou muito feliz por essa mensagem ter sido divulgada sobre o capitalismo, pois todos os meios de comunicação vetam qualquer verdade sobre esta ditadura disfarçada. Me espantei por pessoas que buscam espiritualidade e crescimento se posicionarem contra assuntos políticos (pois são pessoas esclarecidas) e é justamente a mídia que manipula as mentes para afastar os homens da política, pois uma população alienada é facilmente manipulada (não tendo embasamento histórico, só nos resta acreditar nas mentiras). É importante saber que só o fato de viver, de comprar, trabalhar, morar, pagar contas... já é “fazer política”, pois faz o sistema funcionar conforme o governo espera; e quando uma pessoa se diz não participar, ela deixa de reivindicar seus direitos e se posicionar contra qualquer medida. Isto significa que ela se posiciona a favor, que concorda com o governo, pois povo calado significa povo satisfeito. É necessário ressaltar que uma nação espiritualizada é uma nação solidária, onde todos têm direitos iguais e condições iguais. E a estrutura básica para a existência do capitalismo é a desigualdade social e exploração do grande sobre o pequeno, ou seja, é certo dizer que capitalismo é o oposto da espiritualidade. É um grande equivoco dizer que espiritualidade e política não combinam. Então vamos rever opiniões porque isto é crescer.” Didot
Prezados amigos, Em verdade, não tenho palavras para expressar o que senti e compreendi ao ler o Essência Vital nº 77. A emoção foi muito grande e, aquilo que compreendi como o que o Terceiro Setor significa transcende tudo o que conheci em meus 53 anos de vida, no sentido promissor de uma nova civilização. Com o coração efetivamente jubiloso de esperança, me tornei um entusiasmado divulgador das idéias e práticas que me foram reveladas pela leitura do seu (nosso, se me permitem) jornal. Não os parabenizarei: seria pouco em relação ao que vocês merecem. Não posso ajudá-los como deveria, pois também encontro-me em enormes dificuldades financeiras, de saúde etc. Mas quero expressar que, se está ocorrendo com outros leitores o que está comigo, vocês estão sendo o archote a levar a chama de uma nova luz a diversos corações, os quais, uma vez iluminados, constituir-se-ão nos obreiros daquele mundo há tanto ansiado pelos homens de boa vontade de todos os tempos. Do fundo do coração, rogo a Deus que o trabalho de vocês possa, a cada dia, se tornar cada vez mais digno de Suas bênçãos. Os nossos corações estão com vocês. Fernando Barreto
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Antonio Carlos Almeida Braz 57 anos, aposentado “Eu, particularmente, era apaixonado pelo Essência Vital. Durante a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (ECO 92), acontecia paralelamente o Fórum Global, onde reuniram-se pessoas do mundo inteiro. Como eu pertencia ao Movimento Negro, era Diretor Administrativo do Instituto de Pesquisas das Culturas Negras, participei de uma reunião – a primeira nacional – com pautas de todos que lutavam pela Cultura Negra no Brasil. Logo após, realizou-se um encontro mundial de todos estes grupos. Foi interessante que não compareceram só negros, mas também muitos brancos pobres que viviam como os negros em outros países, principalmente sul-americanos, além de povos aborígines. Nesta época, estava fazendo tratamento espiritual na Ramatis e resolvi, então, mostrar para eles o Essência Vital. Falei do jornal para negros de todas as partes do mundo. Foi assim que o jornal rompeu fronteiras. Consegui que amigos do Paraguai e aborígines da Groenlândia levassem o jornal e comentassem sobre ele em seus países”.
Charles de Freitas Lima 34 anos, professor de Educação Física e militante vegano
“Conheci o Essência Vital em setembro de 1999, numa loja de produtos naturais em Niterói. Quando entrei nessa loja, vi vários jornais. O Essência chamou a minha atenção porque, na capa, tinha uma matéria intitulada “Por que não beber leite animal?”. Após ler este artigo, comecei a me interessar mais sobre o assunto, fazendo várias pesquisas sobre a abstinência de leite de outras espécies, e com o passar do tempo, acabei me aprofundando no vegetarianismo, culminando na prática do veganismo. O Essência me proporcionou o benefício de ser uma pessoa muito bem informada, até mesmo mais lúcida. Tal leitura me motivou a pesquisar mais sobre assuntos úteis à minha transformação consciencial. Não foi à toa que recomendei a leitura desse jornal para muita gente, pois tinha um enorme prazer em divulgá-lo. Até hoje, uso várias matérias que foram publicadas no jornal para falar sobre a importância do vegetarianismo para as pessoas. O Essência Vital sempre deu ênfase à ética, além de abordar matérias sobre Yoga, meditação etc., todas de grande importância para a minha militância, já que também sou ativista do Yoga e da meditação. O que eu mais gostava no jornal era o jeito audacioso de abordar certos assuntos. Era para quebrar paradigmas mesmo!”
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CAPÍTULO V FIM DO JORNAL ESSÊNCIA VITAL E NOVAS PERSPECTIVAS A fundação da ONG Essência Vital, publicada na Edição 76, em maio de 2002, era a formalização jurídica de um trabalho social feito ao longo de quase uma década por um grupo de amigos. Constituem-na o jornal Essência Vital, a Casa da Essência – eco-vila e centro universalista de tratamentos espirituais –, o Projeto Vibração Positiva, voltado para a qualidade de vida de pessoas soropositivas, além de outras ações nas áreas ambiental, social e educacional que seriam posteriormente incorporadas. O editorial, com muita alegria, dava a notícia aos leitores: Edição n.º 76
O Essência retoma suas atividades depois de três meses de uma estratégica e momentânea pausa para por a casa em ordem. Estamos inaugurando uma nova e mais madura fase. Agora o Jornal Essência Vital faz parte, como Projeto, da ONG (Organização Não-Governamental) Essência Vital, em sua área voltada para comunicação. Ou seja, antes lutávamos por sustentálo, sendo muitas vezes mal compreendido, confundido e comparado com outros veículos de interesse puramente comercial. O Essência Vital conquista definitivamente o que lhe é de direito: sua legalidade no mundo jurídico enquanto projeto social. Nossas ações e matérias sempre foram voltadas para a partilha de informações na sociedade que pudessem torná-la mais justa, saudável e solidária. (...) Muito obrigado, do fundo de nossos corações, a todos aqueles que acreditaram neste sonho e nas horas de dificuldade estenderam as mãos amigas. A era do egoísmo e da exclusão deve acabar e sobre ela construirmos a da solidariedade e da cooperação. Foram necessários mais de dez anos de esforços e noites mal dormidas para que chegássemos até aqui com tantos projetos em andamento. Muitos ainda virão, caro leitor, e o Essência Vital continuará aqui, firme e forte, chova ou faça sol, companheiro ao seu lado, tal qual um bom e fiel amigo. Continuará ao lado das causas justas, com humildade e ética, trabalhando por uma Terra melhor para todos. Que não haja dúvida: todas as ações enérgicas e construtivas que a ONG Essência Vital realiza e ainda realizará são pensando nas futuras e mais importantes herdeiras desta linda Casa Planetária: nossas crianças.
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Paradoxalmente, entretanto, a fundação da ONG coincidiu com a partida de muitos amigos, como relata Marcos: “Com a saída de algumas pessoas, que eram não apenas cogestoras financeiras do grupo, mas também dividiam tarefas que demandavam tempo, começaram a surgir as maiores dificuldades. Precisei assumir essas responsabilidades e os poucos que ficaram não conseguiram arcar com todos os recursos necessários. Os assinantes do jornal ajudavam pontualmente, algumas pessoas que conviviam conosco também fizeram contribuições que deram algum fôlego. Porém, em pouco tempo, a situação ficou insustentável”. A partir daí, o Jornal Essência Vital teria apenas mais um número: a reedição de fundação da ONG, com a estréia da coluna de Frei Betto e uma capa especial em homenagem à eleição de Luiz Inácio Lula da Silva. “As últimas edições do jornal foram os partos mais dolorosos. Estávamos extremamente fragilizados, com muitos problemas, desgostosos com as situações ao redor. Tínhamos chegado até ali, construído uma história tão bacana e ela chegava ao final. Foi tudo muito desgastante”, desabafa Marcos. Denise relembra o momento exato em que perceberam que a publicação do jornal estava ameaçada: “Foi quando o cheque para pagamento da gráfica não tinha sequer um real de saldo na conta para cobri-lo. E já era o do mês anterior. Na véspera do pagamento, o editor do jornal quase enfartou na nossa frente. Era uma situação desesperadora, não só pelo dinheiro, mas por tudo que o Essência Vital representava. Virou uma bola de neve, crescendo assustadoramente. Ver o Essência parar foi extremamente difícil, doloroso, foi como perder um ente querido, sem exagero algum. Os leitores ligavam diariamente para o jornal, perguntando quando iríamos retornar com a publicação, se podiam fazer alguma coisa para ajudar, lamentando profundamente sua ausência nas vidas deles. Era muito tocante. Mas, além disso, havia outras dívidas, outros compromissos, muitos problemas para resolver, não só financeiros, mas pessoais também. Perdas e danos”. Vera, que também permaneceu no grupo, compartilhou deste momento: “Foi duro ver que toda aquela coisa exuberante, alegre, positiva e amorosa minguou porque as pessoas foram embora. Se as pessoas tivessem ficado, as coisas seriam revertidas. O problema financeiro foi uma conseqüência da saída delas, e não o contrário. Sozinhos, não pudemos sustentar o jornal. Começamos a desenvolver outras ações pela ONG, como o projeto de reciclagem; buscamos tornar sócios os antigos leitores e ainda tentamos segurar o funcionamento da Casa da Essência, mas ficamos endividados e demoramos muito tempo para sanar esses reflexos. Foi muito doloroso ver meus amigos, especialmente o Marcos, sofrendo daquela forma, pois não apenas era o fim do jornal, projeto no qual ele depositava toda sua energia e amor, mas também a perda de outros grandes amigos. Não ter muito que efetivamente fazer para aliviar a dor, a não ser poder ouvi-lo um pouco, era muito difícil”, lamenta. Por outro lado, apesar de toda a dor, o fim do Jornal Essência Vital era sentido como um momento de libertação, segundo Marcos: “Passei um bom tempo me culpando, achando que o Essência havia acabado pelo meu fracasso. Depois, consegui compreender que foi
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o contrário: havia sido um Hércules por conseguir fazê-lo chegar até onde chegou depois de tantas dificuldades, tantos problemas, tanto peso. Então, o fim foi como o sinal de uma missão cumprida. Entendi que o jornal tinha que ter morrido para a ONG nascer, para que as pendências pudessem ser resolvidas, para amadurecermos, nos capacitarmos e avançarmos no Terceiro Setor. Chegou um momento em que foi preciso assimilar o fim, agradecer pela oportunidade, por toda a ajuda recebida ao longo de tantos anos, por todas as pessoas maravilhosas que passaram pelo jornal e entregar”.
5.1 AS SEMENTES PLANTADAS E O FUTURO Em sua trajetória de perdas e conquistas, erros e acertos, o Essência Vital plantou, sem dúvida, preciosas sementes entre seus leitores. Levou a possibilidade de transformação para a vida das pessoas, a formação de redes: “O Essência proporcionou o compartilhamento de informações, gerando as chamadas conexões ocultas que Fritjof Capra tão bem explana em seu livro homônimo. O que é bom precisa ser compartilhado, informado, conhecido de todos para que todos possam experienciar, viver, decidir, escolher. O conhecimento é verdade, e a verdade nos libertará, disse um grande Mestre Planetário há dois mil anos”, afirma Denise. “A maior lição que o Essência nos deixou talvez seja a de que, sem compartilhar informações, aprendizados e dificuldades, não crescemos. Precisamos do outro como o outro precisa de nós. Somos individualidades, mas aprendemos com a coletividade. Essa nova era de Aquário que se inicia traduzirá essa lição que todos precisamos apreender. Amar e compartilhar. Compartilhar e amar”, completa. A vida é transformação e com o Essência Vital não poderia ser diferente. Absorvidos os aprendizados, o projeto se renova para se adequar à realidade atual. O esforço empregado em produzir um conteúdo atemporal, que se mantivesse relevante através dos anos, não foi em vão: todo o acervo de oito anos do Essência Vital foi adaptado para ser disponibilizado através da Internet e, em breve, ainda trará benefícios a muitas pessoas, mesmo tendo se passado seis anos desde o seu encerramento. Pelo site, o jornal voltará a ser publicado, acompanhando as tendências tecnológicas e rompendo fronteiras. Sem as limitações físicas e econômicas da impressão, agora sim, o Essência Vital poderá levar sua mensagem a um incalculável número de pessoas. “Adoraria poder ver o Essência Vital novamente impresso, em papel reciclado, nas mãos de jovens, idosos, mulheres, gente com vontade de “ser” alguém, de despertar ideais, ter idéias que melhorem nosso Planeta, gente com vontade de cuidar do outro. Com certeza está em nossos projetos futuros poder publicar edições especiais do jornal, sempre gratuitamente. No momento, isso não é possível e lidamos com esse fato com tranqüilidade. Mas uma certeza pode haver para quem concluir a leitura deste trabalho: o Jornal Essência Vital foi um enorme colaborador na construção de uma nova Terra para todos, lema que trouxemos
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para a ONG Essência Vital, de onde um dia, como um projeto de sua área de comunicação, teremos o próprio Essência de volta ou um outro veículo similar de reflexão e transformação tão importante quanto ele. Aguardem!”, prevê Denise. São delas também as palavras com que concluímos a narração desta história, por traduzirem com fidelidade o sentimento que sempre pautou a vida do Jornal Essência Vital: “Uma história como a do Essência Vital não cabe em poucas palavras acanhadas pelo espaço ou tempo, quiçá num livro. São histórias de vida, de entrega, de superação, de amor ao próximo, de encontros e desencontros, de alegrias e decepções, de problemas, crises, crescimento, inveja, egoísmo. Sentimentos inerentes ao ser humano que também estiveram presentes na trajetória do jornal, com o diferencial que, no final, tal qual uma novela de ficção, sem ser ficção, tudo acabava bem no sentido do jornal ir para a distribuição e continuar tocando e transformando as pessoas com seu encantamento pela verdade. E isso era curioso e engraçado. Por mais que se tentasse acabar com o Essência, que se desejasse que aquele veículo de mudanças pessoais e sociais não chegasse aos leitores, ele vingava, mês a mês, ano a ano, a suor e lágrimas. Exatamente como aquela música do Chico, ‘... apesar de você, amanhã há de ser outro dia...’ E o dia do Essência chegava”.
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CONCLUSÃO Assim como outros veículos independentes de comunicação, o Jornal Essência Vital sobreviveu a crises, dificuldades e constrições. Mas manteve-se heroicamente livre. E assim, deu aos seus leitores a chance de se perceberem também livres: para pensar, se transformar, crescer e guiar a própria vida. Com sua vanguardista abordagem integrada, o Essência Vital cumpriu o seu papel: comunicar com amor, esclarecer com o coração, informar e revelar o que está oculto, despertando seus leitores para o bem, libertando-os da ignorância. Apresentando a interconexão da vida, demonstrou para seu público que todos somos um.
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GRINBERG, Simpson. A Comunicação Alternativa na América Latina. Petrópolis: Vozes (1987).
SITES CONSULTADOS Associação Brasileira da Indústria Gráfica – ABIGRAF: www.abigraf.org.br Divaldo Pereira Franco: www.divaldofranco.com Leonardo Boff: www.leonardoboff.com Mundo Sustentável: www.mundosustentavel.com.br Museu do Computador: www.museudocomputador.com.br ONG Essência Vital: www.essenciavital.org.br Portal das Artes Gráficas: http://portaldasartesgraficas.com Rede Social de Justiça e Direitos Humanos: http://www.social.org.br/relatorio2002/ relatorio025.htm
Ricardo Kelmer: http://blogdokelmer.wordpress.com Sociedade Espírita Ramatis: www.ramatisrio.com.br Wikipedia: http://pt.wikipedia.org