Requiescat in pace

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ensaio Requiescat in Pace, fotografado no Cemitério da Saudade, por Marcos Cardinalli, procura abordar a morte de um modo inusitado e belo. A expressão latina, que traduzida para o português é “descance em paz”, traz consigo inúmeras questões filosóficas sobre a vida pós-morte. Ao discorrer sobre a morte, despertase a fé, a solidão, a esperança, o medo e a saudade, sentimentos que fazem parte de qualquer cultura.


Nos túmulos, a religiosidade se torna viva, não pelo fato de se acreditar ou não em uma religião, mas devido aos sentimentos de impotência perante à morte

O culto aos mortos e aos antepassados é comum em todas as sociedades


O homem sempre temeu a morte, este grande abismo do conhecimento, e tenta, em todas as culturas, desde os primórdios da civilização, explicá-la, compreendê-la e aceitá-la. As principais religiões, pelo menos, têm como um dos objetivos explicar a morte e darlhe um sentido. Para os cristãos, judeus e muçulmanos, o ser humano foi criado por Deus para ser imortal, mas recebeu a morte como castigo pelo pecado. O que diferencia os cristãos é a crença em que Deus se encarnou na raça humana para salvá-la

As folhas secas lembram a morte e, assim como o corpo humano, serão decompostas e absorvidas pela natureza

do pecado e dar-lhe vida eterna, através da morte e ressurreição de Jesus. Outras crenças, como o Budismo e o Hinduísmo, acreditam, assim como o Espiritismo, na reencarnação da alma. Diversas correntes filosóficas também discorrem sobre o tema, de diferentes maneiras. Os filósofos gregos acreditavam na vida após a morte, enquanto Sartre defende a ideia de que não existe vida nem antes do nascimento e nem depois da morte. A Ciência não consegue explicar a vida espiritual, uma vez que A cruz é o símbolo mais presente nos cemitérios. Apesar de ser sinal de condenação, o Cristianismo lhe concedeu significado de salvação, lembrando a morte e ressurreição de Jesus


O escrito ao lado foi pichado no muro da fachada do Cemitério da Saudade. Lembra o pensamento do filósofo Sartre: “O que é terrível não é sofrer, nem morrer, mas morrer em vão”.

se define pela observação dos fatos naturais, mas comprova a renovação de toda a matéria. É até bonito pensar que nossas partículas serão parte de outro corpo na natureza. Há algo, entretanto, que une todas as teorias e correntes: a vida com dignidade para todos os seres. Que ao deitar para o repouso diário, possamos ‘descansar em paz’, com a consciência de que nossa vida está valendo a pena. Que nossos atos permaneçam na história, lembrados como positivos e inspiradores, e então possamos nos tornar eternos.

No cemitério é possível observar diversidade religiosa e cultural, bem como diferenças sociais e econômicas, refletidas nos túmulos. Entretanto, dentro deles, apenas cadáveres



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