Photobooks review articles for Zoom Mag

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livros Q U E D E V E T E R N A S UA E S TA N T E . T E X TO : M A R C O S F E R N A N D E S

This is Not a House © Edgar Martins

FOTOS DE EDGAR MARTINS | EDITORA: DEWI LEWIS | PÁGINAS: 108 | €42

ebentou a bolha imobiliária nos Estados Unidos em 2007. Rebentou a crise mundial em 2008. Rebentou a polémica da manipulação digital no New York Times em 2009. São três aspectos ligados a esta obra de Edgar Martins. This is Not a House é um ensaio fotográfico sobre o

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impacto da crise do subprime, que levou ao colapso do mercado imobiliário nos Estados Unidos, deixando inúmeras casas desabitadas, boa parte por finalizar. Martins tinha sido comissariado pela revista do New York Times para fotografar esses espaços vazios de presença humana, em 16 localidades. As fotografias tornaram-se mais que testemunhos documentais. Mostram uma realidade vazia, inerte. Parecem palcos de uma quase realidade, ruinas sem dono. Outras fotografias representam mais que uma casa. São autênticas cidades fantasma, que nunca o chegaram a ser. Era certamente isto que os editores do New York Times queriam, e foi isto que Edgar Martins viu e apresentou. Mas a polémica estalou quando se descobriu que o fotógrafo tinha feito alterações digitais em

pormenores de algumas imagens. Edgar Martins explicaria que os factos são sempre construídos por quem os regista, e que sempre descreveu este ensaio como um estudo que ia além da investigação e documentação, que pretendia levar à reflexão sobre uma nova forma de arquitectura americana, a que chamou de «ruinas de idade do ouro». Na altura, escreveu um comunicado a citar Roland Barthes ao dizer que a Fotografia cria sempre um novo mundo em vez de duplicar o que já existe. Explicou, também, que Fernando Pessoa considerava que algumas verdades só podem ser contadas como ficção. A polémica deu azo a reflexões de artistas, comissários, antropólogos e filósofos., mas acabou por serenar. Organizaram-se exposições, a última das quais ainda patente em São Paulo. À falta de uma mostra em Portugal, nada como espreitar o livro.

Aparições, A Fotografia de Gérard Castello-Lopes 1956-2006 © Família Castello-Lopes, Paris

FOTOS DE GÉRARD CASTELLO-LOPES | EDITORA: BESarte e Fundação Calouste Gulbenkian | PÁGINAS: 288 | €35 grande para que respipareceu. Eis que, rem as imagens com finalmente, chega diferentes tamanhos, um livro de dimentambém convém que as sões consideráveis sobre a páginas do livro tenham vida e obra de Gérard «dimensões consideráCastello-Lopes. E refiro-me veis». Aparições imortadeliberadamente e literalliza a exposição póstumente a «dimensões consima que passou pelo deráveis». Esta obra, catáloespaço BES Arte & go da exposição que esteve Finança no final de 2011. recentemente em Lisboa e Apresenta fotografias a que por estes dias mora no preto e branco mas tamCentre Culturel Calouste bém a cores. No lote de Gulbenkian de Paris, tem imagens monocromátipraticamente 30cm de comcas há provas vintage, primento. Pode parecer pormais sépia, e inéditas. É menor tolo mas lembremouma retrospectiva de nos das conhecidas preocuGérard mas foge à linha pações que Gérard Castello- Gérard Castello-Lopes, Costa de Lavos, Portugal, 1960 cronológica e historicisLopes concedia à escala das ta que é hábito atribuirimagens, ao impulso de ter lhe – e que o próprio reconhecia –, de separar fotografias grandes, refreado pela percepção a sua Fotografia em duas fases: de meados de que cada foto, afinal, tem uma tamanho dos anos 50 a meados de 60, numa veia certo para assumir o seu esplendor. Da humanista e neo-realista, e dos anos 80 em mesma forma que convém que a parede seja

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diante, numa corrente mais plástica e intimista. Aparições foi coordenado por Jorge Calado, o iniciador da Colecção Nacional de Fotografia. Está à venda exclusivamente na Gulbenkian.

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livros Q U E D E V E T E R N A S UA E S TA N T E . T E X TO : M A R C O S F E R N A N D E S

White Noise FOTOS DE ANTÓNIO JÚLIO DUARTE | EDITORA: PIERRE VON KLEIST | PÁGINAS: 78 | €38 © António Júlio Duarte

Duarte pela luz violenta e crua do flash da sua máquina de médio formato, que reflecte em superfícies brilhantes e polidas. É um ruído branco mas, simultaneamente, a luz que traz à vida cantos sombrios. O flash é a prova de que também há vida, embora passageira, nos lobbies dos casinos de Macau. Quanto mais não seja pela simples, e efémera, passagem do fotógrafo.

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repletas, nos espaços intermédios, os lobbies dos hotéis-casino estão desertos. São locais difíceis de interpretar, ora estéreis por serem locais de passagem sem identidade, ora exageradamente ricos de ornamentos, quase rococó. Mármores, cadeiras vintage, almofadados, dourados, louças, brilhantes. Uma austeridade crua e vazia, em espaços transbordantes de luxo. Os lobbies são locais frios, acentuados nas fotografias de António Júlio

Makulatur EDITADO POR PAULO NOZOLINO | EDITORA: STEIDL | PÁGINAS: 20 | €24 akulatur parece a memória de um órfão. É uma resposta emotiva de Nozolino à morte dos pais. Retrata os entes, decrépitos, na recta final da vida. As imagens são vizinhas de outras, simbólicas, carregadas de negros em tons de luto. No todo, Makulatur é uma violenta poesia visual sobre a relação com o fim. Nozolino tem-se ocupado de cenários de desolação noutras obras, com a morte por vezes suspensa. Mas agora os fantasmas são pessoais. Makulatur foi o título da exposição que esteve no ano passado na Galeria Quadrado Azul e que é agora transposta para livro pela Steidl. Na altura, a galeria apresentava o conjunto de imagens como uma obra «sóbria e contida, uma reflexão sobre a vida e a morte». O livro foi premiado na Alemanha com a medalha de prata do Deutscher Fotobuchpreis, que

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anualmente distingue os melhores livros de Fotografia editados na Alemanha.

© Paulo Nozolino

s salas de jogo estão habitualmente repletas, mesmo a meio da semana. Levas de homens de negócios, e não só, atravessam a fronteira nas Portas do Cerco ou chegam no final da tarde nos velozes barcos de Hong Kong, para onde cumprirão o vaivém muitas horas depois, já de madrugada. De permeio, sob o luar escondido pela névoa de Macau, o vício cumpre-se nos casinos. Mas se as salas de jogo estão


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