Diários de Estágio: (Observação) 28 de Outubro de 2009
Nesta terceira semana de observação, a aula iniciou-se com normalidade. Ainda antes do início da mesma, a professora dirigiu-se ao pátio com o intuito de convidar os alunos para mais um dia de trabalho. Enquanto os alunos se preparavam para trabalhar e realizavam as suas tarefas habituais, a professora escrevia no quadro:
Funchal, 28 de Outubro de 2009. Hoje é quarta-feira. Depois toma uma iniciativa que considerei deveras interessante: pediu aos alunos para escreverem a sua data de nascimento. Aqui teve a preocupação de acrescentar ao registo da data, um acontecimento importante da vida dos alunos. Assim, demonstra-nos que um professor não deve ser “assente na tradição escolar, a que todos fomos sujeitos pautados por “ensinar a muitos como se fossem um” segundo Sérgio Niza, (2000. PJ. 43.) O professor deve valorizar cada criança, porque cada uma delas traz a sua própria experiência/prática, criando desta forma uma pedagogia diferenciada. A Declaração de Salamanca, assinada em Portugal em 1994, reconhece que “cada criança tem características, interesses, capacidades e necessidades de aprendizagem que lhe são próprias.” (Sérgio Niza, 2000. PJ 43) A iniciativa que a professora teve, de acrescentar à data, a data de nascimento de cada um, na minha opinião faz com que cada criança, ainda que inconscientemente, memorize a sua própria data de aniversário, permitindo-lhe, depois, estabelecer a comparação com a dos restantes colegas e levando-os a analisar o calendário anual. Cria, deste modo, situações problemáticas do tipo: “se nasceste em 2002 e a tua colega em 2001 quando anos ela tem?” entre muitas outras situações. Verificamos que ao criar algo diferente, não vulgarizando a data simplesmente e colocando-a no quadro para que o aluno se limite a copiar, podemos trabalhar várias situações práticas dos alunos, onde os mesmos aprendem com as suas próprias experiências. “ E quantos estarão dispostos a construir os caminhos de uma escola sem exclusão, para esta sociedade tão inclusiva? (…) diversidade de culturas, de classes
sociais, de género, de capacidades, de motivações, de expectativas e de representações dos alunos que a escola deve acolher e os resultados escolares obtidos em instituições educativas tão plurais. Diferenças tão importantes obrigam também a escola a reflectir cada dia sobre a sua acção educativa para evitar que essas diferenças se convertam em desigualdades.” (Sérgio Niza, 2000. PJ. 43) Neste dia o Plano Diário abrangia: 1- Tarefas; 2- Planificação; 3- Comunicações; 4- Projectos; 5- Inglês; 6- Tempo de Estudo Autónomo; 7- Caderno de Escrita Livre; 8Os Livros e a Leitura; 9- Balanço do Dia. Neste dia, a colega Margarida e eu, fomos distribuídas pelos grupos que desenvolviam os Projectos. Constatámos que alguns grupos estavam numa fase final e que outros que já os tinham concluído. Então, a estes últimos, a professora
Mónica
sugeriu
duas
alternativas: ajudar os restantes colegas a acabar os seus trabalhos ou trabalhar um pouco no Caderno de Escrita Livre. Considerei esta ideia excelente, pois manteve-os ocupados, permitiu-lhes estar continuamente a trabalhar e, então, a produzir. Além do mais, evitou conversas paralelas entre os demais colegas e, consequentemente, o barulho / a confusão. Não posso deixar de realçar que durante os Projectos tive a oportunidade de interagir um pouco mais com os alunos e conhecê-los melhor. Já na aula de Inglês, em que os alunos estavam sentados cada um no seu lugar e a professora apresentava uma aula unicamente expositiva, estes tiveram muitas dificuldades em permanecer em silêncio e devidamente sentados. Note-se que a metodologia utilizada pela professora Curricular, em que os alunos passam a maior parte do tempo de aulas a trabalhar, é completamente diferente da professora de Inglês. Na minha opinião, esta situação é normal que ocorra, pois há uma mudança na rotina das crianças, o que as deixa mais agitadas. Refira-se, no entanto, que quando as aulas de Inglês são mais práticas, a situação inverte-se.
Relativamente ao Tempo de Estudo Autónomo, tive novamente a oportunidade de verificar o trabalho dos alunos, auxiliando-os muitas vezes. Quando circulava pela sala, tinha a preocupação de lhes perguntar se precisavam de ajuda. Acabei por me sentar com um grupo de alunos, ajudando-os na concretização dos respectivos trabalhos. Já na actividade do Caderno de Escrita Livre, pude verificar a criatividade, a avaliar a capacidade de imaginação de alguns alunos. Outro dado curioso que constatei foi que geralmente para os alunos que têm imensas facilidades em exprimir-se, a escrita não constitui qualquer barreira. “No MEM, entende-se a escrita e a leitura como um processo que começa antes das aprendizagens formais e se constrói ao longo de toda a vida através de interacções múltiplas do sujeito que aprende com o meio social onde vive e onde intervém. (GraveResendes, L. e Soares, J. 2002. PJ 57) Tenho consciência, falando agora um pouco com base na minha experiência pessoal, que somente porque a leitura e a escrita foram suficientemente estimuladas pelos meus pais e professores do ensino básico é que não gosto muito de escrever. Acredito que se tivesse havido estímulo nessa fase, hoje em dia poderia ter mais prazer nesses domínios. Digo isto também porque nos anos que estagiei me deparei com alunos o que menos gostavam de fazer era escrever. “A escrita é um instrumento de análise da leitura, fonte de conhecimento que alimenta e permite a construção de conhecimentos específicos do escrito, sintácticos, lexicais e ortográficos. (…) Assumem-se como actividade de treino que têm como finalidade ajudar os alunos a ultrapassar obstáculos inerentes ao próprio objecto de aprendizagem. (…) Os alunos tornam-se mais autónomos nas aprendizagens. Segundo Fijalkow (1993), citado por Grave-Resendes, L. e Soares, J. (2002). PJ 58). Após o almoço reunimos com a professora Mónica. Na reunião conversámos um pouco acerca de alguns alunos: sobre as suas áreas fortes, sobre as suas dificuldades, interesses, motivações e aspirações. A professora teve o cuidado de nos alertar para algumas situações e acontecimentos resultantes das distintas atitudes/comportamentos dos alunos. Também conversámos acerca de um projecto que eu e a Margarida ambicionamos desenvolver: a elaboração de um trabalho sobre a iniciação da leitura e
da escrita no Ensino Básico, utilizando na metodologia do MEM. A professora Mónica logo se prontificou em ajudar-nos e, então, aproveitámos esta reunião para definir algumas linhas orientadoras deste projecto.