Revista Coexistir

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Cartaz da edição #1

EXPEDIENTE #1 JUNHO, 2016

Esta revista foi executada para a última disciplina

do curso

de Design Gráfico, da AESO Faculdades Integradas Barros Melo. A

proposta

foi

pensada,

desenvolvida e produzida para o trabalho de conclusão de curso, Projeto Integrador, da aluna Maria Eduarda Cartaxo. A identidade visual desta revista, seus elementos de apoio (estampas, grafismos), o projeto gráfico editorial, o logotipo da editora, assim como todas as propagandas, e a Tipografia Cafuçú (p.30) foram pensados, criados e produzidos pela autora. Este é um trabalho fictício.


e nt re o i n d iv idu al e o c o le tiv o

Exis t ir ju n t a e s imu n t a n e a me n t e é a de f in iç ã o da pa la vr a

coexistir

n o dic io n á r io . “ Ex is t ”

é o r a dic a l de s t a pa la vr a qu e ju n t o a o s e u pre f ix o “ c o “ (du o, do is ), pro du z o u t ro s e n t ido : c o o pe r a ç ã o . O s u f ix o , “ ir “ , qu er dize r “ s e g u ir ” . Se n do a s s im, e s t a pa la vr a , e m s u a c o n o t a ç ã o ma is s u bje t iva , re pre s e n t a : “ é pre c is o s a be r c o n vive r pa r a ir a lé m” .


VIVIANE MOSÉ

artes gráficas > p. 36

WLADEMIR DIAS-PINO

poesia > p. 22

MARIA RITA KEHL ensaio > p. 30

U M Á R I


JULIANA BANDEIRA fotografia > p.14

SINDISO KHUMALO moda > p. 34

DAILY OVERVIEW psicanรกlise > p. 12

JORGE FORBES

fotografia > p. 24


CETEMQUE “você tem que”

“Cetemque” é a nova palavra do vocabulário contemporâneo. Você vai almoçar, cetemque evitar comer carne; você vai comprar um carro, cetemque blindá-lo; você vai trabalhar, cetemque passar na academia; você vai viajar, cetemque ir no quadrado, no triângulo, no redondo; você vai comprar, cetemque ir no novo shopping; você vai educar, cetemque por em tal colégio; você vai ler, dormir, conversar, enfim, até se você for amar, tem um cetemque pronto para você. Os cetemques estão em toda parte, especialmente em revistas chamadas de qualidades de vida e em malfadados livros de auto-ajuda. É preocupante e assombroso o sucesso dessas publicações que fazem a alegria de suas editoras e de livrarias que se arrogam da cultura e que ainda têm o pejo de dizerem que estão formando leitores. De fato, cetemques vendem muito, pois vivemos uma época em que - desbussoladas pela globalização que lhes tirou os confortáveis padrões de comportamento das gerações anteriores - as pessoas se sentem iguais a galho de enxurrada, se amarrando aqui e acolá, ao vai de uma maré que não sabem enfrentar a não ser com a bóia enganadora de um cetemque. O duro é seguir o que lhe indica os cetemques. Rapidamente você se dará con ata que eles são contraditórios; se um manda ir para o norte, imediatamente outro lhe ordena o sul; um para o leste, outro para o oeste; e nessa contemporânea rosa dos ventos, quem se vê despetalado é você que resolveu seguir a falsa inteligência dessas fórmulas banais e reducionistas do saber viver.

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Assim, os cetemques são muito caras de pau: hoje afirmam algo, amanhã afirmam o seu contrário, na maior tranquilidade. Se questionados vão te explicar indulgentemente que foi o progresso da ciência que lhes fez mudar de idéia. Cetemques adoram começar uma explicação dizendo: “As mais recentes pesquisas mostram que...”. Eles fazem o que se chama em semiótica a camuflagem subjetivante, pois as pesquisas não mostram coisa alguma que não passe pela interpretação do pesquisador. Por isso que você enlouquece se resolver consultar dois ou três médicos com os mesmos exames na mão. Você verá como para cada um o resultado é completamente diferente de para o outro, e o cliente acaba com três diferentes cetemques. Teve um político muito conhecido, foi até presidente, que dizia levar em seu paletó um bolso para os cetemques. A cada cetemque que ouvia, agradecia e punha no bolso. À noite, escondido de tudo e de todos, desaparecia com os cetemques daquele dia. Literalmente, como dito, punha os cetenques no bolso e não na preocupação. Não há uma só forma de lidar com os cetemques, cada um tem que descobrir qual é a sua. O que podemos afirmar é sobre a pior: ser escravo da expectativa que geram os cetemques. Muito, mas muito melhor é suportar a angústia da escolha propiciada por um mundo múltiplo, como o atual, e inventar para si uma ação mais perto do seu desejo. Aí está: o melhor antídoto para o vírus emburrecedor dos cetemques é o se arriscar a responder às indicações evasivas do seu desejo. _ texto retirado do site do autor.

JORGE FORBES

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Sem TĂ­tulo; Juliana Bandeira, 2015.

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JULIANA BANDEIRA

O espelho pode dizer algo que vai além do que se vê. Quantas vezes paramos para nos observar? Nos ver e olhar-nos além do padrão? E como seria observar e enxergar o corpo à frente? A gordura ou, a falta dela, o cabelo crespo ou liso, o corpo, as dobras, a cor da pele. O que é bonito? O exercício de enxergar a si mesma é diário. E muitas vezes doloroso. Observar a si é algo que deve ser feito além do genérico. E se observássemos o que há de mais bonito? Quem é bonito? Importa compreender que cada um dos detalhes não apenas nos diz respeito como também nos singulariza. Torna a pessoa única. Foi com base nestes questionamentos que a fotógrafa Juliana Bandeira idealizou o Projeto Espelho Meu, a partir de uma série de autorretratos produzidos em 2013. A partir daí a vontade de colecionar beleza de outras mulheres e de apresentá-las a elas mesmas, revelando em imagem o quanto cada detalhe presente em seus corpos

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Sem Título; Juliana Bandeira, 2015.

eram únicos e por isso deveriam ser valorizados. Hoje, com mais de quinze mulheres fotografadas, o projeto só cresce e fortalece as mulheres. “Eu só fui entender como o projeto era importante, depois de colocar ele no ar, ver mulheres se aceitando através do corpo de outra mulher, é inexplicável. Entendi a força que existe na sonoridade, entendi como o empoderamento derruba barreiras. Comecei a receber e-mails com depoimentos de muitas mulheres, com idades diversas, corpos diversos, em situações diversas e me relatando como o projeto a faz entender o quanto é importante amar

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Sem Título; Juliana Bandeira, 2015.

nossos corpos.” O Projeto Espelho Meu recebeu esse nome em janeiro de 2016. Sua inspiração veio a partir de um clichê: a frase “espelho, espelho meu, existe alguém mais linda do que eu?” conhecida pela fala da rainha no conto da Branca de Neve. O projeto ironiza este conto de princesas e aborda a temática do “padrão estético” sobre a beleza feminina. Estes estereótipos desde muito cedo são apresentados às meninas e, ao mesmo tempo em que criam um modelo falso do que é tido como belo, exclui e marginaliza quem não pertence a esse padrão. Aprende-se desde cedo que o correto

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é ser magra, educada, com a pele perfeita, clara. Apenas dessa forma a mulher poderá ser amada. Esta conduta não condiz com a realidade. A metáfora carregada no nome do projeto surge, então, para lembrar que a mulher amada é, na verdade, respeita a si mesma. Que tem domínio sobre si e, sobretudo, aquela que ama a si mesma. Os ensaios fotográficos normalmente são feitos em lugar proposto pela mulher que vai ser fotografada, podendo ser um lugar aberto ou no espaço em que ela quiser, na casa, no quarto. Não existe um processo de seleção pré-definido. As candidatas entram em contato pelo Instagram de Juliana Bandeira (@julianabandz) ou pelo e-mail (julianabandz@gmail.com/producaoespelho@gmail.com), ou ainda, através da Fanpage do projeto no Facebook. A partir do primeiro diálogo, o ensaio começa a ser pensado, e é marcado. Ao chegar ao local, a fotógrafa começa o ensaio de forma espontânea, à vontade. Ela esclarece: “Costumo dizer que o ensaio é livre e é construído na hora, não vou com nenhuma ideia pensada, muitas vezes sequer conheço o local, na hora, juntas, vamos vendo o que é mais legal. Não existe um número de fotos pré-estabelecido, tem ensaios que tiro 15, 20 fotos, outros que tiro 150”. O objetivo gira em torno da montagem de um foto-livro, reunindo o material de todas as participantes do projeto. Uma vez que os ensaios são femininos - e abre espaço para o diferente -, quanto mais modelos, formas, corpos, tipos de pele, melhor. A cada fotografia tirada, Juliana sente que fortalece esse grupo de mulheres que querem ser representadas por algo além do que elas foram ensinadas a ser. _ texto enviado pela fotógrafa.

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Sem TĂ­tulo; Juliana Bandeira, 2015.

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Sem TĂ­tulo; Juliana Bandeira, 2015.

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s

o

tempo

ie

vida

c VIVIANE MOSÉ

Quem tem olhos praa ver o tempo Soprando sulcos na pele Soprando sulcos na pele

Soprando sulcos?

O tempo andou riscando meu rosto Com uma navalha fina Sem raiva nem rancor

O tempo riscou meu rosto com calma Eu parei de lutar contra o tempo Ando exercendo instantes Acho que ganhei presença

Acho que a vida anda passando a mão em mim A vida anda passando a mão em mim Acho que a vida anda passando A vida anda passando Acho que a vida anda A vida anda em mim Acho que há vida em mim

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a d

e

A vida em mim anda passando Acho que a vida anda passando a mão em mim

E por falar em sexo Quem anda me comendo é o tempo

Na verdade faz tempo Mas eu escondia Porque ele me pegava à força

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E por trás

Um dia resolvi encará-lo de frente E disse: Tempo, Se você tem que me comer

o

c

ie

Que seja com o meu consentimento E me olhando nos olhos

Acho que ganhei o tempo De lá pra cá Ele tem sido bom comigo

Dizem que ando até remoçando

d

a d

e

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Estufas em Almeria, Espanha. 2015.

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Plantações de oliveiras nas colinas de Córdoba, Espanha. 2016.

DAILY OVERVIEW

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Em 1987, o escritor Frank White cunhou o termo “efeito de visão geral” em seu livro de mesmo nome, descrevendo a mudança cognitiva que ocorre em percepções dos astronautas ao contemplar a totalidade do planeta Terra a partir do espaço.

Nós não podemos todos ser astronautas, mas Benjamin Grant, um consultor de estratégia de marca com sede em Nova York, foi inspirado pela ideia de White e decidiu capitalizar a riqueza de imagens de satélite disponíveis na Web para imitar a experiência. No diário Overview, Grant utiliza as imagens da Terra para abrir nossa percepção sobre como o comportamento do homem continua a redesenhar o rosto do planeta.

“Sobre a nossa linha de visão em relação a superfície da terra, é impossível apreciar plenamente a beleza e complexidade das coisas que já construídas, a enorme complexidade dos sistemas que desenvolvemos, ou o impacto devastador que nós tivemos em nosso planeta“, ressalta Grant.

Grant começa escolhendo fotografias de satélite a partir de bases de dados de DigitalGlobe centradas em áreas onde o impacto do homem deixaram marcas. “Eu faço correções de cores leves para aumentar o contraste das imagens, mas não manipulo o material”, diz. “Tento fazer essas alterações o mínimo possível”, disse ele, acrescentando que muitas vezes ajusta as cores para fazer as imagens “mais realistas”, por exemplo, se a imagem de satélite original está turva ou descolorida.

As fotos têm um fascínio abstrato atraente, mas tornam-se mais instigantes quando a mente amplia e considera os detalhes. “O achatamento hipnotizante visto a partir de um determinado ponto de vista, assim como o surpreendente conforto da organização sistemática em grande escala, ou as cores vibrantes que capturam tem uma conotação mística, irreal. No entanto, além desta interpretação mais subjetiva, esperamos que a pessoa vá além da estética e contemple exatamente o que está sendo visto, considerando o que aquela imagem significa para o nosso planeta.” Além do site Daily Overview e

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Reservatรณrio de Itaipu. Fronteira entre Brasil e Paraguay. 2016.

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Mina de Diamante Letlhakane, Botswana. 2016.

Aeroporto Internacional de Denver. Colorado, USA. 2016.

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Arrozais construídos em etapas, cobrem as encostas das montanhas de Yuanyang, China. 2016.

conta no Instagram, Grant colaborado no “Welcome to the Anthropocene: A Terra em Nossas Mãos”, uma exposição no Museu Deutsches, em Munique. “A premissa básica da mostra é que entramos em uma nova era na história do planeta como resultado da atividade humana”, disse Grant. Em colaboração com o museu, ele criou imagens em grande formatos e estampas disponíveis para compra destinadas aqueles que preferem olhar o mundo a partir de algo que não seja uma tela. _ resumo adaptado a partir do texto de Kristin Hohenadel.

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MARIA RITA KEHL

Eles formaram o casal símbolo das esperanças libertárias dos tempos modernos. O amor e a paixão da amizade, que os uniram por mais de 50 anos, até a morte de Sartre, consolidaram-se em torno de um objeto comum: a verdade. Mas como é impossível viver na verdade, o encontro entre Sartre e Simone inaugurou-se com uma mentira. Em 1929, quando licenciou-se em filosofia na Sorbonne, Beauvoir estava envolvida em uma relação platônica com André Herbaud, amigo de Sartre. Quando Jean-Paul propôs-lhe um encontro, Simone inventou uma desculpa e pediu a sua irmã que a substituísse. Esta, ao voltar do passeio, disse que Sartre engoliu a mentira “cortesmente”. Poucas semanas depois, Castor entraria com Herbaud e Nizan no quarto de Sartre para estudar Leibniz. Já no primeiro encontro percebeu que Sartre era o que mais sabia no grupo. Ganhava todas as discussões, mas mostrava uma genuína alegria em compartilhar seu saber. “Era um maravilhoso treinador intelectual”, escreveu Simone em seu diário.

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Sartre estava com 23 anos, Simone com 21. Depois deste primeiro contato, seguiu-se um período de alegre camaradagem entre Simone e os três rapazes, que a consideravam como uma igual: a moça de família burguesa e formação católica não se chocava com a liberdade da conversa masculina. Em pouco tempo, a amizade de Sartre prevaleceu sobre a dos outros dois: “todo tempo que não passava com ele era tempo perdido”. Para Beauvoir, Sartre foi o companheiro que não exigiu que ela renunciasse a si mesma. Para ele, Castor foi a cúmplice em um projeto que raras mulheres de sua geração aceitariam: uma parceria amorosa radicalmente anti burguesa, que excluía casamento, filhos, formação de patrimônio. Uma união em que o pensamento e a escrita sempre estiveram em primeiro lugar, seguidos do companheirismo, do prazer da conversa, da paixão pela política. “Bruscamente, não me achava mais só”, escreveu Simone, surpresa por ter encontrado um homem que a dominava intelectualmente, mas estimulava-a

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para que se tornasse sua igual. “Com ele, poderia sempre tudo partilhar ”. Não foi um arroubo de juventude. Sartre e Simone bancaram, durante 51 anos, a ousada proposta do que Benjamin Péret chamou de amor sublime, entre homem e mulher capazes de fazer, do encontro amoroso, condição de sublimação. Sartre não tinha interesse em dominar Simone. Sua liberdade o interessava, assim como seu talento e sua produção escrita. Foram sempre os primeiros leitores dos livros que um e outro escreviam. Nunca moraram na mesma casa. Mesmo durante a doença de Sartre, os hábitos do agradável cotidiano compartilhado respeitavam os limites da autonomia de cada um. Passavam, juntos, uma parte das férias; depois, cada um viajava para o seu lado. “Mas a separação de Sartre sempre era um pequeno choque para mim”, escreveu Beauvoir. A longa lista de casos amorosos de Sartre, todos do conhecimento de Simone, tinha relação com o prazer que ele sentia em ocupar, diante de outras mulheres, a posição masculina tradicional, de domínio e poder.É possível que o racionalismo que marcou a parceria entre Sartre e Simone, condição para que o casal sobrevivesse à arriscada proposta da

liberdade sexual de ambos, tenha lhes custado o preço de uma certa deserotização. Na longa entrevista que Sartre concedeu à sua companheira em 1974, o interesse dele por outras mulheres foi discutido abertamente; àquela altura, o triunfo de Beauvoir sobre todas as outras estava consolidado. Com outras mulheres, Sartre experimentava o mundo singular de cada uma. Porém: “O mundo, eu o vivia com você ”. Parecia um amor esfriado; talvez não fosse. “Amo muito você, minha querida Castor”, teria lhe dito Sartre no hospital, dois dias antes de morrer. A morte de Sartre deixou Simone em estado de choque. Tentou deitar-se junto ao corpo dele no leito do hospital, debaixo dos lençóis. Ficou seriamente doente e esgotada nas semanas que se seguiram. Foi uma despedida dolorosa. “Sua morte nos separa. Minha morte não nos reunirá. Assim é: já é belo que nossas vidas tenham podido harmonizar-se por tanto tempo”. _ texto retirado do site da autora.

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Imagens > site da designer

A identidade das roupas de Sindiso Khumalo se concentra em tecidos contemporâneos sustentáveis. Ela desenvolveu uma linguagem gráfica singular que mistura sua herança africana (Zulu e Ndebele) com dois grandes movimentos estéticos: Bauhaus e Memphis. Nascida em Botswana e criada em Durban, Sindiso Khumalo estudou arquitetura na Universidade de Cape Town antes de se mudar para Londres para trabalhar nos escritórios do arquiteto David Adjaye. Ela passou a estudar na Central Saint Martins College of Art and Design, fez um mestrado em Design for Futures têxteis. Ao longo dos últimos dois anos, Khumalo tem trabalhado com ONGs em várias partes da África do Sul no desenvolvimento de uma linha de têxtil sustentáveis ​​para suas roupas femininas. Toda a coleção foi produzidas à mão, desde as estampas até a confecção das vestimentas. _resumo dos textos encontrados sobre Khumalo no site Design Indaba.

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SINDISO KHUMALO

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WLADEMIR DIAS-PINO

Poemas dobráveis e remontáveis, poemas formados por combinações numéricas e gráficos matemáticos, poemas sem palavras, compostos apenas com imagens. Ainda pouco conhecida pelo grande público, a obra do poeta e artista visual Wlademir DiasPino possui grande importância na história da literatura, das artes plásticas e do design gráfico no Brasil. — Sou um pensador gráfico. Nunca me interessei pela dimensão narrativa da literatura, quis explorar a dimensão visual. Se alguém disser que o que faço não é literatura… Não ligo para gêneros. Mas a base de tudo para mim é o poema — diz Dias-Pino O caminho de Dias-Pino começou no Rio, onde nasceu em uma família de anarquistas. Filho de um tipógrafo, desde a infância gostava de brincar com tipos metálicos na gráfica do pai. Aprendeu a ler com a mãe, que o ensinou a desconfiar dos métodos escolares tradicionais. Dias-Pino atribui a essa criação um traço fundamental de sua carreira, a busca por uma arte que escape da “prisão do código alfabético”, diz. Nos anos 1930, a perseguição política do governo Vargas levou a família a se mudar para Cuiabá, no Mato Grosso. Lá, Dias-Pino publicou na gráfica do pai seu primeiro volume de poemas, “Os corcundas”, em 1939, quando tinha apenas 12 anos. Dias-Pino só lançou nacionalmente esse livro nos anos 1950, quando foi saudado pela audácia formal. A exposição sublinha o pioneirismo desse trabalho precoce e de outros, como “A fome dos lados” (1940) e “A máquina que ri” (1941). — Para mim, leitura é mais que decifrar inscrições na página. Leitura é também manuseio — diz Dias-Pino, para quem explorar várias formas de leitura é um caminho para fugir da “prisão” do alfabeto. O autor complementa afirmando: “Minhas obras estão todas ligadas num projeto que está sempre em processo. Nada tem conclusão em mim.” _resumo do texto de Guilherme Feitas, publicado no jornal O Globo, no dia 01 de março.

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Imagem > livro A Ave,1956.


Imagens > livro A Ave,1956.

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