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#1 REVISTA É - MARÇO DE 2014
REVISTA SENHOR
APOLO
TORRES
ANTONIO BOKEL Sandro Kopp
viviane mosé
SLAB
CITY
JORGE
FORBES
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EDITORIAL Só a Antropofagia nos une. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente. Única lei do mundo. Expressão mascarada de todos os individualismos, de todos os coletivismos. De todas as religiões. De todos os tratados de paz. Tupi, or not tupi that is the question. Contra todas as catequeses. E contra a mãe dos Gracos. Só me interessa o que não é meu. Lei do homem. Lei do antropófago. Estamos fatigados de todos os maridos católicos suspeitosos postos em drama. Freud acabou com o enigma mulher e com outros sustos da psicologia impressa. O que atropelava a verdade era a roupa, o impermeável entre o mundo interior e o mundo exterior. A reação contra o homem vestido. O cinema americano informará. Filhos do sol, mãe dos viventes. Encontrados e amados ferozmente, com toda a hipocrisia da saudade, pelos imigrados, pelos traficados e pelos touristes. No país da cobra grande.Foi porque nunca tivemos gramáticas, nem coleções de velhos vegetais. E nunca soubemos o que era urbano, suburbano, fronteiriço e continental. Preguiçosos no mapa-múndi do Brasil. Uma consciência participante, uma rítmica religiosa. Contra todos os importadores de consciência enlatada. A existência palpável da vida. E a mentalidade pré-lógica para o Sr. Lévy-Bruhl estudar. Queremos a Revolução Caraiba. Maior que a Revolução Francesa. A unificação de todas as revoltas eficazes na direção do homem. Sem nós a Europa não teria sequer a sua pobre declaração dos direitos do homem. A idade de ouro anunciada pela América. A idade de ouro. E todas as girls. Filiação. O contato com o Brasil Caraíba. Ori Villegaignon print terre. Montaig-ne. O homem natural. Rousseau. Da Revolução Francesa ao Romantismo, à Revolução Bolchevista, à Revolução Surrealista e ao bárbaro tecnizado de Keyserling. Caminhamos.. Nunca fomos catequizados. Vivemos através de um direito sonâmbulo. Fizemos Cristo nascer na Bahia. Ou em Belém do Pará. Mas nunca admitimos o nascimento da lógica entre nós. Contra o Padre Vieira. Autor do nosso primeiro empréstimo, para ganhar comissão. O rei-analfabeto dissera-lhe : ponha isso no papel mas sem muita lábia. Fez-se o empréstimo. Gravou-se o açúcar brasileiro. Vieira deixou o dinheiro em Portugal e nos trouxe a lábia. O espírito recusa-se a conceber o espírito sem o corpo. O antropomorfismo. Necessidade da vacina antropofágica. Para o equilíbrio contra as religiões de meridiano. E as inquisições exteriores.
Só podemos atender ao mundo orecular. Tínhamos a justiça codificação da vingança. A ciência codificação da Magia. Antropofagia. A transformação permanente do Tabu em totem. Contra o mundo reversível e as idéias objetivadas. Cadaverizadas. O stop do pensamento que é dinâmico. O indivíduo vitima do sistema. Fonte das injustiças clássicas. Das injustiças românticas. E o esquecimento das conquistas interiores. Roteiros. Roteiros. Roteiros. Roteiros. Roteiros. Roteiros. Roteiros. O instinto Caraíba. Morte e vida das hipóteses. Da equação eu parte do Cosmos ao axioma Cosmos parte do eu. Subsistência. Conhecimento. Antropofagia. Contra as elites vegetais. Em comunicação com o solo. Nunca fomos catequizados. Fizemos foi Carnaval. O índio vestido de senador do Império. Fingindo de Pitt. Ou figurando nas óperas de Alencar cheio de bons sentimentos portugueses. Já tínhamos o comunismo. Já tínhamos a língua surrealista. A idade de ouro. Catiti Catiti Imara Notiá Notiá Imara Ipeju* A magia e a vida. Tínhamos a relação e a distribuição dos bens físicos, dos bens morais, dos bens dignários. E sabíamos transpor o mistério e a morte com o auxílio de algumas formas gramaticais. Perguntei a um homem o que era o Direito. Ele me respondeu que era a garantia do exercício da possibilidade. Esse homem chamava-se Galli Mathias. Comia. Só não há determinismo onde há mistério. Mas que temos nós com isso? Contra as histórias do homem que começam no Cabo Finisterra. O mundo não datado. Não rubricado. Sem Napoleão. Sem César. A fixação do progresso por meio de catálogos e aparelhos de televisão. Só a maquinaria. E os transfusores de sangue. Contra as sublimações antagônicas. Trazidas nas caravelas. Contra a verdade dos povos missionários, definida pela sagacidade de um antropófago, o Visconde de Cairu: – É mentira muitas vezes repetida. Mas não foram cruzados que vieram. Foram fugitivos de uma civilização que estamos comendo, porque somos fortes e vingativos como o Jabuti. Se Deus é a consciênda do Universo Incriado, Guaraci é a mãe dos viventes. Jaci é a mãe dos vegetais. Não tivemos especulação. Mas tínhamos adivinhação. Tínhamos Política que é a ciência da distribuição. E um sistema social-planetário. As migrações. A fuga dos estados tediosos. Contra as escleroses urbanas. Contra os Conservatórios e o tédio
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especulativo. De William James e Voronoff. A transfiguração do Tabu em totem. Antropofagia. O pater famílias e a criação da Moral da Cegonha: Ignorância real das coisas+ fala de imaginação + sentimento de autoridade ante a prole curiosa. É preciso partir de um profundo ateísmo para se chegar à idéia de Deus. Mas a caraíba não precisava. Porque tinha Guaraci. O objetivo criado reage com os Anjos da Queda. Depois Moisés divaga. Que temos nós com isso? Antes dos portugueses descobrirem o Brasil, o Brasil tinha descoberto a felicidade. Contra o índio de tocheiro. O índio filho de Maria, afilhado de Catarina de Médicis e genro de D. Antônio de Mariz. A alegria é a prova dos nove. No matriarcado de Pindorama. Contra a Memória fonte do costume. A experiência pessoal renovada. Somos concretistas. As idéias tomam conta, reagem, queimam gente nas praças públicas. Suprimarnos as idéias e as outras paralisias. Pelos roteiros. Acreditar nos sinais, acreditar nos instrumentos e nas estrelas. Contra Goethe, a mãe dos Gracos, e a Corte de D. João VI. A alegria é a prova dos nove. A luta entre o que se chamaria Incriado e a Criatura – ilustrada pela contradição permanente do homem e o seu Tabu. O amor cotidiano e o modusvivendi capitalista. Antropofagia. Absorção do inimigo sacro. Para transformá-lo em totem. A humana aventura. A terrena finalidade. Porém, só as puras elites conseguiram realizar a antropofagia carnal, que traz em si o mais alto sentido da vida e evita todos os males identificados por Freud, males catequistas. O que se dá não é uma sublimação do instinto sexual. É a escala termométrica do instinto antropofágico. De carnal, ele se torna eletivo e cria a amizade. Afetivo, o amor. Especulativo, a ciência. Desvia-se e transfere-se. Chegamos ao aviltamento. A baixa antropofagia aglomerada nos pecados de catecismo – a inveja, a usura, a calúnia, o assassinato. Peste dos chamados povos cultos e cristianizados, é contra ela que estamos agindo. Antropófagos. Contra Anchieta cantando as onze mil virgens do céu, na terra de Iracema, – o patriarca João Ramalho fundador de São Paulo. A nossa independência ainda não foi proclamada. Frape típica de D. João VI: – Meu filho, põe essa coroa na tua cabeça, antes que algum aventureiro o faça! Expulsamos a dinastia. É preciso expulsar o espírito bragantino, as ordenações e o rapé de Maria da Fonte. Contra a realidade social, vestida e opressora, cadastrada por Freud – a realidade sem complexos, sem loucura, sem prostituições e sem penitenciárias do matriarcado de Pindorama.
Trabalho realizado para a disciplina de Design Editorial - AESO - março de 2014. Curadoria: Luiza Assis e Maria Eduarda Cartaxo Diagramação: Luiza Assis e Maria Eduarda Cartaxo Ilustração: Maria Eduarda Cartaxo
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QUEM ÉS TU: APOLO TORRES
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É SÉRIO: JORGE FORBES
ANTONIO BOKEL
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REGINA SILVEIRA
SANDRO KOPP
SUMARIO5
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Regina Silveira REGINA SILVEIRA
PUDIM DE ARTE BRASILEIRA, 1977. 2 Xícaras de olhar retrospectivo 3 Xícaras de ideologia 1 Colher, de sopa, de Ècole de Paris 1 Lata de definição temática, gelada e sem sôro 1 Pitada de exarcebação de cor 1 Índio, pequeno, ralado Com o olhar retrospectivo e a ideologia prepare uma calda e quando grossa junte-lhe a Ècole de Paris, sem mexer. em repouso, bata um pouco a definição teática, junte-aos demais ingredientes e leve ao fogo em banho-maria em forma caramelada. Cobertura para a Arte Brasileira Misture 1.1/2 Xicara de função social com 5 colheres, de sopa, de vitalidade formal e leve ao fogo brando até dourar; retire do fogo, junte mais 2 colheres, de sopa, de jogos mercadológicos e sacuda um pouco a frigideira para misturar muito bem; não se deve mexer c/ a colher. Deixe esfriar, cubra o pudim e sirva gelado.
Regina Silveira (Porto Alegre, 18 de janeiro de 1939) é uma artista plástica e arte-educadora brasileira. Começou a utilizar imagens fotográficas nas gravuras das séries Middle Class & Co. e Jogos de Arte, e passou a atuar no circuito da mail art. Neste período tornou-se importante artista multimídia e pioneira da vídeo-arte no país.
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sandro kopp Projeto There You Are // artista plástico norte-americano faz sucesso com série de retratos pela webcam
É um desafio retratar o mundo moderno em uma linguagem moderna, embora a fotografia manipulada, filmes e outras obras que se utilizam das novas mídias já representam possíveis respostas a esse dilema. Ao invés de modernizar o meio em que trabalha, o pintor Sandro Kopp decidiu modernizar seu processo pintando retratos a óleo tradicionais com
uma diferença: ele vê as pessoas via Skype. A novidade está nos modelos: de John Waters de John C. Reilly . O artista também foi envolvido na indústria cinematográfica - ele era um elfo em O Senhor dos Anéis 3 e um centauro em As Crônicas de Nárnia -, e é namorando Tilda Swinton , mas não é por isso que estamos interessados no trabalho. (Nós juramos !)
Exposição atual da Kopp, intitulada “There You Are”, apresenta pinturas de seus amigos mediadas pelo serviço de videochat online. Os assistentes são capturados em uma câmera digital e Kopp enfrenta o desafio de captar todos os detalhes da essência de um amigo enquanto apenas estar a par de suas representações de tela pixeladas .
Nascido em 1978, começou a desenhar e pintar em uma idade jovem tendo crescido na Alemanha. Emigrou para a Nova Zelândia, depois de se formar. Viveu e estudou emWellington, NZ. Desde 2009 trabalhou, principalmente, em retratos pintados a partir de conversas e pinturas de objetos transicionais como mediações da presença do proprietário do Skype.
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SOCIE VIVIANE TEMPO Quem tem olhos pra ver o tempo? Soprando sulcos na pele soprando sulcos na pele Soprando sulcos? O tempo andou riscando meu rosto Com uma navalha fina. Sem raiva nem rancor O tempo riscou meu rosto com calma. Eu parei de lutar contra o tempo. Ando exercendo instante. Acho que ganhei presença. Acho que a vida anda passando a mão em mim. Acho que a vida anda passando. Acho que a vida anda. Em mim a vida anda. Acho que há vida em mim.
Viviane Mosé (Espírito Santo, 16 de janeiro de 1964) é poetisa, filósofa, psicóloga psicanalista e especialista em elaboração e implementação de políticas públicas. Mestre e doutora em filosofia pelo Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Hoje é sócia e diretora de conteúdo da Usina Pensamento.
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DADE MOSE A vida em mim anda passando. Acho que a vida anda passando a mão em mim Por falar em sexo quem anda me comendo É o tempo. Na verdade faz tempo, mas eu escondia Porque ele me pegava à força, e por trás. Um dia resolvi encará-lo de frente e disse: Tempo, se você tem que me comer Que seja com o meu consentimento. E me olhando nos olhos. Acho que ganhei o tempo. De lá pra cá ele tem sido bom comigo. Dizem que ando até remoçando
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SLAB CITY Terra sem lei // atualmente camping, a comunidade, e antiga base da marinha, leva um estilo de vida alternativo
Slab City é um camping gratuito, uma comunidade de vida alternativa localizado perto de um perímetro de bombardeamento ativo na cidade do deserto de Niland, Califórnia, Estados Unidos. Anteriormente uma antiga base da Segunda Guerra Mundial , Quartel Marinha Acampamento Dunlap, o acampamento ganha seu nome pelas lajes de concreto que permaneceram muito tempo depois da base militar havia sido demolida e abandonada. Durante os meses de inverno, até vários milhares de campistas ñ principalmente idosos aposentados não migram para o local para o clima mais quente do deserto e falta de taxas. Estes residentes sazonais , conhecidos como “ fugindo “, vivem em uma variedade de formatos de habitação . Embora a maioria vêm para a área em seus trailers , muitos também se agachar em estruturas abandonadas , como ônibus inop-
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erantes velhas ou barracos troncos . Uma pequena população também vive lá durante todo o ano , enfrentando os duros meses de verão, quando as temperaturas podem chegar acima de 120 graus Fahrenheit. Os residentes permanentes , também conhecidos como “Slabbers”, na maioria das vezes acabam em Slab cidade devido à pobreza - muitos dizem que subsistir fora cheques do governo -, embora alguns também ficar para a sensação de liberdade que vem com a vida em um descontrolado, em uma grande área no meio do deserto. Sem eletricidade, água potável ou de tratamento de esgoto, os moradores são obrigados a contar com painéis solares e seu próprio sistema de resíduos. Os moradores compartilhar um chuveiro comum, uma cisterna de concreto que é alimentado por uma fonte de água quente de 100 metros de distância.
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A falta de governo é também o que leva muitas pessoas para a terra livre de Slab City. A comunidade não tem regras ou leis e diz-se que algumas disputas resultaram em incêndios e até mesmo tiroteios. Embora os casos de tal vigilanteism foram relatados, a maioria dos moradores e visitantes para as lajes de conhecê-lo acima de tudo como uma comunidade de vida alternativo. Longe da azáfama da vida da cidade, o parque de campismo apresenta a sua própria biblioteca comunitária, campo de golfe, jardim de esculturas, dois palcos de música ao vivo e vários clubes sociais. Talvez o Slabber mais popular da comunidade tenha sido Leonard Knight. Por mais de vinte anos, Knight tem vivido fora de seu caminhão e trabalhou continuamente em sua arte colorida “montanha”, que marca a entrada de Slab City. Ele já foi forçado a deixar a
montanha, devido a problemas de saúde, mas ainda goza de status de lenda local, e recebe muitas cartas de simpatizantes. A comunidade têm sido considerada como “o último lugar livre na Terra” e uma “cidade anarquista”. Fala-se até que o site foi recentemente apresentado para a adaptação do romance no filme Into the Wild. O fotógrafo Peter Bohler visitou o lugar e conta que descobriu Slab City enquanto conversava por um moradoro local: - “Slabs já salvou a minha vida uma vez, então pensei — por que não de novo?” Ele tinha muita paixão ao falar sobre o lugar. Estava morando lá sem dinheiro nem nada e as pessoas ajudavam bastante, e se ajudavam. Ele me disse: “É o único lugar no país onde as pessoas estão fazendo alguma coisa diferente. As pessoas aqui tomam decisões com base no amor e não no medo, porque já não têm nada a perder”.
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antonio bokel Entrevista // artista plástico carioca fala sobre carreira, experimentações e projetos para o futuro
É / Quando você trocou a carreira de modelo pela arte? e como começou seu envolvimento com o meio artístico? Antonio Bokel / Na verdade minha carreira de modelo foi muito curta , tinha 17 anos e tinha uma namorada que era modelo, ela me convenceu a fazer umas fotos para ganhar dinheiro e como sonhava em viajar pelo mundo achei uma boa idéia. Mas não me adaptei ao meio e logo depois entrei para faculdade de design, e adorava, ai minha veia artística saltou de vez. Não acho que tenha trocado a carreira de modelo pela Arte, pois ela sempre esteve dentro de mim, só estava experimentando caminhos tendo experiências, mas nunca me senti realmente um modelo.
É / Apesar de seu trabalho ser mais ‘enquadrado’ em artes plásticas, é visível uma influência da ‘street art’. O que exatamente mais te chama atenção na street art? E de que forma isso influencia o seu trabalho? A.B. / Acho que o termo Artes Plásticas engloba uma possibilidade maior de produção sem rótulos, e prefiro não ser rotulado, porque quando você é rotulado você fica preso ao rotulo, por exemplo, se você é um grafiteiro todos vão esperar sempre de você um grafite tradicional e isso é muito ruim ficar preso a um estilo ou uma técnica, o artista tem que
estar sempre mudando e experimentando, e acho que sou assim. Tive muita influencia da rua, acho que isso é uma característica da minha geração, gosto da possibilidade de sair das galerias, fazer acontecer sem depender de ninguém, só da sua atitude, e isso é a rua, gosto dos muros pichados, das texturas e das marcas do tempo e do acaso que a rua proporciona. A arte de rua tem a repetição de personagens no maior estilo Pop, isso também me influencia.
É / Quais são suas outras influências? Algum artista em particular? A.B. / Antonie Tápies foi um artista que me influenciou bastante desde quando fui a primeira vez para a Espanha, meu modo de pensar Arte e Rua se assemelha muito ao dele, fora ele posso falar de Cy Towmbly, Christopher Wool, Banksy e recentemente Tal R.
É / Percebi que você utiliza materiais diversos... Você tem fases (de pintar só telas, por exemplo, ou só trabalhar nos muros), ou é tudo ao mesmo tempo agora? há algum com o qual você se identifica mais? A.B. / Gosto de me arriscar, experimentar sair do convencional, estou sempre nessa busca, trabalho muito uns personagens em minhas telas, e eles sempre acabam indo para
Nascido no Rio de Janeiro em 1978. Em 2001 foi para Florença, em Itália, onde estudou e fez sua primeira exposição. Formou-se em Desenho Industrial no Rio de Janeiro, e começou a incorporar as técnicas digitais com sua bagagem de pintura. Influenciado pelas ruas, incorpora e pesquisa a diversidade humana. Cria personagens que saem das telas e vão para as ruas.
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rua, das telas para Rua, acho que a tela fica pequena demais e eles (os personagens) sentem necessidade de sair.
É / Dentros os projetos / exposições que você participou, qual se destacou (no sentido de realização pessoal), e porque? A.B. / Teve o Peixe que pintei na fachada da Redley, foi uma realização devido a dificuldade técnica e a pressão que tinha. Outro grande projeto foi a realização do palco do Rio Moda Hype, pois tínhamos que transformar lixo em arte e em grandes dimensões, quando faço projetos para outros acho mais difícil, minha arte não tem a preocupação em agradar faço o que sinto.
É / Como você vê a arte no mundo atual? Há um significado politico/social nas artes? E no Brasil? A.B. / Arte está cada vez mais diversificada o que a torna ainda mais interessante, com a Internet, e a arte de rua, ficou tudo muito mais fácil. Mostrar o trabalho não depende mais de um espaço, como a galeria. Tem artista de tudo quanto é tipo, uns mais engajados outros menos, uns buscando fama e dinheiro, outros querendo passar mensagens politicas e sociais, outros apenas encarando como um trabalho normal, tem espaço para todos e a arte possibilita isso.
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É SÉRIO jorge forbes
Folia obrigatória
Acabaram com as nossas quartas-feiras de cinzas. Aquelas nas quais não se ouvia mais cantar canções e ninguém passava mais brincando feliz. Atualmente as quartas-feiras são utilizadas para as batalhas ruidosas das apurações das escolas e, logo em seguida, prossegue a folia no desfile das campeãs. Acabou? Não! Inventaram as micaretas, nome alusivo às festas no meio da quaresma. Acabou? Não! Daí vem o sábado de aleluia, as festas juninas e festas e mais festas o ano todo, sem parar, sem relaxar, sem silenciar. Pule, pule, saia do chão é a ordem nesses tempos em que vivemos uma epidemia festiva. Tristes tempos estes nos quais a alegria é obrigatória. Nada é suficiente. Mais, mais, mais, só paramos na exaustão, ou quando um acidente nos para. Mais, vamos, além do limite, não há limite. Talvez o céu para os piedosos; o inferno, para a maioria. Se a balada está lotada, mais, empurrem, sufoquem. Se a garrafa acabou, mais, vamos, bebam, brindem, festejem. Se o carro está rápido, mais, depressa, corram, não importa a estrada. Se alguém lhes chateia, deletem. Se o curso está aborrecido, mudem. Se o livro é grosso, saltem as páginas.
Se o amor não corresponde, desamem imediatamente. A ordem é uma só: prazer a todo custo, inconsequente, superficial, fugaz, mas prazer. Acabaram não só com as quartas-feiras de cinzas do poeta, como também com todo o aparato social de elaborar a morte, por conseguinte, os limites. Findo o carnaval – continuando no exemplo - começava a quaresma, os jejuns, os santos cobertos de roxo nas igrejas. Independentemente do credo de cada um, ou do não credo, a sociedade estipulava rituais coletivos de enfrentamento da morte, em relação aos quais era difícil ficar indiferente. E agora, como suportar essa época de folia obrigatória, de excesso, de desmedidas? Bem, agora, não adianta esperar que o limite venha de fora de si. Pobres dos que puxam e repuxam a pele na ânsia de uma juventude perdida e o que encontram é uma maturidade bizarra, falando gentilmente. Até onde a pele estica? Até a exposição do ridículo. Os moços tentam elaborar o limite testando o corpo. É o que explica a febre dos esportes radicais. No mar, na terra, no ar: kitesurf, escalada, paraglider. Não são remédios acessíveis aos mais velhinhos. Como saber parar sem ter que subir o Everest? Isso é um
Jorge Forbes é psicanalista e médico psiquiatra. Doutor em Teoria Psicanalítica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Mestre em Psicanálise pela Universidade Paris VIII. Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo - USP. É um dos principais introdutores do ensino de Jacques Lacan no Brasil, de quem frequentou os seminários em Paris, de 1976 a 1981.
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problema atual. Sua resposta pode nos liberar da obrigação insana do prazer das festas pelas festas. A psicanálise tem uma resposta. Na ausência do limite vindo do outro - como foi para os nossos pais, quando era mentira que nossa raiva poderia destruir o mundo, hoje, sim, é verdade - na ausência de um basta exterior, o que permite nos orientar é o desejo. Muito difícil saber o que se deseja, mas fácil perceber que não é qualquer coisa. O desejo não é glutão, não se alimenta de indiferenças. Todo o desejo é desejo de alguma outra coisa, de uma coisa que desacomoda, que nos tira da área de conforto. Se não vemos o objeto de desejo diretamente, à luz do dia, notamos sua presença no sentimento da força estranha, maior que nós mesmos, que nos habita exigindo uma resposta criativa e responsável. Nada a ver com o mais-mais enlouquecido das obrigações hedonistas, o objeto do desejo é fruto de lenta depuração. Ele é pontual, silencioso, preciso, delicado, refinado, instigante. Não se resolve no carnaval das mortalhas genéricas, mas nas escolhas uma a uma. Mas, repito, ele nos tira das nossas áreas de conforto. Donde a pergunta que já me valeu um livro: você quer o que deseja?
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APOLO TORRES Vila Madalena // artista paulista leva pinturas para as ruas de São Paulo usando o graffiti
Minha arte funciona como um registro. Algo como um álbum de fotografias dos meus pensamentos e humor em um determinado momento da vida. Por muitas vezes esse registro toma um caráter fotográfico, se fundamenta na imagem de observação, pois nada melhor que ela para despertar novamente aquele sentimento. As experiências adquiridas, misturadas ao sentimento de compromisso com os assuntos discutidos no dia a dia, fazem com que a linguagem abordada por mim seja apresentada de maneira poética, munido de muitas metáforas e simbolismos para representar e transmitir minhas ideias e filosofias. A relação entre figura e plano de fundo é assunto recorrente na pesquisa estética e conceitual de todas as minhas séries. O graffiti levou a ilustração a lugares inesperados e criou novos universos sobre as paredes – um suporte que já traz consigo um registro plástico de cores e texturas obtido lentamente através da ação do tempo, das pessoas e
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das máquinas. Eu dialogo com a arte urbana ao representar plasticamente as texturas naturais do ambiente urbano, e ao voltar a atenção para as possíveis variações de relação entre figura e fundo, trabalhando sempre os planos de perspectiva e fazendo com que a superfície pictórica se integre ao restante das figuras, seja na forma de chão, céu, água, muro ou até mesmo a própria superfície da tela (Como é o caso da série limite). Meu trabalho é fundamentalmente urbano, os pensamentos aparecem e desaparecem num fundo – cidade – que não é mais aquele que recorta a figura, mas se forma com ela, nasce dela, funde-se a ela. A cidade é a minha maior influência, e morando em São Paulo (uma conurbação de 39 cidades que soma 20 milhões de habitantes), vivo a experiência urbana de maneira muito intensa, e faço dessa cidade-fundo não mais o cenário da minha vida, ela é também personagem, e constitui parte importante da minha subjetividade.
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ENTREVISTA É / Ao longo do tempo já observamos di-
É / Em minha opinião, a forma mais de-
versos estilos e movimentos artísticos. Você acredita que a “Street Art ou Urban Art“ é o legítimo movimento artístico do Século XXI? Apolo Torres / Sim, acredito que daqui algumas décadas, o movimento artístico que será mais lembrado dessa época será a arte urbana.
mocrática de se compartilhar a arte é através da educação, de entrar em contato com todos os movimentos artísticos, não somente o graffiti. A.T. / A entrada do museu pode ser gratuita, mas se a pessoa não foi instruída, incentivada a entender e gostar de arte, ela não vai entrar pra ver.
É / É a forma mais democrática de se compartilhar a arte? A.T. / Não. Acredito que seja uma forma eficiente de “impor” uma forma de arte para as pessoas e para divulgar seu trabalho. O graffiti na maioria das vezes é como um outdoor para os artistas, um “artedoor”, como diria o artista Mundano.
É / Você trabalha com elementos urbanos fora das ruas. Essa é a forma de colocar Arte no dia a dia das pessoas ou incorporar elementos do dia a dia na Arte? A.T. / Acho que mais para incorporar elementos do dia-a-dia na arte. Enxergar beleza nas
pequenas coisas, e às vezes usar a arte como um meio de denúncia, e como uma forma de registrar como é a vida da maioria das pessoas no lugar onde vivo.
É / Street Art no exterior é Arte e no Brasil é pichação? A.T. / Não, acho que já passamos dessa fase. A street art já é reconhecida no Brasil tanto quanto em qualquer outro lugar do mundo. Porém, o Brasil é o único lugar onde se faz essa distinção entre graffiti e pichação. Em outros países é tudo a mesma coisa, só muda o estilo. E é isso que eu acredito também. Não acho que graffiti seja melhor que pichação, só porque é colorido e desenhado.
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orlando pedroso
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