Escultura III

Page 1


Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa Ano letivo 2017/18

Maria Elisa | nº10661 Professor João Castro Silva Professora Luísa Perienes


Ă gua como Escultora

Escultura III



A água como escultora foi o tema com que me debrucei este semestre, com a intenção inicial de explorar as intervenções formais da água nos montes e vales, criando rios e lagos, meramente focada no aspeto visual das ramificações na areia e na terra e na beleza da água que infiltra muros e possibilita pontes, a água que nasce, se propaga, que separa montanhas e cria caminhos. Além disso, também o seu eco, a sua passagem, o que ela criou e deixou, o seu vestígio, a sua pegada, o que perdura e permanece, foram questões que fui despindo e lentamente aprofundando até encontrar o que realmente me despertou curiosidade: a água invasiva, a humidade. Assim, fui-me alastrando com a água, desenvolvendo um processo de trabalho coerente e contínuo, sobre a escultura que a água cria, focando-me numa mina de água que conheço muito bem e sobre a qual decidi trabalhar.





“...e assim me diluirei em novos mundos e espremerei o suco dos hemisférios que criei a beleza escorrerá entre os meus dedos puríssima irreal e sem contornos transparente como uma bola de sabão...”




“...vens subtil e moura sonolenta e mansa vens nervosa e fina vens em alada dança vens da virgindade de incríveis nascentes vens dos seios intactos pejados e rotos por impuros ventos vens com suaves dedos de Morte e Volúpia...”







“...vens desces e roças poisas e encharcas o ventre sequioso da Noite e alagas-me lavas-me trespassas-me de solidão maior” Madalena Férin








Explorei várias matérias para registar a humidade da mina de água. Utilizei gesso, barro e massa de poliéster numa fase inicial. Fiquei com pequenas impressões da gruta, tanto do seu interior como do exterior, escolhi as zonas mais húmidas por onde a água recentemente passou, aproveitando o mais possível os líquens, terra e outros vestígios de vida que poderiam existir nas paredes de xisto da gruta. Estas experiências resultaram, inesperadamente, bem e possibilitaram o desenvolvimento do projeto para outros materiais e conceitos. Comecei a aprofundar as duas variantes da escultura: por subtração e por adição, fazendo a ponte com a escultura que a água cria. No entanto, decidi que a mina de água na qual comecei a evoluir o meu trabalho, era mais importante do que o aspeto visual das ramificações na areia ou a acumulação de resíduos que a água também constrói. A memória da água, a sua invasão, foi o que mais me atraiu.















Pele como mudança O látex possibilitou-me fazer um registo fiel da camada mais superficial das paredes da gruta. Foi a partir destas experiências que palavras como metamorfose, mudança, transfiguração, passagem, fronteira, prótese, fragmento, mutação e criação começaram a fazer sentido no projeto. A partir daí, rapidamente olhei para os relevos de látex como tecido pronto a ser cortado e moldado. Instintivamente, comecei a criar, a partir de moldes em papel, luvas de látex, e a fazer variações com os moldes e materiais de costura. Estas luvas fazem a ligação entre o meu corpo e a gruta, são o ponto de fusão das suas memórias com as minhas. De certa forma, ajudam-me a vestir a pele da gruta, são um aumento, um acrescento às minhas mãos.









Primeira luva de látex húmida: dimensões variáveis; látex e fio de bordar.



Fotografias impressas em papel fotogrรกfico da luva de lรกtex com รกgua.


Desenho de uma das luvas de lรกtex: grafite sobre papel; 16x9cm.


“Vivo de impressões que me não pertencem, perdulário de renúncias, outro no modo como sou eu.” Bernardo Soares (Fernando Pessoa), Livro do Desassossego





Sete luvas: lĂĄtex, fio de bordar e de costura de diferentes cores, fio de cobre; dimensĂľes variĂĄveis.





Maria Elisa 2018



Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.