Relatório final de Iniciação Científica - História da Arquitetura - Unicamp 2006

Page 1

RELATÓRIO FINAL DE ATIVIDADES – PIBIC/CNPq

T'ítulo:

O conjunto de monumentos neocoloniais da Serra do Mar de Victor Dubugras e a originalidade precendente ao Movimento Moderno no Brasil

Bolsista: Mariana Ginesi Orientadora: Prof. Dra. Silvana Rubino

Julho, 2006


1- Introdução

A proposta desse trabalho foi estudar os monumentos neocoloniais do arquiteto Victor Dubugras localizados na Serra do Mar projetados em 1919 e executados entre 1922 e 1925. As obras encontram-se na rodovia SP-148, ou como é mais comumente conhecida, no Caminho do Mar, nos municípios de São Bernardo do Campo e Cubatão, estado de São Paulo. Para tanto, fez-se necessário o aprofundamento da pesquisa bibliográfica e iconográfica do período da idealização e construção em acervos como o Arquivo Municipal Washington Luis, a Biblioteca da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP), a sede da Empresa Metropolitana de Águas e Energia – EMAE, e ainda, nos processos de tombamento e de restauro respectivamente denominados “Estrada do Lorena, Monumentos de Victor Dubugras e área de mata circundante e Caminhos do Mar” nº 00123 -72 e “Revitalização da Estrada Velha do Mar e seus monumentos” nº 41346/01 junto ao Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat). Este último processo inclui um inventário detalhado, realizado por arquitetos da EMAE em novembro de 2002, composto por um memorial descritivo e diagnóstico da localização, quantidade e condições em que se encontravam os pisos, revestimentos e as esquadrias previamente às obras de restauro, assim como as condições gerais do Cruzeiro Quinhentista e do Padrão do Lorena. As vistas ao projeto de restauro do conjunto de obras no Condephaat permitiu a verificação da existência de material técnico-arquitetônico detalhado e atualizado disponível ao público. Portanto,não fez-se necessária a atualização dos mesmos, como havia sido proposto no projeto dessa Iniciação Científica.


Foram levantadas fotos dos monumentos durante sua construção assim como da pavimentação da Estrada datadas aproximadamente de 1925. Conseguiu-se também registros de expedições precedentes ao projeto de Dubugras, lideradas por Washington Luis (1869-1957), Presidente do Estado de São Paulo entre 1920 e 1924 acompanhado por inúmeros trabalhadores e figuras como os Srs. Antonio Prado Junior1 e Bento Canabarro . Foram fotografados inúmeros originais e cópias de desenhos técnicos, vistas e perspectivas realizadas com técnica de aquarela do arquivo de projetos originais da Biblioteca da FAU-USP.

Finalmente, realizaram-se duas outras visitas técnicas ao Pólo Ecoturístico Caminho do Mar em junho e julho de 2006. Estas ocorreram após a cerimônia de inauguração das obras restauro dos monumentos, realizada em abril de 2006 e chefiada pelo atual governador do Estado de São Paulo Cláudio Lembo. As visitas enriqueceram muito o trabalho de pesquisa, pois possibilitaram mais registros fotográficos atuais das obras, inclusive do interior dos monumentos que ainda não tiveram o acesso liberado ao público tampouco possuem função definida. Permitiu ainda a observação dos resultados finais das obras de restauro e a percepção dos procedimentos adotados para a realização do mesmo.

2- Os termos “racionalismo”, “neocolonial” e “tradicional brasileiro” nas obras de 1

Bacharel em direito pela Faculdade de Direito de São Paulo em 1861, deputado provincial entre 1862 e 1864, duas vezes eleito deputado geral pelo Partido Conservador em 1869 e 1872, Ministro da Agricultura de 1885 a 1887, em 1886 torna-se conselheiro do império, quando ascendeu ao Senado; em 1888 torna-se Ministro dos Estrangeiros. Prefeito da Cidade de São Paulo entre 1898 e 1908; presidente da Cia. Paulista de Estradas de Ferro, do Banco do Commercio e Indústria de S. Paulo entre outras. Assumiu a prefeitura do Distrito Federal em novembro de 1926, tendo sido nomeado pelo então presidente Washington Luís.


Dubugras, especialmente na Serra do Mar.

Sabe-se que o racionalismo não é um pensamento inerente de apenas uma corrente arquitetônica, mas trata-se sim, de uma preocupação que ocorreu em diferentes movimentos inicialmente no continente europeu no século XIX. Apesar da utilização de ornamentos como elementos de composição arquitetônica, o gótico, o classicismo e o ecletismo enquadram-se nos ideais racionais de funcionalidade conseqüente das necessidades projetuais específicas, na submissão das partes em relação ao todo e no respeito da natureza dos materiais. Os elementos arquitetônicos que são os verdadeiros órgãos do edifício, modificam-se de acordo com as funções particulares que tem que desempenhar. Por isso requerem uma escolha de materiais adequados, segundo suas qualidades e para fazer possíveis estas funções. As qualidades especiais dos materiais de construção têm uma influência mais direta na forma, e a decoração por essa razão, encontra-se intimamente ligada à construção. A beleza de um monumento reside na expressão harmoniosa entre as necessidades e os meios de satisfazê-las. 2 Esse intuito é claramente percebido nas obras de Dubugras, especialmente os monumentos estudados nessa Iniciação Científica.

A “arte tradicional” primeiramente manifestada por Ricardo Severo em São Paulo buscava a alteração dos padrões arquitetônicos até então voltados para o classicismo como única forma de expressão. O professor da Escola Politécnica de São Paulo e aluno de Victor Dubugras,

2

Citação do arquiteto e historiador inglês Peter Collins (1920-1981) em: TOLEDO, Benedito Lima de. Victor Dubugras e as atitudes de inovação em seu tempo. Tese de Livre-Docência, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, USP, 1985. Volume 1, pp 57-58.


José Maria da Silva Neves acreditava que o ideal imitativo gerava pastiches baseados em elementos postiços e mentirosos, e que estes perdurariam nas construções por sua vez definitivas e duradouras. Um outro ponto defendido seria a necessidade de uma expressão artística verdadeira baseada na percepção do local e na pesquisa de motivos e origens que não se distanciassem do povo, da história e das aspirações futuras do Brasil. Segundo Silva Neves, apesar dessa primeira experiência ter tido como resultado uma arquitetura em puro estilo português modernizado, ficou, entretanto, a idéia de questionamento arquitetônico perante a contínua repetição das formas neoclássicas.

Victor Dubugras, diferentemente de Severo, não se atinha a pormenores e estava muito atento ao espírito das obras. (TOLEDO, 1984) Nos monumentos da Serra do Mar, por exemplo, evidenciou-se a preocupação pela escolha dos locais e vistas mais privilegiados. Suas implantações tiram partido da declividade do local e relacionam-se muito bem com a paisagem nos quais estão inseridos. Para isso as soluções estruturais necessitariam prover estabilidade aos edifícios nessa região tão propensa a erosão e escorregamentos. E foi o que aconteceu. Os monumentos permanecem estruturalmente sem quaisquer problemas ou patologias que afetem sua permanência no local. Os longos beirais adequam-se perfeitamente à região de alto índice pluviométrico, assim como as varandas voltadas para a serra permitem arejamento nos dias mais quentes. As lareiras presentes nos Ranchos de Paranapiacaba e da Maioridade, apesar de não serem características da arquitetura colonial paulista, foram instaladas e são de grande valia para aquecer as instalações em dias frios. O que mais uma vez comprova a inovação do neocolonial por meio de introdução de novos elementos e não ficando


preso a imitações do colonial. O granito e os azulejos mostraram-se também muito adequados ao clima e ao programa de edifícios públicos, como nesse caso, comemorativos e monumentais. Os painéis de azulejo além de terem sido comprovadamente muito eficientes como material de revestimento, nesse caso agregam valor semântico aos monumentos ao contar aos visitantes de uma forma facilmente inteligível a história da evolução da ligação do litoral com a capital do estado. Os elementos escultóricos como as colunas, os frontões e balcões são criações de Dubugras. Essa valorização da escultura e a utilização de granito seriam predominantes na última fase de trabalho do arquiteto.

3- Referências e formação de um estilo próprio

Após essas colocações, poderia-se questionar de onde haviam surgido as inspirações arquitetônicas realizadas nos projetos neocoloniais de Dubugras. Ao analisar o conjunto de obras do escritório do arquiteto, que por muito tempo foi auxiliado por seus filhos engenheiros Anita e Ernesto Mackay Dubugras, percebe-se que as tendências racionalistas e esteticamente tradicionais brasileiras já apareceriam em seus primeiros projetos como, por exemplo, na “Casa Proletária Econômica” (1916) ou em outros projetos residenciais do início de sua carreira. No caso da casa proletária, Benedito Lima de Toledo aponta semelhanças com os pousos da Serra do Mar, dentre elas os longos beirais nos telhados de telha paulista, a chaminé, o frontão composto por volutas e arrematado por pináculo. (TOLEDO, 1984) O autor afirma que as origens podem estar, portanto, não necessariamente na tradição brasileira. E isso se confirma graças às inúmeras características ou materiais raramente utilizados, entre eles o granito, os azulejos e telhas paulistas, ou ainda à


combinação inédita dos mesmos. Pode-se perceber que não foram utilizadas referências da arquitetura mineira ou nordestina, pois não se vêem as portadas características da Bahia ou as vergas curvas de Minas Gerais. O que se consideraria uma influência, seria a arquitetura da região norte de Portugal evidenciada pelos pináculos de granito por exemplo.

Essa busca por inovações e referências externas não se dariam, entretanto, por desconhecimento de nossa arquitetura colonial, já que na companhia do presidente do Estado, Washington Luís, Dubugras realizaria diversas viagens e andanças pelo interior de São Paulo. Outro ponto que também comprova seu conhecimento e apreciação arquitetônica seria a prática de exercício de desenho e aquarela no centro de São Paulo, mais precisamente no Convento da Luz, que ele realizava com seus alunos da Escola Politécnica.

4- Os monumentos: histórico precedente

Em pesquisas a documentos originais do período da gestão de Washington Luís como presidente do Estado, foi percebido grande interesse por parte do administrador em descobrir o primeiro caminho de ligação do litoral a São Paulo. Datado de 1921, um artigo do jornal O Estado de São Paulo relata uma das expedições automobilísticas ao Alto da Serra do Mar acompanhado pelo amigo Antonio Prado Junior, o qual já vinha executando viagens pelo trajeto desde 1909. A certa altura da excursão, embrenhados na mata, procedendo com o mais vivo interesse às investigações que o preocupavam, ao cabo de algum tempo teve o Sr. presidente do Estado a agradável surpresa de descobrir, aqui e acolá, várias pedras


dispostas em filas e indicando claramente a existência de uma estrada abandonada.3 Após certificar-se dos vestígios encontrados e da existência do caminho, Washington Luis, primeiramente encarrega a Diretoria das Estradas de Rodagens da reconstrução de parte da estrada e da sua ligação com a Estrada do Vergueiro, um antigo acesso a Serra do Mar. Ao executar a obra, encontrou-se uma pedra com inscrições latinas em homenagem a D. Maria I, que reinava Portugal na época de sua edificação. Esta pedra seria depois recolocada no monumento Padrão do Lorena durante sua construção.

Outro marco foi a descoberta de um registro em ofício de 1790 provando que o povo paulista havia erigido um monumento em homenagem ao General Bernardo José de Lorena governador da Capitania em 1790, período da construção do caminho do Lorena, também com inscrições que haviam sumido junto com a estrada. Referentes a esse período foram ainda levantados no Arquivo Municipal Washington Luis, em São Paulo registros transcritos de 1791 e um original do próprio Lorena, com relação a contribuições anuais em dinheiro de outras vilas para beneficiamento do Caminho do Mar de Cubatão.

Todas essas informações, aliadas às comemorações do centenário da Independência do Brasil4, ajudam a compreender o interesse e desejo de Washington Luis por refazer esse primeiro monumento e posteriormente idealizar outros no mesmo percurso. Ele previu, portanto, um conjunto de monumentos na estrada atualmente • 4

3

Trecho do artigo Uma estrada histórica. Jornal O Estado de São Paulo, São Paulo, 28 janeiro de 1921.

Esse foi um momento de grande importância para o movimento neocolonial que firmou-se em muitas obras de exaltação histórica patrocinadas pelo Estado.


denominada Caminho do Mar que evocasse as diversas etapas da comunicação do litoral com o alto da serra, sendo que três deles deveriam cruzar a Calçada do Lorena.E para isso designou Victor Dubugras para a realização dos mesmos.

Como já foram previamente descritos, os ranchos do Caminho do Mar eram “edifícios comemorativos e de Socorro Público” como se referia o próprio autor perante suas obras. E eles realmente cumpriam suas funções. Tratavam-se de pontos estratégicos para reparos nos veículos e fácil acesso à água aos motores que freqüentemente aqueciam-se no trajeto durante essa fase rodoviária pioneira. O Rancho de Paranapiacaba servia ainda como um restaurante que embora precariamente, atendia os viajantes. (TOLEDO, 1984) Completando o conjunto, teremos um Belvedere localizado no quilômetro 45 da SP-148, o Padrão do Lorena e o Cruzeiro Quinhentista.

5- Influências posteriores na casa paulista urbana

Em 1920, contemporaneamente à execução das obras do Caminho do Mar, Victor Dubugras encaminharia à Prefeitura um ofício solicitando a construção de duas casas na Alameda Eugênio de Lima. As fotos das casas presentes na tese de Livre Docência de Benedito Lima de Toledo, de 1984 nos mostram a incrível semelhança com os Pousos da Serra do Mar. O autor chega a dizer que se trataria da transposição de um pouso para o lote urbano. Foram utilizados os mesmos componentes como, por exemplo, o granito, o telhado de telhas paulistas, os pisos, a mesma escada encontrada no Pouso de Paranapiacaba, as janelas moduladas se abrindo para a caixa de escada e


acompanhando sua ascensão, além do gradil idêntico ao do Rancho da Maioridade. Juntamente com duas residências já demolidas na Alameda Joaquim Eugênio de Lima e outras atribuídas ao arquiteto, pôde-se notar influências do estilo próprio de Dubugras posteriormente nas casas paulistas do período pela adoção de várias dessas características formais e funcionais em muitos outros projetos.

6- Processos de tombamento e restauro e condições atuais

Desde a década de 1960 já podiam ser percebidos o interesse de estudiosos e de órgãos públicos pelo estado de conservação dos monumentos e a execução de medidas para que fossem recuperados ou mantidos. Isso pode ser comprovado pela escolha desse conjunto de obras como tema de trabalho de conclusão de curso da primeira turma do curso de Restauro em nível de pós-graduação da FAU-USP. O relator do estudo publicado na revista número 1 do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB- USP) de 1966 foi o Dr. Rodrigo de Mello Franco de Andrade, fundador e diretor por trinta anos, do IPHAN5. Além de um diagnóstico, também seriam efetuadas propostas de intervenções ou de obras de conservação tantos dos monumentos quanto da estrada em si e de sua vegetação circundante. Após esse trabalho, o Condephaat solicita um parecer sobre os bens culturais para possibilitar seu tombamento, e mais tarde seria realizado também um levantamento métrico-arquitetônico-fotográfico para que se aprofundasse a análise do método construtivo dos mesmos. Algumas observações do trabalho de 1966 foram o escurecimento das pedras de todos os monumentos pelas intempéries, o fechamento das arcadas de granito voltadas para a serra do Pouso de Paranapiacaba com paredes de tijolos pelo 5

Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.


Departamento de Estradas de Rodagens, o abandono das escadas laterais a esse mesmo pouso que levava aos patamares da serra, a instalação de uma porta de metal no arco da porção inferior do Pouso da Maioridade, a retirada a marretadas do azulejos originais de Washt Rodrigues. Na época do estudo, a Rodovia Anchieta já havia sido construída e a estrada já caíra em desuso. Apesar de obras de asfaltamento que deram boas condições de uso da estrada, esta era utilizada mais comumente aos turistas de fim de semana que passeavam pela Serra ou freqüentavam o precário bar localizado no Pouso de Paranapiacaba. O tombamento daria-se efetivamente pelo Condephaat em 1972.

Em 1978 não havia mais revestimentos de argamassa originais de 1922 nos pousos, esses haviam sido refeitos e repintados várias vezes ao longo dos anos. Da azulejaria decorativa, restaria apenas aproximadamente a metade do total original. No Pouso de Paranapiacaba, na sala principal, encontravam-se azulejos que retratavam as quatro estações do ano, já neste período existiam somente cerca de dez por cento dos originais, e os que ainda lá se encontravam, devido à má queima no processo de produção, apresentavam tinta escorrendo. Entre 1978 e 1980 foras realizadas as primeiras obras de restauro dos telhados revestimentos internos e esquadrias pela Prefeitura Municipal de Cubatão. Os monumentos ficariam fechados até 1982 quando a Eletricidade de São Paulo SA (Eletropaulo) assume a responsabilidade pelos mesmos. Nesse mesmo ano a Petrobrás passa a tomar conta do Pontilhão da Raiz da Serra. Entre 1982 e 1993 ocorreriam restauros na esfera armilar do Padrão do Lorena, na Calçada do Lorena, e parcialmente do telhado do Pouso de Paranapiacaba. Em 1997 a Empresa Metropolitana de Água e Energia (EMAE) torna-se


responsável pelo conjunto de monumentos e graças aos planos de transformar o local em um Pólo Ecoturístico fazem-se novamente necessárias intervenções e medidas conservativas com relação às intempéries, à passagem do tempo e à constante visitação e o conseqüente impacto ocasionado pelo turismo na região.

No Pouso de Paranapiacaba foram feitos a consolidação dos revestimentos internos e o preenchimento do restante das paredes com massa, de modo a tornar-se um elemento neutro em relação ao conjunto, além da recuperação dos azulejos faltantes da fachada externa. Também foram recolocados os pináculos de granito que encontravam-se armazenados no porão e refeitos os pisos. No Rancho da Maioridade os pisos passaram por melhorias assim como foram feitos novamente os azulejos internos faltantes da lareira e os da fachada leste, de acordo com o desenho original. O Padrão do Lorena teve seus pináculos de granito refeitos bem como os azulejos faltantes, tentando sempre evidenciar os novos elementos em relação aos originais com o intuito de não provocar nenhum falseamento de época.

A próxima fase do restauro será realizada no Cruzeiro Quinhentista localizado no quilômetro 52 da SP-148. Em 1981 transferiu-se o cruzeiro de seu local de origem para sua localização atual graças à nova urbanização da antiga área. O monumento foi levado para um cruzamento de vias próximo a empresas de grande porte no Pólo Industrial de Cubatão. Apesar de ter trazido maior visibilidade e notoriedade ao monumento, essa movimentação provocou a rachadura e o rebaixamento dos pisos de paralelepípedo instalados em 1981 e maior acúmulo de sujeira proveniente dos resíduos de combustível dos veículos pesados que por ali circulam diariamente.


Esse processo ainda está em andamento e as medidas a serem tomadas devem ser aprovadas pelo Conselho de Patrimônio antes de sua execução. Por esta circunstancia, houve restrições à consulta do processo e à divulgação do mesmo na pesquisa.

7- A importância de um levantamento iconográfico

Apesar do contato direto com uma obra de arquitetura ser indispensável para sua compreensão, algumas vezes em trabalhos escritos, faz-se necessário o uso da imagem como recurso auxiliar na tarefa de atingir aquele a quem se destina a descrição de uma obra ou a narrativa de fatos relevantes de um projeto. Benedito Lima de Toledo define a imagem como uma ferramenta de valor semântico próprio que a redação não consegue substituir.6 Uma comparação muito bem colocada pelo autor seria a de uma descrição do escritor Victor Hugo (1802-1885) da Catedral de Notre Dame em contraposição aos desenhos de Violet-le-Duc (1814-1879), que segundo ele seriam muito mais úteis a um arquiteto do que o texto escrito por Victor Hugo.

Pode-se dizer que a imagem enriquece as informações de passagem do tempo, mesmo que muitas vezes não lhe é dada a atenção merecida. A fotografia passa a ser considerada como instrumento de trabalho capaz de corrigir críticos e apontar detalhes desapercebidos pelo olhar.

7

Deixa de ser apenas

uma ilustração, um auxílio à memória do leitor ou uma maneira de poupar texto ao

6 7

TOLEDO, Benedito Lima de. Op.cit.

Mais tout ce que la critique néglige de voir ou repugne à dire, la photographie le montre tranquillement, sans qu’a vrais dire, personne n’y prête grande attention. VIOLLET-LE-DUC, Eugène Emmanuel. Dictionnaire raisonné de l’architecture française. 1869.


autor, para ser um instrumento de trabalho do historiador de arquitetura (TOLEDO, 1895). Portanto, nesse trabalho serão utilizados, além da habitual linguagem escrita, plantas, cortes, elevações, perspectivas e fotografias como forma de representação e fins dessa pesquisa.

Ainda com relação aos desenhos, Victor Dubugras mostrou-se um arquiteto inovador na representação de trabalhos de arquitetura entre seus colegas de trabalho, e isso poderá ser percebido posteriormente em seus desenhos nos monumentos do Caminho do Mar. Antes do arquiteto, as peças gráficas que acompanhavam os processos eram sumárias e destinavam-se a apenas demonstrar que o edifício encontrava-se dentro dos padrões municipais. Lecionando tanto para a turma de arquitetura quanto para todos os cursos de engenharia da Escola Politécnica, Dubugras realizaria benefícios para a arquitetura paulista da época, já que poucos arquitetos efetivamente se graduavam, enquanto eram muitos os engenheiros que “faziam arquitetura” em São Paulo. Portanto suas aulas essencialmente práticas, em ateliês, proporcionavam aos engenheiros e construtores elementos básicos de estética e composição arquitetônica embutidos nos primorosos ensinamentos de técnicas de desenho e aquarela.

8-Levantamento iconográfico



20-Pouso da Maioridade .

21-Padr達o do Lorena, lado direito .

22-Padr達o do Lorena, lado esquerdo.



9- Conclusão Após esse estudo intenso das obras de Victor Dubugras e especialmente os monumentos da Serra do Mar, concluo sim, que diversas características inovadoras e inéditas em seu tempo o tornam um arquiteto à frente de seu tempo e portanto, um prémodernista. Sem dúvida podemos apontar na obra de Dubugras essa fecunda e válida absorção formal do movimento internacional, fato que muitos anos depois veríamos acontecer na obra do próprio Lucio Costa. Muitos projetos atestam essa sintonia.8 São attestados flagrantes disso, o jogo simples e proporcionado das massas, a sua sobriedade de ornamentação e o emprego de grandes vãos envidraçados. É que o mestre estava muittos anos adiante na marcha architectonica da época. Esse seu projeto faria hoje a admiração dos actuais modernistas.9 Apesar de diversos autores, como por exemplo mais radicalmente Yves Bruand ou até mesmo Hugo Segawa, acharem que o movimento neocolonial no Brasil não passou de um ecletismo diferenciado, desta vez com referências à arquitetura portuguesa, o ponto de vista de outros profissionais como Nestor Goulart Reis Filho ou ainda Benedito Lima de Toledo nos mostram estudos mais aprofundados que permitem a observação do sucesso e da validade de muitas atitudes inovadoras de Dubugras. E essa ideologia não se iniciou na última fase do arquiteto, como poderia erroneamente se pensar. Desde a idealização das primeiras casas em estilo cottage ou residências populares, Dubugras se mostrou muito competente ao adequar seus projetos ao meio que estavam inseridos, além da execução de um programa funcional e do correto uso do material. Podemos notar o uso de ornamentação pelo arquiteto, o que depois seria 8 9

TOLEDO, Benedito Lima de. Op.cit. Volume 3, pp.89-90. NEVES, José Maria Silva in: TOLEDO, Benedito Lima de. Op.cit. Volume 3, p.93.


condenado

pelos

modernistas,

porém

os

componentes

esculturais

davam

justificadamente a monumentalidade necessária a projetos como os estudados nessa pesquisa ou ainda no Largo da Memória em São Paulo por exemplo. Os elementos foram empregados de uma forma sóbria, não apenas copiada de catálogos ou escolhidas ao acaso, por isso a diferença e aproximação com os modernos.

10- Bibliografia

• • • • • •

• • • • • •

AMARAL, Aracy Abreu (coord.) Arquitectura neocolonial: América Latina, Caribe, Estados Unidos. São Paulo: Memorial / Fondo de Cultura Econômica, 1994. BRUAND, Yves. Arquitetura Contemporânea no Brasil. São Paulo: Editora Perspectiva, 2003. FICHER, Sylvia. Ensino e profissão: o curso de engenheiro-arquiteto da Escola Politécnica de São Paulo. Tese de Doutorado, FFLCH-USP, 1989. FRAMPTON, Kenneth. História Critica da Arquitetura Moderna. São Paulo: Editora Martins Fontes, 1997. LEMOS, Carlos. Alvenaria Burguesa. São Paulo: Nobel, 1989. KESSEL, Carlos. Vanguarda efêmera: arquitetura neocolonial na Semana de Arte Moderna de 1922. In: Revista Estudos Históricos. Arte e História n.30, São Paulo: 2002. REIS FILHO, Nestor Goulart. Victor Dubugras – Precursor da arquitetura moderna na América Latina. São Paulo: Editoras Quota de Arte, Edusp e Via das Artes, 2005. . Racionalismo e Proto-Modernismo na obra de Victor Dubugras. São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo, 1997. ________________. Catálogo da Exposiçao 100 anos de ensino de Arquitetura e Urbanismo em São Paulo. São Paulo: Secretaria do Estado da Cultura, 1996. SEGAWA, Hugo. Arquiteturas no Brasil: 1900-1990. São Paulo: Edusp, 1999. SERAPIÃO, Fernando. Paralelos (e transversais) na história da casa paulista. In: Revista Projeto Design, São Paulo: n.287, pp 26-37, janeiro 2004. TOLEDO, Benedito Lima de. O Caminho do Mar. In: Revista do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB), São Paulo, 1971. ________. Projeto Lorena; Os Caminhos do Mar: Revitalização, Valorização e Uso dos Bens Culturais. São Bernardo do Campo: Prefeitura do Município, 1975. ________. Victor Dubugras e as atitudes de inovação em seu tempo. Tese de Livre-Docência, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, USP, 1985. Uma estrada histórica. Jornal O Estado de São Paulo, São Paulo, 28 janeiro de 1921.

Documentos


Processo de tombamento “Estrada do Lorena, Monumentos de Victor Dubugras e área de mata circundante e Caminhos do Mar” nº 00123-72 resolução de 11/08/1972 - Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat) publicado no Diário Oficial do Estado em 12/08/1972. Processo de revitalização da “Estrada Velha do Mar e seus monumentos” nº 41346/01 - Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat)

Sites da Internet (última visita: 10/07/06) http://www.portalconstrucao.com.br/noticia.asp?cod=1189 http://www.novomilenio.inf.br/cubatao/ch075h.htm www.novomilenio.inf.br/ santos/h0102x2.htm www.emae.sp.gov.br/caminhos www.arcoweb.com.br/debate/debate62b.asp http://www.apmp.com.br/institucional/deptos/turismo/1passeio_cam_mar.htm http://www.nethistoria.com/index.php?pagina=ver_livro&livro_id=189 http://www.abcdaecologia.hpg.ig.com.br/serradomar.htm www.sampa.art.br/SAOPAULO/ Patrim%C3%B4nio.htm http://www.cidadecubatao.com.br/mapa_monumentos.gif http://www.cpdoc.fgv.br http://www.ieb.usp.br/

Imagens 1, 8, 11, 14, 37-41. Fonte: Pranchas originais de Dubugras. Acervo da Biblioteca da FAU/USP.1920 2, 4, 6, 9, 12 e 15. Fonte: TOLEDO, Benedito Lima de. O Caminho do Mar. In: Revista do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB), São Paulo, 1966. http://www.ieb.usp.br 17-19. Período de expedições pela serra e da pavimentação da estrada.Fonte: Arquivo Municipal Washington Luís. 1920. 3, 5, 7, 10, 13, 16, 20-36. Fonte: Mariana Ginesi, julho de 2006.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.