estágio supervisionado 2 Ana Claudia Silverio Nascimento Kezia Rodrigues Nunes Silvana Ventorim Wagner dos Santos
Universidade Aberta do Brasil Universidade Federal do Espírito Santo
Educação Física
Licenciatura
Ana Claudia Silverio Nascimento Possui graduação em Comunicação Social/Jornalismo (1997) e em Educação Física (2002) pela Universidade Federal do Espírito Santo, mestrado em Educação Física (2005) pela Universidade Gama Filho e doutorado em Ciência da Informação (2010) pela Universidade de São Paulo. Professora do Departamento de Ginástica do Centro Educação Física e Desportos da Universidade Federal do Espírito Santo.
Kezia Rodrigues Nunes Possui graduação em Educação Física (2003), especialização em Educação Física para Educação Básica (2005) e mestrado em Educação Física (2007) na Universidade Federal do Espírito Santo. É doutoranda no programa de PósGraduação em Educação na Ufes, onde atua como professora no Departamento de Linguagem, Cultura e Educação do Centro de Educação. É membro do Instituto de Pesquisa em Educação e em Educação Física (Proteoria) e do Núcleo de Pesquisa e Extensão em Currículo, Cultura e Cotidiano (Nupec3).
UNIVERSIDADE F E D E R A L D O E S P Í R I TO S A N TO Núcleo de Educação Aberta e a Distância
estágio supervisionado 2 Ana Claudia Silverio Nascimento Kezia Rodrigues Nunes Silvana Ventorim Wagner dos Santos
Vitória 2012
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO
Presidente da República Dilma Rousseff
Reitor Reinaldo Centoducatte
Ministro da Educação Aloizio Mercadante
Pró-Reitora de Ensino de Graduação Maria Auxiliadora Corassa
Diretor de Educação a Distância – DED/CAPES/MEC João Carlos Teatini de Souza Clímaco
Diretor Geral do ne@ad Reinaldo Centoducatte Coordenadora UAB da UFES Maria José Campos Rodrigues Diretora Administrativa do ne@ad Maria José Campos Rodrigues Diretor Pedagógico do ne@ad Julio Francelino Ferreira Filho Diretora do Centro de Educação Física e Desporto Zenólia Christina Campos Figueiredo
Gerência Samira Bolonha Gomes Susllem Meneguzzi Tonani Editoração Mariana Melim Marianna Schmidt
Revisor de Conteúdo Luiz Alexandre Oxley da Rocha Revisora de Linguagem Alina Bonella Design Gráfico LDI - Laboratório de Design Instrucional ne@ad Av. Fernando Ferrari, 514 CEP 29075-910, Goiabeiras Vitória - ES (27) 4009 2208
Dados Internacionais de Catalogação-na-publicação (CIP) (Biblioteca Central da Universidade Federal do Espírito Santo, ES, Brasil)
Laboratório de Design Instrucional LDI Coordenação Heliana Pacheco José Otavio Lobo Name Ricardo Esteves
Coordenadora do Curso de Educação Física EAD/UFES Fernanda Simone Lopes de Paiva
E79
Estágio supervisionado, 2 / Nascimento ... [et al]. - Vitória : UFES, Núcleo de Educação Aberta e a Distância, 2012. 123 p. Inclui bibliografia. ISBN: 978-85-8173-014-1 1. Educação física - Estágios. 2. Estágios supervisionados. I. Ventorim, Silvana. CDU: 796:378.24
Ilustração Leonardo Amaral Capa Leonardo Amaral Marianna Schmidt Impressão Gráfica e Editora GSA
Copyright © 2012. Todos os direitos desta edição estão reservados ao ne@ad. Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, transmitida e gravada, por qualquer meio eletrônico, por fotocópia e outros, sem a prévia autorização, por escrito, da Coordenação Acadêmica do Curso de Licenciatura em Educação Física, na modalidade a distância. A reprodução de imagens de obras em (nesta) obra tem o caráter pedagógico e cientifico, amparado pelos limites do direito de autor no art. 46 da Lei no. 9610/1998, entre elas as previstas no inciso III (a citação em livros, jornais, revistas ou qualquer outro meio de comunicação, de passagens de qualquer obra, para fins de estudo, crítica ou polêmica, na medida justificada para o fim a atingir, indicando-se o nome do autor e a origem da obra), sendo toda reprodução realizada com amparo legal do regime geral de direito de autor no Brasil.
Sumรกrio
APRESENTAÇÃO
06
INTRODUÇÃO
08
UNIDADE 1 O professor de educação física no Espírito Santo: o inventário das práticas
10
Apresentação da Pesquisa 1.1 Relatórios de Pesquisa Educação Física Escolar: reflexões sobre as condições de trabalho no município de Santa Maria de Jetibá/ES Condições de trabalho e carreira docente: problematizações acerca da Educação Física na Educação Básica no município de Santa Teresa/ES Aproximações com a realidade da Educação Física no município de Santa Maria de Jetibá/ES Condição e trabalho docente em Educação Física no município de Iconha/ES Trabalho docente em Educação Física no município de Alegre: desafios para a prática pedagógica
12 16 16
UNIDADE 2 A intervenção didático-pedagógica nas aulas de educação física
78
Apresentação 2.1 A Escola 2.2 O Planejamento 2.3 Objetivos de Ensino 2.4 Conteúdos de Ensino 2.5 Metodologia de Ensino 2.6 Avaliação
80 83 87 91 92 103 107
26 39 49 70
CONSIDERAÇÕES FINAIS 120 REFERÊNCIAS 121
Apresentação
Prezados(as) alunos(as)
Esta publicação expressa a continuidade do desenvolvi-
alunos e tutores. Esses relatórios revelam o processo de pes-
mento dos Estágios Supervisionados (Esup), inserindo-nos,
quisa e a análise dos dados sobre o trabalho dos professores
neste momento, no Estágio Supervisionado em Educação
de Educação Física de alguns municípios do Espírito Santo.
Física II. Ela se destina, em sua primeira unidade, a dar vi-
Na segunda unidade, intitulada “A intervenção didático-
sibilidade aos resultados da pesquisa “O Professor de Edu-
pedagógica nas aulas de Educação Física”, entramos nas di-
cação Física no Espírito Santo: inventário das práticas” e,
mensões constitutivas do ensino da Educação Física com
na sua segunda unidade, orientar as intervenções didático-
a perspectiva de planejar, implementar e avaliar, de forma
pedagógicas nas escolas-campo de estágio, no ano de 2012.
processual e dialógica, a prática pedagógica da Educação
Neste movimento, entrelaçamos uma perspectiva cola-
Física no contexto escolar.
borativa de produção do fascículo que revela, sobremaneira,
Portanto, os Estágios Supervisionados deste ano (II e III)
a importância dos Estágios na trajetória acadêmica e no
preveem a inserção político-pedagógica do aluno estagiário
trabalho docente na área da Educação Física. Estamos co-
na escola, sob a forma de análise, investigação, intervenção e
locando em diálogo as ações de pesquisa e de ensino e as
produção de conhecimentos relativos ao processo educativo
experiências de formação nos estágios.
e/ou à sua gestão com vista a articular, de maneira multidis-
Elaboramos um fascículo que inaugura uma concepção de registro compartilhada entre os atores do Estágio Supervisio-
ciplinar, os componentes curriculares da formação comum e os da formação específica com o exercício profissional.
nado, concretizando alguns dos princípios que defendemos ao
Isso quer dizer que, nesses Estágios, vamos ministrar au-
longo deste curso. Ou seja, o objeto do Estágio, materializado
las de Educação Física, exercer a docência, ampliar e apro-
pela pesquisa da realidade educacional e pelo ensino da Edu-
fundar nosso processo de constituição de professores nas
cação Física na vivência da aula universitária, constitui-se com
diferentes escolas deste Estado.
a produção de professores especialistas, tutores e alunos.
Estamos certos de que serão experiências significativas
Assim, neste fascículo, em sua primeira unidade, estão
para todos. Lembramos que estivemos e estaremos juntos
impressos cinco relatórios da pesquisa realizada, seleciona-
com vocês, buscando “resolver” nossas incertezas e cons-
dos por professores especialistas do conjunto produzido por
truir outras certezas provisórias.
Ana Claudia Silverio Nascimento Kezia Rodrigues Nunes Silvana Ventorim Wagner dos Santos
Introdução
Como vimos no fascículo da disciplina Esup I, o Estágio Supervisionado é um componente curricular obrigatório na formação docente. Dentre suas finalidades, destacamos como essencial a solidificação das experiências no campo de trabalho onde as vivências possibilitam a vocês um aprofundar de seus conhecimentos, oportunizando uma reflexão crítica acerca das práticas educacionais. Nessa perspectiva, buscamos uma diversidade de experiências que oportunizem uma reflexão crítica sobre/no contexto sociopolítico e pedagógico dos espaços de ensino, com vista à formação de um professor reflexivo, investigador de sua própria prática e que considere a totalidade de sua formação docente. Assim, o Estágio Supervisionado apresenta-se como um momento privilegiado da formação do professor e de exercitação da prática pedagógica. Nesse sentido, é visto, ainda, como a possibilidade de um pensar mais elaborado/sistematizado sobre o processo pedagógico (e a relação saber/fazer), sendo essa uma preocupação sistemática no currículo do curso, desde o seu início. Entretanto, para que essa prática atinja os objetivos propostos, é preciso que ela não se dê de forma meramente instrumental, mas que possibilite a vocês, por via da reflexão e da pesquisa de sua própria prática, criar autonomia pedagógica. O Estágio Supervisionado se fundamenta como um espaço/tempo de aprendizagem dos indivíduos envolvidos (professores, acadêmicos e comunidade escolar como um todo), em uma constante reflexão sobre a escola-campo e sobre a prática construída. Dessa maneira, a prática pedagógica na e da escola-campo será experimentada, aprendida e refletida pelos indivíduos que a produzem. Para tanto, estruturamos o Estágio de modo a integrar a prática e o estudo acadêmico fundamentado numa experiência docente que ocorre a partir da reflexão sobre a docência e as práticas escolares, considerando a inter-relação entre os processos de problematização da realidade educacional, de intervenção pedagógica e de pesquisa e produção de conhecimento sobre o/no cotidiano escolar no ensino da Educação Física.
Equipe de Estágio
1
O professor de educação física no Espírito Santo: o inventário das práticas
Apresentação da pesquisa A pesquisa intitulada “o Professor de Educação Física no Espírito Santo: inventário das práticas” objetivou conhecer o professor de Educação Física e analisar o trabalho docente nas diferentes dimensões que o constitui. Procuramos elencar dados sobre quem é o professor, onde e como se dá sua formação, em que condições realiza seu trabalho, como enfrenta as situações inerentes a ele. Ao pretendermos compreender como se organiza o trabalho do professor de Educação Física, constituímos uma amostra representativa das políticas de formação e carreira do docente (condições salariais e contratação), bem como das identidades e dos perfis dos profissionais docentes da nossa área em vários municípios do Espírito Santo. Essa foi uma atividade que concretizou o princípio da associação entre ensino e pesquisa com a perspectiva de formação do professor pesquisador na mediação do Estágio Supervisionado. Essa afirmativa se faz pela análise do processo e dos resultados da iniciativa ousada e corajosa em incluir uma pesquisa desse mote com a participação direta de vocês. Acreditamos na possibilidade que se fez sob a rigorosa e competente orientação dos tutores, sob a dedicação e compromisso de alunos. Nesse otimismo, sem dúvida, como pesquisadores na nossa própria prática, reconhecemos os limites, as angústias e os desafios acompanhados a cada dia por meio dos diálogos, das diferentes reações e manifestações, sobremaneira, dos silêncios concretizados no decorrer do Estágio Supervisionado I. Pela materialidade dos depoimentos expressos na plataforma, podemos perceber o nosso fazer a pesquisa, o nosso “ir a campo para fazer a pesquisa”. Pelos diálogos aqui trazidos, retomamos as experiências de formação ao dimensionarem as singularidades do processo, mas utilizamos as iniciais dos nomes para preservar a identidade dos participantes no fórum de desenvolvimento da disciplina Estágio Supervisionado I: Fiz todos os questionários, entrevistei professores de faixa etária diferentes e instituições, duas escolas municipais e duas escolas estaduais e uma escola da rede privada, para poder fazer uma comparação da realidade vivida por todos e suas angústias e expectativas. A dúvida é sobre a escola da rede particular. Há alguma objeção para o questionário, pois no mesmo não consta esta opção (RS).
12 Estágio Supervisionado 2
Precisamos do questionário preenchido a caneta e digitado. Embora essa tarefa possa ser repetitiva e causar estranhamento, queremos retomar a informação do ‘Manual do entrevistador’ postado na plataforma, pois ela é necessária para qualquer tipo de auditoria que nos seja solicitada pelo Comitê de Ética que trata da pesquisa científica na Ufes. O documento da pesquisa, ou seja, o questionário precisa ser preservado, por isso solicitamos na forma preenchida a caneta impressa e digitada. Estamos à disposição para outras informações (EQUIPE DE ESTÁGIO). Venho, através deste, informar sobre a situação do mapeamento de professores para o questionário. Sinceramente, a situação é frustrante, pois fomos em três (Eu, B e R), em cinco escolas hoje pela manhã e a resposta que obtivemos dos professores, em quatro delas, foi: ‘EU JÁ ESTOU RESPONDENDO O QUESTIONÁRIO’. Conseguimos fazer apenas uma entrevista. Resta-nos ir ao interior da cidade, mas corremos o risco de passar pela mesma situação, pois têm alunos por lá também. E daí, o que eu e companhia vamos fazer? Me responde o que vai acontecer com quem não atingir o número de entrevistados (BC). Olá! Já fiz duas entrevistas com professores da mesma escola, e já postei os dois questionários, pois, como ainda não trabalho em escola, fica um pouco demorado concluir as entrevistas, com isso irei a novas escolas esta semana! (AMPA). Olá, equipe do estágio, já estou em campo fazendo as minhas pesquisas. Estou sendo muito bem recebida pelos diretores e professores das escolas. As minhas entrevistas já estão sendo feitas junto aos professores e em breve espero estar postando-as Abraços! (MPB). Fui muito bem recebida pelos diretores e professores das escolas onde fiz minhas entrevistas, espero postá-las em breve (MPO). Bom-dia, obrigada pela informação. Esperamos cobrir o maior número de professores para termos uma visão quantitativamente consistente da realidade da Educação Física no nosso Estado. A organização para o desenvolvimento desta atividade ficou sob a responsabilidade de vocês, e sentimos que, em alguns casos, o planejado não foi concretizado. Buscamos ao máximo orientá-los para que fundamentássemos todas as nossas ações, especialmente porque nelas es-
Unidade 1 O professor de educação física no Espírito Santo: o inventário das práticas 13
tão envolvidos a instituição escola e o professor. Temos o dever de sempre estar preparados para qualquer intervenção na escola. Esse é um dos nossos compromissos [...]. Vamos em frente e contamos sempre com a participação de vocês. Abraços! (EQUIPE DE ESTÁGIO). Prezada ML, apesar de a turma escohida por você ter apenas uma aula por semana, converse com o professor/escola para que possa acompanhar outra turma ou o seu planejamento. Compreendemos que o período de aproximação da escola-campo de estágio é de fundamental importância para que conheça as suas peculiaridades, os sujeitos e sua organização. Assim, o momento deve ser aproveitado para que você se aproxime dessa realidade, perceba como a organização do tempo e do espaço escolar interfere na formação dos sujeitos e também para que conheça elementos da prática pedagógica do professor. Sucesso! (EQUIPE DE ESTÁGIO).
Dentre os relatórios produzidos, selecionamos cinco textos, pois, além de atenderem às orientações para sua produção, revelam importantes informações sobre o trabalho do professor de Educação Física em nosso Estado. Nesse sentido, compreendemos que, ao revelar essas características – do professor e de sua prática – a pesquisa cumpriu papel fundamental na inserção de vocês no cotidiano das escolas, na medida em que propiciou a aproximação dos diferentes sujeitos e das diferentes realidades. Nesse exercício, permitimo-nos pensar sobre as possibilidades e realidades do trabalho como professor de Educação Física. Os sujeitos aqui representados, por meio de suas respostas, permitemnos travar um diálogo com as diferentes experiências que foram construídas ao longo do tempo, de diferentes maneiras. Nesse sentido, a pesquisa possibilita esse nosso olhar um pouco mais distanciado e objetivado desse sujeito e de sua prática a fim de que, na reflexão e análise dessa prática, possamos ressignificar nossos saberes/fazeres docentes. Assim, a dedicação de cada um de vocês na realização da pesquisa construiu, mais do que a possibilidade de conhecermos as escolas e os professores, a possibilidade de pensarmos/refletirmos sobre as características, peculiaridades, particularidades e intensidades que compõem o trabalho docente em Educação Física. Ao tomarmos contato com os relatórios produzidos, as incertezas, presentes no momento de realização da pesquisa, deram lugar a um sentimento de satisfação e reconhecimento de que o trabalho proposto tinha
14 Estágio Supervisionado 2
alcançado seu objetivo: a aprendizagem construída por meio da colaboração/parceria e pela história de outros professores. A aprendizagem construída por uma escuta atenciosa e cuidadosa que nos permite compreender os desafios postos, todos os dias, para nós, professores e, sobretudo, aprender de outras maneiras. Assim, esperamos que vocês tenham produzido leituras, interpretações, reflexões que os aproximem/distanciem/aproximem do exercício de ser professor, tendo sempre a percepção de que o processo de criação e recriação docente é inacabado. Com isso, colocamos em análise o processo de pesquisa e os seus resultados, o que exige o questionamento sobre o seu significado formativo e sua validade acadêmico-científica. Os resultados, na potência da formação pela pesquisa e da produção compartilhada, estão a seguir em evidência para serem socializados e analisados.
1.1 Relatórios de pesquisa Educação Física Escolar: reflexões sobre as condições de trabalho no município de Santa Maria de Jetibá/ES Jean Fabian Freire1 Mariana Pozzati2
Introdução Esta pesquisa foi desenvolvida como requisito parcial para aprovação na disciplina Estágio Supervisionado I e objetivou investigar quem são e em que condições os professores de Educação Física realizam seu trabalho nas escolas de Educação Básica do Espírito Santo. Por meio da utilização de um questionário com 43 questões, foi possível identificar e conhecer alguns dos professores de Educação Física que atuam no município de Santa Maria de Jetibá, no que concerne à sua formação inicial e continuada, carreira docente, condições de trabalho, controle sobre o trabalho, espaço físico onde atuam e outros aspectos. Entrevistamos cinco professores de Educação Física em escolas municipais e estaduais de Santa Maria de Jetibá. Cada conversa durou, em média, 30 minutos. Percebemos que alguns professores dividiam esse tempo para responder às questões e, também, para falar das alegrias e tristezas que permeiam sua prática docente. Houve ainda aqueles que não se estenderam no diálogo e responderam, pontualmente, somente o que lhe era perguntado. A seguir, apresentamos e discutimos alguns dos dados produzidos com a investigação, de acordo com o que encontramos na realidade profissional dos professores de Educação Física que atuam naquele município.
Apresentação e discussão dos dados Dos cinco professores que entrevistamos, quatro são do sexo feminino e um do sexo masculino, conforme é possível observar no gráfico a seguir:
1 Aluno do curso Pró-Licenciatura em Educação Física do Polo de Santa Teresa. 2 Tutora presencial do Polo de Santa Teresa.
16 Estágio Supervisionado 2
4 3 2
Feminino Masculino
1
Gráfico1 - Quantitativo de professores por sexo
A idade média dos entrevistados é de 31 anos. Quanto ao segmento da Educação Básica em que atuam, uma das professoras trabalha com Educação Infantil, três atuam tanto no Ensino Fundamental na primeira (1ª ao 5ª ano) e na segunda etapas (6ª ao 9ª ano), quanto no Ensino Médio, e um trabalha com alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA). Quanto à formação, o questionário priorizou informações sobre a formação inicial dos professores e especializações realizadas. Assim, uma professora cursou Pedagogia, em uma instituição pública federal, e os outros quatro fizeram o curso de Educação Física em instituições particulares. Percebemos que os cinco professores possuem Pós-Graduação lato sensu e desses dois realizaram especialização em Educação Física Escolar, uma em Inclusão e Artes na Educação, uma em Psicomotricidade e uma em Educação Especial. Quanto à formação continuada, os cinco professores participaram de cursos no último ano, sendo quatro promovidos pela Secretaria Municipal de Educação e um pela Secretaria Estadual de Educação. A internet apareceu como uma ferramenta utilizada com frequência pelos professores. Apenas um indivíduo disse que não costuma acessá-la. Compartilhamos da ideia de que a formação do professor não acontece apenas na formação inicial, mas também no desenvolver de sua prática pedagógica. Assim, de acordo com Nóvoa, citado por Ventorim et al. (2011, p. 21-22), A formação deve estimular a perspectiva crítico-reflexiva, de forma ‘[...] que forneça aos professores os meios de um pensamento autônomo e que facilite dinâmicas de autoformação participativa’, implicando investimento pessoal, construção de uma identidade profissional, interação entre dimensões pessoais e profissionais e doação de um estatuto ao saber da experiência.
Unidade 1 O professor de educação física no Espírito Santo: o inventário das práticas 17
Para a questão “Que professores queremos ser?”, podemos encontrar diversas respostas, porém devemos estar atentos para a responsabilidade histórica que a profissão professor de Educação Física carrega, pois cada professor possui uma história de vida e uma formação diferente (VENTORIM et al., 2011), e esse tornar-se professor de Educação Física é, também, perpassado pelo viver, compreender e atender às características próprias da área. Segundo Figueiredo (2009, p. 13), Pensar a formação do professor de Educação Física requer pensar em problemas comuns da área, tais como: ausência de uma identidade profissional específica; falta de clareza acerca do seu objeto de estudo; tendência por uma formação que favorece a fragmentação do conhecimento; valorização de disciplinas de cunho biológico em detrimento do conteúdo disciplinar das ciências humanas; ênfase na formação técnico-esportiva, entre outros.
Ao considerar o hábito de leitura, dois professores não costumam ler livros de romances e literatura em geral. Um lê sempre e dois leem às vezes. Além disso, os livros didáticos parecem pouco utilizados, já que quatro professores leem às vezes e apenas um lê sempre. Os artigos de revistas acadêmicas são lidos, com frequência, por apenas um professor, enquanto três leem às vezes e um não lê. Em relação à carreira docente, a média de tempo que os professores trabalham na educação é de dez anos e seis meses. Destacamos que um dos professores trabalha há 24 anos na rede pública, sendo oito anos e nove meses na escola onde foi realizada a pesquisa. O professor que tem menos tempo de serviço na rede pública de ensino atua no campo da educação há dois anos e nove meses e estava há nove meses na escola onde foi entrevistado. Quanto ao vínculo com a instituição de ensino, três professores são efetivos em seus empregos e dois possuem contrato de trabalho temporário, como demonstrado no gráfico a seguir:
18 Estágio Supervisionado 2
4 3 2
Efetivos Temporários
1
Gráfico 2 - Vínculo empregatício dos professores de Educação Física
O tempo de serviço e a titulação aparecem como os elementos mais relevantes no plano de cargos e salários e apenas dois professores disseram estar contemplados nesse plano. A média de salário recebido pelos professores, referente à atuação nas escolas que participaram da pesquisa, girou em torno de três a quatro salários mínimos (salário-base R$ 545,00). A renda familiar dos entrevistados era em média de quatro a cinco salários mínimos. Quatro deles eram o principal provedor de renda da sua casa. Dois professores trabalham também em outra instituição educacional e os outros três atuam em apenas uma. Somente duas professoras apontaram desenvolver atividade remunerada que não seja ligada à educação. A renda média nesse emprego é de apenas um salário mínimo. Ainda que apenas três dos entrevistados atuem em mais de uma escola, quando observamos o turno de trabalho, percebemos que quatro trabalham no período da manhã e da tarde; um durante a tarde e a noite. O professor que possui a maior carga horária na mesma escola trabalha 50 horas semanais, e o que tem menor carga horária trabalha 22 horas semanais. Como todos os professores atuam em mais de um turno, outra questão investigada foi sobre o tempo que eles possuem para o almoço. Percebemos que os quatro professores que trabalham o dia todo têm, em média, 40 minutos para realizar essa refeição. A média de tempo remunerado para que eles se dediquem às atividades extraclasse, como planejamentos, estudos e avaliação, é de cinco horas semanais, e as suas turmas têm, em média, 26 alunos. Todos os professores foram unânimes em relatar que as atividades com os alunos é o que mais ocupa seu tempo na escola. O espaço destinado à prática da Educação Física foi uma questão que nos angustiou, pois sabemos que nossa área requer espaços e materiais diferenciados e que, em cidades do interior, isso é um dificultador do trabalho dos professores. Em relação a esses espaços, quatro escolas pos-
Unidade 1 O professor de educação física no Espírito Santo: o inventário das práticas 19
suem pátio, três têm quadra coberta e campo de areia. Ficamos mais aliviados depois de conhecer as respostas. Apesar da baixa recorrência, um ponto nos chamou atenção e surpreendeu nas respostas obtidas: um professor relatou que presenciou o tráfico de drogas nas instalações da escola onde leciona. Ainda sobre consumo de bebidas alcoólicas e drogas dentro da escola, quatro professores afirmaram não terem visto nenhum tipo de uso por parte dos alunos. Quando o assunto é vandalismo, quatro professores afirmaram que nunca presenciaram esse tipo de atitude dentro da escola, e apenas um disse que às vezes isso acontece. Até o momento, relatamos alguns aspectos das condições de trabalho dos professores de Educação Física de Santa Maria de Jetibá e sabemos que essas condições são impactantes no desenvolvimento de sua prática docente. Dessa maneira, pensar sobre a prática pedagógica requer dos professores reflexão constante sobre suas ações, pois não basta reproduzir o que aprenderam didaticamente. Torna-se necessário, então, refletir constantemente sobre o conteúdo que desenvolvemos durante as aulas, buscando dar sentido e significado àquilo que acreditamos. Além disso, A prática pedagógica de qualquer professor estará sempre contaminada (no bom sentido) pelas concepções e de idéias que determinam suas ações. Elas dizem respeito ao conteúdo que o professor seleciona para ensinar, como a aprendizagem acontece e qual caminho deve trilhar para ensinar (PASSAMAI; DUARTE, 2010, p. 20).
Nesse contexto, no que se refere ao domínio dos conteúdos ensinados, quatro professores relataram que se sentem preparados e um apenas se sente despreparado. Todos afirmaramm ter uma boa comunicação com os alunos tanto dentro quanto fora de sala, e apenas uma professora disse perceber-se despreparada para utilizar as novas tecnologias (computadores, data-show, recursos eletrônicos, entre outros). Os professores informaram que os pais colaboram com a escola quando necessário, e também disseram que o trabalho em equipe é de suma importância para o bom andamento das disciplinas, pois, quando há a cooperação entre os professores, as coisas ficam mais fáceis de serem resolvidas. Em relação aos espaços físicos para o desenvolvimento das aulas, três professores afirmaram que o local é regular e, quanto à ventilação, iluminação e materiais pedagógicos nesses locais, a maioria indicou ser bom, pois atendem às necessidades dos educadores. Somente uma professora
20 Estágio Supervisionado 2
reclamou do ruído próximo à escola, alegando que a atrapalha na comunicação com seus alunos. Ao mesmo tempo em que os professores afirmam ter muito a contribuir com a educação, dizem se sentirem frustrados com o seu trabalho. Entretanto, percebemos que essa frustração não compromete seus anseios e vontade de estar na profissão, pois três professores disseram que não pensam em parar de trabalhar com a educação, afirmando que esse campo lhes proporciona grandes satisfações. Refletindo sobre a frustração apontada por alguns professores, nos diálogos que complementavam a resposta de uma questão e outra do estudo, percebemos que falta de apoio das pedagogas e das diretoras das escolas e a falta de recursos materiais e de espaço físico para desenvolverem suas aulas são alguns dos motivos que contribuem para essa situação. Dos professores entrevistados, dois afirmaram ter muito controle sobre o conteúdo ensinado, enquanto os outros três disseram ter um controle razoável, como demonstrado abaixo.
40% 60%
Razoável Muito controle
Gráfico 3 - Controle dos professores sobre os conteúdos ensinados
Já na escolha do material didático, somente uma professora disse ter pouco controle, dois afirmaram ter muito controle e outros dois relataram ter controle razoável. Acreditamos que essa escolha é de extrema importância para o bom andamento da aula, pois, com tantos recursos disponíveis, temos que saber utilizá-los da melhor forma possível. Com isso, as aulas ficam mais atrativas e interessantes aos alunos, estimulando o processo de ensino e aprendizagem. Quando os professores foram questionados sobre os conteúdos de ensino que ministram na escola, as respostas foram semelhantes. A maioria trabalha com esporte, dança, jogo, brincadeira e ginástica, e somente uma professora trabalha com lutas, arte circense e alimentação com seus alunos. Essa mesma professora foi premiada com seu projeto sobre alimentação, na “Feira Científica Cultural” da cidade, fato que a deixou muito
Unidade 1 O professor de educação física no Espírito Santo: o inventário das práticas 21
feliz por conseguir demonstrar, por meio do seu trabalho a importância da disciplina Educação Física para a vida dos alunos. A professora que trabalha com a Educação Infantil desenvolve com seus alunos recreações, teatro, manuseio com materiais diversos, entre outros. Os professores que trabalham com o Ensino Fundamental utilizam jogos, brincadeiras, dança, ginástica, expressão corporal e esportes. E os professores que trabalham com o Ensino Médio também desenvolvem jogos, dança, esportes e ginástica. Também percebemos a preocupação dos professores com os imprevistos que podem comprometer seu trabalho. Sabemos que qualquer profissional pode se deparar com situações delicadas, que carecem de decisões rápidas para o bom andamento dos negócios ou das aulas. Dentre os exemplos que aparecem nas falas dos professores, citamos: quando o professor planeja sua aula para um ambiente aberto e chove; ou quando falta material didático e ele tem que tomar decisões rápidas para que sua aula ocorra normalmente. Os professores demonstraram consciência da interferência desses fatos no desenvolvimento das suas aulas e colocaram que se sentem constantemente desafiados. Dessa maneira, percebemos que a mobilização de saberes advindos da experiência profissional foi citada como uma forma de solucionar e mediar esses problemas, indo ao encontro do que defendem Bracht et al. (2010, p. 12). [...] Ao longo de nossa atividade profissional, vamos construindo um conhecimento (um saber profissional) que vai se construir como um conjunto de verdades, de nossas verdades (convicções). Elas nos orientam, mais ou menos conscientemente, nas decisões que tomamos na prática. Essas verdades ou convicções nem sempre se baseiam em conhecimentos científicos, mas, muitas vezes, também neles.
Quanto aos procedimentos de ensino, os professores afirmam levar em consideração as experiências culturais dos alunos, além de problematizar os conteúdos que estão sendo desenvolvidos com eles. Somente uma professora disse que os alunos não constroem a aula com ela, pois são alunos da Educação Infantil, e por isso fica difícil essa construção em conjunto devido a pouca maturidade deles. Quando o assunto foi avaliação, os cinco foram unânimes em esclarecer que avaliam a participação e o interesse dos alunos, a frequência nas aulas, o respeito às regras, aos colegas e ao professor, o aprendizado dos
22 Estágio Supervisionado 2
conteúdos e dos movimentos específicos dos esportes, jogos, ginástica, e também avaliam a melhoria no desempenho motor dos alunos. Entendemos a avaliação como uma via de mão dupla do processo de ensino e aprendizagem, pois [...] um professor, ao avaliar o seu aluno, deve também avaliar a sua própria forma de inserção na sociedade, o seu papel, as suas condições de trabalho, a sua formação, a sua metodologia, os recursos por ele utilizados em sala de aula. A avaliação transforma-se em conhecimento da realidade, e neste sentido é fundamental que o professor se preocupe em analisar o aluno numa perspectiva ampla, exigindo para isso a utilização de atividades de ensino que permitam uma participação coletiva efetiva, através da utilização de formas variadas de expressão (DALBEN, apud VENTORIM et al., 2011, p. 53).
Dos instrumentos que os professores utilizam para avaliar, quatro usam utilizar fichas de avaliação, observação, trabalhos em grupo e avaliações teóricas. A professora que atua na Educação Infantil adota fichas, desenhos, registros em fotografias, observação e portfólios como instrumentos de avaliação de seus alunos. Quanto à relação professor-aluno, um dos professores relatou sentir dificuldade em motivar seus alunos, pois eles só querem jogar bola durante as aulas e quando a professora propõe outra atividade que não seja futebol, encontra resistência por parte dos alunos. Essa professora disse que sente um pouco de medo de seus alunos, pois ministra aulas para alunos do Ensino Médio, e alguns já se sentem no direito de escolher o que querem fazer durante as aulas, isso sem falar nos problemas familiares e de disciplina que eles possuem. Indo de encontro a essas situações, quatro professores relataram que os alunos respeitam muito a autoridade deles, por isso eles se veem como pessoas que desempenham um papel importante sobre o futuro dos seus alunos. Refletindo sobre os dados apresentados, acreditamos que uma das funções do professor é contribuir na formação dos alunos nos aspectos, cognitivo, social, afetivo, cultural, motor, entre outros. Quando questionados sobre a frequência com que discutem o projeto pedagógico da escola, apenas uma professora afirmou que costuma discutir com frequência este tema, e outras duas relataram que raramente discutem com seus colegas de trabalho.
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Em relação à troca de experiências sobre os métodos e conteúdos de ensino, duas professoras disseram que raramente trocam experiências com os demais colegas, e outros dois professores relataram trocar experiências com freqüência, em suas respectivas escolas, com seus pares. Ao serem abordados sobre a importância da Educação Física para a formação de seus alunos, suas respostas foram similares. Os professores foram unânimes em dizer que a Educação Física promove o desenvolvimento integral e valores atitudinais, prepara os alunos para serem cidadãos responsáveis e os educa segundo valores e normas sociais, como ganhar e perder, respeitar as regras e o próximo. Eles também relataram que essa disciplina faz com que os alunos adquiram conhecimento sobre a cultura corporal de movimento. Concordamos com os professores entrevistados em relação à importância da Educação Física para a formação dos alunos, pois nossa disciplina contribui diretamente para o desenvolvimento integral do educando em diferentes aspectos: cognitivo, social, afetivo, motor, cultural.
Considerações finais Ao analisar os dados coletados, pudemos conhecer um pouco mais sobre as condições de trabalho e o cotidiano dos professores de Educação Física do município de Santa Maria de Jetibá. Concordamos com algumas respostas encontradas nos questionários, por exemplo: “Eu me vejo como uma pessoa que tem um papel importante sobre o futuro dos meus alunos”, e “Sinto que tenho muito a contribuir na educação dos mesmos”. Outros pontos importantes citados pelos professores com os quais concordamos são: “A Educação Física promove o desenvolvimento integral dos alunos, promove valores atitudinais”; contribuiu para que os alunos “[...] adquiram conhecimento sobre a cultura corporal de movimento” e “Educa os alunos segundo normas e valores sociais como ganhar e perder, respeitar as regras e o próximo”. Foi muito importante para nossa formação realizar este estudo com professores de Educação Física de Santa Maria de Jetibá, pois, por meio de suas respostas, foi possível, além de uma aproximação, conhecer um pouco mais sobre a realidade da Educação Física nas escolas onde futuramente, poderemos atuar. Gostaríamos de finalizar agradecendo a participação de todos os professores e diretores que colaboraram com a realização desta pesquisa, pois sem o consentimento dessas pessoas, não teríamos conseguido concluir nosso trabalho.
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REFERÊNCIAS BRACHT V.; GOMES, I. M. Pesquisa e docência em educação física. Vitória: Ufes, Núcleo de Educação Aberta e a Distância, 2010. FIGUEIREDO, Z. C. C. Educação física, formação docente e currículo. Vitória: Ufes, Núcleo de Educação Aberta e a Distância, 2009. PASSAMAI, M. H. B.; DUARTE, L. M. S. Didática. Vitória: Ufes, Núcleo de Educação Aberta e a Distância, 2010. VENTORIM, S. et al. Estágio Supervisionado I. Vitória: Ufes, Núcleo de Educação Aberta e a Distância, 2011.
Condições de trabalho e carreira docente: problematizações acerca da Educação Física na Educação Básica no município de Santa Teresa/ES Raynner Martinho Barcelos3 Mariana Pozzatti4
Introdução A disciplina Estágio Supervisionado I (Esup I), ministrada pelos professores Silvana Ventorim, Ana Claudia Silverio Nascimento, Kezia Rodrigues Nunes e Wagner dos Santos, integrou as disciplinas do semestre 2011/2, Módulo VI (6º semestre) do Curso de Licenciatura em Educação Física, Modalidade EAD, Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Junto com ela veio mais uma possibilidade de adentrar no universo escolar, pois, dentre suas propostas, fomos convidados a realizar a pesquisa de campo intitulada “O professor de Educação Física no Espírito Santo: inventário das práticas”. Essa pesquisa foi desenvolvida em municípios do Espírito Santo objetivando conhecer quem é o professor de Educação Física atuante nas escolas públicas do Estado e sua prática docente. Fundamentou-se em um questionário composto de 43 questões. Escolhemos cinco escolas do município de Santa Teresa — quatro vinculadas à rede municipal e uma à rede estadual de ensino. O contato com as instituições foi marcado por alguns acontecimentos que consideramos relevantes. Primeiro, acreditamos que o envolvimento do aluno com o Projeto Educarte — “Educação e Arte na Formação de Cidadãos para o Mundo” — na modalidade de karatê, em parceria com a Prefeitura Municipal, talvez tenha facilitado o acesso às escolas. Segundo, no momento da apresentação “Sou aluno da Ufes, do Curso de Licenciatura em Educação Física etc.”, foi possível perceber um certo desconhecimento e, ao mesmo tempo, curiosidade, em relação ao curso presente em nosso município. Também houve situações em que foi preciso explicar como é possível fazer um curso de formação de professor para atuar na Educação Física, a distância. Terceiro, em geral, percebemos que a ida a campo despertou curiosidade, anseios em relação à instituição escola, principalmente, no que se relaciona com o planejamento na instituição, dinâmica das aulas, projetos pedagógicos, ou seja, muitos aspectos que, possivelmente, serão elucidados no transcorrer do estágio. 3 Aluno do curso Pró-Licenciatura em Educação Física do polo de Santa Teresa. 4 Tutora presencial do polo de Santa Teresa.
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Apresentação e discussão dos dados A aproximação com a realidade da escola pode nos auxiliar na construção do saber/fazer de nossa prática pedagógica, proporcionando contribuições significativas para a promoção da nossa identidade docente. Ao discutirem a relevância do Estágio para a formação do futuro professor, Ventorim et al. (2011, p. 16) nos mostram que [...] Os Estágios têm como objetivos, dentre outros aspectos, a observação, o planejamento, a intervenção e a avaliação de ações pedagógicas nas escolas, indicando uma aproximação importante do licenciado com a realidade de sua atuação profissional.
Segundo a Resolução CNE/CP nº. 2, de 2002; Resolução nº. 75, de 2010, Em âmbito legal, o Estágio é considerado como ato educativo escolar supervisionado, um momento desenvolvido em ambiente de trabalho, que visa a preparar os/as educando/as para a atividade profissional e cidadã (Lei nº 11.788). O Estágio, que ocorre nas modalidades obrigatório e não obrigatório, refere-se a uma das dimensões da formação superior e compõe o Projeto Pedagógico dos Cursos (PPCS) de Licenciatura e Graduação da Ufes. A Resolução nº 74/10 dessa Universidade institui como obrigatório o Estágio Supervisionado curricular cuja carga horária é requisito para aprovação e obtenção do diploma [...] as disciplinas de Estágio Supervisionado devem ser ministradas apenas a partir da segunda metade do curso e precisam contemplar a carga horária de 400 horas (VENTORIM et al., 2011, p. 18).
Dessa forma, entendemos o Estágio como mais uma etapa importante da carreira do professor, tanto na construção do conhecimento como da constituição de sua identidade docente. Além das vivências que colaboram para a constituição da identidade docente, outro elemento que podemos citar como relevante nesse processo de busca de identidade docente é a pesquisa, entendida como uma significativa ferramenta que auxilia nesse processo, pois contribui para a reflexão sobre a prática, resultando em novos conhecimentos. Assim, as orientações e propostas da disciplina Estágio Supervisionado I nos levaram ao primeiro contato com as escolas que, no próximo semestre, constituirão a escola-campo do estágio, tornando essa aproximação com o universo escolar ainda mais relevante para nossa formação. Passaremos,
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então, a dialogar com os dados coletados, fazendo uma relação com algumas disciplinas anteriormente estudadas no Curso de Formação Inicial.
Identificação do(a) professor(a) Em relação ao número de professores pesquisados, foi possível alcançar cinco indivíduos, conforme proposta da disciplina. Foram três professores do sexo masculino e dois do sexo feminino, como demonstrado no Gráfico 1, com idade média de 30,8 anos.
4 3 2
Homens Mulheres
1
Gráfico 1 - Distribuição dos professores entrevistados segundo o gênero
Em relação à etapa/segmento da Educação Básica em que os docentes atuam na escola pesquisada, identificamos que dois trabalham em apenas uma etapa (Educação Infantil e outro no Ensino Fundamental). Dos demais, um atua no Ensino Fundamental (5º ao 9º ano) e no Ensino Médio; outro no Ensino Fundamental (1º ao 9º ano); e o outro na Educação Infantil (0 a 5 anos).
Formação O processo de formação docente se dá por meio de inúmeros fatores e aspectos que permitem a construção de uma identidade profissional de forma que Ventorim et al. (2011, p. 41) afirmam que “[...] Nos constituímos sujeitos professores por um processo contínuo, pela elaboração de saberes na reflexão coletiva, nas várias formas de interação em que os sujeitos se modificam e podem gerar conceitos e vínculos”. Figueiredo (2009) apresenta fundamentos importantes sobre o processo constitutivo da docência, afirmando que [...] o processo identitário que se constrói, a partir de: 1) de significação social da profissão; 2) da revisão dos seus significados sociais; 3) da revisão das tradições; e 4) da reafirmação de práticas consagradas
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culturalmente. Além disso [...] essa identidade se constrói pelo significado que cada professor confere à atividade docente em seu cotidiano. Esse processo de construção de identidade é mediado pelos seguintes saberes: a experiência, o conhecimento e os saberes pedagógicos (FIGUEIREDO, 2009, p. 10).
Nesse contexto é que o professor, no decorrer de sua vida, tem a oportunidade de vivenciar diversas situações que formam sua personalidade, sua identidade e que irão interferir diretamente na sua atuação pessoal e profissional. Nesse sentido, Ventorim et al (2011) contextualizam e orientam que devemos nos preocupar com a formação de um professor possuidor de uma identidade coletiva, com uma formação aprimorada que lhe possibilite vivenciar e compreender o ecossistema comunicativo em que estamos inseridos, um professor autônomo, pesquisador e consciente das implicações sociais de sua prática. Na tentativa de nos mobilizar quanto à formação identitária do docente, Figueiredo (2009) traz algumas características dos saberes da docência (a experiência, o conhecimento e os saberes pedagógicos). Porém, ressalta que, por si sós, eles, em sua singularidade, não definem única e exclusivamente a identidade profissional, e a docência é um campo muito amplo da ciência humana. Mas, afinal, quais os saberes que constituem a docência? Como já mencionamos, Figueiredo (2009) afirma que são três. Quanto ao saber da experiência, a autora discute que Quando os alunos chegam ao curso de formação inicial, já têm saberes sobre o que é ser professor. Os saberes de sua experiência de alunos foram de diferentes professores em toda sua vida escolar. Experiência que lhe possibilita dizer quais foram os bons professores, quais eram bons em conteúdo, mas não em didática, isto é, não sabiam ensinar. Quais professores foram mais significativos em suas vidas [...] contribuíram para sua formação humana. O desafio, então, posto aos cursos de formação inicial, é o de colaborar no processo de passagem dos alunos de seu ver o professor como aluno ao verse como professor. Isto é, de construir a sua identidade de professor. Para essa transição, os saberes da experiência não bastam (FIGUEIREDO, 2009, p. 11).
Quanto aos saberes advindos do conhecimento, a autora diz:
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Conhecimento não se reduz à informação. Esta é um primeiro estágio daquele. Conhecer implica em segundo estágio: o de trabalhar com as informações, classificando-as, analisando-as e contextualizando-as. O terceiro estágio tem a ver com a inteligência, a consciência ou sabedoria. Ou seja, conhecer significa estar consciente do poder do conhecimento para a produção da vida material, social e existencial da humanidade. [...] então parece-nos que a escola (e os professores) têm grande trabalho a realizar com as crianças e jovens, que é proceder à mediação entre a sociedade da informação e os alunos, no sentido de possibilitar-lhes pelo desenvolvimento da reflexão adquirirem a sabedoria necessária à permanente construção do humano (FIGUEIREDO, 2009, p. 12).
Já quanto aos saberes pedagógicos, Houssaye (1995), citado por Pimenta (2000, p. 24), aponta como caminhos de superação que nos empenhamos em construir os saberes pedagógicos a partir das necessidades pedagógicas postas pelo real, para além dos esquemas apriorísticos das ciências da educação. Trata-se, portanto, de reivindicar os saberes pedagógicos a partir da prática social da educação. Nas práticas docentes, estão contidos elementos extremamente importantes, como a problematização, a intencionalidade para encontrar soluções, a experimentação metodológica, o enfrentamento de situações de ensino complexas, as tentativas mais radicais, mais ricas e mais sugestivas de uma didática inovadora, que ainda não está configurada teoricamente (FIGUEIREDO, 2009, p. 12).
Uma vez mobilizados e conscientes da contextualização dos saberes que constituem a formação docente, podemos, então, analisar criticamente o nosso real papel na escola e na formação dos nossos alunos. Uma prática crítico-reflexiva nos proporciona estar constantemente analisando o universo escolar de forma a modificar nossa atuação como docente, permitindo-nos olhar de forma abrangente aspectos e ocasionalidades que perpassam nossas aulas. Podemos dizer que essa postura crítico-reflexiva não surge repentinamente, muito menos se procede de forma isolada; ela vem circundada por fatores que permitem a criação da autonomia docente. Nóvoa, citado por Ventorim et al. (2011, p. 21-22), mostra-nos que a formação deve estimular a perspectiva crítico-reflexiva de forma “[...] que forneça aos profes-
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sores os meios de um pensamento autônomo e que facilite dinâmicas de auto-formação participativa”, implicando investimento pessoal, construção de uma identidade profissional, interação entre dimensões pessoais e profissionais e doação de um estatuto ao saber da experiência. Segundo Ventorim et al. (2011), é necessário, portanto, pensar em uma formação que estimule e prepare professores reflexivos, investigadores e construtores do currículo. Embasados nos conhecimentos que constituem a formação docente e sua prática, buscamos informações sobre formação acadêmica dos professores participantes do estudo. Em relação à formação acadêmica e à área de curso superior, os cinco professores têm, no mínimo, licenciatura na área de Educação Física, e um deles possui, também, bacharelado. Quanto à formação em nível de especialização, temos a seguinte distribuição (Gráfico 2). Educação Física Escolar Educação Física Escolar; Psicomotricidade Educação Física Escolar; Qualidade de Vida; Esporte de Aventura Educação Física Escolar; Fisiologia do Exercício
4 3 2 1
Número de Professores Gráfico 2 – Distribuição dos professores por área de especialização
Como apresentado, dos cinco entrevistados, quatro possuem PósGraduação lato sensu em Educação Física Escolar. Desses, três fizeram, também, outro curso de especialização: um em Psicomotricidade; um em Qualidade de Vida e Esporte de Aventura; e um em Fisiologia do Exercício. Em relação à formação continuada que os docentes participaram no último ano, observamos que todos os pesquisados participaram de alguma atividade: dois participaram de cursos promovidos apenas pela Secretaria Municipal de Educação e três de atividades oferecidas pela Secretaria Municipal de Educação e pela Secretaria Estadual de Educação.
Carreira docente A carreira docente é hoje vista por muitos como uma profissão não apenas desafiadora diante do seu papel de transformar os indivíduos e o meio social à sua volta, mas também desvalorizada financeiramente, o
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que resulta em certas frustrações. Mesmo sendo o professor um agente transformador da sociedade, seus padrões salariais desestimulam cada vez mais o profissional, tornando mais evidente pensar que ser professor não é uma fácil tarefa. Em função disso, a complementação de renda é um fator comum entre os professores. No que diz respeito ao exercício de alguma atividade remunerada em outro setor que não seja ligado à educação, apenas um professor pesquisado não possui outra atividade. As atividades exercidas em outros setores são: trabalho rural, comercial, aula de ginástica laboral e hidroginástica. No que diz respeito ao tempo que atuam na área de educação, todos os pesquisados trabalham há pelo menos um ano na área. Entre eles, a média de atuação é sete anos e sete meses, e o período de um ano foi o menor tempo. Já o período de 27 anos e 6 meses foi o maior tempo de atuação. Quanto ao tempo que trabalham com a educação na rede pública, todos os pesquisados possuem o mesmo tempo na rede pública, quando comparado com o tempo de atuação na educação. Portando, observa-se que todos os pesquisados iniciaram a carreira atuando na rede pública de ensino. No que diz respeito ao vínculo de trabalho com a escola pesquisada, observamos que dois professores possuem vínculo como efetivos/concursados. Um deles é efetivo/concursado pela Secretaria Municipal e o outro pela Secretaria Estadual de Educação. Os outros três possuem vínculo do tipo contrato designado (DT), todos vinculados à Secretaria Municipal de Educação.
Condições de trabalho As instituições escolares, principalmente as públicas, carecem hoje de espaços físicos adequados à prática da Educação Física, e não apenas isso, pois os materiais disponibilizados para as aulas também são precários e em determinados casos/instituições, são inexistentes. A rotina dos professores, a necessidade de cumprir sua carga horária e jornada de trabalho semanal em diversas turmas e, às vezes, em diferentes etapas da Educação Básica, as atividades extraclasse, as turmas com número elevado de alunos e o pouco tempo para planejamento são alguns dos problemas enfrentados pelos professores em seu cotidiano. Diante de inúmeras dificuldades encontradas e vivenciadas pelos professores, tanto em aspectos pessoais como no cotidiano escolar, identificamos que, dos cinco professores entrevistados, apenas um atua em duas instituições escolares. Quanto ao turno de trabalho nas instituições pesquisadas, quatro exercem suas funções nos turnos matutino e vespertino e apenas um atua nos
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turnos matutino, vespertino e noturno. O tempo destinado à refeição/almoço é, em média, de 40 minutos, trinta minutos foi o menor tempo apontado por eles e uma hora o maior tempo. Em relação à carga horária semanal de trabalho na instituição/escola pesquisada, observamos que 37,4 horas é a média semanal dos professores. Aproximadamente 30 horas foi a menor carga horária encontrada e 40 horas foi a maior. No que diz respeito ao tempo remunerado para atividades extraclasse (estudos, planejamento e avaliação, atendimento aos alunos/crianças, preparação de aulas, correção de trabalhos, pesquisas, reuniões pedagógicas e administrativas, entre outras), 6,4 horas foi a média encontrada para essas atividades, sendo quatro horas a menor carga horária e oito horas a maior. O número aproximado de crianças/alunos por turma nas instituições/ escolas é de 22,2. A menor turma possui 12 crianças/alunos e a maior, 30. As atividades com alunos/crianças diretamente são as que mais ocupam o tempo dos docentes na instituição/escola pesquisada. Quanto ao espaço na escola destinado para a prática da Educação Física, observamos que uma escola possui apenas a sala de aula tradicional; uma tem sala de aula tradicional e quadra; uma conta com pátio e sala de brinquedoteca; uma possui pátio e sala de jogos; uma tem pátio, quadra e quadra coberta. Apenas uma escola, diante dessas estruturas físicas, apresenta de forma satisfatória (quadra coberta, pátio, material didático etc.) condições para a prática das aulas de Educação Física.
Prática Pedagógica A escola é um espaço destinado a promover a transformação social do sujeito, mas, para que isso ocorra, antes devemos buscar entender o sujeito, quem ele é, o que ele faz, onde está inserido para depois tentar transformá-lo. Dentre os inúmeros objetivos que envolvem o papel do educador, a aprendizagem escolar é vista como uma das principais. Para que ela ocorra, é necessário, inicialmente, entender a relação que o sujeito presente em nossas aulas estabelece com o conhecimento. Nesse sentido, compreendemos que entender como age o fator psicológico da criança é fundamental no processo de aprendizagem escolar [...] para garantir [...] a todas as crianças uma efetiva igualdade de oportunidade para aprender, a escola que se quer democrática deve atender à diversificação da sua clientela. Para tanto, ela deve con-
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siderar em seu trabalho as experiências de vida e as características psicológicas e sócio-culturais dos alunos que atende. Quanto mais informações os educadores tiverem sobre o processo de aprendizagem dos conteúdos escolares, maiores são as chances de melhoria das práticas pedagógicas. Compreende-se, assim, a relevância teórica dos estudos psicológicos para a área da educação e a necessidade de se efetivar maior intercâmbio entre a Psicologia e a Pedagogia, à medida que aumentam os problemas que as escolas têm que enfrentar (DAVIS; OLIVEIRA, apud DAMASCENO, 2009, p. 11).
A prática pedagógica está diretamente interligada à didática e à educação, que [...] é um processo anterior e muito mais amplo do que a escolarização formal desenvolvida pelas instituições educacionais, pois educação pode ser de forma sistemática ou não e acontece em várias instâncias sociais, tais como: na família, na igreja, nos sindicatos, nas associações de bairros, nos clubes de lazer, em ambientes de trabalho, etc. Numa análise simplificada, é o modo de transmissão dos ‘saberes’, das crenças, dos valores, das tradições e da cultura das gerações mais velhas às gerações mais novas. [...] é um processo social que deve ser coerente com uma visão de homem, de mundo e de sociedade de uma coletividade específica (PASSAMAI, DUARTE, 2010, p. 9).
Observamos, então, que a educação se processa de forma ampla e abrangente na sociedade. Em contrapartida, a pedagogia se efetiva como um “[...] Conjunto sistemático de conceitos e princípios que vão construir o que se pode chamar de teoria da educação. Estudo sistemático da educação (HAYDT, apud PASSAMAI; DUARTE, 2010, p. 10). Também [...] é considerada como estudo da natureza e da articulação do processo educativo de um modo geral, sistemático ou assistemático formal ou não. Para tornar-se um ‘estudo sistemático’ ou uma ‘teoria da educação’, houve a necessidade de, no decorrer de um tempo considerável, serem burilados ‘fatos brutos’ que se transformaram em ‘conhecimentos’ e ‘conceitos’ (PASSAMAI; DUARTE, 2010, p. 9-10).
Passamai e Duarte (2010) afirmam que a didática cuida do processo da instrução ou formação intelectual como uma especificidade educativa global. Percebemos, então, que, “[...] enquanto a pedagogia pode ser con-
ceituada como ciência e a arte da educação, a didática é definida como a ciência e a arte do ensino” (HAYDT, apud PASSAMAI; DUARTE, 2010, p. 11). Partindo das concepções apresentadas de educação, pedagogia e didática, podemos pensar que a prática pedagógica [...] se verifica como ação consciente, intencional e planejada no processo de formação humana, através de objetivos e meios estabelecidos por critérios socialmente determinados e que indicam o tipo de homem a formar, para a sociedade, com que propósitos. Vincula-se, pois, a opções sociais e políticas referentes ao papel da educação num determinado sistema de relações sociais (LIBÂNEO, apud TAVARES, 2009, p. 42).
Ao serem questionados sobre como se sentiam em relação ao início de suas atividades na educação, percebemos que a maioria disse estar preparada e muito preparada. Quanto à utilização das novas tecnologias, como computadores, data-show, recursos eletrônicos, entre outras, para um deles a resposta foi N.A. (não se aplica), e sobre a avaliação de aprendizagem e domínio dos aspectos administrativos da escola, um afirmou estar despreparado. No que diz respeito à sua vivência profissional, três responderam que raramente se sentem frustrados com o trabalho e dois disseram que nunca se sentem assim. Ao serem questionados sobre sua contribuição para a educação, dois afirmaram que sempre sentem que tem muito a contribuir e três responderam que frequentemente sentem que podem contribuir. Dos pesquisados, dois afirmaram que raramente pensam em parar de trabalhar com a educação e três disseram que nunca pensaram em sair do campo. Além disso, dois responderam que sempre sentem que a educação permite utilizar ao máximo suas capacidades, dois informaram que apenas frequentemente isso acontece e um afirmou que raramente explora ao máximo suas capacidades. Dois professores esclareceram que nunca pensam que em outra profissão utilizariam melhor suas capacidades intelectuais e três raramente pensam nessa possibilidade. Quanto às satisfações que a educação proporciona, apenas um respondeu que lhe proporciona grandes satisfações, três disseram que isso ocorre frequentemente e um raramente. Dos pesquisados, três afirmaram que sempre escolheriam trabalhar na educação se tivessem que recomeçar sua vida profissional e dois frequentemente. No que diz respeito aos conteúdos de ensino que ministram, todos responderam que utilizam esportes, jogos e brincadeiras. Compreendemos
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que a utilização de brincadeiras que compõem o repertório infantil e que variam conforme a cultura de cada aluno/criança constitui uma oportunidade privilegiada para desenvolver habilidades tanto no plano motor, como também em outros aspectos do desenvolvimento da criança. Apenas dois disseram utilizar esportes, jogos, brincadeiras e lutas e três, esportes, jogos, brincadeiras e dança. A ginástica aparece como conteúdo utilizado por três professores (um trabalha a rítmica e artística; um trabalha ginástica geral; e um trabalha ginástica acrobática e atividades circenses). Percebemos, por meio dos dados apresentados, que os esportes, assim como os jogos e brincadeiras, são conteúdos que estão presentes nas aulas de Educação Física. O ensino dos jogos e brincadeiras se destaca como elemento importante no processo de formação dos alunos, contribuindo de forma satisfatória para seu aprendizado. Mello e Damasceno (2010) abordam, em suas concepções, que, mesmo ocorrendo divergências nas concepções teóricas, pedagógicas e metodológicas, os jogos e as brincadeiras podem ser contextualizados como atividade lúdica que possui amplas definições, isto é, uma manifestação social de caráter não sério que vem despertar prazer e criatividade, em que o protagonista, “o jogador”, traça metas e objetivos a serem alcançados, despertando valores sociais, como respeito às regras e aos participantes, perder e ganhar, disciplina, auxiliando no desenvolvimento social, afetivo e psíquico da criança, podendo assumir valores diferenciados com base no cognitivo do participante, como expressão corporal, faz de conta, competição, em fim, dentre outros. O jogo estimula muitos aspectos, dentre eles, a socialização, a interatividade, o espírito coletivo e competitivo, a promoção e afeição de habilidades motoras. Na perspectiva de fomentar subsídios que levem a uma constituição teórica, pedagógica e metodológica, vemos que o jogo se evidencia por elementos relevantes para o educando, pois seu caráter lúdico e prazeroso proporciona ao “jogador” oportunidade de vivenciar, de forma a, se não construir, preservar o acervo sociocultural que perpassa pelas gerações, conservando a essência, o contexto e sua história. Defendemos que a espontaneidade deve ser vigente nessas atividades. Sendo assim, não devemos utilizar o jogo como uma forma de “tem que fazer”.
Considerações finais A experiência da disciplina Estágio Supervisionado nos levou a refletir sobre alguns aspectos que parecem primordiais para o desenvolvimento da prática pedagógica na Educação Física.
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Concentramos esforços na tentativa de descrever alguns desses aspectos que aparecem como necessidades do trabalho do professor na escola. São eles: assumir um caráter crítico, reflexivo, investigativo do saber/fazer pedagógico; dialogar com aspectos teórico-metodológicos, a fim de que possam subsidiar a prática pedagógica; adotar postura crítico-reflexiva, o que será de fundamental importância, pois, nessa perspectiva, poderemos confrontar experiências e vivências para que possamos conduzir as intervenções na realidade escolar; privilegiar o caráter observador que nos proporcionará inúmeras reflexões, a fim de que possamos conduzir o saber/ fazer pedagógico; ser um interlocutor das diretrizes da instituição (Ufes) na escola na qual iremos estagiar; ter consciência de que essa oportunidade não deve ser encarada apenas como instrumento obrigatório do currículo, mas como uma ferramenta que tem muito a contribuir para a nossa formação tanto pessoal como profissional. Essa proposta de atividade nos convidou a vivenciar e a estar mais presente com a realidade na escola e consequentemente, permitiu um diálogo que contribui e interfere de forma significativa em nossa formação docente. Portanto, observamos que o Estágio Supervisionado, fundamentado em seus conceitos, objetivos e pressupostos teórico-metodológicos, é uma ferramenta amparada pela legislação, de cunho obrigatório e que contribui de forma qualitativa para nosso processo de formação, profissional e/ou pessoal. O pensamento crítico-reflexivo, diante de observações e intervenções realizadas, conduz-nos a um diálogo constante com o nosso processo de formação, levando-nos a pensar e repensar nossa práxis pedagógica. Nesse primeiro momento, a ida a campo proporcionou elementos positivos para o processo de formação acadêmica e nos fez dialogar com docentes, interagindo com suas experiências e conhecendo um pouco de suas histórias. Essa experiência também contribuiu para que as pessoas envolvidas no universo escolar tomassem conhecimento do Curso de Educação Física na modalidade EAD. Em relação às dificuldades por nós vividas no Estágio I, observamos que alguns profissionais, mesmo conhecendo a importância desse componente curricular no processo de formação acadêmica, em alguns pontos, demonstraram pouco interesse em compartilhar e responder a algumas perguntas. Apesar deste fato, de forma geral, avaliamos que os aspectos positivos desta experiência sobressaíram sobre os negativos.
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REFERÊNCIAS BRACHT, V. Educação física escolar. Vitória: Ufes, Núcleo de Educação Aberta e a Distância, 2009. BRACHT, V. ; GOMES, I. M. Pesquisa e docência. Vitória: Ufes, Núcleo de Educação Aberta e a Distância, 2010. FIGUEIREDO, Z. C. C. Educação física, formação docente e currículo. Vitória: Ufes, 2009. MELLO, A. da S.; DAMASCENO, L. G. Conhecimento e metodologia do ensino do jogo. Vitória: Ufes, Núcleo de Educação Aberta e a Distância, 2011. PASSAMAI, M. H. B.; DUARTE, L. M. S. Didática. Vitória: Ufes, Núcleo de Educação Aberta e a Distância, 2010. TAVARES, O. T. Introdução à educação física. Vitória: Ufes, 2009. VENTORIM, S. et al. Estágio Supervisionado I. Vitória: Ufes, Núcleo de Educação Aberta e a Distância, 2011.
Aproximações com a realidade da Educação Física no município de Santa Maria de Jetibá/ES Ronildo Stieg5 Mariana Pozzati6
Introdução Iniciamos a disciplina Estágio Supervisionado I realizando uma pesquisa sobre os professores de Educação Física atuantes na Educação Básica na rede pública de ensino do Espírito Santo. Este estudo teve como objetivos: contribuir para o nosso entendimento sobre o universo que envolve a vida de um professor, a instituição escolar e vários fatores que constituem sua forma de organização; subsidiar futuros trabalhos acadêmicos, prestando informações sobre as condições de trabalho e número de profissionais formados na área no Estado; proporcionar um primeiro contato com diferentes escolas, formas de organização, tipo de público atendido, espaços físicos destinados à prática da Educação Física; auxiliar os alunos/acadêmicos na seleção de uma dessas escolas para a realização do Estagio Supervisionado. Os professores responsáveis por essa disciplina entendem que a “[...] inserção do estagiário em campo que deve compreender exercícios de análise, investigação, intervenção e produção de conhecimentos relativos ao processo educativo e/ou a sua gestão” (VENTORIM et al., 2011, p. 20.) constitui uma etapa importante para a formação do futuro professor. Esse momento configurou-se numa primeira aproximação com as escolas. O processo se deu por etapas. Inicialmente, identificamos as escolas do distrito de Garrafão, no município de Santa Maria de Jetibá, com o objetivo principal de selecionar cinco delas. Foram enviadas cartas de apresentação da pesquisa para os diretores dessas escolas, identificando os objetivos e finalidades do estudo e informando que fazíamos parte do Polo UAB de Santa Teresa. Para nossa surpresa, nesse primeiro contato com a escola, quatro dos cinco professores, posteriormente entrevistados, não estavam presentes. Apesar da dificuldade de estabelecer esse primeiro contato, esse momento do estudo possibilitou uma conversa com a direção das escolas, e isso oportunizou um estreitamento na relação com essas pessoas, a ponto de todas colocarem a escola à disposição para a realização do estágio no próximo semestre. Esse acolhimento, de certo modo, facilitou a realização do trabalho. 5 Aluno do curso Pró-Licenciatura em Educação Física do polo de Santa Teresa. 6 Tutora presencial do polo de Santa Teresa.
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Outros contatos foram feitos e foi possível combinar a melhor hora para a realização da pesquisa. A coleta de dados aconteceu com um professor da rede pública que também atua em uma academia de ginástica; um professor que trabalha em apenas uma escola pública que, pela dificuldade de conciliar nossos horários, veio ao nosso encontro para a realização do questionário; um professor que leciona em duas escolas diferentes e preferiu participar do estudo duas vezes, relatando suas condições de trabalho nesses diferentes ambientes; um professor lotado na escola onde, desde o início, parecia a melhor opção para a realização do estágio no próximo semestre; e uma professora sem formação inicial em Educação Física que desenvolve recreação em uma escola pluridocente. Nas páginas seguintes, pretendemos apresentar alguns aspectos que consideramos relevantes e que configuram a Educação Física no interior do município de Santa Maria de Jetibá, com base no trabalho de professores de formação inicial na área e de uma professora que, embora seja formada em pedagogia e não possua domínios de conteúdos referentes à disciplina, nos pareceu importante para retratar uma realidade ainda muito comum nas primeiras séries do Ensino Fundamental.
Apresentação dos dados Identificação do professor Dos cinco professores, quatro são do sexto masculino e uma do sexo feminino. Do total de entrevistados, dois atuam na rede estadual e três na rede municipal. Além disso, quatro deles residem no mesmo município em que trabalham e a idade varia entre 24 a 48 anos. Quanto à etapa da Educação Básica em que atuam, quatro professores estão inseridos no Ensino Fundamental e um trabalha tanto no Ensino Fundamental como no Ensino Médio. Formação Quanto à formação, quatro professores cursaram Licenciatura Plena em Educação Física e uma professora não tem formação inicial na área. Todos se formaram em instituição particular. No que se refere à formação continuada, quatro professores possuem pós-graduação, realizadas entre 2003 e 2010, em Psicopedagogia, Educação Física Escolar, Educação Especial e Treinamento Desportivo. Quando indagados sobre como se sentiam, no início da carreira na educação, sobre domínio dos conteúdos, manejo da disciplina, avaliação da aprendizagem, comunicação com os alunos, colaboração com os pais, domí-
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nio dos aspectos administrativos da escola e planejamento do seu trabalho no início da carreira, os professores apresentaram as seguintes respostas:
4 3
Muito Preparado Preparado Razoalvelmente Preparado
2 1
Gráfico 1 – Domínio dos professores quando iniciaram na educação
Em relação às atividades e cursos de formação continuada oferecidos no último ano, todos responderam ter participado de seminários e congressos promovidos pelas Secretarias Municipais de Educação. Dois deles participaram também de seminários oferecidos pela Secretaria Estadual de Educação. Dentre outros, destacamos a participação de três deles no Congresso Espírito-Santense de Educação Física da Ufes, realizado em junho de 2011. Com relação ao hábito de leitura, foi constatado que a internet é a ferramenta mais utilizada por todos, seguida de jornais, revistas, livros técnicos e didáticos. Os livros de literatura em geral aparecem em último lugar, na preferência dos professores. Carreira docente O professor é, antes de um profissional, uma pessoa, e uma pessoa faz sua historia pelas interações com o meio socieconomico-cultural. Para melhor compreender suas relações, seu processo de formação e de adaptação ao meio profissional, é imprescindível que se busquem, no relato de professores, os aspectos que influenciaram tanto a ‘opção’ pela carreira docente, no caso como professor de Educação Física, quanto o exercício dessa profissão (VENTORIM et al., 2011, p. 43).
Iniciamos este tópico com a citação do fascículo de Estágio Supervisionado I por entendermos que o processo de pesquisa apontou dados importantes da carreira docente de cada um dos professores entrevistados. Porém, a carreira se dá em tantas outras instâncias que vão além do que o questionário conseguiu apreender.
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Desse modo, as informações que seguem possibilitam uma compreensão das escolhas de cada um, com seus respectivos sentimentos de satisfação e frustração na carreira profissional. A pesquisa apontou uma variação em relação ao tempo de exercício da profissão docente. Identificamos um professor que está na educação há três anos, dois que atuam há mais de cinco anos, um há mais de nove anos, e um há mais de vinte anos. Do total de entrevistados, 80% sempre trabalharam em escolas da rede pública. Quanto ao tempo que atuam na escola onde foram entrevistados para o estudo, dois professores disseram trabalhar na mesma escola há mais de dois anos, um há mais de três anos, um há mais de quatro anos e um há mais de sete anos. Apenas o professor que está na escola há mais tempo tem vínculo efetivo com a instituição. Os demais se encontram na posição de cargo temporário /ATC/ substituto/designado. Todos estão inseridos no plano de carreira e informaram que a titulação é um dos aspectos que mais influencia no plano de cargos e salários. A questão salarial também se mostrou uma variável entre os resultados obtidos e isso se deve à rede de ensino a que o profissional está vinculado. Concluímos que o salário de um professor da rede municipal, na maioria dos casos, é inferior ao salário de um professor da rede estadual, com a mesma carga horária. Dos entrevistados, quatro não lecionaram em outra instituição educacional, e um trabalha nas redes estadual e municipal. Entretanto, três possuem outras fontes de renda: um é proprietário de uma empresa de informática; outro trabalha em academia de ginástica; e ainda outro em um estúdio de produção musical. Essas atividades garantem a eles uma renda extra que varia entre um e mais de quatro salários mínimos (valorbase de R$ 545,00). Percebemos que dois indivíduos atuam apenas na educação, sendo essa sua única fonte de renda. Quanto à renda familiar, podemos observar melhor no Gráfico 2.
20% 40% 40%
Gráfico 2 – Renda familiar dos professores entrevistados
42 Estágio Supervisionado 2
2 a 3 Salários Mínimos 4 a 5 Salários Mínimos 6 a 10 Salários Mínimos
Os dados apontam, também, para uma diferença entre a renda familiar. Três professores responderam ser os principais provedores da renda de sua casa e dois afirmaram não ser os principais provedores, porém participam com uma certa quantia. Condições de trabalho Em relação às condições de trabalho do docente, como mencionado, quatro professores trabalham em uma escola e um em duas. Os períodos em que trabalham também variam, conforme demonstrado no gráfico abaixo.
4 3 2
Manhã Manhã e Tarde Manhã, Tarde e Noite
1
Gráfico 3 – Turno de trabalho dos professores entrevistados
Dessa forma, quanto ao tempo disponível para o almoço, dos quatro professores que trabalham em mais de um turno, observamos que um tem dez minutos, dois têm vinte minutos e um dispõe de uma hora para realizar sua refeição. A carga horária também varia e contempla desde o tempo destinado ao planejamento das aulas (de duas a nove horas semanais), até atividades desenvolvidas diretamente com os alunos. Percebemos que três professores têm carga horária de 25 horas semanais, um trabalha 35 horas e o outro 37 horas semanais. Com relação à etapa de ensino em que trabalham, um atua na Educação Infantil e no Ensino Fundamental, três trabalham somente no Ensino Fundamental e um no Ensino Fundamental e no Ensino Médio. O número de alunos varia para cada turma (entre 18 a 30 alunos). Quando questionados sobre “O que mais ocupa seu tempo na escola”, 100% dos professores responderam que são as atividades realizadas com alunos e crianças diretamente. Em relação ao espaço que a escola destina para a Educação Física, três dispõem de pátio, um de um espaço de uma garagem 6x6m, e um apenas dispõe de quadra coberta, campo de areia, pátio e playground. Quanto aos elementos que os professores identificam que interferem no desempenho
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de suas atividades, quatro apontaram que problemas relacionados com a saúde dos alunos às vezes interferem e três citaram que a situação socioeconômica também constitui um fator que às vezes interfere. Com referência a conflitos entre colegas de trabalho, dois afirmaram interferir às vezes, dois mencionaram que os conflitos entre pais e professores sobre os alunos raramente interferem e um respondeu que às vezes, a presença de gangues interfere. Observamos, ainda, que dois disseram que a intimidação ou qualificação pejorativa entre alunos, às vezes interfere, e as atitudes de vandalismo, que ocorrem em menor escala, raramente interferem. Um relatou que o tráfico de drogas nas imediações da escola, assim como o consumo de álcool/drogas pelos alunos/colegas, às vezes, interferem. A falta de liderança da direção da escola em frente aos alunos/crianças foi citada por dois professores como um fator que interfere às vezes, e conflitos entre os alunos/crianças aparecerem como um fator que também interfere no desempenho das atividades docentes. Prática pedagógica Entendemos que a prática pedagógica em Educação Física é permeada por diversos fatores, dentre eles, as instalações físicas. Identificamos que três professores apontam que, em geral, os espaços específicos são ruins, um considera bom e outro excelente. Os ruídos originados nesses espaços são considerados ruins por todos os professores, enquanto a ventilação é avaliada como boa por três deles, ruim para um e inexistente para o outro. Para dois professores, a iluminação é ruim, para outros dois é considerada regular e, em um dos casos, também é vista como inexistente. Para quatro professores, os pisos e paredes são regulares e para um é ruim. Quanto aos materiais pedagógicos, um professor disse ser ruim, um considerou regular, um conceituou como bom e dois responderam ser excelente. Em relação à sua vivência profissional, dois afirmaram que estão sempre frustrados, outros dois disseram que se sentem assim frequentemente e um respondeu que raramente se sente frustrado, porém todos disseram que acreditam que têm muito a contribuir na educação. Quanto aos anseios em relação à profissão, dois professores responderam que frequentemente pensam em parar de trabalhar na educação, enquanto outros dois afirmaram ter esse sentimento raramente e um, com muita firmeza, disse que nunca pretende parar de trabalhar na área, mesmo que se distancie da sala de aula, mas parar de trabalhar na educação, não.
44 Estágio Supervisionado 2
A profissão apareceu como um fator importante para esses professores, pois quatro responderam que a educação permite, com frequência, que eles utilizem ao máximo suas capacidades, afirmando ainda que, em outra profissão, suas habilidades intelectuais nunca seriam utilizadas melhor do que no campo da educação. Apesar da relevância que os professores atribuem à profissão, três responderam que raramente a educação lhes proporciona grandes satisfações, enquanto outros dois disseram que isso ocorre sempre e com frequência. E o mais impressionante: quatro professores declararam que nunca escolheriam trabalhar na educação se tivessem que recomeçar sua vida profissional e um informou que raramente escolheria trabalhar na educação. No início da prática pedagógica, quatro professores responderam ter muito controle sobre o conteúdo ensinado, e um disse que tinha esse controle de modo razoável. Com relação aos modos e métodos de educar, à avaliação dos alunos, à definição de suas atividades, quatro responderam ter muito controle e apenas dois disseram ter pouco ou nenhum controle sobre a organização do horário de trabalho e sobre o projeto pedagógico da escola. Com referência aos conteúdos ensinados, três responderam ensinar esportes, como atletismo, voleibol, basquetebol, handebol, futsal. Eles também ensinam dança, envolvendo coreografias e realizando interclasses com mostra de danças dos alunos. Todos responderam que o jogo é o principal conteúdo de ensino, ficando o xadrez em segundo lugar, depois o tênis de mesa, jogos de tabuleiro e a peteca. No universo pesquisado, percebemos que, conforme afirmam Mello e Damasceno (2011, p. 7), [...] O jogo é uma das manifestações culturais mais utilizadas pela Educação Física para a intervenção pedagógica nos diferentes níveis de escolarização. Seja na Educação Infantil, seja no Ensino Fundamental ou Médio, o jogo está presente na práxis de muitos professores de Educação Física.
Além disso, todos responderam que fazem uso de brincadeiras envolvendo queimada, piques e cirandas. Apenas três responderam fazer uso da ginástica como conteúdo de ensino, priorizando a ginástica geral e a ginástica localizada. De acordo com a etapa da Educação Básica em que atuam, três professores disseram que os conteúdos das séries iniciais do Ensino Fundamental envolvem jogos, atividades recreativas, brincadeiras, dança,
Unidade 1 O professor de educação física no Espírito Santo: o inventário das práticas 45
atividades lúdicas e de coordenação motora. No segundo ciclo, são trabalhadas atividades como os jogos pré-desportivos e o xadrez do 5° ao 6° ano, fundamentações esportivas, esporte coletivo e individual, além da ginástica, do 7° ao 9° ano. O único professor que ministra aulas para o Ensino Médio, diz trabalhar nessas séries atividades esportivas com fundamentos mais técnicos. Quanto aos procedimentos de ensino, três professores disseram construir suas aulas com os alunos. Os outros dois, às vezes ou raramente fazem isso. Enquanto para quatro professores os alunos debatem a aula frequentemente ou às vezes, para um isso nunca acontece. No entanto, em todos os casos, os alunos têm suas experiências culturais consideradas frequentemente, assim como também os conteúdos são problematizados com os alunos. Em relação à avaliação, enquanto um avalia suas aulas apenas a partir da participação e interesse dos alunos, respeito a regras, colegas e professor e melhoria do desempenho motor do aluno, um avalia também a aprendizagem dos conteúdos, e os outros três professores, além desses itens, consideram a frequência nas aulas e a aprendizagem dos movimentos específicos dos esportes, jogos, ginástica. Acreditamos que [...] As técnicas e os instrumentos de avaliação devem ser selecionados no decorrer do planejamento, momento este adequado para selecionarmos os recursos de avaliação mais condizentes com os objetivos e conteúdos previstos nos planos de ensino (PASSAMAI; DUARTE, 2010, p. 85).
A observação, os trabalhos em grupo e avaliações práticas foram os instrumentos de avaliação citados como os mais utilizados por todos os professores participantes do estudo. Quanto à motivação dos alunos, quatro professores disseram ser muito fácil motivá-los e um respondeu que não era muito fácil. A disciplina em sala de aula apareceu como uma dificuldade para os professores, que afirmaram, com unanimidade, que, para mantê-la, é necessária muita energia, porém, 80% afirmaram que os alunos respeitam a autoridade do professor, enquanto, para 20%, esse respeito é razoável. Para quatro professores a relação com seus alunos é muito afetiva. O gráfico a seguir aponta a frequência com que os professores realizam atividades com os colegas de trabalho.
46 Estágio Supervisionado 2
4 3
Raramente Às vezes Frequentemente
2 1
A- Participação em atividades de formação B- Troca de material pedagógico C- Discussão sobre alunos/crianças D- Troca de experiências sobre conteúdos de ensino E- Troca de experiências sobre métodos de ensino F- Discussão sobre o Projeto Pedagógico da Escola G- Aconselhamento e orientação Gráfico 4 – Participação dos professores em atividades com colegas
Quando questionados sobre a importância da Educação Física para a formação de seus alunos, todos os professores responderam que essa disciplina é muito importante para instruir os alunos, para educar os alunos/ crianças segundo valores e normas sociais, como ganhar e perder, respeitar as regras e o próximo; preparar os alunos para serem cidadãos responsáveis; promover o desenvolvimento integral do aluno e valores atitudinais. Além de ser importante, também, para preparar os alunos para o mercado de trabalho, fazê-los adquirir conhecimento sobre a cultura corporal do movimento e prepará-los para a próxima etapa da educação. Essa é uma opinião que compartilhamos com os indivíduos do estudo. Os dados aqui apresentados nos levam a algumas conclusões: todos os professores, cada qual com sua dificuldade particular, exercem a profissão com amor, fazendo o possível para transformar suas aulas num espaço aberto para a aprendizagem, elaborando um bom planejamento, utilizando as mais diversas técnicas de avaliação, adaptando suas aulas aos espaços disponíveis e interagindo com outros colegas de trabalho. Por outro lado, percebemos alguns pontos negativos que permeiam a prática da Educação Física nas escolas de Educação Básica. Dentre eles, destacamos: espaços inapropriados para a execução das aulas, materiais precários, desvalorização profissional em alguns casos, além do desgaste que a profissão tem causado ao longo do tempo. Isso fica claro em várias respostas do questionário, principalmente aquelas referentes
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ao recomeço profissional, pois todos apontam que jamais escolheriam ser professor se tivessem que recomeçar a carreira profissional. Com base nesses fatores, é possível fazer uma avaliação de que, apesar das dificuldades, na profissão professor de Educação Física, existe também o lado satisfatório, que muitas vezes pode falar mais alto e motivar o professor a perseverar. Mesmo que os relatos apresentem insatisfação com relação a alguns pontos, nenhum deles desmereceu o nosso futuro profissional e todos se mostraram dispostos a nos motivar.
Considerações finais O primeiro contato com as escolas e com os professores nos proporcionou o conhecimento de uma realidade permeada de complexidade. A oportunidade de conhecer o outro lado de ser professor a partir das dificuldades e satisfações que constituem a profissão foi importante para nossa formação. As frustrações foram visíveis, mas isso ofuscou a importância do papel do professor na construção do conhecimento dos alunos. De certa forma, isso nos levou a desenvolver um pensamento mais crítico com relação ao verdadeiro papel do professor e os desafios que ele enfrenta diariamente nas escolas do nosso país. O exercício de ir a campo e se aproximar da realidade vivida pelos professores demonstrou o quanto é importante o trabalho de pesquisa e o Estagio Supervisionado na formação do aluno, futuro professor. Os poucos questionários aplicados, apesar da riqueza dos dados, levam-nos a perceber que pouco se sabe das angústias, dificuldades e anseios que os professores que já atuam na área há muitos anos vivem e quanto isso desmotiva aqueles que ainda não tiveram o seu valor reconhecido. Esperamos que, de alguma forma, nosso trabalho ajude a fazer a diferença para a vida de muitas pessoas, pois a reflexão sobre o que aqui foi exposto, sem dúvida, fez a diferença para nossa formação.
REFERÊNCIAS PASSAMAI, M. H. B.; DUARTE, L. M. S. Didática. Vitória: Ufes, Núcleo de Educação Aberta e a Distância, 2010. VENTORIM, S. et al. Estágio supervisionado I. Vitória: Ufes, Núcleo de Educação Aberta e a Distância, 2011. MELLO, A. da S.; DAMASCENO, L. G. Conhecimento e metodologia do ensino do jogo. Vitória: Ufes, Núcleo de Educação Aberta e a Distancia, 2011. 48 Estágio Supervisionado 2
Condição e trabalho docente em Educação Física no município de Iconha/ES Geraldo Luiz Silva Cardoso7 Paula Abreu8
Introdução A ideia básica é que o professor, para exercer a docência com autonomia e autoria, deve, constantemente, refletir sobre sua prática de forma sistemática. Uma das formas de isso acontecer é a incorporação da pesquisa na prática cotidiana desse professor, daí a ideia de professor-pesquisador de sua própria prática. [...] o ‘professor que não pesquisa também não tem o que ensinar’ (BRACHT; GOMES, 2010, p. 22).
Ao participar da pesquisa “O professor de Educação Física no Espírito Santo: inventário das práticas”, cujo objetivo foi investigar a realidade do trabalho docente em Educação Física em nosso Estado, tivemos a oportunidade de pesquisar, conhecer e refletir sobre a realidade dessa disciplina no município de Iconha. O município tem cindo escolas onde o trabalho docente em Educação Física é realizado. Por isso, dois grupos foram formados para a realização da pesquisa. O meu grupo foi formado por mim, Geraldo Luiz Silva Cardoso, e pelo aluno Eliseu Caetano Cypriano. Para além das perguntas presentes neste questionário, muitas observações também puderam ser realizadas quanto ao professor entrevistado e quanto à escola. Isso contribui para a construção de saberes a partir das necessidades pedagógicas que a realidade dos entrevistados nos mostrou. A técnica de coletas de dados utilizada durante as entrevistas foi a aplicação de um questionário contendo 43 itens que foram devidamente respondidos pelos quatro professores entrevistados. Apesar das quantificações feitas na apresentação dos resultados, o modo de interpretar esses dados, muitas vezes apresentados de forma numérica, é subjetivo, porém buscamos referências nas apostilas das disciplinas e textos complementares estudados durante o Curso de Licenciatura em Educação Física, modalidade EAD, pois, como evidenciam Ventorim et al. (2011, p. 28), “[...] a teoria, além de provisória, apresenta papel importante ao oferecer esquemas de análise para a investigação, permitindo questionar as práticas e ações institucionalizadas e as dos sujeitos[...]”. 7 Aluno do curso Pró-Licenciatura em Educação Física do polo de Cachoeiro de Itapemirim. 8 Tutora presencial do polo de Cachoeiro de Itapemirim.
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Apresentação dos resultados Os dados e informações coletados durante o desenvolvimento da pesquisa “O professor de Educação Física no Espírito Santo: inventário das práticas” subsidiaram as interpretações na apresentação dos resultados. A partir desses, podemos mapear a realidade das aulas de Educação Física no município. Focou-se a apresentação dos resultados na análise de cindo eixos relacionados a seguir: a) identificação do(a) professor(a); b) formação; c) carreira docente; d) condições de trabalho; e) prática pedagógica. Identificação do(a) professor(a) Analisando os dados coletados, percebemos que, no que se refere ao sexo (questão nº 3 do questionário), há um equilíbrio nas quatro escolas entrevistadas, pois 50% dos professores são do sexo feminino e 50% do sexo masculino.
4 3
Masculino Feminino
2 1
Número de Professores Gráfico 1 – Distribuição dos professores entrevistados por gênero
Quanto à idade (questão nº 2), os dados mostraram que a média de idade dos professores entrevistados é de quase 31 anos. A Educação Física no município é ministrada por professores relativamente jovens (Gráfico 2).
50 Estágio Supervisionado 2
40 30
33 27
26
20
37 Escola 1 1 Professor Escola 2 2 Professor Escola 3 3 Professor Escola 4 4 Professor
10
Idade dos Professores Gráfico 2 – Idade dos professores entrevistados.
No que se refere ao segmento em que os professores atuam, temos a seguinte distribuição (Quadro 1): Identificação dos Professores Professor 1 Professor 2
Segmento de Atuação Ensino Fundamental - 1° ao 4° ano Ensino Fundamental - 1° ao 9° ano
Professor 3
Ensino Fundamental - 1° ao 4° ano Ensino Fundamental - 5° ao 9° ano e Ensino Médio
Professor 4
quadro 1 – Etapas/segmentos da Educação Básica onde os professores entrevistados atuam
Todos os professores entrevistados estão envolvidos com a Educação Física no Ensino Fundamental (questão nº 28), apenas um trabalha com o Ensino Médio, conforme o Quadro 1. Talvez esse seja um dos fatores pelos quais sentimos certo desânimo durante a entrevista em uma das escolas, pois já discutimos, nos encontros presenciais, como é mais difícil problematizar outros conteúdos no Ensino Médio, em que a cultura da bola e a esportivização é mais forte que nos primeiros anos do ensino básico. Formação Todos os professores entrevistados cursaram instituições particulares de ensino (questão nº 5) e são formados em Licenciatura Plena em Educação Física (questão nº 4). O professor 1 cursou Pedagogia. Em relação à Pós-Graduação (questão nº 6), todos possuem especialização em alguma área relacionada com a educação, porém nenhum deles tem mestrado ou doutorado, como demonstrado na quadro abaixo.
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Identificação dos Professores Professor 1
Formação Inicial
Pós-Graduação
Outros Cursos
Licenciatura em Educação Física
Professor 2
Licenciatura em Educação Física
Professor 3 Professor 4
Licenciatura em Educação Física Licenciatura em Educação Física
Educação Física Escolar Pedagogia Educação Física Escolar/ Educação Especial e — Inclusiva Educação Infantil — Educação Física Escolar —
quadro 2 – Curso de ensino superior e Pós-Graduação dos entrevistados
Quanto às atividades, tarefas ou cursos de formação continuada dos quais os professores participaram no último ano (questão nº 8), observamos que todos participaram de congressos, seminários e colóquios de educação. Porém, os órgãos promotores desses eventos não sãos os mesmos para todos os professores entrevistados, como demonstra o Quadro 3. Órgão Promotor da Formação
Identificação dos Professores Professor 1 Professor 2 Professor 3 Secretaria Municipal de Educação Sim Sim Sim
Professor 4 Não
Secretaria Estadual de Educação Ministério da Educação
Sim Não
Não Sim
Não Não
Sim Não
quadro 3 – Órgão promotor de congressos, seminários e colóquios de Educação
Nota-se que o Professor 4 não frequentou os eventos de promoção do conhecimento promovidos pela Secretaria Municipal de Educação e o Professor 3 frequentou alguns pela Secretaria Estadual por conta de um projeto de atletismo que ministra na cidade. É importante participar de congressos, seminários, colóquios de educação e atividades de formação (questão nº 8.1), pois, além de trazer mais conhecimentos para o professor, é uma ótima oportunidade de conversar, trocar ideias, descobrir como outros professores pensam e enfrentam situações-problema semelhantes às que encontramos em nosso universo docente cotidiano. Figueiredo (2009, p. 12), ao evidenciar os saberes que constituem docência, diz que adquirir informação é só o primeiro estágio dos saberes relacionados com o conhecimento. É preciso trabalhar com as informações, classificá-las, analisá-las e contextualizá-las dentro de nossa realidade docente, colaborando, assim, no processo de construção de cidadania de nossos alunos. Contudo, analisando o Quadro 4, percebemos que o Professor 2 parece não valorizar o conhecimento ou não o en-
52 Estágio Supervisionado 2
controu nos congressos, seminários e colóquios de Educação promovidos pela Secretária de Educação desse município. Outro fator intrigante é que esse mesmo professor não vê no conhecimento uma possibilidade de ajudar/avaliar seus alunos, ou talvez não saiba operar com as informações adquiridas para, a partir delas, chegar ao conhecimento, processo este (informação/conhecimento) que deve estar intrínseco nas aulas de todas as disciplinas e no posicionamento do professor. Resposta dos professores
Identificação dos Professores Professor 1
1 – Aprofundar meus conhecimentos Sim 2 – Ajudar os alunos/crianças Sim 3 – Avaliar os conhecimentos e as competências Sim dos alunos/crianças
Professor 2
Professor 3
Professor 4
Não Não
Sim Sim
Sim Sim
Não
Sim
Sim
4 – Utilizar novas tecnologias para apoiar minhas atividades
Sim
Sim
Sim
Sim
5 – Colaborar com meus colegas na preparação de atividades e projetos
Sim
Sim
Não
Sim
6 – Refletir sobre minha prática profissional
Sim
Sim
Sim
Sim
Quadro 4 – Contribuição dos congressos, seminários e colóquios de Educação frequentados no último ano pelos entrevistados
Uma observação feita pelo Professor 3 durante a resposta do quinto item dos Quadros 4 e 5 é que, durante as reuniões de professores para a preparação de atividades e projetos interdisciplinares, seus colegas agem “[...] como se a Educação Física não fosse nada”. Essa frase traduz um preconceito que muitos professores enfrentam em sua realidade docente. Pensamos que isso se relaciona com influências que se manifestaram ao longo da história da Educação Física dentro da escola. Uma delas está associada ao “professor-bola” aquele que solta a bola “pra molecada” jogar e não problematiza conteúdo algum em sua aula, não valoriza ambos os sexos em suas atividades e, ainda por cima, seus planos de aula são constantemente cobrados pela pedagoga da escola. Porém, como esse professor não ensina nada, como pode ele estruturar seus planos de aula? Durante a visita à Escola 1, a pedagoga elogiou o professor que, segundo ela, “Mantém seu caderno, seu plano de aula e diário sempre atualizados, coisa rara entre os professores de Educação Física”. Refletindo sobre isso, percebemos que ainda é comum encontrar professores com dificuldades para elaborar um plano de ensino, de modo que este dê
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subsídios à sua prática e organize seu trabalho, propiciando assim uma melhor aprendizagem. Outros pontos que colaboram para que a Educação física seja vítima de certos preconceitos na escola estão explicitados na apostila da disciplina “Educação Física e escola”, que evidencia todo o processo histórico de legitimação da área, citando, entre as dificuldades, o fato de essa disciplina não ser responsável por um conhecimento do tipo científico e ainda possuir especificidades que a diferenciam das outras disciplinas que gozam de certo prestígio no currículo escolar. Ressalta-se que, no currículo escolar, existe uma hierarquia entre as disciplinas, que situa a Educação Física e a Educação Artística no pólo inferior da hierarquia (não estamos falando das preferências dos alunos). Isso explica alguns comportamentos dos dirigentes e gestores educacionais que, quando necessitam de mais espaço/ tempo para um das disciplinas mais ‘nobres’, logo pensam em utilizar o tempo da Educação Física ou da Educação Artística. O mesmo ocorre quando a direção da escola precisa realizar uma reunião com os professores: logo se pensa no horário das aulas de Educação Física (BRACHT, 2009, p. 12).
Nesse contexto, é importante que o professor de Educação Física planeje sua aula, porque a prática pedagógica é uma ação consciente, intencional e planejada que deve ir além da simples banalização de algumas atividades esportivas. Depende de nosso comprometimento mudar essa história, colaborando para que o aluno entre em contato com a cultura corporal de movimento e para que a Educação Física seja reconhecida como uma disciplina fundamental dentro da escola. Quanto à contribuição que as atividades de formação continuada previstas no calendário escolar propiciaram aos professores (questão nº 8.2), Quadro 5 evidencia que apenas o Professor 2 não aumentou seus conhecimentos, pois não participou de nenhuma das atividades de formação previstas no calendário escolar.
Resposta dos professores 1 – Aprofundar meus conhecimentos 2 – Ajudar os alunos/crianças 3 – Avaliar os conhecimentos e as competências dos alunos/crianças 4 – Utilizar novas tecnologias para apoiar minhas atividades 5 – Colaborar com meus colegas na preparação de atividades e projetos 6 – Refletir sobre minha prática profissional
Identificação dos Professores Professor 1 Professor 2 Professor 3 Sim NP* Sim Sim NP Sim
Professor 4 Sim Sim
Sim
NP
Sim
Sim
Sim
NP
Sim
Sim
Sim
NP
Não
Sim
Sim
NP
Sim
Sim
*NP = Não participou quadro 5 – Contribuições das atividades de formação continuada previstas no calendário escolar para os professores
Destacamos que aqui em nosso município, essas atividades são obrigatórias e contam pontos no currículo do professor. No edital deste ano de convocação para vagas de D.T. havia uma cláusula/termo de comprometimento específico para isso, inclusive para também confirmar presença em todos os eventos festivos e culturais da escola preiteada. Quanto aos hábitos e frequência de leitura dos entrevistados (questão nº 10), percebemos, pelo Quadro 6, que todos os entrevistados utilizam a internet como meio de informação e que o Professor 1 é o que lê com mais frequência. Os Professores 3 e 4 não recorrem ao uso de livros técnicos e didáticos com muita frequência, o que é uma pena, pois estão se negando a experiência de confrontar a teoria com a prática. Existem inúmeros trabalhos publicados sobre a educação e a Educação Física Escolar que são ótimas fontes para o docente ampliar seus conhecimentos. Resposta dos professores
Identificação dos Professores Professor 1 Professor 2 Professor 3
Professor 4
1– Livros (Romances, literatura em geral) Não leio
Não leio
Às vezes
Às vezes
2 – Livros Técnicos e Didáticos
Sempre
Às vezes
Às vezes
Sempre
3 – Artigos de revistas acadêmicas
Sempre
Sempre
Às vezes
Às vezes
4 – Jornais
Sempre
Sempre
Sempre
Às vezes
5 – Revistas
Sempre
Sempre
Às vezes
Às vezes
6 – Sites/páginas da Internet
Sempre
Sempre
Sempre
Sempre
quadro 6 – Demonstrativo da freqüência de leitura dos professores entrevistados.
Problematizar a prática pedagógica demanda compreender esta em sua complexidade, imprevisibilidade/caoticidade, perceber que
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diferentes fatores, diferentes agentes contribuem para que a prática pedagógica se dê de modo singular em cada realidade. Assim, é fundamental termos o entendimento de que os problemas que enfrentamos em nossa prática pedagógica estão interligados e são interdependentes e, deste modo, nossas ações também devem seguir essa orientação. Uma perspectiva reflexiva que oriente nosso trabalho docente implica problematizar a prática pedagógica no contínuo e interminável exercício da relação ação–reflexão-ação (CAPARRÓZ, 2009, p. 24).
Nesse contexto, é essencial que o professor procure o conhecimento participando de congressos, seminários, colóquios de educação, cursos de formação continuada e adquira o hábito de procurar, na leitura, o embasamento teórico necessário para fundamentar o seu agir metodológico se apossando de informações e referências que poderão ser transformadas em conhecimentos para problematizar sua prática pedagógica por meio da ação-reflexão-ação, construindo os saberes necessários para enfrentar os conflitos de sua aula e se percebendo “[...] como sujeitos que devem buscar as ferramentas necessárias para construir a sua autonomia e autoria docente” (BRACHT et al., 2007, p. 16). [...] a prática pedagógica é teórico-prática e, nesse sentido, ela deve ser reflexiva, crítica, criativa e transformadora. É a teoria sem ser mera contemplação, uma vez que é a teoria que guia a ação prática e é a prática sem ser simples aplicação da teoria e que não se confunde com um mero exercício. A prática é a própria ação guiada e mediada pela teoria. A prática tem que valer como compreensão teórica. Desta forma, a teoria responde às inquietações, indagações da prática. E sem essas inquietações, indagações não haveria teoria. A teoria tornar-se-ia estéril e sem significado (VEIGA, 1993, p. 18, apud JUNIOR, 2001).
Carreira docente No eixo “carreira docente” (questão nº 11), o Professor 4 é o que tem mais tempo de docência, como demonstrado no gráfico abaixo.
56 Estágio Supervisionado 2
16 14 12 10 8 6 4 2 0
16
8
7,1
6
Professor 1 Professor 2 Professor 3 Professor 4
Tempo de Serviço na Educação Gráfico 3- Tempo de serviço dos entrevistados expresso em anos.
Novamente citando Figueiredo (2009, p. 11-13) e os saberes que constituem a docência (a experiência — de aluno e de professor; o conhecimento — uso desse conhecimento para produção de uma consciência crítica nos alunos; saberes pedagógicos — reinvenção desses saberes a partir das necessidades reais de nossa prática), poderíamos dizer que o Professor 4, por ter mais tempo de serviço, estaria mais bem preparado para ministrar suas aulas, pelo menos no que diz respeito aos saberes da experiência, porém não seria inteligente supor que esse professor, por ter mais tempo de serviço, estaria preocupado em usar o conhecimento adquirido para desenvolver uma consciência crítica no educando para melhoria da “vida material, social e existencial da humanidade”, pois isso não seria uma questão de idade ou de tempo dedicado à educação, mas de comprometimento com essa possibilidade. Muitas vezes culpamos a sociedade e a própria escola pelos conflitos existentes, porém os professores comprometidos com uma educação crítico-reflexiva do aluno procuram “[...]. alcançar uma compreensão cada vez mais profunda tanto da realidade sócio-histórica que configura suas vidas como de sua capacidade para transformar essa realidade” (CARR; KEMMIS, 1988, p. 169, apud CHICON; SÁ, 2010, p. 7). Penso que não podemos analisar o comprometimento do professor pelo seu tempo de serviço. Isso é relativo, mas destacamos um ponto interessante: se analisarmos a atual situação da docência neste país, com base em conversas e desabafos de alguns professores amigos nesta cidade, se formos relacionar tempo de serviço com vontade de transformar a realidade chocante presente nas escolas hoje, poderíamos dizer que é o inverso, isto é, quanto mais tempo de serviço, mais desanimado se apresenta o professor, porém, como já declarado, isso pode ser relativo, não convém generalizar.
Unidade 1 O professor de educação física no Espírito Santo: o inventário das práticas 57
Outro ponto interessante destacado pelo Professor 4 se relaciona com a questão nº 34, que trata do grau de controle que o professor entrevistado considera ter sobre questões muito importantes para uma boa prática pedagógica. Depois de responder à pergunta disse: “Tenho controle sobre todos esses aspectos, mas não consigo atingir meus objetivos junto aos alunos”. Segundo o entrevistado, os alunos de hoje não têm interesse por nada e não valorizam o professor, por isso “Eu vou dando minhas aulas”. Muitos professores presentes no local da entrevista concordaram. Isso me fez refletir sobre as teorias críticas da/na/sobre Educação/ Educação Física abordadas na disciplina “Metodologia do Ensino de Educação Física”, pois saimos dessa entrevista com a sensação de que faltava a problematização das teorias críticas nessa escola. Talvez pelo tumulto e problemas enfrentados na entrevista, essa escola tenha chamado mais atenção. O fato é que não observamos aspectos desse professor crítico nas falas e posicionamentos dos quatro docentes entrevistados. Segundo Chicon e Sá (2010, p. 13), “[...] Ocorre que existem, atualmente, nas escolas públicas, conflitos culturais, políticos e econômicos que exigem redefinições da própria civilização, pois ela, a escola opera pela via da disciplinarização dos indivíduos [...]”. Portanto, é necessário uma atuação crítica/transformadora do professor. Não podemos nos amedrontar e ir “dando nossas aulas”; precisamos mediar os conflitos e favorecer a reflexão, colaborando para a superação das situações emergentes, objetivando promover no aluno “[...] um agir autônomo e transformador que lhe garanta as condições efetivas para exercer sua cidadania” (CHICON; SÁ , 2010, p.19). Ao refletirmos melhor sobre esse contexto, percebemos como este assunto é complexo, porque “As escolas não podem mudar sem o empenho dos professores; e estes não podem mudar sem uma transformação das instituições em que trabalham” (NÓVOA, 1997, apud BRACHT et al., 2007, p. 85). Apesar de ser arriscado culpabilizar este ou aquele professor por não serem os produtores de sua cultura docente, promovendo as transformações necessárias para uma prática renovadora, cruzar os braços e pensar que a realidade que se apresenta é uma substância imutável e controlável por várias fórmulas ditadas pela experiência (BRACHT et al., 2007, p. 50), em nada ajuda a mudar essa situação. “Em educação os insucessos têm que incomodar, mas não imobilizar a ação docente, devem ser tomados como um elemento de reflexão para ação” (BRACHT et al., 2007, p. 53). Expandindo essa ideia, percebemos que o estágio é um momento especial para o aluno observar e refletir sobre os complexos desafios da prática pedagógica, porque este é o momento oportuno, dentro de seu curso
58 Estágio Supervisionado 2
de formação, para uma tomada de consciência e problematização desse contexto específico. No que se refere ao vínculo empregatício, todos os professores entrevistados apresentam contrato de trabalho temporário com a escola na qual atuam (questão nº 14), conforme apresentado no Quadro 7: Identificação dos Professores Professor 1 Professor 2 Professor 3 Professor 4
Tipo de Vínculo Temporário Temporário Temporário Temporário
quadro 7 - Vínculo que os professores entrevistados mantêm com a escola na qual atuam
Analisando os salários brutos dos entrevistados (questão nº 17), percebemos que eles ganham relativamente bem quando comparados com outros trabalhadores sem formação superior e que pegam “no pesado” para muitas vezes ganhar apenas um salário mínimo (SM). Contudo, se formos comparar com outros profissionais com formação superior que trabalham no município (dentistas, engenheiros, médicos), percebemos que eles ganham relativamente mal no exercício da docência. Até profissionais de algumas áreas que só tem um curso técnico, muitas vezes, ganha mais que o professor de Educação Física. Identificação dos Professores
Renda mensal
Professor 1
Mais de 3 SM a 4 SM
Professor 2
Mais de 2 SM a 3 SM
Professor 3
Mais de 3 SM a 4 SM
Professor 4
Mais de 2 SM a 3 SM
quadro 8 – Salário bruto do professor entrevistado
Contudo, todos trabalham em outras instituições educacionais para aumentar seus ganhos mensais (questão nº 18), conforme demonstra o Quadro 9. Identificação dos Professores Professor 1 Professor 2 Professor 3 Professor 4
Instituições de Atuação Rede Estadual de Ensino Rede Municipal de ensino de outro município. Rede Privada de Ensino Rede Estadual de Ensino.
quadro 9 – Outras instituições em que os professores trabalham
Alguns dos entrevistados também ressaltaram essa característica da docência em Educação Física, destacando que a maior parte dos professores “Comem alguma coisa na escola mesmo enquanto esperam o próximo turno”. Geralmente, lancham o que seus alunos merendam no recreio, pois a maioria mora longe da escola. Seria muito bom se o professor fosse valorizado e pudesse exercer a docência em apenas um turno, ficando em casa no outro, planejando sua aula para o dia seguinte, principalmente o professor de Educação Física que trabalha com a cultura corporal de movimento e tem um leque enorme de possibilidades de trabalhar seus conteúdos. Isso também seria excelente para permitir que outros professores entrassem no mercado de trabalho. Essa “revitalização docente” seria benéfica em todos os sentidos, pois teríamos professores menos estressados em salas de aula, talvez menos decepcionados com sua prática diária e mais preparados para lidar com seus problemas docentes cotidianos. Com isso, talvez fossem menos responsabilizados por tudo o que ocorre na sala de aula. Condições de trabalho Quanto à carga horária de trabalho semanal (questão nº 26) na escola onde os professores ministram suas aulas, a análise dos dados revela que eles trabalham em média 20 horas semanais. Porém, sabemos que a carga horária do professor vai além das horas que ele se dedica à sua prática na escola, pois organizar o processo de ensino para propiciar uma melhor aprendizagem demanda trabalho e envolvimento, pois “[...] o planejamento da ação docente é um processo que envolve operações como: analisar, definir, selecionar, estruturar, refletir, organizar, prever [...]” (PASSAMANI; DUARTE, 2010, p. 30) e o plano de ensino deve ser pessoal. Apesar do planejamento coletivo que acontece na escola, o plano de ensino do professor deve refletir sua personalidade e suas concepções individuais. Nesse contexto, o professor não trabalha pouco, pois elaborar este plano de aula requer dedicação e um tempo dedicado especificamente a isso. Se não for assim, não seremos respeitados como professores e, no caso da Educação Física, é mais complexo ainda, pois lidamos com o corpo e, em nossas aulas, devemos ir além de simplesmente ensinar o aluno “[...] a memorizar movimentos, a repeti-los, sem que eles compreendam o que estão fazendo [...]” numa perspectiva bancária de Educação Física (FONTE, 2010, p. 35). O Gráfico 4 quantifica a carga horária dos entrevistados:
60 Estágio Supervisionado 2
25
25 20
20
20 17
Professor 1 Professor 2 Professor 3 Professor 4
15 10 5
Carga-horária Semanal do Professor Gráfico 4 - Demonstrativo das horas semanais trabalhadas pelo professor
Outro dado inquietante apresentado no Gráfico 4 é a carga horária do Professor 4, pois, quando comparamos a carga horária semanal com o salário bruto mensal dos professores (Gráfico 5), percebemos que, segundo as informações declaradas, esse professor trabalha mais e ganha menos. 25
25 20
20
17
Carga-horária semanal Renda mensal
15 10 5
4,3
2,4
Professor 1
2,3 Professor 2
3,5
Professor 3
2,3 Professor 4
Gráfico 5 - Demonstrativo da relação horas semanais trabalhadas /salário bruto mensal
Essa constatação não condiz com a realidade do professorado em geral, pelo menos no que diz respeito a salário, que é uma questão delicada à qual muitos professores preferem não responder. Aliás, foi informado a todos os professores entrevistados que havia a opção de não responder a essa pergunta. Em relação ao número de alunos (questão nº 29), temos a seguinte distribuição:
Unidade 1 O professor de educação física no Espírito Santo: o inventário das práticas 61
40
40 35 30 25 20
30
30
20
15
Professor 1 Professor 2 Professor 3 Professor 4
10 5 Média de Alunos por Turma Gráfico 6 - Demonstrativo da média de alunos por turma.
Os dados demonstram que a média por turma nas aulas de Educação Física no município é de 30 alunos (questão nº 29). O Professor 2 é o que registrou o menor número (20 alunos) e o Professor 4, o maior (40 alunos). Portanto, quando esse professor declara: “Tenho controle sobre todos esses aspectos, mas não consigo atingir meus objetivos junto aos alunos”, percebemos que suas dificuldades são maiores, pois mediar o conhecimento para 40 alunos é mais difícil, ainda mais se levarmos em conta que cada um tem sua maneira de aprender e, no caso específico da Educação Física, Ao considerar as necessidades, as possibilidades, os interesses e as expectativas de cada indivíduo no processo de ensino-aprendizagem das habilidades motoras, negamos a ideia de ‘sujeito universal’, ou seja, a noção de que todos são iguais e possuem as mesmas demandas nesse processo. É preciso que os professores tratem seus alunos em sua singularidade, não generalizando métodos e procedimentos [...] (MELLO, 2010, p. 43).
Outro aspecto que merece destaque nesta questão de número de alunos se relaciona com o conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP) das teorias interacionistas defendidas por Vygotsky e a importância de o professor identificar e mediar os conhecimentos nessa zona. Estudamos a importância da ZDP em algumas disciplinas ao longo do curso, portanto é impossível não analisar a média de alunos por turma em cada escola levando em conta esse conceito que é central na teoria desse autor e muito útil à educação.
62 Estágio Supervisionado 2
Como vê o desenvolvimento de forma prospectiva, ou seja, para aquilo que irá acontecer, para as funções que estão emergindo, Vygotsky preconiza que a aprendizagem alavanca o desenvolvimento. Nesse sentido, a boa aprendizagem é aquela que incide um pouco além do desenvolvimento real dos indivíduos, em uma zona onde os conhecimentos estão próximos a se efetivar, contudo, sem a ajuda do outro, mais experiente, esse novo conhecimento não se concretiza. Essa região, que está logo além da zona de desenvolvimento real, Vygotsky denominou de zona de desenvolvimento proximal (MELLO; DAMASCENO, 2011, p. 34).
Nesse contexto, é importante levar em consideração o potencial de aprendizagem de nossos alunos nas situações de ensino. No entanto, em uma turma de 40 alunos, é muito mais difícil identificar a ZDP, porque são 40 ZDPs diferentes. Como citou o professor Leonardo Damasceno em um dos fóruns da disciplina “Conhecimento e metodologia do ensino do jogo”: [...] não existem testes para medir a zona de desenvolvimento proximal de cada aluno ou de toda uma turma sobre tal ou qual conhecimento/habilidade [...] é a relação dialógica, de proximidade entre o professor e o aluno que pode facilitar ao professor a compreensão das necessidades de cada aluno, para que ele ‘tente’ intervir e/ou mediar determinado conhecimento/conteúdo numa zona de desenvolvimento proximal [...] cada aluno, como ‘ser único’, tem sua zona de desenvolvimento proximal para cada coisa na vida. Logo, numa turma, um professor terá tantas zonas de desenvolvimento proximal quantos forem os seus alunos. Portanto, é humanamente impossível dar uma aula que dê conta de ir ao encontro à zona de desenvolvimento proximal de cada aluno. Mas, por outro lado, se você professor(a) tiver consciência disto e, numa aula conseguir ajudar alguns poucos alunos no sentido de sua aprendizagem/desenvolvimento, tenha certeza, já será um excelente começo.
Em relação aos espaços destinados à problematização dos conteúdos nas aulas de Educação Física (questão nº 31), percebemos a seguinte situação:
Unidade 1 O professor de educação física no Espírito Santo: o inventário das práticas 63
Espaços para Aulas de Educação Física Identificação dos Professores Professor 1 Professor 2 Professor 3 1 – Quadra Sim 2 - Quadra coberta 3 - Campo de areia 4 - Pátio Sim Sim 5 - Piscina 6 - Sala de Dança 7 - Sala de Jogos Sim 8 - Sala de Ginástica Campo de 9 - Outros. Quais? futebol
Professor 4
Sim
quadro 10 – Espaço(s) destinados à Educação Física nas escolas
Os dados apresentados no Quadro 10 demonstram que o pátio é o principal espaço onde as aulas acontecem nas escolas do município. Porém, durante a entrevista, a maior parte das reclamações veio do Professor 2, pois seu pátio é bem menor que o das outras escolas: “Tenho que usar a criatividade, senão fica difícil dar minhas aulas”. Contudo, é exatamente isso que a sociedade e a escola cobram do professor: a criatividade, a capacidade de tomar decisões quando confrontados com as necessidades de sua prática docente. Prática pedagógica Pensar sobre a prática pedagógica é também uma atividade constante entre professores, mas este pensar pode se dar tanto em uma perspectiva que não ultrapassa os limites da atuação, meramente, técnica e instrumental, como em uma perspectiva reflexiva na qual os docentes buscam superar a visão de serem compreendidos como meros aplicadores e executores de proposições/teorias elaboradas pelos especialistas (experts) em educação física (CAPARRÓZ, 2009, p. 23).
Quanto às condições de trabalho da Educação Física nas escolas entrevistadas (Quadro 11), percebemos que o Professor 2 aparece como o que tem melhores condições. A falta de um espaço específico para as aulas é um dos itens mais criticados. Observamos também que os materiais das escolas municipais são melhores que os da escola estadual.
Espaços Físicos para Aulas de Educação Física 1 - Em geral, o(s) espaços específicos para Educação Física é(são): 2 - Em geral, o ruído originado nesse(s) espaço(s) é(são): 3 - Em geral, a ventilação nesse(s) espaço(s) é(são): 4 - Em geral, a iluminação nesse(s) espaço(s) é(são): 5 - Em geral, as condições dos pisos, as paredes nesse(s) espaço(s) é(são): 6 - Em geral, os materiais pedagógicos (bolas, redes, colchão, etc)
Professor 1
Identificação dos Professores Professor 2 Professor 3 Professor 4
Regular
Ruim
Bom
Não tem
Regular
Bom
Regular
Ruim
Excelente
Bom
Regular
Bom
Excelente
Bom
Bom
Bom
Não tem
Bom
Regular
Regular
Excelente
Excelente
Bom
Regular
quadro 11 – Avaliação dos aspectos relativos às condições de trabalho da Educação Física
Más condições de trabalho podem perturbar a harmonia das aulas do professor de Educação Física, porém Figueredo (2009, p.12) evidencia a importância de o professor construir seus saberes pedagógicos a partir das necessidades reais encontradas em sua prática docente. Nas práticas docentes, estão contidos elementos extremamente importantes, como a problematização, a intencionalidade para encontrar soluções, a experimentação metodológica, o enfrentamento de situações de ensino complexas, as tentativas mais radicais, mais ricas e mais sugestivas de uma didática inovadora, que ainda não está configurada teoricamente (FIGUEREDO, 2009, p.12).
Ventorim et al. (2011, p. 32) citam a importância do professor pesquisador de sua própria prática que articula conhecimento e ação produzindo os conhecimentos necessários para a construção da sua autonomia profissional. Esse professor não se intimida pelas condições de trabalho produzindo os saberes necessários para lidar com os conflitos que se apresentam. O Professor 4 atua na única escola estadual do município de Iconha e foi justamente nesta, que possui mais de 1.000 alunos, que o professor entrevistado reclamou da falta de material, pois, segundo ele, o que o Estado manda para escola é insuficiente para que suas aulas sejam ministradas com tranquilidade até o fim do ano, tendo que, inclusive, “economizar”, racionando bolas e outros materiais necessários para a problematização de suas aulas. Os procedimentos de ensino (PASSAMANI; DUARTE, 2010, p. 53) se relacionam com os modos pelos quais acontecerá a intervenção do pro-
Unidade 1 O professor de educação física no Espírito Santo: o inventário das práticas 65
fessor ao desenvolver os conteúdos em suas aulas, refletindo também a interação do aluno com o ambiente à sua volta; no município, percebemos que, apesar de alguns dados negativos, os procedimentos de ensino são socializados (Quadro 12): Identificação dos Professores 1 - Os alunos constroem a aula com você 2 - Os alunos escolhem o conteúdo a ser ensinado 3 - Os alunos debatem a aula 4 - Os alunos têm suas experiências culturais consideradas 5 - Os conteúdos são problematizados com os alunos
Professor 1
Professor 2
Professor 3
Professor 4
Às vezes
Raramente
Frequentemente
Às vezes
Raramente
Nunca
Raramente
Nunca
Frequentemente
Às vezes
Frequentemente
Às vezes
Frequentemente
Frequentemente
Frequentemente
Frequentemente
Frequentemente
Frequentemente
Raramente
Frequentemente
quadro 12 – Frequência com que os entrevistados problematizam os seguintes procedimentos de ensino
Dados intrigantes que merecem reflexão são os do Professor 3 que frequentemente permite que os alunos debatam e construam suas aulas com ele, mas raramente problematiza os seus conteúdos com os estudantes. Segundo Damasceno (2009, p. 69), dentro de uma abordagem construtivista sócio-histórica, o professor deve traçar estratégias/objetivos que atinjam a capacidade individual de todos os alunos para a construção de conhecimentos sobre o movimento, sem perder de vista o conteúdo proposto. Essa seria uma boa forma de construir uma aula com nossos discentes. Quanto à avaliação, observamos a seguinte situação (Quadro 13): Avaliação dos Professores 1 - Participação e interesse dos alunos 2 - Frequência nas aulas 3 - Respeito a regras, colegas e professor 4 - Aprendizado dos conteúdos 5 - Aprendizado de movimentos específicos dos esportes, jogos, ginástica, etc. 6 - Melhoria no desempenho motor do aluno 7 - Não avalio os alunos 8 - Outros? Qual(is):
Identificação dos Professores Professor 1
Professor 2
Professor 3
Professor 4
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim Sim
Sim Sim
quadro 13 – O que os professores entrevistados avaliam em suas aulas
66 Estágio Supervisionado 2
Sim Sim Sim
O Quadro13 demonstra o que cada professor avalia em suas aulas: enquanto o Professor 4 avalia vários aspectos, o Professor 3 utiliza como único método de avaliação a participação e interesse dos alunos. Um professor deve avaliar tudo em uma aula, se ele assume a responsabilidade de realmente colaborar com o desenvolvimento pleno do discente. Muitos professores não avaliam a aprendizagem de movimentos específicos dos esportes, jogos, ginástica etc. e a melhoria no desempenho motor do aluno por achar que isso se relaciona com a cobrança de técnica, desempenho físico, competição etc. Porém, até uma brincadeira exige técnica, e todos nós temos o nosso ciclo de desenvolvimento motor que, segundo Mello (2010, p.11), “[...] é compreendido como a contínua alteração do comportamento motor ao longo do ciclo de vida, pela interação entre as necessidades da tarefa, a biologia do indivíduo e as condições do ambiente”. Portanto, não é questão de valorizar o gesto técnico ou o desempenho físico, mas de se preocupar com as mudanças qualitativas necessárias para que o aluno utilize o movimento de forma plena, solucionando possíveis problemas motores em seu comportamento motor. A maior parte dos professores atualmente usa como principal técnica de avaliação a observação, porém concordamos com Hoffmann (apud Ventorim et al., 2011. p. 55), quando afirma que “Não é possível observar os alunos em todos os momentos, nem a memória do professor é suficiente para guardar detalhes importantes de cada um”, por isso é necessário “[...] a elaboração de instrumentos de avaliação que possam produzir registros pedagógicos (p. 55)”. Um desses instrumentos seria a escrita reflexiva a partir de nossas observações do real, que permite guardar esses dados (registros), pois eles serão importantes para diagnosticar os problemas e dificuldades relacionados com cada aluno, como também para otimizar o processo de ensino-aprendizagem, planejando as ações pedagógicas necessárias para favorecer o desenvolvimento de todos os alunos.
Considerações finais A realização desta pesquisa foi muito importante, pois permitiu uma análise da realidade da prática pedagógica em Educação Física em nosso município. Podemos citar três momentos distintos que colaboraram para o nosso crescimento como estudante desta disciplina e também para o enriquecimento de nossa futura prática: 1) a visita às escolas foi essencial para que observássemos as entidades de ensino e escolhêssemos em qual delas iríamos finalmente estagiar;
Unidade 1 O professor de educação física no Espírito Santo: o inventário das práticas 67
2) a interação com os profissionais de ensino se constituiu em um momento especial, pois informações foram trocadas, dados coletados e um panorama do professor de Educação Física e de seu ambiente de trabalho foi descortinado; 3) a comparação e interpretação dos dados possibilitou um novo entendimento sobre nossa realidade de ensino e permitiu que as informações colhidas durante a aplicação do questionário virassem conhecimentos importantes que poderão nortear nossa atuação durante o estágio. Entre os aspectos mais relevantes da pesquisa, podemos citar os saberes produzidos pela reflexão a partir dos dados de nossa realidade concreta. Isso colabora para a formação do profissional que entende sua realidade de ensino e nela pode intervir com mais segurança por meio de uma atuação profissional que se baseia no conhecimento produzido e não em teorias distintas, que não refletem nosso ambiente real. Temos outro entendimento agora sobre nossa realidade e seus diferentes espaços/tempos e isso evidencia o que dizem Ventorim et al. (2011, p. 29), ao citarem Lüdke: O estágio não se resume à aplicação imediata, mecânica, instrumental de técnicas, princípios e normas aprendidos na teoria. A prática não se restringe ao fazer, ela se constitui numa atividade de reflexão que enriquece a teoria que lhe deu suporte. O estágio é um processo criador, de investigação, explicação, interpretação e intervenção na realidade. Não é reprodução automática do já sabido.
Nesse contexto, temos que permitir que o professor reflexivo aflore em nosso estágio e conduza nossos passos em direção à reflexão das questões concretas de nossa prática produzindo os conhecimentos, favorecendo nossa autonomia docente, fazendo desse estágio um processo criador de nossas subjetividades que determinarão nossa identidade de professor.
REFERÊNCIAS BRACHT, V.; GOMES, I. M. Pesquisa e docência em educação física. Vitória: Ufes, Núcleo de Educação Aberta e a Distância, 2010. 29 p. BRACHT, V. Educação física e escola. Vitória: Ufes, Núcleo de Educação Aberta e a Distância, 2009. 70 p.
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BRACHT, V. et al. Pesquisa em ação: educação física na escola. 3. ed. Ijuí: Ed. Unijuí, 2007. 144 p. CAPARRÓZ, F.E. Elaboração de memórial profissional I. Vitória: Ufes, Pró-licenciatura em Educação Física, modalidade EAD, 2009. 61 p. CHICON, J.F; SÁ, M.G.C.S. Metodologia do ensino da educação física. Vitória: Ufes, Núcleo de Educação Aberta e a Distância, 2010. 67 p. DAMASCENO, L.G. Psicologia da educação. Vitória: Ufes, Núcleo de Educação Aberta e a Distância, 2009. 74 p. DELLA FONTE, S.S. Educação física, educação e reflexão filosófica. Vitória: Ufes, Núcleo de Educação Aberta e a Distância, 2010. 48 p. FIGUEREDO, Z.C.C. Educação física, formação docente e currículo. Vitória: Ufes, Pró-Licenciatura em Educação Física, modalidade EAD, 2009. 28p. JUNIOR, M.S.A prática pedagógica da educação física nos tempos e espaços sociais. Trabalho apresentado no XII Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte, Caxambu, 2001. MELLO, A. da S. Comportamento motor. Vitória: Ufes, Núcleo de Educação Aberta e a Distância, 2010. 66 p. MELLO, A. S.; DAMASCENO, L. G. Conhecimento e metodologia do ensino do jogo. Colaboradores: ZANDOMINEGUE, B. A. C.; KLIPPEL, M. V.; JORGE, R. S. Vitória: Ufes, Núcleo de Educação Aberta e a Distância, 2011. 74 p. PASSAMANI, M.H.B.; DUARTE, L.M.S. Didática. Vitória: Ufes, Núcleo de Educação Aberta e a Distância, 2010. 108 p. VENTORIM, S. et al. Estágio supervisionado I. Vitória: Ufes, Núcleo de Educação Aberta e a Distância, 2011. 67 p.
Unidade 1 O professor de educação física no Espírito Santo: o inventário das práticas 69
Trabalho docente em Educação Física no município de Alegre: desafios para a prática pedagógica Welma Guerra9 Flavia Ribeiro10
Introdução Na disciplina Estágio Supervisionado I, foi proposta, na Etapa I, a realização de uma pesquisa intitulada “O professor de Educação Física no Espirito Santo: inventário das práticas”, na qual tivemos como objetivo fazer o mapeamento da realidade educacional nos municipios do Estado do Espirito Santo. Dessa maneira, o municipio escolhido para fazer essa pesquisa foi Alegre. Cabe ressaltar que a pesquisa foi bastante desafiadora, pois possibilitou conhecer mais de perto a realidade das escolas do município. Dessa forma, foram entrevistados cinco professores de diferentes escolas, sendo que uma dessas escolas foi escolhida para ser escola-campo de estágio. A pesquisa foi realizada em agosto de 2011 e proporcionou conhecer o professor desse componente curricular e sua prática. Para isso, foi utilizado um questionário contendo 43 questões, disponibilizado pelos professores da disciplina Estágio Supervisionado I. A análise dos dados coletados foi realizada segundo os cinco eixos norteadores que seguem: a) identificação do professor; b) formação; c) carreira docente; d) condições de trabalho; d) prática pedagógica.
Apresentação e análise dos resultados O primeiro quesito analisado refere-se à identificação dos professores, tratada pelas questões 1, 2 e 28 do questionário. Foram encontrados os seguintes resultados (Gráfico 1):
4 3 2
Masculino Feminino
1
Gráfico 1 - Número de entrevistados por sexo
9 Aluna do Curso Pró-Licenciatura em Educação Física do polo de Alegre 10 Tutora presencial do polo de Alegre
Dos entrevistados, quatro são do sexo masculino e um do sexo feminino. No que se refere à idade dos professores, temos a seguinte distribuição (Gráfico 2):
4 <30 anos 30-34 anos 35-39 anos >40 anos
3 2 1
Número de Professores Gráfico 2 - Idade dos professores entrevistados
Os dados demonstram que a média de idade dos professores é de 34 anos, já que um entrevistado tem menos de 30 anos (29), dois têm entre 30 e 34 anos (30 e 31), um tem 37 e outro mais de 40 anos (46). Em relação ao segmento da Educação Básica, as atuações dos entrevistados são: quatro professores atuando no Ensino Fundamental do 5º ao 9º ano, e um no Ensino Fundamental do 1º ao 4º ano.
4 3
1º ao 4º ano EF 5º ao 9º ano EF
2 1
Número de Professores Gráfico 3 - Segmento de atuação dos entrevistados
No eixo formação, os entrevistados nos mostraram, por meio dos dados coletados, que quatro possuem curso superior completo com PósGraduação lato sensu, e um está em processo de formação superior. Cabe ressaltar que a formação de todos eles é em Educação Física e eles ampliaram sua formação continuada na mesma área. Esse é um ponto bastante favorável para as instituições em que atuam esses profissionais, pois, segundo Figueiredo (2009, p. 26) “[...] na forma-
Unidade 1 O professor de educação física no Espírito Santo: o inventário das práticas 71
ção inicial em Educação Física, a relação com os saberes curriculares é regulada por experiências sócio-corporais vividas anteriormente e produz ações específicas como valorizações e hierarquizações decorrentes de elementos inscritos subjetivamente em suas identidades”. Ou seja, que relação com os saberes curriculares teria um profissional que tivesse sua formação acadêmica em outra área educacional que não fosse a Educação Física? Teria uma boa prática pedagógica em Educação Física alguém que tivesse apenas concluído o ensino superior em Letras, por exemplo? Atuaria de forma satisfatória um professor de Educação Física como enfermeiro, sem nunca ter se especializado nessa área? Tais questionamentos nos fazem refletir mais uma vez, de acordo com Figueiredo (2009, p. 26), que “O professor de Educação Física precisa favorecer que os alunos construam novos conhecimentos a partir das suas próprias experiências sócio-corporais”. Para isso, é preciso ter em mente os saberes que constituem a docência que são: a experiência, o conhecimento e os saberes pedagógicos. Sabendo que a formação docente deve ser vista como um processo contínuo, não basta ter um diploma e dizer “Estou pronto”. Durante o exercício de sua prática docente diária, ou seja, no cotidiano escolar, o professor precisa se assumir como pesquisador, ser autor de sua prática, deixando de ser mero consumidor daquilo que outros produzem. Conforme Bracht nos diz (2010, p. 22), “[...] o professor que não pesquisa também não tem o que ensinar”. Quanto à carreira docente dos entrevistados, notamos que três profissionais atuam de forma contratual com designação temporária, e os outros dois com vínculo efetivo.
4 3
Designação Temporária Efetivo
2 1
Número de Professores Gráfico 4 - Vínculo contratual dos entrevistados
Foi observado um número maior de professores com um vínculo contratual não estável e isso, para a instituição, pode ser prejudicial, pois
72 Estágio Supervisionado 2
as constantes mudanças de professores, devido ao vínculo empregatício, dificultam a sequência do trabalho dos professores e também a questão afetiva entre professor e aluno. Na questão relacionada com o trabalho em outra instituição educacional, três professores confirmaram que não trabalham e os outros dois trabalham em outras instituições educacionais de âmbito federal e estadual. Um índice de 60% (três) se declarou como os principais provedores de renda de suas casas, e 40% (dois) afirmaram que não são os únicos provedores da renda familiar. Ao obter as informações sobre as condições de trabalho, no que se refere à quantidade de alunos por turma, observamos uma média final, nas cinco instituições educacionais, de 25,6 alunos por turma. Consideramos essa uma média razoável, uma vez que normalmente encontramos nas salas de aula esse número aproximado de alunos. Comparando os dados obtidos na entrevista sobre os aspectos relativos às condições de trabalho da Educação Física nas escolas em questão, tivemos os seguintes resultados:
4 3
Ruim Regular Bom Excelente Não tem
2 1
A- O espaço específico para Educação Física é B- O ruído originado nesse espaço é C- A ventilação nesse espaço é D- A iluminação nesse espaço é E- As condições dos pisos, paredes, nesse espaço são F- Os materiais pedagógicos são Gráfico 5 - Condições de trabalho/espaço físico
O Gráfico 5 mostra que as condições de trabalho no espaço físico das escolas que participaram da pesquisa estão relativamente boas, mas essa condição ainda não é a melhor para se ter uma educação de qualidade. Podemos observar e confirmar que a falta de investimento na área da educação e, por consequência, na Educação Física, é uma triste realidade.
Unidade 1 O professor de educação física no Espírito Santo: o inventário das práticas 73
As escolas estaduais e municipais que muitas vezes são apresentadas pela mídia sem equipamentos adequados e materiais esportivos para uma prática de Educação Física com padrões de qualidade não tem sido prioridade em nosso país. E não tendo muito a fazer, os educadores de Educação Física buscam materiais alternativos, adaptados, procurando enriquecer seus trabalhos e proporcionando a seus alunos vivenciarem práticas corporais, que talvez estejam longe de suas realidades. Analisando também a vivência profissional, obtivemos as seguintes informações de acordo com o grau de satisfação dos professores entrevistados:
4
Sempre Frequentemente Raramente Nunca
3 2 1
A- Eu me sinto frustrado com um trabalho B- Eu sinto que tenho muito a contribuir na educação C- Eu penso em parar de trabalhar na educação D- Eu sinto que a educação me permite utilizar ao máximo minhas capacidades E- Eu penso que em outra profissão utilizaria melhor minhas habilidades intelectuais F- Eu penso que a educação me proporciona grandes satisfações G- Eu escolheria ainda trabalhar em educação, se eu tivesse que recomeçar minha vida profissional. Gráfico 6 - Vivência profissional dos entrevistados
De acordo com o Gráfico 6, notamos que os professores entrevistados estão relativamente satisfeitos com a profissão, apesar dos constantes problemas encontrados e também do descaso com a educação no Brasil. Porém, é necessário ter como foco a importância de ser um professor atuante e atento às questões políticas, reconhecendo os direitos e deveres, pois diversas questões são integradas ao trabalho docente como: remuneração, composição de turmas, conselhos escolares, investimento em infraestrutura, locais adequados para o desenvolvimento das aulas de Educação Física, formulação de planos educacionais, projetos pedagógicos, dentre outros.
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Essas temáticas são instrumentos de luta por uma educação pública, gratuita e de qualidade, com dignidade na formação e na carreira docente, com financiamento adequado e escolas de Educação Básica suficientes e boas para todos os brasileiros (ARAÚJO, 2011, p. 50). Para acontecer uma educação de qualidade, é necessário que todos participem. Para isso, reclamações vazias não contribuem e não modificam nada. Se, na verdade, não estou no mundo para simplesmente a ele me adaptar, mas para transformá-lo, se não é possível mudá-lo sem um certo sonho ou projeto de mundo, devo usar toda possibilidade que tenha para não apenas falar de minha utopia, mas participar de práticas com ela coerentes (FREIRE, apud ARAÚJO, 2011). Relacionado com a prática pedagógica, observamos que os professores apresentam razoável a um bom controle nos quesitos analisados nessa questão. É importante destacar que dois deles pouco sabem do projeto político-pedagógico de sua escola, ficando alheios a informações relevantes contidas nesse documento. Entretanto, a maioria dos professores registrou um ótimo controle das atividades desenvolvidas, escolha do material didático e conteúdos a serem ministrados. Muito Razoável Pouco Nenhum Não opinou
4 3 2 1
Os conteúdos ensinados
Modos e métodos de educar
Escolha do Avaliação material dos alunos didático
Organização Projeto dos horários pedagógico da escolha
Gráfico 7 - Prática pedagógica
Quanto aos procedimentos de ensino, chegamos aos seguintes resultados: na maioria das vezes, os alunos constroem a aula com o professor, suas experiências culturais são respeitadas e os professores problematizam os conteúdos com eles. Entretanto, existe um pequeno grupo que escolhe os conteúdos sem a contribuição de seus alunos e também não permite que eles participem na construção de suas aulas, como demonstrado no Gráfico 8.
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4 3
Frequentemente Às vezes Raramente Nunca
2 1
A- Os alunos constroem a aula com você B- Escolhem o conteúdo a ser ensinado C- Debatem a aula D- Suas experiências culturais são consideradas E- Os conteúdos são problematizados com os alunos Gráfico 8 - Procedimentos de ensino
O Gráfico 9 mostra o relacionamento professor e aluno, onde constatamos que existe um bom relacionamento entre eles e também percebem que representam um papel gratificante na formação de seus alunos. Embora nem todos julguem como tarefa fácil motivá-los, e que gastam muita energia para manter a disciplina nas aulas.
4
Muito Razoável Pouco
3 2 1
A- É fácil motivar meus alunos. B- Manter a disciplina em sala de aula com os alunos exige muita energia. C- Algumas vezes eu tenho medo dos meus alunos. D- Exerço um papel gratificante com meus alunos. E- Os alunos respeitam minha autoridade. F- Ao final da aula, percebo que os alunos aprenderam alguma coisa. G- Encontro dificuldades em atender as diversas necessidades dos alunos. H- Minha relação com os alunos é em base afetiva. I- Quando meus alunos estão indisciplinados, eu me sinto atordoado/a. J- Sou uma pessoa que tem um papel importante sobre o futuro dos alunos. Gráfico 9 - Relacionamento professor e aluno
76 Estágio Supervisionado 2
Nenhum Não opinou
Considerações finais A pesquisa realizada foi de grande importância para nós, alunos em formação. A possibilidade de, durante a formação acadêmica, envolver-se no processo de ensino da Educação Física foi gratificante e enriquecedora. A aplicação do questionário e a entrevista com os profissionais na área de Educação Física permitiram uma visão mais ampla das dificuldades, vivências, satisfações, inseguranças e frustrações; ou seja, da realidade atual de ensino dessa disciplina não só no município de Alegre, mas no Estado do Espírito Santo. A análise dos resultados e a avaliação crítica permitiram uma profunda reflexão do que é “ser um profissional de Educação Física” nos dias de hoje e ainda uma autoavaliação, garantindo uma escolha de estratégias mais eficazes para atender às novas exigências. Por fim, o relato descritivo de todo o processo foi enriquecedor, pois permitiu uma aprendizagem significativa, utilizando recursos pedagógicos diversos, como leituras, pesquisas, citações, confecções de gráficos, entre outros. Foi possível relacionar a “prática” (realidade) com a “teoria” (as diversas disciplinas estudadas durante o curso).
REFERÊNCIAS ARAUJO, G. C. Política e organização da educação básica. Vitória: Ufes, Núcleo de Educação à Distância, 2011. FIGUEREDO, Z. C. C. Educação física, formação docente e currículo. Vitória: Ufes, Núcleo de Educação à Distância, 2009. SILVA, P. C. C. Conhecimento e metodologia do ensino da ginástica. Vitória: Ufes, Núcleo de Educação à Distância, 2011.
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2
A intervenção didático-pedagógica nas aulas de educação física
Apresentação Olá a Todos! Gostaria de informar à Equipe de Estágio que fui à escola - campo na qual vou realizar meu estágio. Conversei com o diretor e o professor de Educação Física que aceitou a proposta, porém, na hora que fui buscar informação sobre o PPP, fiquei surpresa, pois a escola não possui. Diante desta realidade da escola que diz que vai começar a montar o PPP precisei buscar informações de quem podia me ajudar através das orientações postadas na plataforma. O diretor disse que eu tinha que procurar a supervisora mais antiga da escola e marcar um dia com ela para poder recolher as informações para depois eu fazer meu relatório. O dia está marcado para esta sexta-feira próxima e espero que dê tudo certo. Enfim, estou passando a situação para que fiquem cientes de que estou buscando resolver as coisas por aqui. Obrigada! (BC) Equipe de Estágio... Bateu-me uma dúvida! Estou atuando como professora de Educação Física. Na escola trabalha eu e mais outro professor. Já iniciei minhas observações, entrevistas, relatos. Até fotos já tirei, porém lembrei-me de que o Wagner me disse que posso fazer meu estágio na minha sala, com uma turma. E agora como prosseguir? Eu escolhi estagiar com um professor, devido à pesquisa que fizemos, mas quero fazer na minha turma, já que estou em sala de aula. O que vocês me orientam? Continuo com o professor, ou inicio com minha turma? (RSH) Passando por aqui, quero compartilhar alguns pontos referentes ao meu processo de estágio, que foi muito gratificante. Primeira pergunta: É normal, no estágio, planejarmos uma ‘grande e fantástica’ aula e essa não dá certo? Pois aconteceu comigo. Planejei uma aula para o 5º ano e os alunos não interagiram muito e acabei não atingindo meus objetivos previstos. Isso já aconteceu com você? Se já, será que você sentiu o mesmo que eu? Uma sensação ruim. Mesmo sendo professor há algum tempo, vi o quanto é ruim quando uma aula não dá certo, apesar de que nunca atuei na Educação Física. Isso reforçou para mim um valor a mais do estágio, pois pude rever meus conceitos quanto ao ato de planejar. Aprendi que cada turma tem as
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suas particularidades e o melhor, vi que o que eu penso nem sempre é a melhor saída, devemos respeitar a ideia do outro, mesmo sendo contrária às nossas. Mas, no mais foi legal, interessante e de muito aprendizado (ACA). Olá, professor, o relatório da cultura escolar consegui fazer, mas o do PPP da escola a diretora não conseguiu um tempo que pudesse me atender para responder, pois ele é muito complexo e grande. Gostaria de saber se realmente o prazo final é amanhã ou se o senhor poderá estender este prazo para pelo menos mais uma semana. Sem mais um abraço (SGA). Fernanda, o estagio supervisionado ajuda a gente a ter mais base, na nossa caminhada. Isso terá mais vivacidade quando formos participar diretamente (BLAG).
Como vimos, o momento de inserção na escola é sempre cercado de dúvidas, tensões, surpresas, alegrias, angústias. Esses trechos revelam um pouco do processo construído/vivido por nós durante o Estágio Supervisionado I, evidenciando as riquezas e as incompletudes do processo de formação do ser professor. Assim, compreendemos que, na etapa que iniciamos agora, também outros e muitos sentimentos estarão presentes: alegria, insegurança, medo, surpresa etc. Novamente, seremos tomados por esse turbilhão de emoções que fazem parte do processo a ser vivenciado. Por isso, acreditamos que a parceria entre nós, professores especialistas e tutores, e vocês, alunos do Prolicen, continuará sendo o principal elemento para enfrentarmos esse novo desafio. Para isso, torna-se essencial pensarmos e construirmos juntos o processo de intervenção. Assim, apresentamos a vocês, nesta Unidade II, os elementos que compõem o planejamento dessa intervenção, já que esse se constitui como etapa essencial em todas as ações que iremos realizar. Nesta Unidade, reiteramos o diálogo feito por vocês em outras disciplinas, especialmente a de Didática, adentrando na especificidades da Educação Física. Sabemos que vocês já construíram algumas propostas nas oficinas cursadas. Contudo, a possibilidade de assumir esse planejamento deverá ser decidida com o professor que irá recebê-los para a realização do Estágio. Neste momento, precisamos lembrar que nossa entrada na escola irá provocar algumas alterações na organização do trabalho do professor. Contudo, devemos ter em mente que nossa inserção naquele espaço
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não deve significar rompimento com o trabalho organizado. Nosso papel, nesse momento, é compreender de que maneira podemos construir e vivenciar essa prática em parceria/colaboração com esse professor. Por isso, o conteúdo a ser desenvolvido em sua intervenção deverá ser decidido em comum acordo com o professor da escola-campo de Estágio. Definido o conteúdo, passaremos a pensar na construção do nosso plano de intervenção e, nesse processo, precisamos atentar para alguns elementos: características da escola e dos alunos, objetivos de ensino, metodologia, avaliação. Enfim, há um conjunto de conhecimentos necessários para que possamos “dar vida” ao que foi por nós pensado. Assim, convidamos a todos para esse desafio!
2.1 A Escola A maior riqueza do homem é a sua incompletude. Nesse ponto sou abastado. Palavras que me aceitam como sou — eu não aceito. Não aguento ser apenas um sujeito que abre portas, que puxa válvulas, que olha o relógio, que compra pão às 6 horas da tarde, que vai lá fora, que aponta lápis, que vê a uva etc. etc. Perdoai. Mas eu preciso ser Outros. (Manoel de Barros, 1996).
Educação Infantil, anos iniciais do Ensino Fundamental, anos finais do Ensino Fundamental, Ensino Médio. De qual escola estamos tratando para o contexto dos próximos Estágios? Pátio, quadra, sala, campo, lote, corredor. Quais espaços você dispõe para a aula de Educação Física na escola do Estágio? Conteúdos, objetivos, métodos, avaliações. Quais sentidos para a Educação Física está disposto a produzir e renovar no Estágio? Quando falamos em escola, pensamos em um espaço específico para tratar da incompletude do conhecimento humano, para a comunicação e produção de saberes e fazeres sistematizados historicamente. Não podemos negar que a escola é o mais importante instrumento do processo educacional, contudo devemos ter clareza de que não é o único. Reconhecemos que a educação escolar se caracteriza por ser uma atividade intencional e organizada do ponto de vista dos conteúdos e sistemática em relação aos seus métodos de difusão e apropriação. É na escola que as crianças têm acesso a conhecimentos sistematizados historicamente e negociam seus modos de compreender o mundo com os demais sujeitos que praticam esse lugar. Nesse contexto, o educador se insere com a intenção de levar o aluno a compreender a realidade cultural, histórica, social e política da qual também é parte, a fim de que se torne capaz de tensionar criticamente diferenciados modos de viver em sociedade. Para a escola, instituição muito conhecida por vocês, muitas funções têm sido destinadas ao longo dos anos: a) preparar os alunos para o domínio de instrumentos culturais, intelectuais, profissionais e políticos;
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b) viabilizar um processo educacional emancipador, humano e integral voltado para o exercício pleno e consciente da cidadania e para a realização pessoal; c) garantir a viabilização dos programas de ensino propostos; d) assegurar que o tempo destinado ao ensino seja respeitado; e) criar condições favoráveis à autoformação profissional, mantendo à disposição do professor, elementos favorecedores de ensino e atendendo àqueles que apresentarem dificuldades; f) possibilitar um posicionamento crítico em frente a estereótipos e a padrões rígidos de ordem estética, social e cultural; g) estimular a autonomia cultural e intelectual dos alunos; h) possibilitar aos alunos condições para produzir e se apropriar de conhecimentos acumulados pela humanidade, de instrumentos de reflexão e análise e de diferentes formas de comunicação e expressão crítica. Nesse momento de formação profissional, interessa-nos não somente prescrever modos de ser professor de Educação Física. Para além de uma formatação procedimental, como a que padroniza os modos de ser criticados pelo poeta Manoel de Barros (1996), interessamo-nos por movimentos de formação que confiram a vocês, alunos-estagiários, o protagonismo de práticas criativas na escola. Interessamo-nos por ampliar suas experiências nesse espaçotempo em que em breve irão praticar como professores de Educação Física. Não o conforto dos lugares estáveis, mas o desassossego de múltiplas experiências pedagógicas vividas com importância por vocês. No Estágio Supervisionado I, a pesquisa “O professor de Educação Física no Espírito Santo: inventário das práticas”, realizada com professores/as em diferentes regiões do Estado, possibilitou uma aproximação inicial com a escola eleita para compor o processo de intervenção nos Estágios Supervisionados II e III, que se constituirão ao longo do ano letivo de 2012. Esses primeiros contatos tinham a intenção de provocar aproximações com a escola, com as práticas dos sujeitos (alunos/as, profissionais e famílias), bem como com os documentos, procedimentos, saberes, fazeres e relações que tecem os modos de viver cada escola. Assim, este fascículo deve ser lido, problematizado e discutido em diálogo com uma escola especial: aquela em que você realizará o Estágio. Mas, de qual escola estamos falando? Como você compreende a caracterização do bairro e da clientela atendida? Que normas, rotinas, prescrições e práticas atravessam essa escola? Como os sujeitos nela se organizam? Como a Educação Física nela se materializa? Quais têm sido
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os temas, conteúdos e demandas priorizados pelo professor de Educação Física? Como suas intervenções como estagiário/a se inserem nessa escola? De que modo você negocia, complementa, amplia ou rompe com o que tem sido praticado pelo professor de Educação Física? Muitas questões são problematizadas por vocês que protagonizam o Estágio, pelos sujeitos que praticam a escola e por todos nós que estamos imbricados nesse processo no âmbito do Prolicen. Os sentidos que atravessam as disciplinas de Estágio Supervisionado, este curso de Licenciatura em Educação Física, e os modos de viver a escola são produzidos por todos, de forma coletiva e individual, que tensionamos modos particulares de viver esses processos e que conferimos a eles diferentes valores. Assim como Manoel de Barros (2006, p. 15), acreditamos “[...] que a importância de uma coisa não se mede com fita métrica nem com balanças nem barômetros etc. Que a importância de uma coisa há que ser medida pelo encantamento que a coisa produza em nós”. Um mergulho com todos os sentidos, (ALVES et al., 2002) nos permite compreender a escola como um lugar que se constitui de estrutura física, documental, de múltiplos fazeres, saberes, poderes, afetos e relações; como palco de tensões e negociações das relações éticas, das questões estéticas, das diferenças étnicas, das opções sexuais, das diferenças culturais, da produção e difusão da violência, do uso e comércio de drogas, e, ainda, como um espaço praticado por sujeitos que conferem a ela encantamentos e sentidos múltiplos que serão negociados e compartilhados no Estagio Supervisionado em Educação Física. Como estagiário/a da disciplina Educação Física, é preciso problematizar o modo como o seu projeto (que integra suas compreensões, objetivos, conteúdos, métodos e avaliação) mantém diálogo com o projeto do/a professor/a de Educação Física, com o político-pedagógico da escola, com as expectativas dos/as alunos/as e dos/as demais professores/as, e com os espaçostempos de formação inicial e continuada dos quais faz parte. Este trabalho não é definitivo e necessita de uma revisão permanente, condição que pode renovar a sua prática, aproximá-la da reflexão téóricometodológica nela sistematizada, contemplar alunos/as e profissionais de uma escola, tratar de situações que não são idealizadas de modo hipotético; são vividas intensamente no Estágio. Diálogos com o seu próprio trabalho, diálogos com os sujeitos escolares, de que modo eles se constituem? Tratamos dos diálogos como uma forma de se relacionar consigo e com o outro. Um exercício que não busca se opor violentamente ou desqualificar as opções e produções dos/as alunos/as e dos/as profissionais a fim de que não se perca
Unidade 2 A intervenção didático-pedagógica nas aulas de educação física 85
a oportunidade de se colocar no fluxo com eles, acrescentando outros modos de praticar a Educação Física na escola. Nessas relações, é preciso perseguir o seu lugar na escola pela diferença que você faz, uma vez que não exerce o papel de professor, de pesquisador, de aluno, de diretor, mas de estagiário. Se considerarmos, como o poeta, que a riqueza humana está em sua incompletude, também reconhecemos que, para além da condição de estagiário, estamos todos em processo de formação, todos vivemos mudanças cotidianamente.
2.2 O Planejamento Abordar o tema planejamento é falar em processo de organização de determinada ação. O planejamento consiste em evolver a definição da melhor maneira para realizarmos determinadas ações, com vista a alcançar objetivos previamente definidos, estabelecendo, para tanto, ações, atividades, etapas e prazos para o seu desenvolvimento e operacionalização, considerando as condições existentes. Nesse processo, é fundamental, ainda, assegurar o acompanhamento, a avaliação e o replanejamento, num movimento permanente de pensar e repensar a ação desenvolvida, o trabalho realizado. A atividade — planejar — implica a existência de uma atitude com relação ao trabalho a desenvolver que envolve reflexão sobre uma determinada realidade, ação sobre essa realidade, reflexão sobre os resultados obtidos e volta à ação, num processo dialético, ação-reflexão-ação, como pode ser observado na figura que segue.
PONTO DE PARTIDA A realidade, avaliação diagnóstica, define objetivos
PLANEJAMENTO: Caminho a ser percorrido, organização da ação, onde chegar
PONTO DE CHEGADA: Nova realidade pretendida, projetada
O conceito de planejamento carrega consigo duas dimensões fundamentais: uma que diz respeito à capacidade do homem de antecipar, de projetar, de construir idealmente sua ação e intervenção no e com o mundo; e uma outra, igualmente importante, que se refere ao seu caráter processual, inacabado, incompleto, de permanente vir a ser. O planejamento é antes de tudo uma atitude. O documento formal, escrito, o plano em si, é uma síntese das conclusões a que se chegou por meio do processo de planejar e deve ser reconhecido como documento de consulta e orientação permanente do trabalho diário a ser desenvolvido. O planejamento deve ser entendido como uma ação essencial que permite ao professor obter maior segurança e outros subsídios para lidar com a relação pedagógica, no intuito de transformar a realidade concreta do educando, a partir da crítica à realidade contraditória e da sua superação. No organograma a seguir apresentamos os tipos de planejamento:
Unidade 2 A intervenção didático-pedagógica nas aulas de educação física 87
PLANO
ENSINO
UNIDADE
AULA
Libâneo (1993) conceitua o plano de ensino (também conhecido como plano de curso, plano de intervenção) como um roteiro organizado das unidades didáticas para um ano ou semestre. Mas, de fato, o que efetivamente diferencia o plano de ensino e plano de unidades didáticas? O plano de ensino, no caso da escola, é o planejamento anual. Ele é construído para ser trabalhado durante todo o ano. Retomemos a sistematização apresentada no fascículo de Didática sobre as finalidades do plano de ensino: 1) Levantar dados sobre as condições dos alunos [e escola], fazendo uma sondagem inicial [Fase diagnóstica]. 2) Propor objetivos gerais e definir os objetivos específicos a serem atingidos durante o período letivo estipulado. 3) Indicar os conteúdos a serem desenvolvidos durante o período. 4) Estabelecer as atividades e procedimentos de ensino e aprendizagem adequados aos objetivos e conteúdos propostos. 5) Selecionar e indicar os recursos a serem utilizados. 6) Escolher e determinar as formas de avaliação mais coerentes com os objetivos definidos e os conteúdos a serem desenvolvidos (HAYDT, apud PASSAMAI; DUARTE, 2010, p. 31-32).
Já as unidades didáticas, que constituem uma diferenciação importante que caracterizam o plano de ensino, correspondem à separação dos conteúdos em blocos. Cada bloco, ou melhor, cada unidade, representa um bimestre. Por exemplo, podemos pensar em um plano de ensino que apresenta como conteúdo na unidade I (que representa o 1° trimestre) o handebol e na Unidade II (2° trimestre), o voleibol. É comum definirmos a unidade, que se caracteriza por um grande conteúdo, como nos exemplos, para depois realizarmos uma subdivisão, como podemos observar a seguir.
88 Estágio Supervisionado 2
Conteúdo Unidade I — O ensino de Handebol (observe que esse é um conteúdo muito amplo para ser trabalhado em um trimestre e precisa ser focalizado a fim de ser ensinado) 1.1 História do Handebol 1.2 O aprendizado do jogo e suas regras 1.3 Aprendizagem dos fundamentos 1.4 Sistema ofensivo (etc.)
Observe, também, que as unidades didáticas são amplas. Ou seja, não definimos quais sistemas ofensivos serão trabalhados. Isso é feito no plano de aula. Lembre-se de que o plano de ensino é para o ano; já o plano de unidades didáticas é para um período (trimestre, bimestre, projeto); e o de aula, como o nome já diz, é para a aula. A diferença está nos objetivos, procedimentos metodológicos e na avaliação realizada para cada tipo de planejamento. Ou seja, no plano de ensino, os objetivos são construídos para serem atingidos durante o ano, por isso são gerais; no plano de unidade para o trimestre; e o de aula para aula. Contudo, no planejamento de aula, o professor deve especificar e operacionalizar os procedimentos diários para a materialização do plano de curso e de unidade. Nesse sentido, o planejamento de aula, conforme orientações já abordadas no fascículo de Didática: - prevê os objetivos imediatos a serem alcançados; - especifica os itens e subitens do conteúdo que serão trabalhados durante a aula; - define os procedimentos de ensino e organiza as atividades de aprendizagem de seus alunos (individuais e em grupo); - indica os recursos (cartazes, mapas, jornais, livros, objetos variados) que vão ser usados durante a aula para despertar o interesse, facilitar a compreensão e estimular a participação dos alunos; - estabelece como será feita a avaliação das atividades (HAYDT, apud PASSAMAI; DUARTE, 2010, p. 31-32).
É preciso, destacar que a estrutura organizacional do planejamento muda pouco. O que altera, na verdade, é nossa forma de planejar e sua amplitude. Como um dos focos do planejamento é o aluno, deve-se levar em consideração suas características, interesses, necessidades. É justa-
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mente o diagnóstico desses elementos que oferecerá suporte para a definição dos objetivos. Importante, ainda, é destacar que o planejamento deve ser objetivo, a fim de atingir determinada meta. Enfim, o ato de planejar é uma idealização daquilo que pretendemos ensinar e obter na construção do processo educativo. Por isso, não pode ser fragmentado em fases estanques. Para que saia de um prisma idealista, é necessário que objetivemos a formação de uma pessoa crítica; valorizemos o trabalho e a construção coletiva; adotemos o planejamento participativo e ativo, com a contribuição dos professores, alunos, orientadores e supervisores escolares e da escola como um todo.
2.3 Objetivos do ensino Os objetivos são a definição de onde queremos ir, ou melhor, de onde estamos partindo e para onde queremos chegar. É o elemento mais importante de um plano e determina a escolha do conteúdo, procedimentos, recursos e avaliação. Definimos, assim, o que pretendemos como formação nas aulas de Educação Física. Quanto aos tipos, podemos dividi-los como objetivos gerais e específicos. Os gerais são usados para a definição de metas de médio a longo prazo e orientam todo o processo pedagógico. Fazendo uma correlação com o debate sobre planejamento, vemos que esse tipo de objetivo é usado, com maior frequência, nos planos de ensino e unidade. No que se refere aos objetivos específicos, esses nos remetem a uma meta imediata e são construídos tendo como base os objetivos gerais. Os objetivos estão focados nos alunos e sempre começam com verbo. A sua definição compreende três dimensões formativas. São elas: Conceitual: está ligado ao saber e é também chamado de cognitivo. Usa-se, para sua elaboração, os verbos – conhecer, identificar, observar, conceituar, analisar, diferenciar etc. Procedimental: está ligado ao fazer e é também denominado de motor. Usa-se para sua construção os verbos – fazer, realizar, vivenciar, experimentar, mostrar, demonstrar etc. Atitudinal: está ligado ao ser é também chamado de afetivo. Usa-se para sua sistematização os verbos – cooperar, participar, organizar, compartilhar, respeitar etc. Se a nossa intenção é a formação integral, todos os três tipos de objetivos são necessários para a construção de cada planejamento. Portanto, deve-se levar em consideração as características, interesses e necessidades dos alunos. Além disso, precisamos dar visibilidade, em nossa prática como professores de Educação Física, à relação que os sujeitos estabelecem com o saber, no caso, com os objetivos. Sendo assim, é preciso identificar não só o que o aluno aprendeu do que foi ensino na aula, mas compreender o que ele faz com o que aprendeu. Esse entendimento amplia a visão do trato com os objetivos e o ensino do conteúdo para o modo como os alunos vão se apropriando dos saberes ensinados nas aulas de Educação Física. Os objetivos não se colocam exteriores ao sujeito, pelo contrário, eles só fazem sentido na medida em que os sujeitos se apropriam dele. Nessa dimensão, o aprendizado não se coloca fora do sujeito, mas na relação que se estabelece com o saber. Unidade 2 A intervenção didático-pedagógica nas aulas de educação física 91
2.4 Conteúdos de ensino Os conteúdos são o conjunto de conhecimentos, hábitos, atitudes, habilidades e convicções produzidos historicamente nas relações do homem com a natureza e devem ser tratados por métodos de ensino-aprendizagem problematizadores para a leitura e compreensão da realidade. O conhecimento não é algo acabado e estático. O processo de conhecimento se dá na constante interação entre o sujeito que aprende e o objeto a ser conhecido para transformação mútua. Para tanto consideramos que: O conhecimento é prático: vai da experiência, da prática, do senso comum (ponto de partida) ao nível teórico, elaborado do conhecimento científico-filósofico (ponto de chegada); O conhecimento é social: carrega em si uma função social reveladora da condição humana; O conhecimento é histórico: carrega em si todas as transformações em sua construção realizadas pelas gerações e acumuladas historicamente. Em relação aos conteúdos da Educação Física, consideramos que as manifestações corporais a serem apropriadas no espaço e tempo escolar se expressam nos esportes, nas danças, nas ginásticas, nas lutas, nos jogos, nas brincadeiras etc. Essas variadas manifestações são resultantes das experiências e construções humanas ao longo do tempo e, portanto, foram transformadas e aperfeiçoadas para responder às relações dos sujeitos com e no mundo (VENTORIM, 1998). Somam-se a essa reflexão as considerações de Vago (1999), quando o autor argumenta que a Educação Física deve estar enraizada na cultura escolar como uma área do conhecimento responsável pelas práticas corporais produzidas pelos seres humanos e por se constituir em tempo e espaço de: a) investigar e problematizar a história de sujeitos da educação encarnados e presentes na instituição educativa, que revela o conhecimento sobre as práticas corporais; b) inventar outras formas de fazer os esportes, as danças, a ginástica, os jogos, as lutas, os brinquedos, as brincadeiras; c) questionar os padrões éticos e estéticos construídos culturalmente para a realização dessas e de outras práticas corporais;
92 Estágio Supervisionado 2
d) realizar o princípio de que os alunos(as) podem (e devem) se colocar à disposição de si mesmos quando partilham, usufruem, criam e recriam as práticas corporais da cultura; e) respeitar a corporeidade singular de cada um(a), construída em sua história de vida. Entender as práticas corporais ou, como diriam Soares et al. (1992) a cultura corporal de movimento como objeto de ensino da Educação Física no contexto escolar é um passo fundamental para justificarmos esse componente curricular por sua especificidade. Dessa maneira, uma educação que assume como referência a dimensão física, não deve abrir mão do ensino do jogo, da dança, do esporte, da brincadeira, da luta, da ginástica etc., pois, como salienta Charlot (2009, p. 243): [...] não é de se admirar que a Educação Física se confronte com contradições e que suas aulas sejam percebidas como momentos de libertação, de alívio dos constrangimentos e ganhem a fama de ‘recreativas’. [...] A Educação Física não é uma disciplina escolar ‘como as demais’. E acrescento: felizmente. Não é igual às demais porque ela lida com uma forma do aprender [...]. Em vez de tentar anular ou esconder essa diferença, dever-se-ia destacá-la e esclarecê-la.
Definido o seu objeto de ensino, é preciso entender que ele não é neutro, portanto precisa ser ensinado no contexto escolar, levando em consideração sua dimensão história, social, econômica, política e cultural. A própria seleção do conteúdo já define, em parte, os valores éticos e estéticos assumidos como referência pelo professor. Neste momento, apresentamos algumas possibilidades de organização dos conteúdos da Educação Física. Podemos, dessa maneira, assumir o jogo, a dança, o esporte, a brincadeira, a luta e a ginástica como conteúdos estruturantes que podem abarcar, como se fossem um guarda-chuva, outros conteúdos. Vejamos um exemplo:
Unidade 2 A intervenção didático-pedagógica nas aulas de educação física 93
Conteúdos
Esporte
Jogo
Dança
Lutas
Ginástica
Brincadeiras
Individual
Coletivo
Populares Tabuleiro
Folclórica Popular
Judô Boxe
Rítmica Artística
Cantadas Historiadas
Tênis Natação
Futebol Voleibol
Pré-Desportivo Faz-de-conta
Moderna Contemporânea
Taekwondo Karatê
Acrobática Geral
Rodas Populares
Esgrima Atletismo
Handebol Basquetebol
Capoeira Mini Jogo
Clássica Capoeira
Capoeira Aikido
Aeróbica Localizada
Construção de Brinquedos
Radicais Triatlo
Futsal Hóquei
Jiu Jitsu Luta Olímpica
Circense Trampolim
Brinquedos e Brincadeiras
Críquete Sóftbol
Essa é uma ilustração que representa apenas parte dos conteúdos da Educação Física. Temos ainda outros que, devido à sua natureza, são difíceis de serem classificados nos conteúdos estruturantes. Diante dessas possibilidades, podemos nos questionar sobre os critérios a serem utilizados no momento da seleção. Nesse ponto, retomamos os estudos realizados na disciplina Didática. Passamai e Duarte (2010, p. 48-49) destacam cinco critérios para serem levados em consideração na seleção dos conteúdos de ensino. 1- Validade: corresponde à inter-relação dos conteúdos com os objetivos e com a atualização científica dos conhecimentos. 2- Utilidade: há utilidade no conteúdo quando há possibilidade de aplicação desses conhecimentos em novas situações; quando existe adequação às exigências e condições do ambiente dos alunos, satisfazendo suas expectativas, interesses e necessidades, obtendo valor prática para auxiliá-los a resolver problemas e a enfrentar situações novas. 3- Significação: é significativo e interessante o conteúdo que esteja relacionado com as experiências vivenciadas pelos alunos, que faz
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sentido para o aluno, associando experiências anteriores (conhecimentos já dominados e conhecidos) com os conteúdos novos. 4- Adequação ao nível de desenvolvimento do aluno: é o respeito ao grau de maturidade intelectual do aluno e adequação às suas estruturas cognitivas. Os conteúdos devem corresponder às aprendizagens essenciais e desejáveis de maneira a desenvolver as aptidões e potencialidades dos alunos. 5- Flexibilidade: corresponde à possibilidade de se fazer alterações nos conteúdos (acréscimos ou supressões) para adaptá-los às necessidades dos alunos.
Podemos ainda estabelecer outras classificações para os conteúdos. O Quadro 1 apresenta um exemplo com alguns esportes olímpicos. Esporte Invasão Futebol Hóquei Pólo Aquático Handebol Basquete
Esporte rede/parede Badminton Tênis Voleibol Tênis de mesa
Esporte rebatida/campo Criquete Softbol
Esporte Alvo Tiro Tiro com arco
Beisebol
Esgrima
Quadro 1 – Proposta de organização de conteúdos
Com esses exemplos, podemos observar que a classificação dos esportes em categorias possibilita um ensino que demonstra a aproximação e distanciamento de cada modalidade esportiva a partir, por exemplo, de suas regras, objetivos e estruturas. Entretanto, como vimos no tópico referente aos objetivos de ensino, eles devem oportunizar o trabalho com as dimensões procedimentais, atitudinais e conceituais. Assumimos o ensino das práticas corporais como norteador da ação pedagógica do professor de Educação Física, entretanto, ela não se restringe a ele. Começamos pela dimensão procedimental para, a partir dela, iniciarmos o trabalho com as dimensões atitudinais e conceituais. Nesse sentido, o aluno aprende a jogar e a dançar, mas, aprende, também, sobre a história do esporte, sua relação com a mídia, suas variações de acordo com a região, sua importância dentro da cultura local e global. Questões como as apresentadas abaixo, oferecem a dimensão do trabalho do professor de Educação Física e podem orientar a sua prática pedagógica: Quais são suas regras? Como é praticado? Que aproximações e distanciamentos esses esportes apresentam quando comparados com as modali-
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dades conhecidas pelos alunos? Como podemos transformar esses esportes em conteúdos? Quais esportes se apresentam na cultura nacional e, especificamente no Espírito Santo? Como os esportes são praticados em outros países? Qual a influência da cultura local na prática das modalidades desportivas? Que diferenças encontramos entre um esporte da escola e um esporte na escola? Por que nosso país apresenta uma monocultura esportiva? Qual a influência da mídia nesse processo? Qual legado os jogos olímpicos podem deixar para o País (Social, Econômico, Prático Desportivo)? Quais as chances do Brasil, em relação a medalhas, nos olimpíadas e por quê? Uma outra forma de organização dos conteúdos de ensino é apresentada por Palam et al. (2008). Os autores estabelecem uma sistematização dos conteúdos levando em consideração sua distribuição por série. Ao tratar do movimento e das manifestações lúdicas e esportivas para a 2ª e 4ª séries algumas possibilidades nos são apresentadas:
Jogos Populares
TEMA
Esporte
O movimento e as manifestações lúdicas e esportivas ASSUNTO Histórico, nomenclatura e regras elementares Amarelinha Formas de vivência convencional e reelaboração Diferentes formatos de campo de jogo Diferentes formas de pular (individual e em grupo, com e sem deslocamento) Jogos com corda Movimentos gímnicos (balanços e giros) Caracterização do jogo de disputa Formas de jogo de disputa (pique-bandeira, dança das cadeiras, cabo-guerra, bola de gude, tira o rabo, coelho sai da toca) Jogos de disputa Formas de jogo de disputa – estafetas (rolar pneu, corrida de saco, passar a bola entre colunas e fileiras) Formas criativas de estafetas propostas pelos alunos Histórico, caracterização e tipos de aparelhos (masculinos e femininos) Ginástica Olímpica Conceito e vivência dos movimentos básicos (rolamentos e parada de cabeça)
SUBTEMA
Fonte: Palma et al (2008, p. 61). Quadro 2 – Sistematização de conteúdos para a 2ª série
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N° AULAS
Esporte
Jogos Populares
TEMA
O movimento e as manifestações lúdicas e esportivas SUBTEMA ASSUNTO N° AULAS Histórico, nomenclatura e regras convencionais Características de ataque e de defesa e as habilidades motoras necessárias para jogar Bola queimada Vivência da forma original de jogar Diferentes variações do jogo por parte do professor (campo, quantidade de bolas, tempo de jogo, alteração na reserva) Formas criativas de jogar, propostas pelos alunos Histórico, nomenclatura, regras convencionais e materiais necessários para o jogo Características de ataque e de defesa e as habilidades motoras necessárias para jogar Bets Vivência da forma original de jogar Formas criativas de jogar, propostas pelos alunos e elaboração de materiais alternativos Diferenciação e classificação dos esportes individuais e coletivos Jogos esportivos Levantamento dos esportes olímpicos individuais e coletivos mais conhecidos Histórico e caracterização das provas de pista (velocidade, resistência, com barreiras, obstáculos e revezamentos) Estudo da solicitação corporal e vivência na corrida Atletismo Classificação da corrida de velocidade (100 e 200 mts) Classificação da corrida de revezamento Vivência de corrida de revezamento com materiais de diferentes pesos e tamanhos
Fonte: Palma et al (2008, p. 69). Quadro 3 – Sistematização de conteúdos para a 4ª série
Ao estabelecerem uma temática mais ampla como “O movimento e as manifestações lúdicas e esportivas”, os autores trazem sua organização em tema, subtema e assunto. Podemos realizar outra categorização cujo objetivo é produzir um compartilhamento de saberes-fazeres das aulas de Educação Física com as demais disciplinas que compõem o currículo escolar em um projeto interdisciplinar “A constituição do povo brasileiro”, como o exemplo construído para uma turma do 5° ano, apresentado no Quadro 4.
Unidade 2 A intervenção didático-pedagógica nas aulas de educação física 97
Projeto interdisciplinar
Mês
Conteúdo
Sub-Conteúdo
Fev.
Dança Popular
Hip-Hop Brincadeiras Populares
A constituição de povo brasileiro
Abr.
Brincadeiras
Mar.
Mai Jun. Jul.
Ago.
Objetivos Vivenciar a manifestação tendo como base o rap, o break e o grafite; Entender a relação dessa manifestação com a cultura local e global; Compreender o histórico dessa manifestação e implicação para diversidade cultural brasileira; Valorizar a diversidade cultural e sua relação com a formação do povo brasileiro; Criar outras possibilidades desse conteúdo tendo como base os elementos vivenciados. Experimentar as brincadeiras conhecidas pelos alunos; Pesquisar, resgatar, analisar e categorizar as brincadeiras vivenciadas pela família; Vivenciar as brincadeiras da família, estabelecendo relações entre as gerações (neto, pais, avós); Criar novas brincadeiras com base nas vivenciadas pela família e já conhecida pelos alunos; Compreender a diversidade cultural das brincadeiras, sua relação com as características regionais e a constituição do povo brasileiro.
N° Aulas
20
20
Quadro 4 – Sistematização de conteúdo com projeto interdisciplinar
Respeitada a especificidade de cada área do conhecimento, caberia à Educação Física, ao tratar do projeto interdisciplinar, abordar essa temática a partir de seu conteúdo de ensino. Para Zabala (1998, p. 143), A interdisciplinaridade é a interação entre duas ou mais disciplinas, que pode ir desde a simples comunicação de idéias até a integração recíproca dos conceitos fundamentais e da teoria do conhecimento, da metodologia e dos dados de pesquisa. Estas interações podem implicar transferências de leis de uma disciplina para outra e, inclusive, em alguns casos dão lugar a um novo corpo disciplinar, com a bioquímica ou a psciolinguística.
Essa forma de produzir a interdisciplinaridade é abordada no Quadro 4, sobretudo, quando tratamos dos objetivos. Assim, ao proporcionarmos
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a vivência, compreensão e criação de diferentes possibilidades corporais com o hip-hop, estabelecemos uma discussão sobre a diversidade cultural do povo brasileiro. Discutimos, ainda, as implicações do rap, break e do grafite como movimento de resistência e produção local que delineia uma identidade cultural. Essa temática estaria, concomitantemente, sendo trabalhada por outras disciplinas como Língua Portuguesa, em que os alunos produziriam os raps e, ao mesmo tempo, aprenderiam sobre gêneros textuais. Esse mesmo movimento é observado quando abordamos o conteúdo brincadeiras. Mostramos a possibilidade de um trabalho articulado com a família e suas implicações para a produção da diversidade cultural das brincadeiras, sua relação com as características regionais e a constituição do povo brasileiro. A partir desse projeto, estabeleceríamos uma relação de parceira com o projeto de informática e a disciplina História. Na sala de informática, os alunos entram no site “Mapa do Brincar” para fazer um levantamento das brincadeiras típicas de cada região do País. Na aula de História, estabeleceriam a relação dessas brincadeiras com as características históricas de cada região, ampliando a compreensão sobre a formação do povo brasileiro. Para concretizar as ações apresentadas, é preciso assumir a perspectiva de formação defendida neste Estágio. Como abordamos no fascículo anterior, para Ventorim et al. (2011), o movimento de formação do professor pesquisador configura-se na expressão do reconhecimento da importância da pesquisa na formação e no trabalho docente, considerando o papel ativo e crítico do professor como o sujeito investigador. Essa perspectiva defende a possibilidade da pesquisa na formação e na prática docente como instrumento de construção da autonomia do professor expressa na produção e na reconstrução de saberes que mobiliza. Por meio dessas investigações, buscamos a compreensão e a transformação do pensamento e da prática do professor. A pesquisa é, então, o fundamento da formação e do exercício docente. Além da definição do “que ensinar”, é preciso discutir sobre “quando ensinar”, ou seja, a distribuição dos conteúdos de ensino nas aulas de Educação Física. Essa é uma questão que precisa ser enfrentada pelos profissionais da área, já que, em algumas experiências, temos observado uma repetição de conteúdos sem um aumento de sua complexidade ou diversificação. Schneider e Bueno (2005), ao estabelecerem uma releitura da pesquisa diagnóstica da Educação Física no Estado do Espírito Santo, evidenciam que, quanto maior o tempo de aula com esse componente curricular no processo de escolarização, menor se torna sua valorização pelos alunos. Unidade 2 A intervenção didático-pedagógica nas aulas de educação física 99
Um dos fatores que têm contribuído para esse cenário é a não diversificação de conteúdo, pois o que é ensinado para a turma do 5° ano também é trabalhado com as turmas dos 6°, 7°, 8° e 9° ano. Observamos também que essa argumentação é reforçada tanto pelas narrativas sobre as experiências com Educação Física no processo de escolarização produzida por vocês no Estágio Supervisionado I, como nos dados da pesquisa “O professor de Educação Física no Espírito Santo: inventário das práticas” realizada por nós, alunos, tutores e professores de Estágio. Fica evidente, nesses dois casos, o predomínio do conteúdo esporte, com destaque para o handebol, o voleibol, o basquete e o futsal. É possível, ainda, perceber a repetição desses conteúdos, quando comparados com o ano em que são ministrados. Se, por um lado, os alunos das séries/anos finais do Ensino Fundamental dão pouco valor à Educação Física, por outro, os das séries iniciais desse segmento estabelecem uma leitura positiva (SCHNEIDER; BUENO, 2005). Ao que parece, o ensino do conteúdo esporte nas primeiras séries/ anos de escolarização do Ensino Fundamental se apresenta como novo e interessante para os alunos e, na medida em que vão avançando no processo de escolarização, esses conteúdos se tornam repetitivos, provocando um desinteresse do aluno. Esse contexto nos alerta sobre a necessidade de o planejamento se tornar uma prática constante do processo de ensino-aprendizado do professor de Educação Física. É com base nele que se estrutura uma diversidade de ações pedagógicas a serem trabalhadas de acordo com as especificidades de cada ano e turma. Definimos, assim, a atuação do professor pesquisador como prática sistemática e intencional por parte do seu próprio trabalho na escola, na aula e em seu processo de formação inicial e continuada. É sistemático e intencionado, porque exige maneiras ordenadas e planejadas de fazer, de reunir, registrar, documentar informações e dados da sua prática. Portanto, destacamos que não é uma atitude espontânea, ao contrário, a prática pedagógica e o planejamento que a orienta pressupõem a reconstrução das experiências e do conhecimento do professor num processo de confronto de saberes. A fim de que possamos visualizar essas possibilidades, apresentamos, a seguir, uma proposta de organização do conteúdo handebol, em que levamos em consideração os anos de escolarização e a complexidade do conhecimento. Mais uma vez levantamos temas que poderiam ser trabalhados de maneira interdisciplinar (Quadro 5):
100 Estágio Supervisionado 2
Possibilidade de distribuição de Objetivos e Conteúdo por ano e turma 5º ANO 6º ANO 7º ANO Objetivos: Objetivos: Objetivos: * Identificar as apro- * Compreender por * Analisar os prinximações e distancia- meio dos jogos précípios históricos, mentos entre os jogos desportivos os princítécnico-tático do com as mãos e moda- pios fundamentais do Handebol; lidades esportivas; Handebol; * Experimentar di* Vivenciar diferentes * Vivenciar jogos coferentes formas de formas de jogos com letivos identificando jogos; as mãos; aproximações com o * Compartilhar o co* Respeitar as difehandebol; lega para a construrenças, cooperando * Respeitar os valores ção do jogo coletivo. com o colega. éticos. Temas Interdiciplinares Violência no esporte Jogos e brincadeiras Handebol uma possiEsporte e mídia. bilidade para além do nas obras de arte; Jogos e brincadeiras futebol. regionais. CONTEÚDOS Jogos Pré-Desportivos História da modaJogos com as mãos lidade e ensino do * Jogos com as mãos * Jogos para reconhehandebol cer espaço e ações e passe; * Jogos com as mãos ofensivas (passe, arre- * Histórico da modalidade: o handebol messo, finta); e passe e alvo; como fenômeno * Jogos com as mãos, * Jogos para desencultural; volver ações táticas drible, alvo e arreindividuais e ofensivas * Fundamentos do messo. Handebol e suas em grupo; *Jogos para o ensino de regras; * Sistema defensivo regras da modalidade (2 dribles, 3 passadas, 6:0 e 6:0 com flutuação e individual; espaço de jogo). * Sistema ofensivo: princípios do jogo coletivo.
8º ANO Objetivos: * Diferenciar os sistemas defensivos e ofensivos; * Vivenciar e criar diferentes formas de fundamentos e sistemas; * Respeitar o próximo entendendo a diferença de gênero.
9º ANO Objetivos: * Entender as diferentes dimensões táticas do esporte; * Compreender as especificidades da modalidade; * Criar outras formas de jogo; * Cooperar com o colega trabalhando em grupo.
Esporte e gênero Esporte e inclusãoexclusão.
Esporte e saúde: construção e desconstrução de um imaginário.
O ensino do Handebol: aprofundamento técnico e tático I * Sistema defensivo 5:1, 4:2, 4:1+1, 3:3; * Balanço defensivo; * Sistema ofensivo: jogo na transição, contra-ataque; * Sistema ofensivo: criação de jogadas.
O ensino do Handebol: aprofundamento técnico e tático II * Sistema ofensivo 3:2:1; * Posição, Característica e Função; * O scout como ensino e aprendizagem do Handebol; * Novas formas de fazer o handebol.
Quadro trabalhado na Oficina de Handebol 2010/1 ministrada pelo professor Wagner dos Santos Quadro 5 – Proposta de distribuição do conteúdo handebol
Ao considerarmos a proposta apresentada, percebemos que, ao final do processo de escolarização do Ensino Fundamental, o aluno será capaz de compreender o jogo em suas dimensões técnicas, táticas, histórica e cultural, bem como estabelecer uma leitura transversalizada de diferentes temáticas relacionadas com o aprendizado do esporte. Observamos, dessa maneira, que os conteúdos vão aumentando de complexidade de acordo com o nível de desenvolvimento do aluno, sem haver uma repetição do que se ensina.
Unidade 2 A intervenção didático-pedagógica nas aulas de educação física 101
Poderíamos, ainda, apresentar como exemplo a diversificação de conteúdo de acordo com os anos, ou seja, em cada ano e período (bimestre, trimestre, projeto etc.) trabalha-se um conteúdo diferente para as aulas de Educação Física. Porém, esse é um exercício que deverá ser feito por vocês, tomando como base o organograma de conteúdo apresentado neste tópico. Por fim, para além da definição de “o que ensinar?”, devemos também abordar “o como ensinar?” que será discutida no próximo tópico.
2.5 Metodologia do ensino Como vocês estudaram no fascículo Metodologia do ensino da Educação Física (CHICON; SÁ, 2010), dentre as abordagens pedagógicas da área, destacam-se: desenvolvimentista, construtivista-interacionista, crítico-superadora, crítico-emancipatória e aulas abertas. Essas abordagens ou metodologias tratam de uma opção epistemológica e política de praticar a Educação Física na escola. Com elas, seus autores definem tanto os conteúdos quanto os modos considerados válidos para serem vividos por alunos e professores11. A diversidade teórico-epistemológica que permeia tais abordagens ocorre, fundamentalmente, em virtude de terem sido estruturadas a partir das diversas matrizes que nortearam os estudos dos respectivos elaboradores de tais concepções, por exemplo, a Psicologia, a Antropologia, a Filosofia, a Sociologia entre outros, configurando, assim, diferentes entendimentos acerca do homem e sua inter-relação com a sociedade, ora o vendo apenas como um ser motor, ora como um ser psicológico ou, como nos apontam as teorias críticas, como um ser socialmente inscrito na/pela cultura (CHICON; SÁ, 2010, p. 24).
Rezer (2007), Nunes e Ferreira Neto (2008) problematizam ainda a existência de uma distância entre essas propostas, consideradas de cunho acadêmico, e os diferentes contextos escolares, o que contribui para um distanciamento entre as produções da universidade e da escola. Preferimos tratar desse modo, como um hiato entre a universidade e a escola, e não como dissociação da teoria (acadêmica) e da prática (escolar), porque defendemos que, tanto na universidade quanto na escola, não existe teoria que não se fundamente na prática e prática que não esteja imbricada de teoria. Compreendemos, com Garcia (2003), que tratamos de um movimento entre esses termos, em que um renova a compreensão do outro, prática que atualiza a teoria com outras compreensões, teoria que renova a prática com outras possibilidades e se expressa na escrita de diferentes modos: teoria e prática, prática-teoriaprática, ou praticateoriaprática.
11 Sobre diferentes experiências de intervenção pedagógica, conferir edição da Revista Brasileira de Ciências do Esporte (v. 28, n. 2, 2007) que destaca a temática “Didática, Educação Física/Ciências do Esporte”; as edições da Revista Motrivivência com as temáticas “Conhecimento e prática na Educação Física escolar” (n. 28, 2007) e “Conteúdos da Educação Física escolar” (n. 31, 2008); e as publicações nos Anais do XV Endipe de 2010 (http://www.fae.ufmg.br/endipe/publicacoes.php).
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Mais do que definir um modo de pensar a Educação Física Escolar, problematizamos o modo como você, na escola que identificou para o Estágio Supervisionado, compreende sua intervenção pedagógica. Assim, entendemos que as abordagens metodológicas de ensino da Educação Física não podem ser tomadas como referências para serem “aplicadas” por você, mas utilizadas para fundamentar e subsidiar seu trabalho como professor-estagiário. [...] mesmo em meio ao aparente caos interpretativo em que vivemos, no momento da intervenção pedagógica, é possível e necessário aproximar algumas das diferentes ‘tribos’ da EF, pois não basta ao professor, em um projeto de intervenção sério, se apresentar como sendo um fisiologista, um treinador ou um filósofo que ensina. Ele é antes de tudo, um PROFESSOR, um educador, um pedagogo (do esporte, da saúde, enfim, de diferentes manifestações da cultura corporal de movimento) e como tal precisa se apresentar de acordo com as exigências da profissão docente em cada contexto, arregimentando e tematizando de forma crítica, elementos do esporte, da filosofia, da fisiologia […] (REZER, 2007, p. 42-43).
Nesse sentido, recomendamos uma metodologia de ensino que se constitui no processo pedagógico com os sujeitos da escola, que não é determinada a priori. Ao indicar uma metodologia de ensino, você escolhe uma direção consciente e organizada para o desenvolvimento do seu trabalho docente, a fim de alcançar seu objetivo da forma mais simples e produtiva possível, uma vez que sua aula é atravessada por muitos elementos na escola, assim como demonstram Nunes e Ferreira Neto (2008, p. 290): Ao buscar evidenciar a tensão vivenciada no cotidiano de algumas escolas estaduais por meio das narrativas de um grupo de professores de Educação Física nos afastamos das análises que consideram conteúdos mínimos ou teorizações acadêmicas como únicos, almejados e corretos, em que a complexidade e peculiaridade dos contextos escolares é concebida como acessório a ser incluído. O inverso também mostra-se pertinente, de forma que seria ingênuo conceber instituições e sujeitos descolados dessas influências e determinações. É pela tensão e pelo movimento complexo das redes de relações que nos interessamos.
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É a sua leitura sobre as experiências realizadas na escola e sobre os modos epistemológicos de pensar essa organização que irá lhe ajudar a definir uma abordagem metodológica. Leitura que não permitirá repetir o famoso ditado “Na teoria, a prática é outra”, mas que lhe dará condições de reelaborar teorias e práticas a partir de suas experiências e das tensões vividas no cotidiano escolar. Essa escolha implica uma integração entre pensamento e ação, envolvendo sua capacidade de constante organização, uma vez que, ao definir uma metodologia, não conseguirmos prever todo o percurso e experiências que serão vividas. Assim, ressaltamos que a metodologia precisa manter atenção às imprevisíveis reações diante do que foi planejado, portanto compreende um constante replanejamento em decorrência dessas reações. Ela representa a criação de condições de realização do processo educativo e reflete a inter-relação entre os momentos didáticos com base no projeto da disciplina e da escola. Compreendemos que a metodologia é um dos elementos do processo ensino-aprendizagem e da estruturação da ação didática que procuram motivar e orientar o educando na busca do saber escolar, relacionando-o com o contexto sociocultural e econômico. Não tratamos, em nossa prática pedagógica, de uma mera transmissão de conteúdos, uma vez que o contexto da aula tem uma dinamicidade que extrapola essa dimensão. Por isso o professor é solicitado à proposição de novos desafios para a apropriação do conhecimento. Exige-se uma nova postura em frente ao conhecimento, considerando: a) valorização da experiência dos alunos, dos seus conhecimentos e a sua realidade no sentido de superação do conhecimento de senso comum ao conhecimento sistematizado, considerando o modo como cada aluno se relaciona com diferentes saberes e fazeres; b) a valorização não de uma transferência de conhecimento, mas de um processo de reflexão-ação, de uma postura crítica em frente ao conhecimento por um processo dialógico problematizador; c) o desafio à curiosidade dos alunos para conhecer e aprender a conhecer; d) a valorização da ação coletiva entre os sujeitos da escola tomando por referência a solidariedade, o compromisso e a liberdade para a formação do aluno responsável, crítico, participativo e competente; e) o incentivo à interdisciplinaridade: estudo de um conhecimento específico que deve ser realizado com a colaboração mútua das diversas disciplinas para que sua apropriação tenha profundidade cien-
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tífica ocorrendo avanço qualitativo e compreensão das implicações do mesmo na realidade; f) a democratização nas relações de poder na escola. Como definir uma metodologia para suas aulas de Educação Física? Na relação com os sujeitos escolares, você, professor-estagiário, precisa identificar o modo como é possível proporcionar aos seus/as alunos/as condições para que possam produzir e se apropriar de forma crítica e criativa dos diferentes conhecimentos que envolvem a disciplina Educação Física. Com isso, reafirmamos que aprender não é uma atividade passiva e exige, em função da intencionalidade, a escolha e a construção de uma metodologia adequada aos elementos constitutivos do planejamento (objetivos, conteúdos, procedimentos, avaliação etc.). Para tanto, requer do professor uma competência docente capaz de planejar e efetivar um processo contínuo de ações que possibilitem aos alunos apreenderem e se apropriarem do conhecimento.
106 Estágio Supervisionado 2
2.6 Avaliação Comumente, observamos a vinculação da avaliação à atribuição de notas e medidas. Abordada por esse viés, ela é entendida como mera atribuição de conceitos que focaliza o produto final, com o intuito de servir como dispositivo permanente de controle dos alunos. Contudo, a própria etimologia da palavra subverte essa lógica, ou seja, avaliar no latim – a-valere – que quer dizer ‘dar valor a...’. Para avaliar, deve-se atribuir um valor ou qualidade a alguma coisa, ato ou curso de ação. É possível, apesar da variabilidade de definições sobre avaliação educacional dentro das diferentes concepções teóricas, identificar um continuum ao longo de sua história, no qual, de um lado, se situa um processo sistemático pautado no juízo consciente de valor, estabelecido por meio de objetivos e instrumentos, e, de outro, a tomada de decisões. Quanto aos tipos, identificamos a avaliação diagnóstica, formativa e somativa, apresentadas no Quadro 6.
Período/Objeto
Tipos
Início Prognóstico
Diagnóstica
Durante Diagnóstico
Formativa
Depois Inventário
Somativa
Avaliação quanto aos tipos Funções Interesses Orientar Explorar Aluno considerado Identificar produtor Adaptar Predizer Regular Compreender Aluno considerado Apoiar processo de Reforçar produção Corrigir Facilitar Verificar Classificar Aluno considerado Situar produto final Certificar Pôr À Prova
Buscas A avaliação busca conhecer, principalmente as aptidões, os interesses e as capacidades e competências enquanto pré-requisitos para futuros trabalhos A avaliação busca informações sobre estratégias de solução dos problemas e das dificuldades surgidas A avaliação busca observar comportamentos globais, socialmente significativos, determinar conhecimentos adquiridos e, se possível, dar um certificado
Fonte – Rabelo (1998) Quadro 6 – Classificação da avaliação por tipologia
A relação entre os tipos de avaliação (diagnóstica, formativa e somativa) e seus usos é estabelecida pelo período em que é realizada, bem como de acordo com sua necessidade. No início de um processo, realizamos uma avaliação diagnóstica com o intuito, por exemplo, de definir objetivos e conteúdos de ensino. Durante o processo, usamos a avaliação
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formativa que busca corrigir, regular, facilitar as ações realizadas no próprio processo, ou seja, ela projeta informações sobre os ajustes necessários para alcançar o ensino-aprendizado. No final do processo, temos a avaliação somativa, que tem como objetivo verificar, classificar os comportamentos globais socialmente significativos e determinar os conhecimentos adquiridos durante todo o processo. Entretanto, é preciso entender que a ação de avaliar demanda uma atitude política de analisar a realidade, estabelecendo juízo de valor, com base na avaliação diagnóstica, formativa e somativa e, a partir dessa análise, projetar novas decisões. A avaliação é, dessa maneira, uma prática de interrogar e interrogar-se. Entendida dessa forma, a avaliação permite, por meio das pistas e indícios produzidos pelos sujeitos escolares, evidenciar os processos de ensino-aprendizagem construídos, em construção e ainda não construídos, oferecendo elementos para projetar outras possibilidades pedagógicas (SANTOS, 2005, 2008). A avaliação, nessa perspectiva, é entendida como ação essencial do processo de construção de conhecimento e deve estar pautada nos demais elementos que compõem a prática pedagógica, já que, como destaca Freitas (2002, p. 88-89), [...] no interior da educação, a avaliação não se caracteriza por ser uma categoria independente; ao contrário, sua significação depende de outras. O par dialético mais significativo, entre as categorias do processo didático é constituído pela junção objetivos/avaliação. De fato, a avaliação não poderia ser levada a cabo se não estivesse associada a objetivos. Tais objetivos, no caso da educação, atendem a determinações não apenas de um conteúdo específico, mas a determinações das próprias funções sociais atribuídas à escola pela trama social. Complementado esse quadro, rapidamente aqui apresentado, está o par conteúdo/metodologia. É nesse terreno que se decidem formulações de trabalho que interagem de maneira importante com as possibilidades que o aluno e a escola apresentam, à luz do par objetivos/avaliação.
A prática avaliativa nos permite analisar todas as ações realizadas no processo ensino-aprendizado, bem como, por exemplo, a contribuição da Educação Física na escola; o lugar por ela ocupado na educação escolarizada; o que se aprende com o que se ensina; os objetivos que constituem as práticas pedagógicas dos professores; os procedimentos pedagógicos adotados; as apropriações realizadas pelos alunos na relação com o saber.
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Com base nessas reflexões, podemos afirmar que, se temos o que ensinar, temos o que avaliar nas aulas de Educação Física. Entretanto, pesquisas, como as de Maximiano e Santos (2011), Souza Júnior (2011), Darido e Rangel (2005) e a própria pesquisa desenvolvida no Estágio Supervisionado I “O professor de Educação Física no Espírito Santo: inventário das práticas”, evidenciam que os professores de Educação Física têm avaliado, sobretudo, a partir do aprendizado dos valores e atitudes. Nesse caso, busca-se avaliar interesse, motivação, respeito, postura, dedicação e participação dos alunos nas aulas sem, contudo, se preocupar em realizar um registro processual desses valores, bem como observar outras dimensões do conhecimento, como as conceituais e procedimentais. Outrossim, é preciso ressaltar que a [...] participação, como mera adjetivação metodológica do ato de avaliar, assume geralmente uma função instrumental, em que o poder de decisão segue concentrado no avaliador que, como agente máximo, o outorga aos outros em alguns momentos do processo. Assim, a participação corre o risco de se converter em um mecanismo mais ‘eficiente’ de produzir materiais verbais que logo será utilizado pelo avaliador para produzir o seu informe ou a sua tese. O que parecia como direito à palavra torna-se um procedimento mais eficiente para obter respostas (WAISELFISZ, 1998, p. 59).
Continuando suas reflexões, o autor salienta a necessidade de não visualizarmos a avaliação participativa como um ritual de fim de curso, nem como um mecanismo externo ou à margem do conjunto das práticas desenvolvidas pelo programa ou atividade que está sendo avaliada, nem mesmo como uma ação extraordinária, anterior, paralela ou posterior à prática propriamente dita. Mas “[...] uma parte solidária da totalidade representada por uma estratégia ou um estilo de gestão pedagógica que abre marcos de participação e decisão aos agentes direta ou indiretamente envolvidos no processo” (WAISELFISZ, 1998, p. 60). Em função disso, somos levados ao seguinte questionamento: como produzir outros elementos que subsidiem a perspectiva avaliativa nas aulas de Educação Física? Essa, sem dúvida, não é uma resposta simples. Por isso, vamos abordá-la tendo como referência a formação e o entendimento da especificidade de que trata e justifica a Educação Física no espaço e tempo escolar, já que, para nós, essas são questões indissociáveis, pois como destaca Hoffmann (2005, p. 13),
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[…] É preciso pensar primeiro em como os educadores pensam a avaliação antes de mudar metodologias, instrumentos e formas de registro. Reconstruir as práticas avaliativas sem discutir o significado desse processo é como preparar as malas sem saber o destino da viagem.
Como já mencionamos, temos nos deparado com uma dificuldade em estabelecer a importância/necessidade da avaliação do processo ensinoaprendizagem na aula de Educação Física. Essa se apresenta de forma fragmentada não representando a diversidade e complexidade das práticas pedagógicas realizadas pelos professores. De igual modo, temos visto, também, que a avaliação tem sido pouco discutida no processo de formação de professores de Educação Física e, quando é realizada, não leva em consideração a especificidade da área. Para compreendermos melhor essa questão, recorremos ao relato de uma professora que nos fornece a dimensão dessa complexidade: Uma grande dificuldade que eu tinha era transformar todas as informações, que vem ali na minha aula, em avaliação, nota! [...] Mas, o que será que é avaliar? Essa era a pergunta no início da carreira: eu tenho que dar prova escrita na Educação Física? Eu tenho que dar trabalho? Por que só isso que é avaliar? Ou, em outro caso: avaliar e só eu observar se aluno participa ou não participa? Então, por exemplo, se naquele momento, a gente estava estudando atletismo, eu trabalhava o que vivenciava, eu passava vídeo, eu passava no quadro, e eu fazia uma prova. Mas eu estava vendo que não era só isso. Essa questão de só jogar no papel, porque às vezes o meu aluno tem dificuldade de materializar o que ele aprendeu para papel. Aí eu falei: ‘Eu não posso cobrar do meu aluno só isso!’ (PROFESSORA L).
As dificuldades apresentadas pela professora, no início de sua trajetória profissional, com as possibilidades que ela foi criando para sua prática avaliativa, remete-nos a uma discussão mais ampla. Nesse caso, é preciso ressaltar o fato de estarmos tratando de um componente curricular que assume um estatuto epistêmico que privilegia uma outra relação com o saber12, comparada com as demais disciplinas escolares. 12 Para Charlot (2000, p. 78-79), “[...] a relação com o saber é relação com o tempo. A apropriação do mundo, a construção de si mesmo, a inscrição em uma rede de relações com os outros — ‘o aprender’ — requerem tempo e jamais acabam. Esse tempo é o de uma história: da espécie humana, que transmite um patrimônio a cada geração; da linhagem que engendrou o sujeito e que ele engendrará. Esse tempo não é homogêneo, é ritmado por ‘momentos’ significativos, por ocasiões, por rupturas; é o tempo da aventura humana, a da espécie, a do indivíduo. Esse tempo, por fim, se desenvolve em três dimensões, que se interpenetram e se supõem uma à outra: o presente, o passado, o futuro”.
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Para Schneider e Bueno (2005), a Educação Física não privilegia o saber-objeto que pode ser incorporado pela relação epistêmica com os objetos, mas, sim, o saber concretizado por meio do domínio de uma atividade. Depreendemos desse debate que a criança não aprende apenas quando lê, escreve e fala. Aprende também quando se expressa corporalmente, uma vez que o movimentar-se não pode ser considerado apenas natural, espontâneo, biológico; relaciona-se, principalmente, com questões culturais, afetivas e sociais. Esses autores alertam, ainda, que, no trabalho com a Educação Física, mais importante do que conseguir sistematizar uma explicação do que se aprendeu, certamente é a experiência vivenciada, fato ressaltado na prática da professora. Dessa forma, Os conhecimentos com os quais a disciplina Educação Física lida, como os esportes, jogos, danças, lutas e ginástica, são atividades constantemente submetidas a minivariações de situações de aplicação, por isso a dificuldade de expô-las integralmente em forma de enunciados. Fazer com, nesse sentido, indica o tipo de investigação que se pode desenvolver quando se busca compreender o conhecimento que os alunos e alunas conseguiram mais incorporar do que sistematizar em forma de enunciados [...] (SCHNEIDER; BUENO, 2005, p. 40).
Precisamos observar que essas reflexões trazem indagações que passam pelo questionamento sobre o papel da Educação Física no contexto escolar, sua singularidade e significação, pois, ao lidar com a relação do saber-domínio que se centraliza na dimensão do fazer com, ela subverte a forma escolar. A escola é o lugar da palavra ou de outras formas de simbolização do mundo, do texto, dos saberes sistematizados cujo modo de existência é a linguagem, por isso, a valorização da dimensão falar de em contraposição ao fazer com. A forma de significar o lugar e as possibilidades de uso dos saberes compartilhados pela/na Educação Física, no contexto escolar, passa pelo entendimento de sua singularidade/diferenciação. De certa forma, isso foi sinalizado pela professora ao significar diferentes modos de registro para captar o saber de domínio e o saber-relacional, bem como a dificuldade manifestada por ela em transformar o saber de domínio em saber-objeto que deveria ser enunciado pela linguagem, no caso, escrita, por parte dos alunos. O fato de a Educação Física privilegiar a dimensão do fazer com não exclui a possibilidade de materializar o saber-domínio em saber-objeto,
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embora essa não seja sua especificidade, nem tampouco seu objetivo. Mas como dar sentido à avaliação levando em consideração que a Educação Física valoriza o “fazer com”? Como pensar na construção dos instrumentos de registro? Nesse contexto, as produções acadêmicas têm indicado várias possibilidades de instrumentos avaliativos tais como: fichários cumulativos, autoavaliação (DARIDO; RANGEL, 2005); elaboração de diários ou de registros anedóticos, listas de autochecagem tanto dos alunos quanto os professores (LUIS, 2010); fichas, escalas de avaliação, gráfico de participação, prova escrita, desenho e questionários (SANTOS, 2005). Para Furlan (2006), o professor pode utilizar vários instrumentos avaliativos, desde que discuta com seus alunos os resultados obtidos e assuma a avaliação como meio de melhorar as atividades de ensino e aprendizagem. Fica evidente, dessa forma, a necessidade de produzir/utilizar instrumentos que levem em consideração a especificidade de que trata a Educação Física no contexto escolar e, ao mesmo tempo, dê visibilidade à relação com o saber produzido por esse componente curricular. Novamente, o relato da professora sobre os diferentes usos de instrumentos avaliativos nos ajuda a compreender a questão. Hoje eu trabalho com diversos instrumentos avaliativos, é a junção deles que me dá uma noção de nota. No primeiro ano, por exemplo, nós não temos nota, temos uma ficha avaliativa, onde fazemos relatórios descritivos, registramos o avanço do aluno e suas dificuldades. Faço várias avaliações, tudo que eu acho interessante, tiro foto, ou filmo. Em relação ao aluno, o que ele traz para mim, aproveito tudo [...]. Tenho também um caderno de planejamento, onde registro situações que aconteceram na aula e os materiais que os alunos vêem produzindo comigo. Com aluno de primeiro e segundo ano eu trabalho muito com desenho [...]. Meus alunos têm ainda o caderno de Educação Física, como se fosse um diário (PPROFESSORA L).
O relato da professora evidencia o uso de instrumentos como ficha avaliativa, registro iconográfico (foto, filmagem), caderno de planejamento, desenho e diário. Essas são algumas das possibilidades construídas por ela que, ao serem elaboradas, levam em consideração as características da turma e do trabalho realizado em suas aulas de Educação Física. De igual modo, temos também produzido pesquisas sobre o assunto e anunciado diferentes possibilidades de práticas avaliativas para as aulas de Educação Física. Dentre elas, gostaríamos de destacar, neste momento,
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exemplos de fichas avaliativas, desenho e diário da Educação Física a fim de que vocês possam refletir sobre essas possibilidades em seu processo de intervenção.
Fichas avaliativas Com o objetivo de envolver os alunos da 7ª série em um processo de autoavaliação, Santos (2005) elaborou uma ficha avaliativa denominada de Gráfico de Participação. A partir dela os alunos se avaliavam, em grupo, tendo como critérios: organização, cooperação, cuidados com os materiais, cumprimento das tarefas, participação e envolvimento. Além disso, produziam um mapa das atividades do bimestre vivenciadas na Educação Física, como pode ser visto a seguir.
Grupos
Dias das aulas de Educação Física
Critérios avaliativos Organização Cooperação Cuidado com os materiais Cumprimento das tarefas Participação e envolvimento
Dia Faltas Atividades:
Dia Faltas Atividades:
Dia Faltas Atividades:
Dia Faltas Atividades:
Dia Faltas Atividades:
Dia Faltas Atividades:
Siglas S - Sim N - Não P - Parcial
Fonte: Santos (2005) Quadro 7 – Ficha de participação dos alunos
No que tange às categorias de análise, Santos (2005) enfatiza que, entre o fazer e o não fazer ou, dito de outro modo, na quantificação exata dos critérios estabelecidos com os alunos, existia um meio-termo, ou seja, determinados grupos se organizavam para fazer uma atividade totalmente, parcialmente ou não faziam. Ante o fato, trabalhavam com a perspectiva do “S” para sim, “N” para não e “P” para parcial. A participação dos alunos nas aulas organizada em grupos possibilitou a coopera-
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ção entre aqueles que sabem com os que ainda não sabem, sem, contudo, desconsiderar as singularidades de cada sujeito. Uma outra ficha (Quadro 8) produzida para autoavaliação de alunos, porém do 4° ano do Ensino Fundamental, pode ser vista a seguir. Nela, procuramos dar visibilidade às emoções/sentimentos vivenciados nas aulas de Educação Física. Usamos, como critérios avaliativos, símbolos que expressam emoções como: :D para muito feliz; :) para feliz; :| para triste; :( para muito triste; :O para espantado; e :p para indiferente. Marque com um X as emoções/sentimentos vivenciados nas aulas de Educação Física :D
Emoções :)
:|
:(
:O
:p
Me senti na aula de Educação Física Na relação com meu amigo eu me senti na aula de Educação Física Na relação com os professores eu me senti na aula de Educação Física Nas brincadeiras eu me senti Com que aprendi na aula de Educação Física hoje eu me senti Quadro 8 – Ficha de auto-avaliação dos alunos
Ao usarmos essa ficha, não estamos em busca do que se ensina nas aulas de Educação Física, mas dos sentidos que os alunos atribuem aos seus aprendizados, sobretudo no que se refere ao saberrelacional, como sentimentos e emoções. O foco está na experiência que cada aluno atribui ao que é vivenciado nas aulas e suas implicações para as relações com o saber. Entretanto, para que tenhamos uma consciência da importância da autoavaliação é imprescindível que os alunos sejam preparados para se avaliarem, de modo que possam compreender os objetivos principais de sua aprendizagem e o que fazer para atingi-los (BOAS, 2002). Não se trata, portanto, de “[...] estabelecer procedimentos técnicos de auto-avaliação para que o aluno reflita sobre o seu desempenho em sala de aula. Trata-se de fazer com que o aluno participe de sua própria educação, comprometendo-o com o diagnóstico e a busca de solução [...]” (FRANCO, 1995, p. 149). Temos elaborado, ainda, fichas avaliativas para serem utilizadas por professores de Educação Física. Na ficha abaixo, focalizamos os objetivos de ensino como critério avaliativo.
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FICHA AVALIATIVA
Turma:
Data: ____/____/____
Aula(s):
1. Perceber diversidade dos jogos com bola
Siglas:
2. Vivenciar jogos com bola 3. Interagir com os professores e colegas
S = Sim, alcançou sozinho o objetivo PA = Parcial, precisou de ajuda N = Não, não alcançou ou não tentou
Alunos 1 João
S 2, 3
PA 1
2
Angela
2, 3
1
3
Pedro
2, 3
1
4
Priscila
2, 3
1
5
Maria
2, 3
1
6
Victor
2, 3
1
7
Mateus
2, 3
1
8
Herique
2, 3
1
9
Nicole
2, 3
1
10
Guilherme
2, 3
1
N
A ficha em destaque é preenchida por aula e tem como referência os objetivos procedimentais (vivenciar jogos com bola), atitudinais (interagir com estagiários) e conceituais (perceber diversidade de jogos com bola) que são enumerados. Seguindo a mesma lógica do Gráfico de Partipação, foram criadas as siglas “S” para alcançou os objetivos; “PA” parcialmente, precisou de ajuda; “N” não alcançou. Com base nas siglas, estabelecemos uma avaliação dos alunos individualmente. Nessa perspectiva, que assume os desenvolvimentos parciais, o erro passa a ser visto como elemento constitutivo da zona de desenvolvimento proximal (VYGOTSKY, 1994) dos alunos nos espaços do saber ao não saber, isto é, no ainda não saber; portanto o que pode vir a ser. A zona de desenvolvimento proximal evidencia a existência de um espaço no qual os conhecimentos estão em construção. São eles, e não os conhecimentos já consolidados, que devem conduzir a prática pedagógica e, por conseguinte, a prática avaliativa. Ressalta, também, a natureza coletiva, compartilhada e solidária do conhecimento, além da riqueza da heterogeneidade, pois, em cooperação, os alunos revelam seus conhecimentos embrionários, desenvolvem novas potencialidades, articulando um processo permanente de ampliação dos conhecimentos. Vygotsky (1994) parte da perspectiva de que a colaboração entre sujeitos com conhecimentos diferentes permite a aprendizagem e o desenvolvimento, pois na ausência do outro, o homem não se constrói homem. Dessa ma-
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neira, entende que a relação do ser humano com o meio é sempre uma relação ativa e transformadora. Nesse sentido, o conceito de zona de desenvolvimento proximal refere-se a um processo interativo entre os diferentes sujeitos produzidos cooperativamente entre os que sabem e os que ainda não sabem, tomando o saber e o não saber como síntese provisória do momento analisado, assim o não saber em diálogo com o saber se torna um estímulo para novas aprendizagens. Esse processo dialógico forja novos olhares para o movimento de construção de conhecimentos, indica outros caminhos para o processo ensino/ aprendizagem, sinalizando, conforme Esteban (2002), uma perspectiva interessante para se repensar a avaliação: o abandono da classificação dos conhecimentos já consolidados e a busca dos processos emergentes, em construção, que podem anunciar novas possibilidades de aprendizagem e de desenvolvimento. De maneira geral, buscamos na elaboração das fichas criar instrumentos de registros possíveis de serem usados diariamente, tornando a observação uma prática sistemática. Apresentamos sua possibilidade de aplicação na prática pedagógica, já que elas são de fácil preenchimento e oferecem uma leitura dos diferentes saberes apropriados nas aulas de Educação Física. Contudo, chamamos a atenção para a necessidade do uso de outros instrumentos avaliativos, como desenho e diário.
Desenho e diário O desenho se apresenta como lugar de produção de conhecimento do aluno, espaço em que ele materializa suas experiências. No desenho, o aluno não coloca o que foi a aula, mas o que ele aprendeu, o que o marcou, como pode ser visto a seguir.
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O desenho possibilita que o aluno manifeste, mediante a transformação de saber-domínio em saber-objeto, as atividades que demarcaram suas experiências corporais. Partimos, assim, das práticas encarnadas no corpo para produzir apropriação de saberes-objetos. Essa é a mesma lógica estabelecida no diário da Educação Física. Nele pedimos para que os alunos narrem suas experiências. Questões como: “O que faço com o que eu aprendi nas aulas de Educação Física? Como me senti na aula? Quais experiências me marcaram?”, orientam a construção. A experiência, nesse caso, é aquilo que nos passa nos atravessa intimamente influenciando em nossa formação. Em uma de nossas experiências, criamos um diário coletivo para a turma. Ao final de cada aula, um aluno leva o diário para casa para produzir uma narrativa relacionada com as experiências vivenciadas na aula. No momento de sua escrita, os alunos têm acesso às narrativas dos colegas e, ao final do processo, temos o registro de todos os alunos. Buscamos apresentar algumas possibilidades de instrumentos avaliativos, mas, diante dos diferentes exemplos, imaginamos que vocês estão se perguntando: como fazer para definir os instrumentos a serem usados? Para tentar ajudá-los nesse processo, destacamos alguns pontos que devemos considerar ao fazer essa escolha. Dessa maneira, os instrumentos devem ser: a) reflexivos: que levem a pensar, a estabelecer relações, superar a mera repetição de informação, respeitar a inteligência dos alunos; b) essenciais: ênfase naquilo que é fundamental, nos conteúdos realmente significativos, importantes, em consonância com a proposta de ensino; c) abrangentes: o conteúdo da avaliação deve ser uma amostra representativa do que está sendo trabalhado, a fim de que o professor possa ter indicadores da aprendizagem do aluno em sua globalidade; d) contextualizados: a contextualização é que permite a construção do sentido do que está sendo solicitado; e) claros: dizendo bem o que quer; f) compatíveis: no mesmo nível do dia a dia: usar uma linguagem de aproximação e relação com o trabalho realizado em sala de aula. Queremos destacar, ainda, que o problema da avaliação não se encontra no instrumento, mas no uso que fazemos dele, pois, como afirma Hadji (2001), é a intenção do avaliador que torna a avaliação uma ação a favor do processo de ensino-aprendizagem. Assim, não são exatamente os instrumentos ou um padrão metodológico determinado que conferem
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o caráter investigativo, mas o seu poder de informar sobre o processo a fim de favorecer a aprendizagem do aluno. Sob esse prisma, é preciso entender que as provas, testes, atribuição de notas ou conceitos são apenas parte do processo avaliativo. Portanto, avaliar as questões relativas à formação dos alunos é fundamental para que não percamos de vista a função social da escola, para que nossos alunos se tornem cidadãos conscientes, responsáveis. É necessário avaliar os aspectos formativos de maneira organizada, sistematizada e a partir de critérios norteadores bem claros e definidos, conhecidos pelos alunos, construídos alguns em conjunto (FERNANDES, 2003, p. 98).
Queremos destacar que, para construirmos uma prática avaliativa coerente com nossa atuação pedagógica, devemos sempre responder às seguintes questões: para que avaliar? Quais são as principais funções da avaliação? Para quem? Quem utilizará os dados produzidos e interpretados? Por quê? Quais são os objetivos ao avaliar? O que avaliar? Qual é o objeto da avaliação? Quando? Quais são os principais tipos de avaliação, do ponto de vista metodológico? Como se avalia? Quem deve realizar a avaliação: eu próprio ou um observador exterior? Quem tem o direito de avaliar? Assim, se os objetivos de ensino nos dizem para onde queremos ir, a avaliação nos indica se estamos indo pelo caminho certo e anuncia outras possibilidades.
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Considerações finais Como afirmamos anteriormente, o trabalho na disciplina Estágio Supervisionado em Educação Física pretende se desenvolver de forma processual e dialógica, em que cada etapa serve de base para a próxima. Assim, compreendemos que o Esup I nos forneceu a base para a escolha e inserção na escola-campo de Estágio, permitindo-nos conhecer diferentes sujeitos e diferentes práticas. Agora, no ESUP II, desejamos nos inserir nas escolas-campo amparados por um planejamento construído a partir do diálogo entre vocês, nós — professores e tutores – e os diversos atores da escola. Para isso, os elementos discutidos neste fascículo nos ajudam a pensar e produzir diferentes possibilidades para a prática pedagógica em Educação Física escolar. A partir das experiências socializadas, podemos dialogar sobre a realidade do trabalho em nossa área em alguns municípios do Estado e pensar em caminhos para a nossa atuação. Almejamos, dessa maneira, a formação de um professor ativo, pesquisador de sua prática e produtor de conhecimento. Acreditamos, também, na potencialidade do compartilhamento das experiências por meio dos nossos fóruns que, sem dúvida, enriquecem nosso processo de formação pela diversidade dos sujeitos e seus modos de fazer. Acreditamos, ainda, no trabalho colaborativo que nos possibilita, a todo instante, aprender em parceria, aprender com o outro, aprender a aprender. Assim, convidamos a todos a viver esses momentos, cada um à sua maneira, com ritmos e intensidades diferentes, mas com um objetivo comum: produzir nossa identidade e prática docentes na partilha dos nossos saberes e fazeres pela e na mediação dos Estágios Supervisionados.
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Silvana Ventorim Possui graduação em Educação Física pela Universidade Federal do Espírito Santo (1991), mestrado em Educação (1997) pela Universidade Federal do Espírito Santo e doutorado em Educação (2005) pela Universidade Federal de Minas Gerais. Professora do Departamento de Linguagens, Cultura e Educação e do Programa de PósGraduação em Educação do Centro de Educação da Universidade Federal do Espírito Santo. Membro de Instituto de Pesquisa em Educação e Educação Física (Proteoria). Atualmente é vicecoordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Política Educacional (Nepe) e vice-diretora da Seção Espírito Santo da Associação Nacional de Política e Administração da Educação (Anpae).
Wagner dos Santos Possui graduação em Educação Física (2002) pela Universidade Federal do Espírito Santo, mestrado em Educação (2005) pela Universidade Federal de Minas Gerais e doutorado em Educação (2010) pela Universidade Federal do Espírito Santo. Professor do Departamento de Ginástica do Centro Educação Física e Desportos da Universidade Federal do Espírito Santo. Membro do Instituto de Pesquisa em Educação e Educação Física (Proteoria).
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