RGULHO
A alegria de reconhecer e ser
Edição 2 - ano 1
Diversidade: a nova aposta no mercado de trabalho
Vandeco, o rei da noite! Os jovens não viram a cara da AIDS Descubra-se e saiba como lidar com sua sexualidade De corpo e alma: Conheça a história do fundador do Movimento Homossexual de Alfenas Muito mais que a Parada Gay: O trabalho da Associação da Parada do Orgulho GLBT de São Paulo
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Palavra da editora
Orgulho de ser feliz! Assumir uma opção sexual diferenciada é complicado. Envolve família, amigos e trabalho. Apesar das milhares de campanhas que existem hoje sobre a diversidade e contra a homofobia, não podemos dizer que é fácil ser gay. O preconceito existe e está por toda a parte. No mercado de trabalho não é diferente. Apesar de existirem empresas preocupadas com a diversidade, existem as mais conservadoras e lideranças tradicionalistas, que oferecem resistência na hora de contratar um homossexual. Definitivamente assumir a sexualidade não é fácil! Felipe Bueno, Marcelo Modesto e Priscila Fernandes contam como foi tomar essa decisão e enfrentar a sociedade. Sander Simaglio Maciel, vereador e fundador do Movimento Gay de Alfenas, também teve problemas para “sair do armário”, mas com a homossexualidade assumida ele começou a lutar pelos seus direitos e pelo movimento gay. Defender a diversidade sexual e a igualdade social também é o objetivo da Associação da Parada do Orgulho GLBT de São Paulo. Em entrevista à revista Orgulho, Adriana da Silva, uma das militantes da entidade, conta como funciona o movimento que luta por uma sociedade mais justa. A segunda edição da revista Orgulho traz também uma reportagem com o promoter Vandeco, que atualmente organiza as festa da casa noturna The Club Litoral e tudo que vai rolar no primeiro SanSex — Festival de Cinema e Cultura da Diversidade de Santos.
ORGULHO - A alegria de reconhecer e ser É é uma revista laboratório de edição e diagramação dos alunos do terceiro ano do curso de Jornalismo de 2011, da Faculdade de Artes e Comunicação da Universidade Santa Cecília (Unisanta). Editora: Bruna Corralo (bruhcorralo@gmail.com) Editora Gráfica: Mariana Terra (mari-terra@hotmail.com) Editora Multimídia: Mariana Serra (mariihserra@hotmail.com) Editora Fotográfica: Mariana Terra Repórteres: Bruna Corralo, Caio Augusto (caioaml@hotmail.com), Cauê Goldberg (kal212@hotmail.com), Isabella Paschoal (bella.enjoy@hotmail.com), Juliana Kucharuk (julianakucharuk@gmail.com) , Mariana Serra, Mariana Terra, Simone Menegussi (simonemenegussi@hotmail.com) e Willian Roemer (willian_roemer16@ hotmail.com). Orientação: Marcio Calafiori Foto da Capa: Divulgação Mga 4
Sumário
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Entrevista - Militante da Parada do Orgulho GLBT de São Paulo conta como funciona a associação
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Mercado de trabalho - Boa postura auxilia na conquista de emprego
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A hora da descoberta - A difícil missão de revelar a homossexualiadade
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Milena Ohaio - 11 anos de sucesso na noite e na TV
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Perfil - A história do homem que revolucionou a visão do homossexualismo em Alfenas
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Pegação - Conheça os motivos que levam as meninas a se envolverem AIDS - Mitos e verdades
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Resenha - 12 anos de sucesso transforma livro em peça
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Festival - Fique por dentro do que vai rolar no Sansex
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Vandeco - O segredo do sucesso das baladas LGBT do litoral
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Agenda - Música e Cinema: saiba tudo que está rolando
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Crônica - Beijo reacende a polêmica do homossexualismo na TV
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Arrasei - Confira o que de melhor aconteceu no mundo LGBT 5
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ENTREVISTA
Todo mundo é igual
Por trás da Parada Gay. Em entrevista a Orgulho, Adriana Silva conta como funciona a Associação da Parada do Orgulho GLBT de São Paulo CAUÊ GOLDBERG
Fundada em 1999, a Associação da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo defende a diversidade sexual e a igualdade social. Sua luta é por uma sociedade mais justa. A entidade é reconhecida internacionalmente por seu trabalho. Em 2008, recebeu o premio Dorothy Stang — Defensores de Direitos Humanos, das mãos do então presidente, Luiz Inácio Lula da Silva. Em 2009, ganhou o Prêmio Cultural LGBT da Secretaria da Identidade e da Diversidade Cultural. O seu principal evento é a Parada Gay, que acontece sempre no mês de julho. A passeata é considerada uma das maiores manifestações sócio-político-cultural do País e responsável no período pela maior movimentação turística de São Paulo. Para uns, a parada é sinônimo de festa; para outros, de liberdade. Mas a entidade promove eventos durante o ano inteiro: festivais de música, palestras, seminários e debates, todos abertos ao público. A sua ação mais visível é a criação do Mês do Orgulho LGBT de São Paulo. Em entrevista à revista Orgulho, Adriana da Silva, uma das principais militantes do movimento e coordenadora do grupo interno que dá apoio a travestis e transexuais. Fala sobre a importância do trabalho da entidade. “É lutando que a gente consegue dar força para o nosso movimento e mostrar que todo mundo é igual.”
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É lutando que a gente consegue dar força para o nosso movimento e mostrar que todo mundo é igual.”
A seguir, os principais trechos da entrevista: Orgulho — Como funciona a Associação da Parada do Orgulho Gay de São Paulo? Adriana da Silva — A associação funciona da seguinte maneira: quem precisa de ajuda vem aqui, deixa nome, endereço e do que precisa e a gente encaminha para algum grupo interno, dependendo da necessidade da pessoa. Qualquer um pode vir pedir ajuda. O que puder ser feito a gente faz.
doenças sexualmente transmissíveis, que é o foco do meu trabalho. Recentemente, participei de um seminário chamado Transexualidade — Saúde Pública no Brasil: Um olhar para diagnóstico das identidades trans. O foco do seminário foi abordar a prevenção na hora do ato sexual, a fim de conscientizar mesmo.
Existem muitos seminários como esse? Existem, mas não são todos que participam. Eu Como funcionam os grupos internos? Cada pessoa é responsável por um segmento. mesma não participava muito. Foi esse ano que Eu sou responsável pelos travestis e transexu- comecei a ir a todos. Inclusive tenho uma semana ais; a Jéssica Ramires é responsável pelo Mães que vem também. Esse já é patrocinado e organizae Pais; a Cléo coordena a parte das lésbicas, e do pela Secretaria de Cultura. o Pierre Ramirez, o Grupo dos Jovens. O que o público mais procura na associação? No seu caso, como funciona o grupo dos tra- Com certeza, vem gente procurar pelos nossos servestis e transexuais? viços. Algumas pessoas procuram advogado, pois Temos reuniões às terças-feiras, a cada 15 foi vítima de algum tipo de preconceito ou violêndias. Debatemos problemas, mudanças e até cia. leis. Conversamos abertamente sobre vários assuntos, principalmente sobre prevenção, e Que tipo de preconceito? 6
BLOG HIV EM PAUTA
Na maioria das vezes, por discriminação no trabalho. É bem grande o número de pessoas que vem aqui procurar advogado ou algum tipo de instrução ,que não tem a mínima ideia do que fazer. São maiores até que o número de pessoas que sofrem algum tipo de violência. Nesse caso, se a gente puder ajudar, disponibilizamos o advogado aqui da associação. Ele entra em contato com a vítima, conversa e ajuda se for possível. Caso ele não consiga ajudar, encaminhamos para um promotor público que já trabalha com a entidade. Isso acontece em qual ambiente de trabalho? Para os gays, não é tão difícil conseguir trabalho, contanto que eles não sejam muito afeminado. O mesmo vale para as lésbicas. Entretanto, os travestis só conseguem trabalhar, sem ser vítima de preconceito, em lugares como cabeleireiro, por exemplo. Em um ambiente como escritório os que conseguem vaga são alvos de piadinhas e discriminação, abertamente. Embora o Brasil esteja melhorando, há lugares onde o povo ainda não tomou consciência de que somos todos iguais.
E os casos de violência? mos um trabalho para capacitar militantes, treinar Esses são mais pessoais. A maioria prefere ir direto outras pessoas para que elas possam ajudar a entià Delegacia da Mulher do que vir aqui; afinal, não dade, caso queiram. temos muito o que fazer. Encaminhamos para um promotor público que é o mais adequado para cuidar disso. Vocês fazem palestras em faculdades. Como funciona? Sim. Quem vai é o Marcos Freire. Normalmente, quem chama para fazer palestra são as universidades. Elas servem pra conscientizar mesmo, para mostrar como funciona o movimento. Quantos trabalham na entidade? Somos, por volta de 12, todos voluntários. A maioria tem um segundo emprego, pois não trabalhamos, digamos assim, com carteira assinada. Faze7
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Em um ambiente como escritório os que conseguem vaga são alvos de piadinhas e discriminação, abertamente. Embora o Brasil esteja melhorando, há lugares onde o povo ainda não tomou consciência de que somos todos iguais.”
E os filiados? Tem bastante também. Mas isso é algo que temos que tomar muito cuidado. Por termos um nome bem forte e conhecido, muita gente tenta se filiar achando que aqui o dinheiro corre solto, acha que somos ricos, quando isso não é verdade. Muita gente já veio aqui querendo se filiar para tentar tirar algum proveito. Afinal, se você faz um projeto com nosso nome a chance de ser aprovado é bem grande. Então, procuramos conhecer bem quem está se filiando e saber se ele realmente quer lutar pela nossa causa. A entidade tem algum projeto no momento? No momento, estamos escrevendo um projeto, mas é segredo, não posso comentar. Há um projeto para termos uma sede própria, pois como você pode ver aqui é pequeno para o trabalho que a gente faz. Imagina fazer um casamento aqui nessa sala pequena? Casamento? Sim. Fazemos algumas cerimônias de união estável. Alias, fazíamos, pois desde que foi aprovado pelo governo agora a maioria pode ir ao cartório. Mas estamos pensando em voltar a fazer elas aqui, pois algumas pessoas têm tido certos problemas com isso. Que tipo de problema? Ah, algumas dizem que vão até o cartório e são enroladas. Eles dizem que naquele dia não pode, nem no outro, enrolam. A pessoa acaba desistindo e voltando muito tempo depois e a mesma história ocorre. Então, pensamos em fazer aqui de novo. Temos até um livrinho com tudo anotado, todas as uniões que já fizemos estão guardadas. São muitas, de cabeça eu nem sei dizer quantas são.
Cada vez maior: Parada do Orgulho Gay de São Pa
trabalho.
E como funciona exatamente a preparação? Funciona assim: os trios elétricos devem ser previamente cadastrados, através do nosso site ou por telefone. Existem algumas casas noturnas também, que pagam uma taxa para participar. A arrecadação de fundos também é difícil. É engraO principal evento da entidade é a Parada Gay? çado que algumas pessoas acham que pela paraO principal foco é realmente a Parada Gay, em da movimentar um grande fluxo de dinheiro, o termos de evento. Além de ser uma das maio- pessoal acha que a gente levanta tudo isso, mas res do mundo, o preparo começa cedo. Coorde- não é assim. namos e preparamos um evento que conta com mais de quatro milhões de pessoas. Dá muito Então como funciona a arrecadação de dinhei8
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aluguel da associação, o resto é tudo doação. E como foi a última Parada Gay? Foi ótima, recorde de público. Só tivemos um pequeno probleminha com a igreja. Fomos alvo de critica devido a algumas propagandas que circularam durante a parada. Feitas pelo nosso amigo fotografo, sabe? O problema foi que fizemos panfletos com uma camisinha do lado de dentro e a propaganda era de alguns meninos sem camisa, vestidos de anjos, outros encostados em uma cruz. A igreja achou isso um absurdo e nos criticou muito. Eu não entendo isso, nós não temos preconceito com ninguém, nunca arranjamos briga. Foi apenas uma propaganda, algo que não deveria machucar ninguém. Não tinha apelo sexual nenhum. Tirando isso, foi um sucesso. Você acha que um evento como esse ajuda a conscientizar a população? Claro! A cada ano mais gente aparece na parada. Ela já é uma das maiores manifestações do País. Além da nossa ser uma das maiores do mundo. A nossa organização produziu um livro contando a história completa da Parada Gay, desde a sua criação.
aulo atrai 4,5 milhões de pessoas para a Avenida Paulista
ro para financiar o evento? E até mesmo outros custos como publicidade? É aí que entram alguns filiados. Por exemplo, todos os cartazes da Parada Gay foram feitos e doados pela Universidade Nove de Julho, por alunos mesmo. Já alguns panfletos, foram doados por um amigo nosso, que é fotografo. Ele chamou o namorado dele e uns amigos e tirou as fotos e produziu tudo. O governo também manda vários panfletos de conscientização e de educação sexual. Dinheiro mesmo para pagar o aluguel da associação e outros custos vem da Petrobras, mas não é nada disso do que todo mundo acha. O dinheiro dá para pagar a luz, o 9
Para finalizar. Nos últimos anos, no Brasil, o movimento gay ganhou mais força, parte disso se deve à Parada Gay. Você acha que a violência contra o público LGBT aumentou por conta da grande exposição que vocês têm agora? Não concordo com isso. A exposição aumentou, mas a violência sempre existiu, antes apenas não era divulgado. Por conta de novelas e outros meios de comunicação, o povo começou a olhar melhor e ver que não é assim que se trata um ser humano. Não acho que isso seja culpa da mídia. Pelo contrário, agora é que todo mundo está vendo o que acontece. É lutando que a gente consegue dar força para o nosso movimento. Todo mundo é igual.
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HOJE
Postura faz a diferença! Saiba como ser bem recebido no mercado de trabalho JULIANA KUCHARUK Era início de semestre e a professora Maria Cristina Mattos teve que lidar com uma situação de adaptação um tanto difícil. Os alunos de uma turma de turismo da universidade onde lecionava entraram em atrito. Um dos alunos da sala era gay e se vestia com echarpe rosa para ir à aula. O comportamento do aluno incomodou os colegas, que eram 70% evangélicos. A situação ficou tão intensa que a professora chamou os representantes dos grupos e chegou a um consenso: cada um mantém a sua opção sexual e religiosa “da porta da universidade para fora”, para que a sua liberdade não ofenda a liberdade do outro. Na semana seguinte, o nível de tensão da sala de aula já havia baixado e ambas as partes estavam em paz. O aluno foi sem a echarpe e os demais não causaram alvoroço. Esse é um dos princípios utilizados hoje pelo mercado de trabalho, segundo a especialista: você pode ser o que quiser desde que saiba ser profissional e se portar de acordo com cada lugar e situação. Com experiência de 30 anos no mercado, a consultora de recursos humanos e PHD em gestão de pessoas, Maria Cristina Mattos acha que o mercado de trabalho está aberto a todos os candidatos em potencial e o que tem de inovador são empresas mais preocupadas em 12
trabalhar com a diversidade de opção sexual, religiosa, de espaço geográfico, dentro da empresa: “Muitas empresas já têm trabalhos belíssimos com a diversidade, outras estão caminhando para isso, mas a gente ainda encontra uma fatia do mercado com empresas mais conservadoras, lideranças mais tradicionalistas, que ainda oferecem um pouco de resistência”. O Artigo 7º da Constituição Federal proíbe a diferença de salários, de exercício de funções e de critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil e por meio do princípio da igualdade, que deve ser observado, no trabalho, ou nos períodos pré-contratuais. Hoje, ainda é possível encontrar empresas que discriminem funcionários ou candidatos pela sua vida pessoal, mas a tendência é mudar essa realidade. “Falar que não existe preconceito eu estaria mentindo. Ainda existe. O cenário que se apresen-
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Você pode ser o que quiser desde que saiba ser profissional e se portar de acordo com cada lugar e situação.” Maria Cristina
ta é que as empresas estão sabendo trabalhar a diversidade. Então, nas grandes corporações, nas multinacionais, isso já é comum”, completa Maria Cristina. “O mercado de trabalho está cada vez mais exigente. Se pegarmos o perfil profissional da década de 70 e fizermos um processo comparativo da virada do milênio até a atualidade, vamos perceber que o perfil desejado hoje é muito mais amplo. Na década de 70 só se exigia do profissional experiência profissional. Mas atualmente os requisitos são enormes”, explica a consultora de recursos humanos e professora universitária, Tânia Guedes. Até o século 20 a mulher não era bem vista no mercado de trabalho. Cuidar da casa, criar os filhos e ser uma boa esposa estavam entre os pré-requisitos para ser uma mulher de sucesso. Hoje, a realidade é outra. Depois de anos de luta a mulher ingressou no mercado de trabalho e conquistou um espaço para demonstrar que é capaz de cumprir todos os requisitos de uma mulher e ainda trabalhar. O negro enfrentou o preconceito por sua etnia por séculos, a ponto de ser rebaixado a escravo, mas hoje, no Brasil, encontramos chefes de grandes empresas, artistas, líderes e até políticos negros e bem-sucedidos. Da mesma forma encontramos o gay, a lésbica, o bissexual, o transexual, o travesti e os simpatizantes. Ainda encontram discriminação por sua opção, mas com o tempo têm feito as grandes empresas olharem além do estereótipo e encontrar grandes profissionais. Para a consultora, o mercado está interessado em trabalhar competências, conhecimentos, habilida-
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des e atitudes e não em olhar para a diversidade. Por isso dá a dica: “Todos nós, para concorrermos a uma vaga no mercado de trabalho, temos que ter a aprendizagem permanente”. Entre a opção escolhida e seu perfil profissional você deve ter em mente uma coisa: saber se portar como profissional. Maria Cristina recomenda ao candidato e ao funcionário essa chave para ser visto pelo seu potencial: “Quando a empresa trabalha com a questão da diversidade, porque num mundo diverso podemos encontrar muitos talentos, ela pede também que as pessoas saibam se comportar. Por exemplo, no lado religioso, a empresa não é o local de pregar a religião, a mesma coisa é o gay, a opção dele fica da porta da empresa para fora. Então, ele tem que dar resultado como outro qualquer.” Felippe Souza, de 21 anos, fotógrafo e diretor de arte na empresa de marketing digital Crista Web, alcançou o emprego que desejava. Depois de trabalhar em outras áreas que diz não terem a “sua cara”, 13
encontrou no design e na arte o seu porto seguro. Para ele, o fato de ser gay não influenciou seu emprego e se tivesse influenciado seria para o lado positivo. O fato do menino moreno e de olhos castanhos, aos 8 anos de idade, ter dado o seu primeiro beijo em outro menino, mexeu com sua cabeça até a pré-adolescência, mas depois que começou a se aceitar como gay a forma de ver o mundo e de ser visto pelo mercado mudou. “Eu não queria ser o que eu sabia que eu era. Eu tinha muito medo de sofrer. Mas quando você percebe que sofrer é inevitável e o que nos difere das pessoas é como reagimos a isso, tudo fica mais fácil”, diz Felippe. Em sua adolescência, ele trabalhou em outras empresas que não o discriminaram por seu modo de agir. Ele diz que os comentários e brincadeiras que ouviu o ajudaram a amadurecer profissionalmente. “Já ouvi algumas piadas sem graça, comentários que não agradaram, mas se eu parar para pensar, foi em um momento em que eu não estava muito confiante. As pessoas são maldosas e elas percebem quando você não está bem consigo mesmo e das duas uma: ou os comentários te ajudam ou pioram. No meu caso, me ajudaram a manter uma postura profissional e a saber a hora certa de me soltar e para quem eu posso fazer isso”, ressalta o diretor de arte.
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Eu não queria ser o que eu sabia que eu era. Eu tinha muito medo de sofrer. Mas quando você percebe que sofrer é inevitável e o que nos difere das pessoas é como reagimos a isso, tudo fica mais fácil” Felippe Souza 14
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Ele tem que ser visto como profissional e não com o rótulo de gay ou de outra diversidade qualquer.” Maria Cristina.
Hoje, para Felippe, o fato de ser gay é apenas mais um ponto de sua personalidade. Ele acredita ter alcançado uma maturidade profissional. “Hoje, eu sei que é só mais uma característica minha. Assim como eu sou moreno, tenho olhos castanhos, sou gay. O que eu faço entre quatro paredes não interfere na minha vida social e profissional. Eu ando com a postura de alguém que tem certeza do que é, que não vai se afetar por qualquer tipo de comentário”, comenta.
O outro lado da história
Um militar, que não pode se identificar, levou uma vida “normal” até os 16 anos de idade. Brincava dentro de casa, estudava, gostou de uma garota, teve o seu primeiro beijo com ela, até que se apaixonou por um menino de sua classe, na escola. “Quando eu era criança já tinha percebido que era diferente dos outros garotos”, lembra. Apesar de ter tido relacionamentos com mulheres e com homens em toda a sua vida, diz que só se apaixonou três vezes. Todas as três foram por alguém do mesmo sexo. Apesar de sua opção nunca ter atrapalhado em antigos empregos, atualmente prefere manter-se no anonimato. Alguns membros de sua família e amigos próximos sabem de sua opção. Ele contou para sua mãe, que não esperava a notícia, mas depois aceitou a opção do filho. O pai, uma pessoa mais conservadora, não admite essa possibilidade. “Minha mãe sofreu muito quando contei. Ela
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Felippe também faz trabalhos fotográficos.
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me disse que ele não suportaria a ideia. Prefiro não arriscar (...)”. Hoje, ele decidiu seguir o sonho do pai e não pretende decepcioná-lo, contando a ele que é bissexual. Ele diz ter medo de decepcionar aquele que lhe colocou no mundo, não poder conversar com ele, ter que sair de casa, perder o emprego e na pior das hipóteses causar algum tipo de ataque cardíaco em seu pai. Apesar de ter que viver uma vida dupla na profissão que escolheu seguir, diz amar o que faz e se sente realizado. Trabalhando para o seu país, carrega sua opção como um enigma, algo que lhe fará viver uma vida parcial, até a morte. Não são todos os setores do mercado de trabalho ou empresas que são recep-
tivos à diversidade como as corporações que adotaram a postura gay-friendly. Em algumas empresas, mesmo que pequenas, o preconceito fala mais alto e só de olhar para as roupas ou a postura do possível funcionário, ou até mesmo olhares tortos e comentários no canto da boca, fazem com que o selecionado fique em uma situação desconfortável e sinta-se rejeitado, tanto durante entrevistas de emprego, entrega de currículos, como atuando dentro da empresa. Nesses casos, se o candidato à vaga sentir-se discriminado, pode recorrer à justiça e abrir um processo, tanto no âmbito civil, para ser remunerado, como no criminal, onde o acusado responde por danos morais. ARQUIVO PESSOAL
Além do seu trabalho como designer, Felippe faz fotografias e por vezes posa como modelo
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A onda gay-friendly
A consultora de recursos humanos Tânia Guedes explica que as empresas, atualmente, precisam abrir seus horizontes à diversidade. Segundo a especialista, a corporação que não aderir a este quesito vai apenas sobreviver e não competir com as concorrentes. “As empresas têm que inovar para permanecer no mercado, a fim de serem competitivas, se não vão morrer”, afirma. Atualmente no mercado de trabalho grandes corporações têm aderido a onda gay-friendly, que investem e publicam suas marcas em eventos diversos como a Parada Gay e apoiam o movimento LGBT. Uma pesquisa realizada pela Market Analysis, no começo do ano, perguntou aos brasileiros quais mar-
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As empresas têm que inovar para permanecer no mercado, a fim de serem competitivas, se não vão morrer.”
cas são mais receptivas ao público gay. Entre os nomes citados apareceram, a C&A, com 12,6%; a Oi, com 5,3%; a Riachuello, com 3,6%; a Johnson & Johnson, com 2%; os salões de beleza, com 4,7%; a TV Globo, com 3,4%; os call centers, com 3,2%; e os hospitais, com 3%. Segundo a pesquisa, Tânia Guedes foram ouvidas 800 pessoas entre 18 e 69 anos nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Recife, Salvador, Porto Alegre, Curitiba, Goiânia e Brasília.
Dicas para se dar bem Cconsultora Maria Cristina
“Em tudo você tem que ser uma pessoa adaptável, pró-ativa, acertiva (que dá respostas certas e objetivas, porque tem conhecimento profundo do assunto), ter nível de instrução desejável, ter inglês, bons conhecimentos de informática. Cada um no cargo que vai pleitear tem que demonstrar ao máximo. Ter flexibilidade, boas relações pessoais, saber trabalhar sob pressão, adaptabilidade, saber conviver em ambientes diversos. Hoje, a exigência é extensa, são muitos itens. O ideal é que você tenha o máximo de conhecimento possível.”
Fotógrafo e designer Felippe Souza
“A pessoa deve fazer o melhor pela empresa independentemente de crença, etnia. Nada disso pode interferir no seu desempenho e se for interferir, que seja para melhor. Por exemplo, uma pessoa que é gay talvez tenha mais referências por estar em contato com coisas diferentes, então que a pessoa use isso a seu favor. O segredo do meu sucesso profissional é a confiança que eu tenho no meu talento. Não sou menos ou mais por ser gay. Sou muito além disso e eu acredito que sou capaz. Acho que isso é fundamental!” 17
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BAFO
Sou gay, e agora? A hora da descoberta da opção sexual é um momento delicado para o homossexual
MARIANA SERRA
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A ESSO IVO P
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“Eu tinha 15 anos e, no começo, me assustei um pouco. Para mim, não era normal. Foi um mix de todos os sentimentos. Fiquei confuso, queria entender o porquê. Estava com medo...”. Para o estudante de nutrição Felipe Bueno, de 23 anos, a descob e r t a da orientação sexual foi tomada pela incerteza do que estava por vir. Depois de se relacionar com meninas, o jovem percebeu que não era desse gênero que gostava. As amigas da escola levaram Felipe a um bar gay em Santos e lá ele conheceu um garoto, com quem ficou. A noite foi uma revelação. “O pior foi contar para a minha mãe. Eu estava muito angustiado com a reação 20
dela, mas me surpreendi quando ela me falou que já sabia de tudo e que me amaria do mesmo jeito. Toda mãe conhece o filho que tem. A reação dela foi a mais natural possível”, relata. Para se aceitar e contar para a mãe que era homossexual, Felipe contou com a ajuda de uma prima e um primo que também são gays. “Ter o apoio de mais alguém da família foi o que me confortou”. Assim como o estudante, a maioria dos homossexuais descobre a verdadeira orientação sexual ainda na adolescência. “É nessa fase que meninos e meninas estão com os hormônios à flor da pele e com o corpo se desenvolvendo. Com isso, eles percebem o que de fato dá prazer no relacionamento”, explica a psicóloga e especialista em terapia sexual, Márcia Atik. O momento de se assumir para a família é delicado e, muitas vezes, pode nem ocorrer. Assim como é difícil para os filhos contar a orientação sexual, para os pais o choque é
ainda maior. “A descoberta desencadeia todos os tipos de sentimentos relacionados ao sofrimento: decepção, medo, revolta, desespero, culpa, vergonha... varia de pessoa para pessoa. Às vezes, xingam para se sentir melhor, mas eu até prefiro que isso aconteça, senão guardam para si e ficam até doentes. Mas falar barbaridades para os filhos não pode”, diz Edith Modesto, criadora do Grupo de Pais Homossexuais.
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Todos os jovens querem ser amados por seus pais e família como são. Assim também os filhos homossexuais. No nosso projeto para jovens, o “Purpurina” (13 a 24 anos), temos muitos casos de jovens com sérios problemas psicológicos, por não serem aceitos como são pela família”
A visão de uma mãe Ela é mãe de sete filhos (seis homens e uma mulher) e, em 1992, descobriu que o caçula, Marcelo, na época com 22 anos, era homossexual. Desesperada, procurou ajuda de outra mãe para conversar sobre o filho, mas não encontrou. Para compreender melhor, começou a pesquisar sobre diversidade de orientação sexual e formou um pequeno grupo de mães de homossexuais em 1997: “Fiquei incomodada porque o meu filho não tinha namorada. Com mais cinco filhos homens, estranhei DIVULGAÇÃO isso, até que perguntei se ele não gostava de mulher. Me surpreendi quando ele me falou que era isso mesmo. Minha reação foi de espanto, mas a ficha logo caiu, como uma paulada. Nunca tinha pensando que tinha um filho gay. Demorou bastante para entender”. Até 1999, eram apenas quatro mães que se encontravam na casa de Edith, mas Quebrando o preconceito: Edith quando o Grupo de Modesto ajudou milhares de pais de Pais Homossexuais todo o Brasil a entender e aceitar a (GPH) foi criado no homossexualidade dos filhos 21
Edith Modesto mundo virtual, começou a crescer. Hoje, o grupo já ajudou milhares de pessoas em todo o País. Ao lado do marido, Edith ajuda pais e filhos a entenderem melhor e a homossexualidade. No GPH, a procura de jovens por apoio é maior do que a de pais. “Todos os jovens querem ser amados por seus pais e família como são. Assim também os filhos homos-
sexuais. No nosso projeto para jovens, o "Purpurina" (13 a 24 anos), temos muitos casos de jovens com sérios problemas psicológicos, por não serem aceitos como são pela família”, conta Edith.
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Descoberta do outro lado Depois de um ano e meio de namoro com um menino, a depressão aliada à curiosidade fez a bancária Priscila Fernandes realmente se descobrir. Os novos ares proporcionados pelas amigas lésbicas levaram a estudante de 20 anos a conhecer baladas LGBT e perceber que se sentia atraída por meninas. “Sempre achei interessante duas mulheres juntas, mas até então eu era hétero. Quando experimentei o outro lado, a curiosidade matou o gato. Hoje sou feliz”, diz. Depois de algumas experiências com meninas, Priscila conheceu a atual namorada com quem está há mais de três meses. Apesar de pouco tempo, a experiência vivida no novo relacionamento mudou a forma de pensar da jovem. Realizada e feliz com o primeiro relacionamento sério com uma menina, nem tudo foram flores. A decisão de se assumir para todo mundo demorou. “Achei que era uma fase. Era uma maneira que eu encontrei para não pensar no meu ex-namorado e isso funcionou. Eu ainda me considerava hétero, pois beijava mais
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Quando experimentei o outro lado, a curiosidade matou o gato. Hoje sou feliz.”
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Tem que ser muito macho para ser gay e o segredo é o respeito. E o amor sempre vence.” Edith Modesto.
meninos do que meninas, mas a minha nova ‘opção’ foi ficando séria. Geralmente, eu ficava com alguma menina só na balada e ninguém via, era super discreta. Era quase a ‘hétero da turma de lésbicas’. Mas tive uma relação muito intensa quando estava no terceiro ano do Ensino Médio e percebi que estava na hora de me assumir”, conta. Entre os pacientes da terapeuta sexual Márcia Atik, uma surpresa: 70% dos atendimentos feitos são em famílias com filha lésbica. “Talvez isso ocorra, pois a maioria dos pais sonha em ver a filha se casando na igreja e gerando filhos. Me procuram para entender a mudança e, muitas vezes, tentar reverter a situação, como se houvesse uma forma de consertar. No fim, percebem que o que querem é ver a filha feliz”, diz a especialista. A decisão chocou a família de Priscila, mas aos poucos a situação foi acalmada e deu lugar à compreensão. Hoje os pais, a madrasta, a avó e uma prima são os únicos que sabem da orientação sexual dela, mas entre os amigos a vergonha foi deixada de lado e deu lugar à aceitação. “Não existe pessoa sem preconceito. É difícil falar isso, mas é a natureza do homem. Até dentro da comunidade LGBT existe o preconceito. O bom é que o preconceito está diminuindo. Uma das provas é que a homossexualidade é assunto pautado para a mídia todos os dias. Quando isso acontece, significa que a sociedade está mudando. Tem que ser muito macho para ser gay e o segredo é o respeito. E o Priscila amor sempre vence”, acredita Edith Modesto. 22
23 Desculpe-me, mas eu nรฃo consigo ver a diferenรงa
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Milena Ohaio A estrela da Baixada Santista é sucesso na noite e em programas de humor
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Na tarde do feriado de 12 de outubro, uma fila de crianças em frente a uma casa de shows chamava a atenção. A Tribal Club, situada no Centro de Santos, é simpatizante do público LGBT. Lívia Lousada, proprietária da casa, cansada das discriminações e reclamações da vizinhança, teve uma ideia. Financiada pelo seu público mais fiel, organizou uma festa para 300 crianças de todas as idades e familiares do bairro. Uma forma de interação das tribos. Casa lotada, apesar de seu interior pintado de preto, o colorido das crianças alegrava o ambiente. Muita comida, bebida, brinquedos, voluntários para servir e brincar com a garotada. Nesse clima, atrasada mais de uma hora, entra correndo tentando passar despercebida no meio das crianças e rumo ao camarim, Milena Ohaio e sua fiel escudeira Ayslah Basfond. Milena, a drag queen, estrela da casa, abraçou a causa na hora. Travestida de Valéria — personagem de grande sucesso do Zorra total —, convidou a amiga Ayslah — caracterizada de Janete, também personagem do programa — para formarem a dupla de sucesso da atualidade. Assim que entra no camarim, Milena se joga em uma das duas poltronas, revestida com tecido de oncinha. Tentando se recuperar da correria, me cumprimenta e apresenta a companheira de cena. Com a voz característica de uma drag queen, e apesar de muita maquiagem, ela exibe traços de um rosto muito bonito, fala sobre sua vida e a importância do evento para amenizar o preconceito. Suas longas e torneadas pernas se cruzam exibindo os pés. Calçado com um par de sandálias de borracha cor de laranja, uma saia estampada toda bordada com pedras coloridas, uma camisa laranja com alguns botões abertos mostrando o sutiã e seus enchimentos, a artista me mostra os colares, de muito bom gosto, que completam o seu figurino. A dona e os funcionários da casa recebem Milena com muito carinho. Se intitulam uma grande família. Durante nosso bate-papo, as “meninas” são chamadas para iniciar o show. A criançada a milhão, correndo pra baixo pra cima, sanduiche e pipoca pra todo lado, mães e pais cor-
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SIMONE MENEGUSSI
Transformação: de Armando a Milena
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Além de shows em boates, Milena anima festas de aniversário, despedidas de solteiros, casamentos, e muito mais
rendo atrás das crianças menores, uma farra. Quando a voz da Milena ecoa de cima do palco de dois metros de altura, todos param. Valéria e Janete (versão santista) literalmente deram um show. Durante os 30 minutos que as meninas ficaram no palco, todos sem exceção, não tiraram os olhos delas. As crianças olhavam sem piscar, os pais, os adolescentes e os voluntários riam o tempo todo. O humor é a característica dos shows. Para agradar o público infantil, tem que ser muito bom. E nesta tarde ficou provado, por unanimidade, que está no caminho certo. Milena Ohio completa este ano 11 anos de criação. Armando Gomes, seu criador, tem 29 anos. É pai de um ARQUIVO PESSOAL casal de pré-adolescentes, Eduarda e Daniel, frutos de um relacionamento da adolescência. Armando é adepto ao sincretismo religioso, é casado há nove anos com André e tem a guarda dos filhos. No dia a dia Armando, nos palcos Milena Ohio, é assim que se divide. Dupla de sucesso, Milena e Ayslah caracterizadas de Valéria e Janete, personagens do humorístico global, Zorra Total.
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Milena já participou de progrqmas como “Show do Tom” (Record), “Programa do Ratinho” (Sbt), “Qual é o Seu Talento”(Sbt), entre outros. Confira algumas *fotos destas participações.
*Fotos do arquivo pessoal
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Sander, o desbravador Mais do que assumir, ele luta pelo Movimento Gay em Alfenas
UMA PALAVRA: coragem UM MOMENTO: minha posse na Câmara UMA MÚSICA: Tocando em frente, de Almir Sater UM LIVRO: Quando Nietzsche chorou UM FILME: Meia-noite em Paris UMA MULHER: Madre Tereza de Calcutá UM HOMEM: Chico Xavier VIDA: vivo intensamente UMA SAUDADE: minha avó FAMÍLIA: meu alicerce UM SONHO: ser prefeito UMA BEBIDA: caipirinha TRAIÇÃO: fraqueza UMA MANIA: desocupar caixas, embalagens. Gosto de espaço. Não suporto entulhos sem serventia UM DEFEITO: por demais ansioso UMA QUALIDADE: verdadeiro UM VICIO: internet DESCREVA-SE: positivo, persistente, vaidoso, moderno, inquieto, ansiosíssimo, ousado, extravagante, louco, livre, feliz, ariano determinado, corajoso, ciumento, possessivo, romântico e carinhoso! Sou bem resolvido, prático e objetivo! Ah... E muito polêmico. Detesto discussões fúteis. Moro sozinho porque gosto das coisas do meu jeito e porque odeio dar satisfações. Sou independente para ter o DIREITO de curtir a vida como eu bem entender. Gosto de ARTE porque ela me torna uma pessoa melhor. Adoro a vida, sou humanista e me entrego completamente aos meus instintos, em outras palavras: eu não controlo o meu tesão! Gostaria de ser mais frio, para evitar as paixões com mais facilidade, porém quanto mais sofro mais sensível fico — mais humano me torno. Não julgo, não condeno, pois tudo me parece humano, até mesmo o mal que me fazem. 29
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Eu não queria, lutava contra, mas lutar contra a natureza é impossível”
MARIANA TERRA Sander Simaglio Maciel poderia ser um mineiro qualquer, mas a vida se responsabilizou por fazer dele um homem para ficar marcado na história da singela cidade de Alfenas, em Minas Gerais. Nascido em 30 de março de 1977, foi batizado na igreja católica. Fez primeira comunhão, crisma e até foi corinha. Teve uma infância, digamos, feliz, tirando o fato de que uma vez ele foi o único a ficar sem presente de Natal. “Numa noite de Natal, na casa de uma amiga da minha mãe, uma senhora que participava da ceia levou presentes para todas as crianças presentes e os distribuiu. Fui o único que não ganhou. Eu tinha uns 5 anos e me lembro disso como se fosse hoje.” Desde cedo começou a se virar para ganhar o seu dinheiro. Foi vendedor de roupas, perfumes, joias, objetos. Trabalhou em feira e supermercado e chegou a fazer entregas de listas telefônicas. Em 1994, deu um novo rumo à sua vida ao iniciar a Faculdade de Direito, na Unifenas. Escolheu o curso por sentir a necessidade de lutar pelos seus direitos, já que após ter se assumido percebeu que para a sociedade “era um cidadão de segundo plano com deveres garantidos e direitos negados”. Com a sexualidade assumida de vez escreveu a monografia Parceria civil registrada entre pessoas do mesmo sexo. Com o trabalho, Sander conquistou uma imagem mais conhecida e positiva pelo lado da homossexualidade que até então era vista em travestis se prostituindo nas ruas ou de gays que morriam de AIDS. Assumir a sexualidade não foi uma coisa fácil. “Eu não queria, lutava contra, mas lutar contra a natureza é impossível”. Com isso, Sander Simaglio foi passando 30
pelo processo de auto-aceitação, o qual julga ser o mais difícil. Determinado, lutou por seu espaço e mostrou que não poderia ser diferente da sua essência. Com sua homossexualidade muito bem assumida, começou a luta pelo movimento gay. Positivo e persistente, não deixou que ninguém o atrapalhasse na busca do seu sonho. Em 2000, juntamente com um amigo, fundou o Movimento Gay de Alfenas, mais conhecido como MGA. A ideia de criar um movimento gay em Alfenas surgiu de uma viagem feita a Juiz de Fora, onde conheceu o movimento LGBT organizado naquela cidade. “Disse para mim mesmo: ‘Vou fazer o mesmo em Alfenas’. A maior dificuldade foi descoberta foi encontrar outros gays que topassem “dar a cara a tapa”, tanto é que na fundação da ONG a maioria era heterossexual simpatizante à causa. De gay tinha apenas Sander e um amigo de uma cidade vizinha. Sander se considera realizado. Pelo menos um dos seus sonhos foi concretizado — a criação de uma ONG, que defende os direitos humanos de homossexuais em toda região sul de Minas. “Sou 100% feliz graças ao trabalho voluntário que realizo na ONG com ‘pessoas de verdade’ que assumem o que são e sentem orgulho disso.” Com a fundação do MGA, o alfenense passou a organizar a parada gay da cida-
de, que este ano chegou à oitava edição, não se pode comparar com as de grandes capitais, mas é um evento e tanto. Mesmo carregando a imensa e prazerosa tarefa, tem orgulho de ser um “desbravador” do homossexualismo na cidade, estado e país. Já que também contribuiu de diversas formas para isso na Fundação Mineira de Homossexuais e na Associação Brasileira de Gay’s. Com estas ações Simaglio julga ter a possibilidade de “salvar vidas” de jovens gays, lésbicas, travestis que, naturalmente, tem conquistado seus espaços, deixado e mudado as tristes estatísticas de suicídios entre adolescentes LGBT’s para uma realidade de vida. Sander é inconformado com a incoerência existente em relação ao homossexualismo: “No mesmo país da maior parada gay do mundo, que é a de São Paulo, e que atrai mais de quatro milhões de pessoas, é o país que mata um homossexual a cada
48 horas pelo simples fato de ser o que é.” Infelizmente, existe muito preconceito e ele o encara: “Essa é a vida que tenho e prefiro viver na dor da verdade à da clandestinidade como boa parte de gays que casam com mulheres, possuem filhos e acabam destruindo suas vidas e de seus próximos.” Sendo um cara viajado, que já participou de diversos congressos e palestras pelo País, percebe que a aceitação do homossexual numa cidade grande e em uma cidade interiorana como Alfenas é muito diferente. “Os grandes centros não têm tempo para cuidar um da vida do outro. É cada um por si e Deus por todos. Em cidades do interior prevalecem a fofoca e a intriga. Alfenas se destaca positivamente nesse sentido, por ter o movimento homossexual organizado e este inserido na sociedade, o que quebra um pouco o preconceito”, diz. 31
Política —Entrar na política foi muito natural, que já estava envolvido de “corpo e alma” no movimento social. Sander conquistou um espaço ainda maior ao se candidatar e ser eleito vereador pelo PV. Pela primeira vez, o parlamento alfenense tem um vereador do PV. Sander era o mais jovem da legislatura 2009— 2012. Na posse como vereador, disputou o cargo de 1º secretário e foi eleito por unanimidade. Atualmente na Câmara é Presidente da Comissão de Direitos Humanos e das Frentes Parlamentares de Luta contra o HIV/AIDS, Tuberculose e Hepatites Virais e de Apoio à Defensoria Pública do Estado de Minas Gerais. É representante da Câmara como titular no Conselho de Defesa do Meio Ambiente, na Comissão Municipal de Geografia e
MGA
Na Câmara: Sander é o mais jovem, o primeiro vereador pelo PV da cidade e o primeiro homossexual a chegar ao parlamento alfenense.
O Movimento Gay de Alfenas foi criado no dia 8 de outubro de 2000. Atualmente, tem sede na Avenida São José, 185 no Centro de Alfenas. A entidade oferece s e r v i - ços como assessoria jurídica e psicossocial para população LGBT e PVHA (pessoas vivendo com HIV/AIDS). Palestras e trabalhos de prevenção às DST/AIDS em escolas, casas de prostituição, presídios, empresas, dentre outros e distribuição de preservativos e gel lubrificante nestes locais além de motéis, na sede da ONG e datas comemorativas como carnaval, Dia dos Namorados, Dia Internacional da Mulher, Parada Gay, Carnalfenas, entre outros. A instituição executa e já executou inúmeros projetos em parceria com governos estadual e federal. O movimento possui um site, o www.mga. org.br, que é sempre atualizado e oferece informações ao público sobre o movimento e suas ações.
Estatística do IBGE, no Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico de Alfenas e no Conselho Superior da Unifal. Em janeiro de 2011, foi empossado 2º Secretário da Mesa Diretora para o biênio 2011/2012. Mesmo tendo conquistado bastante espaço, o jovem vereador acha que ainda tem muita coisa a se fazer na política alfenense: “A política em Alfenas ainda é pobre, principalmente a do Legislativo. A produção é ínfima.” O seu jeito é um modo novo de fazer política e isso tem incomodado uns e acordado outros. “Faço o que gosto e este é o segredo das coisas darem certo. Não sei fazer pela metade. Assim foi me assumir gay, fundar o MGA, realizar a parada gay e, agora, a política. Falta engajamento por parte dos nossos políticos. Falta brio de pensarem mais no coletivo e menos no pessoal.” 32
“Sou 100% feliz graças ao trabalho voluntário que realizo na ONG com ‘pessoas de verdade’ que assumem o que são e sentem orgulho disso.”
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“É preciso amor, pra poder pulsar...” Em 2005, por meio de um grande amigo, André Novais conheceu o Movimento Gay de Alfenas. “Nunca tinha visto coisa igual. Uma casa, no centro da minha cidade, com uma bandeira gay imensa, onde havia outras pessoas com as quais eu me identificava!” Aquela casa nos primeiros minutos se tornou um grandioso castelo no imaginário de André. Castelo esse, que a partir daquele momento, seria um lugar onde ele poderia defender os seus direitos, fazer novas amizades e poderia até lhe oferecer um emprego num futuro bem próximo! O rapaz então começou a desbravar cada centímetro daquela grandiosidade, que na época se localizava de fronte à Escola Estadual Dr. Emílio da Silveira. “Havia uma cozinha onde todos podiam compartilhar momentos de muita alegria, uma sala com cadeiras e um telão onde todas as terças-feiras podíamos nos divertir com um filme novo, sempre com temática GLS. Na recepção ficava um computador com acesso livre à internet, uma minibiblioteca e uma sala de reuniões. Existia uma sala ao lado da biblioteca, com uma placa no alto do portal, escrito “presidente”, em letras garrafais”, lembra. Nos dois primeiros dias em que frequentou a ONG não entrou nessa sala e nem viu pessoalmente o “gay more” que habitava o local. “Era receio, medo e muita vergonha. Mas tudo isso veio abaixo no terceiro dia. Conheci então, o famoso Sander Simaglio.” Sander demonstrou ser uma pessoa tímida e engraçada ao mesmo tempo. Muito bravo quando preciso e generoso nas palavras sempre que necessário. André começou então a se envolver mais e mais nos trabalhos da ONG. Sempre admirando as ações de Sander, Marcelo e demais companheiros que faziam parte da diretoria da instituição a qual pegou certo carinho com o passar do tempo. Passado tempo, o MGA mudou-se para uma casa maior e André ajudou na mudança como se fosse a mudança da sua própria casa. “Ajudei com maior orgulho a carregar os móveis da instituição que hoje tenho tanto amor. Nos mudamos para a Avenida São José, onde estamos até hoje. É um sobrado lindo, muito iluminado, com uma palmeira imperial imensa na sua frente. Sander escolheu essa casa a dedo!”, revela André. No dia a dia, Sander e André sempre trocaram olhares. Saíam, viajavam, almoçavam juntos. Tudo que um casal pode fazer juntos, eles faziam, mas até então nunca havia acontecido nada. Até que um dia,
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“
Eu o entendo e ele me entende isso é essencial pra que um casal dê certo.”
André
Em Paraty: Viajar é um dos hobbies preferidos do casal.
num barzinho GLS, um pouco alterados com uma caipirinha, “bebida preferida do Sander”, eles se renderam e acabaram ficando. “Ficamos na semana seguinte e não passou disso. Depois de mais ou menos um ano, voltamos a trocar olhares. Rolou novamente e estamos juntos até os dias atuais”. Desde então eles estão três anos juntos. Ambas as famílias são envolvidas no namoro. Atualmente, eles moram juntos e são proprietários de uma loja de roupa. “Aprendi muito com o Sander. Aprendi a gostar de coisa bacana e não dar valor em coisas fúteis. Aprendi que é muito bom viajar. Aprendi também a prestigiar peças teatrais e musicais.” E mesmo com 13 anos de diferença a sintonia do casal é perfeita. “Eu o entendo e ele me entendo isso é essencial pra que um casal dê certo.” André conta que o casal tem a pretensão de oficializar a relação e adotar uma criança no futuro para construírem uma família juntos. *Foots: Aquivo pessoal
O cenário romântico selou a história de amor que já dura 5 anos
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CHEROKEE
Pega-Pega
Curiosidade, decepções amorosas e modismo são a causa da “pegação” entre as meninas
“Todo mundo espera alguma coisa De um sábado à noite Bem no fundo todo o mundo quer zoar Todo mundo sonha em ter Uma vida boa Sábado à noite tudo pode mudar...” WILLIAN ROEMER O trecho da música “Sábado à Noite”, interpretado pelo grupo Cidade Negra, resume bem uma noite de sábado de pura azaração na danceteria Capital Disco, no Complexo Mendes Convention Center em Santos. No imenso estacionamento, entre um carro e outro, é possível ver sem descriminação a “pegação” entre garotas e às vezes entre várias garotas ao mesmo tempo. Os carros parecem formar uma barreira, fazendo com que não haja vergonha entre as jovens que extravasam suas emoções numa bela noite de sábado. A estudante de publicidade Rafaela, conta que praticamente todos os finais de semana “rola” uma “pegação” entre as meninas no estacionamento. “Ah! Isso é normal aqui”, revela Rafa, como prefere ser chamada pelas amigas. A futura publicitária conta que em casa 36
ninguém sabe a sua preferência sexual, somente as amigas mais próximas e as que ela acaba se envolvendo. “Acredito que meus pais não me entenderiam se eu contasse, eles são conservadores, então prefiro curtir minha balada, fico com uma ou outra às vezes e tudo bem”, desabafa Rafaela que logo chama uma garota pra ficar perto dela enquanto conversa. Ela conta que não quer nada sério, que gosta de curtir os momentos e que sair para as baladas é um jeito de aliviar as tensões do dia a dia. Pergunto caso ela se apaixone como fará em casa para contar para seus familiares? De forma serena Rafa explica que não quer nada sério e que já “colocou” isso na cabeça, pensa primeiro em termina a faculdade, já que está no penúltimo ano, conseguir um bom trabalho e depois começar a pensar no assunto. Diferente dela é sua amiga que passou boa parte do tempo ao seu lado enquanto conversávamos. Sem querer dizer seu
nome a jovem morena de sorriso simpático disse que na sua casa seus pais sabem que ela é homossexual e toleram a sua escolha. “No começo foi difícil para eles entenderem, mas com o tempo eles viram que era o que eu queria. Então só restava eles aceitarem”, fala com o olhar ao longe a jovem de piercing na orelha e no umbigo. Sobre “tolerarem” ela diz que eles não gostam que ela fique falando sobre assuntos de relacionamentos gays ou que ela vá com alguma companheira em sua casa, enfatiza que somente aceitam a sua escolha. Rafaela intervém e diz para não entrar em assuntos “deprê”. A companheira de Rafa para aquela noite, diz que também não gosta ou pelo menos não quer um relacionamento sério no momento. Ela descontrai dizendo, “enquanto eu não acho a pessoa certa eu me divirto com as erradas”. Sobre um relacionamento mais íntimo, ambas dizem que para isso precisam conhecer a garota que vão compartilhar esse
momento, mas como disseram que não querem nada sério fico em dúvida nesse assunto. “Não queremos nada sério, mas para essa intimidade eu pelo menos tenho que me encontrar umas duas ou três vezes com a mesma garota, pode não ser nada sério, mas também não é nada banal pra ser qualquer uma” explica a jovem de cabeços presos e lábios avermelhados com batom. Quando ia agradecendo pela conversa Rafa aponta para o outro lado do estacionamento e diz: “Olha lá!”. Me mostrando outra casal de garotas no maior amasso. Tento me aproximar para conversar com esse outro casal e percebo que são mais tímidas que as últimas, explico a intenção da conversa e logo se retraem e dizem que não querem falar, insisto e dizem que é a primeira vez que fazem “aquilo”. Estavam se beijando. Tento descontrair perguntando se foi ruim e elas sorriem e dizem que não, mas logo se afastam e não prolongam a prosa.
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Fórum Pesquisa feita pela reportagem revela que a maioria das entrevistadas acredita que as garotas estão se relacionando com outras garotas por curiosidade, decepção amorosa ou para poder provar algo para alguém. É claro que o sentimento também foi citado pelas entrevistadas. Estudante 17
anos
a esse fato, algu“Há vários motivos pr ade, outras pra mas fazem por curiosid pazes pros amigos, ca o sã e qu em ar tr os m em dia virou meio e também porque hoje ual, mas a verdade que “moda” ser bissex ra safadeza. é que a maioria é por pu r principalmente na Vejo muito isso ocorre uito de meninas escola, pois acontece m do mundo só pra ficarem na frente de to escoladas” e não mostrarem que são “d o de ninguém, estão nem aí pra opiniã pulares e chamarem apenas para serem po te atitudes sem um a atenção, são totalmen consciência das pingo de sentimento ou consequências.” e liar d Auxi
Gerente administrativo, 29 anos
“Nunca me relacionei com mulheres e acredito que a família está desestruturada e a falta de ensino cristão está colaborando para essas atitudes. A juventude é levada pelo modismo da época.”
enfer
s
3 ano
m, 2 mage
s lhere u m e tr os en orosas.” t n e m m ciona silusões a a l e r ue os ta das de q o t i d on “Acre cem por c te acon Biomédica da aeronáutica
Estudante, 21
“Acredito que aconteça por curiosidade e hoje em dia é muito modismo. Na balada o álcool é um dos fatores que causam esse relacionamento.”
anos
.. ia as meninas g ta n o c o m is “O mod cam cho que elas fi a u e s e z e v s À os utras porque o s a m o c s a um de ver isso.” m ta s o g s n e hom
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Estudante de publicidade
“Tive experiências com homens, mas gosto de mulheres como opção sexual.”
Estudante de direito 22 anos
“A sociedade, a mídia, todos estão permitindo demais. Essa abertura que tem acontecido para homossexual tem levado esses relacionamentos para qualquer lugar, por isso se vê tanto nas ruas. E acredito que a maioria deles é por pura curiosidade”.
Estudante
de Jornalis “Mesmo m mo antendo r elacionam homens, s ento com into falta de ficar co mulher de m uma ve penso nam z em quando, mas não disorar home ns e sem f as mulher alar que es são ma is chatas.”
3 anos
2 rismo, u T e d te
o uma nas m o c s o Já s afetiv esmo sexo. o t n e endo” m c am e n o t o d n i c o s a c a oa el esses r s entre pess dos e acaba o j e V “ o u de tab encoraja a t a r b e l u q o álcoo s a d a l ba n
Estuda
“Prefiro me ninas por s er homosse com o cons Funcionária xual. Atualm entimento d pública ente namor a minha fam o o ília.” utra garota
Editora de programas radiofônicos
“As garotas se pegam por curiosidade e por decepção amorosa com homens. Já fiquei com garotas na balada, mas não gostei.”
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SE LIGA!
“Os Jovens Não viram a cara da AIDS” Em um bate papo com a revista Orgulho, Roseli Tardelli esclarece os mitos e verdades sobre a o vírus da AIDS CAIO MOURA Roseli Tardelli é criadora da Agência de Noticias AIDS, www.agenciaaids.com.br, site que publica as principais notícias sobre o assunto, além de divulgar palestras e eventos. Sentada numa mesa de um café na cidade de São Paulo, Roseli discutiu sobre o vírus HIV e disse que a AIDS ameaça todo mundo, independentemente da preferência sexual. Depois da conversa com Orgulho, ela foi conferir a peça “Depois daquela viagem”, baseada no livro de mesmo nome escrito por Valéria Piassa Polizzi. Roseli fez parte da produção da peça, que tem como tema principal a doença. Como surgiu a agência AIDS? Roseli Tardelli — Fui curadora do primeiro seminário sobre o vírus HIV do qual participaram ativistas, gestores, jornalistas e analistas para discutir sobre o vírus HIV. Então, no seminário, percebi que havia um hiato entre o que faz o ativista, o gestor e qual o papel da mídia. Então, conseguimos alguns apoios para fundar a Agência de Notícias da AIDS, que está no ar há sete anos.
vírus, mesmo que inconscientemente. Como eu disse, temos que parar com isso de mais mulher, mais homem ou mais homossexuais. O importante é se prevenir. Enquanto não tem cura para a AIDS é transar com camisinha.
Como você analisa Santos, quando era chamada de Capital da AIDS? As repostas para combater a AIDS no município de Santos foram muito boas, não só para a cidade, mas para o país inteiro. Teve muito gesO início do vírus HIV realmente foi com os ho- tor público em Santos que fez ótimos trabalhos mossexuais? em relação ao vírus HIV. A administração da Sim, realmente o vírus começou com os gays Telma de Souza, quando foi prefeita da cidade, nova-iorquinos, mas o vírus foi se estendendo foi muito boa também. ao longo dos anos e virou o que é hoje. Se cometeram muitos equívocos, como por exemplo, A incidência do vírus entre os jovens audizer que somente o grupo de risco era o dos mentou. Que fatos podem ter levado a esse homossexuais. aumento? Um dos principais fatores é que os jovens não Hoje os bissexuais são mais suscetíveis a pegar viram a cara da AIDS, não sabem como o vírus AIDS do que os homossexuais? cresceu. Além disso, falta campanha de prevenTemos que parar com essa mentalidade que bis- ção para que os adolescentes se conscientizem a sexuais ou homossexuais são grupos de risco. usar camisinha na hora da relação sexual. Hoje, ao se fazer sexo sem camisinha, seja gay, ou não, você corre o riso de pegar o vírus HIV. Quais os efeitos colaterais dos remédios e por que o grupo das mulheres sofre mais? Pode-se dizer que as mulheres pegam o vírus As mulheres têm os efeitos colaterais dentro mais fácil do que os homens? da patologia delas. Os homens também sofrem Não, todo mundo que está infectado, e tem a com os coquetéis, tudo mundo sofre com a carga viral alta, pode ser um disseminador do AIDS. 40
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CURTA CAIO MOURA Os 17 atores da peça “Depois daquela viagem” entram no palco e se espalham. Uma música dá um ar de mistério ao início do espetáculo. Os atores param e a música também. Assim começa a peça inspirada no livro e na vida de Valéria Piassa Polizzi. Ela é representada por três atrizes em diferentes fases da vida: criança, adolescente e adulta. A ideia de fazer com que três atrizes interpretem o mesmo personagem se deve ao fato de que Valéria, ao saber que estava com o vírus HIV, “sentiu a alma se fragmentar”. Ao longo da peça fica evidente a personalidade das diversas fases da escritora. Quando pequena, a criança que tinha o sonho de ser atriz, e que era bastante alegre. Era curiosa e algumas vezes muito teimosa. Ao descobrir que tinha o vírus, surge a adolescente, que reclama de tudo e que não sabe o que vai acontecer na sua vida quando descobre o HIV. Já como mulher, Valéria tem a insegurança de se as pessoas ao seu redor vão reagir ao descobrir que tem AIDS. A peça não segue um rumo linear, sempre volta à infância da autora e de outras fases de sua vida. A obra é adaptação do livro, “Depois daquela viagem”, escrito por Valéria. É dirigida por Abigaill Aimer, que também é responsável pela direção musical. Todas as ações da peça são dinâmicas e usam elementos hospitalares como macas, instrumentos médicos e cadeiras de rodas, já que boa parte da peça trata sobre o vírus HIV. Conforme vai avançado, os elementos do cenário vão se transformado a cada cena, fazendo com que a peça ganhe uma dinâmica maior. Apesar de haver três cenas com músicas, elas ficam a desejar já que nem todos os atores estão em cena e as cenas são muito rápidas, não tendo um impacto muito grande no espetáculo. Já no final existe uma cena em que as três atrizes que interpretam Valéria, estão no palco. Ela se passa no CAIO MOURA hospital onde, todas as atrizes completam uma fala da outra, exigindo com que haja uma sincronia muito boa entre as atrizes. A mensagem que a peça deixa é a importância do sexo com prazer e responsabilidade, com o uso da camisinha. Autora e Produtora: Elas transformaram o sucesso do livro e peça.
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Quatro dias de cor O Festival SanSex promete trazer para Santos o universo gay
MARIANA SERRA Pregar o fim do preconceito é uma meta ambiciosa e impossível de ser efetivada, mas o primeiro passo sempre abre portas para novas empreitadas. Enquanto se debate sobre o universo LGBTT mundo afora, a Baixada Santista entrará para o calendário gay e terá pela primeira vez um evento totalmente colorido. De 1° a 4 de dezembro, o Sansex — Festival de Cinema e Cultura da Diversidade de Santos promete mostrar ao público o que ocorre nesse segmento. A ideia surgiu a partir da Mostra Especial Curta Cris, uma categoria dentro do Curta Santos, e que este chegou à terceira edição com curtas de temática gay. “O público e a organização do evento tinham vontade de falar mais sobre a diversidade sexual. Só homenagear alguém e passar alguns filmes era
muito pouco perto da dimensão do assunto que estávamos abordando. A ideia era aumentar essa mostrar e tirá-la do Curta Santos, fazendo algo paralelo”, explica o organizador do SanSex, Ricardo Vasconcellos. Mas nem só de bafo vive o festival. O SanSex promete unir a alegria a assuntos polêmicos, com debates sobre o casamento gay, adoção e família. Voltado principalmente para o público LGBT acima de 18 anos, a organização espera ter uma mistura de momentos de reflexão e de muita diversão. “Existe seriedade na realização de um evento assim, de colocar a diversidade como protagonista. Há várias formas de abordar o tema. Vamos misturar todas para que o público conheça esse universo”, diz Vasconcellos.
Programa
A agenda completa do festival ainda não foi definida, mas o público já pode conferir algumas atrações do SanSex. A abertura será em 1° de dezembro, no Teatro Guarany. A cerimônia contará com a presença de um mestre de cerimônia que chame a atenção do público, além de personalidades do gênero e a exibição de dois filmes. Para completar a noite, os participantes poderão se deliciar em um lounge e em seguida, fechar o dia em uma casa noturna. Nos dias 2, 3 e 4, haverá programação recheada de atividades. Paralelamente a uma exposição, os interessados poderão participar de uma oficina audiovisual na Unimonte, que irá produzir um curta-metragem com a temática gay. Uma mesa-redonda, ainda sem dia definido, tratará sobre o tema “Cidades sem homofobia”, reforçando a importância de conscientizar a população sobre o universo gay. No encerramento, o participante poderá conferir o curta-metragem realizado durante três dias na oficina e o filme Elvis & Madona, elogiado nacional e internacionalmente, mas que ainda não foi exibido na Baixada Santista. “Esperamos contribuir para que o público
ARQUIVO PESSOAL
Organizador do Sansex, Ricardo Vasconcellos, promete unir a alegria a assuntos polêmicos
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possa dialogar melhor sobre essa temática. Vamos ver o que a sociedade vai falar após o festival. No entanto, não acho que depois do SanSex tudo vai mudar em relação à mentalidade das pessoas, mas mostraremos expressões culturais sobre a diversidade sexual”, diz Ricardo Vasconcellos. Para descontrair, todas as noites prometem baladas voltadas ao público gay.
1° de dezembro
A escolha da data de abertura do SanSex não foi aleatória. Estabelecido em 1988 pela Organização das Nações Unidas, o dia 1° de dezembro é o Dia Mundial de Prevenção contra a AIDS. No passado, os homossexuais eram considerados os principais transmissores da doença e, para mudar essa visão, Vasconcellos escolheu a data para dar o pontapé inicial no evento. “Hoje podemos verificar que os integrantes do LGBT estão se cuidando mais e a nossa ideia é mostrar como esse grupo está alerto para as questões de saúde”, conta. Confira as atrações já confimadas do evento na Agenda Cultural, p. 46.
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Elvis & Madona
Elogiado pela crítica, o longa-metragem “Elvis & Madona” não pôde ser apreciado nas telas dos cinemas santistas. Para trazer essa história de amor ao público da cidade, o filme de Marcelo Laffitte fechará com chave de ouro o SanSex. “Elvis &Madona” conta a história de Madona (Igor Cotrim), uma travesti que ganha a vida como cabeleireira no Salão Divas, em Copacabana. Após anos tentando realizar um show em homenagem ao Teatro Rebolado, o amante e marginal João Tripé (Sérgio Bezerra) rouba todo o dinheiro destinado para o evento. Enquanto procura uma solução para a perda do investimento, Madona conhece Elvis (Simone Spoladore), entregadora de pizza e fotógrafa. Elvis e Madona se apaixonam e vivem uma história de amor pelo bairro mais cosmopolita do Rio de Janeiro, enfrentando todas as dificuldades da família tradicional da funcionária do Muzarella & Cia. (M.S.) 45
NA PISTA
Arma Secre
Vandeco é a chave do sucesso das baladas GLBT da Baixada Santis Isabella Paschoal The Club, a maior casa noturna LGBT da América Latina, foi inaugurada em 1996, em Campinas. Em setembro de 2004, a balada chegou à Baixada Santista, mais exatamente em São Vicente, na Ilha Porchat, no Itararé. Fundada em Santos, a Tribal Club foi inaugurada em 2009. Com capacidade para mil pessoas, a casa vem conquistando os santistas, homo e heterossexuais, com a intenção de trazer concorrência para a tradicional The Club. A casa fica na Rua Júlio de Mesquita, 165, Centro. Por ter sido a única durante bastante tempo, a The Club Litoral sempre esteve com a casa cheia todos os fins de semana. Depois que inaugurou a Tribal, a pioneira das noites LGBT acabou por perder seus clientes. Mas,
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É pelo gerente que o público gosta ou deixa de gostar da casa. Ele é a ‘cara’ do ambiente, como se fosse o convite. Se ele fizer um bom trabalho, as pessoas vão reconhecer e vão querer freqüenta-la”.
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de umas semanas para cá o sucesso da The Club Litoral ressurge como um passe de mágica. Casa lotada, pista fervendo. Ninguém poderia imaginar, mas essa mágica tem nome e sobrenome. Vanderlei de Mattos, o Vandeco. Ele começou sua carreira na área do entretenimento há mais de 24 anos, frequentando e divulgando algumas festas e eventos pequenos, mostrando a todos que a noite LGBT é uma noite séria, que pode agradar também a heterossexuais. Com 44 anos de idade, a resposta que ele dá de imediato quando questionado sobre a opção sexual é: “Sou gay desde que nasci e nunca tive problemas com a minha família”. Seu primeiro emprego como gerente foi na Tribal Club. “Eu me consagrei na noite LGBT santista com muito trabalho, reconhecimento do público e com as oportunidades que tive na Tribal, como aprender a lidar com os clientes e conhecê-los”, conta. O gerente de uma casa noturna tem como função cuidar da imagem da casa, escolher a programação, decoração, no caso de festas temáticas, realizar promoções e divulgá-la: “É pelo gerente que o público gosta ou deixa de gostar da casa. Ele é a ‘cara’ do ambiente, como se fosse o convite. Se ele fizer um bom trabalho, as pessoas vão reconhecer e vão querer frequentá-la”, explica. Para exemplificar ainda mais, ele conta que a relação gerente — casa funciona como um casal de namorados: Quando ambos não se entendem mais, é necessário terminar o relacionamento e cada um seguir com a sua vida. Vanderlei acha que ter mudado para a concorrente não foi antiético, pois não prejudicou a imagem da antiga casa: “Saí da Tribal porque tive uma oportunidade melhor. Eu queria novos desafios, eu vivo disso”. Ele aceitou o desafio da The Club Litoral e hoje, como relações públicas, tem a missão de resgatar a confiança do público e fazer o suces-
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ISABELLA BASCHOAL
sta so da balada. Para ajudá-lo, ele conta com toda a estrutura e a experiência de 25 anos na área LGBT do proprietário: “Tenho muito mais oportunidade de crescer e aprender aqui”. Quando questionado sobre os motivos pelos quais aceitou o convite, revela com os olhos brilhando que sempre sonhou o dia em que conseguiria subir a Ilha Porchat para trabalhar na The Club Litoral. Também escolheu a casa pela carta-branca que teve para criar novos projetos e programações, acreditando que esses serão os grandes trunfos que trarão a volta do público. Vandeco acha que a The Club Litoral, mesmo com toda sua tradição, sofre com a falta de divulgação. “Todos conhecem o nome, mas nunca ouviram falar das festas”, conta. Após sua chegada, a casa tem lotado nos fins de semana. Um dos meios que ele encontrou para realizar a divulgação foi através das redes sociais, mas ainda acha que os flyers, são indispensáveis. “É como um casamento. A divulgação impressa é a mulher e as redes sociais o homem, pois atualmente tem maior impacto e retorno imediato dos clientes”. A opinião de Vanderlei sobre os gays é de um público que gasta e consome muito e aposta na diversão de qualidade. “É uma classe extremamente culta, como a maioria
das pessoas não imaginam. São muito exigentes, mais que os heterossexuais”. Como tem experiência nas noites paulistanas, ele afirma que os santistas são bem mais receptivos, mais soltos e se manifestam mais. “Acredito que seja por causa da praia”, diz. Ele alega que os gays de São Paulo são mais elitizados e estão ligados às casas da moda: “As que no momento estão bombando e nem sempre são as de melhor qualidade e melhor programação.” Vanderlei revela que não deixaria a The Club e que seu maior desafio é se sentir realizado onde está. Como ele se sente “perdido” quando não tem a liberdade de criar, afirma que esse seria o único motivo que deixaria a casa. “Mas se as coisas continuarem a fluir desse jeito, não nego que poderei alçar vôos mais altos”, conta.
DIVULGAÇÃO THE CLUB
DIVULGAÇÃO TRIBAL
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SO AL PE S VO
Ana Lu iza Ghn ó, “A The Club te 22 anos, profes m uma ambien propost sora te exter a mai no pessoal que fren e uma estrutur s ‘balada’, com a melho qu Já no qu r. Mas o esito fre enta é mais ve lho ou v qüência público , a Triba ulgar d m emais. lé um galp ais jovem. Em compen melhor, é um ão trans sação, p formad erde po o em ba r ser lada”.
AR QU I
ARQUIVO PESSOAL
Kauê Curti, 19 anos, es tudante e estagiário de Direito “O espaço físico da Th e Club e a ideia das va ns para subir a ilha é ótimo. A música não me agrada muito, é meio repetitiva. Já a Tribal acho o contrário, pois o espaço é pequeno e a casa quando lota fica extremamente quente. A música já é um pouco melhor e a fre quência e o nível das pe ssoas também. Em relação aos ba res, os preços são basta nte parecidos e ambas as casas apresent am um cardápio não-diversificado”.
ARQUIVO PESSOAL
ssor , que anos, profe 0 2 , s e e do espaço lv b A lu o C d e n a Th m da a Ar ão me agra a música d n d o o c it li u b ú m p as o som “Gosto er bonito, m o. A Tribal tem um p u s e e d n a lh A é gr ais jovem. oal mais ve s s m e é p ta m n u e ü é ue e freq muito, maioria qu bem pequena e tem q a , o d a s e p mais mar é im”. vada para fu que nesse ponto é ru r e s e r te r a p ,o fila gigante pegar uma
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AGENDA NA REDE
O clipe do novo single doThe Kills, "Baby Says", que estreou no dia 03/11, faz o retrato de um dia na vida de uma travesti, desde quando ela começa a se montar até a boate. Com direito a champagne e bate cabelo e participação da dupla Hince e Mshart, que também entraram no cilma da hsitória e invertem o papel de gênero na dupla. O single faz parte do último disco de estúdio gravado por Alisson Moshart (vocal e guitarra) e Jame Hince (vocal, guitarra e sintentizadores). Vale a pena conferir!
Antes de sair de licença maternidade a diva Wanessa lançou seu novo CD, que já está bombando em todo Brasil e no exterior. “DNA” é o sétimo álbum da carreira da cantora. O CD segue a linha pop, eletrônica misturam com elementos de R&B. As músicas do novo CD foram cuidadosamente escolhidas através de pesquisas, tendência e do próprio gosto da cantora. Destaques para "Falling Fou U" e "Worth It", cujo o clipe concorre ao prêmio Multishow. Outro sucesso é a música "Stuck on Repeat", elogiada pelo New York Post como "a música dance mais poderosa dos últimos tempos", atingindo os primeiros lugares na Europa. A turnê, que estava fazendo muito sucesso pelo Brasil, voltará depois que Wanessa der a luz a José Marcos, seu primeiro filho.
HITS
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NAS TELENOAS Footloose Estreia 25/11 o remake do sucesso dos anos 1980, Footloose. Pelo trailer já vemos que será um filme cheio de músicas e coreografias. Esse é o ponto alto do filme. A coreografia, misturando diferentes estilos de dança não importa se ou break dance é o estilo de Michael Jackson. Na coreografia, destaques e solos incríveis. Kenny Wormald e Julianne Hough são os protagonistas do filme. Ambos são bailarinos profissionais, como o diretor, Craig Brewer, que também é roteirista do filme, queria. Para muitos críticos o filme deixou a desejar na questão enredo. No entanto, há um ator, Miles Teller, conhecido pela interpretação do seu personagem. Teller dá vida a Willard, o melhor amigo de Ren, e mostra seu ótimo desempenho em "Rabbit Hole" não foi por acaso. Digno de nota é a música que acompanha a coreografia é muito bem escolhido e é um deleite para os espectadores que a presenciam. Para quem gosta de musicais e danças vale a pena conferir.
SanSex
- Festival de Cinema e Cultura da Diversidade de Santos 1º de dezembro, abertura dno Teatro Guarany: Apresentação de dois curtas Dias 2 e 3 /12 Exposição de CurtasMetragens no Shoppin Pátio Iporanga Oficina Audiosivual na Unimonte Peças de Teatro; Mesa-Redonda sobre ‘Cidade sem Homofobia’; Festa na Tribal Encerramento 4/12 Exibição Do Curta-Metragem Feito na Oficina Exibição do filme Elvis & Madona 51
CRÔNICA
Selinhos e beijos l BRUNA CORRALO Já é normal ligar a TV e encontrar casais homossexuais nas novelas. Desde a década de 1980, o homossexualismo vem ganhando destaque na mídia. Porém, este ano o SBT quebrou um tabu: exibiu um beijo gay! A cena, protagonizada pelas atrizes Luciana Vendramini e Gisele Tigre, foi ao ar no último bloco do capítulo exibido em 12 de maio, na novela “Amor & Revolução”, que se passa na ditadura militar. Não foi um selinho, foi um beijo longo, com direito a trilha sonora e tudo mais. Muitos consideraram este o primeiro beijo gay da TV brasileiDIVULGAÇÃO ra, mas o que poucos sabem é que em 1963 as atrizes Geórgia Gomide e Vida Alves — a mesma que deu o primeiro beijo da TV — protagonizaram uma cena semelhante. Isso foi na extinta TV Tupi em uma cena do teleteatro “Calúnia”. Mas não há registros da cena. Na novela “América”, a censura ao beijo gay no último capítulo foi criticado e provocou revolta. A verdade é que com essa exibição mais um tabu foi quebrado, mas ainda é cedo para esperar que todas as novelas passem a exibir beijos homossexuais como exibem os heterossexuais. Esse não é o único tabu a ser superado. Analisando a forma como os gays são representados nas novelas temos personagens caricatos, que geralmente pendem para o lado do humor, e assim conquistam a simpatia do público. Mas, quando o assunto é tratado de uma forma mais séria, falando de casamento e amor entre pessoas do mesmo sexo, as coisas mudam. São poucos os casais que têm aceitação total do público e muitos os vetados. Um exemplo disso foi a morte das personagens Leila e Rafaela, vividas por 52
Christiane Torloni e Silvia Pfeiff, da novela “Torrer de Babel”, exibida em 1998. O casal morreu na explosão de um shopping. O motivo da eliminação das personagens lésbicas foi a rejeição do público ao tema, abordado em horário nobre pela primeira vez. Cinco anos depois, outro casal lésbico voltou a ocupar espaço no horário nobre. O casal de estudantes Clara e Rafaela, vivido por Aline Morais e Paula Picarelli, na novela “Mulheres Apaixonadas”. Ao contrário do que ocorreu em “Torre de Babel”, o casal foi aceito pelo público e teve um final feliz. A aceitação aconteceu porque o casal, que era um dos mais apaixonados da novela, foi se descobrindo aos poucos. O autor conquistou a simpatia do publico tratando o assunto com normalidade e delicadeza. A verdade é que ainda hoje o homossexual é, na maioria das vezes, retratado com o estereótipo fácil, previsível, figura de um afeminado cômico e alienado da realidade masculina. Porém cada vez mais vemos que personagens bem- sucedidos, de bem com a vida e bem resolvidos com sua opção sexual. Geralmente nas novelas das 19 horas encontra-se o maior número de personagens humorísticos, talvez pelo gênero das novelas exibidas no horário. Contrariando isso, ano passado, a autora Maria Adelaide Amaral inovou no remake da novela “Tititi”, ela ousou na demonstração de afeto e de troca de carinho. Mas o casal Osmar e Julinho durou apenas três capítulos. Até então, os casais gays das novelas eram descobertos aos poucos, como forma de preparar o público. A escritora construiu uma nova maneira de retratar um casal homossexual, o que foi um avanço. Outra inovação aconteceu na novela “Insensato Coração”, que apresentava um núcleo gay. A novela foi a recordista em personagens homossexuais — com seis personagens ao todo — e contou até com um “point” gay. Era o quiosque de Sueli
longos (Louise Cardoso), na Praia de Copacabana. Em contraponto ao time colorido, os autores Gilberto Braga e Ricardo Linhares também trataram da homofobia, com cenas fortes de espancamento e até morte. Mas como em toda novela o final foi feliz. O badboy homofóbico Vinicius Amaral (Thiago Martins) acabou atrás das grades e os personagens Eduardo (Rodrigo Andrade) e Hugo (Marcos Damigo) casaram. A cerimônia foi exibida no último capitulo da novela. A cena foi inspirada na aprovação do Supremo Tribunal Federal que, no dia 5 de maio deste ano, reconheceu a união estável entre homossexuais. A homofobia também já foi tema da novela teen “Malhação”. No seriado houve cinco casos de homossexualidade, todos tratados com propriedade. Alguns focavam a homofobia como na temporada exibida no ano 2000, na qual o personagem Sócrates (Erik Marmo) passou pela trama em 15 capítulos, e chamou grande atenção do público. Outros falaram da descoberta e da auto-aceitação, como aconteceu em 2010 com o personagem Alê (William Barbier), que demonstrou a dúvida sobre sua sexualidade, manifestou que estava gostando de um colega da escola e ainda conheceu outro gay recém chegado no colégio.
Nesse caminho do descobrimento, a novela “Fina Estampa”, de Aguinaldo Silva, promete causar polêmica. Especula-se que a personagem Esther (Julia Lemmertz), após entrar em crise no seu casamento, até então bem-sucedido com Paulo, se envolverá com a médica Danielle Fraser (Renata Sorrah). Não para por ai, a polêmica será maior porque enquanto Danielle luta pela guarda do sobrinho órfão, Esther ficará grávida. O que nos resta é esperar para ver como o autor vai levar esta história e se o público irá aceitá-la. Quem sabe desta vez temos um casal homossexual feminino emplacando em uma novela, com direito a adoção, um dos assuntos mais comentados do momento. DIVULGAÇÃO
DIVULGAÇÃO
Com a aprovação do público Clara e Rafela tiveram um final feliz
Renata Sorrat e Júlia Lemerts prometem causa polêmica em Fina Estampa
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ARRAEI
Diversão sem preconceito A opção sexual fica em segundo plano quando o assunto é diversão. As baladas gays atraem a atenção do mais diverso público, seja você hétero ou homossexual POR BRUNA CORRALO
REUTERS
Na Argentina O clima de festa dominou Buenos Aires no dia 05/11. Cerca de 150 mil pessoas foram a 20ª edição da Marcha do Orgulho LGBT festejar a lei do matrimônio entre pessoas do mesmo sexo e reivindicar por igualdade de direitos. DIVULGAÇÃO THE CLUB
Participantes festejam lei do matrimônio entre pessoas do
mesmo sexo
MELHOR DE SÃO VICENTE
A 7ª Parada do Orgulho LGBT, na Baixada Santista, reuniu mais de quatro mil pessoas em São Vicente.Com o tema “Edição Primavera”, o evento teve sua concentração na Avenida Marechal Deodoro.
Monstros e performances agitaram a festa de Halloween da The Club Litoral, que rolou no dia 29/10. 54
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