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Informe Fecomércio-PE | SET/OUT 2012
PRAÇA DO DERBY Os jardins da Praça do Derby sofreram intervenção do paisagista Burle Marx em 1936. O objetivo foi criar um jardim moderno que valorizasse as plantas nativas, resultando numa paisagem diferente do estilo europeu, em que predominavam a^bPb T p^aTb _^a \ ^dcaPb ae^aTb Tg)cXRPb U^aP\ bT]S^ acrescentadas com o tempo.
Praças do Recife
reúnem obras de arte de Burle Marx Por Marina Andrade
C
om cada vez mais frequência, os espaços urbanos têm sido foco de debate na sociedade. Quase que diariamente temas como mobilidade e sustentabilidade são abordados pela mídia, pautando conversas e despertando o interesse das pessoas em discutir os rumos que as cidades onde vivem estão tomando, além de gerar reflexões, muitas vezes a partir de um olhar afetivo, para o lugar que deixaremos para as próximas gerações. Praças e parques são alguns dos principais espaços públicos desfrutados pela população, funcionando como importantes locais de convívio social. Por isso, merecem a atenção do poder público para aspectos como conservação e valorização de seus ambientes como endereços turísticos.
No Recife, lugares como a Praça de Casa Forte, a Praça Euclides da Cunha, a Praça do Derby e a Praça da República têm em comum algo mais que esse papel fundamental no tecido urbanístico da cidade. Seus jardins foram todos projetados pelo paisagista paulista Burle Marx, considerado um artista, que idealizou nos seus trabalhos e em sua estética uma função social, educacional e ambiental. Por ele ter morado a maior parte da vida no Rio de Janeiro, é lá que estão localizados seus principais trabalhos, embora sua obra possa ser encontrada ao redor do mundo. “Burle Marx veio ao Recife a convite do então governador de Pernambuco, Carlos de Lima Cavalcanti, para assumir o cargo de diretor do setor de parques e jardins da Diretoria de Arquitetura e Construção da época, em 1935. No momento em que ele chegou,
os jardins estavam abandonados pelo poder público. Diante de tal situação, reivindicações por melhorias nesses espaços públicos tornaram-se constantes”, explica o pesquisador Joelmir Marques, do Laboratório da Paisagem da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Coordenado pela professora Ana Rita Sá Carneiro, o laboratório pesquisa temas como jardins históricos (principalmente os de Burle Marx), paisagem urbana e patrimônio, espaço público e águas urbanas. De acordo com Joelmir, uma das grandes preocupações de Burle Marx ao projetar os jardins no Recife era dar à população um amplo serviço de ajardinamento público, onde houvesse ar puro e relativa liberdade para passeios e repouso nas tardes quentes. Isso porque, naquela época, o Recife era uma cidade pobre e a maior Informe Fecomércio-PE |SET/OUT 2012 |
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PRAÇA DE CASA FORTE Burle Marx propĂ´s um jardim dividido em trĂŞs partes. A primeira, que margeia a 2eT]XSP 5TiTbbTcT ST 2V^bc^Â… STSXRPSP b _[P]cPb ST P\_[P SXbcaXQdXq ^ oc^VT^Va oRP S^ 3aPbX[† P bTVd]SP _PacT —RT]caP[˜ STSXRPSP TgR[dbXeP\T]cT eTVTcPq ^ SP aTVX ^ P\Pi+]XRP† T P cTaRTXaP _PacTÂ… `dT oRP T\ UaT]cT XVaTYPÂ… STbcX]PSP eTVTcPq ^ ST outros continentes. O objetivo do paisagista TaP _a^_^aRX^]Pa _^_d[Pq ^ \TX^b _PaP `dT bT _dSTbbT SXbcX]VdXa P p^aP ]PcXeP SP Tg)cXRP e com isso despertar o amor pela natureza, R^]UTaX]S^ _aPqP d\P Ud]q ^ TSdRPcXePÂ
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parte de sua população morava em casas estreitas, sem ar nem luz, por exemplo.
largos e parques do Recife um carĂĄter autĂłctone, integrando-os Ă paisagem local.
Com o objetivo de moldar um novo aspecto urbanĂstico no Recife, Burle Marx elaborou um plano de aformoseamento que contemplou 13 jardins pĂşblicos, de 1935 a 1937, sendo esses os primeiros trabalhos de sua carreira. Posteriormente, na gestĂŁo do prefeito PelĂłpidas Silveira, projetou mais dois jardins pĂşblicos: um em 1957, na Praça Ministro Salgado Filho, tambĂŠm chamada de Praça do Aeroporto, e outro em 1958, na Praça Faria Neves, conhecida como Praça de Dois IrmĂŁos, por estar prĂłxima ao Horto de Dois IrmĂŁos. Com o projeto de ajardinamento, Burle Marx dĂĄ Ă fisionomia das praças,
Descaso Ao todo, Burle Marx deixou sua marca em 25 jardins pĂşblicos e 30 privados no Recife. Diante da importância desse legado, o pesquisador Joelmir Marques alerta para o processo de descaracterização por que passa a maioria das criaçþes do paisagista, devido Ă ausĂŞncia de conservação e Ă falta de conhecimento, pelo poder pĂşblico, dos projetos originais criados pelo paisagista. “Hoje os jardins pĂşblicos mais representativos sĂŁo os seis que estĂŁo em processo de tombamento pelo Instituto do PatrimĂ´nio HistĂłrico e ArtĂstico Nacional (Iphan), apĂłs
PRAÇA EUCLIDES DA CUNHA Burle Marx emprega uma particularidade R[X\ cXRP T Q^c ]XRP Pc T]c ^ c^cP[\T]cT ignorada – a vegetação da caatinga, que Pbbd\XP ]P _^RP d\P _^bXq ^ P\Q$VdP _^a bTa ]PcXeP T Tg)cXRP P^ \Tb\^ cT\_^ 6bcT d\ YPaSX\ cT\ cXR^ _^Xb aT.]T ^ R^]cT.S^ S^ [Xea^ @b DTac,Tb ST 6dR[XSTb SP 4d]WP R^\ ^ R^]WTRX\T]c^ SP TR^[^VXP S^ _PXbPVXbcP
solicitação do Laboratório da Paisagem da UFPE, em 2008, na categoria de patrimônio nacional. São eles: Praça de Casa Forte; Praça da República e jardim do Palácio do Campo das Princesas; Praça Ministro Salgado Filho; Praça Euclides da Cunha; Praça do Derby; e Praça Faria Neves”, informa Joelmir. Ele também destaca que os jardins desses três últimos locais foram restaurados pela Prefeitura da Cidade do Recife em parceria
“Burle Marx foi um artista e seus jardins são verdadeiras obras de arte, pois foram desenvolvidos a partir de uma filosofia diferenciada de trabalho” Ana Rita Sá
com a equipe de pesquisadores do laboratório. No ano passado, também foi elaborado o projeto de restauro do jardim do Palácio do Campo das Princesas, o qual ainda não foi executado. Para a pesquisadora Ana Rita Sá, à frente do Laboratório da Paisagem da UFPE desde sua criação, em 1998, a construção desses jardins marca um momento artístico e cultural muito importante no Recife, vivido na década de 1930. “Burle Marx foi um artista e seus
jardins são verdadeiras obras de arte, pois foram desenvolvidos a partir de uma filosofia diferenciada de trabalho. Precisamos resgatar essa história e investir em um planejamento maior de divulgação para a população, a partir de um circuito turístico por esses locais, por exemplo”, diz Ana Rita. O trabalho desenvolvido pela equipe coordenada pela estudiosa resultou na publicação, em 2000, do livro “Espaços Livres no Recife”, uma pesquisa sobre as praças mais representativas da cidade, da qual não poderiam ficar de fora os jardins de Burle Marx. Foi a partir do ano seguinte que o laboratório passou a trabalhar em conjunto com a Prefeitura do Recife em busca da restauração desses endereços, assim como de uma melhor manutenção e recomposição das vegetações originais. Em 2009 esses esforços também foram reunidos em cartilhas educativas, que foram distribuídas para alunos do ensino fundamental de escolas públicas e privadas. Informe Fecomércio-PE |SET/OUT 2012 |
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