CURSO FORMAÇÃO DE
mediadores de leitura MEDIAÇÃO DA LEITURA E
Formação do leitor
Lidia Eugenia Cavalcante
FASCÍCULO
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Copyright © 2018 by Fundação Demócrito Rocha FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA (FDR) João Dummar Neto Presidente
APRESENTAÇÃO
André Avelino de Azevedo Diretor Administrativo-Financeiro
Ler é ir ao encontro de algo que está para ser e ninguém sabe ainda o que será. Ítalo Calvino
Raymundo Netto Gestor de Projetos Emanuela Fernandes Analista de Projetos Tainá Aquino Estagiária UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE Viviane Pereira Gerente Pedagógica Luciola Vitorino Analista Pedagógica CURSO FORMAÇÃO DE MEDIADORES DE LEITURA Raymundo Netto Coordenação Geral e Editorial Lidia Eugenia Cavalcante Coordenação de Conteúdo Emanuela Fernandes Assistência Editorial Amaurício Cortez Edição de Design e Projeto Gráfico Marisa Marques de Melo Diagramação Rafael Limaverde Ilustração Este fascículo é parte integrante do Programa Fortaleza Criativa, em decorrência do Termo de Fomento celebrado entre a Fundação Demócrito Rocha e a Secretaria Municipal da Cultura de Fortaleza, sob o nº 05/2018. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) de acordo com ISBD C977
Curso Formação de Mediadores de Leitura / vários autores; organizado por Raymundo Netto, Lidia Eugenia Cavalcante Lima; ilustrado por Rafael Limaverde. - Fortaleza, CE : Fundação Demócrito Rocha, 2018. 192 p. : il.; 25cm x 29,5cm. ISBN: 978-85-7529-893-0 (Coleção) ISBN: 978-85-7529-894-7 (Fascículo 1) 1. Mediação de Leitura. 2. Leitura. 3. Curso. I. Netto, Raimundo. II. Lima, Lidia Eugenia Cavalcante. III. Limaverde, Rafael. IV. Título.
2018-1825
CDD 372.41 CDU 372.41
Índice para catálogo sistemático: 1. Mediação de Leitura 372.41 2. Mediação de Leitura 372.41
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ava.fdr.org.br
Todos os direitos desta edição reservados à:
Elaborado por Vagner Rodolfo da Silva - CRB-8/9410
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O conteúdo deste fascículo é introdutório ao curso Formação de mediadores de leitura e transita entre os conceitos de mediação da leitura e às práticas advindas desses que levam à formação do leitor. A leitura está presente em nossas vidas, no cotidiano, desde as situações mais habituais, como tomar um ônibus observando o seu itinerário, preparar uma receita de bolo de chocolate ou mesmo lendo uma bula de remédio, às mais complexas, a exemplo das pesquisas científicas e terminológicas, leituras filosóficas etc. Podemos afirmar que a vida é mediada pela palavra, seja ela dita, vivida, narrada, contada, lida, cantada ou escrita. Vivemos a observar aquilo que está em nosso entorno, com o que interagimos, interrogamos, concordando ou discordando, a partir das condições de inserção no mundo social e cultural do qual fazemos parte.
As possibilidades de leitura são amplas. Fazemos leituras de jornais, romances, poesias, músicas, revistas em quadrinhos, mensagens em redes sociais, lemos fotografias, imagens em movimento, obras de arte, esculturas, partituras, leituras técnicas ou escolares... Lemos por distração e lazer, para adquirir conhecimento, obter informação, para tomada de decisão. Fazemos leituras despretensiosas ou mesmo com objetivos definidos. A leitura, portanto, é um ato de simbolização e representação do mundo. O objetivo do nosso curso é, portanto, pensar a leitura em suas diferentes vertentes como práticas sociais de inserção no mundo por meio da mediação para a formação de leitores. Formar leitores críticos que compreendam o papel da leitura no dia a dia representa um desafio para educadores, bibliotecários, agentes de leitura, pais, mães e uma gama de profissionais e pessoas que chamam para si essa importante ação. Assim, começamos por lançar um questionamento: De que depende o incentivo à leitura? O que podem fazer os mediadores de leitura para contribuir na formação de leitores críticos? No decorrer deste módulo, pedimos que você reflita sobre essas questões. Esperamos, ao longo desse nosso diálogo, acender uma fagulha nessa discussão coletiva, de modo a envolver mediadores e mediadoras desse trabalho instigante que é contribuir na formação de leitores e, consequentemente, na construção de um mundo melhor. E você, leitor(a), pode também fazer parte disso. Inscreva-se já!
Fundação Demócrito Rocha Av. Aguanambi, 282/A - Joaquim Távora Cep 60.055-402 - Fortaleza-Ceará Tel.: (85) 3255.6037 - 3255.6148 - Fax (85) 3255.6271 fdr.org.br fundacao@fdr.org.br
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PUXANDO PROSA
1.
MEDIAR A LEITURA: EXERCÍCIO DE SI E DO OUTRO
Começamos aqui por relembrar a primeira questão apresentada anteriormente: De que depende o incentivo à leitura? Ao aprofundarmos essa reflexão, cabe-nos refletir sobre as condições que levam uma pessoa a se tornar leitora, especialmente em nosso contexto, diante da complexidade e diferenças existentes no Brasil. Você, por exemplo, se considera um(a) leitor(a)? Na pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, realizada pelo Instituto Pró-Livro, de mapeamento do comportamento leitor dos brasileiros, em sua 4ª edição (2016), identificamos uma realidade que vale a pena uma reflexão. Sobre a pergunta referente a presença de uma pessoa que influenciou o gosto pela leitura dos pesquisados, os dados apresentados indicam que isso é mais marcante entre as crianças até 13 anos, ao revelarem a presença dos pais e professores como mediadores. Já para os entrevistados a partir de 25 anos, fica evidente a pequena presença de pessoas que tiveram ou têm efetiva participação nessa influência. Concluímos, assim, que é na infância, por meio da escola, da família ou na biblioteca onde aparecem as oportunidades de práticas e ações mediacionais, como as rodas de leitura, contação de história ou indicação de livros.
E você, qual a sua primeira lembrança de leitura? Como foi? O que o(a) atraiu? Que gosto isso teve para você? Por outro lado, pensar a mediação da leitura para promover a formação de leitores deve levar em consideração os diferentes públicos e pessoas de diversas idades e níveis de alfabetização e letramento. O leitor se constrói ao longo da vida. Para tal, é necessário que se desenvolvam práticas leitoras educativas, críticas literárias e poéticas que tragam as memórias afetivas e que os indivíduos se reconheçam nessas leituras, evocando liberdade e autonomia. Quando revisitamos nossas memórias, é possível reconhecer que o que construímos criticamente em relação ao conhecimento que possuímos está envolto no que somos e naquilo que experimentamos ao longo da vida.
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No Brasil, ainda é pequena a parcela da população que tem acesso a bibliotecas, ao livro e à leitura em suas formas tradicionais ou não. Além disso, o exercício crítico, pedagógico, dialógico e mediador da leitura parece não ser bem compreendido e a leitura acontece desconectada com a realidade do cotidiano e dos interesses do leitor. No processo de mudança que nós educadores buscamos, sem dúvida nenhuma está o desejo de acesso ao livro e à leitura para todos, nas residências, escolas, bibliotecas, terminais de ônibus, centros culturais, praças, condomínios, canteiros de obras, fábricas, hospitais, presídios etc.
PARA ALÉM DO TEXTO
Dialógico: relativo a diálogo, em forma de diálogo. Mas, é importante saber que não adianta somente o acesso ao livro se não houver um convite à leitura, especialmente para os iniciantes dessa aventura, independentemente da faixa etária ou classe social. E é desse convite, que denominamos mediação, que trataremos a seguir. Refletir sobre o conceito de mediação nos apresenta diferentes possibilidades, algumas abordagens mais simples, outras complexas, dependendo do contexto e do lugar de fala dos sujeitos envolvidos. Por ora, o que nos interessa aqui é especialmente a mediação da leitura.
A pesquisa Retratos da Leitura no Brasil considera leitor aquele que leu pelo menos um livro nos três meses anteriores à pesquisa, inteiro ou em partes. Leva em consideração fatores como escolaridade, renda familiar, classe social, faixa etária, gênero, ocupação, atividade e região. Você pode ter acesso à pesquisa completa no link: http://prolivro.org.br/home/ images/2016/RetratosDaLeitura2016_ LIVRO_EM_PDF_FINAL_COM_CAPA.pd
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2.
Na memorável obra de Paulo Freire, A importância do ato de ler, publicada originalmente em 1982, o autor “relê” momentos de sua prática pedagógica, guardados na memória e vividos desde a infância, destacando que é necessário “[...] uma compreensão crítica do ato de ler, que não se esgota na decodificação pura da palavra escrita ou da linguagem escrita, mas que se antecipa e se alonga na inteligência do mundo.” (FREIRE, 1989, p.9) A leitura, em suas diferentes linguagens, verbais e não verbais, é fundamental para a construção do conhecimento, desde que seja valorizada a compreensão crítica do leitor e o seu conhecimento de mundo, podendo ser visto em uma das afirmações mais conhecidas e citadas de Freire:
PARA ALÉM DO TEXTO A importância do ato de ler, de Paulo Freire: https://educacaointegral.org. br/wp-content/uploads/2014/10/ importancia_ato_ler.pdf
A leitura de mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta não possa prescindir da continuidade da
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leitura daquele. Linguagem e realidade se prendem dinamicamente. A compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura crítica implica a percepção das relações entre o texto e o contexto. (FREIRE, 1989, p.9) Na perspectiva da dialogicidade, uma das principais categorias das teorias de Paulo Freire, nascem as práticas sociais e culturais de mediação da leitura. Assim, o diálogo apresenta-se como essencial à construção e à apropriação do conhecimento, numa ação libertadora e autônoma, na qual todas as pessoas envolvidas encontram-se inseridas e precisam se sentir valorizadas. Do interesse em aprender, surge o desejo de ler e de conhecer. Dessa forma, quando as leituras propostas estão relacionadas às experiências, o processo de construção do leitor não tem apenas a relevância teórica do discurso pedagógico, situa-se, também, no lugar social dos envolvidos, reconhecendo aspectos da vida que são fundamentais para a compreensão da realidade apresentada nas argumentações, nos exemplos e nas linguagens do texto lido mediado. A leitura, portanto, faz parte do processo de comunicação cotidiana que ocorre entre os sujeitos e que envolve interações sociais e trocas, fomentadas em situações diversas, expressas pela memória, cultura, tradições e contextos sociais. No desafio de mediar a leitura, não podemos esquecer a importância das linguagens, pois a mediação é um ato de comunicação entre os sujeitos e de partilha entre interlocutores.
AS DIMENSÕES DIALÓGICAS DA MEDIAÇÃO DA LEITURA
A mediação da leitura caracteriza-se pelas relações dialógicas entre os sujeitos, o texto mediado e o ato mediador. É um diálogo constituído de múltiplas vozes e narrativas, de natureza dinâmica, flexível e crítica. Em forma de diálogo, a mediação pode ocorrer em diferentes formatos para públicos diversos em ambiências como bibliotecas públicas, escolares e comunitárias, centros culturais, livrarias, museus e teatros, apenas alguns dos espaços tradicionais de promoção da leitura. Ou mesmo em locais improvisados ou públicos como varandas, calçadas, condomínios, garagens, praças e parques.
Na dialogicidade da mediação da leitura para conectar pessoas e textos, devemos levar em consideração também a participação efetiva e a história de vida do leitor, por meio de outras dimensões como aquelas que Vincent Jouve (2002) nos apresenta e nas quais acrescentamos a leitura crítica. Vamos conhecer essas dimensões? São elas: a) Afetiva: a leitura está envolta em sentimentos e memórias que levam as pessoas a se conectarem com o que é lido, revelando emoções as mais diversas possíveis, como paixões, indignação, intimidade, identificação ou mesmo parcialidade. Jouve (2002) salienta que o “charme da leitura” advém das emoções. Leitores amam, admiram ou mesmo odeiam personagens das obras que leem, criando relações afetivas e pessoais (componente importante da leitura literária). b) Simbólica: a dimensão simbólica da leitura se apresenta no imaginário do leitor, que leva a uma pluralidade de interpretações do que é lido. Nesse sentido, cada indivíduo traz traços de suas experiências pessoais, dos valores e da cultura, como salienta Jouve (2002). O leitor ressignifica o que lê, permitindo a ele o direito de apreender o que lhe interessa de modo interativo. c) Argumentativa: a leitura é argumentativa e polifônica (traz consigo muitas vozes). Na mediação de leitura, o mediador apresenta uma direção argumentativa, porém permite ao leitor que ele interaja com o texto, dialogue com o autor, o questione, concorde, discorde, acrescente ou faça inferências. Vale salientar que cabe ao mediador avaliar o nível de compreensão argumentativa do grupo para quem a prática é desenvolvida. d) Cognitiva: ler significa descortinar, mudar de horizontes, interagir com o real, interpretá-lo, compreendê-lo e decidir sobre ele. Desde o início a leitura deve contar com o leitor, com a sua contribuição ao texto, sua observação ao contexto, sua percepção do entorno. O prazer de ler é também uma descoberta. Assim, o conhecimento vai se construindo aos poucos, acompanhando o indivíduo em suas diversas fases de desenvolvimento cognitivo ao longo da vida. A leitura é um ato cognitivo-afetivo.
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e) Crítica: Ezequiel Theodoro da Silva ressalta que um leitor crítico adentra um texto desejando compreender as circunstâncias, as razões e os desafios sociais permitidos ou não por este texto (SILVA, 2002). A leitura, além de crítica, deve ser prazerosa. O ato de ler destrói certezas, pois a pessoa que lê questiona, se inquieta, analisa, pondera, processa, identifica-se.
DESTACAMOS QUE A mediação da leitura é um ato dialógico. A leitura é plural. A leitura é libertária. A leitura é emancipatória. A leitura não deve ser imposta. A leitura é provocação. Ler é um ato inacabado: estamos sempre acrescentando algo. O conhecimento está sempre em construção. O leitor se constrói a cada momento. É necessário apropriar-se do que é lido.
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3.
FORMANDO OS FORMADORES: AFINAL, O QUE É SER UM “MEDIADOR DE LEITURA”?
Vamos refletir um pouco sobre a segunda questão apresentada no começo deste módulo: O que podem fazer os mediadores de leitura para contribuir na formação de leitores críticos? Aqui ousaríamos dizer que não há modelos para formar leitores ou para formar mediadores de leitura, pois os modelos certamente se esgotariam. O que nós queremos propor em nosso curso, é a possibilidade da mediação sensível que se constrói no cotidiano de professores, bibliotecários, pais, agentes de leitura e outros indivíduos que se dedicam a provocante missão de contribuir com o ato da leitura. Quando nos referimos ao que chamamos aqui de formação do leitor, precisamos deixar claro tratar-se de uma ação educativa, e não de gerar formas ou moldes. Pensamos nas práticas dialógicas do ato de ler, do leitor como elemento principal dessa prática pedagógica, visto no seu todo como ser que pensa, age, reflete, analisa e decide. Estamos falando de uma ação de protagonismos, tanto do mediador quanto do leitor.
Cada sujeito tem o direito de voz, de expressar-se e de comunicar aquilo que para ele não nasce na prática mediada, e, sim, em sua inserção no mundo com autonomia que muitas vezes lhe é negada por inúmeros motivos, como a falta de acesso à escola, à biblioteca e ao livro. Porém, a exposição direta à leitura por meio da mediação apresenta estímulos humanizadores das práticas sociais e culturais, ampliando o campo de compreensão do que é lido e de suas linguagens. A leitura, se bem entendida, é sedutora, pois se alia às experiências do viver para além do tempo e do espaço. Isso explica, por exemplo, a atemporalidade e as paixões que despertam Dom Quixote de La Mancha, de Miguel de Cervantes, cuja primeira edição é datada do ano de 1605 e continua sendo uma das obras mais lidas da atualidade. Lembramos também de outra obra, Romeu e Julieta, tragédia amorosa datada do século XVI, de Willian Shakespeare, que já recebeu diversas adaptações para o cinema. Ou mesmo os contos de fadas e as fábulas que tanto encantam o universo infantil. Somente ressignificada, a leitura fará sentido e conquistará leitores, pois ela não existe isolada ou fora de contexto, sempre revelará outros textos e contextos, encontrando eco nas vozes plurais dos leitores. Sobre o que caracteriza o mediador de leitura, temos algumas pistas: a) Inicialmente, deve tratar-se de um(a) leitor(a), alguém que gosta de ler. É um(a) leitor(a) crítico(a), cujas experiências são partilhadas no processo de interação com o outro; b) Além da experiência de leitura, é necessário gostar de comunicar-se, de falar do que lê, compartilhar seus repertórios e afetividade; c) Percebe na mediação a possibilidade de mudança a ser realizada no cotidiano das pessoas, de modo que compreendam o espaço que a leitura ocupa em suas vidas;
d) Compreende as diferentes fases pelas quais um leitor se constrói e se torna íntimo da leitura, sem exigências, deixando fluir, sem estabelecer juízos. O texto, em suas diferentes formas e dimensões, com linguagens verbais ou não verbais, é mote para desvelar o ato vivido. Por isso, a leitura precisa ser atrativa, pois ela deve ser reconhecida e (re)siginificada no sentido mais amplo que esses termos possam ter. Com esse pensamento, podemos concluir que a leitura é uma prática social exercitada no cotidiano, da solidariedade, do compartilhamento ou mesmo em momentos de solidão como um direito do(a) leitor(a).
PUXANDO PROSA Baseado(a) nessas “pistas”, característica de um mediador de leitura, você se vê assim? O que falta para você? Que outras características você acresceria?
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A mediação da leitura, portanto, é um ato de comunicação com o outro ou consigo mesmo, daí a necessidade de se ler criticamente para o exercício da cidadania. O(A) mediador(a) deve ser, antes de tudo, um(a) leitor(a). Dessa forma, em uma mediação de leitura, é possível envolver os leitores pelo encantamento do ato de ler, de modo digno, verdadeiro e afetivo. Assim como declara Petit (2008), ao afirmar que a transmissão do amor pela leitura se dá pela experimentação desse amor. É comum leitores narrarem suas histórias de leitura a partir da presença de um mediador, sejam avós, pais, outros familiares, professores, contadores de histórias, entre outros que, de algum modo se tornaram figuras marcantes nesse processo de se construir enquanto leitores.
4.
A MEDIAÇÃODA LEITURA NA PRÁTICA
Após as reflexões realizadas no decorrer do fascículo, cremos que seja importante apresentar um pouco sobre a mediação na prática. Planejar e trilhar um caminho atraente para mediar a leitura e formar leitores é, sem dúvida, um desafio, tendo em vista que são muitas as possibilidades de leitura nos tempos atuais, inclusive em épocas de redes sociais e o poder de atração da internet. Entre os desafios, alguns queremos destacar: • As competências do(a) mediador(a) • As condições nas quais as práticas se desenvolvem • Os objetivos da mediação • As ambiências • A periodicidade das práticas • A acessibilidade da leitura • A existência de acervos atrativos que gerem o interesse do público
O que nos leva a ler? A leitura na forma como é vista atualmente constitui-se em um ato libertador e emancipatório. Lemos por diferentes motivos, entretanto, o que mais deve aguçar o interesse do leitor é o desejo de ler o que a ele interessa, de modo a gerar desejo no conhecimento obtido. “Ler é, pois, interrogar as palavras, duvidar delas, ampliá-las. Deste contato, desta troca, nasce o prazer de conhecer, de imaginar, de inventar a vida.” (YUNES, Eliana, 1995, p.188) O(A) mediador(a), ao preparar práticas leitoras, deve reconhecer a priori os objetivos que deseja alcançar, assim como ao escolher possibilidades de leitura como livros, gêneros textuais, temáticas e material de apoio para ampliar o diálogo, tendo conhecimento prévio do público a que se destina e de suas competências leitoras. Além disso, torna-se indispensável para a sua mediação: a) Planejar a prática de leitura com antecedência, de modo bem detalhado: textos a serem lidos, ambiências, atividades etc.;
IMPORTANTE
PUXANDO PROSA
A mediação da leitura não se encerra na prática desenvolvida. Ela deve ir ao encontro dos interesses do leitor como passaporte para novas leituras, interpretações e desdobramentos. Tem que gerar inquietação, pois ao compartilhar a leitura, cada indivíduo irá experimentar um sentimento de pertença, de apropriação, possibilitando abrir-se para o outro, introduzindo-o no mundo (PETIT, 2008), de modo autônomo, exercendo o direito da crítica e da liberdade. A ação mediacional é um processo de interação entre o leitor, o texto, o mediador e o outro. Tal ação ocorre (ou deve ocorrer) permeada pela circulação de ideias entre os sujeitos, em meio à troca de experiências e opiniões.
E com você, quem foi o seu primeiro mediador? Ou quem foi o seu melhor mediador? Você também pensa assim: O(A) mediador(a) deve ser, antes de tudo, um(a) leitor(a)?
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b) Escolher textos adequados à situação e ao nível de compreensão dos leitores; c) Ler previamente os textos a serem trabalhados; d) Organizar a ambiência onde se dará o encontro (biblioteca, sala de aula, residência, sala de estar, varanda, quintal, praça etc); e) Expor livros e outros materiais de leitura de modo que possam gerar atração e curiosidade; f) Estimular o grupo para gerar interação com as obras e a temática apresentada; g) Conversar informalmente com os participantes sobre livros, leitura e assuntos diversos; h) Elaborar atividades dinâmicas e criativas; i) Utilizar o próprio livro para a leitura, de modo a gerar familiaridade; j) Relacionar a leitura a outras possibilidades: música, teatro, dança etc. l) Ler em voz alta e com boa entonação para que todos compreendam o que está sendo lido; m) Dar autonomia aos leitores para partilharem suas histórias, leituras e narrativas, bem como exporem posicionamentos.
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5.
RETOMANDO ALGUNS PONTOS E ACRESCENTANDO OUTROS
À medida que as possibilidades se expandem, percebemos transformações nos perfis de leitores, percebendo outras apropriações e concepções de leitura para além do texto escrito, dos espaços tradicionais de promoção e formação do leitor. Nessa dinâmica, práticas no âmbito da cultura se estabelecem, fazendo emergir novas configurações para o ato de ler e para as relações dos leitores com a leitura. Por outro lado, enquanto se percebe uma velocidade vertiginosa das possibilidades de leitura na atualidade, observa-se também que a inclusão democrática dos indivíduos nas práticas sociais de escrita e leitura ainda não é uma realidade a se comemorar no Brasil. Em linhas gerais, as dificuldades percebidas estão relacionadas ainda ao acesso à informação e à leitura, dentro ou fora dos espaços da educação. São evidentes as fronteiras visíveis e invisíveis de acesso à biblioteca e à leitura, especialmente em zonas rurais ou comunidades com baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), onde a maioria dos alfabetizados não compreende o que lê, como demonstra a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil (2016), citada anteriormente.
Como destacamos, formar leitores em meio a tantos suportes e possibilidades de leitura atraentes que hoje se apresentam, pode parecer um grande desafio, se observarmos de forma pessimista. Por outro lado, se ampliamos o conceito de leitura e o significado do ato de ler para incorporarmos a presença da leitura no espaço virtual, explorando bibliotecas digitais, museus virtuais e as mais variadas possibilidades textuais, verbais e não verbais, como imagens em movimento e sons, por exemplo, percebemos que a complexidade da leitura sempre encontra novos espaços e leitores. Ao entendermos a leitura como algo que perpassa tempos e espaços e que vão além de fronteiras geográficas ou cronológicas, vislumbraremos maior aproximação com os leitores das novas gerações, especialmente as crianças e jovens, cuja intimidade com as questões tecnológicas são muito perceptíveis. Assim, é importante ouvir esses leitores, o que eles pensam sobre a leitura e o que dela esperam e desejam, fazendo com que a mediação não ocorra de forma desconectada da realidade.
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REFERÊNCIAS CALVINO, Italo. Se um viajante numa noite de inverno. São Paulo: Companhia das letras, 1999. FAILLA, Zoara. Retratos de leitura no Brasil 4. Rio de Janeiro: Sextante, 2016. Disponível em: http://prolivro. org.br/home/images/2016/RetratosDaLeitura2016_ LIVRO_EM_PDF_FINAL_COM_CAPA.pdf FREIRE, Paulo. A Importância do Ato de Ler: em três artigos que se completam. São Paulo: Cortez, 1989.
DESAFIANDO É importante ressaltar o papel das políticas públicas para promoção do acesso ao livro e à leitura, especialmente para populações de baixa renda. Essas políticas, a exemplo do Plano Nacional do Livro e Leitura (PNLL), criado em 2006, têm mobilizado pessoas e instituições na promoção da leitura e democratização do acesso ao livro e às bibliotecas nos estados e municípios brasileiros. Nesse ponto, cabe destacar o forte movimento e inserção das bibliotecas comunitárias no
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Brasil, nos últimos anos, e suas ações em rede que têm contribuído com a formação de mediadores de leitura para atuarem nas comunidades, bem como fomentando o acesso às bibliotecas. Para concluir, afirmamos que a mediação da leitura é ação de acolhimento em primeira instância. Do mediador que acolhe, do texto que dialoga e das ideias que abraçam o leitor. Você, cursista e leitor(a), estar junto conosco nessa luta, nos dá toda a esperança!
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JOUVE, Vincent. A leitura. São Paulo: Unesp, 2002. PETIT, Michele. Os jovens e a leitura: uma nova perspectiva. São Paulo: Editora 34, 2008. SILVA, Ezequiel Theodoro da. Criticidade e leitura. Campinas: Mercado de Letras, 2002. YUNES, Eliana. Pelo avesso: a leitura e o leitor. Curitiba: Editora da UFPR, 1995.
Procure saber se no entorno da sua casa, na sua rua, em seu bairro ou em sua cidade, se existe alguma biblioteca pública (oficial, escolar) ou comunitária. Conheça os seus responsáveis, seu funcionamento, seu acervo, seus usuários e se há atividades de mediação de leitura para o público. Investigue e se aproprie dessas informações. Você pode precisar delas em breve.
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Lidia Eugenia Cavalcante (Autora) É professora do curso de Biblioteconomia e do Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação da Universidade Federal do Ceará (UFC). Tem pós-doutorado em Ciência da Informação pela Université de Montréal/Canada, é doutora em Educação pela UFC, mestre em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e graduada em Biblioteconomia pela UFC. Desenvolve projetos de pesquisa e de extensão sobre mediação da leitura e da informação, especialmente em bibliotecas públicas e comunitárias. Rafael Limaverde (ilustrador) É ilustrador, chargista e cartunista (premiado internacionalmente) e xilogravurista. Formado em Artes Visuais pelo Instituto Federal de Educação, Ciências e Tecnologia do Ceará (IFCE). Escreve e possui livros ilustrados nas principais editoras do Ceará e em editoras paulistas.
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