PROJECTO INVESTIGAÇÃO ESCRITA CICLO DE LIÇÕES FAUP
PRÁTICA(S) DE ARQUITECTURA
PROJECTO | INVESTIGAÇÃO | ESCRITA Presente a condição histórica de um lugar, de uma comunidade particular – o Porto – queremos tomar como referência a “aventura comum percorrida por três personagens” – Fernando Távora, Álvaro Siza, Eduardo Souto de Moura – e por um círculo variável de amigos. Uma experiência que partilhou, que partilha, o sonho de resgatar Portugal do seu isolamento e, ao mesmo tempo não renunciar à sua identidade histórica – projecção de uma prática da arquitectura que se libertou, que se liberta, das formas históricas, mas não do carácter profundo da sua cultura. Sinal e sedimento de uma identidade não linear, talvez sejam tão só a reunião de gestos de simplicidade de quem procura (procurou) processo e pauta para a elevação da cultura do lugar, para a transformação de uma paisagem – desassossegos da arte da casa-mãe, a Arquitectura. Arquitectura que é afinal um modo de aprender a modificar a circunstância criando nova circunstância, foi, tem sido, princípio e experiência, manifesto e espaço de uma cumplicidade mínima para (a)firmar um projecto para o ofício da arquitectura, estendido, transportado e traduzido, sem grande distância criativa mas com mágica convicção, como atmosfera festiva, como abraço instalador de prática de escola. Prática mansamente cultivada como escola hospitaleira e plural na evolução do “território da arquitectura”. Mas na agitação dessa condição ou na inteligibilidade desse processo, temos como seguro que os passos de hoje ou próximos interseccionam, atravessam, tocam diferentes confabulações e derivações, cruzamentos e desvios. Hoje, sabemo-lo bem, aquela aventura serve a muitas outras hospitalidades, de muitos outros lugares, de muitos outros praticáveis de conhecimento e desenho, de es-
tudo e investigação, de ensino e aprendizagem. É que em boa verdade “fazer um projecto é construir uma distância objecto-sujeito para, nesta distanciação, inventarmo-nos a nós próprios e, simultaneamente, o projecto”. Hoje, talvez seja instrutivo e operativo aceitar que projecto, investigação, pensamento são estações problemáticas na agitação do argumento e na manifestação de sentido da marca “Escola do Porto”. Hoje, talvez seja exigência: libertar o projecto na evolução da arquitectura enquanto encontro controverso entre prática disciplinar e experiência artística – criação, pensamento, conhecimento; averiguar, problematizar na investigação sobre a capacidade propositiva da arquitectura para a definição de lugares, a produção de significados, a sinalização de uma linguagem; tematizar, aprofundar na história o sentido de fundação, de perturbação, de (in)fidelidade do que o que aqui se foi proporcionando e partilhando como arquitectura, como escola, como lugar. Criação, pensamento, conhecimento são, seguramente, condição-disponibilidade de acolhimento do outro: gestos de simplicidade de quem prossegue processo e pauta para desassossegos da arte da casa-mãe – a Arquitectura – na transformação de uma paisagem. À mobilidade dos significados e à complexidade dos materiais que se oferecem à construção da arquitectura, de que forma servir criativamente o destino desta como expressão e projecção física da imaginação, como experimentação e experiência, como conhecimento e acontecimento, sem subverter a sua “coerência aventurosa” pela manipulação arbitrária e/ou abusiva da complexidade dos materiais que a movimentam, que a constroem?
Porto, Fevereiro de 2012 Manuel Mendes
BIOGRAFIA
Marta Maria Peters Arriscado de Oliveira nasceu no Porto, a 6 de Fevereiro de 1953. Frequentou o curso de Arquitectura na Escola Superior de Belas Artes do Porto entre 1971 e 1977, e foi outorgada o respectivo diploma em 1984, após a realização da prova final. Iniciou a actividade profissional em 1974 no âmbito do programa de renovação SAAL – Norte, integrando a equipa técnica de intervenção no Bairro da Maceda (Porto) coordenada pelo Arquitecto Alcino Soutinho. Entre 1977 e 1984, exerceu funções na Comissão de Coordenação da Região Norte dos gabinetes de apoio técnico, elaborando projectos no âmbito dos GAT do Vale do Lima (Viana do Castelo) e do Vale do Douro Sul (Lamego).
Enveredou pela carreira académica em 1984 como assistente estagiária de História da Arquitectura Portuguesa na Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto. Tornou-se doutorada em Julho de 2005 com a dissertação intitulada “Arquitectura Portuguesa do tempo dos Descobrimentos – Assento de prática e conselho cerca de 1500”, elaborada sob a orientação do Professor Catedrático Alexandre Alves Costa. Actualmente, é regente da disciplina de História da Arquitectura Portuguesa do 4º ano do Mestrado Integrado de Arquitectura da FAUP.
BIBLIOGRAFIA SELECCIONADA
OLIVEIRA, Marta. Arquitectura Portuguesa do tempo dos Descobrimentos: assento de prática e conselho cerca de 1500, 4 vol. Porto: FAUP, 2004. OLIVEIRA, Marta. Vila Viçosa: temas de ordenamento urbano. (I Jornadas do Património: Arquitectura e Urbanismo em Vila Viçosa). Vila Viçosa, 2004. OLIVEIRA, Marta. A Sé do Funchal: a ordem de uma geral maneira de edificar. Monumentos. Lisboa: Direcção Geral de Edifícios e Monumentos Nacionais. Nº 19 (2003, Setembro): 22-31. OLIVEIRA, Marta, coord. O desenho da cidade: contribuição para o seu estudo. ACTAS do Colóquio Internacional Universo Urbanístico Português 1415-1822. Coordenação de Renata Araújo, Hélder Carita e Walter Rossa. Lisboa: Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 2001: 79-98. OLIVEIRA, Marta. O Mosteiro de Salvador: Um Projecto do Século XVI. Monumentos. Lisboa: Direcção-Geral de Edifícios e Monumentos Nacionais. Nº 9 (1998, Setembro): 14-23. OLIVEIRA, Marta. Bom Jesus de Valverde: um estudo da igreja e do claustro do convento. Porto: FAUP, 1988. OLIVEIRA, Marta. Relatório: uma aula teórico-prática de História da Arquitectura Portuguesa. Porto: FAUP, 1988.
UMA OBRA PARTICULAR COMO CASO DE ESTUDO [ Marta Oliveira, Arquitectura Portuguesa do tempo dos Descobrimentos: assento de prática e conselho cerca de 1500 (Porto: FAUP, 2004) : 20 ]
(...) Uma obra de arquitectura acontece no espaço e no tempo; tem por isso uma história. Não pode dizer-se o que é, mas o modo como é e como está no mundo pode ser contado e descrito. A descrição surge como a reconstrução dos factos da sua existência e do seu devir, e a sua representação na leitura-interpretação feita. A leitura não dá a coisa em si, mas sim a sua representação na estrutura de uma descrição que é como uma reconstrução. (...)
A OBRA DE ARQUITECTURA, UMA CONDIÇÃO DE HISTORICIDADE [ Marta Oliveira, Arquitectura Portuguesa do tempo dos Descobrimentos: assento de prática e conselho cerca de 1500 (Porto: FAUP, 2004) : 18-19 ]
Partindo de um fundo comum, feito de testemunhos e de conhecimentos, para a singularidade da solução, e de uma primeira ideia para a sua realização na obra, assim vai definir-se a relação da obra com a vida e vai determinar-se a sua presença no tempo. É por essa condição de existir no tempo que a obra tem uma história do seu tempo. A história da obra poderá ser, numa primeira aproximação, uma construção feita a partir da historicidade dos modos como foi e, sendo, permanece no tempo (incluindo o tempo depois de já não ser mais, senão memória guardada). A compreensão deste processo pode ser organizada, distinguindo momentos. A obra, como realização de um momento passado e a integração do seu sentido no seu tempo, as marcas da continuidade da sua presença influente e, finalmente, a obra como elemento indiferenciado que realiza a passagem de um fundo testimonial. A obra como passado e passagem. (...) Nessa perspectiva, a história releva a estrutura das relações que se entrecruzam na obra. Através dela compreendemos as condições que a tornaram possível e as suas relações com outras obras, e entendemos os homens que a realizaram e a usaram. Entre o agora-presente da realização da obra, projectando a relação do mundo com o que o rodeia e “com a vida”, e todos os outros momentos da sua presença influente na vida, há sempre um presente que faz a especificidade dessa obra. (...) A compreensão das soluções parte de uma identificação dos valores programáticos e das questões a que as soluções respondem. A reflexão encontra-se centrada nas condições das decisões, da acção, e na dinâmica das transformações. Numa perspectiva que interessa particularmente à arquitectura, a história de uma obra prende-se com a historicidade das decisões, dos modos de intervir e das possibilidades que a sua existência - presente abre no tempo.
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A ESCRITA DA EXPERIÊNCIA, UM LIMIAR FULCRAL [ Marta Oliveira, Arquitectura Portuguesa do tempo dos Descobrimentos: assento de prática e conselho cerca de 1500 (Porto: FAUP, 2004) : 273 ]
A passagem ao registo escrito de conhecimentos marca um limiar fulcral, a partir do qual também a escrita passa a interferir no processo de formação de conhecimento do exercício da arquitectura. Num primeiro momento, a escrita denota uma componente de transcrição directa da experiência, servindo para guardar a reflexão teórica praticada sobre a obra. Porém, o registo abre, também, a possibilidade de avaliar experiências através da interpretação da sua descrição comparada. Por sua vez, o texto escrito adquire espessura com a sistematização progressiva dos conhecimentos, realizada através da definição conceptual e de um ordenamento selectivo de procedimentos mais consistentes. Aí radica a ideia de ascendência da formação teórica. Contudo, o processo implica um risco, a menos que seja tomado em consideração o facto de que a colocação por escrito também encerra – reduz as possibilidades de variação, a favor da versão notada e registada que se apresenta como referência para os textos subsequentes. A formação do conhecimento passa então a incluir uma nova componente de interpretação do texto, e a acção passa a ser aferida, também, em função da conformidade ou diferença, estabelecidas relativamente aos escritos consagrados que funcionam como um corpo de conhecimentos a aplicar na acção particular. Em certa medida, pela escrita passa um processo de desenvolvimento contínuo que consiste duplamente numa abertura concedida pelo primeiro registo de uma prática e do enquadramento de teoria, e num encerramento que se dá com essa fixação e o início do comentário de elucidação de verba et intentio, da palavra e da intenção do autor. (...)
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A CONTINUIDADE, UM MODO DE TEORIA OPACA [ Marta Oliveira, Arquitectura Portuguesa do tempo dos Descobrimentos: assento de prática e conselho cerca de 1500 (Porto: FAUP, 2004) : 277-278 ]
O registo escrito da teoria da arquitectura e a sua representação desenhada, em paralelo com o aparecimento do desenho de projecto, acentuam a distinção entre os mundos da teoria e da prática, no âmbito da formação do sistema clássico. Na perspectiva da separação entre a teoria e a prática, as mudanças que se dão no início da época moderna reforçam a noção de que a teoria “renasce” com o estudo do Antigo, a reposição dos fundamentos de arquitectura e dos princípios de desenho, e a escrita dos tratados. A possibilidade de transmissão didáctica de conhecimentos, sistematizados na tratadística, e a constituição de especialidades alargam os horizontes de um exercício disciplinar formado no estaleiro das obras e confinado à síntese prática de edificação material da obra. Mas, se o objectivo é compreender a síntese realizada em obra, e compreender a natureza do seu conhecimento e os seus fundamentos, então, torna-se necessário interrogar a linha de oposição traçada, questionando a raiz das interpretações instituídas com os novos modos do exercício disciplinar. Sendo o conhecimento medieval da arquitectura transmitido pelo saber que construía a obra, a obra é o lugar desse saber arquitectural. A obra é escrita de “teoria” e o objecto da sua leitura. Um dos aspectos que contribui para uma impressão da ausência de teoria, na obra, e determina uma visão da obra como lugar de praticidade, reside no facto de, entre os elementos presentes na obra, os menos evidentes serem aqueles mais experimentados e sedimentados, em virtude de um sentido de bom senso e de conveniência que orientam o acerto e a continuidade de determinados modos da prática edificadora. Cada momento de uma nova reposição contribui para obliterar a percepção de uma sempre presença. Assim, como corpo de conhecimentos, também o pensamento teórico da arquitectura edificada, que foi sendo consolidado ao longo do período medieval, pôde continuar, tornado “opaco”, na obra da época moderna, face a um deslocamento da atenção para outros aspectos de novidade que entretanto fazem a distinção da obra nova. Essa novidade é a de um retorno ao Antigo, no Renascimento em Itália, mas é também, a experiência contemporânea da novidade desenvolvida em outras nações que leva a uma distinção de diversos modos próprios. O processo de uma longa incorporação tem como efeito um apagamento da noção de referimento dos elementos, e a sua pertença inerente, numa estrutura teórica de conhecimentos e tradições e na prática da arte edificadora. (...)
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A PRÁTICA
[ Marta Oliveira, Arquitectura Portuguesa do tempo dos Descobrimentos: assento de prática e conselho cerca de 1500 (Porto: FAUP, 2004) : 302-308 ]
Não há saber de arquitectura sem prática, o que implica o reconhecimento de que a assimilação de teoria não é suficiente para o exercício da arquitectura. No tempo estudado*, ‘prática’, ‘prático(a)’ e ‘praticar’ envolviam uma riqueza de sentidos que foram perdendo espaço no decurso das transformações do processo disciplinar, associadas à deposição de conhecimentos em livro, à formação de planos de mediação entre a ideia e a obra (o desenho de projecto), e à instauração de distinções de níveis de especialidade e responsabilidade, no projecto e no processo da edificação. Seria possível, inclusivamente, falar de transferência de sentidos, em correspondência com uma transferência de competências do domínio da prática para outros domínios do exercício disciplinar. Por exemplo, a prática de um tema é hoje um debate de um tema que o entendimento corrente situa no plano “teórico” das ideias. Nesse processo dá-se a consolidação do campo da teoria e a separação de competências disciplinares que antes convergiam no exercício uno do mestre prático, dando origem à formação de novos perfis técnicos do arquitecto e do engenheiro, além do construtor, e das especialidades ligadas à arquitectura militar. (...) A natureza do conhecimento transmitido pela prática apresenta algumas diferenças relativamente ao conhecimento transmitido pelos livros. Um registo escrito de conhecimentos implica um recorte efectuado, segundo a visão de momento do que deve ser guardado, que introduz uma componente de “conservadoria” (o que foi escrito e como foi escrito). A sua apropriação ulterior colocar-se-á no plano de uma interpretação literal do texto. Em alternativa, a prática antiga implicava uma conservação selectiva e uma transmissão participada num processo colectivo de depuração que reduzia o essencial a uma memória de bom senso. A sua transmissão de novo implicava um trabalho de discriminação e de especificação aplicada, e a articulação de novas sínteses. Nem tudo era transportado, mas apenas o que resistia num processo de selecção e de redução. Certos aspectos de uma prática focada no problema, debatendo-o para assentar as ideias que permitem identificar a solução, encontra singulares pontos de convergência com as necessidades da reflexão, na contemporaneidade. Na actualidade, a exponencial divulgação de informação e conhecimentos, sob a forma de texto e imagens, a vertiginosa mobilidade e acessibilidade dos pontos de informação, e a desmultiplicação das articulações permitidas tornam impossível um domínio de síntese das questões, assente nos pressupostos de uma capacidade individual de reunir “todos os elementos de prova” e de lidar com a fundamentação conclusa das decisões tomadas singularmente. Nessas condições, um conhecimento do tipo “alfobre” que tudo guarda e transporta confronta-se com a infinidade de ideias e de material imponderado, sabendo da sua irremediável incompletude e permanente desactualização. A prática antiga de uma prática focada apontava o sentido do conhecimento, como uma essência de memória e o sentido da sua inscrição. A ideia de partir do problema para a solução, por oposição à ideia da aplicação de soluções.
* (nota contextual) O enquadramento temporal abrangido pelo domínio de investigação da dissertação de doutoramento engloba a segunda metade do século XV e o primeiro quarto do século XVI.
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SABER DE FAZER
[ Marta Oliveira, Arquitectura Portuguesa do tempo dos Descobrimentos: assento de prática e conselho cerca de 1500 (Porto: FAUP, 2004) : 321-326 ]
(...) A actividade mental do arquitecto desenvolve-se num processo intuitivo e criativo de incorporação e de síntese, entre o corpo de conhecimentos disciplinares e o mundo da prática da obra. Nesse sentido, a noção de privado caracteriza a passagem que se dá nesse processo. Da massa dos conhecimentos e informações aprendidas é feita a passagem para o conhecimento apreendido, que é saber de fazer, feito de reflexão e de experiência, e é saber o que fazer. A partir de um saber apreendido e privado forma-se a compreensão dos limites colocados à acção individual de criação e à vontade de artisticidade, na definição da obra, considerando os valores colectivos. Esse saber reflectido e pessoal radica numa sensibilidade e num cuidado que se abrem à necessidade de perspectivar valores colectivos e os valores de outros. Sentido individual e comum encontram assim o princípio de uma singular articulação. (...) Na sua essência, o saber de “fazer arquitectura” é um saber de discernimento e de ponderação das exigências que devem ser consideradas na obra e nas intervenções, e é um saber fazer (encontrar) a solução adequada e conveniente. Na arquitectura antiga, esse saber tinha por referência um sentido de conveniência e de decência, dados por um princípio comum (uma noção partilhada) de decoro. O oficial de arquitectura sabia da ordem e da medida das coisas. Na sua discrição, criava a medida da obra que dava sentido às formas e aos espaços (Na contemporaneidade, o sentido de responsabilidade de um saber do exercício da arquitectura e uma “morale dei mestieiri” de que falam Bonatz ou Gregotti.) Num sentido mais geral, o saber é um conselho da acção. E o saber disciplinar é esse saber da acção e do exercício disciplinar, uma prática com saber das pessoas para as quais a arquitectura é feita. O reconhecimento dessas noções constitui uma interpelação ao desejo de artisticidade pessoal do criador da obra, contrapondo-lhe a necessidade dessa outra perspectiva que ainda hoje tem sentido como expressão. O dever de ofício que circunscreve e reinscreve o sentido da arte. (...)
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14.1 A POSSIBILIDADE DE CONHECIMENTO [ Marta Oliveira, Arquitectura Portuguesa do tempo dos Descobrimentos: assento de prática e conselho cerca de 1500 (Porto: FAUP, 2004) : 1117-1125 ]
(...) Se há uma especificidade do conhecimento de arquitectura essa será de que, no interior da disciplina, o entendimento da arquitectura é o que permite pensar a obra, projectar um caminho e fazer o seu percurso: saber o que fazer, saber como fazer, saber de fazer. (...) Se procurarmos os caminhos da arquitectura, pensando ao longo das linhas que foram sendo traçadas, concluímos que não parece possível chegar senão a uma compreensão de fragmentos, tantos quantos aqueles ditados pela sucessão de pontos de vista colocados, pelas perspectivas abertas e pelo caso particular das obras consideradas. No limite, se o quadro que pode ser relevado é o de obras, tomadas cada uma por si e nas suas ligações, caso a caso, então é a possibilidade de pensar em teoria que é interrogada. Em vez de citar rupturas clãs, seria necessário seguir percursos de oscilação contínua que realizam uma progressão do pensamento disciplinar por um aferimento e modificação de variações mínimas e máximas que transforma. Seria necessário referenciar os sinais de um primeiro diferimento, esse deslocamento de acentuação que, primeiro que tudo, torna possível a mudança, a torna necessária, clara e inevitável. (...) Encontrar a interrogação certa, mais do que seriar respostas, está nos fundamentos do entendimento das coisas. As questões tocam a natureza das coisas que precisam ser conhecidas, para “explicar” a arquitectura, e abrem a possibilidade de fazer uma teoria do conhecimento (da obra). Contudo, se com uma “teoria” se pretende uma estrutura de explicação, por unidades progressivamente mais abstractas, que sintetize a descrição do desenho da forma, numa fórmula simples e clara, de tal modo que seja possível extrair consequências – imitar a sua repetição e antecipar a sua evolução, a sua especificação em outras circunstâncias -, então esse conhecimento sistemático não parece possível. (...) A resolução do problema é apontada a partir da sua delimitação, com a redução a um mínimo essencial, para que o problema tenha solução. A delimitação representa o estabelecimento de um delicado equilíbrio de incompletude mínima, inevitável à definição finita (da obra). (...) O modo exercício da arquitectura surge como um caminhar e uma circulação vaga e progressivamente clara, entre o conhecimento, o entendimento e o saber de fazer. A formulação antecipada dos caminhos desse caminhar não é viável. Dos conhecimentos recolhidos, nem todos aproveitarão à progressão. O juízo de escolha forma-se andante, e o entendimento do percurso percorrido mostra o encaminhamento. O ponto de chegada será uma estância possível da resolução do problema.
SELEÇÃO DE TEXTOS E ORGANIZAÇÃO DO CADERNO PELO COLECTIVO “PRÁTICA(S) DE ARQUITECTURA”. COM O CONHECIMENTO DA PROF. DOUTORA MARTA OLIVEIRA
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AGENDA 29 FEV 15:00H 29 FEV 15:00H 29 FEV 15:00H 01 MAR 18:30H 15 MAR 21:30H 19 ABR 21:30H 26 ABR 21:30H 03 MAI 21:30H 17 MAI 21:30H 24 MAI 21:30H 29 MAI 21:30H 31 MAI 21:30H 06 JUN 21:30H A ANUNCIAR
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