IMPRESSO
SINDEGTUR / RJ • Ano 9 • Nº 47 • Edição setembro 2007
Foto: Luiz Augusto
D. João VI no Rio de Janeiro
Sósia de D. João VI revive sua chegada ao Rio de Janeiro às vésperas do Bicentenário - Págs. 6 e 7 Reserva: moda masculina com estilo e qualidade
C. C. A. Pão de Açúcar comemora aniversário em grande estilo
Ciclo de Palestras Amsterdam Sauer - SINDEGTUR / RJ
Restinga de Marambaia: preservação ambiental em perigo
Pág. 3
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Págs. 8 e 9
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Editorial
Ano 9 • Nº 47 • Edição setembro 2007
Comunicado a todos os Guias de Turismo em atividade no Estado do Rio de Janeiro
A
diretoria do SINDEGTUR /RJ comunica que, devido à grande inadimplência no pagamento da contribuição sindical, vai notificar os devedores para que cancelem seus débitos a partir de 2005, até o final deste ano. A partir de 1º de janeiro de 2008, passaremos a cobrar dos devedores os pagamentos dos últimos cinco anos. A contribuição sindical anual é um imposto federal que deve ser pago por todo aquele que exerce uma atividade profissional, independentemente de ser sindicalizado. Lembramos que a sindicalização é opcional, mas o pagamento do imposto é OBRIGATÓRIO, segundo a CLT, que determina: Art. 606 - Às entidades sindicais cabe, em caso de falta de pagamento da contribuição sindical, promover a respectiva cobrança judicial, mediante ação executiva, valendo como título de dívida a certidão expedida pelas autoridades regionais do Ministério do Trabalho (art. 606 da CLT). Art. 607 - É considerado como documento essencial ao comparecimento às concorrências públicas ou administrativas e para o fornecimento às repartições paraestatais ou autárquicas a prova da quitação do respectivo imposto sindical e a de recolhimento do imposto sindical, descontado dos respectivos empregados. Art. 608 - As repartições federais, estaduais ou municipais não concederão registro ou licenças para funcionamento ou renovação de atividades aos estabelecimentos de empregadores e aos escritórios ou congêneres dos agentes ou trabalhadores autônomos e
profissionais liberais, nem concederão alvarás de licença ou localização, sem que sejam exibidas as provas de quitação do imposto sindical, na forma do artigo anterior. Parágrafo único - A não observância do disposto neste artigo acarretará, de pleno direito, a nulidade dos atos nele referidos, bem como dos mencionados no artigo 607. Sendo assim, passaremos a promover a respectiva cobrança judicial de cada inadimplente, de forma a ressarcir o governo federal, a federação e o sindicato os recursos a que têm direito garantido em lei. Como resultado, o devedor terá seu nome inscrito na dívida ativa da União e poderá ter seu nome enviado também ao Serasa (leia a notícia em www.sindegtur.org.br), dificultando a obtenção de empréstimos e financiamentos. Além disso, solicitaremos ao Ministério do Turismo que recuse a renovação ou determine o cancelamento do crachá do devedor, conforme estabelecido no artigo 608 da CLT. Lembre-se: o imposto deve ser pago TODO ANO e não somente quando você precisa renovar o crachá. Deve ser feito até o dia 28 de fevereiro, nas agências da Caixa Econômica Federal. Leia as orientações em www.sindegtur.org.br, clicando em <contribuição sindical> ou ligue para (21) 3208-1801 e 3208-1827 para conferir a sua situação como contribuinte e obter mais informações.
Luiz Augusto N. dos Santos Presidente do SINDEGTUR / RJ
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Notas Sindicais PROPOSTA DE ACORDO EM ANDAMENTO Após duas assembléias gerais consecutivas em 31 de julho e 4 de setembro, foram analisadas e votadas as cláusulas que compõem a nova proposta de acordo profissional trabalhista, elaborada pelo SINDEGTUR / RJ para ser apresentada à B.I.T.O. ainda no mês de setembro. Os guias de turismo tiveram a oportunidade de manifestar sua vontade pessoalmente, comparecendo aos encontros e mesmo por e-mail. As assembléias foram abertas a todos os guias de turismo do estado, mesmo àqueles não-associados ao SINDEGTUR / RJ. A proposta inclui, entre outros, os seguintes temas: tabela mínima de remuneração; regulamentação da relação profissional-trabalhistatributária; seguro contra acidentes de trabalho; fim da exigência de exclusividade na prestação de serviços para guias autônomos; garantia de ressarcimento para os casos de reserva antecipada para serviços depois cancelados; regulamentação dos reembolsos para despesas operacionais a serviço; criação de comissão para a conciliação de controvérsias, entre outros.
O FUTURO CONSELHO DE CLASSE DE GUIAS DE TURISMO Entre 11 a 13 setembro, reuniram-se em Brasília, no Encontro Nacional de Gestores Sindicais, os presidentes dos Sindicatos de Guias de Turismo do Brasil e a direção da FENAGTUR (Federação Nacional dos Guias de Turismo) para discutir a formulação do Conselho Nacional dos Guias de Turismo que, entre suas atribuições, deverá zelar pela efetiva aplicação da legislação que regula a atividade profissional e a proteção ao Guia de Turismo. O evento foi organizado pela FENAGTUR, SEBRAE e Ministério do Turismo. Na mesma ocasião, a presidente da Comissão de Turismo da Câmara dos Deputados, deputada Lídice da Mata (PSB-BA) recebeu a solicitação dos presidentes dos sindicatos de Foz de Iguaçu, Valter Martin Schroeder, da Bahia, Cristina Baumgarten e do Rio de Janeiro, Luiz Augusto N. dos Santos.
SINDEGTUR/RJ RECEBE MOÇÃO DA CÂMARA DOS VEREADORES Por iniciativa do vereador Pedro Porfírio (PDT), a Câmara Municipal do Rio de Janeiro agradeceu o empenho do SINDEGTUR / RJ e da categoria dos guias de turismo para que o Cristo Redentor fosse eleito uma das 7 Maravilhas do Mundo Moderno e concedeu uma Moção de Reconhecimento e Aplausos ao presidente do SINDEGTUR / RJ, Luiz Augusto Nascimento dos Santos.
PUBLICAÇÃO DO SINDICATO ESTADUAL DOS GUIAS DE TURISMO DO RIO DE JANEIRO Rua Santa Clara, 75 • 13º andar • Cob. 01 • CEP 22041-010 • telefone (0xx21) 3208-1801 • Fo n e / F a x ( 0 x x 2 1 ) 3 2 0 8 - 1 8 2 7 • e - m a i l s i n d e g t u r @ s i n d e g t u r. o r g . b r • Site: www.sindegtur.org.br • Horário de atendimento: de segunda a sexta-feira, das 10h às 13h e 14h às 18h PRESIDENTE: Luiz Augusto Nascimento dos Santos • VICE-PRESIDENTE: Mauro Rubinstein • JORNALISTA: Lídia Freire (Mtb 18.260) • SECRETÁRIA: Marcia Rabello • COLABORARAM NESTA EDIÇÃO: Gerardo Millione, Luiz Augusto N. dos Santos, Márcia Silveira, Mauro Rubinstein, Márcia Rabello, Milton Teixeira, Neyla Bontempo • DESIGN GRÁFICO E EDITORAÇÃO ELETRÔNICA: Kátia Regina Fonseca • TIRAGEM: 3.000 exemplares • IMPRESSÃO: Jornal do Commercio • PERIODICIDADE: Trimestral • DISTRIBUIÇÃO: Gratuita.
Moda
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NOVA MARCA MASCULINA NA CENA CARIOCA Os homens que procuram roupa com estilo e qualidade têm endereço certo: a rua Maria Quitéria 77 loja F, em Ipanema. É lá que fica a Reserva, criada em 2004 por Rony Meisler e Fernando Sigal, ambos de 25 anos. O projeto do espaço leva a assinatura do top André Piva. A marca participou de duas edições do Fashion Rio, no segmento novos talentos, e desfilou solo no outonoinverno 2007. E o negócio está dando tão certo que em setembro será aberta a segunda loja da rede, dessa vez no Rio Sul.
conquistaram a imprensa especializada de moda brasileira e arrancaram elogios da Collezioni. A marca surgiu da vontade de trazer novos ares para a moda masculina do Rio de Janeiro. Cariocas assumidos, Rony e Fernando escolheram o nome da praia predileta para batizar a grife – a praia da Reserva fica no Recreio dos Bandeirantes e possui vegetação de restinga e nenhuma urbanização. A Reserva veste um homem jovem e urbano. Ele é aventureiro, adora viajar e conhecer novos lugares, tribos e formatos. Por isso, a roupa possui personalidade, é confortável, funcional e rica em acabamento. O símbolo é um upupa, um pica-pau das florestas tropicais.
O COMEÇO Foi uma trajetória meteórica que começou há menos de três anos. Os meninos, cansados de ver os amigos na academia com as mesmas bermudas, fizeram 300 boardshorts com a inscrição “Be yourself, but not always the
same” (Seja você mesmo, mas não sempre o mesmo), esgotados em 45 dias. Com o dinheiro, produziram a primeira coleção, pediram demissão dos empregos e começaram a distribuir a Reserva nas lojas multimarcas. Antes de criarem a marca que é a cara do Rio, Rony era engenheiro de produção e prestava consultoria para uma multinacional, enquanto Fernando, publicitário, tocava negócios de família nas áreas de comércio e agropecuária. Diogo Mariani, que entrou no time este ano, também atuava no mercado financeiro.
CRIATIVIDADE A entrada no Fashion Rio foi resultado de um ato de ousadia. Rony e Fernando deixaram a coleção em uma arara na Dupla Assessoria, empresa encarregada de selecionar os candidatos, com o seguinte bilhete, vale lembrar, amassado: “Estivemos aqui, mas, como o mar está alto, fomos para a praia da Reserva. Por favor, tomem conta de nossos pertences,
ENTREVISTA COM RONY MEISLER PG: Rony, na sua opinião, o Rio ainda dita a moda do país? – Com certeza e por um motivo muito simples: aqui no Rio, a moda parte do comportamento do carioca, ela começa na praia e na rua, ou seja, no varejo, e seu sucesso é que a leva à produção industrial, em um movimento oposto ao que ocorre em São Paulo, por exemplo. É como um atestado de naturalidade, de autenticidade, que o grande produtor dificilmente consegue obter.
Além da loja da marca, os produtos da Reserva podem ser encontrados, em São Paulo, na Daslu, na Clube Chocolate, na Doc Dog e na Surface to Air, além de outros 67 pontos de venda, como Casa Magrela, em Brasília (DF), e Santo Homem, em Recife (PE). Lá fora, estão à venda na multimarcas Mosci, na Melrose Street, em Los Angeles, e no showroom Misaki, em Tóquio e Osaka, lado-a-lado a Dolce & Gabbana, D&G e Dsquared². São 69 pontos de vendas e 20 mil peças vendidas por coleção. Com o inverno preepy de 2005 e os Roqueiros Tropicais de 2006, Rony Meisler e Fernando Sigal
PG: Quem é o seu cliente? – Ele é jovem de espírito, culto e antenado, viajado, cuida do corpo, é esportista. Recebo o carioca, o brasileiro de outros estados e até o visitante estrangeiro que aqui aparece espontaneamente também devido a nossa localização no coração de Ipanema. PG: Os preços são competitivos? – Sem dúvida. Somos pequenos, mas recebemos clientes órfãos das grandes marcas, que são atraídos pelos nossos preços até 30% mais baixos. PG: Como vai ser a parceria entre a RESERVA e os guias de turismo? – Estamos prontos para receber o turista nacional e o internacional. Fazemos também um atendimento personalizado em recinto fechado e desfiles para grandes grupos de incentivo e congressos. O Renato é a pessoa de contato para o agendamento de visitas (pode ser por telefone) e o cadastramento dos guias. Convido os guias de turismo a conhecer a loja de Ipanema (e a do Rio Sul, a partir de setembro) e receber um brinde – o chaveiro com o nosso famoso pica-pau. Vejo um grande potencial de crescimento através da parceria com esses grandes formadores de opinião que são os guias de turismo.
Foto: Pedro Meyer
“Seja você mesmo, mas não sempre o mesmo”
Na ordem: Fernando Sigal, Rony Mesiler e Diogo Mariani
att. Meninos da Reserva”. O sucesso foi imediato e a vaga no evento, garantida. Hoje, além de desenvolver a marca, os meninos prestam consultorias de branding (processo de criação e/ ou estabelecimento de uma determinada marca em uma empresa, produto, serviço, etc) para instituições como SESI-RJ e empresas como Umbro, Devassa e O Globo.
A LOJA DE IPANEMA A loja da Reserva é um sofisticado loft urbano, tecnológico e retrô ao mesmo tempo. O espaço lembra um atelier, com paredes de concreto, piso de cimento, teto de demolição e móveis retrôs. O conceito é de garagem. Cores escuras, materiais de demolição, luminárias e esquadrias pretas, balcão e geladeira dos anos 60 em laca vermelha e móveis usados de brechó dão o clima. A novidade tecnológica é o iPod, que pode ser operado pelos clientes, que fazem as vezes de DJs enquanto experimentam os produtos. O espaço é freqüentado por Lulu Santos, Daniel de Oliveira, Sérgio Marone e Cauã Reymond, entre outros jovens de 15 a 60 anos e até por avós garimpando roupas para filhos e netos. Reserva – Rua Maria Quitéria 77 loja F, esquina c/Visconde de Pirajá, em Ipanema, Tel: (21) 2247-5980 - SAC: (21) 2255-3279 Contato p/o Turismo: Renato
Trade
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Companhia Caminho Aéreo Pão de Açúcar investe quase R$ 30 milhões em inovações Morro da Urca nas décadas de 70, 80 e 90 e novos talentos. “Queremos promover uma ampla agenda cultural, com eventos diurnos e incremento nos eventos noturnos, que é o que estamos fazendo para prolongar a permanência dos turistas em nossa cidade”, conclui Maria Ercilia. Ainda em clima de comemoração, a Companhia está desenvolvendo um projeto inédito: a construção de um Museu a Céu Aberto, que pretende contar a história do ponto turístico com imagens, sons e mostras fotográficas, utilizando os mais modernos recursos tecnológicos. A previsão é de que o Museu seja inaugurado até o final do ano, em um projeto que
Fotos: Divulgação
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naugurado em 1912, o Bondinho do Pão de Açúcar integra um dos pontos turísticos mais bonitos e visitados do mundo e está incluído no mapa turístico carioca como um dos principais ícones da cidade. Construído, operado e mantido pela Companhia Caminho Aéreo Pão de Açúcar – empresa privada de capital 100% nacional – o Bondinho completa 95 anos no dia 27 de outubro de 2007, tendo transportado desde sua inauguração mais de 36 milhões de turistas, entre nacionais e estrangeiros. A expectativa da empresa é comemorar o aniversário tendo transportado 38 milhões de turistas. “Nossa missão é levar os visitantes com segurança e conforto para um mundo de encantamento, onde é possível tornar o passeio ao Pão de Açúcar um momento inesquecível”, afirma Maria Ercília Leite de Castro, diretora geral da empresa. Com o objetivo de manter a visitação dos estrangeiros, mas também atrair o carioca ao ponto turístico, a Companhia inaugurará um novo espaço. Trata-se do Baía de Guanabara, ambiente que comportará três restaurantes climatizados, com capacidade para 360 pessoas, palco para shows e uma área destinada a eventos de pequeno e médio portes, localizada no Morro da Urca. A inauguração está prevista para o dia 22 de novembro e a idéia é que esse espaço receba restaurantes de grife do Rio.
Protótipo da nova cabine do bondinho
Para o aniversário de 95 anos do Bondinho, também está prevista a chegada de quatro novas cabines encomendadas pela empresa suíça CWA, que detém 60% do mercado atual de teleféricos. O investimento nos bondes novos foi de aproximadamente três milhões de Euros e a estrutura foi construída seguindo as Normas e Procedimentos do Mercado Comum Europeu. O diferencial das novas cabines está no design, que será mais moderno, clean e com vidros fumê anti-reflexo. Um calendário de eventos culturais e de lazer está sendo montado pela Companhia Caminho Aéreo Pão de Açúcar e a estimativa é de que as atividades
Imagens da futura área gastronômica no Morro da Urca
comecem em setembro deste ano com um recital do pianista Arnaldo Cohen e se estenda ao longo de 2008 com outras atrações. Entre as novidades está o projeto do Verão 2007/2008, apresentando grandes shows com artistas que foram lançados no
consumiu mais de R$ 3 milhões, incluindo a obra civil e conteúdo de acervo. Com as ações que pretendem realizar no complexo, a estimativa da Companhia é de que seja registrado um aumento de 20 a 30% na visitação ao ponto turístico.
Histórico
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O Rei chegou
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7 de março de 1808, ao salvar1 da artilharia, os foguetes e os repiques de sinos anunciavam ao povo do Rio de Janeiro a chegada da nau em que vinham o príncipe Dom João e Dona Carlota Joaquina. Com a invasão de Portugal pelas tropas francesas do General Junot, enviado de Napoleão, entregou D. João os destinos de Portugal a um governo interino e partiu de Lisboa a 29 de novembro de 1807, aportando à Bahia, depois de muitas peripécias no mar, a 22 de janeiro de 1808, daí saindo a 26 de fevereiro com destino ao Rio de Janeiro, aonde chegou sem maiores problemas. Correu o povo ao cais do Arsenal de Marinha, na base do morro de São Bento, para receber o príncipe, mas o Vice-Rei Conde dos Arcos transmitiu a notícia ao povo de que D. João só desembarcaria no dia seguinte. De fato, no dia 8, pelas quatro horas da tarde, realizou-se o festivo desembarque. Esse momento foi assinalado por prolongada salva de todos os navios surtos2 no porto, tanto nacionais quanto estrangeiros, toques dos sinos de todas as igrejas da cidade e brados de alegria e vivas calorosos. D. João passou-se da nau 3 para um bergantim4, que o conduziu a terra, acompanhado por numerosa comitiva da casa real, fidalgos e verdadeira multidão de criados. Quando chegou à rampa do cais, onde se erguera um altar, clero, nobreza e povo aguardavam a honra de lhe beijar a augusta 5 mão. A saudação oficial já tinha sido feita na véspera pelo presidente do Senado da Câmara, o juiz Agostinho Petra de Bethencourt. Formou-se o cortejo. Abria-o a guarda de cavalaria, seguindo-se os magistrados, representantes do clero, membros do Senado da Câmara e todo o alto funcionalismo. As carruagens seguiram até o Largo do Paço, todo enfeitado, para que Sua Majestade visse a guarda ali postada em grande uniforme e a enorme faixa colocada pelo povo, onde se lia: “Deus
MILTON
DE
MENDONÇA TEIXEIRA
Reprodução de óleo de Armando Viana, “Chegada de D. João à Igreja do Rosário”
salve o fundador do Novo Império”. Depois de contornar o Largo, voltaram as carruagens à rua Direita6, entrando na rua do Rosário, pois D. João exigira visitar em primeiro lugar a Sé do Rio de Janeiro, onde iria agradecer a boa viagem. A catedral estava instalada nessa pequena igreja dos pretos desde 1737, e ainda existe no mesmo local. D. João tinha ao seu lado o Chantre7 da Sé, que lhe deu a beijar um pedaço do Santo Lenho8. Assim que entrou no templo, entoouse o “Te-Deum”, tocado pelo padre José Maurício Nunes Garcia. Em seguida, o príncipe, todo o tempo muito contente e extremamente sorridente – ao contrário da esposa, sempre carrancuda –, recolheu-se ao Paço do Vice-Rei, agora Paço Real (atualmente Paço Imperial, na Praça XV de Novembro), onde ficou com a esposa e os filhos. Morou ali por nove meses, quando, então, recebeu em doação a magnífica Quinta da Boa Vista, em São Cristóvão, onde desde então passou oficialmente a residir. A casa fora oferecida ao Rei ainda em março daquele ano pelo seu proprietário, o capitalista Elias Antônio Lopes. A Rainha louca D. Maria I, mãe de D. João, desembarcou no dia seguinte, sendo-lhe dado para hospedagem o convento dos frades carmelitas, que é um grande prédio de três pavimentos, de frente
voltada para o Largo do Paço e colado pelo lado direito originalmente na Igreja do Carmo, depois elevada à condição de Capela Real. Um passadiço em três arcos construído depois passou a ligar o convento ao Paço pela rua Direita, ao nível do segundo pavimento, evitando assim que o príncipe passasse pela rua a descoberto para ver sua mãe doente. Por nove dias e nove noites esteve a cidade em festas. Imaginem-se, porém, os apuros em que seu viu essa mesma cidade de 60 mil habitantes, para hospedar e dar de comer a centenas de nobres e criados, multidão essa que cresceria com o passar dos meses, chegando ao final a 15 mil pessoas. Além das que foram conduzidas nas oito naus, quatro fragatas, quatro embarcações comuns e quarenta navios mercantes componentes da frota que veio trazer D. João, outras pessoas chegaram em diversos navios nas semanas seguintes. Para abrigar tanta gente, o Rei fez proclamar dias depois a infame lei das aposentadorias, mas no dia 8 todos ainda estavam felizes e não se imaginava que a Família Real teria o Rio como menagem9 por longos treze anos! Hoje, estamos próximos de completar duzentos anos desse histórico dia. O cais de desembarque
de D. João foi substituído pela ponte Arnaldo Pinto da Luz, no Primeiro Distrito Naval. O Largo do Paço, depois de seis aterros e dois governos ali caídos, se chama, desde 1890, Praça XV de Novembro; o Paço até ainda está lá, mas serve agora como um importante centro cultural, não abrigando príncipe algum; o Convento do Carmo, cortado pela abertura da rua Sete de Setembro, não abriga mais uma rainha demente e nem se liga mais à igreja e muito menos ao Paço, mas sedia hoje a Universidade Cândido Mendes; e a Igreja do Rosário, se não é mais a Sé, sobreviveu a um incêndio e ainda se ergue na rua Uruguaiana, defronte à do Rosário. A Quinta da Boa Vista, hoje um espaço público, desde fins do século XIX abriga um museu de história natural e, em 1944, o zoológico da cidade. A única coisa que não mudou é a alegria dos cariocas e sua capacidade notável de receber sempre bem qualquer visitante, de rei a plebeu. NOTAS: 1 Salvar – Saudar com tiros de salva (= descarga simultânea de armas de fogo em um exercício de combate, em luta, ou em sinal de regozijo, de festa ou em honra de alguém; conjunto de tiros simultâneos ou rapidamente sucessivos dados sobre um objetivo; descarga simultânea de armas de fogo em um exercício de combate, em luta, ou em sinal de regozijo, de festa ou em honra de alguém). 2 Surto – Ancorado, fundeado. 3 Nau – Designação genérica que até o século XV se aplicava a navios de grande porte, acastelados à proa e à popa, e geralmente com um único mastro envergando vela redonda. 4 Bergantim – Embarcação antiga, a remo, esguia e de convés corrido, usado no Mediterrâneo; fragatim veleiro armado com dois mastros com velas latinas triangulares; bragantim. 5 Augusta – Que merece respeito, reverência; venerável; de grande imponência; magnífica, majestosa, solene; sacro, sagrado; epíteto usado ao se falar de certos membros de uma família real. 6 Rua Direita – Atual Rua Primeiro de Março, no Centro do Rio de Janeiro. 7 Chantre – Membro da Igreja que exercia as funções de cantor e que, postado diante da estante do coro, entoava os salmos, os responsórios; eclesiástico encarregado da direção dos coros nas igrejas e capelas. 8 Santo Lenho – A cruz em que Jesus Cristo foi crucificado. 9 menagem – O mesmo que homenagem.
Histórico
O Rei voltou
A
grata memória, ainda assim “feliz por rever meu querido Rio de Janeiro”. O príncipe foi aclamado pela população, que o seguiu em cortejo pelo centro histórico do Rio bradando vivas a D. João, sendo intensamente fotografado, filmado e entrevistado pelos principais canais de televisão. Em entrevista, D. João lamentou o atual estado da Baía de Guanabara e fez um apelo pela proteção de nossas paisagens e arquitetura “da incúria que destrói as coisas belas”, afirmando também que “o Brasil é maior do que as pessoas pequenas que o prejudicaram e vai sobreviver a isso tudo”.
Foto: Mauro Rubinstein
poucos meses da comemoração do bicentenário de sua chegada em 1808, D. João VI aportou novamente no Rio de Janeiro, na tarde do dia 28 de agosto de 2007, reencarnado na pessoa de seu quase sósia, o professor e historiador Milton Teixeira, diretor de capacitação do SINDEGTUR / RJ. Vestindo indumentária de época e expressando-se em um português castiço de além-mar, o redivivo príncipe D. João mostrou-se surpreso com as mudanças na cidade durante sua prolongada ausência, um tanto assustado com o trânsito, as novas edificações e a descaracterização de lugares de tão
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Foto: Luiz Augusto
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“O melhor presente de aniversário que poderiam me dar”, revelou emocionado o professor, guia de turismo e dublê de D. João, Milton Teixeira
Foto:Gerardo Millone
D. João leva o povo a passeio pelas ruas do Centro
Um D. João guia de turismo posa com seus colegas
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ciclo de palestras Amsterdam Sauer – SINDEGTUR / RJ reuniu, no mês de agosto, mais de trinta guias de turismo por encontro, em torno de temas de grande apelo para a profissão. No novo Espaço do Guia, recentemente inaugurado na sede da Amsterdam Sauer em Ipanema, dotado de todo o conforto, incluindo recursos de projeção e um rico coffee-break, a palestra inaugural ficou a cargo da nossa competente professora e radialista Lídia Freire – jornalista responsável pelo Papel do Guia – que abordou as técnicas de comunicação, ferramentas fundamentais para o desenvolvimento de um bom trabalho de guiamento. Na semana seguinte, tivemos a apresentação de Rosangela de Carvalho, psicóloga e especialista em gestão de recursos humanos, sobre um conceito-chave para o sucesso profissional: a valorização
Fotos: Mauro Rubinstein
Palestras Amsterdam Sauer – SINDEGTUR / RJ
Daniel Sauer, diretor-presidente da Amsterdam Sauer, mostra o "caminho das pedras", no workshop "Joalheria e Gemologia"
de si mesmo, fundamental para trabalhar com dignidade e garantir o respeito do contratante.
Na terceira semana de agosto, o diretor comercial da Amsterdam Sauer, Vitor Botelho, um reconhe-
cido especialista em “Vender com Arte, Técnica e Convicção”, fez uma esclarecedora exposição sobre como aperfeiçoar e otimizar vendas – evitando atitudes e conceitos errôneos adotados até de forma inconsciente – com ênfase para as necessidades do cliente. Fechando o mês, tivemos a equipe de especialistas da área financeira do Banco Safra, que vieram de São Paulo para nos brindar com uma conferência sobre a situação do mercado financeiro internacional e as repercussões no Turismo, além de tirar as dúvidas cotidianas do pequeno investidor. A animação dos debates foi surpreendente. O ciclo se repete durante todo o mês de setembro, acrescidos de um workshop sobre Joalheria e Gemologia, inteiramente gratuitos. As inscrições devem ser feitas através do SINDEGTUR / RJ, com prioridade para guias de turismo sindicalizados e em dia com suas mensalidades.
Acadêmico
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Comunicação: será que ela é tão importante assim?
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Notas Sindicais OPÇÃO DE TRABALHO À VISTA Pensando nos guias ainda sem colocação no mercado e naqueles colegas veteranos que andam com dificuldade de conseguir trabalho, o SINDEGTUR / RJ sugeriu à Amsterdam Sauer que contratasse guias de turismo como acompanhantes (atenção: a função nem sempre é de guia) para seus clientes de cruzeiros marítimos. A sugestão foi bem aceita e a seleção começará a partir de outubro. Os interessados devem enviar seus currículos para o Jean Dupont (jeangregoire@amsterdamsauer.com) ou deixá-lo com Mara, no Espaço do Guia, na sede em Ipanema. Dica: currículos com fotos têm mais chances.
ANDRÉ MICALDAS NO JARDIM BOTÂNICO EM NOVEMBRO O professor André Micaldas, diretor de Ecoturismo do SINDEGTUR / RJ, vai dissertar sobre a Mata Atlântica (orquídeas e bromélias) no curso Conhecendo o Jardim Botânico do Rio de Janeiro, no dia 19 de novembro, com visita técnica no Jardim Botânico, no dia 22. Investimento para guias sindicalizados: R$ 15,00 por evento (R$ 25,00 para guias não – sindicalizados e o público em geral). Vagas limitadas. Informações e inscrições na secretaria do SINDEGTUR / RJ.
“QUEM SABE FAZ A HORA” Existem aqueles que se esforçam e, mesmo com todas as dificuldades do cotidiano, acham tempo para participar das assembléias do SINDEGTUR / RJ. Eis os recordistas em comparecimentos em assembléias, em um total de 14 encontros, entre abril de 2004 e agosto de 2007. Aguimar Fernandes; Milton Teixeira; Alexandre Miranda; Eleonora Bandeira; Jerry Sasson; Helen Ruth M. De Souza; Neide Lee; Pedro G. Landsberg; Wagner Medeiros; Anna Maria Telles; Carmela De Angelis; Ceni Tardeli; Iraci Schmidt. A professora Lidia Freire palestra no Espaço do Guia, na Amsterdam Sauer
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u acho, sinceramente, que uma grande falha dos educadores é não dizer aos alunos qual a importância e utilidade da matéria que lecionam para a vida prática do estudante. Talvez se agissem dessa forma muitos se dedicassem mais às matérias. Nas aulas que ministro sobre Técnicas de Comunicação, costumo dizer que o falar bem abre portas. E para o guia de turismo, então, nem se fala. Aquele que organiza bem as idéias, que faz bom uso do idioma – com vocabulário apropriado e gramática correta – e consegue transmitir a informação de maneira vibrante tem grande chance de evoluir profissionalmente. O Sindegtur e a Amsterdam Sauer foram brilhantes quando fecharam a parceria para oferecer aos guias de turismo uma série de cinco palestras sobre diferentes temas. E eu tive o privilégio de fazer a de abertura, intitulada Comunicação: transmitindo o seu conhecimento. Pensei: o que falar para guias veteranos, calejados de enfrentar o público? Mas, qual
não foi minha surpresa quando vi a sala cheia de pessoas interessadas em se aprimorar. Acompanhada de meu inseparável microfone – instrumento sempre presente na atividade do guia – falamos sobre objetividade e clareza na informação, ritmo e pronúncia. Apontamos ainda fatores que causam o distanciamento do ouvinte, como repetições de termos indesejados, “buracos” entre as palavras – que interrompem a seqüência da história – e falta de coordenação das idéias. Tenho uma opinião: a voz revela muito sobre a personalidade da pessoa. Ela canaliza nossas emoções e nosso jeito de ser. A postura também é um indicativo de como enfrentamos o mundo, afinal, o corpo fala. Esse também foi um item abordado na palestra sobre comunicação realizada na Amsterdam Suer nos dias 8 de agosto e 5 de setembro. Aos que participaram do evento, vamos torcer para nos vermos em breve, em novo encontro; e aos que não tiveram oportunidade de ir, aguardem uma nova rodada de palestras. Até lá!
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Restinga de Marambaia Preservação ambiental ameaçada
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Ilha de Marambaia, administrada pela Marinha do Brasil e com acesso restrito ao público, considerada umas das regiões mais lindas do Estado do Rio de Janeiro, está sendo ameaçada. Um grupo de moradores remanescentes da Escola de Pesca Darcy Vargas, desativada há 36 anos, entrou com um processo junto no INCRA alegando serem quilombolas (escravos que se dirigiam para o quilombo, povoação fortificada que abrigava negros fugidos do cativeiro). Segundo o professor e historiador Milton Teixeira, trata-se de uma impossibilidade histórica “a existência de um quilombo num porto de engorda de negros para cafeicultores escravocratas”. Para muitos pesquisadores, é preocupante que o destino de dezenas de quilômetros de mata atlântica preservada há 101 anos
pela Marinha possa ser entregue para a provável devastação, perdendo o Rio de Janeiro uma importante reserva biológica. O contingente na ilha tem 350 militares, acomodados em 67 casas. Entre os atrativos da ilha de natureza exuberante e ainda intocada, o Pico da Marambaia (641m) e a capela de N.S. das Dores – a padroeira da ilha – em estilo neocolonial. Uma antiga construção da época da família Breves – grande proprietária de terras na região – foi transformada em um hotel para oficiais e convidados. Esse ambiente paradisíaco, uma das últimas áreas ainda preservadas de mata atlântica no Estado, foi visitado há pouco tempo pela diretoria do SINDEGTUR / RJ, a convite da Marinha do Brasil. A comitiva foi formada pelo diretor de capacitação do Sindicato, profes-
Visão paradisíaca de um dos remanescentes intocados de Mata Atlântica no estado
sor Milton Teixeira, Márcia Rabello (3ª suplente da Diretoria) e pelos guias de turismo Clara Minami e Ricardo Ribeiro. O grupo foi recebido pelo chefe do CADIM – Centro de Adestramento da Ilha de Marambaia – comandante Celso Loureiro, que está na base militar desde fevereiro de 2006 (cada mandato dura de dois a três anos).
HISTÓRIA A Marambaia pertenceu aos jesuítas até sua expulsão do país, no século XVIII. Mais tarde, a casa da antiga fazenda Santa Cruz passou a ser utilizada como residência de veraneio da Família Real e, após a Independência, D. Pedro I introduziu diversas cultu-
ras nas imensas terras abandonadas, bem como aprimorou a criação de cavalos e bois. D. Pedro II usou a casa como residência de verão de 1831 a 1847, mas após a morte de seu primogênito na fazenda e a inauguração do palácio imperial de Petrópolis, o Imperador deixou de ir à Santa Cruz, e deu autorização para o Governo alienar muitos terrenos devolutos da fazenda, entre eles a Restinga da Marambaia. O primeiro documento formal de posse da Ilha da Marambaia foi registrado em 1856, no nome do Comendador Joaquim José de Souza Breves, poderoso cafeicultor, conhecido como o “Rei do Café”, que chegou a ser dono de
Foto do privilegiado grupo de excursionistas à convite da Marinha
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Cultural
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Museu do Corpo de Fuzileiros Navais
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“A raiz da árvore tomou conta da casa. Conta o coronel, nosso acompanhante, que uma semente caiu no telhado há muitos anos e foi descendo em busca do solo”
37 fazendas e 27 chácaras, da costa oceânica sul da Província do Rio até o interior de Minas Gerais. Escravocrata convicto, ele possuía em suas herdades seis mil deles, sendo mil e quinhentos apenas em sua fazenda da Grama, em São João Marcos. Na Marambaia, Breves montou uma fazenda com grandes galpões e senzalas, construindo importante porto que, em sua época, foi um dos mais movimentados do Brasil. Traficante de escravos, J. J. Souza Breves desembarcava ali os negros vindos da África, transformando a Marambaia num grande centro de “engorda” de escravos, já que eles ali chegavam muito estropiados pela longa e desconfortável viagem da Costa da Mina a Guaratiba. Depois de bem alimentados eram vendidos nos mercados de negros que existiam em quase todas as vilas da região. A proibição do tráfico de escravos em 1850 não impediu Breves de continuar o negócio, até que um navio seu foi capturado pela polícia em fins de 1854, no porto de Bracuí, distrito de Angra dos Reis, onde o “Rei do Café” mantinha atividade semelhante. Breves chegou a ser processado, caiu em desgraça perante o Imperador, mas acabou absolvido. O Comendador reiniciou suas atividades, continuando a traficar escravos e engordá-los na ilha até a Abolição, em 1888. Conta-se que em Marambaia ele fazia estra-
nhas experiências genéticas. Selecionava as escravas de pele mais clara e as fazia se relacionar com homens louros, para assim possuir um séqüito de escravas louras, que o seguiam quando saía a passeio por São Cristóvão, atitude que provocou escândalo na Corte. O Comendador Breves faleceu em setembro de 1889, coberto de dívidas, e muitas de suas terras foram então invadidas pelos ex-escravos. No início do século XX, a União adquiriu a Restinga da Marambaia com todas as suas benfeitorias e, a partir de 1906, foi posta à disposição da Marinha do Brasil. Em 1943, uma parte da ilha da Marambaia (8,5 km) foi cedida à Fundação Abrigo do Cristo Redentor, para a instalação da Escola de Pesca Darcy Vargas. Nessa época, vários trabalhadores e familiares vieram de vários pontos do Brasil e foram lá trabalhar. Muitos continuaram residindo na Restinga, onde ocuparam terrenos e ergueram suas casas. Em 1971, a escola foi extinta e seu terreno e bens reintegrados ao patrimônio da União. Em 1981, foi criado o Centro de Adestramento da Ilha da Marambaia (CADIM), lá situado até os dias de hoje.
ocalizado na Ilha das Cobras, na cidade do Rio de Janeiro, o Museu do Corpo de Fuzileiros Navais está integrado ao sítio histórico da Fortaleza de São José, onde, em 1809, instalou-se a Brigada Real da Marinha, origem do Corpo de Fuzileiros Navais. O Museu expõe seu acervo em túneis que foram construídos para servir de ligação segura entre as fortalezas erguidas pelos portugueses, a partir do século XVII, naquela ilha. A curiosa ambientação, pouco comum em museus tradicionais, provoca uma proximidade do visitante com as peças expostas. Na primeira galeria, estão reunidas peças de uniformes, medalhas, documentos, prataria e material arqueológico, além da maquete das fortificações que formavam o complexo de onde se originou a atual Fortaleza de São José. Ao longo do segundo túnel, ficam dispostos antigos armamentos, sobressaindo-se uma espingarda de chumbeira de 1859, além do primeiro Regulamento da Brigada Real da Marinha (1808) e um manuscrito de 1811 com a O impressionante túnel hoje abriga objetos e documentos de grande valor histórico
Fonte: apostila “Restinga da Marambaia”, do professor Milton Teixeira. Agradecimentos especiais a Milton Teixeira e Márcia Rabello pelos textos e imagens.
Fotos: Mauro Rubinstein
Detalhe da galeria de exposição de uniformes militares
nomeação de oficiais para servirem à Brigada. São destaques do circuito expositivo uma motocicleta HarleyDavidson modelo 1953 e uma escavação arqueológica, na qual o visitante pode observar parte do contraforte da muralha da Fortaleza, construída no século XVIII. O Museu do CFN participa do projeto “Fim de Semana no Centro” e, no segundo fim de semana de cada mês, abre suas portas ao público. A partir das 11h, no Espaço Cultural da Marinha (ECM), são distribuídas senhas para embarque nos ônibus que conduzem os visitantes do ECM até o Museu do CFN. Ao término da visitação, os mesmos ônibus retornam ao ponto de partida. O horário de visita durante esse evento é das 12h às 16h, com transporte disponível a cada hora. O Museu do CFN oferece ainda auxílio a pesquisas históricas, acesso ao arquivo iconográfico com mais de cinco mil imagens e a possibilidade de expor externamente parte de seu acervo, desde que devidamente autorizado pelo Comando-Geral do CFN.
Boca no Microfone
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Centro do Rio corre o risco de, a exemplo de outros casos, perder uma bela construção do século XXI. Trata-se do Edifício Príncipe Dom João, situado na Praça Mauá 10. Vazio há dez anos, o prédio é vitima de uma confusão judicial. Ele chegou a ser objeto de um processo de desapropriação da prefeitura, interrompido em 2004, quando o prefeito César Maia foi procurado pelo empresário Cid Ferreira, que se dizia interessado em comprar o imóvel para virar sede carioca do Banco Santos. Em 2003, o Portus – Instituto de Seguridade Social – vendeu o palacete à Procid, holding do Banco Santos. No entanto, após a intervenção e a liqüidação da instituição financeira pelo Banco Central, a Procid suspendeu o pagamento ao Portus. Na tentativa de preservar a construção e chamar a atenção para o problema, a fundação Onda Azul organizou uma manifestação pacífica no dia 27 de agosto passado. Intelectuais, artistas e arquitetos deram um abraço simbólico no prédio. Para muitos deles, a melhor alternativa seria a prefeitura desapropriar o imóvel, reformá-lo e licitar a conces-
Fotos: Gerardo Millone
Edifício Príncipe Dom João: um patrimônio ameaçado são do espaço para a iniciativa privada. EDIFÍCIO PRÍNCIPE D. JOÃO – PRAÇA MAUÁ, 10 O edifício, que ocupa toda a quadra, faz o fechamento de um dos lados da Praça Mauá. Projetado em 1912, as obras pararam com a eclosão da Primeira Guerra Mundial, que impossibilitou a importação de material de construção, sendo apenas inaugurado em 1920, Seu construtor e provável projetista foi o arquiteto Orlando Alves da Silveira. O ritmo classicizante da fenestração é rompido para valorização do centro da composição, realçado por uma cúpula com mastro monumental de cerca de seis metros de altura. A grande bandeira que ali tremulava acenava com as cores da pátria para quem desembarcava do navio. Para manter as três partições clássicas horizontais, o último pavimento se finge de telhado e suas janelas simulam lucarnas. Em 1920 o edifício passou a abrigar a Inspetoria de Portos, Rios e Canais, cuja razão social mudou alguns anos depois para Departamento Nacional de Portos
A manifestação contra o descaso atraiu um grande número de pessoas, incluindo guias de turismo
e Vias Navegáveis. Em 1934, o Presidente Getúlio Vargas reestruturou essa autarquia, denominando-a Portobras – Empresa de Portos do Brasil S/A, extinta em 1990 pelo Presidente José Sarney, que transferiu esse encargo para as nove companhias de docas existentes, ficando o porto do Rio administrado pela empresa Docas do Rio de Janeiro. No mesmo ano de 1990, passou a ocupar o prédio a subsidiária da Portobras, a PORTUS S/A, criada em 1979, e que é a ocupante do prédio até hoje. Nesse tempo, a PORTUS mudou de sede
e o belo prédio está fechado há mais de dez anos, sendo visíveis os sinais que está sendo dilapidado pouco a pouco. O revestimento de cobre da cúpula já se foi há dois anos, e agora começam a desaparecer portas e janelas. O prédio é tombado pela Municipalidade desde 1990, mas a empresa PORTUS recusa-se a receber o auto de tombamento. Agradecimento a Milton de Mendonça Teixeira e Gerardo Millone.
O PAN que não saiu na mídia
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traslado para a festa de abertura PAN, no Maracanã, envolvia quatro ônibus com cerca de 80 visitantes brasileiros e estrangeiros. Antes mesmo de lá chegar, já nos deparamos com a falta de organização: ninguém sabia onde era a área de desembarque para ônibus de turismo. Cada autoridade a que perguntávamos – PM, Guarda Municipal e Força Nacional – informava coisas diferentes. Nossos ônibus estavam identificados – em letras garrafais – com a marca e o nome de uma empresa parceira do PAN. As filas para entrar já com ingresso na mão eram quilométricas. Faltava orientação e agilidade na revista (havia um scanner por onde deviam passar os pertences dos usuários). Dentro do estádio, o novo obstáculo era a má sinalização e
a falta de conhecimento dos tais voluntários cívicos. Alguns deles admitiram jamais terem pisado no estádio antes. Quando finalmente chegamos aos nossos lugares, surpresa! Já estavam ocupados com alegres espectadores que apresentaram bilhetes idênticos aos nossos, ou seja, em duplicidade. Para confundir um pouco mais o usuário, o número da fila e do assento que constava no bilhete tinha tamanho milimétrico, mal dava para ler. Conclusão: sentem-se onde puderem... Terminada a festa, para embarcar nos ônibus, mais dois quilômetros de caminhada até um lugar ermo, sem luz nem segurança, onde permitiram o estacionamento de veículos, local que só descobrimos após constantes telefo-
nemas ao motorista, pois ninguém da organização do PAN soube informar. No dia seguinte, a missão era levar os clientes ao Autódromo de Jacarepaguá. Missão, aliás, quase impossível, pois a desinformação era a mesma do dia anterior, sendo que, dessa vez, cada nova autoridade que encontrávamos no caminho desautorizava uma ordem anterior. Finalmente, chegamos aos nossos assentos para assistir à Ginástica Olímpica. Encontramos, outra vez, nossos lugares ocupados por pessoas com ingressos em duplicidade e tivemos dificuldades idênticas as já mencionadas para o embarque, no momento da saída. No fim de semana fomos à Vila Militar e, como sempre, ninguém se entendia sobre onde desembarcar os
passageiros para assistir às provas! No sábado seguinte, no estádio João Havelange – o Engenhão – deu-se o caos absoluto. Ficamos parados debaixo de chuva torrencial, em fila de mais de dois quilômetros, aguardando a vez de ser escaneado para entrar no estádio. Cada checagem durava uns três minutos. Ficamos uma hora e meia na chuva. Parece que o PAN não foi previsto para o caso de chuva... Dentro do estádio, mais um dilema para o infeliz espectador: ou comia o sanduíche mesquinho do Bob’s ou passava fome. Somos grandes em Esporte, Carnaval e Música, pequenos em organização, ínfimos no respeito às pessoas. O autor do depoimento prefere manterse anônimo.