espaço e memória: a arquitetura como experiência

Page 1

espaço e memória a arquitetura como experiência


Elaborada pelo sistema de geração automática de ficha catalográfica do Centro Universitário Senac São Paulo com dados fornecidos pelo autor(a). de Paulo, Matheus Joris Espaço e memória: a Arquitetura como experiência / Matheus Joris de Paulo - São Paulo (SP), 2021. 151 f.: il. color. Orientador(a): Myrna de Arruda Nascimento Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo) - Centro Universitário Senac, São Paulo, 2021. 1. Arquitetura 2. Modelagem 3D 3. Memória 4. Atmosferas 5. Narrativas I. Nascimento, Myrna de Arruda (Orient.) II. Título


2021_2

são paulo

trabalho de conclusão de curso centro universitário SENAC

espaço e memória a arquitetura como experiência

matheus joris de paulo orientado por:

prof. dr. myrna de arruda nascimento



agradecimentos

Aos meus pais, que foram o alicerce fundamental da minha formação e sem os quais o desenvolvimento do presente trabalho nunca teria sido possível. À minha irmã, que com sua sensibilidade artística e experiência me auxiliou tanto. Aos meus amigos, que cotidianamente me motivaram, alegraram e ajudaram no meu processo de formação. E, por fim, agradeço à minha professora e orientadora Myrna Nascimento, por sempre estar presente e por sempre me auxiliar nas direções a serem tomadas com sua profunda experiência.


resumo

Originado a partir do fascínio e sensibilidade do autor para com a modelagem 3D, o presente trabalho é um ensaio que explora essa tecnologia no âmbito da arquitetura ao relacionar o espaço (físico ou virtual) à memória. Através de diversas referências bibliográficas pode-se explicitar o processo de criação de memórias pela construção do espaço. A experimentação tridimensional, neste projeto, tem valor de construir narrativas de forma visual e/ou despertar sentimentos relacionados a reminiscência.

Palavras-chave: Arquitetura, Modelagem 3D, Memória, Atmosferas, Narrativas


abstract

Originated from the author’s fascination and sensitivity to 3D modeling, this work is an essay that explores this technology in the scope of architecture by relating space (physical or virtual) to memory. The process of creating memories through the construction of space can be explained through several bibliographical references. The three-dimensional experimentation, in this project, has the value of constructing narratives in a visual way and/or awakening feelings related to reminiscence.

Keywords: Architecture, Atmospheres, Narratives

3D

Modeling,

Memory,


sumário

introdução

12

capítulo 1 - os conceitos de memória

15

1.1_conceito psicológico de memória

16

1.2_conceito histórico de memória

17

1.3_a sociologia e a memória coletiva de Halbwachs

19

capítulo 2 - memória e montagem

23

2.1_a montagem de sergei eisenstein e a memória

25

capítulo 3 - arquitetura como experiência: atmosferas e essências

29


capítulo 4 - narrativas

37

38

4.1_great pretender

4.2_lara

44

4.3_cidades invisíveis

52

capítulo 5 - reminiscências

71

5.1_eduardo ehlers

72

5.2_caio césar

76

5.3_iau

80

5.4_felipe

84

5.5_rafa

86


5.6_fernando estima

88

5.7_cris

92

5.8_myrna

96

5.9_cenários

103

5.9.1_eduardo ehlers

104

5.9.2_iau

116

5.9.3_myrna

126

memória minha

139

lista de imagens

142

referências bibliográficas

148



introdução

O projeto se origina em razão do entusiasmo e habilidade do autor em modelagem tridimensional. A representação digital dos espaços torna-se, nos momentos atuais de pandemia, principalmente, recurso sine qua non que permite a rememoração de ambientes que não podemos presenciar. A curiosidade sobre os processos de criação e visualização 3D, de um modo geral e não apenas arquitetônico, é fator fundamental no desenvolvimento do tema. Procurou-se unir tal elemento aos fundamentos da arquitetura e da memória, que são, por sua vez, intrinsecamente conectadas. Além disso, a liberdade criativa na utilização de softwares de modelagem torna possível uma produção tanto mais imaginativa e fantasiosa quanto realista. A experiência com arquitetura de interiores, que inclui detalhamento minucioso e a atenção a todo tipo de diferença de ambientes a partir da diversidade de revestimentos, dimensões e formas construtivas está

contemplada também nesse trabalho, uma vez que é um domínio que fica evidente na modelagem tridimensional. O presente trabalho tem como objetivo explorar as relações da arquitetura em sua essência com a memória a partir de ensaios que explicitam as atmosferas e experiências geradas pelo meio arquitetônico. Isso se dá através da modelagem 3D de cenários selecionados de acordo com a narrativa do projeto. Estes exploram as dimensões inventivas, imaginativas e fantasiosas abrangidas nos fundamentos da disciplina com finalidade de evidenciar que a matéria ressoa além do tátil. A metodologia adotada é baseada no estudo de bibliografias que tratam dos conceitos de memória, através de autores que discutem a relação entre memória e esquecimento, a montagem, atmosferas, experiências e as dimensões da criação, partindo do ponto de vista da elaboração de imagens do espaço. A partir da


13

compreensão destes temas correlatos ao interesse do TCC, foram feitas experimentações realizadas no âmbito das representações tridimensionais, que buscam traduzir as intenções das narrativas selecionadas para a construção dos espaços. Para o entendimento holístico do assunto, o projeto é estruturado do micro para o macro. Inicialmente, introduzimos o leitor aos diversos conceitos de memória de acordo com as diferentes áreas do conhecimento: arquitetura, psicologia, história, sociologia e filosofia. Após apresentado o cerne do tema, buscamos desenvolver a relação da arquitetura com esses conceitos de memória e os processos de formação da mesma segundo os fundamentos da arquitetura e de montagem, do cineasta russo Sergei Eisenstein. A fundamentação do trabalho é aprofundada no capítulo

3, no qual são utilizados os arquitetos Peter Zumthor e Juhani Pallasmaa como referência, para se discutir a presença da memória desde a essência deste campo do conhecimento (Arquitetura), e onde esta se encontra nas atmosferas e experiências concebidas pela materialização do espaço no tempo. Com o anseio de experimentar, buscou-se desenvolver ensaios que tocam nas dimensões de criação encontradas em Munari e relacionadas à arquitetura e seus fundamentos. O experimento como um todo é composto em três partes e temas materializados através da tecnologia de modelagem tridimensional e diferentes formas de representação. Por fim, apresentamos as Conclusões Parciais, com as perspectivas de continuidade deste Trabalho de Conclusão de Curso, bem como a lista de imagens e as referências bibliográficas consultadas.



15

os conceitos de memória

A memória pode ser estudada e compreendida através de relações que abrangem diversas áreas do conhecimento, como filosofia, sociologia, ciência e psicologia. Neste primeiro capítulo serão exploradas variadas visões desta faculdade de conservar e lembrar fatos, pessoas, e estados de consciência passados, e associações possíveis de serem estabelecidas com eles. (HOUAISS, p.1890). A arquitetura, por sua vez, apresenta papel fundamental na formação de memória. Monumentos, paisagens, o patrimônio arquitetônico e seu estilo são ditos como lugares da memória por Pierre Nora1 (1985 apud POLLAK, 1989), e podem ser interpretados como a solidificação do tempo. O espaço construído permeia experiências e, consequentemente, é manchado por histórias e lembranças de um indivíduo ou de um coletivo. 1 P. Nora, Les lieux de mémoire, Paris, Gallimard, 1985.


conceito psicológico de memória Inicialmente, apresentamos a memória segundo uma abordagem psicológica, definida por Mourão Júnior e Faria (2015), para os quais o conceito apresenta uma classificação fenomenológica dividida em três partes sintetizadas a seguir. Primeiro, a memória sensorial, a que permite a absorção de informações através dos sentidos (estímulos visuais, auditivos, gustativos, olfativos, táteis ou proprioceptivos) e tem caráter pré-consciente. É um tipo de memória considerado ultrarrápido, pelo fato de ser responsável apenas pela absorção da informação sensorial momentânea. A memória de trabalho, por sua vez, não somente armazena informações como as evoca e processa. Esta entra em ação para se assumir um certo comportamento diante uma situação ou para fazer certa atividade.

Os dados são recuperados e armazenados por tempo suficiente para concretizar o “trabalho” em questão, pouco depois sendo esquecidos. Este tipo apresenta classificações internas como esboço visuoespacial, responsável por evocar alguma imagem mental; alça fonológica, no qual reproduzimos sons mentalmente; e retentor episódico, que resgata memórias antigas para promover uma comparação com os novos estímulos recebidos. Por fim, tem-se a memória de longa duração, dividida em duas categorias: memória declarativa e memória não declarativa (ou implícita). Segundo o autor, a declarativa é aquela que armazena episódios de nossa vida, como por exemplo certo acontecimento marcante na infância (memória episódica), e fatos não relacionados a tempo e espaço específicos, como conhecimentos adquiridos na escola (memória semântica). Memórias não declarativas,


17

os conceitos de memória conceito histórico de memória por outro lado, operam em nível subconsciente. Abrangem as memórias motoras (adquiridas através da repetição) e o priming (tipo de memória induzido por pistas, como por exemplo quando não nos lembramos do caminho para um certo destino, mas ao nos depararmos com algum ponto de referência o resto do trajeto se esclarece). No campo da história, a memória adquire outros papéis e relaciona-se a contextos conectados com os acontecimentos e com o nível de envolvimento que tivemos com eles. No que se diz respeito à ciência histórica, segundo Paul Ricoeur (2003), a elaboração literária deste objeto tem grande papel na disseminação (e alteração) da memória. Devido ao fato de haver envolvimento humano na transmissão da memória por meio de diferentes testemunhos, têm-se diferentes interpretações e a ideia

matriz se fragmenta. Ricoeur foca ainda em três traços da memória como passado: a presença, a ausência e a anterioridade. A recordação apresenta-se para o receptor da memória em forma de imagem, “presente no espírito como alguma coisa que já não está lá, mas já esteve” (2003, p. 2). Após a apreensão da rememoração, a experiência do reconhecimento traz certeza da presença da tal ausência do passado. O esquecimento e a rememoração andam juntos, segundo o autor. Certas ações e conflitos inconscientes são responsáveis pela busca de memórias específicas que aparentavam ter sido esquecidas – como exemplo do priming e de outras memórias de longa duração, discorridas anteriormente.


Assim como Ricoeur, Andreas Huyssen, em seu livro Seduzidos pela Memória, de 2000, trata a memória de forma histórica, adicionando características culturais, sociais, políticas e até comerciais. Evocando o Holocausto, o professor alemão evidencia a globalização da memória e sua mercadorização, pelo fato da tragédia histórica ser explorada em diversos meios no mundo moderno: cinema, museus espalhados pelo mundo, contos, romances, etc. O autor destaca a tendência de comercialização e do entretenimento memorialístico: Desde a década de 1970, pode-se observar, na Europa e nos Estados Unidos, a restauração historicizante de velhos centros urbanos, cidadesmuseus e paisagens inteiras, empreendimentos patrimoniais e heranças nacionais, a onda da nova arquitetura de museus (...), o boom das modas retrô e dos utensílios reprô, a comercialização em

massa da nostalgia, a obsessiva automusealização através da câmera de vídeo, a literatura memorialística e confessional, o crescimento dos romances autobiográficos pós-modernos (com as suas difíceis negociações entre fato e ficção), a difusão das práticas memorialísticas nas artes visuais, geralmente usando a fotografia como suporte, e o aumento do número de documentários na televisão, incluindo, nos Estados Unidos, um canal totalmente voltado para história: o History Channel. (HUYSSEN, 2000)

É possível traçarmos paralelos com esta reflexão até nos dias de hoje - 21 anos após a publicação do texto. A mídia globalizada, reforçada pelas redes sociais, faz perpetuar um sentimento de nostalgia coletivo. A facilidade do acesso à informação permite a rememoração imediata e simples de diversos aspectos do passado: tanto fatos históricos quanto objetos de entretenimento passados são retomados constantemente. Ironicamente, este desejo de rememoração é trazido pelo excesso informacional em questão, causador de desconforto e ansiedade.


19

os conceitos de memória a sociologia e a memória coletiva de Halbwachs Uma terceira e importante abordagem sobre memória destacada pelo autor seria a sociológica. De acordo com Schmidt e Mahfoud (1993), Maurice Halbwachs2 (1877-1945) aborda a memória como sempre construída em grupo, mas também sendo trabalho do sujeito. Um conceito halbwachiano explicitado pelos autores é o de grupos de referência: (...) é um grupo do qual o indivíduo já fez parte e com o qual estabeleceu uma comunidade de pensamentos, identificou-se e confundiu seu passado. O grupo está presente para o indivíduo não necessariamente, ou mesmo fundamentalmente, pela sua presença física, mas pela possibilidade que o indivíduo tem de retomar os modos de pensamento e a experiência comum próprios do grupo. A vitalidade das relações sociais do grupo dá vitalidade às imagens, que constituem a lembrança. Portanto, a lembrança é sempre fruto de um processo coletivo e está sempre inserida num contexto social preciso (SCHMIDT; MAHFOUD, 1993)

Além disso, a lembrança necessita de uma comunidade afetiva para ter consistência e não ser esquecida, permitindo ao indivíduo retornar à mentalidade de um grupo no passado, pensar e lembrar como membro deste grupo. Portanto, a memória é ligada ao apego e o esquecimento ao desapego. Para Halbwachs (1990 apud SCHMIDT, MAHFOUD, 1993), a lembrança é reconhecimento e reconstrução: reconhecimento pois carrega o sentimento do já visto anteriormente; reconstrução pelo fato de, por um lado, resgatar acontecimentos e experiências passadas e inseri-los no contexto e interesses atuais e, por outro lado, por ser destacada dos acontecimentos e vivências evocadas, localizada num tempo, espaço e conjunto de relações sociais específicos. Segundo Schmidt e Mahfoud, “tanto o reconhecimento

2

Maurice Halbwachs foi um sociólogo francês reconhecido pela sua teoria sobre a memória coletiva.


quanto a reconstrução dependem da existência de um grupo de referência” (1993), visto que lembranças retomam relações sociais construídas a partir de dados e noções compartilhadas por tal grupo. Os grupos traçam uma rede espaço-temporal social na qual as lembranças são localizadas e articuladas pela memória. Pode-se reconhecer essa teoria em certos momentos que ressaltam o fato de que certas memórias são fixadas e posteriormente retomadas por um público-alvo específico. As experiências obtidas por uma geração nascida nos anos 90, por exemplo, são totalmente diferentes daquela nascida em 1970; logo, as memórias também. Elas serão formadas e retomadas em conjunto justamente devido ao compartilhamento de vivências comuns à mesma época.

Em uma hipotética experiência em grupo, o sentimento de nostalgia que se têm ao ouvir uma música singular pode ser despertado por uma parcela dos indivíduos, enquanto outra parcela, que não compartilha da mesma vivência, não despertará para tais emoções. A memória coletiva é claramente identificada a partir do ensaio dos dois autores. Segundo Pollak (1989), o elemento arquitetônico é visto, em Halbwachs, como um dos pontos de referência que estruturam a memória da coletividade a que pertencemos.


21

Figura 1 Retrato de Maurice Halbwachs Fonte: medihal.archivesouvertes.fr, 2010


2


2

23

memória e montagem

Após a compreensão da abrangência conceitual da memória, colocamos em discussão questões que tratam da relação entre memória X espaço vivenciado; fragmentos X noção do todo; narrativas X ambientes arquitetônicos modelados. Alguns autores abordam discussões relacionadas a estas antinomias através de seus campos de criação. O conceito de montagem, por exemplo, desenvolvido por Sergei Eisenstein, e apresentado em sua obra Reflexões de um Cineasta (1969), expõe a ideia de memória como um processo de lembrança, formada pela criação de uma imagem integral, geral, e não dispersa em fragmentos isolados. Sua evocação se dá através de um estímulo “total”, completo e absoluto.


Figura 2 Diagrama de montagem para o filme Alexander Nevsky, de Sergei Eisenstein - 1938 Fonte: rosebud.club, 2020


25

memória e montagem a montagem de Sergei Eisenstein e a memória Segundo Eisenstein, dois planos colados combinam numa nova representação: quando, por exemplo, são justapostos dois fatos, dois processos, dois objetos, nos induz a elaborar generalizações e clichês. O autor referencia um trecho de uma obra na qual uma mulher de preto está em prantos ao lado de um caixão, fato que gera a ideia de uma viúva que perdeu o marido; no entanto, acaba por se conhecer que o falecido no caso era o amante. Objetos isolados têm percepções diferentes do que quando justapostos: a justaposição gera novos conceitos, novas representações, novas imagens. A montagem consiste no conceito no qual elementos são tidos como uma representação particular dentro de um único tema conjunto; a justaposição destes em um certo modo de montagem torna possível a visualização do todo, em uma imagem sintética que se tornará presente na obra para

ser revivida posteriormente. Só é possível registrar algo na memória quando se forma a imagem integral formada por seus diversos elementos constitutivos. A imagem una e total fixa-se na consciência e na sensibilidade tanto na vida quanto em obras de arte. Como exemplo, o autor cita a assimilação da imagem de ruas nomeadas por números (42 e 45), fato este que traz dificuldades na retenção da memória. O processo do registro se dá ao lembrar de elementos separados da rua para, então, conseguir se ter uma imagem integral da mesma. “(...) a parte penetra na consciência e na sensibilidade por intermédio do todo e o todo por intermédio da imagem.” (1938, p. 146). O registro pela memória tem 2 etapas: a de formação da imagem e a do resultado dessa formação e seu significado para a evocação (etapa mais importante). A obra de arte


procura atingir o resultado; é um processo de formação das imagens na sensibilidade e na inteligência do espectador. Deve mostrar ao espectador a evolução do processus. Para reforçar o argumento o autor cita: Esta condição confirma-se sempre e em qualquer lugar, seja qual for o domínio da arte abordado. É assim que, para o ator, «interpretar como na vida» consiste menos em representar o resultado copiado dos sentimentos do que em fazer nascer esses sentimentos, em fazer com que se desenvolvam e se transformem, em torná-los vivos perante o espectador. É por isso que a imagem duma cena, dum episódio, duma obra, etc., não existe como um dado préfabricado, antes deve desabrochar, expandir-se. (EISENSTEIN, 1938. p. 148)


27

Figura 3 Foto de Sergei Einsenstein Fonte: sensesofcinema.com, 2017


3


3

29

arquitetura como experiência: atmosferas e essências Figura 4 Retrato de Peter Zumthor Fonte: ch.alessi.com, 2021

A ideia de “Atmosfera” tem origem no conceito de “qualidade arquitetônica”, que significa “ser tocado por uma obra'' ao experimentá-la, vivenciá-la ou (re)conhecêla em sua expressão particular. Está intrinsecamente ligada à percepção emocional, a qual funciona instintivamente e nasce com o ser humano. Pode-se sentir a atmosfera do espaço arquitetônico imediatamente após entrar num edifício pela primeira vez, absorvendo a presença do espaço. A partir da citação de um texto que apresenta uma certa experiência sua, Peter Zumthor, em seu livro Atmosferas (2006), destrincha como se manifesta a atmosfera e mostra a magia do real e do verdadeiro: Agora, o que é que me tocou? Tudo. Tudo, as coisas, as pessoas, o ar, ruídos, sons, cores, presenças materiais, texturas e também formas. Formas que consigo compreender. Formas que posso tentar ler. Formas que acho belas. E o que é que


me tocou para além disso? A minha disposição, os meus sentimentos, a minha expectativa na altura em que ali estive sentado. (ZUMTHOR, 2006. p. 16)

No entanto, se a praça a que o mesmo se refere no trecho fosse eliminada, seus sentimentos desapareceriam. O que dá força à atmosfera do local é a magia do real – as interações entre pessoas e coisas que são permitidas, ou acontecem subitamente, pelo e no espaço. Para efeito de detalhe serão levantados os elementos que o arquiteto utiliza para compor o sentido de atmosfera. Em primeiro lugar, “O corpo da arquitetura” aborda a presença material dos objetos de uma arquitetura e a comparação desta com um corpo, composto por massa, membrana, tecido, ou até mesmo pano, invólucro, seda etc. Segundamente, “A consonância dos materiais” foca na

infinidade de possibilidades de se explorar o material: o mesmo material apresenta diversos acabamentos, combinações, disposições diferentes. O arquiteto imagina e, posteriormente, na obra, testa as possibilidades infinitas. Em seguida, “O som do espaço” se apresenta: “Cada espaço funciona como um instrumento grande, coleciona, amplia e transmite os sons.” (2006, p. 28). A diversidade dos materiais e as formas geram uma diversidade de sons distintos ao se relacionarem com o indivíduo e com o meio. A quarta resposta, “A temperatura do espaço”, fala da capacidade de certos materiais em reterem ou não o calor; cada espaço tem uma temperatura própria, trazida pela composição dos materiais em troca constante com corpos humanos e o ambiente.


31

arquitetura como experiência: atmosferas e essências

Em “As coisas que me rodeiam”, Zumthor destaca a vida trazida às suas arquiteturas a partir dos objetos e decoração trazidos pelos usuários e que, por vezes, carregam uma bagagem emocional. O sexto ponto, “Entre a serenidade e a sedução”, denota o caráter temporal da arquitetura, e não só espacial: não se vive um edifício por um momento, mas sim durante tempos em que nos movimentamos pelo mesmo. De acordo com as variadas utilizações, busca-se trazer ao espaço uma qualidade de conduzir, seduzir – natureza que induz o indivíduo a deambular – ou criar serenidade. “A tensão entre interior e exterior” sinaliza para as diferenças entre o dentro e o fora, o privado e o público. Podemos exemplificar o sétimo conceito, a partir do seguinte trecho:

Tenho um castelo, vivo neste castelo e perante o exterior mostro esta fachada. A fachada diz: sou, posso, quero (...). E a fachada diz também: mas eu não vos mostro tudo. Certas coisas estão lá dentro e não vos dizem respeito. É assim com o castelo, mas é também assim num apartamento dentro da cidade. (ZUMTHOR, 2006. p.46-48)

O tema próximo é dito por Zumthor como recémdescoberto e é denominado de “Degraus da intimidade”. Refere-se a dimensões, massas, escalas, em um sentido mais corporal. A intimidade entre o ser e o edifício e seus elementos. Para pensar neste aspecto e desenvolver mentalmente a possível sensação desencadeada pelo seu projeto, o arquiteto procura projetar para si, quer seja sozinho ou inserido em um grupo. Põe-se no lugar daquele que usufrui de sua obra. Questiona-se: o que teria de fazer para me sentir bem nesse lugar? Por último, “A luz sobre as coisas” é enunciada. O autor


Figura 5 Fotografia de Termas de Vals - projeto por Peter Zumthor, 1996 Fonte: Foto por Hélène Binet, 2006

apresenta duas ideias preferidas: pensar o edifício inicialmente como uma massa de sombra e ir iluminando-o artificialmente e deixando a luminosidade infiltrar-se; e colocar os materiais e superfícies à luz e observar como refletem. Citando uma de suas experiências, o arquiteto consegue revelar o papel da iluminação na atmosfera: em um trabalho de Walter De Maria, a utilização do ouro em um ambiente profundo – longe da iluminação natural – toca-o, parecendo ter captado do escuro “as mais ínfimas partículas de luz” e refletindo-as. (ZUMTHOR, 2006, p. 58) Além desses nove pontos, o arquiteto suíço admite ter mais três destaques que, desta vez, tratam de ideias mais subjetivas do que as anteriores, objetivas, encontradas no dia a dia de trabalho em seu ateliê. O primeiro suplemento que o motiva é “A arquitetura como espaço envolvente”, que abrange um sentimento de nostalgia


33

arquitetura como experiência: atmosferas e essências

tratado previamente no trabalho: mostra-se o desejo de projetar o edifício que marcará um momento na vida do indivíduo, momento este que poderá ser lembrado daqui a 20 anos, por exemplo, tendo como espaço de memória um espaço por ele projetado. A “Harmonia”, segundo destaque, apresenta-se como mais uma sensação. É a beleza de quando as coisas se encontram e formam um todo; o lugar, a utilização e a forma. A última, de acordo com Zumthor, deve surgir da sua utilização. Como último objetivo pessoal de suas arquiteturas é apresentada “A forma bonita”. A forma, como dito no parágrafo anterior, é resultado da utilização somada às outras coisas: som, ruídos, materiais, anatomia, construção, etc. Como resultado, busca-se no final uma forma agradável e feliz, proveniente do processo geral do

projeto. Caso não haja beleza nem toque os sentimentos, Peter Zumthor volta e recomeça o projeto desde o início. Tal qual ressaltado por Zumthor em seu tópico sobre Arquitetura como espaço envolvente, Juhani Pallasmaa, arquiteto finlandês, compartilha um mesmo pensamento sobre a arquitetura e a memória: as edificações e paisagens materializam o tempo ao conter as experiências cotidianas e externalizam a memória – retêm na lembrança do indivíduo certos momentos e experiências (e não necessariamente imagens) vividos no espaço. A partir do trecho “Meus olhos já esqueceram o que viram outrora, mas meu corpo ainda se lembra” (PALLASMAA, 2018, p. 19) o autor conceitua a memória como corporificada, sentida, e não como uma capacidade cerebral. De fato, escritores, cineastas, poetas e pintores não apenas representam paisagens ou casas como contextos geográficos físicos e físicos inevitáveis


Figura 6 Fotografia de Termas de Vals - projeto por Peter Zumthor, 1996 Fonte: Foto por Hélène Binet, 2006

para os eventos de suas estórias – eles buscam expressar, evocar e ampliar emoções, estados mentais e memórias dos seres humanos por meio de retratações propositais dos ambientes, sejam naturais, sejam antropogênicos. (PALLASMAA, 2018. p.28)

A arquitetura deve ser vivenciada para obter-se certas respostas sobre a mesma; os significados obtidos a partir da experiência diferem daqueles provindos da ciência, que são, por exemplo, aspectos construtivos, estruturais e formais. O pensamento fenomenológico contribuiu na consolidação dessa abordagem experiencial. Segundo John Dewey, em Art as Experience (1934 apud PALLASMAA, 2018), a arte é sempre o produto da experiência de uma interação entre o indivíduo e seu ambiente, sendo a arquitetura um exemplo claro da reciprocidade dos resultados dessa interação. A experiência, então, pode ser vista como o encontro


35

arquitetura como experiência: atmosferas e essências

da realidade arquitetônica com o ser humano que desencadeia na sensibilidade uma série de emoções: a fusão entre o físico e o mental. Para o autor, a percepção do espaço para a experiência da arquitetura não são os sentidos somados, nem a visão direcional ou periférica, mas o senso existencial: a presença do corpo no espaço, o senso de existir e ter uma identidade e a percepção total que se relaciona com todos os sentidos simultaneamente. Estas percepções interagem com a memória e a imaginação, contribuindo para a formação de uma experiência integrada com diversos significados. A experiência é intuída no projeto por meio da atmosfera criada pelo arquiteto, podendo-se assim relacionar os conceitos dos dois autores presentes neste capítulo:

Ela [experiência atmosférica] também advém de relações e interações de inúmeros fatores irreconciliáveis, como escala, materialidade, tatilidade, iluminação, temperatura, umidade, som, cor, cheiro etc., que, juntos, constituem a “atmosfera” ou, na verdade, a experiência que temos dela. (PALLASMAA, 2018. P. 117)



37

narrativas

Experiências atmosféricas e lembranças. Esses são os dois ingredientes que conduzem o processo criativo de espaços, modelados a partir de narrativas de diversos tipos e origens. Lembramos que, a todo tempo, os produtos "arquitetônicos" deste Trabalho de Conclusão de Curso, apresentados na forma de modelos 3D, assumem as memórias evocadas para descreverem os espaços vivenciados ou imaginados, como um conjunto completo de referências, que se relacionam e se conectam para produzir uma única imagem. No decorrer do trabalho foi sendo criada uma narrativa. Como processo, houve uma evolução nos conceitos explorados tanto na teoria quanto nos ensaios de modelagem tridimensional, os quais serão explicitados nos tópicos a seguir. Os seguintes ensaios solidificam

os elementos de criação de imagem citados por Bruno Munari no livro sobre o designer italiano, denominado Air made visible: A Visual Reader on Bruno Munari (2000): fantasia, invenção, criatividade e imaginação.


great pretender Inicialmente, o escopo determinado para o trabalho era o da memória e nostalgia no âmbito da arquitetura e modelagem 3D, nascendo assim o primeiro ensaio: Great Pretender. A inspiração desta imagem surge de um cenário do anime (Figura 10), procurando despertar um sentimento de nostalgia e evocar memórias sobre a experiência de um determinado público-alvo. Escolhido por ser repleto de uma atmosfera aconchegante e humana, o espaço sai do mundo da animação bidimensional para ser representado pelo autor em forma 3D, com uma linguagem que, a partir de uma matriz apresentada como ilustração, torna-se realista através da tecnologia da renderização. (Figuras 7, 8, 9 e 11) O primeiro ensaio apresenta um caráter de criação fantasiosa, pelo fato do cenário ser retirado diretamente de uma obra audiovisual cujo mundo e atmosferas são

criados pelo autor, porém com referências ao mundo real. No caso, o mundo imaginário é inspirado nas características geográficas e arquitetônicas da França. Este experimento primeiro tem relações com o conceito de fantasia e imaginação de Munari. Para o designer, envolvido com textos didáticos e ensaios sobre processos de criação, a fantasia é “a mais livre das capacidades”, capaz de pensar qualquer tipo de coisa; o absurdo e as impossibilidades tornam-se possíveis. Tornar imagem, transformar em imagem, é atributo da imaginação. Segundo Bruno (2000, p. 155), “A imaginação é o meio de visualizar, de tornar visível o que a fantasia, a invenção e a criatividade planejam”. Destarte, entende-se o conceito como intrinsecamente ligado à produção de imagens.


39

Figura 7 Processo de modelagem 3D Fonte: acervo do autor


Figura 8 Render de processo Fonte: acervo do autor


41

Figura 9 Processo de modelagem 3D Fonte: acervo do autor


Figura 10 Cena de Great Pretender Fonte: Netflix, 2020


43

Figura 11 Imagem final - 3D com pós-produção Fonte: acervo do autor


lara Com a evolução do trabalho, desenvolve-se a narrativa. A partir da assimilação dos conceitos de montagem, atmosferas e experiência arquitetônica, a atenção do autor volta-se à experimentação fundamentada em experiências e imaginação. O segundo ensaio pretende explorar a dimensão da arquitetura dentro da ilusão de uma criança, conhecida a partir de sua narrativa.

do contato direto com uma das fundadoras do ateliê (Ana Emília), pôde ser possível obter conhecimento sobre a história em questão (no Instagram do projeto, o áudio não mais se encontra disponível, porém o autor do trabalho pode encaminhá-lo de forma privada). Lara declara ter avistado da laje de sua casa (Figura 14) uma fada que brilhava nas cores vermelho, verde e azul.

Lara, 6 anos de idade, mora em Interlagos (Figura 12 e 13) e acredita em fadas. A menina participa do Projeto Alquimia, cujo propósito é promover atividades artísticas para crianças em tratamento oncológico. A partir das redes sociais da iniciativa (@projetoalquimia_atelie82) e

Por se tratar de uma fantasia infantil, a modelagem 3D é direcionada a uma linguagem de representação toon, na qual as sombras e texturas são mais ilustrativas do que realistas, fazendo com que a criança se sinta mais atraída pela imagem. (Figura 15 e 16).

Figura 12 Processo de modelagem 3D Fonte: acervo do autor


45



47

Figura 13 Processo da modelagem 3D do ensaio Lara, com utilização do mapa real do bairro onde Lara reside. Fonte: acervo do autor


Figura 14 Teste de renderização durante o processo, a partir de visualização da casa pelo Google Earth Fonte: acervo do autor


49

narrativas

A representação “toon”, no conceito de Munari, significa aplicar conceitos que se relacionam à invenção e à criatividade. Para este (2000), inventar é diferente de descobrir: é propor algo novo, cuja utilidade sirva para problemas reais e para uso prático. No caso da criatividade, este é um processo que reúne outros conceitos já citados: é considerado pelo designer italiano como o uso final da fantasia e da invenção de forma global, pois abrange diversos aspectos de um problema. É utilizada durante o desenvolvimento da imagem e da invenção para superar obstáculos psicológicos, ambientais, econômicos e humanos.


Figura 15 Imagem final do ensaio, com representação toon e pós-produção no Procreate (cena frontal) Fonte: acervo do autor


51

Figura 16 Imagem final do ensaio, com representação toon e pósprodução no Procreate (cena frontal) Fonte: acervo do autor


cidades invisíveis O presente ensaio tem o objetivo de imaginar a cidade de Esmeraldina, descrita por Ítalo Calvino em sua obra As Cidades Invisíveis como uma cidade aquática, [onde] uma rede de canais e uma rede de ruas sobrepõe-se e entrecruza-se. (...) a rede de trajetos não é disposta numa única camada; segue um sobe e desce de escadas, bailéus, pontes arqueadas, ruas suspensas. (CALVINO, 1990. P. 83)

Procura-se traduzir as palavras do escritor em um cenário construído a partir da imaginação, criatividade e referências do autor do trabalho.

O processo de escolha dessa cidade para a experimentação deve muito às memórias evocadas durante a leitura do texto. A montagem do ambiente por Calvino relembra sobremodo a cidade de Water Seven (Figura 17 e 18), da obra televisiva One Piece, por Eiichiro Oda (1999-presente). A atmosfera similar de ambas as cidades desperta um sentimento de afetividade e nostalgia desencadeado pela última obra, estimulando a imaginação do autor a relacionar os aspectos de Esmeraldina imediatamente ao de Water Seven. Este argumento foi o fator fundamental para a decisão por este tema para o ensaio.


53

narrativas Figura 17 Cena da cidade de Water Seven, retirada do anime One Piece Fonte: Netflix, 2021


Figura 18 Cena da cidade de Water Seven, retirada do anime One Piece Fonte: Netflix, 2021


55

narrativas

As primeiras propostas de produção da imagem desta cidade, no projeto de modelagem 3D proposto, leva em consideração os seguintes aspectos: explorar níveis de percepção de um ambiente complexo, marcado por passagens entre edifícios construídos como pontes, escadarias e corredores, de tal forma a criar uma espécie de labirinto e interconexões contínuas; evocar Veneza (Figuras 19 a 22), a cidade “oculta” em todas as descrições de cidades que o personagem Marco Polo relata para o Imperador Mongol Gengis Khan ao descrever os domínios do seu impreciso império; usar texturas, visualidades e referências de Veneza, com sutileza, para a criação imaginária de Esmeraldina, relacionando, de certa forma, a narrativa ao aspecto enigmático da cidade, concebida em 452, quando os habitantes do nordeste da Itália buscaram refúgio para se proteger das invasões bárbaras que culminaram com o fim do Império Romano.

As 120 ilhas localizadas em uma laguna de água doce, às margens do Mar Adriático, cortadas por 177 canais, foram o primeiro destino dos moradores que preferiram ocupar as áreas terrestres, depois avançando para áreas menores através das passarelas criadas para este fim. A cidade, protegida por São Marcos, teve papel expressivo como centro econômico italiano, a partir do século X. Sua transformação em próspero centro mercantil e naval, deve-se, sobretudo, à sua localização privilegiada e estratégica no meio da rota que comunicava o Ocidente e o Oriente. A modelagem desenvolvida (Figuras 23 a 28) seleciona alguns destes sinais da história e imagem de Veneza como inspiração.


Figura 19 Imagem referência de Veneza Fonte: escolhaviajar.com, 2021

Figura 20 Imagem referência de Veneza Fonte: maxmilhas.com.br, 2019


57

Figura 21 Imagem referência de Veneza Fonte: segurospromo.com.br, 2021

Figura 22 Imagem referência de Veneza Fonte: elo7.com.br, 2017


Figura 23 Processo de produção da cena em perspectiva alta Fonte: acervo do autor

Figura 25 Isométrica do modelo final Fonte: acervo do autor

Figura 24 Processo de produção da cena Fonte: acervo do autor


59



61

Figura 26 Modelagem final - cena configurada antes do render Fonte: acervo do autor



63

Figura 27 Render de processo - vista aproximada do bistrô Fonte: acervo do autor



65

Figura 28 Render final da cena produzida Fonte: acervo do autor


Figura 29 Imagem final da cena, pós-produzida em Photoshop Fonte: acervo do autor


67


Figura 30 Isométrica conceitual Fonte: acervo do autor


69

narrativas

Ao lado pode-se ver um outro ponto de vista do trabalho desenvolvido. Apresenta-se uma isométrica conceitual (Figura 30), da qual foram retirados os materiais e mantida a iluminação da cena detalhada da imagem 29. Observamos o papel que a luz desempenha nestes exemplos de modelagem de espaços, pois é graças a ela que a tridimensionalidade (espessuras, profundidade, nitidez dos volumes, etc.) se faz perceber. Essa visão aérea obtida "por trás das câmeras", com ênfase na presença da luz, ajuda-nos a compreender a mecânica da tecnologia da renderização.


5


5

71

reminiscências

O capítulo final deste Trabalho de Conclusão de Curso tem como objetivo articular os conceitos discorridos com os ensaios produzidos, por meio de um exercício imaginativo e projetual arquitetônico. Foram entrevistados diversos frequentadores do Centro Universitário Senac. A ideia foi fundamentada pela curiosidade do autor em relação à variedade de percepções sobre um mesmo espaço ou conjunto arquitetônico. Cada um que habita o campus guarda uma memória única, marcada por sentimentos únicos que transbordam em locais únicos: os 9 entrevistados, majoritariamente, compartilham experiências que ocorrreram em lugares díspares. Em razão da pandemia, essas memórias adquirem um caráter "romantizado": elas exalam um sentimento de afeto pelo fato da rememoração construir as imagens mentais do campus, que, por ora, está distante.

A partir das reminiscências coletadas, dá-se a prática arquitetônica: serão analisadas as atmosferas percebidas no lugar descrito por cada usuário, especialmente selecionado neste trabalho. Esta análise desenvolve-se de forma abstrata e pessoal, traduzindo em diagramas objetivos os principais elementos das memórias narradas. Estes diagramas simplificados serão utilizados como inspiração para a construção dos cenários pelo autor do trabalho que assumirá essa atitude projetual como mecanismo para a produção da representação arquitetônica do campus, em uma linguagem autoral. Busca-se, assim, traduzir experiências vivenciadas em uma nova forma de representação, elaborada como projeto e orquestrada pela imaginação do arquiteto, apresentada por meio da ferramenta de modelagem 3D.


eduardo ehlers - Oh, Matheus, tudo bem? Aqui é o Eduardo. Eu fiquei aqui puxando algumas memórias e são tantas né? Como te falei, comecei aqui no Campus de Santo Amaro há 20 anos mais ou menos. Muita coisa aconteceu de lá para cá, muita gente passou por aqui, muitos alunos, muitos eventos, muitos cursos... então são inúmeras as memórias. Mas eu selecionei uma que tem a ver justamente com essa foto que eu acabei de te mandar, da Praça do Leitor (Figura 31): foi em 2011, um show que nós tivemos do Charlie Brown Jr. Essa praça estava muito cheia de gente... tinha muita gente, muitos alunos. Estava demais. Todo mundo dançando muito empolgado, era uma alegria contagiante. A memória afetiva que eu tenho, na verdade é uma grande mistura de sensações: de medo e de alívio. Por quê medo? Porque em um dado momento os alunos começaram a fazer uma espécie de... parecia um redemoinho, começaram a dançar em círculos. Aí eu

vi aquele monte de gente ali se mexendo e me deu muito medo de que alguém pudesse cair ali no meio e ser pisoteado. Eu fiquei numa situação de, mais do que medo, até de pânico. Eu estava justamente aqui na sala onde estou agora, de onde acabei de tirar essa foto, vendo aqui de cima aquele movimento que era incrível, o chão parecia que se movimentava. Mas, aos poucos, a música foi terminando, as pessoas se acalmando e tudo deu muito certo. Todos aplaudiram e foi uma alegria incrível. Como eu mencionei, parecia que o chão se mexia. Mas, na verdade, não se via o chão, e sim uma multidão de gente. Então, isso ficou muito gravado na minha memória. Claro, depois que o medo passou, o que ficou foi a lembrança maravilhosa de um momento muito alegre e contagiante, de uma enorme energia que ficou marcada para sempre. Já se passaram 10 anos desse episódio, mas a memória afetiva marca! Então imagino que isso vai ficar gravado comigo para sempre.


73

reminiscências

A experiência de Eduardo Ehlers, diretor no Centro Universitário Senac, é marcada por sentimentos de alegria, vibração e, em constraste, medo. Medo causado pela preocupação do diretor para com os alunos na "rodinha punk"; alegria e vibração provinda do alívio e da energia gerada pelo show da banda Charlie Brown Jr. A atmosfera do espaço é exalada pelos sentimentos do momento somados às características do local: um pátio, que torna possível a execução do show e os movimentos dos fãs; espelhos d'água com a vida das carpas e a vegetação, que acolhem o coletivo de forma natural; os decks e bancos em meio à vegetação, que representam um refúgio e descanso para o transeunte.


Figura 31 Fotografia da Praça do Leitor, referente à memória de Eduardo Fonte: foto por Eduardo Ehlers


75


caio césar - Matheus, boa tarde! Então, não tem como mensurar alguma coisa, porque dentro dessa década aconteceram várias coisas. Eu me recordo do primeiro dia que eu cheguei aqui no Senac, por indicação de uma amiga: vim trabalhar na empresa de faxina, que era terceirizada na época. Aí, olhando do gradil, pela calçada, chegando no Senac, eu vi parte do jardim, na lateral aqui do esportivo. A primeira imagem que me tocou muito foi ver uma pessoa pedalando um triciclo (figura 32). Na hora pensei: “nossa, que legal que deve ser trabalhar nesse lugar! A pessoa tem até bicicleta pra andar”. Aí vieram mil possibilidades na minha cabeça de como seria.


77

reminiscências

Caio, que hoje trabalha como jardineiro, compartilha uma memória afetiva de quando começou a trabalhar no Centro Universitário Senac. Ele se depara com uma imagem que, no futuro, seria reproduzida por ele: um funcionário andava pelas vias internas da universidade com um triciclo, próximo às quadras. O entrevistado discorre sobre a instituição e o campus com muito carinho e guarda a memória da primeira cena que viu quando lá chegou pela primeira vez. Os principais elementos da cena podem ser sintetizados pela figura do triciclo, dos jardins, quadras e do gradil.



79 Figura 32 Fotografia do triciclo, no acesso secundário do campus, referente à memória de Caio Fonte: foto por Caio César


iau - Muito boa noite. Primeiramente, eu fiquei procurando a tarde algumas fotos que eu tinha aqui do Senac para ver se eu lembrava das coisas e eu não achei nenhuma boa. Aí, eu pensei em duas memórias que não tem imagens, mas que eu acho que seriam mais legais de fazer: uma que eu tirei print no Google de onde a gente estava. Foi do meu aniversário, em 2019, quando no intervalo a gente ficou comendo ali na pracinha do Giga. Vocês levaram coxinha e brigadeiro, eu levei café. A gente ficou comendo naquela parte da grama onde a gente sempre ficava observando as pessoas e tal. A gente se sentou na caixilharia do esportivo. Estava bem cheia a P2 nesse dia. A segunda memória que eu pensei, que talvez eu ache que seja mais interessante caso você queira fazer uma cena noturna, foi um dia que eu fiquei para fazer trabalho no Senac até bem tarde. A Marcela e o Felipe estavam juntos. Eu lembro da gente acabando os trabalhos; não sei ao certo onde a gente fez: se foi na sala de estudos ou se foi na biblioteca. Juntamos as nossas coisas pra ir embora e marcamos de nos encontrarmos na árvore. O Fê salvou: estávamos

todos com fome e ele tinha levado uma pipoca de microondas. Quando ele chegou na árvore, voltando da P1, lembro de me virar e ficar impactada com a luz intensa do condomínio da frente do Campus. Ainda não tinham tirado as luzes de Natal, cada varanda tinha uma cor de luz diferente.


81

reminiscências

Laura Carvalho, do 10º semestre do curso de Arquitetura e Urbanismo, compartilha duas memórias distintas, porém com sensações conexas. Em uma, pode-se notar o elemento da degustação e observação em meio à Praça de Alimentação 2 do Centro Universitário Senac. Na segunda, pode-se notar os mesmos elementos, mas dessa vez em uma cena noturna, próxima à "Árvore" (ponto de encontro no campus), na qual se observa a monumentalidade do prédio vizinho e suas centenas de luzes acesas.



83

Figura 33 Fotografia do jardim, próximo ao Giga, referente à memória da Iau Fonte: foto por Laura Carvalho


felipe - Acho que a memória foi no quinto semestre, quando a gente tinha um Centro Cultural para fazer. A aula era com a Kátia e o Maurício, de PA, e a sala decidiu se juntar e fazer o entorno da maquete com um buraco para o terreno do projeto de cada um. Só que essa maquete foi ficando em segundo plano, porque cada um foi fazer o seu e tinha essa maquete que ninguém testou. Mas, como toda entrega de Projeto, deixamos para colar os últimos detalhes da maquete na sala de estudos. Depois, a gente vai pra sala e a maquete estava meio “bamba”. Aí, foi a Kátia colocar uma outra maquete ou mexer em qualquer coisinha que metade dos prédios caíram. Lembro da cara dela, impagável. Isso foi naquela sala que dava pra oficina e eu me recordo que era um dia ensolarado e as cortinas da sala estavam abertas.


85

reminiscências

Felipe Dans, atualmente no 10º semestre do curso de Arquitetura e Urbanismo, compartilha uma memória marcada por sentimentos como humor e constrangimento. A aula citada pelo estudante ocorria em uma sala no corredor I do Acadêmico 2. Os principais elementos do espaço nessa experiência faziam parte do ambiente universitário: mesas e cadeiras, dispostas em forma para apresentação de projeto; e maquetes de arquitetura.


rafa - A memória foi a seguinte: a gente estava fazendo uma aula nas oficinas, onde tem as máquinas bem grandes do Senac que a gente corta madeira e tudo mais, e a gente estava no intervalo da aula. Eu fui ao banheiro e escutei o Leonardo cantando no corredor. Aí eu achei que ele estava indo entrar no mesmo banheiro, então eu me escondi atrás de uma parede, onde ficavam os mictórios, que ficavam do lado direito da porta. Quando abriram a porta, a pessoa entrou no banheiro eu bati o pé no chão e fiz “BOO!”. Só que era um professor! Aí colocou a mão no coração, ficou todo vermelho, quase roxo e aí ele falou: “Nossa! Você tem certeza que está ensino superior?!”. Então eu falei: “Nossa desculpa! Desculpa! Eu achei que era meu amigo, eu escutei ele cantando ali no corredor!”. Aí o cara nem queria escutar, muito bravo. Então fui embora, morrendo de vergonha.


87

reminiscências

Rafael Pereira, atualmente no 10º semestre do curso de Arquitetura e Urbanismo, apresenta uma memória cujo principal sentimento é a vergonha. Vergonha pelo fato de ter assustado um desconhecido por engano, quando, na verdade, desejava ter assustado um amigo. A vivência de Rafael se dá no banheiro do edifício da oficina do Centro Universitário Senac, sendo o fundamental elemento da história a porta.


fernando estima - Oh, Matheus, meu querido! Não sei se a professora Myrna falou para você, mas eu estou no campus (ou estava no campus) desde a inauguração. Ou seja, são mais de 17 anos convivendo no campus do Centro Universitário Senac. Então você imagina, né? Uma pessoa como eu, que se envolve muito com as questões, quantas recordações eu tenho nesses 17 anos... quantas histórias tenho guardadas comigo. São muitas, cada uma delas com tipo de prazer, um tipo de alegria, uma satisfação. Para mim é muito difícil escolher um momento. Eu escolhi pra sua pesquisa uma atividade que acontecia a cada final de semestre: a atividade se chamava Feira Transformando Vidas. Esse evento foi feito por

mim, pelo professor Athiê e pelo professor Gustavo Menon, e era um evento que tinha a apresentação dos projetos de final de semestre dos alunos bolsistas e também uma grande atividade cultural produzida pelos próprios alunos. Em um desses eventos, a gente também contou com a colaboração do grupo Educação do Futuro, que é o grupo onde estávamos eu, a professora Myrna, professor Ralf, professor Athiê, professora Tatiana Couto e o Ivan, que é um funcionário técnico-administrativo. Nesse evento a gente construiu propostas juntos: os funcionários, os alunos, os professores, buscando soluções, buscando uma atitude propositiva para as questões todas que envolvem os protagonistas do Centro Universitário Senac. É o tipo de evento que eu gosto bastante.


89

reminiscências

Fernando Estima, ex-professor no Centro Universitário Senac, experiencia diversas coisas durante seu período atuante na instituição. A mais marcante de suas memórias se encontra na Feira Transformando Vidas - um evento orquestrado em parte pelo entrevistado. Tendo como espaço de ocorrência o ambiente de circulação com rampas no Acadêmico 2 (figura 34-36), conhecido hoje como "pufes", o evento conta com um forte caráter cultural. As rampas, por sua vez, abrigam os espectadores do show. A experiência de Fernando é marcada pela satisfação e amor pelas interações sociais e culturais.


Figura 34 Fotografia do evento, referente à memória de Fernando Fonte: foto por Fernando Estima

Figura 35 Fotografia do evento, referente à memória de Fernando Fonte: foto por Fernando Estima


91

Figura 36 Fotografia do evento, referente à memória de Fernando Fonte: foto por Fernando Estima


cris - Tem esse evento do Gustavo Borges, que eu montei o coffee break (figura 36); Tem também uma coisa que eu lembro sempre: o aniversário do café da manhã (figura 37) que a gente fez para a professora Myrna; E tem também isso que eu lembro sempre, que foi o chá de cozinha (figura 38) que a gente fez pra Gil, lá da cantina.


93

reminiscências

Cristina Alves trabalha na Praça de Alimentação 2 do Centro Universitário Senac, também conhecida como Giga. Suas memórias afetivas se situam nesse espaço, construídas pelo sentimento de alegria e carinho pelos demais colegas de trabalho. Cris compartilha 3 memórias e as respectivas fotos. Todas as experiências se relacionam à gastronomia e envolvem desde eventos até comemorações interpessoais.

Figura 37 Fotografia do coffee break, referente à memória de Cris Fonte: foto por Cris


Figura 38 Fotografia do aniversário da Myrna, referente à memória de Cris Fonte: foto por Cris


95

Figura 39 Fotografia do chá de cozinha para a Gil, referente à memória de Cris Fonte: foto por Cris


myrna -Giga. É assim que eu conheço a “praça 2”. O apelido foi dado pelos primeiros alunos que frequentaram o Campus em 2004. Esse espaço sempre foi para mim uma referência singular em toda área generosa que envolve o Centro Universitário. Quando jogava vôlei com alunos às sextas-feiras das 7 às 8 da manhã (a aula começava às 8:50), o café era à jato; depois ficou mais lento, após as aulas de pilates na academia que terminavam às 7:30, e, nos últimos anos, o Giga abriga o café matinal, infalível, com colegas e amigos, com quem troco as impressões no início do dia sobre assuntos diversos: notícias, boas novas, trabalhos, preocupações, planos e sonhos.

Minha melhor lembrança do Giga é como ponto de encontro com alunos orientandos de TCC e Iniciação Científica. Conversas longas sobre temas de interesse comum; sérias ou descontraídas; reflexões e descobertas; frustrações e dúvidas; incentivos e novos modos de ver possibilidades e caminhos; vitórias e celebrações. Em 13 de fevereiro de 2020, quase um mês antes do início do isolamento social, eu me deparei com o Giga novinho em folha, vestido de uma escala pantone elegante e convidativa. Pensei nos encontros passados e futuros, e na atmosfera aconchegante daquele lugar. Fotografei e guardei. Visitei a fotografia algumas vezes depois disso, para matar as saudades de tudo, de todos, da rotina e das lembranças saborosas de lá.


97

reminiscências

Myrna de Arruda Nascimento, orientadora deste trabalho, compartilha memórias de um local comum, explorado por outros entrevistados: o Giga. Sempre em um contexto matinal e de café da manhã, a lanchonete abriga uma atmosfera aconchegante e acolhedora onde havia uma variedade de assuntos a serem tratados com alunos orientandos. Devido ao contexto da pandemia, o local é rememorado saudosamente pela professora a partir de fotos tiradas previamente ao isolamento social (Figuras 40 e 41). Os elementos em destaque são as mesas do refeitório, repaginadas com uma paleta de cores Pantone.


Figura 40 Fotografia do Giga com mesas repaginadas, referente à memória de Myrna Fonte: foto por Myrna


99

Figura 41 Fotografia do Giga com mesas repaginadas, referente à memória de Myrna Fonte: foto por Myrna


diagramas


101



103

reminiscências cenários As oito memórias falam de um espaço comum e destacam ambientes significativos, além de estabelecerem conexões entre si. A maioria ressalta lugares de encontro, lugares de convívio e permanência, com excessão de experiências mais específicas; falam de uma espécie de paisagem contínua: o jardim, apresentando pela memória de Caio, por exemplo, mostra-se presente em diversas outras memórias. Destarte, foram selecionadas três reminiscências cujos autores desempenham papéis diferentes no campus universitário: o primeiro, Eduardo Ehlers (Figuras 4247), trabalha no setor administrativo; a segunda, Laura Carvalho (Figuras 48-52), é estudante do curso de Arquitetura e Urbanismo e amiga do autor do presente

trabalho; e a terceira, Myrna Nascimento (Figuras 5358), é professora e orientadora deste projeto. Essas experiências representam aspectos e percepções semelhantes e compartilhadas entre as outras. O exercício arquitetônico se encontra no partido do projeto: os cenários são construídos a partir de signos expressos pelos usuários do espaço, revelando assim possíveis arquiteturas reimaginadas a partir de memórias. Essas "arquiteturas criadas", enfim, são apresentadas de forma a revelar o processo de construção das mesmas, até o detalhamento final das cenas, que buscam recriar as atmosferas percebidas e rememoradas pelos indivíduos entrevistados.


processo eduardo ehlers

Figura 42 Processo de produção da imagem Fonte: acervo do autor


105


Figura 43 Processo de produção da imagem Fonte: acervo do autor


107



109

Figura 44 Processo de produção da imagem "por trás das câmeras" Fonte: acervo do autor



111

Figura 45 Modelagem 3D finalizada Fonte: acervo do autor


imagem eduardo ehlers

Figura 46 Render final da cena produzida Fonte: acervo do autor


113



115

Figura 47 Imagem final da cena, pós-produzida em Photoshop Fonte: acervo do autor


processo iau

Figura 48 Processo de produção da imagem Fonte: acervo do autor


117



119

Figura 49 Processo de produção da imagem - render teste revelando o mapa de iluminação e fundo (HDRI) Fonte: acervo do autor


Figura 50 Modelagem 3D finalizada Fonte: acervo do autor


121


imagem iau

Figura 51 Render final da cena produzida Fonte: acervo do autor


123



125

Figura 52 Imagem final da cena, pós-produzida em Photoshop Fonte: acervo do autor


processo myrna


127

Figura 53 Modelagem da cadeira do refeitório - produzida pelo autor Fonte: acervo do autor



129

Figura 54 Processo de produção da imagem Fonte: acervo do autor



131

Figura 55 Processo de produção da imagem - render teste revelando o mapa de iluminação e fundo (HDRI) Fonte: acervo do autor


Figura 56 Modelagem 3D finalizada Fonte: acervo do autor


133


imagem myrna

Figura 57 Render final da cena produzida Fonte: acervo do autor


135



137

Figura 58 Imagem final da cena, pós-produzida em Photoshop Fonte: acervo do autor



139

memória minha

Meu projeto, que busca referências da memória para criar espaços e paisagens “fictícios”, apresenta um caráter atômico: a imagem do espaço arquitetônico tem qualidade aglutinadora e condensadora de lembranças, emoções e experiências. A modelagem tridimensional, escolhida como uma das principais formas de representação, consegue traduzir essa afirmação ao materializar (ou digitalizar) as narrativas selecionadas. Reuni depoimentos de diversas pessoas que frequentam o Centro Universitário Senac. Apesar da particularidade da memória de cada um, todas compartilham algumas percepções em comum. Elementos coincidentes puderam ser conectados nas reminiscências selecionadas, reverberando nos outros depoimentos. Os espaços externos do Senac se mostram tão íntimos quanto os internos. Os usuários, eu incluso, veem o

acolhimento e a interação extremamente presentes tanto dentro dos prédios quanto fora. A arquitetura é construída de forma a valorizar as relações interpessoais e as entre indivíduo x natureza. Percebo isso ao decorrer do desenvolvimento das cenas: todas envolvem interação entre pessoas em meio ao espaço construído na dualidade do concreto e da paisagem. Dito isso, eis minha memória: tempos de conversas com meus queridos amigos no intervalo, em meio ao espaço externo, próximo ao Giga (Figura 59). O sol, a comida, a amizade e os diálogos corporificam meu tempo nesta arquitetura. Com minhas experiências no campus concluo este projeto e, por fim, o curso.


Figura 59 Maquete digital do Campus - em destaque, minha memória Fonte: acervo do autor


141

a memória mantém viva a arquitetura


lista de imagens

Figura 1 – Retrato de Maurice Halbwachs, https:// medihal.archives-ouvertes.fr/medihal-00541264 Figura 2 – Diagrama de montagem por Eisenstein, https:// www.rosebud.club/post/16022020 Figura 3 – Foto de Sergei Eisenstein, https://www. sensesofcinema.com/2017/great-directors/sergeieisenstein/ Figura 4 – Retrato de Peter Zumthor, https://ch.alessi. com/de/collections/peter-zumthor Figura 5 – Fotografia do projeto Termas de Vals, de Peter Zumthor, 1996, por Hélène Binet, 2006, https://divisare. com/projects/273885-peter-zumthor-helene-binettherme-vals

Figura 6 – Fotografia do projeto Termas de Vals, de Peter Zumthor, 1996, por Hélène Binet, 2006, https://divisare. com/projects/273885-peter-zumthor-helene-binettherme-vals Figura 7 – Modelo 3D do ensaio Great Pretender, processo, acervo do autor Figura 8 – Modelo 3D do ensaio Great Pretender, teste de renderização, acervo do autor Figura 9 – Modelo 3D do ensaio Great Pretender, processo, acervo do autor Figura 10 – Ilustração, Great Pretender, https://www. netflix.com/br/ Figura 11 – Modelo 3D do ensaio Great Pretender, imagem final, acervo do autor


143

Figura 12 – Modelo 3D do ensaio Sonho da Lara, processo, acervo do autor

Figura 18 – Ilustração, One Piece, https://www.netflix. com/br/

Figura 13 – Modelo 3D do ensaio Sonho da Lara, processo, acervo do autor

Figura 19 – Imagem referência de Veneza, https://www. escolhaviajar.com/fotos-da-italia/

Figura 14 – Modelo 3D do ensaio Sonho da Lara, teste de renderização, acervo do autor

Figura 20 – Imagem referência de Veneza, https://www. maxmilhas.com.br/blog/guia-de-destinos/o-quefazer-em-veneza-confira-o-mini-guia-da-cidade

Figura 15 – Modelo 3D do ensaio Sonho da Lara, imagem final 1 (cena frontal), acervo do autor Figura 16 – Modelo 3D do ensaio Sonho da Lara, imagem final 2 (cena alta), acervo do autor Figura 17 – Ilustração, One Piece, https://www.netflix. com/br/

Figura 21 – Imagem referência de Veneza, https://www. segurospromo.com.br/blog/veneza-italia/ Figura 22 – Imagem referência de Veneza, https://www. elo7.com.br/veneza-italia-00/dp/87101A Figura 23 – Produção da cena em perspectiva alta, processo, acervo do autor


Figura 24 – Blocagem do 3D (esboço), processo, acervo do autor

Figura 31 – Fotografia da Praça do Leitor, Centro Universitário Senac, por Eduardo Ehlers

Figura 25 – Isométrica do modelo final, processo, acervo do autor

Figura 32 – Fotografia do triciclo, referente à memória de Caio, por Caio César

Figura 26 – Cena do modelo final, processo, acervo do autor

Figura 33 – Fotografia do jardim, próximo ao Giga, referente à memória da Iau

Figura 27 – Vista aproximada do bistrô modelado para o ensaio, processo, acervo do autor

Figura 34 – Fotografia do evento, referente à memória de Fernando, por Fernando Estima

Figura 28 – Renderização da cena selecionada, acervo do autor

Figura 35 – Fotografia do evento, referente à memória de Fernando, por Fernando Estima

Figura 29 – Imagem final do ensaio, acervo do autor

Figura 36 – Fotografia do evento, referente à memória de Fernando, por Fernando Estima

Figura 30 – Isométrica conceitual, acervo do autor


145

Figura 37 – Fotografia do coffee break, referente à memória de Cris, por Cristina Alves

Figura 43 – Produção da imagem, processo, acervo do autor

Figura 38 – Fotografia do aniversário da professora Myrna, referente à memória de Cris, por Cristina Alves

Figura 44 – Produção da imagem “por trás das câmeras”, processo, acervo do autor

Figura 39 – Fotografia do chá de cozinha para a Gil, referente a memória de Cris, por Cristina Alves

Figura 45 – Modelagem 3D finalizada, processo, acervo do autor

Figura 40 – Fotografia do Giga, referente à memória de Myrna, por Myrna Nascimento

Figura 46 – Render final da cena Eduardo Ehlers, acervo do autor

Figura 41 – Fotografia do Giga, referente à memória de Myrna, por Myrna Nascimento

Figura 47 – Imagem final da cena Eduardo Ehlers, pósproduzida em Photoshop, acervo do autor

Figura 42 – Produção da imagem, processo, acervo do autor

Figura 48 – Produção da imagem, processo, acervo do autor


Figura 49 – Produção da imagem, render teste, processo, acervo do autor

Figura 56 – Modelagem 3D finalizada, processo, acervo do autor

Figura 50 – Modelagem 3D finalizada, processo, acervo do autor

Figura 57 – Render final da cena Myrna, acervo do autor

Figura 51 – Render final da cena Iau, acervo do autor Figura 52 – Imagem final da cena Iau, pós-produzida em Photoshop, acervo do autor Figura 53 – Modelagem da cadeira do refeitório, processo, acervo do autor Figura 54 – Produção da imagem, processo, acervo do autor Figura 55 – Produção da imagem, render teste, processo, acervo do autor

Figura 58 – Imagem final da cena Myrna, pós-produzida em Photoshop, acervo do autor Figura 59 – Maquete digital do Campus, acervo do autor


147


referências bibliográficas

ALVES, Cristina. Memórias de Cris. Entrevista concedida a Matheus Joris de Paulo. São Paulo, 19 de agosto de 2021 CALVINO, Italo. As Cidades Invisíveis. São Paulo: Companhia das Letras, 1990 CARVALHO, Laura Cervi. Memória de Iau. Entrevista concedida a Matheus Joris de Paulo. São Paulo, 19 de julho de 2021 Caio César. Memória de Caio. Entrevista concedida a Matheus Joris de Paulo. São Paulo, 14 de julho de 2021 DANS, Felipe Alonso. Memória de Felipe. Entrevista concedida a Matheus Joris de Paulo. São Paulo, 28 de julho de 2021 Dicionário Houaiss de Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001

EHLERS, Eduardo Mazzaferro. Memória de Eduardo Ehlers. Entrevista concedida a Matheus Joris de Paulo. São Paulo, 18 de junho de 2021 EISENSTEIN, Sergei. Reflexões de um cineasta. Rio de Janeira: Editora Zahar, 1969 ESTIMA, Fernando. Memória de Fernando. Entrevista concedida a Matheus Joris de Paulo. São Paulo, 18 de agosto de 2021 GREAT PRETENDER. Autor: Ryōta Kosawa. Direção: Hiro Kaburagi. Produção: Song Jingzhou, Masaya Saitō, Noriko Ozaki. Tóquio: Wit Studio, 2020 HUYSSEN, Andreas. Seduzidos pela memória - Arquitetura, monumentos, mídia. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2000


149

MOURAO JUNIOR, Carlos Alberto; FARIA, Nicole Costa. Memória. Psicol. Reflex. Crit., Porto Alegre , v. 28, n. 4, p. 780-788, Dec. 2015 . Available from <http://www. scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010279722015000400017&lng=en&nrm=iso>. access on 02 Mar. 2021. http://dx.doi.org/10.1590/1678-7153.201528416. MUNARI, Bruno. Air made visible: A Visual Reader on Bruno Munari. Suíça: Lars Müller Publishers, 2000 NASCIMENTO, Myrna de Arruda. Memória de Myrna. Entrevista concedida a Matheus Joris de Paulo. São Paulo, 23 de setembro de 2021

ONE PIECE. Autor: Eiichiro Oda. Direção: Konosuke Uda, Junji Shimizu, Munehisa Sakai, Hiroaki Miyamoto, Toshinori Fukazawa, Satoshi Ito, Tatsuya Nagamine. Roteiro: Junki Takegami, Hirohiko Uesaka. Tóquio: Toei Animation, 1999 RIBEIRO, Ana Emilia. Imaginação da Lara. Entrevista concedida a Matheus Joris de Paulo. São Paulo, 3-6 de maio de 2021 RICOEUR, Paul. Coleção filosófica do Instituto de Estudos Filosóficos da Universidade de Coimbra. Conferência realizada em 08 de março 2003 sobre A memória, a história, o esquecimento. Disponível em <https://www. uc.pt/fluc/uidief/textos_ricoeur/memoria_historia>. acesso em maio de 2021


SCHMIDT, Maria Luisa Sandoval; MAHFOUD, Miguel. Halbwachs: memória coletiva e experiência. Psicol. USP, São Paulo , v. 4, n. 1-2, p. 285-298, 1993 . Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_ arttext&pid=S1678-51771993000100013&lng=pt&nrm=i so>. acesso em 14 mar. 2021 PALLASMAA, Juhani. Essências. São Paulo: Editora Gustavo Gili, 2018 POLLAK, Michael. Memória, esquecimento, silêncio. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol. 2, n.3, 1989 VIEIRA, Rafael Pereira. Memória de Rafa. Entrevista concedida a Matheus Joris de Paulo. São Paulo, 28 de julho de 2021 ZUMTHOR, Peter. Gustavo Gili, 2009

Atmosferas.

Barcelona:

Editora


151


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.