Swing impresso O bailar das revistas pornôs pela cidade
O tabu mais irônico de toda a história da sociedade sempre foi o sexo. Todo mundo pratica, e precisa praticar, mas não gosta de falar sobre o assunto. Isto também serve para outras coisas ligadas ao tema, como a pornografia por exemplo. A grande maioria das pessoas consome artigos pornôs ou eróticos, mas ninguém assume que o faz nem gosta de tocar no assunto. Enquanto isso a indústria pornográfica só faz crescer, talvez não economicamente, já que grande parte do consumo é online e gratuito, mas alcança cada vez mais pessoas. Há ainda um terceiro nicho do mercado que coexiste com a grande indústria e a internet, os artigos usados.
Andando pelas ruas do Recife os olhares mais atentos podem perceber algumas bancas de revista bem “alternativas”. São, em sua maioria, barraquinhas tipo aqueles fiteiros, algumas maiores outras nem tanto, feitas com um material metálico, e possuem uma decoração mais ousada, com os impressos pornôs antigos pendurados em pregadores de roupa. Normalmente administradas por senhores sem camisa, beirando ou já na casa dos enta (40, 50, 60...anos) e não muito raro a pornografia divide espaço com outros assuntos bem distintos, como quadrinhos e gibis por exemplo. É o caso da Banca do Samuel que fica na Avenida Caxangá, próximo
ao Hospital Getúlio Vargas, zona oeste do Recife. Seu Samuel começou vendendo gibis, jornais e revistas diversas, mas logo viu que o foco do negócio deveria ser a pornografia, pois era o tema mais procurado pelos clientes. A escolha pelos artigos usados, segundo Samuel, foi por causa da burocracia que é ter um comércio formal de periódicos: - Com as revistas novas a gente sempre tem mais dificuldade, né. Temos que entrar com um caução, é preciso outro funcionário para recebê-las, fazer a devolução e ainda tem o fato de que se perdermos alguma delas na hora de prestar contas, temos que pagar. O que não impede de Seu Samuel se orgulhar em dizer que tem a playboy do mês passado (abril) com a ex-BBB Cacau na capa, fruto de uma troca com um cliente. Convivendo juntinho com a mais nova celebridade nacional está uma Status de 1976, a revista mais antiga no acervo de Seu Samuel. Ele não lembra quem está na capa e como estou apressado por conta do horário no trabalho nem peço para ele me mostrar. Com a ajuda do Google fico a imaginar se será a atriz Monique Lafond, a musa da pornochanchada Aldine Müller ou alguma outra beldade da época que estampa a capa desta edição perdida na pilha de mulheres de Seu Samuel. Seu Samuel não é um homem muito bom com as palavras o que dificultou um pouco minha conversa com ele. Mas ainda deu para constatar sua sapiência quando perguntado
se o “artigos eróticos” em destaque na frente da banca não espanta clientes que procuram por outros assuntos: - Tem mulheres que não gostam às vezes, mas a maioria nem liga. Hoje ninguém está nem aí pra isso não. Hoje em dia é normal, o exemplo vem da televisão.
Revistas dispostas artesanalmente na banca de Clรกudio Alexandre
Na banca do Samuca a pornografia convive harmoniosamente com outros temas
Viva a sabedoria popular! Na avenida Dantas Barreto, no centro do Recife, encontrei a banca de Claudio Alexandre que trabalha com o ramo de revistas usadas desde 2003. Possui um acervo de mais de 10 mil peças de conteúdos diversos. Mas o que nos interessa aqui são os materiais pornôs e quando se trata disso Claudio é enfático: — As vendas caíram muito de todo tipo de material usado, mas as pornográficas ainda são as mais procuradas. Mesmo com a baixa, ainda consegue vender cerca de 200 revistas eróticas por mês. Ele ainda conta que antigamente vinham colecionadores de cidades vizinhas negociarem na sua banca. A queixa parece ser geral, já que Seu Samuel também disse que as vendas dos artigos adultos caíram muito e ainda apontou o culpado: os DVDs eróticos. Mas tenho minhas dúvidas. Na minha opinião a responsável mesmo é a internet e todo seu conteúdo pornográfico gratuito. Segundo Claudio, o perfil do cliente interessado em revistas pornôs usadas é pessoas com mais de 30 anos. Os adolescentes não costumam freqüentar muito sua banca. Talvez esta seja mais uma evidência da migração do consumidor para a internet, pois a nova geração já não busca mais este tipo de artigo nas ruas, apenas os mais velhos que possivelmente não tem muito contato com a web. Os clientes são poucos, mas são fiéis. Segundo Claudio há alguns que sempre aparecem por lá para comprar revistas novas, trocar
ou vender, é um mercado bastante dinâmico. Os preços não são muito altos e não há uma grande diferença entre eles. Variam entre R$3,00 e R$7,00. Mas em outros tempos, Claudio conseguiu vender uma playboy da Xuxa por R$150,00. Agora me diz quando ele conseguiria essa grana se hoje basta digitar “playboy da Xuxa” no Google pra ter acesso a todas as fotos? Deixo aqui registrado que tentei encontrar um cliente destas bancas, mas não consegui. Acho que justamente por conta do que falo ali no primeiro parágrafo, do tabu irônico que é a pornografia. Anunciei até em meu twitter, dizendo que manteria sigilo se necessário, mas ninguém se acusou e infelizmente nas visitas que fiz às bancas não dei a sorte de encontrar alguém comprando alguma revista para tentar entrevistá-lo. Fico feliz em estar documentando esta história, pois sinto que este mercado está prestes a sumir. O crescimento do acesso à internet nas residências está a pleno vapor e o material dominante na internet é a pornografia. Segue alguns dados: 12% dos sites na internet são de conteúdo adulto; 35% das descargas na internet são de arquivos pornográficos; a cada dia criam-se 266 novos sites adultos na internet. E por aí vai. Os números são impressionantes e a tendência é só aumentar. A internet já é apontada como responsável pela falência de muitos mercados por aí, e certamente o mercado de revistas pornôs usadas é um deles e talvez o mais iminente.